VENEZUELA
Venezuela reage a frase de Lula
‘As declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva dizendo que não fere
a democracia a decisão do colega venezuelano, Hugo Chávez, de não renovar a
concessão da emissora de televisão RCTV tiveram grande destaque ao longo do dia
nos sites de notícias do país.
A notícia ‘Lula: Não renovar a concessão da 1BC [empresa que controla a RCTV]
foi democrático’ ficou durante boa parte do dia no alto da página da Agência
Bolivariana de Notícias (ABN), do governo.
A agência não publicou o trecho em que ele critica a ‘radicalização verbal’
do presidente venezuelano contra o Senado brasileiro, chamado de ‘papagaio de
Washington’ na semana passada. Ambas as declarações foram feitas pelo presidente
anteontem, em entrevista exclusiva à Folha, quando Lula disse que ‘o fato de ele
[Chávez] não renovar a concessão é tão democrático quanto dar [a
concessão]’.
A ABN também destacou a visita de um grupo de parlamentares brasileiros, de
partidos como PT, PC do B e PSOL, à Embaixada da Venezuela em Brasília para
apoiar a decisão de Chávez, baseada no fato de que a RCTV apoiou o golpe de
abril de 2002 -o argumento do governo venezuelano.
Já nos sites oposicionistas, que misturam notícias e fóruns de discussão, o
apoio de Lula foi alvo de uma saraivada de críticas. ‘Lula tem estado num atira
e encolhe. Mas é definitivo: preferiu não perder os petrodólares’, diz uma das
mensagens no www.noticias24.com.
Para o líder opositor Antonio Ledezma, as declarações de Lula estão apoiadas
na falsa noção de que as instituições venezuelanas são independentes.
‘Certamente, como chegou ao presidente Lula, essa decisão é aparentemente
legal porque ratificada pelo Tribunal Supremo de Justiça e a Conatel (Comissão
Nacional de Telecomunicações) e aprovada pelo Parlamento venezuelano. Ocorre que
todas essas instituições estão controladas pelo governo’ , disse à Folha o
ex-prefeito de Caracas.
No Brasil, o presidente da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio
e Televisão), Daniel Slaviero, disse não enxergar na frase de Lula uma avaliação
do mérito da decisão de Chávez. ‘A Abert entende que o presidente não entrou no
mérito da questão. Falou com chefe de Estado, em defesa da soberania da
Venezuela. Disse que é questão interna’.’
Clóvis Rossi
Lula repete que Chávez não violou lei
‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva repetiu ontem, em entrevista
coletiva, os comentários que fizera anteontem para a Folha sobre a cassação da
concessão da RCTV pelo presidente venezuelano Hugo Chávez, mas afirmou que, se a
concessão não venceu, ‘aí é arbitrariedade’. A informação sobre a hipótese de
que a concessão só venceria em 2022 foi levantada em pergunta feita por uma
jornalista de ‘O Estado de S. Paulo’. Lula repetiu que se trata de ‘um problema
da Venezuela’, que ‘cada um toma conta de seu nariz’ e que ‘Chávez fez aquilo
que a lei permitia que ele fizesse’. Acrescentou: ‘Se venceu a concessão de uma
coisa qualquer, seja de um ponto de táxi seja de uma emissora de TV, o
concessionário tem o direito de renovar ou não’. O governo Chávez diz que a
concessão da RCTV foi renovada no dia 27 de maio de 1987 por um prazo de 20
anos, segundo consta na ‘Gazeta Oficial’ daquele dia. Na Justiça, a RCTV alega
que a Lei Orgânica de Telecomunicações, de 2000, previa um prazo até 12 de junho
de 2002 para que o Estado readequasse as concessões à nova legislação, o que não
ocorreu. Assim, a renovação teria sido renovada automaticamente até 2022. A
argumentação tem sido rejeitada pela Justiça.
Colaborou FABIANO MAISONNAVE’
Pedro Dias Leite
Senadores da base governista e da oposição discordam do presidente
‘A declaração do presidente Lula de que a decisão do colega venezuelano sobre
a RCTV foi ‘democrática’ não obteve apoio de nenhum senador ouvido pela Folha
ontem, nem mesmo da base governista.
O líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), não apoiou Lula, apesar de não
criticar o presidente. ‘Mesmo o Estado podendo não renovar a concessão, o
lamentável não é o fato em si, mas a motivação. Legalmente pode estar correto.
Mas o fechamento não ajuda a democracia na Venezuela.’
Na semana passada, Chávez atacou o Congresso brasileiro, depois que o uma
nota aprovada pelo Senado pediu a reabertura da RCTV.
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) disse que conversou com Lula sobre o tema
na quarta-feira. ‘O que o presidente Lula falou é que ele [Chávez] agiu em
respeito às leis da Venezuela. Respeito a opinião do presidente, a questão é se
a recomendação [do Senado] é válida ou não. E acho que é, com o objetivo de
preservar a liberdade de imprensa. Se estivesse no lugar do presidente Hugo
Chávez, usaria de outros meios, que não a não renovação.’
A oposição criticou Lula. ‘Lula não entendeu ainda que o conceito de
democracia é universal, não está subalterno aos interesses políticos dele’,
afirmou José Agripino (DEM-RN). O senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) classificou
a opinião de Lula como ‘extremamente grave’. O senador relacionou a entrevista à
criação da TV Pública no Brasil, prevista para o segundo semestre. ‘Mais do que
nunca essa TV ‘no passará’, porque sinto que ela tolera esse modelo do
mandatário falando por horas.’’
PASQUIM REEDITADO
‘Pasquim’ tirou aspas da nossa língua’
‘Na primeira vez em que trocou e-mails com a Folha para esta reportagem, Ivan
Lessa foi curto e rápido, ainda que bem-humorado. Lembrar os tempos do ‘Pasquim’
não é algo que o jornalista, radicado há 28 anos em Londres, goste de fazer com
muita freqüência.
Dias depois, porém, ao receber pelo correio um exemplar do segundo volume da
‘Antologia’, que chega agora às livrarias, ficou emocionado e retificou algumas
declarações.
Se antes declarara sem dor o fim do ‘jornaleco’ (como o ‘Pasquim’ era
carinhosamente apelidado), numa mensagem sentimental acabou desabafando: ‘Não se
pode ter saudade daquilo que não acabou. Taí.
Eu mesmo, depois que o santo subiu de volta, fiquei meio comovido. Deve ser
essa lua, esse conhaque, essa estátua de bronze do Drummond…’
Ao folhear o livro, também concluiu que não lembrava de várias coisas que
tinha escrito. Leia abaixo as respostas de Lessa, 72, à Folha.
FOLHA – A segunda parte da ‘Antologia’ cobre os anos de 72 e 73. Segundo a
edição, essa teria sido a fase mais interessante do jornal. E também a sua. Como
andava seu ânimo profissional? E político?
IVAN LESSA – Sim, minha participação foi mesmo mais ativa. Mas a explicação é
simples. Morava em Londres até 72, quando voltei para o Brasil e passei a
trabalhar diariamente no ‘Pasquim’. Meu ânimo profissional ia bem, obrigado.
Tive outras ofertas mais tentadoras em termos de salário. Mas, no ‘Pasquim’, na
época vendendo pouco e em crise, eu estava entre velhos amigos. Ânimo político?
Nunca tive, não tenho.
FOLHA – Como você selecionava as cartas a serem respondidas? Quantas você
inventava? Depois que os leitores entraram no espírito da seção, ficou mais
difícil?
LESSA – Eu pedia para a dona Nelma [secretária do jornal] a vasta pasta com
as cartas. Tirava um punhado. Selecionava as que pareciam mais interessantes. Ou
mais idiotas, se você preferir. E inventava apenas as obviamente inventadas. E a
proporção é bem menor do que pensam. Ou dizem.
Depois de um certo tempo, os leitores mais vivos entraram no espírito da
coisa. Aí, é claro, ficou mais difícil. Dependia muito também de como andava
minha paisagem interior. Sim, eu tenho uma paisagem interior, que anda, marcha,
pula, isso tudo.
