Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Folha de S. Paulo

VENEZUELA
Fabiano Maisonnave

Caracas quer lista de funcionários de canal oposicionista Globovisión

‘O governo Hugo Chávez solicitou na noite de anteontem que a emissora de TV oposicionista Globovisión forneça uma lista completa de seus funcionários, com foto, endereço residencial, números de telefone e de placa de veículos. A justificativa é que as informações são necessárias para dar segurança ao canal, como prevê resolução da Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA.

O pedido, assinado pelo chefe da Direção Geral dos Serviços de Inteligência e Prevenção (Disip), Henry Rangel, e colocado no site da emissora, é uma resposta à solicitação do canal por reforço da segurança, sob o clima de tensão ante o referendo sobre a proposta de reforma constitucional, no próximo dia 2. Nos últimos dias, a deputada chavista Iris Valera tem ameaçado tomar as instalações da Globovisión, que ela acusa o canal de ´tergiversar a verdade´, ´até que o Estado cumpra a lei´.

A sede da emissora, o único canal de TV venezuelano abertamente oposicionista, foi alvo de um protesto chavista na quinta-feira à noite. Os manifestantes picharam as paredes externas com dizeres a favor da reforma constitucional. ´Sim à autonomia, sim à América Latina, sim à pátria, sim à reforma de dezembro´, dizia uma frase.

Em meados do ano passado, a sede já havia sido pichada por militantes chavistas, em meio aos protestos contra o fim da concessão da emissora oposicionista RCTV, que hoje só transmite via cabo. Na época, o governo Chávez ameaçou a emissora de fechamento, sob a alegação de que incentivava o assassinato do presidente.

Em setembro de 2004, a Corte exigiu do Estado venezuelano a adoção imediata de medidas de proteção aos funcionários da emissora em razão de repetidos casos de agressão no exercício do trabalho.’

 

TELEVISÃO
Roger Cohen

EUA precisam ver o mundo real na TV

‘DO ´NEW YORK TIMES` – Na academia de ginástica da base da Otan em Cabul, soldados americanos andam em esteiras todas as manhãs enquanto assistem ao canal da Al Jazeera em inglês. Quando Osama bin Laden vira notícia, a fina flor dos militares americanos malha sob o olhar solene de seu inimigo mais procurado.

Isso soa como uma cena do inferno particular de Donald Rumsfeld. O ex-secretário da Defesa tachou a Al Jazeera de ´porta-voz da Al Qaeda´. Certa vez ele descreveu a rede, que pertence ao Qatar e tem lá sua sede, como ´mal-intencionada, imprecisa e imperdoável´.

Num indício do que o governo de George W. Bush pensa do jornalismo feito pela Al Jazeera (e também do habeas corpus), ela mantém um dos cinegrafistas da rede, Sami al Hajj, preso em Guantánamo há mais de cinco anos, sem acusação.

A liberdade do que assistir na academia da Otan é bem mais sábia do que as palavras de Rumsfeld ou o tratamento terrível de Hajj. Os EUA precisam assistir à Al Jazeera para entender como o mundo mudou.

Menos ´soft power`

A primeira mudança que precisa ser compreendida é a redução da capacidade dos EUA de influenciar pessoas. O acesso global à informação hoje significa que existe um imenso menu à la carte. As redes fogem de qualquer controle, e os EUA podem facilmente parecer excludentes e menos relevantes.

A segunda mudança essencial é a erosão sofrida pelo poderio americano. O ´hard power` dos EUA -seu poderio militar- tem sua força comprometida pelas guerras refratárias de contra-insurgência no Iraque e Afeganistão. Sua economia está sob pressão -haja vista a fraqueza cada vez maior do dólar. Seu ´soft power` -a capacidade de a idéia americana ecoar no mundo- foi prejudicada por sua perda de legitimidade (Hajj na prisão) e sua incompetência (Iraque).

A terceira mudança crucial é a consolidação do antiamericanismo como idéia política. O islamismo jihadista é a expressão mais violenta dessa idéia, mas seus agentes se beneficiam por nadarem num mar de ressentimentos menos assassinos.

