RENANGATE
Jornalista que hoje é ‘terror de Brasília’ diz que amava demais
‘Pivô da crise que ameaça derrubar o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a jornalista Mônica Veloso, 38, pensa em se mudar de Brasília: ‘Virei o terror da cidade’.
Com uma filha de três anos, fruto do relacionamento com o senador, Mônica nega que tenha chantageado Renan e afirma que amou o peemedebista. ‘Amei, amei muito.’ Ela diz que os dois nunca procuraram se esconder e que, no início, Renan dizia que estava separado.
Após o escândalo, passou a ser reconhecida na rua. Diz ter apoio da família e dos amigos, mas afirma que ‘a sociedade, em geral, tende a recriminar’ a mulher em casos extraconjugais. Ela nega que, antes de Renan, tenha namorado outros políticos. ‘Não sou alpinista social’, diz a mineira de Nanuque, criada em Belo Horizonte.
Com 1,70 m e 58 kg, ela começou a carreira fazendo comerciais em Cuiabá (MT), mas não gosta do rótulo de modelo. Não descarta posar nua e gostaria de comandar um programa de entrevistas na TV. Questionada se é uma mulher bonita, desconversa: ‘Fotografo bem’.
Mônica faz questão de se dizer ‘extremamente religiosa’ -embora, em seguida, admita que vá pouco a cultos. Ela se diz evangélica, batista, apesar de ser adepta do Vale do Amanhecer: ‘Sou crente nova’.
A jornalista diz que não está namorando e que tem preferido se dedicar às duas filhas. Freqüenta a academia de duas a três vezes por semana, gosta de sair para jantar e diz que dispensa festas e dança mal.
Está relendo o best-seller ‘Quando Nietzsche Chorou’, de Irvin D. Yalom. Cinéfila, inclui ‘Os Infiltrados’, de Martin Scorsese, entre os preferidos: ‘Adoro filme inteligente’.
Diz que adora moda, jóias e maquiagem, mas não é do tipo que ‘desconta o emocional’ no shopping: ‘Vou para a análise’.
‘As coisas que começam errado não têm como dar certo’
FOLHA – Você teve um relacionamento com um político casado. Foi estigmatizada por isso?
MÔNICA VELOSO – A sociedade de uma maneira geral tende a recriminar, sim, mas tem os dois lados. Recebi muita crítica mas também muito apoio.
FOLHA – Como é esse apoio? É reconhecida na rua?
MÔNICA – Sou, as pessoas comentam umas com as outras. Mas não é isso. A solidariedade que eu recebi veio dos meus amigos, da minha família, que sabem a minha história de vida, sabem que eu não sou uma alpinista social. Eu não precisava em hipótese nenhuma me envolver em um relacionamento para me beneficiar.
FOLHA – Há uma insinuação de que você estaria chantageando Renan. Você gravou conversas com ele?
MÔNICA – Acho muito estranha essa história de chantagem. Nunca apareceu um laudo que fosse seguro, não tem nenhum material que eu possa ouvir para saber se a voz é minha…
FOLHA – Reconhece aquelas conversas na transcrição?
MÔNICA – Não reconheço. Não posso garantir que talvez o telefone dele não estivesse grampeado, como ele comentou. Mas eu não reconheço aqueles termos, parece um negócio meio de novela mexicana.
FOLHA – Como se conheceram?
MÔNICA – Trabalhando na Globo, eu fui gravar com ele. Depois eu voltei a encontrá-lo porque a [minha] produtora fez um programa para o horário eleitoral gratuito do PMDB. Nas duas ocasiões foi uma coisa bastante formal.
FOLHA – Você não se interessou logo de cara por ele, então?
MÔNICA – Não. Nem eu por ele, nem ele por mim.
FOLHA – Quando começaram o relacionamento, vocês tomavam cuidado para não serem vistos?
MÔNICA – De jeito nenhum, por isso em Brasília essa história não é nenhuma novidade. Jantávamos em restaurantes, íamos a lançamentos de livros, a eventos no próprio Senado. Até porque inicialmente ele me disse que estava separado.
FOLHA – Você se arrepende?
MÔNICA – As coisas que começam errado não têm como dar certo. Eu acho que aprendi muito, porque sofri demais. Não vou dizer que foi a relação ideal, mas a minha filha é uma bênção para mim.
FOLHA – Você pode dizer que amou o presidente Renan?
MÔNICA – Claro que sim. Amei, amei muito. Ele é um homem extremamente inteligente.
FOLHA – Engravidou por descuido?
MÔNICA – Não vou responder.
FOLHA – Teve que se esconder durante a gravidez?
MÔNICA – Não, o que aconteceu é que nós achamos mais conveniente que eu me mudasse. Apesar de eu não estar mais no vídeo, ainda era uma pessoa que, no meio dos jornalistas, era conhecida, porque Brasília é uma cidade provinciana.
FOLHA – Recebeu ameaças?
MÔNICA – Foi em 2004, eram ameaças por telefone.
FOLHA – Era uma voz feminina?
MÔNICA – Variava.
FOLHA – Desconfia de quem estava por trás dessas ameaças?
MÔNICA – Não.
FOLHA – Você teve relacionamentos com outros políticos?
MÔNICA – Não, inventaram toda sorte de relações. Eu virei o terror da cidade.
FOLHA – Nem o Luís Eduardo Magalhães [morto em 1998]?
MÔNICA – Não. Eu o conhecia, estive com ele em várias ocasiões, mas nunca houve nada.
FOLHA – Acha que está queimada na profissão?
MÔNICA – Tenho certeza que sim. Não sei se vou reativar a produtora, enveredar por outra seara, porque na política…
FOLHA – Não pensa em voltar à TV, talvez em um talk show ou em um programa de variedades?
MÔNICA – Não descarto, gosto muito de televisão. Talk show não é uma coisa que eu descarte não, acho que seria muito legal.
