RIO 2007
Pan e circo
‘SALTOS, corridas, arremessos, recordes: os Jogos Pan-Americanos tomam conta do noticiário, e mesmo algumas modalidades esportivas que usualmente despertam pouca atenção das autoridades e do público revelam, nestes dias, seu poder de encantamento e mobilização emocional.
Em meio ao clima dominante, passa por antipática, sem dúvida, qualquer manifestação de incômodo diante do espetáculo. A circunstância de que se desenvolve poucos dias após um sangrento conflito entre policiais e o crime organizado nas favelas do Alemão -enquanto denúncias de abuso e matança de inocentes ainda estão para ser investigadas seriamente- não deixa de projetar sobre as festividades uma sombra indesejável e sinistra.
Não se trata de, mais uma vez, superestimar os fatos da criminalidade no Rio de Janeiro, na perspectiva errônea de que cidades como São Paulo, Recife, Vitória ou Belo Horizonte pudessem oferecer estatísticas aceitáveis no tocante à segurança pública.
Eis aí, com efeito, uma competição nada esportiva -e nada inteligente. Cidades grandes e médias de todo o país teriam, a rigor, dificuldades imensas para sediar qualquer evento internacional sem contar com forças especiais de repressão ao crime.
Numa sociedade conflagrada, em que chacinas policiais e ações homicidas do narcotráfico se alternam com estarrecedora rapidez, o entusiasmo gerado pelo Pan adquire, de todo modo, significações contraditórias.
Pode-se ver nesses jogos tudo aquilo que, com algum clichê, cabe assinalar em ocasiões do gênero: os exemplos de congraçamento internacional, de superação dos limites humanos, de elogio ao vigor do corpo e à pertinácia do espírito. Os mais entusiasmados acrescentarão à lista a capacidade organizacional dos poderes públicos brasileiros -que, claro, seria melhor ver demonstrada de modo mais enfático no dia-a-dia da população.
Com essa perspectiva, algo de esperança se expressa, numa resposta compensatória às experiências brutais do cotidiano. Parece haver, contudo, um ponto em que a celebração legítima se transforma em alienação e anestesia; em que a emoção coletiva vem alimentar a insensibilidade individual; e em que tudo vem refletir, afinal de contas, a rotinização da violência, à qual já se dá menos atenção do que ao frenesi oficialmente construído em torno do espetáculo.
Suspendem-se banhos de sangue para comemorar medalhas de iatismo, silenciam-se as semi-automáticas para a audição do hino nacional, e balas perdidas esperam o resultado do vôlei para então prosseguir seu curso. Os governantes oferecem, enquanto isso, os números de sempre: saltos ornamentais e piruetas circenses de calamitoso efeito, entre denúncias de superfaturamento e sinais veementes de crise social.
O país inteiro, e não apenas o Rio, vive o contraste entre a festa e a barbárie. Que não se estrague a festa; mas que tampouco se ignore aquilo que, precariamente, veio interromper.’
Clóvis Rossi
Um risco no teflon
‘SÃO PAULO – Diz a lenda que Luiz Inácio Lula da Silva é o teflon da política: nada gruda nele, nem escândalos, nem as bobagens que de vez em quando diz, nem inação administrativa, nada.
A seqüência de vaias na abertura do Pan mostra que a realidade é algo mais complexa do que diz a lenda. Tudo bem que o Rio de Janeiro sempre foi irreverente, sempre teve uma quedinha forte pelo oposicionismo, mas deixar um presidente da República pendurado no microfone sem a escada é um baita constrangimento, ainda mais quando mostrado ao vivo no horário nobre.
A realidade mais complexa que a lenda começa, aliás, com uma leitura menos ufanista (para o presidente) do resultado eleitoral. No primeiro turno, Lula teve 46,6 milhões em 125,9 milhões possíveis. Dá, portanto, 37%, índice ruim para uma hipotética Olimpíada de popularidade de governantes.
Significa que dois terços dos eleitores ou queriam outro presidente ou não tinham por Lula (ou por qualquer candidato) entusiasmo suficiente para movê-los a sair de casa para votar.
No segundo turno, Lula subiu para 58,2 milhões de votos, ainda assim abaixo da maioria absoluta (ficou com 46,2%).
