Thursday, 14 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Folha de S. Paulo

STF, MENSALÃO & MÍDIA
Janio de Freitas

A imprensa no tribunal

‘OS INCIDENTES QUE opuseram a Folha e ‘O Globo’ e, de outra parte, ministros do Supremo Tribunal Federal, vão além das divergências em torno da publicação de diálogos e conceitos embaraçosos de ministros, sobre o julgamento do chamado mensalão. Não só ficaram mais conhecidos os ministros e os cenários internos dos julgamentos, sempre tão obscuros para a opinião pública, mas ainda emergiu alguma discussão sobre a imprensa e sua função, tão pouco examinadas e debatidas.

A confessada mágoa do ministro Eros Grau projetou-se, dos ministros que lhe presumiam os votos (e erraram), para o jornalismo que fotografou e publicou os emails que o citavam.

A imprensa recebeu parte de sua forte reação, lida no tribunal. Disse, a partir da afirmação de sua independência: ‘A sociedade e mesmo a imprensa não o sabem, mas o magistrado independente é autêntico defensor de ambos’.

A imprensa, além de saber, tem necessidade vital do magistrado independente. Nem mesmo as redações se dão conta dos malabarismos feitos a cada dia, já quase automaticamente, mas nem por isso sem tensões desgastantes, para superar riscos legais e éticos, de teor ou de forma, a muito do que deve publicar. (Jornalistas estão, em quase todo o mundo, entre as duas ou três comunidades profissionais mais atingidas por males cardíacos, inclusive como causa de morte).

Embora mais importante, o momento seguinte de Eros Grau passou despercebido. Mal começáramos a descansar do ‘estilo’ Sepúlveda Pertence, tão enrolado que chega a dar nó em frase, Eros Grau executou um salto triplo sem rede, e a moçada das redações nem pôde entender: ‘É mercê da prudência do magistrado independente que não resultam tecidas plenamente, por elas mesmas, as cordas que as enforcarão, as elites e a própria imprensa’. O ministro faz um aviso gravíssimo. Trazido para a linguagem pobre deste recanto, comunica-nos, em tom definitivo, que a imprensa e as elites serão eliminadas por forças que, se ainda não se entrosaram de todo para o seu fim, é graças só aos magistrados independentes.

De certo ponto de vista que não o da imprensa, foi providencial a distração das redações, porque tal advertência por um ministro do Supremo merecia tratamento jornalístico à altura -e lá viria mais incidente. Nada de contrapartida ou equivalência para a opinião do ministro Gilmar Mendes: ‘Todos os dias julgamos questões sensíveis do ponto de vista político, e não estamos preocupados com a opinião dos senhores’. Senhores, no caso, são os jornalistas.

Há quem veja aí um desprezo insultuoso e uma vazão de soberba. Ainda que a contragosto, no entanto, a despreocupação dos ministros dá ou daria ao jornalismo o que a ele mais convém. O poder, seja qual for a sua forma nas instituições, não é destinação do jornalismo, é objeto dele, é assunto. É para ser ouvido, fotografado, gravado, investigado, esmiuçado -e desvendado para que no conjunto social se formem a consciência de cidadania e suas manifestações.

Em um caso, ao menos um, a situação se complica entre a ausência total e o excesso de preocupação. O ministro Ricardo Lewandowski que anda por um restaurante a falar, tanto ao telefone como aos ouvidos circundantes, sobre intimidades do Supremo, é o mesmo a dizer que ‘todo mundo [no Supremo] votou com a faca no pescoço’. Que faca? A imprensa que ‘acuou o Supremo’.

Indagado, depois, sobre a faca, Ricardo Lewandowski disse: ‘Falei com relação a mim’. Não, falou em ‘todo mundo’, por diferentes maneiras, e não se justifica negá-lo. Indagado sobre a afirmação, ao telefone e aos ouvidos dos circunstantes, de que no Supremo ‘a tendência era amaciar para o Dirceu’, disse: ‘Primeiro, eu não sei se usei a palavra amaciar’. Note-se: não negou o sentido da frase, apenas ressalvou a palavra. Não faria diferença, portanto, se a palavra fosse abrandar, ou atenuar, ou relevar, por exemplo. Onde entra a imprensa?

A exposição extraordinariamente nervosa do seu voto fundamental sobre José Dirceu foi, logo se veria, o contrapeso único no resultado de 9 a 1 contra o denunciado. Pareceria até uma confirmação preventiva da denúncia de amaciamento, solitário embora. Logo, o ministro Ricardo Lewandowski fica a dever uma contribuição ao debate, tão necessário e apenas insinuado, sobre a função da imprensa. Deve o esclarecimento de pelo menos duas afirmações: ‘O que eu senti é que o Supremo foi submetido a uma pressão violentíssima da mídia / As pessoas [do Supremo] estavam extraordinariamente submetidas à mídia’.

A ocasião é boa para dizermos, todos, onde e como ‘a culpa é da imprensa’. Ou, como prefiro, quando e como a imprensa é jornalismo ou não é.’

Eliane Cantanhêde e Silvana de Freitas

‘Minha fé nunca interferiu nos julgamentos’, diz Direito

‘Na primeira entrevista desde que entrou para a magistratura, em 1989, o novo ministro do Supremo Tribunal Federal, Carlos Alberto Direito, reagiu à crítica de ser excessivamente conservador com uma pergunta: ‘Teria eu o direito de ter vergonha ou de pedir desculpas pela minha fé católica?’.