FOLHA – Pensa em deixar Brasília?
MÔNICA – Penso, porque a exposição foi muito grande e muito negativa.
FOLHA – Você se acha uma mulher bonita, sexy?
MÔNICA – Faz uma pergunta mais fácil [risos]. Acho que não tenho perfil de sex symbol. Acho que fotografo bem.
FOLHA – Recebeu alguma proposta para posar nua? Aceitaria?
MÔNICA – Até agora ninguém me ligou. Para eu poder fazer um comentário precisaria ser uma coisa oficial, mostrando como seria feito. Sem isso não dá nem para fazer conjectura.
FOLHA – Você se preocupa muito com a imagem?
MÔNICA – Hoje em dia não. Quando eu trabalhava na televisão, aí tinha uma preocupação maior. Mas não sou do tipo que desconta o emocional no shopping. Vou para a análise.
FOLHA – Que tipo de análise você faz? Há muito tempo?
MÔNICA – Freudiana. Faz pouco tempo. Acho que muita coisa que era mal resolvida a análise me ajuda a trabalhar melhor. Mas essa coisa do emocional para mim tem duas linhas. Uma é a análise. A outra é que sou extremamente religiosa.
FOLHA – Segue qual religião?
MÔNICA – Evangélica, batista, da Vale do Amanhecer.
FOLHA – Freqüenta cultos?
MÔNICA – Não vou demais, vou às vezes. Sou crente nova.
FOLHA – Está namorando?
MÔNICA – Não. Não estou namorando há muito tempo.
FOLHA – Por quê?
MÔNICA – Assim que a relação acabou, preferi ficar próxima das meninas [suas filhas], me reorganizar. E não apareceu ninguém que valesse a pena.
FOLHA – Está trabalhando?
MÔNICA – Não.
FOLHA – Nunca estranhou receber tanto dinheiro de Cláudio Gontijo?
MÔNICA – Não. Quando você tem um relacionamento com um homem e vocês têm um filho, você não vai ficar questionando se o pagamento de sua pensão é ou não em espécie. Isso parece óbvio agora, mas na época não me preocupava.
FOLHA – O que achou do discurso de defesa de Renan no Senado? E de ele ter se referido a você como ‘a gestante’, sem falar seu nome?
MÔNICA – Ele escolheu uma linha e se manteve nela. Faz um certo tempo que não consigo reconhecê-lo.
FOLHA – Você sabia que ele era um produtor de gado bem-sucedido?
MÔNICA – Falava mais da fazenda, de pescaria. Às vezes ele falava de gado, mas não sei dizer se era do tamanho A, B ou C.
FOLHA – Ele disse que repassou R$ 100 mil para um fundo de educação.
MÔNICA – Foi acerto de pensão.
FOLHA – Gosta de política?
MÔNICA – Gostava muito. As circunstâncias me levaram a não ter mais muito interesse. Fiquei muito exposta e não vou dizer que hoje seja meu assunto predileto. Fiquei triste com a forma como exploraram minha intimidade, quando disseram o nome de minha filha no Conselho de Ética. Não precisava.
FOLHA – Acha que Renan pode ficar na presidência do Senado?
MÔNICA – Não gostaria de me manifestar sobre isso. Essa é uma questão que cabe aos pares dele decidir.’
***
Jornalista só fala ao lado do advogado
‘Cuidadosa com as palavras e acompanhada de perto pelo advogado Pedro Calmon, a jornalista Mônica Veloso disse que não tinha denúncias a fazer contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e mostrava insatisfação toda vez que as perguntas resvalavam para as suspeitas de corrupção contra o senador.
Bastante maquiada, usando jóias, vestido estampado e salto alto, a jornalista conversou com a Folha durante uma hora e 15 minutos no escritório de seu advogado no Lago Sul, um bairro nobre de Brasília.
A entrevista começou com uma hora de atraso, embora Mônica já estivesse no local. Uma maquiadora chegou ao escritório quase ao mesmo tempo que a Folha. A justificativa foi que Calmon estaria em um compromisso fora.
Sentada em um sofá, Mônica disse preferir que as fotos fossem feitas em um enquadramento mais fechado. Enquanto a jornalista falava sobre temas leves, seu advogado lia um jornal. A leitura era interrompida quando o assunto era conduzido para suspeitas contra o presidente do Senado.
Acusada por aliados de Renan de ‘chantagista’, Mônica avalia que teve ‘uma exposição muito negativa’ desde que o escândalo envolvendo o presidente do Senado veio à tona, há cerca de um mês. Seu objetivo era melhorar a imagem. Antes de começar a entrevista, o advogado quis ter uma idéia do que seria perguntado.
Ela não quis falar sobre Verônica Calheiros, mulher de Renan, nem sobre sua filha com o senador, dizendo não querer expor a criança.’
GOVERNO LULA
Lula na TV
‘O governo tinha de agir e agiu. Com nove meses de atraso e de uma inacreditável seqüência de erros, mas agiu. A tendência da crise dos aeroportos é ir acabando, acabando e acabar, até virar caso de Justiça -com o inquérito contra os controladores.
Primeiro, Lula deu uma de bonzinho na forma (passando a mão na cabeça de sargentos insubordinados) e foi negligente no conteúdo (sem negociar nada, apesar de haver reivindicações justas).
Agora, depois de ter transformado uma insubordinação restrita num movimento de grandes proporções, a tentativa é fazer o contrário: endurecer na forma (prendendo e afastando os líderes) e depois ceder no conteúdo (criando um plano de carreira para a categoria). No fundo, punindo os líderes e premiando os que ficarem.
A grande guinada estratégica é que o governo entrou na crise, nove meses atrás, anunciando negociação, paciência e desmilitarização do setor, conforme exigiam os líderes do movimento. Chega ao final fazendo o oposto: sem negociar, baixando o pau e aprofundando a militarização no tráfego aéreo.
