Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Folha de S. Paulo

LULA E A IMPRENSA
Fernando de Barros e Silva

Sucata nacional

‘SE TIVESSE que eleger um traço para distinguir os anos Lula, diria que eles têm sido marcados pelo rebaixamento da vida nacional. A começar pelo sucateamento da esperança, tudo de alguma forma se nivelou por baixo. É curiosa, aliás, a realização histórica do slogan da campanha petista: o desassombro com que se foi ao pote pelo menos até a descoberta do mensalão -e tenho dúvidas de que algo substantivo tenha mudado- basta para constatar que temor, neste governo, só do mercado.

‘A esperança venceu o medo’ funciona mais ou menos como o ‘caçador de marajás’, slogan de Collor que já prenunciava, para quem soubesse ler nas entrelinhas, o desmantelamento do Estado que seu governo iria levar a cabo.

Os ventos, porém, sopram a favor de Lula. Tudo melhorou -é o que mais se ouve por aí. Muito bem. Pergunto se a ladainha oficial não seria, antes, a expressão do cinismo dos vitoriosos e recém-convertidos diante das evidências de que não vamos mais nos tornar uma sociedade decente, como um dia essa turma já pretendeu.

Soa muito abstrato? Um tanto ingênuo? Tome-se, então, um só aspecto da vida nacional -as relações entre o poder e a imprensa. Aqui não se trata mais de nivelamento por baixo, mas de regressão.

Foi perguntado ao presidente nesta semana o que pensava das ações movidas por fiéis da Igreja Universal contra a Folha e a repórter Elvira Lobato. A resposta foi suficientemente vaga para desviar do ponto em questão (o recurso abusivo ao Judiciário, configurando um caso do que se entende por ‘litigância de má-fé’) e, ao mesmo tempo, clara o bastante para que não pairassem dúvidas: sob o blablablá em defesa da liberdade de expressão, Lula tratava de prestar sua solidariedade à máquina de intimidar jornalistas patrocinada pelos líderes da Universal. Fez isso por cálculo, obviamente, já que princípios não são o seu forte.

Quem sabe seja um avanço para alguém que já chegou a tomar providências a fim de banir do país um repórter do ‘New York Times’ que havia escrito sobre seus hábitos etílicos. Uma porcaria de reportagem de Larry Rohter, vale lembrar, como se fosse esse o problema.

Apesar das tentações autoritárias deste governo e das intenções escusas dos neobucaneiros da fé, parece obviamente exagerado dizer que a liberdade de expressão corre risco no país. Não acredito nisso. Desconfio, da mesma forma, quando uma corporação ou um grupo social, mesmo se coberto de razão ou de boas intenções, pretende falar em nome do bem coletivo ou do interesse geral. Antigamente isso tinha nome: ideologia.

O que hoje se vê não sob ameaça, mas em avançado estágio de degradação, é a capacidade de expressão da mídia. Muito em função da rede de áulicos sustentada pelo petismo, mas também pela delinqüência de vozes da oposição.

FERNANDO DE BARROS E SILVA é editor de Brasil .’

 

LISTA NEGRA
Rodrigo César Rebello Pinho

Contra o índex da OAB

‘EM NOVEMBRO de 2006, a seccional de São Paulo da Ordem dos Advogados do Brasil publicou, em sua página eletrônica, ‘uma lista com os nomes de 173 pessoas consideradas inimigas da categoria, como juízes, policiais, promotores e jornalistas’ -entre as quais, inclusive, um articulista deste jornal, Elio Gaspari. A listagem foi preparada pela Comissão de Direitos e Prerrogativas da entidade, cujo presidente à época declarou que a medida foi tomada para que ‘a pessoa nomeada [fique] exposta’, podendo ‘resultar, no futuro, na negativa ao pedido de carteira da OAB para atuar como advogado’. Segundo ele, o cadastro também inclui jornalistas para evitar que ‘pessoas extrapolem o limite da crítica’.

Na quarta-feira da semana passada, três dos promotores que integravam essa ‘lista de inimigos’, dois de São Paulo e um de Minas Gerais, foram desagravados em sessão pública ocorrida no Ministério Público paulista.

Entendeu o MP que a inclusão deles na lista não se deu em decorrência de um processo legal, presidido por autoridade competente, em que tenham predominado o contraditório e a ampla defesa. O MP considerou ainda que os três agiram no estrito cumprimento de dever legal, ao acompanharem diligência da polícia que, de posse de mandado judicial expedido por um juiz de Minas, prendeu duas pessoas que se encontravam em um escritório de advocacia em Piracicaba.

Na sessão de desagravo, afirmei que ‘essa lista de ‘inimigos dos advogados’ e procedimentos semelhantes visam a inibir a atuação dos promotores’, sendo, ademais, ‘iniciativas fascistas, que têm o nosso repúdio’. Foi o quanto bastou para que vários dirigentes da OAB viessem a público manifestar-se indignados.

Afirmo que a ‘lista de inimigos’ é absolutamente ilegal e inconstitucional. Acredito que a OAB pode muito bem desagravar o advogado que imagine ter sido ofendido no exercício da profissão, mas não cabe à entidade o julgamento administrativo de quem não seja nela inscrito: as leis e a Constituição não lhe dão esse direito. Mais que isso, não lhe é permitido, sob o pretexto de tornar público o desagravo, inculpar qualquer pessoa estranha a seus quadros, rotulando-a de ‘inimiga da advocacia’. Sob essa perspectiva, reafirmo que a ‘lista de inimigos’ é, de fato, produto de ação discriminatória e autoritária e lembra, tanto em forma quanto em conteúdo, políticas análogas que vicejaram sob o macarthismo nos Estados Unidos do pós-guerra e nos pogrons -de que os triângulos rosa impostos aos homossexuais e as estrelas de Davi pespegadas aos judeus são exemplos pictóricos de tristíssima memória.

