Thursday, 14 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Folha de S. Paulo

DOSSIÊ
Folha de S. Paulo – Editorial

Aloprando no armazém

‘ALOPRADOS nunca faltaram ao governo Lula, cumprindo habitualmente a função de assumir a responsabilidade por iniciativas que seus superiores dizem ignorar. O exemplar mais recente dessa espécie é, conforme revelado pela Folha nesta sexta-feira, a principal assessora de Dilma Rousseff na Casa Civil. Seu nome é Erenice Guerra; surge no noticiário por admitir, a interlocutores, que foi sua a ordem de organizar um banco de dados com as despesas sigilosas de Fernando Henrique e Ruth Cardoso no governo anterior.

O alopramento petista já fez coisas piores que esmiuçar, para posterior divulgação, o custo secreto das codornas desossadas que abasteceram a cozinha do Palácio da Alvorada. Erenice Guerra não foi surpreendida com uma mochila repleta de dólares destinada a comprar dossiês contra um candidato oposicionista; nem mesmo revelou os dados bancários de um caseiro a quem interessasse intimidar. Na vasta despensa do desgoverno ético petista há sigilos e sigilos, dossiês e dossiês, aloprados e aloprados, cada qual com seu peso próprio.

Quebrar a privacidade das contas de um cidadão é ato bem mais grave do que o vazamento de informações sobre as despesas palacianas do Executivo, que afinal são pagas pelo contribuinte, e sobre as quais se impõe uma blindagem injustificada.

Mesmo assim, o governo Lula e, em especial, a ministra Dilma Rousseff, desacreditam-se pateticamente neste episódio. O dossiê, que uma retórica esfarrapada traduz em ´base de dados´, foi de fato produzido; não se confunde meramente com os registros oficiais do sistema de controle de gastos do Executivo.

Torna-se ridículo o argumento de que os dados de consumo de Lula devem ser protegidos por segredo de Estado, quando o próprio governo o quebra no intuito de minar seu antecessor. Não teve êxito nesse alopramento de armazém; mina-se, em troca, o nome de Dilma Rousseff na sucessão presidencial.

Pouco importa. Se há alguma lição a tirar do episódio, é que o segredo em tais contas deve ser reduzido ao prazo mínimo indispensável para a segurança presidencial. O sigilo nesse aspecto é tão pouco republicano quanto o ato de rompê-lo por motivações partidárias; o governo petista conseguiu, entretanto, reunir as duas coisas num só vexame.’

 

UNIVERSAL
Folha de S. Paulo

Para entidade, ações contra Folha atacam liberdade

‘As dezenas de ações movidas por fiéis da Igreja Universal contra a Folha e a repórter Elvira Lobato foram o principal ataque à liberdade de expressão no Brasil durante os últimos seis meses, segundo relatório preliminar apresentado ontem no encontro da SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa), em Caracas.

´É uma tentativa espúria de usar o Poder Judiciário contra a liberdade de imprensa, de privar o cidadão do direito de ser informado´, disse o diretor da Editora Abril Sidnei Basile, membro da Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação da SIP encarregado de apresentar a situação do Brasil.

Para Basile, as ações contra a reportagem ´Universal chega aos 30 anos com império empresarial´, publicada em dezembro de 2007, revelam ´uma das piores faces do cerceamento à liberdade de expressão´.

Até anteontem, havia 76 ações contra a Folha -desse total, 20 foram julgadas, todas favoráveis à Folha e à repórter.’

 

CORÃO
Folha de S. Paulo

Islâmicos condenam filme holandês

‘A Organização da Conferência Islâmica, que reúne 57 nações muçulmanas, divulgou comunicado condenando o filme ´Fitna´, do deputado holandês Geert Wilders. O filme liga o Corão à violência. ´O filme só tem a intenção de incitar e provocar inquietude e intolerância´, afirma o comunicado.’