Paraense que chegou ao Rio aos três anos de idade, Direito é membro da União dos Juristas Católicos do Rio e admite que é muito emotivo. Reservado, dorme três horas e meia por noite, faz meditação, ioga e é fascinado por psiquiatria. Uma novidade e tanto num Supremo conflagrado por divisões internas e pela troca de e-mails e telefonemas comprometedores.

Casado, com três filhos e seis netos, ele toma posse na próxima quarta e completa 65 anos três dias depois.

FOLHA – O sr. é conservador?

CARLOS ALBERTO DIREITO – Não sei se sou ou não. Sou uma pessoa que tem muita fé. Agora, nunca a minha fé interferiu nos meus julgamentos. Pelo contrário, ela sempre os iluminou, alguns extremamente inovadores, do ponto de vista humano.

FOLHA – A união estável?

DIREITO – Sim. Quando a Constituição lançou a união estável, foi o primeiro acórdão do Tribunal de Justiça do Rio. Era um compositor e sua companheira. Eu fiz o voto reconhecendo que a união estável entre um homem e uma mulher é uma união de amor, que o ato formal do casamento perante a Constituição não era relevante.

FOLHA – Há uma diferença entre só ter fé e militar na União dos Juristas Católicos do Rio de Janeiro.

DIREITO – Não, pelo contrário. Essa entidade, à qual tenho muito orgulho de pertencer, é uma associação civil de pessoas que têm a identidade da sua fé.

FOLHA – Há duas causas relevantes para a Igreja Católica no STF, sobre a utilização de células-tronco de embriões humanos em pesquisas e a interrupção da gravidez nos casos de anencefalia. O sr. até já se manifestou sobre isso em um ensaio.

DIREITO – Não opino sobre casos concretos. Vou julgar de acordo com as leis.

FOLHA – Essas questões pressupõem a discussão sobre o momento que a vida se inicia, se na concepção ou no parto. Isso extrapola a lei e entra no terreno filosófico e religioso.

DIREITO – Talvez não exista lei específica sobre essa matéria. Então se está trabalhando com interpretações. Teria eu o direito de ter vergonha ou de pedir desculpas pela minha fé católica? Será que um país como o nosso, tão bonito, com gente tão alegre, será que eu não tenho o direito de ter orgulho de ter a minha fé católica?

FOLHA – Como foi sua conversa com o presidente?

DIREITO – Extremamente cordial, com um homem extremamente digno, correto, que me deu uma grande honra ao me indicar para o STF. Nós rimos bastante. Estavam lá os ministros Jobim e Tarso Genro.

FOLHA – Dizem que o ministro Genro fez tudo para não ser o senhor.

DIREITO – Ele estava extremamente gentil, cordial. Mas as pessoas têm o direito de opinar e de optar por A, por B ou por C.

FOLHA – E é mesmo um médico frustrado e até dá consulta para colegas e funcionários?

DIREITO – Aqui na minha gaveta eu tenho até receituário, mas não vou mostrar (risos). Agora não tem mais risco nenhum, porque já posso conceder a mim mesmo habeas corpus por prática ilegal de medicina.

FOLHA – Homeopática ou tradicional?

DIREITO – Eu gosto muito de estudar, tenho uma razoável biblioteca de psiquiatria. Leio muito, fico fascinado pela mente humana, pelo mecanismo da memória. Como foi o procedimento de Freud arrombando o inconsciente humano no final do século 19, numa Áustria anti-semita? As patologias estão em nós, seres humanos.

FOLHA – O sr. é sempre emotivo?

DIREITO – Muito. Choro com muita facilidade e sempre foi assim. Ser ministro do STJ, do Supremo não tem importância para minha vida humana. O que tem importância para mim é estar aqui, poder olhar para vocês, olhar para os meus judicionados, chegar na minha casa à noite, rezar, brincar, rir, contar uma anedota.

FOLHA – O sr. só vai ficar cinco anos no STF e poderia ficar mais, se fosse aprovada uma emenda constitucional ampliando o limite para 75 anos.

DIREITO – E eu sou inteiramente favorável, particularmente para os tribunais superiores. Tenho a impressão de que estamos tendo uma rotatividade muito grande e, quando isso acontece, a jurisprudência flutua muito. Lá embaixo, o jurisdicionado fica prejudicado, porque fica inseguro.’

***

‘O tribunal de opinião pública é importantíssimo’, diz ministro

‘O ministro Carlos Alberto Menezes Direito, que passará a ocupar uma cadeira no STF (Supremo Tribunal Federal) a partir desta quarta-feira, disse que ‘o tribunal da opinião pública é importantíssimo’, desde que não comprometa a isenção dos julgamentos do Poder Judiciário, que devem ser com base na razão, não na emoção.

Direito fez essa afirmação ao ser indagado sobre a decisão do STF de abrir o processo do mensalão, marcada pela troca de e-mails entre os ministros Ricardo Lewandowski e Cármen Lúcia Antunes Rocha e pelo telefonema de Lewandowski, testemunhado pela Folha, em que ele diz que o tribunal julgou ‘com a faca no pescoço’, por pressão da mídia. Ele acredita que as decisões do Supremo no caso do mensalão foram exclusivamente técnicas e dentro das provas dos autos. Sétimo ministro nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro escolhido dentre os integrantes do STJ (Superior Tribunal de Justiça) após 16 anos, Direito sucederá Sepúlveda Pertence, que se aposentou.