Tenho a maior admiração pela OAB, órgão a quem o país deve incontáveis manifestações em prol das liberdades públicas ao longo das últimas décadas. Muitos bacharéis foram protagonistas de episódios marcantes da história brasileira, como os juristas Raymundo Faoro e Sobral Pinto, e a entidade deve ser tida como uma das grandes responsáveis pela consolidação do regime democrático no país.

Igualmente, expresso de público meu respeito pelo honrado presidente da seccional estadual, Luiz Flávio Borges D’Urso, profissional de talento. Entretanto, não pode a entidade arvorar-se em um verdadeiro tribunal de exceção e achar-se no direito de aplicar sanções a quem não a integre. Para isso, ainda há juízes no Brasil, autoridades a quem a Constituição, expressão da vontade popular, outorga o dever de julgar -como, aliás, fizeram-no duas decisões judiciais, que reconheceram a flagrante e patente inconstitucionalidade da lista e determinaram a exclusão dela de nomes de juízes e promotores paulistas.

As entidades públicas devem ter sempre a humildade e a coragem para o exercício da autocrítica e a correção de rumos equivocados. Espero, assim, que o ‘index prohibitorum’ da OAB tenha o mesmo destino de outros de seus antecedentes históricos, por sua inexorável incompatibilidade com o regime democrático em vigor no país.

RODRIGO CÉSAR REBELLO PINHO, 51, é o procurador-geral de Justiça do Estado de São Paulo.’

 

Luiz Flávio Borges D´Urso

Interpretação enviesada

‘TEMOS PROFUNDO respeito pelo Ministério Público e seus integrantes e buscamos manter relacionamento harmonioso, respeitoso e leal. Em que pesem esses fatores, a adjetivação empregada pelo procurador-geral de Justiça de São Paulo ao se referir a procedimentos adotados pela OAB-SP na defesa dos advogados contra a violação às prerrogativas profissionais como ‘iniciativas fascistas’ ultrapassa os limites do bom senso e da urbanidade, sendo manifestamente injuriosa e difamatória. Também generaliza, atingindo e ofendendo toda a advocacia -hoje, aliás, integrada por muitos ex-promotores e ex-magistrados, que honram nossas fileiras. A história da OAB não pode ser apequenada por discordâncias episódicas, até porque a divergência de teses e opiniões faz parte de nossas profissões -não a ofensa.

As prerrogativas profissionais dos advogados asseguram ao cidadão a plenitude da ampla defesa e do contraditório, conforme estabelece a Constituição, sendo o acesso à Justiça o mais elementar dos direitos em uma democracia. Sobre a missão do advogado, muito bem colocou o ministro do Supremo Tribunal Federal Celso de Mello, ao enfatizar que a ele cabe ‘neutralizar os abusos, fazer cessar o arbítrio, exigir respeito ao ordenamento jurídico e velar pela integridade das garantias jurídicas -legais e constitucionais- outorgadas àquele que lhe confiou a proteção de sua liberdade e de seus direitos’.

Para cumprir esses pressupostos, o advogado precisa estar escudado nas prerrogativas profissionais durante o exercício de seu múnus público. Nesse rol de prerrogativas, a lei assegura ao advogado a possibilidade de ter acesso aos autos, ao conteúdo de diligências e ao inquérito policial, uma vez que o direito de defesa não pode ser exercido sem esse conhecimento.

Também estabelece garantias de sigilo sobre informações e documentos confiados pelos clientes e a integridade de arquivos e escritórios. Embora para a maioria das pessoas, isso pareça ser óbvio, essas prerrogativas são constantemente violadas.

A instituição do desagravo público a um advogado tem previsão legal (lei federal 8.906/94) e decorre de um processo regular que tramita no Conselho de Prerrogativas da seccional, no qual autoridade representada tem assegurada a oportunidade de promover sua ampla defesa e o contraditório, inclusive, em grau de recurso.

Ao final, acontece um julgamento pelo conselho da ordem. Se concedido o desagravo, a OAB-SP promove uma sessão pública, na qual presta solidariedade ao colega violado em suas prerrogativas, expressando seu repúdio a tal ilegalidade. Promove, ainda, representação à corregedoria respectiva , incluindo aquele processo e o nome do agravante no ‘Diário Oficial’ e na relação dos processos, hospedada no site da entidade. Tudo dentro da previsão legal.

A OAB-SP não possui ‘lista de inimigos’, ‘lista de desafetos’ ou qualquer outro nome que uma interpretação enviesada possa lhe atribuir. Nem age fora dos ditames legais. Apenas dá publicidade aos desagravos e moções de repúdio, para evidenciar que as legítimas prerrogativas profissionais dos advogados não podem mais ser ignoradas e constantemente violadas, muitas vezes por desconhecimento das próprias autoridades.

Buscamos avançar na questão e enviamos anteprojeto ao Congresso propondo a criminalização da violação às prerrogativas profissionais dos advogados. Esse projeto pretende ser a ponta-de-lança contra as arbitrariedades, além de ter função didática. Todo agente público que violar a prerrogativa de um advogado poderá ser processado criminalmente, dando ensejo também a ação civil por dano moral. Hoje, como todos sabem, o desagravo é um procedimento ‘interna corporis’, tendo só recentemente alcançado repercussão fora da classe.