 

TELES
Guilherme Barros

BrT e Oi chegam a acordo no horário limite

‘O acerto para o fim das pendências judiciais entre o Citigroup e o Opportunity, que permitiu o acordo de compra da Brasil Telecom pela Oi (ex-Telemar), foi fechado no limite do prazo definido pelos acionistas para o negócio ser realizado.

Os empresários Sérgio Andrade, da Andrade Gutierrez, e Carlos Jereissati, da La Fonte, haviam definido que o Citi e o Opportunity teriam até as 20h de quinta para chegarem a um acordo. Caso contrário, teriam que pensar num plano B.

O acordo entre Citi e Opportunity foi fechado no horário fixado como limite. Os dois abriram mão de todas as pendências judiciais, inclusive as ações que correm em Nova York.

Os detalhes do acordo ainda não são conhecidos. A Folha apurou, no entanto, que, para o martelo ser batido, o Opportunity aceitou reivindicação do Citi de ter participação maior na Telemig, o que corresponde a um desembolso de US$ 100 bilhões para o banco dos EUA.

Em contrapartida, o Citi abre mão da ação de perdas e danos correspondente a US$ 300 bilhões que tem contra o Opportunity em Nova York.

Ontem, os escritórios de advocacia dos dois sócios ficaram reunidos para preparar a papelada que sacramenta o acordo. O objetivo é que os documentos sejam assinados na próxima quinta, quando as duas empresas devem divulgar um fato relevante da operação.

Oficialmente, a Oi negou que as negociações para a compra da BrT estejam finalizadas, em resposta a questionamentos da CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

Para que a compra da BrT pela Oi possa se concretizar de fato, é preciso que a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) dê anuência. A agência, no entanto, só pode fazer isso depois que houver mudança na legislação, que na sua forma atual impede a operação.

No dia 13, o Ministério das Comunicações recomendou à Anatel mudanças no PGO (Plano Geral de Outorgas) que permitam que uma concessionária de telefonia fixa possa comprar outra. Desde então, a agência estuda o tema.

O PGO, definido por decreto do presidente da República, divide o país em áreas de prestação de serviço de telefonia fixa e estabelece que uma mesma empresa não pode ser concessionária de telefonia fixa local em duas regiões diferentes.

Em fevereiro, a Abrafix (Associação Brasileira das Concessionárias de Telefonia Fixa Comutada) enviou carta à Anatel pedindo mudanças na regulamentação do setor.

A Anatel enviou a carta ao Ministério das Comunicações, que a tomou por base para produzir ofício enviado novamente à agência reguladora, propondo as mudanças. O ministério propôs o fim das restrições à compra de uma concessionária pela outra e mudança para permitir o oferecimento de pacotes de múltiplos serviços (fixo, móvel, banda larga e TV) por uma mesma empresa.’

 

Lorenna Rodrigues

Negócio deve ser anunciado logo, diz Costa

‘O ministro Hélio Costa (Comunicações) confirmou ontem que foi avisado extra-oficialmente de que a Oi e a Brasil Telecom haviam chegado a um acordo na noite de quinta-feira. Costa disse que o negócio deverá ser fechado até a próxima quinta, quando fato relevante deverá ser encaminhado ao mercado.

A concretização da operação depende ainda de mudanças na legislação, já que atualmente é proibido uma empresa de telefonia fixa comprar outra de diferente área de atuação.

Costa disse esperar uma resposta da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), que estuda mudanças no PGO (Plano Geral de Outorgas), para, então, encaminhar o documento para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que deverá editar um decreto com a mudança.

A Anatel informou ontem que ainda não foi notificada sobre o negócio. Anteontem o presidente da agência, Ronaldo Sardenberg, disse que o órgão deve editar dois documentos com propostas de mudanças do setor.

Em fevereiro, o Ministério das Comunicações enviou carta à Anatel pedindo que a agência analisasse a alteração do PGO, necessária para permitir o negócio Oi-BrT.