Para Lula, o que interessava era resolver a situação, não importa como. Ele -e ninguém- não suportava mais ver aquela classe média todo dia se amontoando pelos aeroportos, cansada e irada. Resolvido o problema, ele deve tirar uma casquinha, fazendo um pronunciamento em rádio e TV à nação.
E o ministro da Defesa, Waldir Pires? Ele entrou na crise atribuindo toda a culpa da queda do Boeing aos pilotos americanos, seguiu sendo ‘bonzinho’ com os controladores, chegou a defender publicamente a desmilitarização do setor e… acabou soltando uma nota na linha do ‘esqueçam o que eu disse’.
A Aeronáutica debelou a crise, o ministro da Defesa evaporou e Lula vai capitalizar o sucesso. Quando há crise, a culpa é dos outros. Quando dá certo, o mérito é do Lula.’
MÍDIA & POLÍTICA
A conta do grampo irá para a Viúva
‘A DIFUSÃO ampla, geral e irrestrita de conversas telefônicas gravadas com permissão da Justiça poderá custar à Viúva alguns bilhões de reais. Isso acontecerá quando as pessoas que tiveram suas conversas propagadas forem aos tribunais buscar indenizações por danos morais e profissionais provocados pela quebra do sigilo de um material que estava sob a guarda e responsabilidade do Estado.
Parece uma questão teórica, mas trata-se de um caso de onipotência irresponsável dos agentes do Estado. Coisa do tipo ‘pode fazer, não vai acontecer nada’. Foi assim nos anos 70, quando cidadãos eram fisicamente torturados por militares e policiais. Não passava pela cabeça de um coronel do DOI que um dia o preso da noite passada receberia uma indenização pelos sofrimentos vividos. Foi assim nos anos 80, quando os sábios das ekipekonômicas fizeram pacotes que mutilaram a poupança da patuléia. Acreditava-se que as vítimas jamais teriam força para buscar seu direito na Justiça. Enganaram-se, e a conta dessas leviandades talvez tenha chegado a uns R$ 10 bilhões.
As gravações autorizadas pela Justiça ficam sob a guarda do Estado. Se elas saem por aí, ele é o responsável pelos danos que a violação do sigilo provoca.
Há soluções técnicas, pois é possível marcar eletronicamente uma gravação, permitindo saber de onde ela saiu. Há também soluções processuais, obrigando a polícia a separar as conversas relevantes para a investigação, assegurando a destruição daquilo que não tem importância. Essa providência seria ordenada pelo juiz, com a concordância do Ministério Público e da defesa.
É injusto atribuir todos os vazamentos à polícia. Geralmente eles ocorrem depois que os advogados têm acesso às provas. É comum que o advogado de um suspeito passe adiante gravações de conversas de outra pessoa investigada, tanto para tumultuar o inquérito como para desviar a atenção de seu cliente. Desse jeito, a violação de um segredo posto sob a guarda do Estado serve aos interesses dos delinqüentes.
AS DUAS BOAS NOVIDADES DE SARKOZY
Para quem sofre com a falta de estilo de Condoleezza Rice e Hillary Clinton, as duas mulheres mais poderosas da política mundial, a França oferece um refrigério. O governo de Nicolas Sarkozy tem duas figuras notáveis. Uma é Christine Lagarde, 51 anos, mãe de dois filhos e ministra das Finanças. Alta, chique, bronzeada e grisalha, chegou lá depois de ter dirigido um dos maiores escritórios de advocacia dos Estados Unidos (4.400 funcionários em 35 países). Aprecia, e até exagera, nas echarpes coloridas sobre ternos escuros.
Ela esteve no Brasil em fevereiro passado, quando ocupava o Ministério do Comércio Exterior. Em 2005, numa negociação com os países em desenvolvimento, queixou-se da posição das delegações do Brasil e da Índia: ‘Querem tirar tudo de nós, até a roupa íntima’.
A outra é Rama Yade, de 31 anos, secretária de Direitos Humanos do Ministério das Relações Exteriores. Nasceu no Senegal, filha do secretário particular do primeiro presidente do país, Leopold Senghor (1906-2001), patrono do conceito de ‘negritude’.
Seu marido é um simpatizante dos socialistas e votou em Ségolène Royal.
Com dois olhos enormes e um sorriso juvenil, Rama Yade costuma repetir um provérbio africano: ‘Enquanto os leões não tiverem seu historiador, as histórias da caça sempre exaltarão o caçador’.
SILÊNCIO TUCANO
Durante muitos anos, as principais lideranças femininas da política nacional estiveram no PSDB ou no seu entorno. Como os intelectuais petistas comeram o pão que o diabo amassou em 2005, quando ficaram em silêncio durante a crise das roubalheiras, é o caso de se perguntar porque o alto tucanato se mantém em obsequioso silêncio sempre que o governo levanta o tema do aborto.
PAC DIURÉTICO
O ministro Guido Mantega associa o caos dos aeroportos ao progresso econômico. Se o companheiro tivesse tentado usar o banheiro do aeroporto de Brasília na tarde de quinta-feira, veria um saldo líquido capaz de enriquecer seu pensamento: ‘É a prosperidade do país, mais gente…’
UMA PENA
Carl Bernstein, o legendário repórter do Caso Watergate (fazendo dupla com Bob Woodward), acaba de publicar sua biografia de Hillary Clinton. Morreu na praia. O livro pode ser resumido numa frase de Peter Preston do ‘Guardian’: ‘Ele fez 200 entrevistas e trabalhou durante oito anos. (…) Fica a impressão de que, se tivesse trabalhado por oito meses, com duas entrevistas, teria feito melhor’. ‘Woman in charge’ (‘Uma mulher no comando’) é uma xaropada provinciana e burocrática. Consolida o que já foi escrito sobre as intrigas e o funcionamento da Casa Branca. Nela, Hillary fica ligeiramente parecida com o José Dirceu do Planalto. Bernstein fez uma boa observação: o maior erro do primeiro mandato de Clinton foi deixar que sua agenda fosse determinada pela imprensa, pela oposição e pelo procurador que o investigava.