Exercendo seu direito de defender a advocacia, a OAB-SP traz à luz este importante e necessário debate, que nenhuma autoridade investida pelo poder do Estado deve desconhecer.

Dentro dessa perspectiva, qualquer iniciativa que venha a ferir as prerrogativas dos advogados irá suportar a reação enérgica da OAB-SP, objetivando restabelecer a legalidade e os primados maiores da advocacia.

LUIZ FLÁVIO BORGES D’URSO, 47, advogado criminalista, é o presidente da OAB-SP.’

 

LEI DE IMPRENSA
Ranier Bragon

Decisão sobre Lei de Imprensa congela ações contra jornais

‘O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Carlos Ayres Britto disse ontem que todas as ações judiciais de indenização por dano moral movidas contra órgãos de comunicação terão de ser suspensas caso tenham se baseado na Lei de Imprensa.

O ‘congelamento’ atingiria efeitos de decisões judiciais já tomadas com base nessa lei.

Ayres Britto atendeu anteontem a pedido do PDT e concedeu liminar determinando a suspensão de processos e dos efeitos de decisão judicial que tenham relação com 20 dos 77 artigos da Lei de Imprensa, de fevereiro de 1967.

O ministro não incluiu na lista de artigos suspensos o de número 49, aquele normalmente usado para embasar as ações de danos morais, mas ontem disse que ele também ‘sucumbiu’, já que tem relação com outros artigos que foram alvo da liminar.

‘Como eu suspendi as decisões tomadas com base nesses outros artigos que criminalizavam a conduta [suspendeu as punições da Lei de Imprensa para os crimes contra a honra], por arrastamento o artigo 49 sucumbe, não havia necessidade de falar do 49, é uma conseqüência lógica. (…) Como ele é um dispositivo efeito, e não dispositivo causa, ele sofre um mortal efeito dominó’, disse.

Como é comum as ações de indenização trazerem como embasamento tanto a Lei de Imprensa quanto o Código Civil e a Constituição (que asseguram reparação por danos morais), o ministro foi questionado se, nesse caso, o processo poderia seguir, excluída apenas a parte da Lei de Imprensa.

‘Os juízes, quando receberem minha decisão, se tiverem dúvida vão pedir o aclaramento, mas o que interessa é que -porque às vezes a gente se perde no varejo e esquece do importante, que é o atacado- os juízes todos vão suspender. Dificilmente um juiz deixará de suspender, porque as coisas estão intrincadas’, afirmou.

Ayres Britto também negou que tenha concedido a liminar de anteontem motivado pelas ações judiciais que fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus movem contra órgãos de imprensa em várias cidades do interior do país. São 60 só contra a Folha e a jornalista Elvira Lobato, que escreveu reportagem em dezembro sobre o crescimento econômico da igreja. Nas ações, os fiéis usam como base no pedido de reparação o artigo 49 da Lei de Imprensa, o Código Civil e a Constituição.

‘Decidi à luz dos princípios da Constituição’, disse o ministro, que acrescentou depois: ‘O bom disso é que nós saímos em defesa da liberdade de imprensa e, provavelmente, essa nossa decisão servirá de base de inspiração para agilizar a tramitação do projeto de lei lá no Congresso [de reformulação da Lei de Imprensa]. (…) Já era tempo de alguém parar e dizer ‘não dá para continuar’, disse.

A liminar de Ayres Britto também suspende a possibilidade de jornalistas condenados por crime contra a honra serem punidos de forma mais severa do que pessoas condenadas com base no Código Penal.’

 

DECISÃO DO STF: ABI E FENAJ DEFENDEM LIBERDADE DE EXPRESSÃO PLENA

‘O presidente da Associação Brasileira de Imprensa, Maurício Azêdo, avalia que a liminar dada pelo ministro Carlos Britto desestimula ‘tentativas de dificultar o pleno exercício da liberdade de expressão’. Sérgio Murillo, presidente da Federação Nacional dos Jornalistas, diz que a entidade sempre quis a revogação dessa lei.’

 

Folha obtém mais 2 vitórias contra ações de fiéis

‘Com duas decisões judiciais proferidas ontem, chega a sete o número de casos em que magistrados decidiram a favor da Folha em ações propostas por fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus.

Até a noite de ontem haviam sido ajuizadas 60 ações de indenização por danos morais em Juizados Especiais de vários Estados, inclusive em cidades onde o jornal não circula.

Elas estão em nome de fiéis da igreja que dizem se sentir ofendidos com reportagem publicada em dezembro sobre o patrimônio da Universal.

Em Tarauacá (AC), o juiz Romário Divino Faria extinguiu a ação sob a justificativa de que o fiel Cléber Andrade dos Santos ‘não foi ofendido de forma individualizada na sua esfera de direitos’.

Segundo o juiz, ‘o simples fato da referência a fiéis da igreja na matéria não legitima o autor a ingressar em juízo pleiteando indenização’.

Na outra decisão de ontem, o juiz Fabiano Berbel, de Cianorte (PR), extinguiu o processo sem que a Folha chegasse a ser notificada no caso.

Na sentença, ele explica que, embora a ação tenha sido proposta em nome de Jackson Luiz Gonçalves, ‘constata-se que o suposto direito reclamado é de titularidade da igreja’.

Como a igreja não é pessoa jurídica de pequeno porte, escreve o juiz, ‘a mesma não está autorizada a propor ações em sede de Juizados Especiais’.’