Com a finalização da compra, o mercado de telefonia no país terá uma nova configuração. A nova Oi pode ter 29,6% do faturamento total das operadoras de telefonia fixa, celulares, banda larga e TV por assinatura, contra 29,9% da Telefônica/Vivo, 20,1% da Claro/Embratel e 12,1% da TIM.’

 

Ações das duas teles sobem e somam alta de até 34% no ano

‘Longamente esperado, o desatamento do ´nó das telecomunicações` foi bem recebido pelo mercado. Além de ganhos de sinergia, a reestruturação societária valoriza as ações, que estavam com preço baixo.

Os papéis mais beneficiados ontem foram os ON da holding da Brasil Telecom, que subiram 8,52%. Essas ações terão direito ao tag along, a extensão de 80% do prêmio de controle aos minoritários. No ano, essas ações somam alta de 11,18% e, nos últimos 365 dias, de 48%. As ações PN subiram 5,13% ontem e 34,21% no ano.

Até os papéis PN da Telemar Holding reagiram bem ao negócio e tiveram alta de 6,06%. Normalmente, a compradora tem as ações punidas por conta do impacto no caixa.’

 

TAPINHA DA DISCÓRDIA
Matheus Pichonelli e Felipe Bächtold

Para juiz, ´Tapinha` descreve humilhação contra a mulher

‘´Tapa na Cara` pode; ´Tapinha´, não. Esse é o entendimento da Justiça Federal de Porto Alegre, que condenou a produtora Furacão 2000 Produções Artísticas -responsável pelo funk ´Tapinha´, do refrão ´Tapinha não dói´, sucesso de Mc Naldinho e Bella Furacão em rádios e casas noturnas do país no começo da década- a pagar R$ 500 mil por danos morais às mulheres.

Na mesma decisão, no entanto, eximiu de responsabilidade a Sony Music pela música ´Tapa na Cara´, do grupo Pagodart, lançada pela gravadora em CD.

A ação foi movida pelo Ministério Público Federal a pedido da ONG Themis – Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero, de defesa às mulheres.

De acordo com a ONG, ambas as letras das músicas eram ´ofensivas à dignidade da mulher´, ´influenciavam o cotidiano das pessoas` e ´banalizavam a violência´, além de serem discriminatórias e de legitimarem a violência masculina.

A Themis pediu também a condenação da União por permitir a difusão das músicas.

Queria que a União fosse condenada a cumprir um artigo da Convenção de Belém (PA) para promover a ´inclusão, nos contratos de concessão de exploração dos meios de comunicação, de cláusulas específicas que importem em observância dos parâmetros de erradicação da violência e promoção da dignidade da mulher´.

A Justiça, entretanto, condenou apenas a Furacão 2000.

´Artística´

Para o juiz Adriano Vitalino dos Santos, o tapa descrito no funk provocava dor física e abalo psíquico.

Na outra canção, o tapa era uma manifestação ´artística` que aborda o masoquismo.

De acordo com o juiz Santos, a música ´Tapinha` (Se te bota maluquinha/Um tapinha eu vou te dar porque: Dói, um tapinha não dói), de Mc Naldinho e Bella Furacão, descreve uma situação de um gesto humilhante.

´O ´tapa` (…) evidentemente causa dor física na vítima, além do abalo psíquico decorrente da humilhação que o gesto em si constitui´, escreveu Santos na sentença.

Já sobre a música ´Tapa na Cara` (Tapa na cara/Na cara mamãe/Se você quiser, ai eu vou te dar), o magistrado afirmou que a letra ´apenas relata um encontro amoroso entre um homem e uma mulher, que implora ao parceiro para que lhe dê tapas durante o ato sexual´.

´Na esfera privada, é vedada a quem quer que seja, Estado ou particular, a intromissão sem consentimento.´

A ação tramitava na Justiça Federal em Porto Alegre desde 2003. A sentença foi proferida em Mafra (SC), em 19 de fevereiro, durante um mutirão da Justiça.

Omissão

Rúbia da Cruz, coordenadora da ONG Themis que elaborou a representação que deu origem à ação na Justiça, afirma que vai recorrer da decisão que absolveu a Sony Music e a União.