Na entrevista, ele criticou a lentidão do processo judicial e defendeu uma profunda reforma na legislação, para simplificar o sistema, que permite dezenas de recursos.

FOLHA – Os 40 denunciados do mensalão se tornaram réus, mas a Justiça é acusada de impunidade quando trata de poderosos.

DIREITO – Não concordo com a afirmação. Acredito que o sistema processual brasileiro tem inúmeras dificuldades, pela grande quantidade de recursos existentes. É uma lentidão do processo judicial, não é culpa dos juízes. Se uma pessoa entra com uma ação de indenização por danos morais, por exemplo, pode haver 15 recursos só na preliminar [antes do exame do mérito].

FOLHA – O foro privilegiado não é fator de impunidade, até mesmo por eventual falta de vocação dos tribunais superiores, o STJ e o STF, para ações penais?

DIREITO – Não tenho opinião sobre o foro privilegiado, mas concordo que os tribunais não têm estrutura para manter processos penais originários sem criar alguns mecanismos que aliviem a carga. Um ministro do STJ recebe por mês 1.200 processos. Então a dificuldade não é o foro privilegiado, mas a estrutura disponível.

FOLHA – No julgamento do STF, o tribunal agiu tecnicamente ou jogou um pouco para a platéia?

DIREITO – Tenho a mais firme convicção de que o STF julgou de acordo com a prova dos autos, dentro de uma perspectiva exclusivamente técnica.

FOLHA – Mas a opinião não influenciou o resultado?

DIREITO – A nossa liberdade depende muito da nossa capacidade de separar o tribunal da opinião pública do tribunal institucional. No momento em que nos deixarmos levar apenas pelo tribunal da opinião pública, perderemos a condição de julgar com isenção. O tribunal da opinião pública é importantíssimo, mas ele deve ser subordinado ao tribunal institucional formal. Não se pode vincular a razão à emoção. Quando se julga, deve-se julgar de acordo com a lei, só com a razão.

FOLHA – Quando o ministro Ricardo Lewandowski afirma que o STF julgou a denúncia do mensalão com ‘a faca no pescoço’, ele está confessando uma enorme dose de emoção.

DIREITO – Todo juiz é apenas um ser humano. Temos nossos sentimentos, emoções, medos, angústias, dificuldades. Nenhuma dessas reações humanas pode ser interpretada para o mal. São apenas reações humanas. Todos nós somos iguais, na mesma natureza, com a mesma essência.

FOLHA – O nome do senhor foi citado em e-mails sugerindo que haveria uma troca: ministros rejeitariam a denúncia, e o senhor seria indicado. Essa comunicação entre dois ministros também revelou que o Supremo estaria dividido em grupos.

DIREITO – Eu não acredito nenhum minuto que tenha havido divisão em grupo do STF. Falei com todos os meus colegas, quero bem a todos eles. Eu li hoje [sexta], no jornal, uma afirmação do ministro Lewandowski de que ele não se referiu a uma troca de voto por nomeação, que se referiu a mudança de voto, de convicção pessoal, o que pode acontecer com todos nós, juízes.

FOLHA – Como o senhor vê o papel da imprensa nos dois episódios: a divulgação dos e-mails e do telefonema no restaurante?

DIREITO – Não posso responder sobre caso concreto, porque amanhã pode ser necessário que eu venha a julgá-lo. Em tese, a liberdade de imprensa como ação humana está subordinada à responsabilidade civil. Todo aquele que se sente lesado vai ao Judiciário, que vai examinar se houve ou não a lesão. Isso é o princípio da ponderação entre os direitos e garantias individuais e a liberdade de informação.’

ECOS DA DITADURA
Elio Gaspari

Urticária

‘A edição do livro ‘Direito à Memória e à Verdade’, da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, é um excelente contraponto para outra publicação do governo de Nosso Guia, os 15 volumes de ‘1964 – 31 de março’, editados em 2003. Eles reúnem 250 entrevistas de admiradores da ditadura (exceção para José Genoino). As vozes militares vêm de 216 oficiais, quase todos da reserva. Deles, pelo menos 60 passaram pelo aparelho de segurança e informações do regime militar e oito serviram nos DOI-Codi. Publicada pela Biblioteca do Exército, a obra foi concebida no governo de FFHH.

Tem coisas assim: ‘Acabamos com o terrorismo no Brasil, doa a quem doer. Por isso eles vivem falando em torturas (…)’ (tenente coronel Orestes da Rocha Cavalcanti). Ou ainda: ‘A ‘canalha’, caluniando e mentindo, vai passando às novas gerações a imagem de que houve uma ‘ditadura militar’ (…) O atual governo (FFHH) comunga com a ‘canalha’ (general Anápio Gomes Filho.)

‘Direito à Memória’ atualiza a documentação publicada em 1999, em ‘Os Filhos deste Solo’. Cada um dos 339 mortos ou desaparecidos é lembrado com uma curta biografia e o resumo dos argumentos de suas famílias na busca de reparações. É matéria para pesquisadores e, felizmente, seu conteúdo irá para a internet.

Como os companheiros não foram capazes de achar nos arquivos do governo nem sequer papéis que já são públicos, acessíveis no CPDOC, acrescentou-se pouco à busca da verdade. ‘Direito à Verdade’ provocou alguns acessos de urticária. São produto da saudade da anarquia militar e da ditadura.’