 

CUBA
Folha de S. Paulo

No 1º artigo pós-renúncia, Fidel ataca críticas dos EUA e da UE

‘Em seu primeiro artigo após a renúncia a cargos no Executivo de Cuba, o ditador Fidel Castro afirmou ontem que é preciso, sim, promover mudanças -mas não na ilha. ‘Concordo, mudança! mas nos Estados Unidos. Cuba mudou há pouco tempo (…)’, afirmou, em alusão à revolução de 1959. E completou: ‘Não regressar jamais ao passado!’

O texto no jornal estatal ‘Granma’ foi uma resposta às críticas dos EUA e da União Européia, que aproveitaram sua renúncia para defender uma abertura democrática na ilha. Fidel diz que não planejava escrever por dez dias, mas foi preciso ‘abrir fogo ideológico’.

O líder falou diretamente aos pré-candidatos à Casa Branca. O mais duro quanto às relações EUA-Cuba, o republicano John McCain, chegou a dizer ontem que torce pela morte de Fidel: ‘Espero que ele tenha a oportunidade de se encontrar com Karl Marx logo’.

Já os democratas Hillary Clinton e Barack Obama adotaram tom mais conciliatório. Obama se mostrou o mais aberto a um diálogo, afirmando que se encontraria com Raúl Castro (líder interino) sem precondições. Já Hillary quer de Cuba demonstrações de mudança concreta antes de uma reunião.

Para Fidel, a posição dos pré-candidatos é vergonhosa. ‘Se viram obrigados, um a um, a proclamar suas imediatas exigências a Cuba, para não se arriscarem a perder nem um único eleitor.’ E não deixou de fora das críticas o presidente George W. Bush. Segundo Fidel, o que querem seus adversário quando pedem mudança é, na realidade, ‘anexação’.

O líder cubano também desferiu ataques à União Européia. Contra as afirmações dos países do bloco sobre a necessidade de democracia em Cuba, ele diz que ‘o colonialismo e o neocolonialismo (…) os desqualifica moralmente’ para exigi-lo.

Fidel faz ainda referências a um ‘ilustre personagem espanhol, antigo ministro da Cultura e impecável socialista, hoje porta-voz das armas e da guerra, a falta de razão pura’.

‘Kosovo os golpeia neste instante como impertinente pesadelo’, acrescenta. A referência parece ser a Javier Solana, chefe da diplomacia da UE e antigo membro do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE). A Espanha não apóia a independência de Kosovo, mas como um dos porta-vozes da UE, Solana defende a missão do bloco de apoio à ex-Província.

Transição

Fidel ainda explica a dimensão de sua renúncia no artigo. ‘Não são a mesma coisa o fim de uma etapa e o início do fim de um sistema insustentável.’

O líder da revolução também afirma que não se arrepende da decisão. ‘Os dias de tensão, esperando a chegada do 24 de fevereiro [domingo, quando a nova Assembléia Nacional apontará seu sucessor], haviam me deixado exausto.’

A conquista da tranqüilidade pode indicar no texto o momento em que se decidiu o nome do próximo chefe de Estado -ainda um segredo. Os mais cotados são Raúl Castro, presidente interino, Carlos Lage, vice-presidente, Ricardo Alarcón, que lidera o Parlamento.

O artigo no ‘Granma’ trocou o título habitual de ‘Reflexões do Comandante’ por ‘Reflexões do Companheiro Fidel’.

NA INTERNET -Leia a íntegra do artigo de Fidel na Folha Online www.folha.com.br/080535′

 

Imagens históricas são trunfo de ‘Fidel’

‘Aproveitando a oportunidade surgida com a renúncia de Fidel Castro esta semana, após 49 anos de poder em Cuba, o canal Futura põe no ar um documentário inédito, dividido em duas partes, sobre o ‘único mito vivo da história da humanidade’, como definiu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A produção é norte-americana (de 2005) e se vale de uma impressionante quantidade de imagens históricas de TV e vídeo que mostram o Comandante em momentos incomuns. Logo na abertura, vemos um Fidel de 32 anos, recém-vitorioso em sua revolução, dando uma entrevista em inglês a um talk-show norte-americano.

‘Não está assustado com todo o poder e responsabilidade que tem agora em mãos?’, pergunta o apresentador. ‘Assustado, não, porque tenho autoconfiança, mas um pouco preocupado’, devolve um Fidel visivelmente tímido e inseguro, como quase nunca se vê.

A estrutura do documentário é cronológica, começando com a infância do ‘guajiro’ e passando pelas fases mais marcantes de sua vida pública, sempre entremeadas com entrevistas.

A guerrilha em Sierra Maestra, a tomada de Cuba, a viagem aos EUA, a fase de ‘James Dean da política internacional’, como define um entrevistado, o ataque à Baía dos Porcos, a Crise dos Mísseis, tudo está aqui.

FIDEL CASTRO

Quando: parte 1: hoje, às 20h30; parte 2: amanhã, às 20h30

Onde: Futura’

 

ELEIÇÕES NOS EUA
Sérgio Dávila

McCain une direita e divide imprensa

‘A denúncia de que John McCain pode ter tido uma relação inapropriada com uma lobista e que teria agido para defender os interesses dela, publicada anteontem pelo ‘New York Times’, serviu para unir a direita em torno do senador republicano e dividir a imprensa norte-americana quanto à qualidade da reportagem.

