Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Folha de S. Paulo

FHC vs. LULA

Folha de S. Paulo

FHC cria polêmica gramatical e ira política

‘A frase do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que escorregou no português formal ao criticar indiretamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi considerada ‘politicamente incorreta’ pela professora de português Thaís Nicoleti. No 3º Congresso do PSDB, anteontem em Brasília, o ex-presidente disse que quer ‘brasileiros melhor educados, e não brasileiros liderados por gente que despreza a educação, a começar pela própria’.

Pela norma culta, o correto seria ‘mais bem educados’. ‘Rigorosamente, deve-se usar ‘mais bem’ antes de particípio. Porém, essa construção [‘melhor educado’] é considerada aceitável, ela está no limite entre a norma padrão e o desvio dela’, afirma Nicoleti.

Para a professora, o mais grave, no entanto, é o significado da frase do ex-presidente.

‘Todos sabem falar a sua própria língua. Não se pode usar a fragilidade da educação formal de uma pessoa para atacá-la. Como professora de português, nunca desmereço o discurso de alguém por sua forma de falar. Isso é politicamente incorreto ou no mínimo mesquinho.’

Nicoleti diz que, como a língua é dinâmica, o que foi considerado errado no passado pode ser aceito no presente. ‘Quem sabe, no futuro, as pessoas deixem de usar o ‘s’ [para designação do plural]. Possivelmente, quando Fernando Henrique freqüentou a escola ele aprendeu que o correto era apenas ‘mais bem’ educado.’

Por trás da discussão, a professora aponta haver certa condescendência com erros gramaticais de classes sociais mais altas. ‘Há registros típicos de classe mais baixa, como a falta de concordância nominal ou verbal. Nas classes mais altas, também há, como a colocação pronominal ou o uso de ‘melhor’ no lugar de ‘mais bem’. Essas, no entanto, são consideradas mais palatáveis.’

Política

O deputado Maurício Rands (PT-PE), que deve assumir a liderança da sigla na Câmara, diz que FHC ‘cobra perfeição gramatical dos outros e a sua própria frase revela um equívoco’. ‘Ele ressuscitou o preconceito e revelou excesso de vaidade porque não consegue disfarçar o ciúme do presidente Lula.’

‘Foi uma frase infeliz, preconceituosa e errada no tema. Ele tem uma dificuldade enorme em ser ex-presidente’, diz Henrique Fontana (PT-RS), indicado à liderança do governo.

O ex-ministro José Dirceu, em seu blog, diz que o PSDB perdeu a compostura. ‘Deram-se ao luxo da baixaria e do desrespeito pelos adversários e partiram para a ignorância.’

Para o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), FHC reagiu ao preconceito de que o PSDB é elitizado. ‘Mas o presidente Lula tem uma capacidade incrível de se fazer de vítima’. Sobre o aspecto gramatical da frase, disse que ‘discurso de palanque, com muito barulho, tem sempre o risco [de sair algo errado]’. Segundo Arthur Virgílio (PSDB-AM), líder no Senado, ‘grave é falar em terceiro mandato’.’

Pasquale Cipro Neto

‘Faça o que eu digo, mas não faça…’

‘No Congresso do PSDB, FHC disse que Lula não domina a língua. FHC quis dizer que Lula não domina a variedade padrão. Até aí, nenhuma novidade. O próprio Lula sabe disso e não nega essa ‘deficiência’. Nesta semana, diante de empresários alemães, Lula disse ‘os empresários espanhol’. Que os falsos defensores dos fracos e oprimidos não venham dizer que Lula apenas empregou a variedade de língua dominante no Brasil. Pura balela, já que a maioria dos brasileiros diria ‘os empresário espanhol’. A língua coloquial dispensa o plural redundante (no caso, a flexão da totalidade dos elementos que se referem ao substantivo).

E o tucanato? É sempre primoroso no uso do padrão formal? A julgar pelo ‘melhor educados’ de FHC… A coisa não é tão simples. Na língua literária, não faltam registros de ‘melhor’ como modificador de particípio. O ‘Aurélio’ arrola exemplos de clássicos da literatura. O ‘Houaiss’ diz que, ‘diante de um particípio, é vernáculo empregar mais bem’.

Quando o particípio tem duas sílabas, não se ouve nem se lê algo como ‘O jogador melhor pago’. Quando tem mais de duas sílabas, a oscilação é patente: ora se ouve/lê ‘A equipe mais bem treinada’, ora se ouve/lê ‘A equipe melhor treinada’. A língua formal moderna parece preferir a primeira construção, em que se entende o ‘mais’ como modificador de todo o bloco ‘bem + particípio’ (‘O atleta mais bem remunerado’). FHC teria feito melhor se tivesse optado por ‘mais bem educados’.

Talvez fosse o caso de perguntar se cabe um hífen em ‘bem educados’. Depende. Com hífen, tem-se um sinônimo de ‘que tem bons modos’ etc. Sem hífen, julga-se o modo como as pessoas são educadas. ‘Mais bem educados’ significa ‘educados de modo mais eficiente’; ‘mais bem-educados’ significa ‘mais gentis’. Que terá querido dizer FHC? Talvez nem ele nem Lula saibam responder… É isso.’

CASO CALHEIROS

Mônica Bergamo

Eu vi o Renan chorar

‘Mônica Veloso lança, na próxima quarta, o livro ‘O Poder que Seduz’, em que conta sua versão da história de amor com Renan Calheiros – e diz que ‘a beleza venceu a feiúra’. A coluna antecipa os principais trechos.

‘Música, perfume e um certo torpor. Champanhe na mão, conversávamos e sorríamos após o jantar [na casa do senador Ney Suassuna]. Havíamos brindado por mais um ano, o intenso ano de 2002 (…) Cercado por jornalistas, o senador Eduardo Suplicy falava, empolgado, sobre o programa Renda Mínima e a indicação de Henrique Meirelles para a presidência do Banco Central. Mais um pouco, o próprio Meirelles chegou (…) O vento agitando as cortinas, o barulho de cristais e porcelanas como rumores longínquos vindos da sala. Era como se fôssemos as únicas pessoas no mundo.’

