Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Folha de S. Paulo


OPERAÇÃO SATIAGRAHA
Clóvis Rossi


Espetáculo sem pedagogia


‘OSAKA – Se já é difícil acompanhar, no Brasil, o prende-solta-prende de Daniel Dantas e demais famosos atingidos pela Operação Satiagraha, imagine do outro lado do mundo, com 12 horas de diferença horária (12 horas a mais aqui). Escrevo à noite (aqui), mas de manhã (aí) e, portanto, há um dia inteiro para que o banqueiro e seus companheiros sejam soltos ou presos, dependendo da situação em que amanheceram aí.


Essa diferença horária torna até engraçada a chiadeira de leitores que ora atacam a Justiça, ora a Polícia Federal, quando uma prende e a outra solta Dantas (ou vice-versa), porque, quando é minha hora de ler a chiadeira, ela já foi atropelada pela prisão ou pela liberação do indigitado. À chamada ‘espetacularização’ das ações da Polícia Federal corresponde a, digamos, ‘aceleração’ da Justiça, ainda mais que Dantas não tem direito a foro especial que lhe permitiria recorrer diretamente ao Supremo.


Bem feitas as contas, tudo no Brasil tende ao espetáculo, o que não é necessariamente ruim. Ruim mesmo é o fato de que o espetáculo termina nele mesmo, sem produzir efeitos pedagógicos.


No caso específico de Daniel Dantas, por exemplo, passou completamente batido o fato de que ele foi beneficiado por uma flagrante ilegalidade autorizada -e até estimulada pelo governo federal. Refiro-me à venda da BrT (Brasil Telecom) para a Oi (antiga Telemar).


Foi feita contra a lei, mas na certeza de que a lei seria modificada.


Dantas, diz a Folha, receberá mais de US$ 1 bilhão pelo negócio ilegal. Dessa bolada, já faturou R$ 139 milhões, devidamente transferidos (também ilegalmente) para o exterior.


Para o meu gosto, ‘espetáculo’ mesmo seria, primeiro, o governo ser o principal guardião da lei, vetando e não estimulando negócios ilegais; segundo, pegar o dinheiro de volta. É mais pedagógico.’


Folha de S. Paulo

Relatório aponta lobby em fusão de teles


‘No relatório da Operação Satiagraha, a Polícia Federal afirma que o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, quatro vezes eleito deputado federal (1987-2007) pelo PT, fez ‘tráfico de influência’ e ‘lobby’ com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, em torno da venda da companhia telefônica Brasil Telecom para a Oi.


De acordo com a PF, o ex-deputado agia em benefício do banqueiro Daniel Dantas.


O compromisso de venda da Brasil Telecom foi assinado em 25 de abril. Segundo cálculos de especialistas, Dantas recebeu mais de US$ 1 bilhão por sua parte na empresa telefônica.


De acordo com o relatório de 26 de junho do delegado Protógenes Queiroz, ao qual a Folha teve acesso, a participação de Greenhalgh foi ‘fundamental na criação da Supertele, gentilmente elogiada por todos do grupo, em especial pelo cabeça da organização, D. Dantas’.


‘Devido à sua condição anterior de ex-deputado federal e membro do PT, freqüenta a ante-sala do gabinete da Presidência da República, buscando apoio para negócios ilícitos do grupo, notadamente no gabinete da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e do chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, e intimamente próximo ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu’, diz o relatório de Queiroz sobre Greenhalgh.


Para o delegado, Greenhalgh ‘transita nos subterrâneos dos gabinetes dos ministros do STJ [Superior Tribunal de Justiça] e STF [Supremo Tribunal Federal] em busca de decisões favoráveis ao grupo’.


Dilma, tratada nas interceptações telefônicas como ‘Margaret’, possível referência à ex-primeira ministra do Reino Unido Margaret Thatcher, teria sido procurada por Greenhalgh em março, um mês antes da venda da empresa.


Num primeiro momento Dilma teria dito ‘não’ ao ex-deputado. De acordo com a Polícia Federal, Greenhalgh disse a Humberto Braz, envolvido na tentativa de suborno dos delegados da PF, que Dilma teria mandado ‘o recado’ de que ‘eu [ministra] não quero falar sobre esse assunto, que o governo já se meteu demais’.


Numa conversa com Guilherme Sodré, o Guiga, que atuaria como assessor de Dantas, Greenhalgh teria dito que contou a Dilma ‘a conclusão do episódio ‘daquela situação’ (acordo entre Citi e Dantas) e agradecendo à ministra’. Segundo a PF, o advogado falava ‘de um acordo a ser fechado com o Citibank para possibilitar a venda da Brasil Telecom’.


Fechado o acordo, anunciado por Dantas num telefonema de 27 de março para Guiga, o grupo passou a dar felicitações a aliados. Guiga telefonou para o senador Heráclito Fortes (DEM-PI) para dizer, segundo a PF, ‘que tudo foi resolvido e que todas as pendências foram resolvidas, agradecendo a grande ajuda do senador’.