Para a entidade, o Estado se omitiu ao permitir a veiculação pelo país de duas músicas com conteúdo que ofende as mulheres. Rúbia da Cruz, porém, diz que foi surpreendente o valor que a Furacão 2000 acabou condenada a pagar.

A Folha procurou ontem à tarde o juiz Adriano Vitalino dos Santos para comentar a decisão, mas foi informada, em seu gabinete, que tudo o que ele poderia informar constava da sentença.’

 

***

Advogado de produtora diz que funk não tem conotação sexual

‘O advogado da Furacão 2000, Marcos Campuzano, afirmou ontem que vai recorrer da decisão judicial que condenou a empresa a pagar R$ 500 mil como indenização por dano difuso às mulheres por causa da música ´Tapinha´.

Ele contestou o argumento usado pelo juiz Adriano Vitalino dos Santos de que a música é uma ofensa a todas as mulheres do Brasil. ´Além de ser uma atitude contra a liberdade de expressão, como é possível provar que milhões de pessoas se ofenderam com a música? É algo muito subjetivo. Na minha avaliação, a ONG [Themis, com sede em Porto Alegre] não tem legitimidade para dizer isso.´

Campuzano disse ainda que a letra não tem conotação sexual. Segundo ele, o autor, Mc Naldinho, fez a música como forma de criticar a ´permissividade` dos pais em relação aos filhos.

´Ele [Mc Naldinho] deu um tapinha no traseiro da filha uma vez e ela disse: ´Pai, um tapinha não dói´. E resolveu fazer a música para criticar a posição dos pais que não sabem dizer não aos filhos´, disse.

Segundo ele, o juiz condenou a empresa porque no Brasil existe preconceito em relação ao funk. ´Por que não fizeram o mesmo com a boquinha da garrafa, que tinha claramente conotação sexual e passava no Faustão? Porque o funk é alvo de preconceito´, afirmou.

O advogado disse haver ações criminais tramitando na Justiça contra os chamados funks ´proibidões´, cujas letras fazem apologia ao crime e ao sexo, mas que não conhece outros casos de processo movidos por suposta ofensa em razão de letras de músicas.

Campuzano disse também que o fato de o processo correr em Porto Alegre (se houver apelação, caberá ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região, com sede na capital gaúcha, julgar o caso) atrapalha o direito de defesa, já que a Furacão 2000 tem sede no Rio.

Procurada pela Folha para comentar o assunto, a Sony Music não respondeu os questionamentos até o começo da noite de ontem.

À Justiça a Sony Music afirmou que a letra da música ´Tapa na Cara` não incita a violência e é somente ´a manifestação cultural das classes sociais menos favorecidas´. A gravadora também argumentou que apenas produziu, distribuiu e comercializou o produto que contém a música.’

 

Em show, Caetano Veloso cantou ´Tapinha´, que afirmou ser linda

‘Vaiado num show no Rio ao cantar ´Tapinha´, o músico baiano Caetano Veloso defendeu à época a letra, que disse achar ´linda´. Segundo o cantor, a música foi incluída no show para que acompanhasse uma canção sobre a mulher.

´Eu gosto muito desta música, ´um tapinha´. Acho linda. Botei no meu show para uni-la a minha canção ´Dom de Iludir´, que é uma música transfeminista´, disse Caetano à época.

Num ensaio aberto no Canecão em junho de 2001 para 3.000 pessoas, Caetano ouviu vaias ao cantar o funk.

´De onde será que saiu isso?´, perguntou Caetano, surpreso com a reação do público. Após as vaias, ele comparou a platéia à Comissão de Ética do Senado – que levava à renúncia do então senador Antonio Carlos Magalhães (morto em 2007), sugerindo que o público estaria fazendo um julgamento do que ele pode ou não fazer no palco.