‘Naquele momento, o senador Renan Calheiros olhou nos meus olhos e passou a dizer coisas que gostei de ouvir (…) Elogiou meus traços, a pele sempre bronzeada e os cabelos longos. Depois, ao reparar que eu estava sem aliança, perguntou se havia me separado, o que confirmei. Então, ele fez um ar de compreensão e respondeu que sabia o que eu estava sentindo, pois também estava se separando.’

‘[Num segundo encontro, num jantar, em fevereiro] Seus olhos brilharam quando me viu e, indiferente aos outros convidados, não os tirou mais de mim durante o jantar. Parecia uma criança, estava encantado, feliz. (…) Ele verbalizou sua liberdade de maneira clara, que não deixava a menor dúvida. Não usava aliança, não estava se comportando como alguém que se preocupa com uma outra relação. (…) Íamos a exposições, lançamentos de livros, restaurantes, jantares na casa de amigos, e aos almoços da bancada do PMDB às quartas-feiras. Depois passou a me levar ao Senado, onde eu era tratada com a maior deferência.’

Conheci um lobista de Minas que contava aos quatro ventos quais parlamentares estavam na sua folha de pagamentos.

‘Houve um momento, bem no começo da nossa relação, em que pensei em desistir (…) Renan era mais velho que eu e não tinha o gosto pela cultura, pelo cinema, que eu queria em um homem. Não era antenado com as coisas modernas, não vibrava com as novidades, as tendências, só falava sobre política (…) O celular tocou. Era ele, radiante como uma criança por ter tomado café com o presidente (…).’

‘No mundo pode haver milhões de rosas, mas para o Renan eu era uma rosa única, que ele tratava com devoção comovente. Fazia as mais belas declarações de amor, me ligava várias vezes durante a noite para contar seus passos, cantarolava ‘Eu Sei que Vou Te Amar’ ao telefone (…) Não sei se um dia ele admitirá isso, mas sei do quanto ele gostou de mim.’

‘Ele também fazia pequenas coisas para me agradar. No início da relação, por exemplo, estava meio gordinho, e por achar que perder peso seria importante para mim, o que não é, procurou um médico no Rio e começou a dieta da proteína. Em pouco tempo estava nove quilos mais magro.’

‘Como qualquer casal apaixonado, tínhamos nossos códigos, nossos momentos e nossas músicas(…) Nossa música marcante foi a do filme ‘Lisbela e o Prisioneiro’. Misturávamos as nossas vozes com a do Caetano e cantávamos, baixinho, olhando no fundo dos olhos do outro: ‘Agora, que faço eu da vida sem você? Você não me ensinou a te esquecer. Você só me ensinou a te querer, e te querendo eu vou tentando me encontrar…’.

‘[No Dia dos Namorados] Lembro-me que usava um vestido rosa-clarinho, decotado nas costas, e um creme que dava um tom dourado à pele. Invenções de mulher que adora uma novidade, ainda mais quando está apaixonada e querendo agradar o homem amado. Ele elogiou o vestido e ficou impressionado com os brilhinhos do creme, que grudavam no paletó de terno risca de giz azul-marinho que ele estreava naquela noite.’

‘Um de seus sonhos mais freqüentes era ir comigo para o Carnaval da Bahia. Não no camarote: queria ir no chão, no estilo sem lenço e sem documento. Totalmente largado.’

‘[Num jantar com amigos] também relembrou ao presidente Sarney minha participação na campanha da Roseana. Por fim, alegre, brincava: ‘Porque alguém tem que trabalhar nessa família’. Sim, não posso negar que eu sonhava construir uma família com o Renan. Ele me falava do sonho de ter uma menina (…) O Renan parecia ser o homem que eu sempre mereci.’

‘Alguns, depois de olhar bem para o meu rosto, perguntam: ‘Como uma mulher tão bonita como você pôde gostar de um homem tão feio como Renan?’ (…) Não sou tão linda e nem o Renan é tão feio. Depois, o que é mais importante: mulheres não gostam de homens somente pela beleza (…) Parece bobo, piegas, como uma adolescente falando, mas o fato é que amei o Renan loucamente, como jamais pensei ser capaz. Amei com a alma, com tudo que há de mais puro no meu ser.’

‘[Em dezembro de 2003] descobri que estava grávida, carregava no ventre o resultado de meu amor com Renan.’

‘Quando contei sobre a gravidez, ele entrou em pânico. Dizia ser impossível. Afinal, argumentou, não éramos mais crianças. Fiquei muito triste com a sua reação. Pela primeira vez, percebi que o amor era lindo, mas a política, para ele, era tudo.’

‘Eu não acreditava que o homem que eu amava, que de tão meigo comigo passei a chamar de ‘docinho’, agia daquela forma (…) Ele sumiu por 20 dias. Não o procurei. Passou Natal, Réveillon e nada do Renan.’

Na primeira foto em que apareceu o bumbum, o [fotógrafo] Duran vibrou com aquela visão de borboletas e flores em uma região tão íntima.

A maioria das mulheres pensa no vermelho. Pois eu prefiro a lingerie preta, branca ou bege.

‘O celular tocou (…) [era] Renan, bem humorado, me chamando de doutora Mônica (…) [disse] que me amava demais e que encontraríamos uma forma de administrar a novidade e a vinda de uma filha, sim, porque ele tinha certeza de que a menininha que tanto sonhou, enfim, estava a caminho.’

‘Ele prometeu que depois da campanha do desarmamento se ‘organizaria’, o que em bom português queria dizer que se separaria para ficarmos juntos’

‘Decidimos, então, que eu me mudaria para uma casa alugada no Lago Norte, e lá vivi como reclusa, preocupada em esconder minha gravidez.’