Elegeu-se porque a regra -absolutamente legítima, aliás- leva em conta apenas os votos válidos.
É claro que a vaia não torna Lula impopular. Nem o constrangimento levá-lo-á a cortar os pulsos.
Seus áulicos na mídia e na academia até poderão criar mais uma teoria conspiratória debilóide e inventar que a elite comprou todos os ingressos da festa do Pan só para vaiar Lula. Pode até ser, mas aposto que em festa da Febraban ele jamais será vaiado.
Idiotices conspiratórias à parte, vale o fato de que a realidade é mais complicada do que sugerem a autolouvação e o culto à personalidade que se faz com Lula.’
Eliane Cantanhêde
A vaia
‘BRASÍLIA – Nunca antes neste país, digo, nos Jogos Pan-Americanos, o presidente do país anfitrião foi tão vaiado e impedido de fazer o discurso de abertura como aconteceu com Lula no Maracanã. Seria um palanque para milhões no continente. O palanque ruiu.
Desde 1951, quando Perón abriu o primeiro Pan na Argentina, todos os presidentes fazem o discurso, não importa se Bush, da maior potência, ou Fidel, da isolada Cuba. Até nisso o Brasil é diferente.
Lula foi vaiado seis vezes, desde que botou o pé no estádio. Nem sua vibrante gravata vermelha desviava a atenção da expressão tensa, pesada. Chegou a pegar o microfone e as folhas do texto, mas simplesmente evaporou na hora do discurso. Um momento histórico.
O 13 de julho confirma a fama do Maracanã de vaiar sempre e mostra que o Rio de Janeiro continua lindo, irreverente e implacável. O Estado deu a Lula retumbantes vitórias (79% em 2002 e 70% em 2006) e uma das suas mais constrangedoras vaias em 2007. O Pan deveria ter sido no Nordeste…
O episódio ficará no ar, nas páginas e nos papos de gabinete e de botequim por um bom tempo, com discussões acaloradas, pró e contra, e um carnaval de versões tão coloridas quanto o próprio espetáculo. Lula desistiu do discurso? Um assessor decidiu preservá-lo de vaia maior? Ou Nuzman atropelou o protocolo? Mas são detalhes. O fundamental todo mundo viu.
Lula, seus assessores, seus endeusadores e seus demolidores devem abandonar por um tempo a paixão que cega para refletir sobre o fenômeno: como um presidente com mais de 60% de popularidade é vaiado numa festa sem fronteiras?
O temor é de um racha na sociedade, não tão grave, mas semelhante ao da Venezuela: aplausos dos pobres do Bolsa Família e do Nordeste, vaias da classe média e dos que podem pagar caro pelo Pan no Sul-Sudeste. Não é bom prenúncio.’
Janio de Freitas
O monumento
‘UMA VAIA olímpica, vaia maracanã, o som gigantesco de dezenas de milhares de vozes soando como uma só, não é vaia. Nem é para qualquer um. Pode ser uma ou várias de muitas intenções. Pode ser desmistificação, ou advertência, arrependimento, pode ser decepção, tristeza, raiva, pode ser muita coisa. Em qualquer delas, é uma das manifestações mais grandiosas do ser humano.
O grande aplauso pode vir, e com maior frequência vem, de um entusiasmo momentâneo, de predisposição, da força das circunstâncias. A vaia, não. A vaia vem do fundo. De tão autêntica, torna-se autônoma e automática, a explosão instantânea de sentimentos intensos à simples aparição de uma imagem ou de um som. É isso que faz de toda vaia política um monumento histórico.
Lula já tem o seu monumento histórico. Foi justo que o recebesse do Rio, cidade e estado discriminados agressivamente, desde o primeiro momento do primeiro mandato de Lula, para prejudicar um possível (depois confirmado) adversário da reeleição.
Mas a vaia não veio de disputa eleitoral, muito ao contrário, porque a cidade também não é território afável com os Garotinho.
A vaia foi a sonoridade do mesmo sentimento que, na eleição passada, recusou a permanência de Lula e deixou o PT praticamente extinto na cidade e no estado. Foi vaia política, mas, sobretudo, vaia ao Lula que nasceu no Poder.
Na linguagem carioca, o Rio não é a praia de Lula.’