FOLHA – Entre os gêneros que você criou no jornal, as cartas inventadas, as
falsas notícias comentadas e o horóscopo, de quais gostava mais?
LESSA – O que eu mais gostava de fazer mesmo era o ‘Pasquim Novela’. O resto
do que você menciona era ou muito triste ou muito chato. Não me lembro de falsas
notícias. Toda notícia é, por definição, falsa. Ou farsa. Por aí.
FOLHA – E as que tinham subtexto contra a ditadura (sobre Papa Doc, a
Inquisição ou Perón)?
LESSA – Era para poder falar de nós falando dos outros. É a única vantagem da
censura: obrigar o cidadão a exercer as disciplinas das entrelinhas, das
alegorias, das insinuações.
FOLHA – Como funcionava a relação com os chargistas na seção ‘Gip, Gip,
Nheco, Nheco’?
LESSA – Eu escrevia os ‘gips’ e eles ‘nhecavam’. Em muitos eu tinha uma idéia
ou sugestão para a ilustração. Mas muitas das frases davam para se agüentar em
seus próprios pés. Acho.
FOLHA – Acredita que as pessoas vejam o ‘Pasquim’ hoje com demasiada
nostalgia?
LESSA – O ‘Pasquim’ acabou. Para o bem ou para o mal.
FOLHA – Em entrevista à Folha, Jaguar disse que o jornal viveu mais do que
deveria. Você concorda?
LESSA – Concordo. O ‘Pasquim’ deveria ter acabado logo depois que começaram a
botar azeitonas adoidadas em empadas alopradas.
FOLHA – Você acha que o ‘Pasquim’ de fato revolucionou o jornalismo
brasileiro?
LESSA – É, o jornaleco tirou as aspas da língua brasileira. Na medida do
possível. Os outros méritos estão com todos os que escreveram ou desenharam ou
tentaram uma contabilidade honesta com a publicação -chato ficar repetindo
‘Pasquim’ ou ‘jornaleco’, passemos então para os chavões.
FOLHA – Você lê jornais brasileiros? Acha que estão melhores ou piores do que
na época da ditadura?
LESSA – Passo os olhos eletrônicos neles. Continuam ruins como sempre. Loas
para tudo que contribua para desencorajar um brasileiro, ou brasileira, a
praticar o (risos) jornalismo.
FOLHA – As pessoas ficam intrigadas com o fato de você ter partido para
Londres e praticamente nunca mais ter voltado. Você sentiu necessidade de romper
com o Brasil?
LESSA – Não senti necessidade. Apenas uma baita de uma vontade de me mandar e
só voltar em caso de muita, mas muita emergência mesmo.
FOLHA – Você se diverte com os jornais sensacionalistas?
LESSA – Acompanhar os tablóides chega a ser engraçado. Mas há muita coisa
para ler, para ver na TV, muito pato para se alimentar no laguinho dos parques.
Eu confesso que só vejo a primeira página nas bancas, que é o quanto basta.
Ninguém os leva a sério. Principalmente os que fazem os tablóides. Aí até que dá
para fazer uma ponte com o ‘Pasquim’.
FOLHA – Num dos artigos você diz que o mundo se divide entre as pessoas que
dizem ‘ôba’ e as que dizem ‘êpa’. Onde você se enquadra nessa classificação.
LESSA – Êpa! O passar dos anos, a passagem dos ôbas…
LESSA – Sei que não teve uma pergunta treze. Mas sou supersticioso e aqui
está a prova.’
***
Volume 2 já vendeu 10 mil exemplares
‘Quase 16 anos depois de sair de circulação, o ‘Pasquim’ faz sucesso mais uma
vez. O segundo volume da ‘Antologia’ organizada pelo cartunista Jaguar e pelo
jornalista Sérgio Augusto já vendeu 10 mil cópias desde que desembarcou nas
livrarias, há uma semana.
Antes dela, o primeiro livro da série, lançado no ano passado, já havia
vendido 40 mil exemplares.