‘[Uma colunista do ‘Jornal de Brasília’, do Distrito Federal] deu uma nota dizendo que eu estava grávida e a criança era filha do senador Renan Calheiros (…) Pediram-me para redigir uma nota, de próprio punho, negando que o filho fosse do Renan. Escrevi, chorando (…) quando ficamos sozinhos, pela primeira vez vi o Renan chorar.’

‘Então, para me precaver, apenas para o caso de ele se recusar a admitir a paternidade, gravei algumas conversas que tivemos durante a gravidez (…) Nunca usei os diálogos para nada, muito menos para fazer chantagem, como insinuaram.’

‘Continuamos nos relacionando. Ainda havia amor entre mim e Renan, sim, mas o encanto tinha acabado. Desde o final de 2003 eu sabia que ele, ao contrário do que me dizia, mantinha uma relação conjugal estável (…).’

‘Em dezembro de 2005, com o fim do nosso relacionamento, o Renan passou a pagar a pensão, via doc, a partir do Senado [antes disso, os recursos eram entregues a Mônica em dinheiro vivo, pelo lobista Cláudio Gontijo], mas reduziu o valor de R$ 8 mil para R$ 3 mil. Acho que qualquer pessoa que tenha uma pensão reduzida em 67% brigará pelos seus direitos, até porque não eram meus, mas de sua filha (…) Renan se mostrava inflexível e isso impedia um acordo. No final de 2006, decidi entrar com um pedido de revisão de pensão.’

‘Não creio que a humilhação do senador tenha sido maior do que a de uma mulher que carregou uma filha na barriga e teve de se esconder, como se fosse uma criminosa.’

‘O convite da ‘Playboy’ podia ser encarado como um bálsamo em meio a tanto sofrimento. Minha auto-estima estava massacrada (…) Nunca me imaginei saindo na capa de uma revista masculina. Mas quando isso acontece, mexe com a sua cabeça, causa um certo torpor.’

‘A maioria das mulheres que pensa em roupa íntima e sensual pensa no vermelho. Pois eu prefiro a lingerie preta, branca ou bege. Por outro lado, um belo jeans, com uma camiseta branca, dependendo do sutiã de rendas que estiver por baixo, é extremamente charmoso e eu diria até provocante’

‘Nunca imaginei que diria isso, mas a verdade é que tive orgulho de fazer a ‘Playboy’(…) A beleza venceu a feiúra, a alegria esmagou a tristeza, o aconchego superou a indiferença.’’

PUBLICIDADE ESTATAL

Andréa Michael e Angela Pinho

Governo Lula reduz em 24% gastos publicitários em 2007

‘O governo federal reduziu em 24% os gastos com publicidade em 2007, em relação ao ano passado. Até o final de dezembro, segundo estimativa da Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência da República), serão investidos R$ 966,32 milhões, contra R$ 1,27 bilhão desembolsados em 2006 -ano da reeleição.

Desde o início da gestão petista, em 2003, este é o primeiro ano em que se registra queda nos gastos com publicidade do governo federal -item que vinha em trajetória ascendente.

Os valores dos contratos renovados ou licitados em 2007, contudo, registraram aumento -embora o governo diga que eles não serão realizados integralmente neste ano.

Para um período de 12 meses de prestação de serviços -entre 2007 e 2008- houve autorização para gastar R$ 1,36 bilhão em campanhas publicitárias, conforme consulta feita pela Folha a 78 órgãos da administração pública federal direta e indireta.

Para serviços de assessoria de imprensa, comunicação e relações públicas, as repartições pesquisadas informaram que estão autorizadas a gastar outros R$ 21,4 milhões até 2008. Se forem incluídos na conta os gastos com patrocínios oficiais e com a publicidade legal (divulgação de balanços e editais), a conta aumenta para R$ 1,65 bilhão, mas o número não é comparável com a série histórica da Secom.

Para financiar atletas, projetos de ONGs, programas e eventos culturais, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Correios e Petrobras investem, juntas, R$ 583,75 milhões em 2007. Em relação à publicidade legal, a Radiobrás informou que, até o dia 23 de novembro, a despesa ficou em R$ 100,23 milhões.

A principal explicação para a redução dos gastos de campanhas publicitárias foi a determinação, na Lei de Diretrizes Orçamentárias, de um corte de 10% neste tipo de despesa, segundo José Otaviano Pereira, secretário de Comunicação Integrada da Secom.

Também causou impacto no resultado o fato da estatal Correios não ter investido nada em publicidade ao longo de 2007. A disposição da empresa é firmar um contrato de R$ 90 milhões. O edital foi publicado em fevereiro deste ano, mas o processo licitatório acabou suspenso pelo 1º Tribunal Regional Federal após reclamações de agências que entraram na concorrência.

Banco do Brasil

Some-se a isso o emagrecimento da conta publicitária do Banco do Brasil, que passou de R$ 275 milhões gastos em 2006 para R$ 179,86 milhões para este ano investidos até setembro.

A maior verba publicitária da administração direta é a da Secom, que vai despender R$ 150 milhões em campanhas de interesse institucional. A abertura das propostas para a renovação do contrato em curso, de mesmo valor, está marcada para o dia 17 de dezembro.

Ao longo de 2007, a campanha mais expressiva da Secom foi a ‘Mais Brasil para mais brasileiros’. A um custo de R$ 38 milhões, seu alvo foi ampliar o conhecimento da sociedade sobre os programas e as políticas públicas do governo.

Depois da Secom, o ministério com maior orçamento para a publicidade é o da Saúde -R$ 95 milhões. A maior campanha realidade neste ano foi sobre a dengue, com investimento de R$ 8 milhões.

Em segundo lugar vem o Ministério do Turismo, com autorização para gastar R$ 40 milhões.

Terceiro colocado, o Ministério da Educação abriu licitação para firmar um contrato de R$ 18 milhões para 12 meses. É mais que o dobro do que foi gasto neste ano -R$ 8,8 milhões.