De quebra, teve como efeito colateral trazer à tona uma realidade que o pré-candidato, que baseia sua plataforma na luta contra lobistas e grupos de pressão sobre políticos, tentava esconder: que o comando de sua campanha é composto por vários deles, alguns ainda hoje trabalhando para grupos que ele diz combater.

Na manhã de ontem, o porta-voz interino da Casa Branca disse que as pessoas já estavam ‘acostumadas’ ao ‘New York Times’ tentar soltar ‘bombas’ sobre o candidato republicano nos meses que antecedem a eleição, às vezes com ‘manobras incríveis’.

Também ontem, o presidente nacional do Partido Republicano, Mike Duncan, distribuiu e-mails em que pede doações para que o candidato possa combater a ‘desavergonhada mídia liberal’. Até há pouco tempo, McCain lutava para ser aceito pela ala mais conservadora do partido.

Até seu arquiinimigo Rush Limbaugh, radialista da ultradireita, saiu em sua defesa. ‘Você é um republicano, conservador ou não. Eles [a mídia esquerdista] são serpentes.’

Defesa

Com menos intensidade, o mais influente diário norte-americano sofreu críticas também da imprensa. O editor-executivo da revista ‘Time’, Rick Stengel, disse que não teria publicado o texto; a ‘New Republic’ diz que a reportagem estava ‘recheada de ações jornalisticamente estranhas’, como basear seu argumento central num fato de 1999.

Em conversa on-line com leitores -dos quais mais de 2.500 haviam mandado e-mails contrários à reportagem-, Bill Keller, o editor-executivo do ‘New York Times’, defendeu a reportagem. ‘O princípio [do texto] foi que (…) esse homem que preza a honra sobre todas as coisas e que entende a importância das aparências também tem uma história de ser às vezes descuidado sobre sua reputação’, escreveu.

Não é o primeiro imbróglio com o nome de McCain. No final dos anos 80, ele quase encerrou a carreira política ao se envolver no escândalo batizado Keating Five, em que cinco senadores tentaram influenciar órgãos federais a beneficiar o milionário Charles Keating, mais tarde condenado. Os outros quatro saíram da política.

McCain se defendeu mais uma vez. ‘Essas pessoas [lobistas] têm passado honrado e eu tenho orgulho de tê-los em meu time’, disse ele. ‘O direito de representar os interesses de grupos de americanos é constitucional.’’

 

Para Obama, Hillary admitiu derrota na TV

‘No final do debate de anteontem, em Austin, no Texas, Hillary Clinton comoveu a platéia presente ao centro esportivo do campus local da Universidade do Texas ao dizer que, não importava o que acontecesse nas eleições, tinha sido uma honra estar ao lado de Barack Obama. Foi aplaudida de pé.

Segundo o ‘termômetro’ dos telespectadores instalados pela CNN, a avaliação da senadora, que vinha em constantes 70% positivos, chegou a pico de 96% nesse momento. Seu principal estrategista, Mark Penn, repetia que tinha sido a ‘virada’ tão necessitada por uma campanha que começa a perder.

A campanha de Obama, porém, passou a dizer que encarava a fala final como um reconhecimento de derrota, e o que era para ser a virada virou desmentido. À rede CBS, ela negou ter se despedido: ‘Não, é claro que não! É o reconhecimento de que ambos estamos prestes a uma mudança histórica’.

Na reta final, Hillary tem outros problemas: doadores manifestaram preocupação com a qualidade dos gastos que vêm sendo realizados.’

 

INTERNET
Folha de S. Paulo

Fundos vão à Justiça dos EUA contra Yahoo!

‘Dois fundos de pensão entraram com uma ação contra o Yahoo! e o conselho de diretores da empresa nos EUA, sob a acusação de que eles quebraram suas obrigações com os acionistas ao tentarem afastar a Microsoft e sua considerável oferta.

Na semana passada, o Yahoo! recusou oficialmente a oferta de compra feita pela Microsoft avaliada em mais de US$ 40 bilhões. Agora, a empresa está buscando meios de se defender contra a oferta hostil da companhia fundada por Bill Gates, que deve fazer a proposta diretamente aos acionistas.

Segundo a ação, o conselho do Yahoo! está procurando acordos de ‘valor destrutivo’ em uma tentativa de afastar a Microsoft. Nos últimos dias, surgiram rumores de que o Yahoo! poderia formar alianças com outras empresas, como forma de afastar a Microsoft, entre elas a News Corp., do bilionário Rupert Murdoch, a AOL, o Google e a Disney.

‘Apesar de seus laços emocionais com o Yahoo! ou do desejo de manter suas posições na companhia, os diretores do Yahoo! têm obrigações fiduciárias com o Yahoo! e seus acionistas’, afirmam os fundos de pensão.’

 

Acesso à internet cresce 50% em um ano

‘O Brasil teve em janeiro um crescimento de 50% no número de internautas residenciais ativos em relação ao mesmo período do ano passado, alcançando 21,1 milhões, segundo a Ibope/NetRatings.

‘Desde 2004 a gente não registrava um crescimento percentual tão grande. Nos últimos meses, desde setembro, estamos vendo crescimentos consideráveis, acima dos 45%’, disse o analista de mídia da empresa José Calazans.

Apesar de evitar fazer projeções para a evolução do mercado durante o ano, Calazans diz que ‘não há por que haver uma diminuição no crescimento neste momento. O Brasil ainda tem um espaço muito grande para crescer’. Segundo ele, a classe C, formada por pessoas que estão comprando seu primeiro computador, é a que vem tendo o maior crescimento.