Folha de S. Paulo
Jornal inglês fala em corrupção
‘No primeiro dia de competições, o Pan já recebeu críticas da imprensa estrangeira. O jornal britânico ‘The Times’ diz que a organização dos Jogos revelou problemas endêmicos, ‘principalmente a burocracia corrupta e ineficiente’ do Brasil. ‘O orçamento para o Pan saiu de controle devido à má administração e à corrupção’, escreveu o jornal ontem.’
VENEZUELA
Rede local bane jornalista que citou RCTV
‘A intensa polêmica envolvendo o fim da concessão da emissora oposicionista RCTV provocou a saída da jornalista Laure Nicotra do canal ‘Llanovisión’, de Barinas, supostamente por ter mencionado o assunto durante entrevista. No seu lugar, assumiu uma assessora do governo estadual.
O caso ocorreu no dia 22 de maio, a cinco dias do fim das transmissões da RCTV. Nicotra diz que, em entrevista ao vivo com o dirigente oposicionista Pedro González, recebeu um recado por escrito para que não tocasse no tema do canal, logo após ter feito uma pergunta sobre o assunto. O incidente foi divulgado no dia seguinte por um jornal local. Irritado, o proprietário do canal, Douglas Valero, entrou no estúdio e tirou do ar o programa ‘La Entrevista de Hoy’, transmitido por volta do meio-dia, 15 minutos depois de ter começado.
‘Ele gritou que, na sua emissora, não se falava de RCTV’, disse Nicotra, que já militou no partido oposicionista AD (Ação Democrática). ‘Eu respondi que hoje era a RCTV e amanhã seria ele.’
Depois de nove anos à frente do programa, Nicotra foi substituída pela jornalista Oly del Prado, professora da politizada Universidade Bolivariana, do governo federal, e ‘colaboradora’ da Corporação Barinesa de Turismo.
Para ela, não há incompatibilidade: ‘Na parte privada, estou como produtora independente, posso fazer as duas coisas. Estou como docente na universidade e como jornalista’, afirmou, por telefone.
A reportagem da Folha tentou por três dias entrar em contato com Valero, mas o empresário não respondeu. O Instituto Prensa y Sociedad (Ipys), que monitora a liberdade de expressão em países da região, também procurou localizar o empresário, sem sucesso.
A RCTV, que volta a ser transmitida a cabo amanhã, não teve a concessão para sinal aberto renovada pelo governo Chávez sob a justificativa de que participou do frustrado golpe de Estado de 2002.’
PUBLICIDADE
Sem outdoor, até caixa de pizza vira anúncio
‘Você pede uma pizza e ela vem dentro de uma caixa com a propaganda da locadora de DVDs do bairro. Você espera o metrô e ele chega ‘fantasiado’ de garrafa de refrigerante. Na livraria você assiste à promoção do dia da escola de inglês próxima em uma tela de plasma. No shopping, a máquina que solta o tíquete do estacionamento tosse para você.
Com a proibição de outdoors em São Paulo, em vigor desde o começo do ano, a chamada mídia alternativa já cresceu 30%.
‘É interessante esse desafio. Você precisa encontrar novas formas de chegar no cliente que você atingia com a mídia exterior’, diz Guga Ketzer, diretor de criação da Loducca.
A agência criou uma campanha de inauguração da nova loja da 2001 Vídeo que, pela primeira vez, não usará outdoor.
Pizzarias da região usarão caixas de pizza em formato de rolo de filme para entregar as pizzas pedidas por seus clientes, que ainda ganharão uma locação grátis na 2001 de Moema.
Publicidade em caixas de pizza não é novidade. Há três anos foi criada a One Mídia, especializada no ramo. Antonio Trigo de Moraes, sócio da empresa, disse que o fim do outdoor representou um acréscimo de cerca de 30% em seus negócios.
Moraes disse que esse tipo de mídia atinge o público de interesse do anunciante: delimita a área na seleção das pizzarias que receberão a propaganda e escolhe a faixa de renda do público-alvo pelo preço da pizza.
O mercado de mídia indoor -propaganda em lugares fechados- também cresce. O shopping Frei Caneca (centro) tem uma empresa contratada só para cuidar dos anúncios que são veiculados lá dentro.