Na administração indireta, a vencedora no quesito maior contrato e maior investimento em patrocínio é a Petrobras.

A estatal abriu neste ano licitação para a contratação de três agências, no valor de R$ 250 milhões. O investimento em patrocínio ficou em R$ 348 milhões.

Fiscalização

A publicidade do governo federal foi alvo de uma auditoria do TCU (Tribunal de Contas da União) após a CPI dos Correios. A análise apontou prejuízos de R$ 106 milhões aos cofres públicos. Também listou 19 irregularidades nos contratos, como pagamento de serviços não executados, contratação de serviços com propostas fraudulentas e despesas acima dos limites orçamentários. O processo está em fase de recurso.’

VENEZUELA

Fabiano Maisonnave

Mídia venezuelana cobre mal referendo

‘Um levantamento sobre o comportamento das polarizadas TVs e rádios venezuelanas mostra que os eleitores do país continuam sendo mal informados sobre aprovar ou não mudanças em 69 dos 350 artigos da atual Constituição, em referendo no próximo domingo.

Mas o estudo aponta duas novidades em relação a campanhas passadas: a cobertura mais equilibrada dos meios privados com maior audiência e o aumento do alcance da parcializada imprensa estatal.

As conclusões são do Grupo de Monitoramento dos Meios 2007 (GMM), um projeto das universidade de Gotemburgo (Suécia) e Católica Andrés Bello, de Caracas (Ucab), com financiamento dos governos sueco e norueguês. O objetivo é monitorar a cobertura do referendo durante três semanas.

‘A polarização dos meios não é algo novo, mas houve algumas mudanças. Uma delas é que desapareceu o sinal da RCTV’, disse à Folha Andrés Cañizález, do Centro de Investigação de Comunicação da Ucab. De forte oposição ao governo a emissora não teve a concessão renovada por Hugo Chávez, sob a justificativa de que participou do frustrado golpe de abril de 2002.

No lugar, opera a estatal Tves (2% da audiência nacional), que tem cobertura nacional graças ao confisco da RCTV, hoje operando apenas por cabo, bem mais restritivo.

A nova emissora também foi a mais parcializada no levantamento da segunda semana (dos dias 12 a 18), antecipado à Folha e que será formalmente apresentado amanhã: todas as cem notícias veiculadas pela Tves foram favoráveis ao governo (campanha pelo ‘sim’).

‘É bastante evidente que os canais governamentais continuam com sua contribuição à polarização midiática’, escreve o pesquisador norueguês Stein Gronsund, no relatório da segunda semana. ‘Sobre a Tves não tenho comentários, pior não pode ser. A VTV (10% da audiência nacional) eliminou a oposição de seu noticiário, mas tem aumentado sua cobertura neutra.’

Para Luisana Colomine, decana de comunicação social da Universidade Bolivariana da Venezuela (UBV), a mídia estatal age de forma ‘reativa’ por causa da desinformação promovida pelos meios privados.

‘A cobertura dos meios privados continua com a mesma tendência informativa desde que Chávez é presidente. Isto é, se comportam como um ator político, como o Bloco do Não’, e produzem propaganda que não é o conteúdo da reforma.’

Mais equilíbrio

A boa notícia do GMM fica por conta do maior equilíbrio informativo de quatro meios privados, entre os quais os canais Venevisión, líder de audiência (45% na última semana), pertencente ao magnata Gustavo Cisneros.

‘Há uma tentativa dos canais Venevisión e Televen (18% da audiência) de ter um pouco mais de equilíbrio. Nas eleições presidenciais de dezembro, o monitoramento feito pela União Européia mostrou que essas duas estavam muito mais favoráveis ao governo’, diz Cañizález, que elogia também o recém-criado canal I e a Unión Radio.

Assim como a Globovisión e a RCTV, a Venevisión e a Televen tiveram participação ativa no golpe de abril de 2002, que afastou Chávez por dois dias do poder. Depois de 2004, os dois canais passaram a fazer uma cobertura mais pró-governo, sobretudo na reeleição de Chávez, no ano passado.

Para Cañizález, RCTV (3% da audiência) e Globovisión (4%), continuam extremamente parciais, o levantamento mostra uma uma tentativa incipiente de fazer uma cobertura mais equilibrada, tendência que não aparece nos meios do Estado.

Colomine concorda que há mais equilíbrio nos meios privados indicados pela pesquisa, mas afirma que o comportamento inalterado da RCTV e da Globovisión justificam a estratégia governista.

Chávez perde frente

Pesquisa divulgada ontem pelo respeitado instituto Datanálisis revela que, pela primeira vez, Chávez perderia o referendo de domingo.

Segundo o levantamento, 49% dos eleitores que disseram que comparecerão às urnas (o voto não é obrigatório na Venezuela) rechaçam a reforma constitucional, contra 39% que votariam pelo ‘sim’. A margem de erro é de 2,3 pontos percentuais em ambas as direções.

Para o diretor do Datanálisis Luis Vicente León, isso não significa que a derrota de Chávez seja iminente, dada a sua maior capacidade de mobilização.

Durante os quase nove anos de governo, o presidente venezuelano ganhou nove eleições.’

INTERNET

Bruna Bittencourt

Videoteca na rede

‘Foi-se o tempo em que o YouTube reinava absoluto na internet. Os sites de vídeos se multiplicaram e não demoraram a se especializar. Hoje, você não precisa mais se perder entre os milhões de links do YouTube para achar um vídeo sobre um assunto específico ou ao menos relevante.

Quer assistir a trailers e filmes de Bollywood? Visite o Bolly Vídeos. Prefere aprender receitas sobre a culinária tailandesa? Acesse o Wine and Food Tube. Com uma estrutura similar aos sites de relacionamento -como reza a cartilha do YouTube-, sites de vídeos se especializaram nos mais variados assuntos, da religião ao sexo, do esporte a ciência.