EUA / MÍDIA & POLÍTICA
Michiko Kakutani

Web não cura mal dos democratas

‘DO ‘NEW YORK TIMES’ – Embora as eleições parlamentares do ano passado nos EUA tenham terminado com a retomada do Congresso pelo Partido Democrata, tanto os líderes desse partido quanto sua base de apoio reconhecem que os ganhos se deveram mais à insatisfação pública com a Guerra do Iraque e a Presidência de George W. Bush do que a quaisquer políticas novas e ousadas propostas por eles.

A corrida atual pela Casa Branca encontra o Partido Democrata enfrentando ao mesmo tempo uma crise de identidade e um Partido Republicano que, embora enfraquecido, ainda ostenta uma infra-estrutura temível.

Em seu livro novo, ‘The Argument: Billionaires, Bloggers and the Battle to Remake Democratic Politics’ (A discussão: bilionários, blogueiros e a batalha para reconstituir a política democrata), o jornalista Matt Bai analisa o estado de saúde do Partido Democrata, focalizando o movimento insurgente progressista movido em grande parte pela internet e que reuniu ricos empreendedores capitalistas determinados a injetar nova energia no partido; blogueiros irados, furiosos com a administração Bush e fartos dos moderados democratas, e liberais [esquerdistas, nos EUA] suburbanos isolados em Estados de maioria republicana, ansiosos por usar a web para conectar-se com cidadãos que pensem como eles.

O livro é um mapa da paisagem democrata: uma anatomia da nova ala progressista do partido e a relação conflituosa desta com centristas como o Conselho da Liderança Democrata.

O autor oferece alguns insights reveladores sobre a relação contenciosa de Hillary Clinton com os blogueiros, que se mantêm céticos em relação ao tipo de centrismo que ela e seu marido representam.

Para muitos progressistas, a web seria, para os democratas, o que os programas de entrevistas na rádio foram para os republicanos. No entanto, constata Bai, os insurgentes em muitos casos apresentavam divisões internas, e a ênfase que vêm colocando até agora nas táticas e no levantamento de fundos ressalta sua própria dificuldade em articular um novo paradigma para o partido.

Mimetização

Bai observa que o novo movimento progressista surgiu em parte de um desejo de reproduzir os êxitos do Partido Republicano na construção de uma infra-estrutura forte, incluindo institutos de reflexão (como o Hoover Institution), organizações de mídia (como a Fox News) e um aparelho dinâmico de arrecadação de fundos.

Um slide show em Power Point criado por um agente político pouco conhecido chamado Rob Stein traçou uma anatomia do conservadorismo americano e projetou uma resposta democrata, e esta começou a se difundir como vírus em 2003 e 2004, reunindo um grupo de doadores liberais ricos que formariam a Aliança Democracia.

Para os ativistas mais de classe média, havia a MoveOn.org, lançada em 1998 em resposta aos esforços republicanos para promover o impeachment do presidente Clinton. Mais tarde, o MoveOn.org tornou-se uma voz forte da esquerda contrária à guerra e uma força grande de arrecadação de fundos.

O que une os ativistas ‘netroots’ (‘de base na internet’), escreve Bai, não é tanto qualquer espécie de agenda de governo do país, mas sim um compromisso com ‘os princípios da política democrata intransigente’. De acordo com o etos dos blogueiros, diz ele, ‘os republicanos, quer fossem fortemente conservadores ou não, deveriam ser pisoteados, batidos e humilhados’. ‘E qualquer democrata que não tivesse isso com seu objetivo precisava que lhe fosse ensinada uma lição.’

Ao denegrir os democratas de Washington e a grande imprensa, diz Bai, a cultura ‘netroots’ não apenas despreza ‘os indivíduos que se enquadravam nessas categorias, mas também todo o conhecimento que essas pessoas tinham acumulado’. É uma atitude que conduz a uma ausência de perspectiva histórica e, quando combinada com o foco dos blogueiros sobre tática, faz com que muito pouca atenção seja dada às suas idéias.

O livro sugere que os democratas de todos os matizes não conseguiram, até agora, redefinir seu partido com uma visão nova, e que ainda tentam decifrar o que representam, além do repúdio aos princípios e à política republicanos. Tradução de CLARA ALLAIN’

PODEROSOS DA FORBES
Clóvis Rossi

As meninas super-poderosas

‘SÃO PAULO – A revista ‘Forbes’ escolheu a chanceler alemã Angela Merkel como a mulher mais poderosa do mundo. Errou.

Qualquer gestora de fundos de investimento (deve haver algumas, embora seja um universo essencialmente masculino) é mais poderosa. Muito mais.

Não é difícil demonstrar a afirmação acima. Na mais recente cúpula do G8 (junho, na Alemanha), Merkel insistiu em obter de seus pares (supostamente os homens mais poderosos do mundo) um código de conduta e mais transparência para os fundos especulativos. Perdeu. E perdeu porque os governos, por poderosos que pareçam, não conseguem (ou não querem) enfrentar os mercados.

Note-se que o ministro alemão de Finanças, Peer Steinbrueck, era premonitório na época, ao dizer que os fundos especulativos representam ‘um risco sistêmico’. Por quê? Simples: ‘Alguns deles estão alavancados cinco, seis ou até sete vezes, o que significa que os credores podem ser seriamente prejudicados se um desses fundos se tornar insolvente’, explicava o ministro Steinbrueck.

Não é mais ou menos o que se viu dois meses depois? Risco tão sistêmico que o pânico só foi contido porque bancos centrais (dos Estados Unidos, da Europa e do Japão) jogaram para os bancos recursos que, somados, superam o tamanho da economia de todos os países sul-americanos, excetuado o maior deles, o Brasil.