O ganho de 7,1 milhões de internautas residenciais ativos -que navegaram em casa pelo menos uma vez no mês- representa o maior crescimento entre os dez países medidos com a mesma metodologia.

Quem mais se aproximou do crescimento brasileiro foram os Estados Unidos, com ganho de 4 milhões, e a França, que ganhou 3,2 milhões de usuários ativos no mesmo período.

O Brasil continua liderando em tempo médio de navegação, com 23 horas e 12 minutos por pessoa no mês.

No total, o Brasil tem 39 milhões de pessoas com 16 anos ou mais com acesso à internet em casa, trabalho, escola e telecentros. Em 2006, o total era de 32,2 milhões, disse Calazans.’

 

Italo Nogueira

Ilegal, ‘gato velox’ espalha internet de banda larga no Rio

‘Parte do sinal que conecta moradores da região metropolitana do Rio à internet é clandestino. O chamado ‘gato velox’ se espalhou pelo subúrbio da capital e municípios vizinhos e desafia polícia e provedores que oferecem o serviço.

Por até R$ 30, moradores de bairros de classe média baixa ou mesmo em favelas conseguem uma conexão de internet banda larga de velocidade de dados limitada, mas que, pela via criminosa, permite fugir do acesso discado e da ‘exclusão digital’. Os ‘gatos’ costumam ser oferecidos onde as concessionárias não oferecem seus serviços de acesso à internet.

‘A infra-estrutura para conectar essas pessoas e a falta de interesse das empresas deixa muito a desejar. Isso mostra uma demanda não atendida’, afirmou Rodrigo Baggio, presidente do Comitê para a Democratização da Informática.

Há cerca de um ano na praça, os fraudadores têm sofisticado a transmissão de sinais de ponto a ponto. Abandonam aos poucos os metros de cabo que ligam o distribuidor ao cliente e passam a usar antenas, dificultando o trabalho da polícia. Algumas centrais clandestinas fornecem até ficha de inscrição e carteirinha para controlar o número e o perfil dos clientes.

‘Qualquer jovem pode fazer isso. Os equipamentos se encontram facilmente na esquina e na internet. Eles acham que não estão cometendo crime, mas estão’, diz o delegado Rodolfo Waldeck, da Defesa dos Serviços Delegados.

Geralmente, o ‘gato’ oferece uma conexão com velocidade baixa (em média, 50 kBps, quantidade de dados enviados ou recebidos por segundo), que permite apenas o acesso simples a páginas na internet pouco ‘pesadas’ -sem muita informação digital. Downloads são praticamente inviáveis. Na maioria dos casos, o uso da internet limita-se à visita a sites de relacionamento, bate-papo, mensagens eletrônicas, pesquisa e para o uso de programas de mensagens instantâneas.

A polícia já realizou prisões por distribuição irregular de sinal. Em São Gonçalo, a 25 km do Rio, Bruno Rafael Paulino de Assumpção, 25, foi preso há um mês por montar e usar uma rede clandestina de distribuição de sinal de internet. Ele responde ao processo em liberdade. A estrutura da rede impressionou os agentes da Draco (Delegacia de Repressão às Ações de Crimes Organizados) e de funcionários da Velox, serviço oferecido pela Oi no Rio.

Bruno comprou um plano de 300 kBps da provedora no nome da mãe, Maria das Graças Paulino de Assumpção, 50, e o instalou na casa de uma amiga.

De lá, uma antena enviava o sinal para a residência da família, a cerca de 3 km de distância (onde a Velox não oferecia acesso), segundo a polícia. Na casa da família, o sinal era dividido por dez computadores, em uma lan house -outras duas casas também captavam a conexão por antena.

O uso de antenas dificulta a identificação do local onde há o ponto ‘legal’ da rede clandestina. Em São Gonçalo, a Draco investiga se redes clandestinas fornecem conexão à internet para comerciantes e até para um shopping da região.

‘A velocidade é um pouco melhor que a conexão discada, mas não tenho que ocupar uma linha telefônica e disputar o acesso’, afirmou o usuário de uma rede ilegal em Duque de Caxias, Baixada Fluminense, que não quis se identificar.

Algumas centrais, porém, oferecem serviço mais amplo e ‘personalizado’. Em Bangu (zona oeste), um dos ‘gatos’ oferece três planos de R$ 30 (150 kBps), R$ 60 (300 kBps) e R$ 110 (600 kBps). A atividade, em alguns casos, é feita por milícias, como ocorre com o ‘gatonet’ (TV a cabo clandestina).’

 

OBITUÁRIO
Folha de S. Paulo

Morre Rubens de Falco, vilão de ‘Escrava Isaura’

‘Morreu ontem de manhã, em São Paulo, aos 76 anos, o ator Rubens de Falco, que inscreveu o Leôncio Almeida da novela ‘Escrava Isaura’ (1976), da TV Globo, na galeria dos grandes vilões da teledramaturgia brasileira. Internado havia quase dois anos no Centro Integrado de Atendimento ao Idoso, no Morumbi (zona sul), para se recuperar de um AVC (acidente vascular cerebral), ele sofreu uma parada cardíaca.

O corpo foi velado no cemitério São Paulo, em Pinheiros (zona oeste), e o enterro estava previsto para as 16h de ontem, no cemitério da Consolação.

O último trabalho de Falco na televisão foi no remake de ‘Escrava Isaura’, exibido na Record em 2004. Aqui, ele interpretou o comendador Almeida, pai de seu personagem na versão original.