Criado pelo ator Will Ferrell e por Adam McKay, ex-roteirista do ‘Saturday Night Live’, o Funny or Die dedica-se exclusivamente a vídeos humorísticos. Seu rebento mais famoso, ‘The Landlord’, foi assistido a mais de 48 milhões de vezes e traz Ferrell sendo cobrado por seu senhorio -uma criança de dois anos, interpretada pela filha do ator, que grita, como um adulto, pelo seu aluguel atrasado. ‘Na internet você pode fazer coisas que não faria em nenhum outro lugar, como nosso senhorio de dois anos. Ele nunca funcionaria em um filme’, disse McKay à revista ‘Wired’.

Diferentemente do YouTube, só ficam no Funny or Die os mais bem votados pela audiência do site, classificados como ‘imortais’. Bill Murray e Danny DeVito são alguns dos atores que atuam nos vídeos, entre outros protagonizados por amadores.

A comédia vem ocupando uma larga fatia dos sites de vídeos especializados. Produzido pela TBS Networks, que detém a CNN e o Cartoon Network, o Super Deluxe tem uma programação focada em revelar novos comediantes, com ‘qualidade de TV’.

Nicho

‘A segmentação é natural. Os sites procuram uma maneira de se destacar dos concorrentes’, diz à Folha Hiro Kozaka, do Videorama, que faz uma seleção bem-humorada dos vídeos que circulam pela web no blog. ‘O mesmo aconteceu na televisão: os canais a cabo supriram uma demanda de conteúdo específico que as emissoras da TV aberta não ofereciam. Quem imaginaria que um canal como o Discovery ou o Cartoon faria tanto sucesso?’

Tiago Dória, dono do blog homônimo sobre novidades na internet e consultor de projetos na web, completa: ‘Os segmentados começaram a fazer sucesso porque atendem nichos pouco explorados por sites maiores. O Porn Tube, por exemplo, agrega um conteúdo que o YouTube rejeita: a pornografia’.

Veterano entre os endereços de vídeo especializados, o PornTube é um dos sites mais visitados do segmento, ao lado do YouPorn.

Na outra ponta, o GodTube reúne vídeos de sermões e ensinamentos da Bíblia sob o slogan ‘Broadcast Him’ (transmita-O). ‘Sites como esse são também uma forma de conquistar audiência e anunciantes mais focados’, diz Dória. ‘Milhares de vídeos são publicados no YouTube diariamente. Muitos sites têm o papel de selecionar esse conteúdo massivo’, completa Hiro.

Kubrick repaginado

O Trailer Mash dá ainda nova roupagem a outros vídeos: reúne trailers que mudam o contexto original de filmes, como a famosa versão de ‘O Iluminado’ que transformou o suspense de Stanley Kubrick em uma comédia à la ‘Sessão da Tarde’, além de mash ups (trechos de dois filmes diferentes, como ‘Goonies’ e ‘Piratas do Caribe’, que, novamente editados, criam o trailer de um terceiro).

Mas nem tudo é entretenimento. Com vídeos instrutivos, da neurologia à psiquiatria, o Medical Video Repository é dirigido a estudantes de medicina e médicos formados.

Outro exemplo é o 5 Minutes, com vídeos que ensinam ao internauta as mais diferentes empreitadas -até mesmo o passo ‘moonwalking’ de Michael Jackson. ‘Essa segmentação só comprova que o YouTube foi apenas o começo. Ele é uma espécie de Napster dos sites de vídeos’, diz Dória, em uma comparação com o site pioneiro de troca de arquivos.’

***

Brasileiros erram ao mirar o YouTube

‘‘Temos poucos sites de vídeos de destaque no Brasil’, diz o consultor Tiago Dória. ‘A maioria ainda quer reinventar a roda tentando tornar-se um novo YouTube’, conta.

Sites de vídeos sobre futebol, humor e de temática gospel são maioria na internet brasileira, mas com um formato ainda muito precário e pouco convidativo.

Para Dória, o que melhor consegue trabalhar com a segmentação de conteúdo é o Videolog (www.videolog.tv), um site de hospedagem e compartilhamento de vídeos. ‘São vídeos quase exclusivos, que não estão no YouTube nem em outro site’, comenta. ‘O Videolog conseguiu isso pois se preocupou em desenvolver uma comunidade de usuários e produção de conteúdo próprio.’

Dória também chama a atenção para o WeShow (www.weshow.com.br), um agregador de vídeos, com mais de 150 canais temáticos para o internauta selecionar o conteúdo que quer assistir.

‘Ele faz um ótimo papel editorial em segmentar conteúdo’, diz Hiro Kozaka, do blog Videorama.

Um dos pioneiros na especialização de vídeos na internet brasileira, o Porta-Curtas (www.portacurtas.com.br) reúne curtas nacionais, como o nome adianta. De ‘Ilha das Flores’ (Jorge Furtado) aos últimos lançamentos do formato, é possível assistir a quase 600 títulos, apoiado pela Lei de Incentivo Fiscal e patrocinado pela Petrobras.

Hiro acredita que a forte relação que o brasileiro tem com a televisão esteja migrando para a internet. ‘Acrescente a isso o fato de que hoje temos quase 7 milhões de usuários de banda larga no Brasil. Com as ferramentas de criação e os canais de distribuição e disponibilização de vídeos, o brasileiro passa de audiência passiva a produtor de conteúdo’, diz. ‘Vários vídeos virais criados por brasileiros, como o ‘Sanduiche-iche-iche’, da Ruth Lemos e ‘As Árvores Somos Nozes’, já são clássicos.’’

MÍDIA & HISTÓRIA

Isabel Lustosa

O rei da mídia

‘A partida da corte portuguesa para o Brasil foi notícia na ‘Gazeta Oficial de Londres’ de 19 de dezembro de 1807, com a publicação de carta enviada em 29 de novembro pelo lorde Strangford, do navio Hibernia, que escoltava a família real. Segundo Strangford -representante de seu governo junto à corte de Lisboa-, aquele desfecho fora resultado da política de constante moderação adotada pelo Reino Unido.