NÃO MORDE
Durante sua visita ao Brasil, o presidente da República Dominicana, Leonel Fernandez, arrumou tempo e entrou na Livraria Cultura, em São Paulo. Sapeou as estantes e fez uma despesa de R$ 8.000 (133 livros). Levou de tudo, do Dicionário Houaiss e de um manual de turismo a ‘Dom Casmurro’ e ‘Budapeste’. Se os governantes estrangeiros começarem a visitar as livrarias brasileiras, um dia Nosso Guia entrará numa delas. Para seu conforto, algumas servem café.
BRASIL 1956
Um curioso passou os olhos por um volume das edições de 1956 da revista quinzenal ‘Maquis’, dirigida pelo jornalista Amaral Neto. Era o gramofone da oposição e se auto-intitulava ‘a revista que não pode ser boazinha’. Alguns de seus títulos:
‘Governo JK, sindicato de ladrões’
‘O sul de Minas está em pé de guerra com a construção da barragem de Furnas’
‘A roubalheira no Fundo Sindical’
‘Cadillacs para deputados mais baratos do que vitaminas’
‘Rio, 1956: uma cidade onde se vive para matar’
Amaral Neto (1921-1995) tornou-se um destacado e protegido patrulheiro na ditadura.
FALOU DEMAIS
Durante a campanha eleitoral, Lula disse que se ‘estava perto, muito perto’ de um acordo com os países europeus para derrubar alguns subsídios que dão aos seus agricultores.
Era bobagem, perseguição de uma fantasia. Mesmo assim, deve-se justiça a Nosso Guia. Se a ekipekonômica do tucanato estivesse na ativa, o Brasil talvez tivesse deixado roupas íntimas nas negociações da semana passada, em Potsdam. Fizeram muita coisa feia.’
TELECOMUNICAÇÕES
Tele nacional pode barrar estrangeiros
‘Criação de uma nova tele brasileira (cujo capital não poderia ser transferido a estrangeiros por no mínimo dez anos) e TV a cabo livre para exploração pelo capital externo. Esse cenário pode fazer parte do desfecho de uma guerra comercial travada no governo, mercado e Congresso sobre os rumos das telecomunicações no país.
Ofuscada pelos escândalos políticos do momento, essa disputa, ainda nos bastidores, opõe dois grupos. Um forte politicamente, o das TVs -encabeçado pela Rede Globo- venceu a batalha da TV digital, quando o presidente Lula escolheu o padrão japonês.
E outro forte economicamente, o das companhias telefônicas -puxado pela espanhola Telefônica e pela mexicana Telmex- que contam com o poderio de expansão da economia como seu principal trunfo.
De um lado, as emissoras de radiodifusão alegam que precisam de mais tempo para se tornarem competitivas e enfrentar as teles num mercado que até pouco tempo era cativo delas. Dizem que, se ficarem expostas totalmente à concorrência, podem ser prejudicadas. Enquanto o faturamento das radiodifusoras atinge R$ 10 bilhões por ano, o das teles chega a R$ 110 bilhões.
Para pelo menos equilibrar o jogo no mercado bilionário das teles e evitar a formação no futuro de um duopólio estrangeiro, dentro do governo e no Congresso é praticamente consenso a idéia de fundir a Telemar (Oi) e a Brasil Telecom, mas com regras de salvaguardas que impeçam a venda do controle da nova tele para um grupo externo num prazo de pelo menos dez anos.
Já a liberação da TV a cabo para as concessionárias de telefonia e o capital estrangeiro ainda divide opiniões entre os atores que vão definir o tema legalmente: governo Lula e parlamentares.
Apesar de boa parte dos envolvidos nas negociações ser a favor da entrada de capital estrangeiro no setor, há no governo e no Congresso posições mais alinhadas à Globo que desejam criar um período de carência, de até dez anos, em que as emissoras de TV não sofreriam a concorrência das teles.
O ministro das Comunicações, Hélio Costa, diz temer a abertura completa do setor a empresas estrangeiras. ‘Elas são sempre muito agressivas, podem querer dominar o mercado. Não sou a favor nem contra, precisamos ouvir o setor para ter uma posição definitiva’, diz o ministro.
Cabo
A pressão mais forte das teles é pelo fim da Lei do Cabo, de 1995, legislação que regula a TV por assinatura via cabo. Do ponto de vista dessas empresas, a lei tem dois entraves: define TV a cabo como concessão e limita em 49% a participação estrangeira nas empresas que oferecem o serviço.
Ao definir TV por assinatura por meio de cabo como sendo uma concessão, a Lei do Cabo impede que as teles atuem no setor. Isso acontece porque as empresas não podem ter mais de uma concessão na área em que já atuam. O serviço de telefonia já é uma concessão.
As teles querem usar sua infra-estrutura já instalada (fios que chegam à casa dos consumidores) para oferecer pacotes de serviços convergentes (linha fixa, internet em banda larga e TV por assinatura), o que se chama de ‘triple play’.
‘Do jeito que está, só um grupo pode oferecer ‘triple play’, diz José Fernandes Pauletti, presidente da Abrafix, numa referência à Globo, que, por meio da Net/Telmex, oferece telefonia fixa, banda larga e TV por assinatura.
A Abrafix é a entidade que reúne as concessionárias de telefonia fixa, como Telefônica, Telemar e Brasil Telecom.
Fusões
Outro aspecto consensual entre as teles é a necessidade de abolir restrições a que uma concessionária compre outra, previstas na legislação.
‘Tem que mudar para que haja consolidação’, diz Pauletti. Segundo o executivo, o argumento de manter as restrições para garantir competição não existe. ‘A competição já acontece hoje. A telefonia móvel compete com a fixa’, disse.