‘Estou muito triste, chocada. Rubens foi dos colegas mais admiráveis que encontrei na vida: era generoso, talentoso, um grande ator. Aprendi muito com ele’, disse Lucélia Santos, que teve o papel-título na ‘Escrava Isaura’ de 1976: o da escrava branca que sofria nas mãos do filho de seus senhores, Leôncio (Falco), obcecado por ela. Primeiro sucesso internacional da Globo, a novela foi vendida para 40 países.

No cinema, a última aparição foi em ‘Fim da Linha’, de Gustavo Steinberg, que estréia no Rio e em São Paulo no próximo dia 7. Na comédia, ele encarna o deputado Ernesto Alves, que desaparece após ganhar na loteria 1.313 vezes.

O personagem é inspirado no ex-deputado federal João Alves, um dos pivôs do escândalo dos Anões do Orçamento, no início da década de 90, que atribuía sua riqueza a vitórias sucessivas na loteria.

‘Foi uma honra ter trabalhado com ele. Rubens foi um dos ícones da minha infância. No começo [das filmagens de ‘Fim da Linha’, em 2005], fiquei intimidado pela figura dele. Mas ele se mostrou supermodesto, disponível; entregou-se de corpo e alma ao filme’, afirmou Steinberg.

De Sófocles a Gorki

A atriz e diretora Nydia Licia, que trabalhou com Falco e escreveu uma biografia dele para a Coleção Aplauso (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo), conta que o ator estreou no teatro em 1951, com ‘Ralé’, de Máximo Gorki, encenada pelo Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Da mesma companhia, atuou em ‘Antígona’, de Sófocles, e ‘Os Ossos do Barão’, de Jorge Andrade.

Ainda na década de 50, passou pelo Teatro Íntimo Nicette Bruno, pelo Arena (‘O Prazer da Honestidade’, de Luigi Pirandello), pela companhia de Nydia e Sérgio Cardoso (‘Lampião’, de Rachel de Queiroz) e pelo grupo Os Jograis, com o qual fez turnês em Portugal e México. Em 58, fez ‘Boca de Ouro’, de Nelson Rodrigues.

Nos anos 60, Falco subiu ao palco em textos de Bertolt Brecht, Friedrich Dürrenmatt e outros. Em 71, no Rio, atuou em ‘Casa de Bonecas’, de Henrik Ibsen.

Outros destaques da carreira teatral foram ‘O Monta-Cargas’ (82), de Harold Pinter, e ‘Péricles’ (96), de William Shakespeare. A despedida se deu em 2004, com ‘Galeria Metrópole’, de Mário Viana.

‘Deixa, Amorzinho…’

No cinema, a carreira começou com ‘Apassionata’, em 1952, primeiro de três filmes nos estúdios Vera Cruz -o mais bem-sucedido seria ‘Floradas na Serra’, de Luciano Salce, dois anos depois. Nos anos 70, apareceu em comédias eróticas como ‘Deixa, Amorzinho…Deixa’. Em 1981, fez uma participação no premiado ‘Pixote: A Lei do Mais Fraco’, de Hector Babenco.

Na televisão, além do Leôncio, criou tipos marcantes nas novelas ‘A Sucessora’ (1978), ‘Gaivotas’ (1979), ‘Gabriela’ (1975) ‘Os Imigrantes’ (1981) e ‘Sinhá Moça’ (1986).’

 

Ator Oswaldo Louzada morre aos 95

Aos 95 anos e quase 80 de carreira, morreu na madrugada de ontem, de falência múltipla dos órgãos, o ator Oswaldo Louzada. Ele estava internado desde o último dia 6 no hospital Copa D’Or, no Rio, com pneumonia. Seu corpo seria enterrado à tarde no cemitério São João Batista, zona sul carioca.

Apesar da longa carreira, Louzadinha, como era conhecido pelos colegas, fez seu personagem mais marcante na TV aos 91 anos, em 2003.

O Leopoldo de ‘Mulheres Apaixonadas’ e sua mulher, Flora (Carmen Silva), eram maltratados pela neta Dóris (Regiane Alves), situação que se tornou um dos pontos altos da novela de Manoel Carlos.

Nascido em 12 de abril de 1912 no Rio, Louzada conviveu com atores desde a infância, pois morou num anexo do Recreio, teatro do centro da cidade onde seu pai trabalhava como iluminador. Ainda nos anos 20, fez suas primeiras pontas.

Em 1930, tornou-se profissional, trabalhando com o irmão, Armando Louzada, na Companhia Belmira. No teatro, esteve em encenações importantes: fez par com Fernanda Montenegro em ‘Está Lá Fora um Inspetor’, de J. B. Priestley, em 1952; ‘A Alma Boa de Setsuan’, de Bertolt Brecht, em 58; ganhou o prêmio Molière pelo personagem Carrapato, de ‘Botequim’, de Gianfrancesco Guarnieri, em 73.

No cinema, Louzada atuou em filmes como ‘O Assalto ao Trem Pagador’, de Roberto Farias. Tornou-se um rosto conhecido na televisão em novelas e minisséries como ‘Escalada’ (75), ‘Estúpido Cupido’ (76), ‘Final Feliz’ (82), ‘O Tempo e o Vento’ (85), ‘O Primo Basílio’ (88). Sua última aparição na TV foi no seriado ‘Sob Nova Direção’, em 2005.’