Em resposta a tudo isso, os EUA podem dizer: ´Ao diabo com esse mundo ingrato´. Esse caminho representa uma espiral descendente. Ou podem tentar entender o novo mundo.

Para a compreensão desse mundo, a Al Jazeera em inglês oferece uma cartilha útil. A emissora às vezes é tendenciosa de modos capazes de revirar nosso estômago. De forma geral, porém, seu esforço por reportagens equilibradas, apresentadas desde uma perspectiva própria, parece ser genuíno.

Um ano após seu lançamento, a rede já é vista por 100 milhões de residências espalhadas pelo mundo. Seu foco recai em ‘reportagens vindas do Sul político e endereçadas ao Norte político´, como diz seu diretor administrativo, Nigel Parsons.

Entretanto, a rede vem sendo colocada de escanteio nos EUA. O deputado democrata Jim Moran, da Virgínia, disse-me: ´Há definitivamente uma idéia aqui de que esses caras são o inimigo. Mas no Oriente Médio, na Ásia e na Europa eles gozam de uma credibilidade da qual os EUA precisam desesperadamente.` Moran teve um encontro com executivos da Al Jazeera em inglês que buscavam ampliar seu alcance lilliputiano nos EUA. Hoje, 147 mil residências em Toledo, Ohio, e mil em Burlington, Vermont, podem assistir à rede a cabo.

´Neomacartismo`

É muito pouco. A Al Jazeera English é muito mais acessível em Israel. Allan Block, presidente da Block Communications, proprietária da Buckeye, me disse: ´É um bom canal. Sir David Frost e David Marash não são terroristas. A tentativa de denegrir a rede é neomacartismo.` Como outras provedoras, a Block recebeu cartas de protesto da organização conservadora Accuracy in Media (precisão na mídia).

Cliff Kincaid, seu editor, cita Tayseer Allouni, ex-correspondente da Al Jazeera no Afeganistão preso na Espanha por ter laços com a Al Qaeda. Para ele, isso prova que ´as provedoras de TV a cabo não deveriam dar acesso à Al Jazeera´. A maioria das empresas cedeu ante a pressão, embora negue que tenham sido influenciadas politicamente.

Moran diz que isso é bobagem, e atribui a culpa ´a ventos políticos somados a uma estrutura empresarial avessa a riscos´. Esses ventos políticos prejudicam os EUA. A contra-insurgência já foi descrita como ciência social armada. Para vencer, é preciso compreender o mundo.

Tradução de CLARA ALLAIN’

 

Daniel Castro

Mulher de Silvio Santos põe experiência de vida em novela

‘Mulher do dono do SBT, Silvio Santos, a socialite Íris Abravanel resolveu virar autora de novela. Há dois meses, ela lidera uma equipe de cinco roteiristas. Obrigatoriamente, em um esquema profissional, Íris e equipe escrevem um capítulo por dia de ´A Revelação´. Ela é supervisionada por Yves Dumont, autor de seis novelas -a última foi ´Maria Esperança´.

O projeto é mantido em sigilo no SBT -onde ela raramente aparece. Deve ir ao ar em 2009.

Apesar do nome e da religiosidade da autora (Íris é evangélica), ´A Revelação` não envereda pelo misticismo. ´É uma história contemporânea que trata de questões que afligem o mundo, uma proposta nova´, conta Yves Dumont, após muita insistência da Folha.

Segundo o supervisor, ´A Revelação` reúne a ´experiência de vida` de Íris, casada com Silvio Santos há quase 30 anos, com quem viveu uma ruidosa crise conjugal em 1992.

Dumont afirma que Íris leva jeito para o folhetim. ´Vejo nela um entusiasmo de quem não vai parar por aí. Ela é noveleira, informada e criativa´, elogia.

O supervisor revela que fez alterações na sinopse original de Íris. ´A história era boa, mas faltava malícia´, lembra.

Pelo menos uma vez por semana, Dumont se reúne com Íris para fazer a ´escaleta` -processo em que são definidas todas as cenas dos capítulos. As escaletas, depois, recebem os diálogos. Íris não só escreve diálogos como cuida pessoalmente de algumas tramas.