Essa mudança seria o primeiro passo para fazer a fusão da Telemar e da Brasil Telecom, duas empresas com forte participação dos fundos de pensão, o que facilita uma decisão do governo de tentar formar uma grande empresa brasileira no setor.’
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Governo busca investidor para criar empresa
‘As negociações para a formação de uma nova tele brasileira passam pela busca de um grupo investidor nacional disposto a entrar no negócio. Reservadamente, são citados nome como o Grupo Votorantim e a Itautec.
A futura empresa, se viabilizada, seria formada com a fusão da Telemar e da Brasil Telecom. A atração de um grupo se deve ao fato de que os principais acionistas das duas empresas são investidores como fundos de pensão, que costumam entrar num negócio pensando numa saída no futuro.
A fusão das duas empresas não é, no entanto, um consenso entre especialistas. ‘Não se deve alterar a lei para permitir uma fusão casuística. Teria que se criar condições isonômicas para os demais participantes’, diz Juarez Quadros, ex-ministro das Comunicações. Ou seja, a lei não poderia ser mudada só para permitir que a Telemar compre a BrT.
A aposta é que o mercado chegará a um acordo. A Telefônica, por exemplo, poderia ser recompensada por ficar de fora do negócio ganhando o direito de operar TV a cabo.’
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Projeto tenta evitar concorrência no setor
‘Uma tentativa de armistício na guerra comercial das TVs e teles está em curso no Congresso. Relator do projeto do futuro Serviço de Comunicação por Acesso Condicionado, o deputado Jorge Bittar (PT-RJ) conta com o apoio de deputados do DEM e do PSDB para encerrar a disputa amigavelmente. Projetos de ‘inspiração global’, porém, ainda tentam proteger interesses das TVs.
A idéia de Bittar passa por dividir o serviço em três: geração de conteúdo, programação e distribuição. O primeiro seria restrito a empresas brasileiras. O segundo poderia ser nacional ou estrangeiro, mas teria de seguir regras que protegeriam a veiculação de produções brasileiras. O terceiro seria explorado por estrangeiros, o que incluiria TV a cabo.
Um acordo, porém, ainda está longe de ser fechado. Há setores no Congresso, como o senador Flexa Ribeiro (PSDB-BA), que lançaram uma proposta tida como de ‘inspiração global’, que vetaria o acesso à TV a cabo de concessionárias de telefonia nacional por mais dez anos. Flexa Ribeiro nega estar defendendo interesses apenas da Globo. Diz que quer tornar as TVs competitivas nesse mercado.
As teles rebatem dizendo que todos têm a ganhar com o avanço da TV a cabo, lembrando que a TV Globo hoje é a que tem maior audiência no segmento. A estratégia das teles é, antes de partir para a disputa política direta com a emissora, tentar convencê-la de que todos podem sair ganhando com o aumento na quantidade de casas com TV por assinatura.
O relatório de Bittar vai fundir três outros projetos -dos deputados Paulo Bornhausen (DEM-SC), Walter Pinheiro (PT-BA) e Nelson Marquezelli (PTB-SP)- que tratam da convergência tecnológica dos serviços de comunicação no país.
O projeto do democrata libera a atuação das teles na TV a cabo. ‘A atual legislação caducou, foi atropelada pela tecnologia, não faz mais sentido essa restrição ao cabo quando o satélite é liberado.’ O de Marquezelli atende mais aos interesses das TVs abertas. O do petista procura ser um meio-termo.
O texto de Bittar, a ser apresentado em agosto, vai tratar não só da TV a cabo mas também regulamentar numa mesma lei serviços de internet banda larga e de voz, o que é chamado de ‘triple play’.
Aí está o receio das emissoras de radiodifusão, já que, liberadas, as teles poderiam passar a competir no mercado de TV e rádio e roubar parte do faturamento publicitário.’
É MENTIRA, CHICO?
Marco Aurélio Canônico
Criações de Chico Anysio ganham livro ilustrado
‘Com 76 anos de idade e mais de 60 de carreira, Chico Anysio se deu conta de que sua imensa galeria de personagens vivia no imaginário popular, mas não estava catalogada em um meio duradouro como o livro.
Para resolver esse problema, se juntou a Ziraldo -na verdade, foi pressionado por ele, que acalentava o projeto há anos- e criou uma enciclopédia ilustrada de suas principais criações, o livro ‘É Mentira, Chico?’.
Recém-lançada por um selo da editora Resultado, a obra é um passeio por 77 personagens clássicos do humor brasileiro, retratados por 40 dos principais cartunistas do país.
‘Esse livro é a comprovação de que eu trabalhei muito’, diz Chico. ‘Esse país cresceu me vendo’, completa, sem modéstia e, possivelmente, sem equívoco.
O título é uma referência à frase marcante do personagem Pantaleão, que aparece na capa caricaturado por Ziraldo -uma repetição da capa do livro ‘É Mentira, Terta?’, de 1973.
Cada uma das criações catalogadas no livro ganhou uma biografia própria, um texto com uma cena humorística e pelo menos uma caricatura. ‘Se o Chico morrer, morrem cem personagens com ele, porque a TV não eterniza nada. Vivemos 50 anos com aqueles tipos e eles iam sumir’, diz Ziraldo, que escreveu uma introdução e desenhou, além do Pantaleão, o Professor Raymundo.
Bordões
Os que acompanharam pelo menos parte das quase quatro décadas de Chico na TV vão lembrar dos bordões clássicos.
Tipos variados como Bento Carneiro, o vampiro brasileiro (‘Minha vingança sará malígrina’), Nazareno (‘Ca-la-da!’) ou Jovem (‘Pô, mãe, eu sou jovem’) são tão memoráveis que os trejeitos e as entonações de Chico vêm à mente a partir da leitura dos textos.
