MÍDIA & PUBLICIDADE
Marca produz conteúdo para se promover
‘Com poucas alternativas no dial que fujam do padrão pop ou da música religiosa, o paulistano foi surpreendido por duas rádios diferentes. Em junho, entrou no ar a Mitsubishi FM e, no mês passado, a Oi FM.
Além de carregarem nomes de empresas, as músicas e os programas jornalísticos veiculados procuram traduzir a ‘cara’ das marcas e atrair uma audiência que se identifique com elas. ‘Tocamos músicas vibrantes e para cima, que mostram o espírito 4×4’, diz Eduardo Barão, diretor da Mitsubishi FM.
Por trás do movimento está uma nova tendência da publicidade, o ‘branded content’, como é chamada a produção de conteúdo feita por marcas. Em vez de simplesmente patrocinar programas ou fazer propaganda tradicional, as empresas têm, cada vez mais, produzido conteúdo para atrair a simpatia do consumidor mais crítico e arisco dos tempos de internet.
‘Propaganda é interrupção de um prazer’, diz Hércules Florence, sócio da agência Share Brand Entertainment. ‘Com controle remoto, podcasts, rádios e TV digitais, cada vez menos o consumidor está disposto a ver propaganda.’
Apesar de a face mais recente ser a das rádios, a tendência já chegou ou está se espalhando para outras formas de mídia. De revistas a internet, passando por televisão e canais em trens e táxis, as marcas estão bombardeando o consumidor de maneiras que ele, se consegue detectar, muitas vezes não se importa de ser submetido a esse tipo de propaganda.
Pioneira nas rádios de marca em São Paulo, a SulAmérica FM foi criada por necessidade. Apesar de ser a segunda empresa de seguros em termos de receita, era a quinta marca na lembrança dos paulistanos.
‘O paulistano lembra do trânsito 365 dias por ano’, afirma Zeca Vieira, diretor de marketing da SulAmérica Seguros. ‘Conseguimos achar uma fórmula em que juntamos prestação de serviços com rádio, que é extremamente relevante para o nosso público.’
‘Até mesmo quando, depois de uma campanha, fazíamos pesquisas de recall, os consumidores diziam que nossa propaganda era do concorrente’, diz Vieira. ‘Resolvemos, então, só investir em algo relevante para a população.’
No ar há mais de um ano, a rádio SulAmérica atingiu o objetivo: fez com que a marca se tornasse a segunda mais lembrada pelo paulistano. Acompanhada do reposicionamento de vendas, a receita proveniente da cidade cresceu 30%.
Risco
Se por um lado o conteúdo de marca pode aumentar reconhecimento e faturamento, por outro é uma estratégia arriscada: produzir conteúdo atraente não é tarefa simples.
Neste mês, a Locaweb lançou uma série de ficção na internet, que explica os serviços prestados pela empresa de tecnologia. Apesar de alguns capítulos terem tido boa audiência e elogios na rede, diversos internautas aproveitam o espaço interativo para reclamar da qualidade dos serviços prestados pela empresa. Houve, ainda, protestos de entidade das secretárias, uma vez que uma das personagens é uma secretária curvilínea, pouco inteligente e sujeita a cantadas constantes do chefe.
‘A relevância e a pertinência do conteúdo em relação à marca são fundamentais para o sucesso da estratégia’, diz Giovanni Rivetti, diretor-geral da agência New Content. ‘Travestir-se de conteúdo sem entregar o prometido é péssimo porque gera expectativa, mas frustra e afasta o consumidor.’
Quando bem-sucedido, porém, o conteúdo de marca tem resultados permanentes, que duram muito tempo depois que os investimentos foram feitos. É o caso dos filmes da BMW estrelados por Clive Owen e dirigidos por nomes como Ang Lee, John Woo e Guy Ritchie.
Considerados o marco inicial do conteúdo de marca, os filmes mereceram a criação de uma categoria especial no Festival de Propaganda de Cannes, a dos Cyber Lions, em 2003. Elencos formados por Madonna, Forest Whitaker, Mickey Rourke e Adriana Lima transformaram os episódios -e a marca- em símbolo cult.
Outro efeito benéfico da tendência é que o conteúdo de marca pode se tornar fonte de receita ou, no mínimo, ajudar a reduzir os investimentos na campanha. Com uma média de quase 10 milhões de espectadores por edição, os desfiles da grife de lingerie Victoria’s Secret são comprados por dezenas de emissoras de TV e sites.
Concessões públicas, as rádios das marcas têm a programação produzidas por emissoras. Porém, à medida que os anúncios são vendidos, os custos pagos pelas empresas às emissoras caem. ‘É um bom artifício porque o custo da produção de conteúdo é alto’, diz Vieira, da SulAmérica.