A GORDINHA DO ANO

A gordinha da foto acima vai dar o que falar. Com 1,60m e 79kg, o que já lhe rendeu vários trabalhos como modelo de roupas tamanho GG, Erika Evanttini será disputada pelos galãs Ricardo Tozzi e Humberto Martins no especial de fim de ano da Globo ´Casos e Acasos´. Michele, a personagem de Erika, é inteligente e sedutora e tem uma tatuagem no pescoço que enlouquece os bofes. Na vida real, Erika não é muito diferente. Feliz no casamento, se diz bem resolvida com seu peso. Embora desencanada de dietas, faz esteira e pilates. E não sai de casa sem um gloss e perfume. Importado, sempre.

MAIS DE 400 MIL USUÁRIOS JÁ VIRAM NA INTERNET VÍDEO EM QUE WILLIAM WAACK, NO ´JORNAL DA GLOBO´, CHAMA A REPÓRTER ZELDA MELLO DE ´ZELDA MER…´

Pergunta indiscreta

FOLHA – Vivido por Ricardo Macchi em ´Explode Coração` (1995), o cigano Igor virou um ícone da má interpretação na TV. Às vezes, tem-se a impressão de que o espírito do cigano anda rondando as gravações de ´Duas Caras´. Não te parece que ele ´baixou` em Dalton Vigh?

AGUINALDO SILVA (autor de ´Duas Caras´) – Que maldade! Dalton Vigh está sensacional como o vilão Ferraço, fazendo todas as caras e bocas a que um vilão tem direito! Nada a ver com o cigano Igor, que não tinha caras nem fazia bocas, era uma espécie de Alemão do ´BBB` melhorado. Dalton Vigh tem a perfeita noção do que vale o personagem dele no melodrama e atua de acordo com isso. Ele é do tipo frio.

DESPACHO 1

A Globo anda numa fase, digamos, ´muito axé´. Na semana passada, para divulgar a programação de fim de ano no mercado publicitário, a emissora distribuiu uma caixa que continha 13 simpáticos e coloridos patuás.

DESPACHO 2

Para o Emmy internacional, o Oscar da TV mundial, que acontece amanhã em Nova York, a Globo levou de brinde mil bolsas com a bandeira do Brasil bordada com miçangas. Dentro, um chapéu de pano, patuás e fitas do Senhor do Bonfim.’

 

Laura Mattos

Vencedora de concurso de autores da Record estréia novela no canal

‘A Record estréia nesta terça-feira, às 20h30, mais uma novela na tentativa de se firmar como produtora de teledramaturgia -e incomodar a Globo.

Desta vez, a história não é de uma ex-grife global, mas da estreante Gisele Joras. No ano passado, ela venceu um concurso de roteiristas promovido pela Record, com 600 candidatos. Apesar do burburinho que surgiu por ser amiga de um dos jurados, Joras ganhou R$ 20 mil e a possibilidade de se tornar novelista na emissora.

A sinopse que apresentou no concurso é a de ´Amor e Intrigas´, justamente a novela que estréia nesta semana.

Apesar de ela ser um novo nome no mercado, sua história deverá ser para lá de batida. A irmã má (Renata Dominguez) dá um golpe na irmã boa (Vanessa Gerbelli), que fica pobre e acaba se apaixonando por um milionário do bem (Luciano Szafir). Ele tem uma mãe (Esther Góes) e uma ex-namorada (Francisca Queiroz) más que fazem de tudo contra o romance dos pombinhos do bem…

A exemplo da maioria das produções da Record, ´Amor e Intrigas` é uma trama urbana, ambientada no Rio de Janeiro.

Além dos protagonistas, o elenco conta com os ex-globais Heitor Martinez, Mylla Christie, Nicolas Siri e Denise Del Vecchio, além da comediante Gorete Milagres, ex-SBT.

A direção é de Edson Spinel- lo, que dirigiu ´Bicho do Mato` na Record e também já passou por novelas da Globo.