Wilson Pelizaro, superintendente do Frei Caneca, disse que a procura cresceu 30% neste ano. Um exemplo é o anúncio do xarope Mucosolvan, desenvolvido pela Leo Burnett e premiado no festival de Cannes.
Ao encostar o carro para retirar o tíquete do estacionamento, a voz da máquina diz: ‘Bem-vindo… Cof, cof, cof… Desculpa… Retire seu tíquete…’
Pedro Henrique Rovai, da Jokerman, disse que os negócios cresceram cerca de 35% no primeiro semestre alavancados pelo fim dos outdoors. A empresa faz cartões-postais com publicidade e os coloca em displays instalados em pontos como bares e restaurantes.’
Metrô amplia espaço para publicidade na rede e põe TVs de plasma nos trens
‘Tente andar de metrô em São Paulo sem ver propaganda. Só fechando os olhos. A empresa incrementou o setor, vai aumentar em 50% os espaços de mídia nos próximos dois meses e ‘inventou’ novos negócios.
Por exemplo: agora a empresa permite aos anunciantes ‘enveloparem’ os trens, o que antes não era admitido. TVs estão sendo instaladas nos vagões. A medida começou na linha 2-verde e vai se estender por toda a rede até março.
Marcello Borg, gerente de Negócios e Marketing do Metrô, disse que a empresa sempre foi muito procurada, mas o fim dos outdoors fez com que a procura aumentasse. ‘Nossa audiência é de 3,1 milhões de usuários por dia. Só perde para alguns programas da Globo.’
O metrô arrecadava cerca de R$ 1 milhão por mês, no ano passado, com a venda de propaganda. Neste ano, o valor já chega a R$ 1,5 milhão.
A TV é a principal novidade. Chamada de TV Minuto, o sistema é operado por uma empresa que colocará quatro monitores por vagão com programas criados para o usuário do metrô e, claro, propaganda.
TV com propaganda é a especialidade da Cereja. A empresa existe há poucos meses, mas incorporou outra empresa que já trabalhava no mercado há dois anos e meio. A idéia é colocar TVs em pontos estratégicos em áreas de grande movimento.
A Livraria Cultura já trabalha com a empresa. ‘Toda comunicação de eventos dela é feita ali. E ela trouxe alguns anunciantes de fora também, que eram típicos anunciantes de mídia exterior’, disse Flavia Sampaio, diretora da Cereja.’
TV POR ASSINATURA
TV p(r)aga
‘Impulsionada pela internet rápida, a TV paga deve crescer mais de 15% neste ano, recorde da década. Consequentemente, os defeitos do serviço também devem se espalhar como praga.
As dores de cabeça provocadas pela TV paga vão desde o excesso de comerciais e reprises até a cobrança indevida de serviços e o mau atendimento prestado via telefone. A essa lista agora se adicionam os problemas gerados pela digitalização, pela venda de serviços de telefonia e banda larga e pela decisão do canal Fox de dublar toda a sua programação, antes legendada, e de aportuguesar títulos de seriados.
Só no primeiro trimestre de 2007, segundo a PTS (empresa que monitora o setor) o número de assinantes de TV paga subiu 4,7% -o equivalente à projeção mais otimista de crescimento do conjunto da economia do país para todo o ano. No entanto, o total de reclamações contra a TV paga só no Procon de São Paulo aumentou 22% em relação ao mesmo período de 2006. Nos três primeiros meses deste ano, o Procon-SP recebeu 62 reclamações de TV paga, oito a mais do que durante todo o ano de 2004.
Na Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), órgão que estabeleceu e fiscaliza metas de qualidade para o setor, as denúncias saltaram de 491 em janeiro de 2006 para 1.800 em abril último, um crescimento assombroso de 267%.
Há que se considerar ainda que grande parte das chateações da TV paga não chega aos órgãos de defesa do consumidor. E as mais graves vão diretamente para a Justiça.
O que mais irrita o assinante é justamente o preço da TV paga, mostra uma pesquisa nacional feita no ano passado pelo Ibope, sob encomenda da PTS. Depois vêm a reprise de filmes, séries e programas, os intervalos comerciais e as constantes quedas de sinal das operadoras.