Na mesma época, John Monks, secretário-geral da Federação Européia de Sindicatos, dizia que os ‘hedge funds’ e as ‘private equities’ estão ‘entre os mais selvagens animais da floresta’ e criticava o que chamou de ‘capitalismo de cassino’.

Pois é, se a ‘Forbes’ escolhesse um desses ‘animais’ (do sexo feminino, lógico) como a mulher mais poderosa do planeta estaria bem mais perto da realidade.’

CRÔNICA
Carlos Heitor Cony

A grande comadre

‘RIO DE JANEIRO – Não havia mídia naquela época: nem rádio, TV ou internet. Os poucos jornais eram oficiais ou oficiosos, malfeitos, de circulação simbólica. As notícias eram poucas, nada acontecia de importante além do expediente funcional. Afinal, ‘era no tempo do rei’ -a frase que inicia as ‘Memórias de um Sargento de Milícias’.

Não havia mídia, mas havia as comadres, sobretudo a ‘comadre’, a personagem mais importante da literatura brasileira depois de Capitu. Ela tudo sabia, todos a procuravam para abastecê-la ou para se abastecer. Tinha acesso aos quartéis, à copa e à cozinha das autoridades, às alcovas do poder e da plebe. As coisas só aconteciam se passadas por ela, na mão ou na contramão, sempre acrescidas pelo conhecimento da sociedade em geral. Além de noticiosa, era o arquivo, a pesquisa e a memória ambulante de seu tempo.

Evidente que não poderia concorrer com a eficiência midiática de hoje, mas fazia o mesmo efeito. À primeira vista, poderia ser considerada uma fofoqueira que bisbilhotava a vida alheia. Apurava muito, mas só ‘editava’ o que julgava interessar àqueles que nela procuravam informações e opiniões.

Era honesta. Como famoso dono de um jornal do século 20, só se vendia por um almoço que ela mesma pagava.

Se a comadre ainda estivesse em atividade, teríamos material mais suculento sobre os dois casos que estão emocionando a nossa mídia: as trapalhadas do presidente do Senado e as confidências e inconfidências do Supremo Tribunal Federal a propósito do mensalão.

Apesar de desprovida de recursos tecnológicos, a comadre tinha a vantagem de ser amiga do major Vidigal, a suprema autoridade policial da época.

Ela podia mandar prender ou soltar suspeitos e insuspeitos.’

GABRIEL GARCIA MÁRQUEZ, 80
Sylvia Colombo

Na casa de Gabo

‘Na praça principal da pequena Aracataca, um estabelecimento de esquina, paredes de madeira pintadas de vermelho, exibe os dizeres: ‘Bar Liberal: Aqui esteve o coronel Aureliano Buendía’. A referência a um dos personagens centrais de ‘Cem Anos de Solidão’ (1967), o militar solitário que ‘promoveu trinta e duas revoluções armadas e perdeu todas’, é apenas uma entre as tantas que saltam aos olhos quando se caminha hoje pela cidade natal de Gabriel García Márquez, 80.

Aracataca, localizada ao norte da Colômbia, na província caribenha de Magdalena, foi fonte de inspiração para quase tudo que o escritor criou para construir Macondo, aldeia imaginária onde se passa o clássico que lhe garantiu o Nobel de Literatura em 1982.

Num ano de tantas efemérides ligadas a Gabo, 80 anos de nascimento, 25 desde o Nobel, e 40 do lançamento de ‘Cem Anos’, o povoado debate sobre como homenagear o escritor.

Trata-se de uma região pobre, que teve seu apogeu nos anos 20/30, quando plantações de banana chamaram a atenção de empreendedores norte-americanos. Hoje, a cidade vive ainda da banana, do comércio regional, e atrai turistas literários que querem conhecer as cores do mundo de Gabo.

‘Limbo de sopor’

Sob sol inclemente -a temperatura média é de 28ºC- , que castiga os olhos e dá a impressão de que ‘as casas flutuam em um limbo de sopor’, nas palavras de Gabo, é possível distinguir os tipos humanos que deram origem aos personagens de ‘Cem Anos de Solidão’.

Donas-de-casa de ar resignado, homens sentados nas praças com olhar solitário, crianças barulhentas na saída das escolas. Não há nada que não se veria em outro povoado semelhante, no interior do Nordeste brasileiro, por exemplo.

O que diferencia Aracataca é apenas (apenas?) o fato de que, a partir das lembranças de seus primeiros oito anos de vida passados lá, Gabo inventou um universo único e fantástico.

Na biografia ‘Viver para Contar’ (2002, Record), o escritor relata esse episódio de transformação. Nos anos 50, quando já era um jovem aspirante a escritor vivendo em Barranquilla, Gabo viajou com a mãe de volta para Aracataca.

A família, de poucos recursos, tinha que colocar à venda a casa onde ele vivera com os avós e um monte de tias. Foi então que, ao descer na estação do trem, o escritor percebeu que daquela aldeia sairia uma grande parte de sua literatura.

‘Não havia uma porta, uma fenda de um muro, um rastro humano que não despertasse em mim uma ressonância sobrenatural’, conta o Nobel.

Pois hoje é justamente a casa em que ele passou a infância o principal motivo de discórdia entre os que disputam seu legado neste ano de homenagens.

Desde que foi vendida pelos García Márquez, a casa sofreu várias alterações em sua estrutura. Quartos foram ao chão e paredes foram derrubadas. Do local onde sua mãe lhe deu a luz, só sobrou um piso de cimento com a placa: ‘Aqui nació Gabriel Garcia Márquez’.