Os 77 tipos registrados no livro são os que o humorista conseguiu guardar -na memória ou em arquivo- entre os mais de 200 que afirma ter criado. Cá estão o galã Alberto Roberto, o corrupto Justo Veríssimo, o gay Haroldo, a apresentadora Neyde Taubaté e o favorito do humorista, o Professor Raymundo Nonato.
Chico diz ter orgulho especial do mestre da ‘Escolinha do Professor Raymundo’ por ter sido quem abriu as portas do rádio e da TV não apenas para ele, mas para gerações de humoristas. ‘Zé Trindade, Costinha, Mussum, Zilda Cardoso… a ‘Escolinha’ era a maior empregadora desse país.’
Cartunistas
‘É Mentira, Chico?’ também funciona como um ‘portfolio da caricatura brasileira atual’, como define Ricky Goodwin, curador do livro e responsável por selecionar, com Ziraldo, os artistas que ilustrariam a obra.
‘Procurei escolher buscando variedade geográfica, de estilos e também cronológica, desde artistas consagrados até revelações novíssimas’, diz Goodwin.
E assim há desenhos de Lan, Aroeira, Ique, dos irmãos Caruso, Cárcamo, Loredano. Segundo o curador, a seleção de quem ia desenhar que personagem foi feita por sorteio e houve a decisão de doar todos os direitos autorais resultantes das vendas do livro para o Retiro dos Artistas.
‘Só conseguimos fazer o trabalho pelo amor que as pessoas sentem pelo Chico Anysio e o respeito que têm pelo Ziraldo, porque todo mundo trabalhou de graça’, diz Goodwin.
É MENTIRA, CHICO?
Projeto Editorial: Ziraldo
Curadoria: Ricky Goodwin
Editora: Resultado
Quanto: R$ 79 (192 págs.)’
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Site reúne várias facetas do humorista
‘Não é apenas em livro que a memória dos diversos personagens de Chico Anysio está registrada para a posteridade.
O site do humorista (www.chicoanysio.com) é repleto de detalhes, com vários textos, depoimentos, fotos e até músicas.
Todas as faces de Chico estão representadas -esta é, aliás, a frase de introdução do site. Humorista, compositor, escritor, pintor, radialista, comentarista, ator e diretor, cada profissão pela qual ele passou tem uma área para si.
Um achado é a discografia do Chico cantor e compositor, difícil de encontrar em outro formato. Todas as músicas podem ser ouvidas on-line, incluindo o hit ‘Vô Batê Pá Tu’, gravada no disco de Baiano e os Novos Caetanos, de 1974.
Seus personagens de TV aparecem com fotografia e um arquivo de voz em que repetem seus bordões clássicos. Há também curtas biografias para cada um, algumas com pequenas contradições em relação às do livro -Chico disse que irá corrigi-las no site.
Só faltam mesmo, por questões contratuais com a Rede Globo, cenas dos programas de TV -mas estas podem ser encontradas em outros sites, como o www.youtube.com.’
TELEVISÃO
Série sobre lésbicas tem estrutura careta
‘Das tantas estratégias utilizadas pelas produções de seriados de TV norte-americanos na busca pela audiência, ao lado da criatividade encontra-se a ousadia dos temas. Não à toa, esse nicho audiovisual vem sendo considerado um dos setores que mais chama a atenção na representação de modos de vida adultos na ficção contemporânea.
Na disputa pela audiência na TV a cabo nos EUA, o canal Showtime tem investido na ousadia, conseguindo ultrapassar o pioneirismo das produções HBO sob esse aspecto.
Por isso, não é de espantar a franqueza no tratamento das relações homossexuais femininas em ‘The L Word’, que já tem suas duas primeiras temporadas disponíveis em DVD. A estratégia torna-se evidente quando se considera que o seriado estreou apenas um mês antes do final de ‘Sex and the City’, produção da concorrente. É como se se tratasse de uma boa oportunidade de suprir, com representações com enfoque feminino, os órfãos do quarteto Carrie, Samantha, Charlotte e Miranda.
‘Sex and the City’ já testara os limites da tolerância do público frente à representação de temas relacionados à sexualidade feminina. ‘The L Word’ apenas explora um novo nicho, o da homossexualidade.
Mas, a despeito da temática de minoria, o seriado do Showtime guarda interesse na forma como aborda as mutações da subjetividade contemporânea numa metrópole, desta vez Los Angeles. O grupo de garotas que preferem garotas lida com dificuldades que não se limitam à homossexualidade e, sim, avançam no território da afetividade. A fragilidade sexual de um casal monogâmico estável, as dificuldades de se conquistar e manter uma parceira fixa, o comportamento predatório da garota adepta do sexo avulso e descartável e as ambigüidades provocadas pela descoberta da bissexualidade são alguns dos temas abordados com acuidade em ‘The L Word’.
Apesar disso, a forma do seriado é careta, com estruturas padrão de melodrama e pontos de reviravolta típicos de novelinha que, no longo prazo, cansam. Para quebrá-los, apenas as apimentadas cenas de sexo entre garotas não são suficientes para manter o interesse do espectador. Como extras, a primeira caixa traz comentário do episódio piloto, e a segunda, documentário sobre bastidores e jogos.
THE L WORD
(1ª e 2ª temporadas) Criadora: Ilene Chaiken
Distribuidora: Fox (R$ 100, em média, cada caixa)
Avaliação: regular’
Cristina Fibe
Com provas de foto e maquiagem, Sony terá reality com modelos
‘Após a exibição no Brasil de sete temporadas de ‘America’s Next Top Model’, reality show idealizado pela modelo norte-americana Tyra Banks, chegou a vez de as brasileiras competirem para virar top.
O canal Sony traz a produção, já feita em 22 países, para a América Latina, intitulada ‘Brazil’s Next Top Model’ -a próxima top do Brazil, assim, com z, para facilitar a exportação do programa, segundo o canal.