A Folha tentou ouvir Caetano novamente ontem, sem sucesso. Paula Toller, também vaiada ao cantar o ´Tapinha´, estava gravando em estúdio não pôde dar entrevista. E Adriana Calcanhotto, que também já cantou os versos, está fora do país.’

 

Vinícius Queiroz Galvão

Mais importante é o simbolismo da decisão gaúcha, diz ministra

‘Feministas, pesquisadores da USP e da Unicamp, a ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres e até a Anistia Internacional dizem repudiar o funk ´Tapinha´, que, segundo eles, ´dói, sim [e humilha]´. E aplaudiram a decisão da Justiça Federal gaúcha segundo a qual a letra ´banaliza a violência contra as mulheres´.

´A música é um grau de liberdade sem limites que associa erotismo e violência contra a mulher. Está na contramão do debate da violência contra as mulheres. Não pode ser defendida como uma expressão artística inocente. O que está em discussão é a responsabilidade cultura e social de um grupo que exerce influência de massa´, diz a feminista Jacira Melo, diretora do Instituto Patrícia Galvão, que desenvolve projetos sobre direitos da mulher.

Para a ministra Nilcéa Freire, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, ´a decisão da Justiça é muito boa´.

´O que é mais importante é o simbolismo [da decisão]. A sociedade vai se acostumando a isso. Então um tapinha não dói nas crianças, um tapinha não dói nas mulheres e isso se vulgariza. É banalizar a violência e a forma de as pessoas se relacionarem´, afirmou a ministra.

A socióloga Vânia Pasinato, do Núcleo de Estudos da Violência da USP e pesquisadora da Unicamp, diz que o funk ´Tapinha` é discriminatório e reforça a idéia de que a violência contra as mulheres não deve ser combatida.

´A música passa essa mensagem. Tapa de amor não dói? Dói. E muito. A música tem um caráter discriminatório. E [a decisão é] uma medida positiva, que deve servir de alerta para que se promova mais a igualdade e menos a violência. Não se combate a violência só pelo agressor. A maneira mais eficaz é mexer na cultura e na educação´, avalia Pasinato.

Em relatório, a Anistia Internacional diz que a letra ´Se te bota maluquinha / um tapinha vou te dar / Porque / Dói, um tapinha não dói` é ´exemplo de uma grande aceitação cultural da submissão feminina´.

´A mídia às vezes estimula a visão de que a violência contra a mulher é aceitável, até sexy´, diz o relatório.

Para a ministra, não houve exagero do politicamente correto. ´Um tapinha dói, sim. Humilha. Sou mulher e não gosto de ser tratada dessa maneira.´’

 

CHINA
Folha de S. Paulo

Grécia barra imprensa em evento olímpico

‘Dias após o protesto de ativistas da ONG Repórteres sem Fronteiras, que na segunda-feira irromperam na cerimônia na qual foi acesa a chama olímpica, em Olímpia, a Grécia decidiu radicalizar para impedir manifestações contra a China, que em agosto abriga os Jogos.

Ontem, o Comitê Olímpico Helênico (COH) proibiu que meios de comunicação acompanhem a chegada do fogo olímpico à Acrópole, local onde amanhã ele será entregue a autoridades chinesas e embarca para um périplo em volta ao mundo que termina em maio.

A medida é uma espécie de seguro antiprotesto pois, acreditam os gregos, sem imagens ao vivo da cerimônia, a invasão de manifestantes acaba inócua.

Além disso, 2.000 policiais foram destacados para blindar o entorno do sítio histórico de Atenas. O COH diz que imagens ´oficiais` da festa serão distribuídas posteriormente.

A decisão provocou protestos da Associação de Imprensa Estrangeira na Grécia e também da União Grega de Fotógrafos, que prometeram uma manifestação conjunta contra o que consideraram ´censura prévia` do governo grego.

Ontem, durante o revezamento da tocha -que chegou a Larissa, a cerca de 300 km de Atenas-, outra ONG denunciou que dez de seus integrantes foram interceptados e mantidos a 70 km de distância.