O Ministério da Cultura da Colômbia está reformando o local, que vai virar museu até o final do ano. O próprio Gabo -que hoje se trata de um câncer no México- deu aval para uma proposta que mistura a reconstrução de parte da estrutura original da casa com espaço para exposição de objetos.

Já o prefeito, Pedro Sanchez, quer transformar o espaço em atração turística, com lojas e estrutura para receber mais viajantes. ‘É preciso explorar a imagem dele, no bom sentido’, disse à Folha.

Plebiscito

No começo do ano, Sanchez promoveu um plebiscito para tentar mudar definitivamente o nome da cidade, de Aracataca para Macondo. A população rechaçou, mas ele segue com seus planos. ‘Temos que fazer com que Gabo seja notícia sempre, é isso que interessa’, diz.

A família do escritor, por sua vez, insiste que a casa seja reconstruída exatamente como era na infância do autor. ‘Uns querem ver a casa dos Buendía, outros a dos García Márquez, mas transformar o local num museu, que dialogue com os personagens e os livros dele, é o melhor que se pode fazer por sua obra’, diz Alberto Abello Vives, da Universidad Tecnológica de Bolívar, autor do script da mostra.

Enquanto isso, funciona como museu improvisado a chamada Casa do Telegrafista, local onde o pai do autor -que era telegrafista- trabalhou quando chegou a Aracataca. Ali estão algumas fotos amareladas, certidões de casamentos e mortes da família e recortes de jornais. A precariedade e o vento das tempestades de fim de tarde estão causando uma verdadeira erosão no conjunto.

Coincidência ou não, é inevitável uma irônica analogia com o que acontece nas últimas páginas de ‘Cem Anos’, quando Macondo vai virando pó no meio de um redemoinho.

A jornalista SYLVIA COLOMBO viajou a convite da Proexport Colombia’

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VOLTA A MACONDO

‘Como parte das comemorações do seu 80º aniversário, García Márquez visitou Aracataca depois de mais de 20 anos -a última vez tinha sido em 1983, para comemorar o Nobel. Gabo chegou num trem, encomendado especialmente para a ocasião. Foi recebido por mais de 20 mil pessoas.’

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História de amor dos pais de Gabo vai ao cinema

‘O romance proibido entre o telegrafista forasteiro Gabriel Eligio Martínez e a moça de família Luisa Santiaga inspirou Gabriel García Márquez a escrever ‘O Amor nos Tempos do Cólera’. Agora, a história de amor de seus pais vai também ganhar adaptação para as telas.

Com estréia prevista nos EUA para novembro -e sem distribuição definida ainda no Brasil-, o filme, falado em inglês, é dirigido pelo britânico Mike Newell e conta, no elenco, com o espanhol Javier Bardem, os colombianos John Leguizamo e Catalina Sandino Moreno e a brasileira Fernanda Montenegro.

Um dos 13 irmãos de Gabo, Jaime García Márquez, que cuida da Fundación para un Nuevo Periodismo Iberoamericano, fundada pelo autor em Cartagena, deu consultoria aos produtores do filme.

Ele conta que o romance dramático dos pais foi sempre um tema polêmico na família. Gabriel Eligio havia chegado a Aracataca nos anos 20 para trabalhar no telégrafo local. Conheceu Luisa e se apaixonou, mas os pais dela foram contra o relacionamento e mandaram a moça viajar. Insistente, o telegrafista a acompanhou clandestinamente, de cidade em cidade, sempre pedindo transferência de emprego.

Por fim, conseguiram que um padre interviesse e obtivesse a aceitação dos pais para o casamento. ‘Mas eles não foram à festa, minha mãe ficou sentida com isso para sempre’, conta Jaime à Folha.

Anos depois, o filho Gabo resolveu dar vida literária ao drama paterno e concebeu o enredo de ‘O Amor nos Tempos do Cólera’, tendo como protagonsitas o telegrafista Florentino Ariza e a moça Fermina Daza.

‘Todos os personagens do meu irmão existem na família, ou roubam características de outros, mas ele nos deixa sempre em dúvida com relação a alguns detalhes’, diz.

Adivinhação

Jaime conta que, entre os parentes, é comum que se façam jogos de adivinhação para tentar identificar a quem Gabo está se referindo em determinada passagem ou personagem.

Ele acha que o irmão se defendeu da curiosidade familiar quando escreveu a frase: ‘A vida não é aquela que uma pessoa viveu, mas a que ele recorda, e como a recorda, para contá-la’. ‘Assim ele calou a boca de todos nós, que não podemos mais dizer que tal coisa não está certa ou que não foi desse jeito’, diz, dando risada.

García Márquez já foi adaptado para as telas várias vezes. As versões mais famosas são as de ‘O Coronel Não Tem Quem lhe Escreva’ (1999), de Arturo Ripstein, e ‘Crônica de uma Morte Anunciada’ (1987), do italiano Francesco Rosi. Gabo também foi filmado pelo brasileiro Ruy Guerra, em ‘Erêndira’ (1983), com Claudia Ohana no papel principal. ‘Mas ‘Cem Anos de Solidão’ nunca foi, e Gabo diz que só deixa se o diretor for latino-americano. Quem sabe um brasileiro’, deixa a dica Jaime.’