O reality, com inscrições abertas a partir de julho e estréia prevista para outubro, seguirá a fórmula dos EUA. As meninas ficarão confinadas em uma casa por 45 dias, durante os quais farão testes de fotografia, maquiagem, passarela etc. e passarão pelo ritual da eliminação.
A vencedora será contratada por uma agência de modelos e uma empresa, para ser garota-propaganda, e será capa de uma revista.
Priscila Borges Wagner, 18 anos, é modelo há três meses e diz que irá se inscrever por gostar da versão americana e achar que o programa pode funcionar como um ‘relâmpago’ para ter o nome conhecido no mercado.
Vivian Zink de Mello, 21, estuda gestão empresarial, tem 1,72 m e reclama que as agências ‘grandes’ têm preconceito contra sua altura e seu cabelo curto. Quer participar para ‘adquirir experiência’, mas não demonstra muita esperança: ‘Tem muita menina com potencial nessa área. Seria uma grande surpresa vencer’.
Sairá da produção a próxima Gisele Bündchen? ‘Não, a Gisele é ‘über’, procuramos a próxima top’, afirma Stefania Granito, gerente de marketing do canal Sony.
Pode-se inscrever entre 1º e 31/7, pelo www.brntm.com.br. São necessárias três fotos (que não precisam ser profissionais) e um vídeo de três minutos, além de um formulário e um questionário. Na primeira fase, 30 meninas entrarão na casa, e só depois serão selecionadas as 13 que competirão pelo título. A apresentadora e o júri ainda não foram definidos.’
Bia Abramo
Pecados das sete têm leitura rasteira
‘‘MAIS IMPORTANTE que o dinheiro, é o amor’, diz o taxista do bem para sua sogra ambiciosa. Esta é a cena que define Dante, o personagem de Reynaldo Gianecchini na nova novela das 19h da TV Globo, ‘Sete Pecados’.
De novo como o bonitão paulistano e ‘pobre’, por assim dizer, o galã ficará entre a patricinha amoral Beatriz (Priscila Fantin) e a modesta esposa e mãe Clarice (Giovanna Antonelli).
Além de grupos de personagens que encarnam os sete pecados capitais, a trama conta com anjos da guarda que intervêm a favor de seus protegidos e, na melhor tradição do cinema americano, serão fonte de situações de comédia -não à toa, Cláudia Jimenez foi escalada como a protetora da terrível Beatriz.
A idéia de usar os sete pecados como inspiração já rendeu de séries de romances a filmes, mas ainda não tinha aparecido em novela -e, pelo andar da carruagem, deve ficar na superficialidade mais rasteira.
Ok, a novela das sete tem quase uma obrigatoriedade (imaginária, é claro) de ser leve como pluma, mas um tratamento quase infantil se adivinha dos primeiros capítulos, e a leveza logo pode se transformar num fardo.
Se a protagonista encarna todos os pecados, de acordo com o seu anjo da guarda, isso só pode significar duas coisas: a) que os pecados são fruto dos caprichos de menina rica; b) que a trama vai dar um jeito de ela se redimir de todos. Logo, o cinismo inicial da personagem vai ter que ser aplainado pelo amor, o que já sabíamos, aliás, desde o início.
A novela se passa numa São Paulo que, apesar da ajuda da produtora O2, não é nada além de um amontoado de cenas de trânsito e viadutos. Ah, tem também a escola pública coberta por pichações e dominada por uma ‘gangue’ de garotos simplesmente bagunceiros e arrogantes.
A diretora idealista, interpretada por Gabriela Duarte, vai enfrentar professores indiferentes (incluindo o ainda bonitão Marcelo Novaes, como professor de educação física, por quem evidentemente a doce diretora vai se apaixonar) e alunos idem, mas evidentemente vai vencer a apatia no melhor estilo dos dramas escolares.
Se houver alguma surpresa, virá de Agatha, a vilã interpretada por Claudia Raia, e Barão, o ótimo Ailton Graça. Raia já é engraçada quando boa, mas será melhor ainda como má, ainda por cima com o auxílio luxuoso de Graça.’
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TV apresentou uma nova heroína
‘Quando, em ‘Malu Mulher’, a personagem de Regina Duarte finalmente se divorcia de Pedro Henrique, um longo caminho em direção à liberalização dos costumes relacionados à vida familiar já havia sido percorrido pela teledramaturgia brasileira.
O casamento sempre esteve, e ainda está, no centro da matriz melodramática que alimenta a telenovela e a maioria dos formatos de dramaturgia na TV brasileira. Mas, a partir dos anos 70, as fraturas por que passou o modelo familiar, baseado na união heterossexual, monogâmica e indissolúvel, começou a aparecer nas obras de ficção feitas para a TV.
Segundo Esther Hamburger, ‘os folhetins eletrônicos conferiram enorme visibilidade pública à discussão de certos temas anteriormente tratados somente no âmbito privado’.
Consideradas como produtos femininos por excelência, as telenovelas passaram a tematizar os novos costumes em torno da vivência da sexualidade, da autonomia pessoal e profissional femininas, além das possibilidades alternativas de constituição de famílias, todos fenômenos de alguma forma interligados e relacionados ao divórcio.
Se a lei do divórcio regularizou comportamentos que já estavam em circulação pela sociedade, a teledramaturgia, de certa maneira, também se antecipou à lei e passou a representar esses mesmos comportamentos, mesmo mantendo a centralidade do amor heterossexual como o requisito para o final feliz.
Muito antes de aprovada a lei do divórcio, em ‘Verão Vermelho’ (1970), a primeira novela do horário das 22h da Globo, a trama central trazia um casal infeliz (Dina Sfat e Jardel Filho), que acaba por se desquitar. Inaugurado com essa novela de Dias Gomes, o horário das 22h acabaria por se fixar como o espaço de experimentação, tanto da linguagem como dos conteúdos.