Três minutos depois, Guiga ligou para o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), para dizer que Daniel Dantas ‘mandou um grande abraço’.


No relatório, o delegado Queiroz levanta a suspeita de que Greenhalgh obteve informações sobre o comportamento do ministro Sidnei Beneti, do STJ (Superior Tribunal de Justiça), no julgamento de um processo de interesse do banqueiro. O ex-deputado telefonou para o assessor de Dantas para dizer que iria se reunir com Beneti antes da sessão e que um ministro iria pedir vistas do processo, o que de fato ocorreu, horas depois. (CAROLINA ARAÚJO, CONRADO CORSALETTE, RANIER BRAGON E RUBENS VALENTE)


ELEIÇÕES
Folha de S. Paulo


Marta lança site com reprodução de propaganda partidária do PT


‘O PT colocou ontem na internet o site da campanha de Marta Suplicy, com destaque para vídeos que se assemelham em muito ao que o partido deve apresentar no horário eleitoral gratuito de rádio e TV, que começa somente no dia 19 de agosto.


O site (www.marta13.can.br) traz ainda um blog da candidata e os dois jingles de campanha.


Além disso, há reprodução das cinco propagandas partidárias do PT exibidas em junho e que tinham Marta como principal estrela. A legislação eleitoral proíbe propaganda eleitoral por meio desses programas.


O procurador regional eleitoral, Luiz Carlos dos Santos Gonçalves, afirmou que não há problema de o site de campanha reproduzi-los. ‘Problema há se esses programas se caracterizaram, lá atrás, como propaganda eleitoral antecipada.’


Os candidatos Geraldo Alckmin (PSDB) e Gilberto Kassab (DEM), ainda não têm sites de campanha no ar.’


TECNOLOGIA
Folha de S. Paulo


iPhone 3G gera disputa no lançamento em 22 países


‘A Apple começou a comercializar ontem o iPhone 3G, com lançamento simultâneo em 22 países. A oferta inicial somou 1,5 milhão de aparelhos, quantidade apontada como insuficiente por analistas.


Preocupadas com o risco de ficar sem a novidade, milhares de pessoas foram a lojas da Ásia, da América e da Europa. Em Tóquio, a fila chegou a cerca de 800 metros.


Minoru Hagiyama chegou a uma loja em Omotesando, Tóquio, às 6h30 (horário local) e encontrou 1.300 clientes à espera. O primeiro da fila estava lá três dias antes para comprar o novo modelo de celular, que funciona em redes sem fio de terceira geração, mais rápidas do que as tradicionais.


‘Eu não tenho celular há cerca de cinco anos. Eu simplesmente não sentia necessidade, mas agora é diferente’, disse Hagiyama, 50. ‘Eu não vejo esse aparelho como um celular, mas como um PC portátil.’


A fila de consumidores, a maior parte homens, se estendia por cerca de 800 metros partindo da principal loja da Softbank, a terceira maior operadora de telefonia celular do Japão, que detém o direito de comercializar o iPhone 3G.


A entrada da loja estava cercada por jornalistas e equipes de TV. Helicópteros circulavam para registrar o movimento. Um outdoor luminoso fazia a contagem regressiva para o início das vendas do aparelho.


O iPhone começou a ser vendido pela Nova Zelândia, onde milhares de pessoas estavam a postos nas lojas exatamente à meia noite.


O estudante Johnny Gladwell, 22, esperou 60 horas suportando baixas temperaturas para comprar o telefone.


A procura gerou até ‘comércio de lugares’. O primeiro colocado na fila de cerca de 100 pessoas em Londres comprou a posição no e-Bay por quase 50 libras. O segundo havia chegado às 14h de quinta.


O volume de vendas foi tão grande que a página do iTunes na internet, por meio da qual é feita a habilitação final do aparelho, ficou fora do ar, impedindo que muitos usuários pudessem usar o aparelho.


‘Há um problema mundial com o iTunes que a Apple está trabalhando para resolver’, disse Mike Coe, da AT&T.


No Brasil, a Vivo e a Claro devem vender o iPhone a partir de agosto ou setembro. As vendas começarão com o modelo 3G.


Com agências internacionais’


DANIEL DANTAS
Mônica Bergamo


Nome sujo


‘O ator Daniel Dantas diz que está se divertindo com a confusão feita por um jornal baiano que colocou uma foto sua como se fosse a do banqueiro do Opportunity. ‘O ‘Casseta & Planeta’ poderia fazer piada disso.’ Ele diz que não comenta a prisão do banqueiro porque ‘o caso não foi julgado ainda.’’


LITERATURA
Eduardo Simões


Lançamento reúne dez releituras de Machado


‘Ler e reler Machado de Assis (1839-1908) é a melhor maneira de homenageá-lo em seu centenário de morte. Com este mote, a Publifolha convidou dez autores brasileiros para recriar a obra do bruxo do Cosme Velho. O resultado são nove contos e uma peça, reunidos no volume ‘Um Homem Célebre: Machado Recriado’, recém-lançado pela editora.