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Para Montenegro, autor criou imaginário exclusivo

‘A atriz brasileira Fernanda Montenegro, 77, acaba de voltar de Cartagena, onde participou da rodagem de ‘O Amor nos Tempos do Cólera’. Ela vive a personagem Trânsito Ariza, mãe do protagonista, Florentino (Javier Bardem).

Leitora de García Márquez há anos, Montenegro conta que leu a obra do colombiano ‘sob o espanto de ‘Cem Anos de Solidão’, que é uma viagem para o resto da vida’, disse à Folha.

O filme todo foi gravado em Cartagena de Indias, cidade histórica do litoral colombiano, na qual o autor viveu por alguns anos e teve pela primeira vez um emprego num jornal, o diário ‘El Universal’.

Estão ali as praças, ruas e vielas nas quais o autor ambientou o romance. E também a polêmica casa de inspiração mourisca que construiu no meio do casario colonial, para muitos, contrariando o padrão arquitetônico da cidade.

Para Montenegro, Gabo é o criador de um ‘imaginário exclusivo, dentro da aparente desorganização sul-americana. Ele consegue fazer da pulverização uma unidade para esse cipoal cultural que é o nosso continente’, diz.

A atriz conta que gostou de contracenar com o espanhol Bardem (‘Mar Adentro’), que vive o homem apaixonado que espera pela amada por mais de 50 anos. O romance dramático tem seu desenlace a bordo de um navio, quando enfim os dois amantes, já idosos, fazem sexo um com o outro pela primeira vez. ‘Esse final, com a consumação do amor na velhice, é muito lindo. É fantástico como ele mostra que, no meio da doença, da podridão, aquele navio com a bandeira da cólera pode ter uma dimensão poética única’, disse.

Em inglês

A produção tem sido criticada, na Colômbia, por ser falada em inglês, e não em espanhol, já que se trata da adaptação de um dos maiores clássicos do idioma. ‘Não vejo contradição, adaptamos Shakespeare para o espanhol aqui, por que não podemos internacionalizar García Márquez’, retruca o produtor Felipe Aljure. A razão principal, ele explica, é atingir o mercado norte-americano. ‘Eles preferem não ler legenda. Não tem jeito.’’

TELEVISÃO
Daniel Castro

‘Vaidade é tolice’, diz autor ‘oculto’ de ‘Paraíso Tropical’

‘Co-autor de ‘Paraíso Tropical’, Ricardo Linhares, 45, é em tese tão importante para a novela quanto Gilberto Braga. Mas, na hora dos elogios, crítica, intelectuais e telespectadores só lembram de Braga. Chamado de ‘arquiteto’ da novela, por criar todas as cenas e definir todos os ‘ganchos’ da trama, Linhares diz que não tem ciúmes do colega. Linhares é um co-autor ‘profissional’. Das 14 obras de seu currículo, dez foram em co-autoria. Formado em jornalismo, Linhares só atuou na profissão como estagiário. Aos 19 anos, já escrevia roteiros -de telecursos. Ele falou à Folha:

FOLHA – Você não fica com ciúme por só Gilberto Braga ser responsabilizado pelo sucesso da novela?

RICARDO LINHARES – Não fico. Tenho muito orgulho de fazer parte da equipe de ‘Paraíso Tropical’. Sei que contribuo.

FOLHA – Ser co-autor te incomoda?

LINHARES – Nada. Eu acho é muito bom. Novela é uma carga de trabalho muito pesada. Se você pode dividir com alguém que você respeita e admira e que também te respeita e te admira, eu acho ótimo, prazeroso. Acho vaidade tolice. Não sou vaidoso. Gosto de parceria, cumplicidade, casamento.

FOLHA – E todas as suas parcerias foram casamentos legais?

LINHARES – Foram todos casamentos profissionais muito legais. Nunca tive nenhum desentendimento com Gilberto [Braga] nem com Aguinaldo [Silva], com a Ana [Moretzsohn], com [Walther] Negrão.

FOLHA – Repetiria essas parcerias?

LINHARES – Claro.

FOLHA – Ser o autor principal de novela não é tão legal?

LINHARES – Todas as experiências foram legais, mas a pressão é maior quando se faz novela solo. Eu curto cada trabalho, nunca penso a longo prazo.

FOLHA – Gilberto Braga afirmou que você é o arquiteto de ‘Paraíso Tropical’. O que ele quis dizer?

LINHARES – Eu faço as escaletas, que é são a espinha dorsal de cada capítulo. Todo sábado eu e Gilberto nos reunimos na casa dele e a gente bola a história de uma semana inteira, de seis capítulos, pensando já nos seis ou 12 seguintes, o que vai acontecer lá na frente.

FOLHA – A escaleta é um resumo?

LINHARES – A escaleta é um resumo cena a cena, a ordem de cada uma delas, os comerciais, as ações, os ganchos.

FOLHA – Você se considera um bom escaletador?

LINHARES – Eu gosto de fazer isso. É como um roteiro. Depois entra a equipe de dialogistas. A partir da escaleta, eles escrevem os diálogos. E o Gilberto faz a redação final.

XUXINHA PODEROSA

Letícia Medina é a nova queridinha da Record. Ela dá vida a Tatiana, a filha superpoderosa de Leonardo Vieira em ‘Caminhos do Coração’. Tatiana roubou a cena no capítulo da última quarta, ao quebrar todos os vidros de um restaurante sem mexer um dedo. Aos 10 anos, Letícia já tem um extenso currículo. Interpretou Xuxa quando criança em um especial da Globo e fez ‘Bicho do Mato’. Está duas séries adiantada na escola. ‘Ela decora as falas dela e de quem está em cena’, conta a mãe e empresária, Rosemeire Medina, 42.