´Amor e Intrigas` entra no lugar de ´Luz do Sol´, da ex-global Ana Maria Moretzsohn (´Estrela Guia´), que girou em torno dos nove, dez pontos no Ibope. Não foi um resultado ruim para uma novela que concorre com a das oito da Rede Globo. Apesar disso, o ideal para a Record, que sonha com a liderança no Ibope, é que ´Amor e Intrigas` vá além, de preferência chegando perto dos 15 pontos.’

 

INTERNET
Laura Mattos

Celebridades enchem blogs de bobagem

‘Você sabia que Regina Duarte gosta de Led Zeppelin e Pink Floyd, que a ´feiticeira` Joana Prado está adorando amamentar e que Preta Gil ganhou uma geladeira do Gianecchini?

Pois então, caro leitor, que tal dar um passeio inesquecível pelo maravilhoso mundo dos blogs de celebridades?

Você conhece Amanda Françozo, dublê de apresentadora da Gazeta, a TV quase ´traço de audiência´? Não? A moça já tem até um blog onde conta ´tuuuuuudo` sobre a sua carreira (ela escreve desse jeito mesmo, com várias letras repetidas; outro dia mandou beijosssss com… 39 ´esses´).

Se tentar acessar o da eterna loira do Tchan, o leitor terá de tomar uma séria decisão, pois surgirá uma janela onde se lê ´Blog oficial da Carla Perez. Jesus te Ama!´. Pode-se escolher entre ´Ok` e ´cancelar´…

O mercado de blogs -espécie de diários da internet- de famosos não é novo, mas explodiu agora com o lançamento do portal Bloglog, que reúne globais e não-globais de todos os quilates. Quem pensa que vai descobrir tuuuuudo, como diria Françozo, a respeito de seus ídolos está enganado. A maioria usa o diário virtual para divulgar shows, discos, peças ou simplesmente a própria imagem -especialmente os que só têm isso para vender. Em muitos casos, segundo a Folha apurou, é alguém da assessoria que escreve se passando pelo artista.

O blog de Wanessa Camargo, o quarto mais acessado dentre os dos famosos do UOL, é um verdadeiro ´release` (textos enviados pelas assessorias a jornalistas) em tom pessoal. Veja esse trecho: ´Abaixo, alguns momentos das 17 horas que ficamos gravando no estúdio o clipe da música ´Não Tô Pronta pra Perdoar` […] Mando aqui um beijo especial para o Erich Baptista (o diretor do clipe, um doce) … O clipe estréia daqui a uma semana. Adianto que é lindo, meio melancólico e tem um quê dramático´. No próprio blog, nega-se que os textos não sejam da cantora. ´Aqui, nesse espaço onde ninguém, além de mim, escolhe, edita ou colhe palavras de minha boca…` -segue uma lição de ecologia- ´… quero deixar clara minha posição sobre neutralização de carbono´.

Jabá

Os artistas normalmente não recebem dos portais para fazer seus blogs. Isso não significa que eles não possam transformá-los em negócios rentáveis.

Piovani, por exemplo, que foi uma das modelos contratadas para a campanha dos 30 anos do Boticário, outro dia deu aos leitores uma ´dica´: ´O Boticário tem um produtinho incrível chamado Blush líquido que é a oitava maravilha da necessaire… Tem um cheiro delicioso de ´penteadeira da vó´… Provem da cereja e me digam…´

A modelo é uma das precursoras no mundo blog de celebridades. Estreou o seu em julho de 2005. No mês passado, seu diário foi o segundo mais acessado dentre os blogs de famosos do UOL, o principal portal de internet do país. Só perdeu para o do prestigiado jornalista esportivo Juca Kfouri.

Diretora de conteúdo do UOL, Márion Strecker explica que os blogs dos famosos dão audiência quando trazem informações de impacto.

´Um exemplo de pico de audiência foi quando Luana Piovani decidiu usar o blog para dar em primeira mão informações sobre sua gravidez e, depois, a perda do bebê. A maioria usa o blog para fazer marketing, falar da carreira. A Luana é diferente, ela se expõe e fala de assuntos polêmicos com naturalidade´, diz Strecker.

Especialista em gestão de imagens, Edson Giusti (que já cuidou da carreira de Angélica e Marcos Mion e hoje tem Luiz Fernando Guimarães, Didi Wagner e Sarah de Oliveira como clientes) relativiza o ´boom` dos blogs de famosos.