A nova coletânea abrange um período de dois anos. ‘Foi um dos mais criativos
do ‘Pasquim’, em que Ivan Lessa e Millôr estão em melhor forma’, diz Sérgio
Augusto.
Lançado em 1969, ‘O Pasquim’ foi um dos mais importantes jornais a se oporem
à ditadura militar no Brasil, além de impulsionar talentosos escritores,
jornalistas e cartunistas, como Tarso de Castro, Ivan Lessa, Millôr Fernandes,
Paulo Francis, Jaguar e Henfil, entre outros. O último volume da série, ainda
sem previsão de data, será dedicado a reproduzir o material censurado pelo
regime. (SC)
O PASQUIM – ANTOLOGIA 1972-1973
Organização: Sérgio Augusto e Jaguar
Editora: Desiderata
Quanto: R$ 68 (365 págs.)’
TELEVISÃO
Record lucra R$ 52 mi, mas bispo não leva
‘Pelo segundo ano consecutivo desde que foi adquirida por Edir Macedo, em
1989, a Record teve lucro em 2006, revela ata de assembléia de diretoria que a
rede acaba de registrar na Junta Comercial de São Paulo.
A ata não informa qual foi o resultado. Mas, segundo Alexandre Raposo,
presidente da Record, o lucro líquido foi de R$ 52 milhões. O faturamento bruto
atingiu R$ 1 bilhão.
De acordo com a ata, não houve distribuição de dividendos, ou seja, o bispo
Macedo não levou um centavo do lucro da Record. Contabilmente, os recursos foram
‘absorvidos pelos prejuízos acumulados de exercícios anteriores’.
Raposo afirma que Macedo determinou que todo lucro que a Record tiver é para
ser ‘reinvestido’. Há dois anos, a emissora constrói um complexo de estúdios no
Rio, o Recnov.
O complexo já possui oito estúdios, mas isso ainda é insuficiente para para
produzir três novelas simultaneamente. Em maio, a emissora tirou do ar a
‘novelinha’ ‘Alta Estação’, por baixa audiência, e ficou exibindo apenas duas
novelas.
A Record decidiu que não irá fazer mais ‘novelinhas’ como ‘Alta Estação’. Só
irá apresentar uma terceira novela quando tiver estrutura para isso, ou seja,
quando estiverem prontos os dois estúdios que começará a construir em breve, o
que deve ocorrer até meados de 2008. A longo prazo, o Recnov deverá ter 15
estúdios.
PÁRA TUDOPresidente da Fundação Padre Anchieta, Marcos Mendonça suspendeu
gravações de um documentário que faria um balanço (positivo, obviamente) de sua
gestão na TV Cultura, que acaba dia 14. A suspensão ocorreu após a Folha revelar
que o programa estava sendo produzido com dinheiro público.
FRENTE Aguinaldo Silva teve que parar de escrever os primeiros capítulos de
‘Duas Caras’ para entregar à Globo uma lista com os cenários e locações da
próxima novela das oito, que estréia dia 1º de outubro. A Globo antecipou esse
trabalho porque ‘Duas Caras’ será gravada em alta definição (HDTV), e os
cenários terão que ser produzidos com riqueza de detalhes e acabamento, porque a
nova tecnologia ‘denuncia’ imperfeições.
ESCALAÇÃORocco Pitanga e Fernando Pavão acabam de ser escalados para
‘Caminhos do Coração’, próxima novela da Record, que estréia em agosto. O
primeiro vai viver um advogado e o segundo, um ex-presidiário que se esconde em
circo trabalhando como atirador de facas.
TROCAA Globo tirou do YouTube um vídeo com um trecho de mais de um minuto de
efeitos especiais de ‘A Pedra do Reino’. O site agora exibe uma chamada oficial
da microssérie.
VIDA REALA Globo vai usar jornalistas que cobrem televisão, e não figurantes,
para as gravações da inauguração da boate da personagem de Priscila Fantin, em
‘Sete Pecados’, próxima novela das sete. As gravações serão na próxima terça, no
Projac.’
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