‘BEIJA SAPO’ VAI A ‘JÚRI’

O Ministério da Justiça vai convocar o ‘Grupo de Colaboradores’ do órgão para analisar o ‘Beija Sapo’, programa de namoros apresentado por Daniella Cicarelli na MTV. O grupo, formado por 150 cidadãos, é chamado sempre que há dúvidas sobre classificação indicativa. Funciona como um júri popular. No ano passado, as edições GLS do ‘Beija Sapo’ foram liberadas para qualquer horário. Mas o ministério tem recebido reclamações e abriu processo por ‘linguagem depreciativa, obscena e erótica’ em edições hétero do programa. Diretor da MTV, Zico Goes diz que o ‘Beija Sapo’ apenas ‘reflete a juventude de hoje, que procura se relacionar e testar seus relacionamentos com o maior número de pessoas’.

CONTORCIONISMO

Marília Gabriela, 1m78 de altura, terá que aprender a fazer contorcionismo. É que a primeira aparição de sua personagem em ‘Duas Caras’, próxima novela das oito da Globo, será dentro do porta-malas de um antiquíssimo Chevette, onde estará escondida por conta de um passado misterioso.

TELA QUENTE

A Globo mudou a estréia de ‘Queridos Amigos’, de Maria Adelaide Amaral. Será dia 18 de fevereiro, uma segunda, e não mais dia 19. A mudança faz diferença no Ibope. Na segunda, a minissérie entrará no ar alguns minutos após a novela das oito. Na terça, só viria depois de um paredão de ‘BBB 8’.

‘24 HORAS’ LATINO

A Fox está gravando na Colômbia um seriado que lembra ‘24 Horas’. Assim como a série de Jack Bauer, ‘Tempo Final’ terá episódios em ‘tempo real’, em que cada um dura uma hora e retrata uma hora da vida dos personagens. Porém, diferentemente da original, cada episódio tem começo, meio e fim. A Fox do Brasil ainda tenta emplacar uma história com atores brasileiros. ‘Tempo Final’ será a primeira produção da Fox para a América Latina feita na América Latina. E vem mais por aí.

Pergunta indiscreta

FOLHA – Você não teme ser acusado de incentivar o incesto agora que Rodrigo (Carlos Casagrande) e Tiago (Sérgio Abreu), os gays de ‘Paraíso Tropical’, que muita gente achava que eram irmãos, estão se soltando mais um com o outro?

GILBERTO BRAGA (co-autor de ‘Paraíso Tropical’) – Eu não notei que eles tenham ‘se soltado’. Acho que desde o início está claro que eles têm um casamento homossexual, mas nunca houve carícias entre os dois, como, por sinal, não há entre os casais heterossexuais da novela que não têm conflitos.’

Bia Abramo

Novela é coisa de homem?

‘AOS POUCOS , a Record começa a experimentar novidades em suas telenovelas. Sem deixar de lado o esforço de chegar o mais próximo possível da fórmula (ou melhor, das fórmulas) que já foram testadas e aprovadas pela Globo, aqui e ali surgem traços que, eventualmente, podem levar a emissora a constituir um jeito próprio de fazer telenovela. Um deles é tentar atender o público masculino.

Se em ‘Vidas Opostas’ o caminho foi um investimento claro no binômio ação-violência, em ‘Caminhos do Coração’, que estreou nesta semana, a inspiração claríssima são os seriados norte-americanos -’Heroes’, mais especificamente- e os filmes de super-heróis.

Onde a antecessora era mais ‘adulta’ e carregava, às vezes excessivamente, nas tintas de um certo realismo social, agora a opção é mais juvenil, mais fantasiosa.

Mesmo com as diferenças, é clara a intenção de fazer novela que seja capaz de atrair a atenção masculina, de uma maneira ou de outra. Isso, evidentemente, não significa que os elementos tradicionais estejam removidos. Ao contrário, a julgar pela quantidade enorme de personagens, vai ter de tudo: intriga, romance, drama e mutantes a valer.

É claro que os fãs hardcore de ‘Heroes’ vão torcer o nariz para a inverossimilhança do roteiro -os mutantes em questão são fruto de experiências com biotecnologia iniciadas no início dos anos 80 (!?) numa clínica no Guarujá (?!?)-, para uma certa precariedade dos efeitos especiais e para uma certa incompetência das cenas de ação.

Mas, para o público em geral, a trama em torno dessas crianças e jovens com poderes especiais deve funcionar, ao menos até o momento em que representar uma novidade.

Como manter a novidade e o frescor atrelado ao formato da telenovela é que são elas. Nos seriados norte-americanos, o volume dos acontecimentos é muito menor -em geral, cada temporada dura entre 12 e 15 episódios de uma hora, exibidos uma vez por semana-, o que dá fôlego para manter a atenção por vários meses. O ritmo diário da novela é bem mais brutal e vai exigir uma enorme capacidade inventiva.

De qualquer maneira, a aposta em uma atração unissex, ou seja, que combine os apelos para o público masculino e o feminino é bem acertada. Os espectadores de TV mais jovens, já há dez anos inundados por um massa de informações mais diversa e mais cosmopolita, tanto por conta da TV paga como por conta da internet, configuram um público de espécie nova, também mutante, e tentar descobrir por onde vai sua atenção e seu gosto é uma tarefa básica de sobrevivência.’

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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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