´Por que a maioria dos grandes artistas ainda não entrou? Por enquanto, os blogs não dão dinheiro. Para conseguir patrocinadores, é preciso ter um blog relevante. A Luana Piovani, por exemplo, sabe como usá-lo para virar notícia. Não adianta o artista ficar contando onde passou o final de semana.` Giusti, porém, crê que essa ferramenta de marketing das celebridades tende a crescer.

Grifes

José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, é dono do Bloglog, em parceria com seu filho, Diogo, e a Globo. Com prestígio dentre artistas, o ex-todo-poderoso da Globo tem conseguido nomes do primeiro escalão, como Regina Duarte e o autor Aguinaldo Silva, que vem ´bombando´. Grifes como essas ainda são raras no universo de blogs, recheado por celebridades de quinta. A lista de famosos que o portal busca convencer a ´blogar` tem mil nomes. Até a semana passada, cerca de 200 já haviam estreado.

O Bloglog ainda está em versão experimental e estreará a oficial assim que outros ´nomões` assinarem contrato.’

 

Artistas querem dar a sua ´própria versão dos fatos´

‘Aconteceu há duas semanas: Preta Gil recebeu um telefonema de uma repórter que queria publicar uma nota sobre o fato de ela ter recebido uma geladeira de presente de Reynaldo Gianecchini. A cantora/atriz não gostou. Com medo de que a informação fosse publicada de forma ´maldosa´, ela resolveu se antecipar e contar a história em seu blog. Criou até um concurso dentre os leitores para dar um nome ao refrigerador.

Muitos artistas vêem no blog uma forma de dar sua ´própria versão` sobre fatos de sua vida. ´Cria-se um paradoxo. Para se armar contra a cultura de celebridades, acabam abrindo ainda mais a sua intimidade nos blogs e alimentando esse mercado´, analisa Renata Gomes, pesquisadora de novas mídias e professora do Senac de SP.

Carolina Dieckmann é um bom exemplo. A atriz conseguiu na Justiça proibir o ´Pânico` de mostrar a sua imagem ou a de seus filhos. Enquanto isso, lançou um blog -que costuma ser um dos mais lidos do Bloglog- em que fala sobre sua vida pessoal e coloca até foto dos filhos e outros familiares.

´Não dá para compreender o que move esses artistas. É ingenuidade achar que você pode contar a versão verdadeira. É claro que isso não existe, muito menos em um blog de celebridades´, avalia a pesquisadora.

Após navegar por blogs do Bloglog, Renata afirma que eles parecem ´claramente uma sugestão do departamento de marketing da Globo´. ´Vi alguns que parecem realmente interessados em fazer o blog, como a Heloísa Perissé. Mas a Ana Maria Braga, por exemplo, que põe 30 fotos de uma entrevista que deu para a Fernanda Young, obviamente está usando só como marketing. O dia em que o Wagner Moura tiver um blog e puder dizer que acha que a novela está pouco criativa, aí sim será interessante.´

Mas para o jornalismo de fofoca já está ótimo: cada post é um flash!’

 

Bia Abramo

Blog é mais imaginativo que ´Duas Caras´

‘SE SE PUDESSE ler o blog que Aguinaldo Silva criou para defender ´Duas Caras` como ficção, teríamos uma obra mais interessante do que a novela que vem sendo exibida.

Vejamos: o autor-personagem do blog tem uma vida que é uma verdadeira loucura. Agredido na rua por petistas enfurecidas, achincalhado por correspondentes desaforados, ofendido por jornalistas inescrupulosos, pois não é que, ainda por cima, o céu lhe cai sobre a cabeça?

Tudo isso porque o tal escritor, outrora jornalista detentor de prêmios e estrela da imprensa alternativa, escreve uma novela que incomoda, ao que parece, os poderosos. No blog, a novela de sua autoria é incrivelmente corajosa, do tipo mata a cobra e mostra o pau. Além de oferecer a interpretação definitiva sobre a vida na favela, a obra deste autor -´fino, culto e educado´, adjetivos que, em sua infinita modéstia, se auto-atribui- teria a mais lúcida análise sobre as relações raciais no Brasil.