O desrespeito aos direitos humanos na China, além da violenta repressão a protestos de monges no Tibete, é a principal motivação das manifestações de organizações independentes contra a realização da Olimpíada em Pequim.’

 

CULTURA
Lucas Neves

Palco da discórdia

‘A primeira polêmica envolvendo o Ministério da Cultura em 2008 partiu do próprio Ministério da Cultura. O governo lida desde anteontem com um tiroteio de reações contrárias ao artigo ´Incentivo ao Teatro?´, que o secretário-executivo do MinC, Juca Ferreira, e o ator e presidente da Funarte (órgão vinculado ao ministério), Celso Frateschi, publicaram nesta Folha.

No texto, os autores discutem a eficiência da Lei Rouanet, principal mecanismo de financiamento da atividade cultural no país, e apontam distorções em sua aplicação. Frateschi e Ferreira dizem que a redução do número de sessões semanais dos espetáculos (de seis a oito antes da lei; duas ou três atualmente) e o encurtamento das temporadas vão de encontro ao principal objetivo da lei: universalizar o acesso à cultura nacional.

A crescente concentração das produções na região Sudeste, segundo os autores, é outro fator que joga contra.

Mais uma distorção no uso da Lei Rouanet apontado pelo artigo é o fato de que produtores culturais passaram a extrair maiores lucros com a captação de recursos para montar as peças do que com suas respectivas bilheterias. Assim, ´a razão de ser do espetáculo não é mais o público´, sustenta o texto.

Mais à frente, no trecho que mais causou desconforto entre os produtores, Frateschi e Ferreira rebatem o argumento de que ´o teatro não se auto-sustenta economicamente` com um exemplo: o de um proponente que, em cinco anos, captou R$ 40 milhões pela Rouanet, apesar do retrospecto de ´sucessos retumbantes` -ou seja, os lucros de uma montagem poderiam bancar outras.

A Folha apurou que se trata da Time for Fun (ex-CIE Brasil), multinacional por trás de musicais como ´O Fantasma da Ópera` e ´Miss Saigon´. Procurada pela reportagem, a empresa não comentou o artigo.

Pecado e pecador

Paulo Pélico, diretor-secretário da Apetesp (Associação dos Produtores Teatrais do Estado de São Paulo), diz que a argumentação de Frateschi e Ferreira é ´marcada pelo equívoco, pela simplificação grosseira do processo teatral; tenta confundir a opinião pública fazendo aquela desonestidade intelectual de colocar o pecado, e não o pecador [referência aos R$ 40 milhões captados pela CIE]´. ´Nós todos [produtores independentes] entramos como milionários da produção teatral, o que é mentira.`

Produtor da peça ´Salmo 91´, que levou dois prêmios Shell em SP neste ano, Claudio Fontana acha ´antipático da parte do Frateschi, ele também um produtor de teatro, dizer que o problema são os produtores. A situação da Lei Rouanet foi criada pelo próprio governo, que saiu da sua função, subsidiar a cultura, e transferiu esse problema também para os produtores. A gente tem que jogar segundo as regras do governo´.

Para Eduardo Barata, presidente da Associação dos Produtores de Teatro do Rio (APTR), ´pensar que todos nós somos CIE ou Time for Fun é desconhecimento completo da nossa área. Somos a classe média do teatro, que está tão achacada quanto toda a classe média brasileira. Não é por que um proponente capta R$ 40 milhões que a lei tem de ser extinta ou que o incentivo fiscal não deu certo. Há distorções que têm de ser consertadas´.

Secretaria nacional

Desvios de rota que produtores como Barata esperam que o projeto de criação da Secretaria Nacional de Teatro, em tramitação no Senado, ajude a corrigir. ´Vemos a secretaria como um espaço de discussão e formulação de políticas públicas em que se tenha uma lei analisada por profissionais que entendam do fazer teatral. Não podemos ter uma lei em que o parecerista pergunte: ´se você tem cenógrafo, por que quer programador visual?` É a esse nível que se chega [hoje]!`

A classe faz lobby por uma lei que acrescente ao mecenato uma modalidade de ´investimento` (já prevista na Rouanet, mas não colocada em prática), em que o patrocinador tem incentivos fiscais menos significativos, mas adquire uma cota do espetáculo (que lhe garante participação nos lucros).