Para o editor Arthur Nestrovski, articulista da Folha, não se trata apenas de atualização da obra de Machado: ‘Estamos também nos atualizando, com a sagacidade do autor para sacar questões centrais da cultura brasileira, sobretudo a desigualdade social e suas ramificações, e o modo como Machado adivinha, por exemplo, o mundo da celebrização que vemos hoje em dia.’ Os autores tiveram liberdade para reler os originais de Machado. Os textos ora se distanciam da matriz, ora se aproximam, propositalmente. Caso de Felipe Hirsch, com sua releitura de ‘O Espelho’. E de Sérgio Augusto de Andrade, que recriou ‘Cantiga de Esponsais’ em ‘Trechos de um Diário’. Para Nestrovski, o resultado é ‘um extraordinário exercício de estilo’, com direitos a palavras como ‘piparotes’ e outras marcas do português machadiano.


Segundo Andrade, recriar Machado é um desafio no melhor dos sentidos: o de obrigar todos os que escrevessem depois dele a repensarem a língua portuguesa no Brasil.


‘Talvez não houvesse nada mais estimulante, de um lado, nem mais divertido de outro.


‘Cantiga de Esponsais’ é quase um exercício jamesiano [à moda do escritor Henry James] sobre a arte. Achei que poderia ser curioso se tentasse imaginar um exercício machadiano sobre a criação’, diz.


Narradores inanimados


Entre os textos que mais se distanciaram do original, Nestrovski destaca a experimentação com desenhos do escritor e quadrinista Lourenço Mutarelli, em sua versão dita ‘psicografada’ para o clássico ‘Memórias Póstumas de Brás Cubas’. E também a releitura da escritora Carola Saavedra para ‘Uns Braços’. Ele ressalta que ‘Vigília’, ‘talvez o mais arrojado’ dos contos, foi reescrito de uma perspectiva do século 21.


Sobre o desafio, Carola diz que a primeira questão que surgiu foi como lidar com a idéia de ‘monstro sagrado’.


‘Parti do princípio de que o tal monstro era uma espécie de Medusa, e que o mais seguro seria jamais olhá-lo nos olhos. O que fiz, então, foi retirar determinados elementos secundários do conto, como o mar, o xale, o silêncio, os quadros etc., e dar a cada um deles uma voz, de modo que através deles, fosse possível estender, transformar e dialogar com o texto original’, afirma Carola.


‘Outra preocupação foi que esse diálogo não se restringisse ao conto apenas, mas que, de certa forma, levasse em consideração o estilo de Machado e a sua importância para os autores que surgiriam depois’.


UM HOMEM CÉLEBRE


Autores: vários


Editora: Publifolha


Quanto: R$ 29,90 (192 págs.)’


TELEVISÃO
Cássio Starling Carlos


Quinto ano de série prisional demonstra esgotamento


‘Quando trancafiados em celas os homens tendem a reencontrar o que sobrou em nós de animalidade e, assim, a revelar a fragilidade do que se chama humanidade. Esta é a metáfora central do seriado ‘Oz’.


Em sua quinta e penúltima temporada, que acaba de sair numa caixa em DVD que reúne seus oito episódios, o conceito utilizado por seu criador, Tom Fontana, esbarra nos limites do seu formato.


A temporada exibe relativos sinais de esgotamento da fórmula ‘drama passado numa prisão’, e alguns episódios buscam o contraste com as regras do mundo exterior para evitar o completo sufocamento.


Há uma sucessão de recursos para conectar os prisioneiros com suas famílias, com o mundo do qual foram excluídos. É o que deixa claro o primeiro episódio, no qual o que parece um dia normal de visita de familiares termina em tragédia.


Neste universo de conto de fadas às avessas (ao qual seu título se refere, remetendo ao clássico ‘O Mágico de Oz’), qualquer tentativa de escapar só fortalece as condições inevitáveis do encerramento.


Mesmo as liberdades adotadas pela ficção, como o sexto episódio, ‘Variedades’, que brinca com as referências dos musicais, servem para demonstrar os limites da evasão.


Encarcerados


A estrutura adotada por Fontana, homem oriundo do teatro, é a de um ‘huis-clos’, um lugar fechado, espaço que torna concentrados os relatos sobre dor, perdas, conflitos e todo um conjunto de efeitos dramáticos.


Por mais que tentem o contrário, os personagens da série já se encontram, de saída, condenados. É esta ausência de liberdade, em que a possibilidade de escolha encontra-se abolida, que se enfatiza na quinta temporada, na qual se esvazia a crença na reabilitação.


Em vez de reproduzir o microcosmo da sociedade americana, já realizado nas temporadas anteriores, a hora é de reduzir cada personagem à sua individualidade, estratégia que eleva o drama a uma dimensão ainda mais trágica.


OZ – 5ª TEMPORADA


Criador: Tom Fontana


Distribuição: Paramount (R$ 49,90, em média)


Avaliação: ótimo’


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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.


Folha de S. Paulo – 1


Folha de S. Paulo – 2


O Estado de S. Paulo – 1


O Estado de S. Paulo – 2


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