E isso tudo só seria possível por que essa espécie de gênio desafia, como ninguém mais teria peito de fazê-lo, a praga do politicamente correto, uma invenção diabólica que só serve para impedir que as pessoas igualmente finas, cultas e educadas como ele digam o que lhes vier à cabeça.

Mas, está claro, não se pode ler o blog dessa maneira, por mais que a vivacidade das diatribes de Aguinaldo Silva contra seus detratores sugira que há uma boa dose de exagero imaginativo naquilo que escreve. O blog é uma peça auxiliar poderosa no marketing de ´Duas Caras` -desde que estreou, não há um dia em que a novela e seu autor não estejam na mídia, por uma ou outra razão.

Enquanto isso, na novela, se há excesso, é de agenda: é preciso fazer a defesa do ensino superior privado, é preciso mostrar como figuras que antes estavam, digamos, na esquerda devem se curvar ao pragmatismo, é preciso desancar as ONGs, mostrar a dislexia etc. etc. Deve ser, de fato, exaustivo dar conta de todo esse programa de verdades a serem exibidas na novela e, depois, defendidas no blog -tão cansativo que talvez não sobre lá muito espaço para criar a história.

Tome-se a favela da Portelinha, por exemplo. No afã declarado de oferecer uma alternativa às representações mais sombrias e recentes da favela e de seus habitantes que vêm sobretudo do cinema, o autor criou um microcosmo risonho e franco, mas devidamente disciplinado por uma espécie de ´coronel` nordestino disfarçado de líder comunitário. Ora, o que faz Juvenal Antena, além de esbravejar e bufar capítulo após capítulo?’

 

CINEMA
Sérgio Dávila

´Quero fazer uma última cena de Seinfeld´

‘Jerry Seinfeld, o comediante, ganhou fama e fortuna (fala-se em US$ 500 milhões) ao levar para a TV sua rotina de humor, na qual observa de forma bem-humorada fatos corriqueiros -em esquetes que faz até hoje, em pequenos clubes de grandes cidades dos EUA.

´Seinfeld´, a série, mudou a maneira como os americanos faziam comédia de situação e pode ter sido o último grande exemplar de um gênero em crise ou já em extinção, cuja fórmula de três câmeras, uma platéia e o ´laughing track` (as risadas de fundo) foi primeiro popularizada nos anos 50. Ficou no ar de 1989 a 1998 e despediu-se num episódio visto por 75 milhões de pessoas.

Desde então, Seinfeld, 53, casou, teve três filhos, escreveu livros infantis e se viu ´obrigado` a fazer um longa de animação após inventar um argumento (uma abelha que decide processar a humanidade pelo uso indevido de mel) e um nome trocadilhesco (´Bee Movie´, filme da abelha, e também filme B) só para preencher um buraco num jantar sem assunto com Steven Spielberg. ´Bee Movie – A História de uma Abelha` estreou há três finais de semana nos EUA, já faturou US$ 90 milhões em bilheteria e chega ao Brasil dia 7/12. ´Yadda, yadda, yadda´, a Folha falou com Seinfeld na Cidade do México, na última segunda. Leia trechos a seguir.

FOLHA – Você já disse ser fã do tipo de rotina consagrado por Abott & Costello na comédia, o louco e o certinho que se completam. Em ´Seinfeld´, você era o certinho, em torno do qual orbitavam três loucos.

JERRY SEINFELD – Exato. O que não faz nenhum sentido, percebe, porque interpreto um comediante e os outros são teoricamente pessoas normais levando vidas normais.

FOLHA – Em ´Bee Movie´, porém, é o oposto: Barry B. Benson, seu personagem, é o ousado, que quer deixar a colméia e conhecer o mundo, e seu amigo [Matthew Broderick] é o careta, que tenta dissuadi-lo. É seu momento Kramer?

SEINFELD – Não sei se Barry é tão maluco quanto Kramer… Talvez um pouco, sim. Não sei, pareceu a maneira certa de conduzir a história. [Pensativo] Gozado, não tinha percebido isso, realmente eu sou o mais louco da história…

FOLHA – Você leu o artigo no ´New York Times` de uma bióloga dizendo que o mundo das abelhas é muito mais ´proibido para menores´, mais sexual que o do filme?