No entanto, depois do decreto de 8 de novembro de 1807 que determinava a prisão e o seqüestro dos bens dos súditos do Reino Unido, ele deixara Lisboa e fora se juntar à esquadra comandada pelo Almirante Sidney Smith, ao qual sugeriu o bloqueio total e imediato da entrada do Tejo.

Segundo essa versão, no dia 27, Strangford fora ao encontro de dom João e lhe dera um ultimato: ou entregava a esquadra portuguesa, ou fazia uso dela para partir com toda a sua família para o Brasil. Diante disso, no dia 28, dom João mandara publicar o decreto anunciando sua intenção de se retirar para o Rio de Janeiro.

Poucos meses depois dessa publicação, circulou em Londres um folheto intitulado ‘Causas e Conseqüências da Recente Imigração para o Brasil’, em que o autor, Ralph Rylance, insulta os portugueses e dá como prova da deslealdade daquele povo o fato de o príncipe regente ter fechado seus portos aos britânicos por influência da França.

Outro lado Para reforçar seu argumento, Rylance lembra que a proclamação do príncipe regente anunciando a partida é do dia 26 e que Strangford só viu dom João no dia 27. Na opinião de Hipólito da Costa -que analisou os dois textos ao longo dos primeiros números de seu ‘Correio Braziliense’ (1808-1822)-, isso demonstra que a resolução da retirada do príncipe nasceu dos conselhos de sua própria corte e que o mérito de Strangford foi, portanto, menor do que ele reivindicara.

Além da penosa conferência com Strangford, dom João teve também de ouvir de Sidney Smith que, caso insistisse em romper com a poderosa aliada, corria o risco de perder suas possessões coloniais.

Não interessava ao Reino Unido administrar a colônia portuguesa na América, sendo-lhe mais proveitoso reproduzir aqui a velha relação simbiótica que tinha com Portugal, com a vantagem de não mais pagar os elevados impostos pelas mercadorias brasileiras na alfândega de Lisboa.

A 25 de maio de 1808, logo que se teve notícia da abertura dos portos brasileiros, as gazetas londrinas publicaram anúncio convocando aqueles que tinham interesse em negociar com o Brasil. No dia 29 de junho de 1808, na Taverna da Cidade de Londres, foi fundada a Sociedade de Negociantes Ingleses Que Traficam Para o Brasil, com 113 sócios.

A partida de dom João e sua corte era matéria controversa e mereceria tratamento diferente de acordo com o ponto de vista. O ‘Moniteur’, que se publicava em Paris, noticiava em 7 de julho de 1808 a ‘favorável recepção’ que Bonaparte dera a uma comissão de nobres e eclesiásticos portugueses que tinham ido saudá-lo em Bayonne, no mês de abril.

Um dos membros daquela comissão, em carta datada de 27 daquele mês, conta, entre outras coisas, que Napoleão ‘falou-nos com algum desgosto, mas sem grande calor, do príncipe que nos governou e de sua real família’.

Em Portugal, um suplemento extraordinário à ‘Gazeta de Lisboa’ publicado em 5 de fevereiro de 1808 trazia mensagem de Junot aos habitantes do país onde dizia: ‘O príncipe do Brasil abandonando Portugal renunciou a todos os seus direitos à soberania deste reino. A casa de Bragança acabou de reinar em Portugal’.

Brindes à família real

Os espanhóis experimentavam suas próprias turbulências, com o rei Carlos 4º, pai de Carlota Joaquina, tendo sido obrigado a renunciar em favor do filho, Fernando 7º, e este, por sua vez, a renunciar em favor de José Bonaparte.

Ambos se encontravam na França, como hóspedes compulsórios do imperador. A rebelião dos espanhóis contra os franceses provocou a organização de um governo provisório em Sevilha. Dali, a Junta Suprema do Povo da Espanha, em 30/5/1808, enviou mensagem ao povo de Portugal: ‘Os vossos príncipes foram obrigados a deixar-vos e os acontecimentos da Espanha são uma prova irrefragável da absoluta necessidade daquela medida’.

Como se pode ver, se as razões e a forma pelas quais dom João optou por se mudar para estes seus domínios na América ainda hoje são motivo de controvérsia, em seu tempo o assunto já mobilizava a imprensa. No entanto prova do prestígio de que então gozava o príncipe regente foi o jantar promovido em Londres por ocasião de seu primeiro aniversário no Brasil.

Conforme foi registrado pela ‘Gazeta de Londres’ de 14 de maio de 1808, foram feitos brindes à família real, aos compatriotas que sofriam sob o despotismo francês e até à memória de Pedro Álvares Cabral.

A festa culminou com o grupo cantando uma versão em português de ‘God Save the King’ [Deus Salve o Rei] que dizia: ‘Deus guarde o nosso Rei,/ Sua vontade é lei,/ (…) Viva em nós respeitado/ Desde o Tejo dourado,/ té o pólo gelado/ o nosso Rei’.

ISABEL LUSTOSA é historiadora, autora de ‘Insultos Impressos – A Guerra dos Jornalistas na Independência’ (Cia. das Letras).’

TELEVISÃO

Daniel Castro

Ministério abre processo contra dança erótica na Globo

‘As cenas em que Flávia Alessandra dançou quase nua numa boate atraíram as atenções para a novela ‘Duas Caras’.

Mas isso poderá custar caro à Globo: na última quinta-feira, o Ministério da Justiça instaurou um processo interno que poderá resultar na reclassificação da novela como imprópria para menores de 14 anos, inadequada para antes das 21h.

‘Duas Caras’ já é exibida às 21h. Uma eventual reclassificação não trará problemas no Sudeste e no Sul. No entanto, no Nordeste (onde não há horário de verão) e em quase todo o Norte (onde há a defasagem de pelo menos uma hora em relação a Brasília) uma reclassificação significa problema.