Ouvido pela Folha, Frateschi diz que ´eles [produtores] trabalham ainda sob o paradigma da Lei Rouanet. Ela é uma das formas de financiamento que o Estado pode promover. Podemos ter outras, que trabalhem com o teatro como direito de cidadania, fator simbólico e atividade econômica.`

O presidente da Funarte frisa, entretanto, tratar-se ´de uma discussão que está começando` e que os produtores ´são pessoas seriíssimas, interessadas no teatro; ninguém quer se locupletar´.

Curta temporada

As ponderações feitas no artigo acerca do aumento do número de montagens com temporadas curtas também são questionadas pelos produtores.

´É verdade que se chega ao ponto de algumas produções só pegarem o patrocínio e estrearem [sem se preocupar com a bilheteria]. Mas isso está relacionado à falta de critério e fiscalização na seleção [das peças que podem captar patrocínio]´, opina João Falcão, produtor de ´A Máquina` e ´O Drama´.

Pélico diz lamentar que ´dirigentes de primeiro escalão desconheçam que a redução de sessões e do público deve-se ao empobrecimento da classe média, à falência da educação, à violência, ao problema da meia-entrada e até ao trânsito´.

Barata acrescenta que é preciso levar em consideração que ´os teatros públicos geralmente dão de dois a três meses para um espetáculo estar em cartaz.

Mesmo quando fazemos sucesso, somos obrigados a sair´.

Já Jorge Takla, diretor e produtor de ´My Fair Lady` e ´West Side Story´, se diz um ´privilegiado´. ´Os espetáculos que faço têm recebido público do Brasil inteiro. É possível fazer longas temporadas, sim.`

Lei de fomento nacional

O governo, no entanto, tem uma base de respaldo numa parcela dos profissionais de teatro. O articulador dessa vertente é o Redemoinho, reunião de grupos que, na última quinta, organizou protestos em várias cidades contra o atual formato de incentivo fiscal. Defendem, em vez disso, fundos geridos pelo poder público.

Ney Piacentini, presidente da Cooperativa Paulista de Teatro, diz que ´não dá para concordar com que o dinheiro hoje pare nas mãos do artista ou do produtor do espetáculo, enquanto o grande público não tem acesso ao bem cultural´.

Com LAURA MATTOS, SILVANA ARANTES, VALMIR SANTOS E ADRIANA PAVLOVA’

 

DOCUMENTÁRIO
Sérgio Rizzo

É Tudo Verdade traz brasileiros ´veteranos´

‘Ao ser reunido com Eduardo Escorel para a produção da foto que acompanha esta reportagem, José Joffily diz que ficou encafifado. ´Por que nós dois?´, teria perguntado ao colega, com quem fez o documentário ´Vocação do Poder` (2005).

Mais tarde, ´descobriu´.

´Agora, nós somos os veteranos do cinema brasileiro´, brinca.

´Preciso fazer como mulher que esconde a idade e começar a tirar coisas do currículo.`

De fato, a trajetória de ambos é bem anterior à mudança de conceito do documentário, acompanhada – e ao mesmo tempo incentivada – pelas 13 edições do É Tudo Verdade.

Escorel, 62, estreou no gênero como produtor, diretor (com Julio Bressane) e montador de ´Bethânia Bem de Perto – A Propósito de um Show` (1966). Joffily, também 62, como diretor de ´Praça Tiradentes` (1977).

No festival deste ano, Escorel promove a estréia de ´O Tempo e o Lugar´, que disputa a mostra competitiva nacional de longas. Joffily exibe ´A Paixão Segundo Callado` na mostra especial Vidas Brasileiras.