SEINFELD – [Risos] Li. Mas isso não me incomoda, cientistas falando que não agi corretamente. Por onde começar? O personagem principal é uma abelha e tem olhos azuis! Nós tiramos duas pernas dele, porque estavam atrapalhando. Ele usa uma malha. Anda de tênis. Por que não começar pela incorreção científica dos tênis?

FOLHA – O que ´Seinfeld` foi para a comédia de situação de TV já foi comparado ao que os Beatles foram para a música pop. Nesse sentido, você seria o McCartney da dupla de criadores, com o humor brilhantemente cotidiano, e Larry David o Lennon, mais ousado. Concorda?

SEINFELD – Nunca nos compararia aos Beatles, mas fico lisonjeado que tenham feito isso. Os Beatles são das melhores coisas que o ser humano já fez. Dito isso, você não estaria totalmente enganado na analogia das duplas. Principalmente na nossa habilidade em trabalhar juntos, como era a relação de Lennon e McCartney. Havia uma química, a combinação de duas perspectivas criativas.

FOLHA – E o fim é definitivo?

SEINFELD – Sim. Mas penso em fazer uma última cena.

FOLHA – Só uma cena?

SEINFELD – Uma cena, não um episódio nem uma temporada. O problema é que teria de ser agora, para aproveitar o lançamento da última temporada em DVD. Mas estou muito ocupado promovendo o filme.

FOLHA – Vocês se reuniram pela primeira vez em nove anos para a mesa-redonda que está no DVD extra da caixa completa. Como foi?

SEINFELD – Assim que nós cinco sentamos juntos de novo, tivemos a sensação de antes. Como se fosse aquele pequeno conjunto perfeito, em que todos têm seu próprio instrumento, que combina perfeitamente com o dos outros. Assim que sentamos, começamos a falar: ´Quero gravar um episódio agora´, ´Vamos fazer de novo´, alguém pegou papel e caneta e começou a escrever o roteiro…

FOLHA – Você já disse ser contra a chamada ´TV reunion´, em que o elenco de uma série se reúne anos depois para mais uma temporada ou um especial. Continua contra?

SEINFELD – Geralmente, é triste. É melhor deixar quieto. Para usar sua analogia dos Beatles, muita gente quis que eles voltassem para mais um álbum, mais um show, ou algo assim, e acho que somos mais felizes porque eles nunca fizeram isso. Vi grupos cômicos se reunirem anos depois e tentarem fazer o mesmo que faziam, mas o tempo passou, a sensação é outra, eles estão mais velhos, não é mais tão engraçado. Se houve um momento especial, é melhor mantê-lo especial.

FOLHA – Você é religioso? Já flertou com a cientologia…

SEINFELD – Isso foi há 35 anos. Mas já tive interesse em budismo, em meditação transcendental, como os Beatles [risos], sou judeu. Acho que uma boa filosofia de vida é tirar pequenas coisas de várias filosofias diferentes e construir sua própria perspectiva. Foi o que fiz. Criei minha própria maneira de viver a vida.

FOLHA – O que aconteceu no programa do Larry King [o comediante reagiu irritado quando o apresentador sugeriu que a série foi cancelada]? Você perdeu a cabeça?

SEINFELD – Ele esqueceu que meu programa não foi cancelado, e eu, é claro, usei a oportunidade para gozar dele.

FOLHA – Você parecia ofendido.

SEINFELD – Não, esse é meu trabalho, gozar da cara das pessoas. Larry é como um membro da família, um tio, quando você tem um jantar de família e um dos parentes mais velhos diz algo errado e as crianças gritam para corrigi-lo. Foi isso.

FOLHA – Você vende a imagem de bom pai, marido e profissional, de alguém que sem um lado negro, o que é impossível. Qual é o seu?

SEINFELD – Todo o mundo tem um, nem que seja pequeno. Mas é impublicável.

O jornalista SÉRGIO DÁVILA viajou a convite da Paramount.’

 

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Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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