A partir de janeiro, as emissoras do Norte e do Nordeste serão obrigadas a cumprir a classificação indicativa de acordo com o fuso horário local. Ou seja, se ‘Duas Caras’ for reclassificada para as 21h, não poderá mais entrar no ar às 20h locais.

Foi pensando nisso que a Globo autoclassificou a novela como imprópria para menores de 12 anos, inadequada para antes das 20h. Assim, apesar de só ser transmitida no Sudeste às 21h, a produção não descumpre a classificação no Nordeste, onde está sendo exibida às 20h.

Nesta semana, o Ministério da Justiça divulgará o resultado da análise das cenas de Flávia Alessandra. Pelo manual do ministério, as imagens podem ser consideradas inadequadas até para antes das 22h. A Globo e o autor Aguinaldo Silva não comentaram o assunto.

ARRETADA

Aos 15 anos, a ‘paraibaníssima’ Mayana Neiva (foto) arrumou as malas e foi estudar nos EUA. Lá, fez o colegial e se formou em teatro pela Universidade de São Francisco. Hoje, aos 24 anos, ela se prepara para seu segundo trabalho na Globo: será Carina, namorada do protagonista Dan Stulbach em ‘Queridos Amigos’, próxima minissérie da emissora. Mayana estreou na TV em ‘A Pedra do Reino’, na qual interpretou uma onça e uma ‘princesa nórdico-sertaneja’. ‘Mas eu sou do teatro. Fiz ‘Os Sertões’ e ‘Querô’, avisa.

GUERRA DOS POSTES

Apesar de visarem públicos distintos, as novelas ‘Duas Caras’ (Globo) e ‘Dance Dance Dance’ (Band) são rivais. Elas já disputavam o título de primeira novela em alta definição da TV brasileira -ambas estrearam em 1º de outubro. Agora, estão ‘brigando’ por causa da ‘pole dance’, como é chamada a dança erótica executada em uma barra vertical, geralmente por moças seminuas. A Band afirma que ‘Dance’ já explorava a ‘pole dance’ bem antes de Flávia Alessandra atiçar a audiência de ‘Duas Caras’. Amanhã, será a vez de a protagonista de ‘Dance’, Juliana Baroni, estrear no ‘poste’. A diferença é que na novela da Band as coreografias e figurinos são bem menos arrojados do que na Globo. Na trama de Aguinaldo Silva, Flávia Alessandra já apareceu ‘comportada’ como na foto à esquerda e usando sumários tapa-sexo. Nesta semana, ela ataca novamente. E com novo ‘figurino’.

O SEDUTOR

Luiz Fernando Guimarães será o protagonista de ‘Dicas de um Sedutor’, especial de fim de ano da Globo escrito e dirigido por José Lavigne. Santiago, seu personagem, dará conselhos amorosos a várias mulheres. Cláudia Abreu viverá uma de suas clientes. Roberta Rodrigues, a Heloísa de ‘Paraíso Tropical’, interpretará outra, que será casada com Serjão Loroza.

FUNIL

A produção de ‘Big Brother Brasil’ terminou na última quinta-feira o trabalho de análise das fitas de vídeo dos 45 mil inscritos para a oitava edição do programa. Até quarta-feira, serão definidos os 150 pré-selecionados, que passarão por entrevistas, ainda não marcadas.

Pergunta Indiscreta

FOLHA – Por que Ezequiel, seu personagem em ‘Duas Caras’, vê o ‘fantasma’ de Marconi Ferraço (Dalton Vigh)? Seria por que Ezequiel na verdade é uma reencarnação instantânea do Evaldo de ‘Paraíso Tropical’?

FLÁVIO BAURAQUI (ator) -Acho que o Ezequiel vê o fantasma do patrão porque tem um lado espiritual muito desenvolvido, apesar de negar isso. A fé do personagem é muito verdadeira, tanto que seu grande sonho é construir sua própria igreja evangélica, ao lado da colega Edivânia [Susana Ribeiro].’

Laura Mattos

Lobisomem da Record morde a Globo

‘Dias Gomes está se revirando no túmulo com ‘Caminhos do Coração’, a novela de mutantes da Record. E pode ser por inveja. Imagine o que o grande autor do realismo fantástico da TV brasileira faria com essa tecnologia que permite mostrar a transformação de um personagem em lobisomem…

Nos tempos de ‘Saramandaia’ (1976), a novela cheia de personagens esdrúxulos de Gomes, Ary Fontoura entrava num canto escuro, de onde, segundos depois, saía um lobisomem. É bem diferente do que acontece com Cássio Scapin, que interpreta um dos personagens que viram lobisomem em ‘Caminhos do Coração’.

A computação gráfica permite ao telespectador acompanhar passo a passo a transformação, como mostram as imagens no alto desta página, retiradas de um capítulo. Todas as características animais que surgem em seu corpo, dos dentes aos pêlos, são efeitos criados em computador.

E o público adora. Quando o bichão aparece, sobe o ibope. A novela, que estreou em agosto, não pegou logo de início, mas agora já incomoda a Globo -especialmente às quartas, dias de futebol, quando já chegou a ultrapassar a concorrente por minutos. Na média, ‘Caminhos’ começou com 13 pontos e agora bate em 17 (cada ponto equivale a 54,5 mil domicílios na Grande SP). Tudo gira em torno da clínica Progenese, que em segredo realizou mutações genéticas em bebês.

O responsável por convencer a Record e o espectador a acreditar em mutantes -além do lobisomem, tem menina de asas, vidente, um que desvia de balas em tiroteio e outros- é Tiago Santiago. Ex-Globo, ele escreveu o roteiro da primeira novela da nova fase da dramaturgia da Record, ‘A Escrava Isaura’ (2004/05), e assustou a Globo com sua segunda trama, ‘Prova de Amor’ (2005/06), que logrou um improvável empate com o ‘Jornal Nacional’.