É nele que surge o primeiro nu feminino -de Sonia Braga em ‘Gabriela’, em 1975-, numa personagem que vibra com uma sexualidade livre e que vive, com Nacib (Armando Bogus), uma relação amorosa, a princípio, completamente alheia ao casamento.
A dissociação entre sexo e casamento, na verdade, em muitos casos acontece com a antecipação das relações sexuais aos sacramentos da igreja: é assim já desde ‘Irmãos Coragem’ (Janete Clair, 1970), novela na qual dois dos personagens centrais também vivem uma segunda união depois de separados.
Em ‘Estúpido Cupido’ (1976), novela de Mario Prata ambientada nos anos 60, entra em discussão o uso da pílula anticoncepcional por jovens que querem iniciar a vida sexual.
Vida independente
Mas em ‘Escalada’ (Lauro César Muniz, 1975), as dificuldades enfrentadas pelo par romântico Tarcísio Meira e Renée de Vielmond, ambos infelizes em seus primeiros casamentos, contribuíram para que a discussão sobre a lei do divórcio ganhasse uma maior visibilidade.
‘Malu Mulher’, entretanto, enfeixou todos esses temas criando a primeira heroína que opta pela separação como forma de recuperar sua identidade e reconstruir a vida de forma independente. Ao contrário de suas predecessoras, que se separam justificadas por um marido que se revela vilão ou porque já têm um outro amor em perspectiva, Malu rompe seu casamento sem pensar em uma nova união.
A trajetória da personagem será a de ‘começar de novo’, título da canção-tema composta para a série, sem as restrições do casamento, mas enfrentando uma autonomia para a qual não está exatamente preparada.
Além da separação e do divórcio, a série tocaria em outros temas relacionados aos novos costumes -como machismo, violência doméstica, prazer feminino- de forma muito menos velada do que até então.
Exibida na virada dos 70 para os 80, ‘Malu’ se tornaria uma espécie de símbolo da mulher brasileira -profissional, liberada e divorciada.’
MÚSICA & MÍDIA
Indústria da música testa formatos
‘Compre um celular e ganhe o conteúdo do DVD da Pitty. A estratégia soma-se ao lançamento, no mês passado, do CD Zero como as duas principais iniciativas recentes dos executivos da indústria fonográfica para estimular as vendas de seus produtos no país e escapar da crise que atinge esse mercado há pelo menos cinco anos.
Em maio, a Sony BMG colocou nas lojas o CD Zero, disco com apenas cinco músicas e preço inferior ao do CD ‘cheio’. A estréia foi com ‘Sim’, terceiro álbum da cantora Vanessa da Mata.
A gravadora comemora os resultados. Segundo seus diretores, a Sony BMG esperava vender entre 20% e 30% de CDs Zero (cinco músicas a R$ 9,99) em relação ao CD completo (13 canções a, em média, R$ 25).
Segundo dados da empresa, as quantidades comercializadas se equivalem, dividindo 50% das vendas. ‘É uma proporção alta [para o CD Zero]. Mas vamos ter uma idéia melhor daqui a dois meses’, afirma o presidente da Sony BMG do Brasil, Alexandre Schiavo.
A gravadora não divulga quanto esses números significam em unidades vendidas. Enquanto em outros mercados, o norte-americano, por exemplo, em que as vendas de CDs e DVDs são averiguadas por um instituto (Nielsen SoundScan) diretamente com as lojas a partir de cada cópia comercializada, no Brasil os números são controlados e divulgados pelas próprias gravadoras.
Segundo a Folha apurou, a Sony BMG fabricou inicialmente 30 mil cópias dos discos de Vanessa da Mata (15 mil de CD Zero e 15 mil do CD cheio). Segundo Schiavo, a gravadora já encomendou novo lote.
Gente da indústria ouvida pela Folha divide-se quanto à estratégia da Sony BMG. ‘Não acho que seja uma solução. Mas é uma experiência nova’, diz Monica Ramos, diretora da Deckdisc. Para João Marcello Bôscoli, da Trama, o CD Zero pode vir a ser uma ‘solução’.
‘Sempre me chamou a atenção a indústria não aproveitar os multiformatos. Há refrigerantes de dois litros, um litro, 600 ml… Acho razoável a idéia de dar ao consumidor várias opções’, compara Bôscoli.
No celular
A Deckdisc se prepara para apostar no segundo semestre em iniciativa já existente no mercado asiático: a venda casada de celulares com DVDs.
A gravadora negocia com empresas de telefonia o fornecimento de conteúdo artístico para quem comprar aparelhos. A idéia é colocar no celular futuros lançamentos da gravadora, como os DVDs da cantora Pitty e da banda Nação Zumbi.
‘Seria um atrativo a mais ao consumidor’, justifica Ramos. A iniciativa deve turbinar as vendas: se, por exemplo, uma empresa vender 10 mil celulares que contêm o DVD de um artista, esses 10 mil serão contabilizados na vendagem do disco.
Além da associação DVD-celular, a Deckdisc segue como a única gravadora do país a investir no ‘dual disc’, o disco que funciona tanto como CD quanto como DVD. Desde 2005, quando o produto foi implantado, foram vendidas mais de 100 mil unidades ao todo, de discos de Ira!, Tereza Cristina, Revelação, entre outros.
Download
Já empresas como Universal e EMI buscam na internet um caminho. Antes de lançar os CDs tradicionais, colocam as músicas para venda por download. Nos EUA, a Warner venderá o novo álbum do White Stripes, ‘Icky Thump’, que chega às prateleiras nesta semana, em formato pen drive.
‘As gravadoras majors estabeleceram por muitos anos o CD como formato principal’, afirma Bôscoli.
‘A questão é achar um novo modelo, e o novo modelo é multiformato. O CD não sustenta mais a cadeia. Há os shows, ações de marketing [para sustentar artistas e gravadoras]. Mas os artistas precisam publicar uma obra, em qualquer suporte que seja.’’
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