Desencanto com a política

Embora os dois tratem de personagens cujas trajetórias iluminam aspectos importantes da sociedade nas últimas décadas, os caminhos percorridos para a realização dos longas foram bem distintos.

Escorel conheceu o agricultor Genivaldo da Silva, de Inhapi (AL), em 1996, quando realizou com ele um episódio da série institucional ´Gente que Faz´, patrocinada por um banco e exibida na TV. Quis reencontrá-lo porque, entre outros motivos, se interessou em investigar ´o desencanto com a política tradicional de uma pessoa com vocação de liderança política´.

´Suas rupturas com o MST e com o PT me chamaram a atenção para uma espécie de liderança que não consegue ser exercida dentro das instituições e para a fidelidade de Genivaldo a parâmetros que estabeleceu para si mesmo´, afirma Escorel. ´Ele criou as condições para exercer a sua vocação.`

O paralelismo do personagem com o presidente Lula também atraiu o cineasta. ´Genivaldo começou a atuar na Pastoral da Terra no final dos anos 70, simultaneamente à ascensão de Lula no movimento sindical do ABC, mas cumpriu trajetória bem diferente. Hoje, se coloca na oposição ao governo federal e ao PT.`

´Convite irrecusável´

Já ´A Paixão Segundo Callado` resultou, segundo Joffily, de um ´convite irrecusável` da produtora Nina Luz.

´Foi a primeira vez em que trabalhei como diretor contratado´, diz. Por quatro meses, dedicou-se ´com o maior prazer` a leituras e releituras da obra de Antonio Callado (1917-1997) enquanto buscava, principalmente no encontro com os netos do escritor, a herança do projeto revolucionário de toda uma geração.

´Pensei que os netos revelariam melhor do que os filhos o que significava a utopia de Callado´, afirma Joffily. ´E eles mostram que aquela revolução se transfere hoje para o mundo interior. Como um deles diz no filme: ´Tá tudo dominado, o que resta é você se modificar´.`

O TEMPO E O LUGAR

Direção: Eduardo Escorel

Produção: Brasil, 2008

Quando: hoje, às 21h; amanhã, às 13h; no Cinesesc

Avaliação: bom

A PAIXÃO SEGUNDO CALLADO

Direção: José Joffily

Produção: Brasil, 2007

Quando: dia 3, às 19h, no Cinesesc

Avaliação: bom’

 

TELEVISÃO
Cristina Fibe

´Mulher Biônica` retorna sem forças

‘Nos EUA, a série já estreou (em 2007), teve sua primeira temporada exibida e foi cancelada. Apesar da expectativa que cercou o início de ´A Mulher Biônica´, que chega só agora ao Brasil, e do alto investimento da NBC, o fracasso de audiência e as críticas ruins fizeram com que a rede a suspendesse. Ainda assim, quem quiser conferir o remake de ficção científica para tirar suas conclusões pode fazê-lo a partir de amanhã, no A&E, às 21h.

Na série, a atriz inglesa Michelle Ryan entra no lugar que foi de Lindsay Wagner nos anos 70 -primeiro em uma participação em ´O Homem de Seis Milhões de Dólares´, depois na própria série, ´Mulher Biônica´, que foi exibida de 76 a 78.

Na nova versão, uma garota bonita (Ryan), com jeito de boa moça, leva uma vida de ´batalhas` -trabalha num bar e precisa cuidar da irmã mais nova, sem os pais à vista. Mas um ´acidente` de carro (proposital, na verdade) a submete a um experimento que a torna a tal mulher biônica.

Suas pernas e braços são substituídos e ela ganha forças de supermulher. Corre e salta em velocidades e distâncias inacreditáveis. Depois de se adaptar ao novo corpo, a biônica passa a enfrentar missões além de proteger a irmã, entre elas salvar um médico americano trabalhando no Paraguai.

A MULHER BIÔNICA

Quando: estréia amanhã, às 21h; reprise às quartas, às 21h

Onde: no A&E’

 

 

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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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