Depois de ‘bombar’ com duas novelas ‘clones’ da Globo, veio com o projeto delirante dos mutantes. A sinopse foi apresentada à Record no momento em que a série norte-americana ‘Heroes’, de tema semelhante, conquistava milhares de fãs. Mas Santiago vira lobisomem se disserem que ele está ‘clonando’ o enlatado.

Influências

‘Estou querendo ser o mais original possível, e todo mundo diz que estou copiando alguém. Quando fiz a sinopse e escrevi o primeiro capítulo, nem tinha visto ‘Heroes’. Prefiro citar referências mitológicas’, disse.

Entre outras influências, menciona o próprio Dias Gomes, além de Monteiro Lobato, Agatha Christie, Hitchcock e histórias em quadrinhos. Também nega que a ilha misteriosa surgida nos capítulos recentes tenha alguma relação com a da série ‘Lost’. ‘Prefiro citar a ‘Ilha do Doutor Moreau’ [clássico da ficção científica, escrito em 1896 por H.G. Wells, no qual um cientista cria seres monstruosos].’

Nem o laboratório-prisão de ‘Caminhos’, jura Santiago, tem relação com a série. ‘Tem laboratório-prisão em ‘Lost’?’.

Para o crítico de cinema da Folha Cássio Starling Carlos, autor de ‘Em Tempo Real’, sobre séries americanas, a Record, que exibe a versão dublada de ‘Heroes’, está fazendo um ‘cross-media’ entre ‘Caminhos’ e a série, ou seja, usando um programa para promover o outro. ‘E a tendência é que as novelas incorporem o que as pessoas estão admirando em outros formatos’, diz.

O autor admite influência da linguagem dos seriados na trama, como o ritmo acelerado. ‘A série ‘Alias’ [sobre uma jovem agente da CIA], por exemplo, me influenciou, especialmente nos disfarces da Maria [Bianca Rinaldi, protagonista de ‘Caminhos’] e no clima de perseguição. Também estamos usando computação gráfica como os norte-americanos.’ E emenda com uma alfinetada: ‘Essa história de dizerem que a gente copia seriados americanos tem uma vantagem. Antes comparavam a gente com a Globo, agora é com Hollywood. Então, querida, está ótimo, estamos fazendo bem nosso trabalho’.

E, agora que os mutantes emplacaram, preparem-se para mais Hollywood tupiniquim. Santiago promete mais monstrengos, além de um ataque dos mutantes do mal, que fugirão da ilha para a cidade, à la ‘King Kong’ ou ‘Jurassic Park’.’

***

PAI DO DIRETOR EXPLODIU DONA REDONDA

‘Alexandre Avancini, diretor de ‘Caminhos do Coração’, tem muito mais condições para colocar no ar cenas como a de objetos quebrando com o poder da mente do que tinha seu pai, Walter Avancini (1935-2001), para realizar os delírios de Dias Gomes. Ele era o diretor de ‘Saramandaia’ (1976) e, com os poucos recursos da época, teve, por exemplo, que mostrar Dona Redonda (Wilza Carla) explodindo de tanto comer. Para ‘Caminhos’, a Record ampliou seu departamento de efeitos especiais, de dois profissionais para 18. O responsável é Marcelo Brandão, ex-global como Avancini.’

Bia Abramo

O locutor e o amor à pátria de chuteiras

‘‘O TORCEDOR está louco para se apaixonar de novo pela seleção brasileira’, dizia Galvão, com sua voz permanentemente embargada. O tom é aquele que todos conhecemos, entre a exortação de algo que deveríamos estar sentindo automaticamente toda vez que haja figurinhas de amarelo em campo (‘A Seleção está jogando, pessoal, temos de nos regozijar, mesmo que o jogo esteja feio e os uruguaios, justo eles, estejam jogando melhor’) e uma reprovação suave, paternal, diante do desânimo.

Tornou-se o mais novo bordão, repetido com cada vez mais veemência, à medida que o jogo se desenrolava e o goleiro fazia defesas cada vez mais difíceis. Enquanto os jogadores pipocavam no campo e a torcida-família reagia, com vaias e gritos, Galvão insistia em sua tese, pressupondo que ali havia um time que temos que amar automaticamente.

Para reforçar, no intervalo, somos relembrados das razões que devem nos levar a esse amor, por meio de imagens mágicas do passado, com a infernal dupla Pelé & Garrincha, ‘gênios da raça’ mostrados naquele preto-e-branco encantador, diante de zagueiros ainda verdadeira e ingenuamente abobalhados.

A reverência do preto-e-branco fala à nostalgia e ao mito; quase funciona. Pouco depois, somos de volta jogados à estridência das propagandas de cerveja, das ofertas de eletrodomésticos para a fúria de final de ano e, sim, às vaias da torcida, solenemente ignoradas pelo locutor. ‘Pipoqueiro! Pipoqueiro!’, gritava o estádio do Morumbi, não importa para quem, uma vez que se sucediam jogadas ruins e passes perdidos, enquanto Galvão fazia jornalismo seletivo, registrando ‘olas’ e aplausos e não considerando relevantes as manifestações de desagrado e de enfado dos torcedores. É um estranho amor este, obrigatório e que não suporta nenhum tipo de dissonância.

Era um jogo cansativo aquele que acontecia no campo, com estrelas do futebol internacional entre a apatia, a má fase e a simples falta de caráter, e o outro, emitido pelo locutor-símbolo do nacionalismo esportivo hiperbólico e deslocado.

O juiz contava os minutos, deixando passar ‘faltinhas’, no dizer do comentarista da arbitragem, e outras nem tão ‘inhas’ assim, enquanto que, do lado de cá do vídeo, uma dúvida-pânico ia se instalando: ‘Vamos nessa toada de amor compulsório à pátria de chuteiras até 2014?’.

De sensato, apenas Juan, que, ao sair do jogo, numa frase de genialidade espontânea, admitiu que o time, na ânsia de fazer o gol, tinha ‘corrido desgovernado’, franqueza que o jornalismo seletivo de Galvão não teve agilidade para ocultar.’

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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo

Revista Consultor Jurídico

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