 

TROPA DE ELITE
Mônica Bergamo

Múltiplos

‘Na esteira do Urso de Ouro de Berlim, os produtores de ‘Tropa de Elite’ se preparam para lançamento recorde de DVDs. Apesar da pirataria, o mercado já encomendou 150 mil cópias do longa, ou três vezes a média de outros filmes nacionais (longas como ‘Olga’ e ‘Os Normais’, considerados um sucesso pelo mercado, chegaram a vender 70 mil DVDs para videolocadoras). A Universal Vídeos não confirmou oficialmente o número.

NÃO EXISTE

José Padilha, diretor do filme, insiste em dizer que ainda não fechou a minissérie de ‘Tropa de Elite’ com a TV Globo. ‘Ainda estamos negociando’, afirma, embora as conversas já estejam praticamente concluídas. Sobre o risco de Wagner Moura não permanecer no papel de capitão Nascimento -já que, no fim do filme, ele já estava se aposentando- Padilha diz: ‘Não posso falar de minissérie que não existe’.’

 

LIVROS
Folha de S. Paulo

Booker Prize abre blog para os jurados

‘Um dos mais importantes prêmios da língua inglesa, o Man Booker Prize comemora neste ano seu 40º aniversário. Como parte das comemorações, o público poderá acompanhar no site www.the manbookerprize.com um blog com os comentários dos quatro jurados do prêmio e de seu curador. Também foi anunciada a criação da categoria ‘The Best of the Booker’, que contará com os votos do grande público.’

 

Carlos Eduardo Lins e Silva

Entrevistas de Norman Mailer parecem conversa de botequim

‘John Buffalo Mailer, filho de Norman, diz a certa altura de ‘O Grande Vazio’, livro que registra diálogos entre ambos sobre uma miríade de temas, que o pai ganhou dinheiro suficiente em seus até então 82 anos de vida para ter usufruído de muitos confortos e ainda deixar algum para ele e seus oito irmãos.

Portanto, é possível supor que não foi necessidade material que motivou a dupla a editar essa coletânea de bate-papos e entrevistas velhas, que mais parecem conversa de botequim ou de motorista de táxi do que um trabalho concebido para chegar a uma audiência com algum propósito de suscitar debate ou reflexão.

Como Norman Mailer, morto em novembro de 2007 aos 84 anos, foi um dos grandes personagens da cena cultural do Ocidente no século 20, frases inteligentes saíam de sua boca mesmo quando falava de maneira descompromissada, como nos registros desse livro.

São particularmente interessantes as observações que pai e filho -com uma diferença de 55 anos de idade entre si- fazem a respeito da cultura da internet. John Buffalo, nascido em 1978, menciona que a sua foi a última geração a conhecer o mundo antes da revolução tecnológica.

‘Em 1996, o ano em que me formei no [ensino] secundário, a biblioteca de nossa escola tinha três computadores com acesso à internet. Existia esse instrumento chamado internet, que poderia ajudar nas pesquisas se você quisesse usá-lo…

De fato, o que nos recomendavam era usar as pilhas de livros da biblioteca. Quatro anos mais tarde, quando me formei na universidade, era preciso se matricular nas aulas através da internet. Não havia alternativa’, lembra.

Abismo entre gerações

Ao que Norman responde: ‘Enquanto você falava, eu estava pensando no vasto abismo entre sua geração e a minha…

Como você bem sabe, eu não sei sequer ligar um computador.

Como bom ludita que sou, para mim é questão de honra não usar computador. Ao mesmo tempo, aproveito todas as vantagens do computador porque tenho uma excelente assistente que trabalha comigo há muitos anos e adora computadores’.

Para o pai, parte dos malefícios psíquicos que assolam a geração do filho advém do fato de escrever diretamente no computador, que une dois processos essencialmente opostos (escrever e corrigir), que exigem habilidades diferentes.

O mais grave, no entanto, em sua opinião, é que o extraordinário progresso tecnológico recente -’como se tivéssemos comprimido dois ou três séculos nos últimos 50 anos’- tornou o mundo muito mais poderoso e, contudo, muito mais carente sensualmente.

‘Há mais barulho, mais confusão, mais interrupções. Sinto que estamos perdendo a capacidade de nos concentrar. Parece que todos têm a sensação de que sua memória está ficando mais apagada… Hoje o conhecimento é fácil demais de se adquirir. [Na minha infância] Se você quisesse aprender alguma coisa, tinha de acordar no sábado de manhã, ir até a biblioteca, passar por uma bibliotecária e, por fim, tinha de aprender a procurar a informação que desejava. E nesse processo você entrava em contato com livros que tinham seu aroma, suas vibrações. Você vivia em um meio cultural que era ressonante’.

Pena que este tipo de conversa, nas primeiras páginas de ‘O Grande Vazio’, logo seja sucedida por muitas outras sobre assuntos antigos e perenes (como a eleição presidencial americana de 2004) e opiniões muito menos embasadas na auto-experiência. Não faltam lugares-comuns, especulações sem fundamento, delírios, até leviandades intelectuais -com um ou outro lampejo da genialidade do grande autor de ‘Os Nus e os Mortos’.

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA é livre-docente e doutor em comunicação pela Universidade de São Paulo e apresentador do programa ‘Roda Vida’ (TV Cultura).

O GRANDE VAZIO – DIÁLOGOS SOBRE POLÍTICA, SEXO, DEUS, BOXE, MORAL, MITO, PÔQUER E MÁ CONSCIÊNCIA NA AMÉRICA

Autor: Norman Mailer e John Buffalo Mailer

Tradução: Isa Mara Lando

Editora: Companhia das Letras

Quanto: R$ 37,50 (184 págs.)

Avaliação: ruim’

 

 

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O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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