Goela abaixo
Esse tipo de reclamação não chega ao Procon. ‘O que mais tem gerado reclamações são os combos [pacotes com TV, internet e telefone]. Muita gente contrata telefone e televisão, mas no local não há condições técnicas para telefonia e o consumidor não consegue cancelar a contratação. Em outros casos, as pessoas contratam os três serviços, resolvem cancelar um deles e os preços voltam a ser integrais’, afirma Marcia Christina Oliveira, técnica do Procon-SP.
Para o advogado José Eduardo Tavolieri, presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da OAB-SP, os combos são impostos ‘goela abaixo’ do consumidor e caracterizam venda casada, o que é proibido.
‘A única opção para o consumidor é aceitar ou não o serviço que está sendo ofertado e da forma como está sendo ofertado. Dificilmente, ele consegue contratar um serviço único, por causa dos pacotes, mediante preços ‘fantásticos’. O consumidor não pode ser compelido, por causa de um produto, a levar outro, sob pena de não ter nenhum’, diz Tavolieri.
A técnica do Procon orienta o consumidor a ler atentamente o contrato antes de autorizar a instalação. ‘O contrato tem de ser bilateral, mas a grande maioria não é’, diz. Outro abuso cometido pelas empresas, segundo ela, é a cobrança de taxa por boleto bancário.
A partir da leitura de contrato, por exemplo, o consumidor pode descobrir que seu serviço de banda larga às vezes fica estreito porque há um limite de downloads e uploads. Um grupo de internautas, entretanto, acredita que a Net reduz a velocidade de sua banda larga quando detecta que o usuário faz download de músicas e de séries, o que pode prejudicar a TV paga. Há até um vídeo no YouTube protestando. A Net nega.
Na Anatel, a explosão de reclamações foi causada pela digitalização da Net. A operadora deixou de fora de seu line-up digital, que tem qualidade superior de imagem e som, os canais obrigatórios, como TV Senado e TVs comunitárias.’
Empresas cumprem meta oficial
‘Apesar do crescimento das reclamações, o setor de TV paga está dentro das metas de qualidade estabelecidas pela Anatel.
Há um ano, a agência monitora itens como cobranças abusivas, tempo de espera no atendimento telefônico e interrupções de sinal, entre outros.
‘As operadoras têm cumprido as metas. Uma ou outra tem fugido [das metas], mas será autuada’, diz Ara Apkar Minassian, superintendente de Serviços de Comunicação de Massa da Anatel.
Segundo Minassian, a aumento de 267% nas reclamações reflete apenas ‘um momento’, a digitalização da Net. Essa ‘enxurrada de reclamações’ deve desaparecer em alguns meses. A maior operadora do país já se comprometeu com o Ministério Público Federal a digitalizar os canais obrigatórios.
Minassian diz que, expurgando-se as queixas contra a digitalização da Net, o número de reclamações tem se mantido em ‘estáveis’ 400 por mês.
A Net (empresa controlada pela Telmex, do mexicano Carlos Slim, e pela Globo) afirma que as reclamações contra ela têm crescido ‘em linha’ com a expansão de seus clientes.
‘A Net tem feito um esforço supergrande para melhorar seus serviços. Revolucionamos nosso atendimento’, afirma Márcio Carvalho, diretor de produtos e serviços.
Carvalho nega que a operadora faça venda casada e que reduz a velocidade da internet de quem faz download de conteúdo pirata. Diz que há um limite mensal para downloads, independentemente do conteúdo. ‘Toda vez que ultrapassa essa franquia, o usuário é penalizado com a redução de velocidade. Fazemos isso para garantir qualidade a todos os usuários’, esclarece.
As empresas dizem que exploram publicidade para baratear o serviço. O setor faturou em 2006 R$ 5,6 bilhões, dos quais R$ 529 milhões vieram da propaganda. O volume de comerciais cresceu 25% entre 2005 e 2006.’
Mau atendimento é queixa comum entre assinantes
‘O mau atendimento por telefone das empresas de TV por assinatura é apontado como um dos principais problemas desse tipo de serviço, segundo advogados ouvidos pela Folha.
‘O que tenho observado é uma grande insatisfação, sobretudo com o serviço de atendimento ao assinante’, diz Luiz Fernando Moncau, advogado do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor).
O presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil) e conselheiro da ordem, José Eduardo Tavolieri, concorda. ‘O mais grave é a questão do atendimento. Quando o consumidor necessita de socorro, entra em contato com o serviço telefônico e perde seu tempo, literalmente.’
Tavolieri sofreu na pele o problema. ‘Tentei durante três dias falar com a Sky por conta de um problema no sinal. Fiquei 45 minutos pendurado na linha. Pediram meu CPF, telefone e o número da maquineta. E não acharam meu cadastro.’ Um dia depois, a empresa solucionou a questão.
Para Tavolieri, quem se sentir lesado deve entrar com uma ação de reparação de danos, mas antes deve ter provas. Protocolos, gravação de telefonemas, fotografias e anotações como o dia e o número de onde está ligando ajudam.
‘Muitas empresas levam a pecha de má prestadoras de serviço por conta de seu material humano desqualificado, que faz um mau atendimento e passa ao consumidor uma imagem altamente negativa’, completa Tavolieri.
Outro problema comum aos assinantes é na hora de desfazer a assinatura.
‘A contratação é muita vezes feita por telefone. Se não se recebe as informações do contrato de forma prévia, isso significa que não há obrigação de cumpri-lo’, analisa o conselheiro da OAB.
‘É um dos problemas mais freqüentes que nós temos no setor de TV a cabo. Falta pulso mais firme da Anatel [que regula o setor de TV por assinatura] para tratar disso. A empresa tem que dar resposta em até sete dias’, explica Moncau.
Ele lembra ainda que é útil reclamar nos órgãos de defesa do consumidor e na Anatel.’
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA
Vitória da sociedade
‘AS NORMAS que regem a classificação indicativa acabaram saindo mais flexíveis, mais ao gosto das emissoras: as próprias farão a autoclassificação, por faixa de horário, e o Ministério da Justiça só vai fazer um monitoramento. Caiu a análise prévia dos programas, mas se manteve a vinculação de faixa etária e horário de exibição.
Ainda assim, é uma espécie de vitória -não do Estado, nem do governo, mas da sociedade- que haja algum tipo de regulamentação que não seja só a do ‘mercado’.
Pois não se pode ter muita ilusão aí: vale tudo, mas tudo mesmo, para ganhar a audiência e exibir os números gordos de que os departamentos comerciais tanto gostam. E a guerra por números anda mais acirrada do que nunca: a coluna de Daniel Castro fez um levantamento sobre a média de audiência do conjunto das novelas da Globo que aponta que o ibope do segundo trimestre de 2007, 32,1%, é o pior em quatro anos (coluna ‘Outro Canal’, 11 de julho). O mais interessante, ainda segundo Castro, é o fato de esse número ser produto de uma queda generalizada, em todas as produções (‘Malhação’, ‘Eterna Magia’, ‘Sete Pecados’ e ‘Paraíso Tropical’).
Para quem já teve todo o mercado publicitário a seus pés, isso significa que a luta para estancar, quem sabe reverter, o processo é (e será ainda mais) renhida. Como a Record cola no que há de bom e de ruim da Globo, e das outras emissoras -com raríssimas exceções-, não se pode esperar muita coisa, o negócio vai ficar feio.
Nessa briga de cachorro grande, perdemos nós, espectadores, que somos e seremos submetidos a toda espécie de experimento maluco com os ‘esteróides de audiência’ na teledramaturgia -doses maciças aqui e ali de apelos ao nosso voyeurismo perverso, ao qual a TV sabe responder tão bem.
Exceção que deveria ganhar um selo de ER (especialmente recomendado) para crianças é a versão televisiva para o Menino Maluquinho que a TV Cultura exibe pela manhã, fazendo frente a uma Xuxa cada vez mais taxidérmica e aos animados, mas tristemente estereotipados, apresentadores-mirins do SBT. O selo, na verdade, caiu da portaria publicada nesta semana.
A série da TVE é um dos raros exemplos de como fazer entretenimento didático sem perder em nenhuma ponta. Tem algo de nostálgico, é claro, uma vez que, já no texto original de Ziraldo, o personagem vive uma infância meio perdida num tempo que não é este. Mesmo assim, funciona -e é encantador.’
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