A maior parte do mercado encara a tendência como forma de fortalecer a marca. ‘Os projetos têm de ser vistos como investimento em marketing, e não como fonte de receita’, diz Flavio Rozemblatt, diretor-geral da agência Selulloid.
Algumas empresas concordam. ‘Nosso negócio é vender carros’, afirma Renata Souza Ramos, diretora de marketing da Mitsubishi Motors. ‘Fazemos o rali, a revista e, agora, a rádio, para investir na marca, e não para lucrar.’’
RESENHA
‘Um Escritor na Guerra’ destaca o papel dos soviéticos nos combates contra os nazistas
‘Há farta informação no Brasil sobre o papel dos americanos e dos ingleses na Segunda Guerra Mundial. Os ataques aéreos a Londres, o bombardeio de Pearl Harbor, o desembarque na Normandia no Dia D, a libertação de Paris, tudo isso está profusamente documentado, romanceado e filmado.
O papel dos soviéticos, no entanto, não tem recebido o mesmo tratamento. A disputa ideológica entre EUA e União Soviética explica o descaso, estando o Brasil na esfera de influência americana. Mas, do ponto de vista histórico, a discrepância não se justifica: o Exército Vermelho, ao vencer os nazistas na batalha de Stalingrado, foi decisivo para o resultado da guerra. A menor atenção ao front oriental está sendo parcialmente compensada com a publicação de ‘Um Escritor na Guerra – Vasily Grossman com o Exército Vermelho, 1941-1945’ (ed. Objetiva, trad. Bruno Casotti, 495 págs., R$ 56,90), editado pelo historiador inglês Antony Beevor e Luba Vinogradova, sua assistente. Desconhecido no Brasil, Grossman (1905-64) é considerado um dos grandes escritores russos do século 20.
Seu romance ‘Vida e Destino’, baseado nos fatos relatados em ‘Um Escritor na Guerra’, foi elogiadíssimo pelo exigente crítico George Steiner e pelo escritor inglês Martin Amis, que o considera o Tolstói da era soviética.
O livro agora traduzido é uma reunião de anotações pessoais, cartas e artigos, material produzido nos mais de mil dias em que Grossman esteve na frente de batalha como correspondente do jornal ‘Estrela Vermelha’.
Os textos são encadeados pela edição, que também faz a ponte entre os trechos, minimizando o caráter fragmentário da obra.
Tabus
O que torna o livro especialmente relevante é a perspectiva do autor. Apesar de trabalhar para um jornal oficial, apenas descreve o que testemunha, sem enaltecer os militares soviéticos nem o próprio Stálin, o que seria esperado de um jornalista a serviço do governo. Abordando temas tabus, em desacordo com a cartilha comunista, Vasily é tido como ‘politicamente ingênuo’ por Beevor, para quem só um ‘milagre’ explica que tenha escapado dos expurgos stalinistas. Não há dúvida de que Grossman se expôs. Sobre o comportamento de soldados, escreve: ‘Coisas horríveis estão acontecendo com as mulheres alemãs. Um alemão educado, cuja mulher recebeu ‘novos visitantes’ -soldados do Exército Vermelho-, está explicando com gestos expressivos e palavras russas mal pronunciadas que ela já foi estuprada hoje por dez homens.’
Vasily também aponta o medo dos compatriotas. Muitos atiravam nas próprias mãos para evitar a frente de batalha; outros tentavam fugir do combate e eram abatidos por destacamentos que formavam uma segunda linha de ataque com o objetivo de ‘combater a covardia’.
Colaboracionismo
O autor ainda descreve como muitos soviéticos perseguidos pelo stalinismo chegaram a colaborar com o inimigo -outro assunto proibido. Claro que nada disso era publicado. Em carta à mulher, ele lamentou: ‘Se você visse como eles cortam e alteram [meu texto], e não apenas isso, como também acrescentam frases a meus pobres artigos, provavelmente ficaria mais perturbada do que feliz com o fato de meus textos verem a luz’.
Algumas coisas, porém, passavam. Um artigo sobre o campo de extermínio de Treblinka foi citado como prova no tribunal de Nuremberg. Um dos primeiros a chegar ao local após a derrota dos nazistas, Vasily descreveu o horror do que viu ou ouviu: fetos queimavam sobre o ventre aberto das mães, crianças eram obrigadas a espalhar cinzas humanas pelas estradas.
O autor imagina que alguém poderia perguntar sobre o porquê de escrever sobre isso. E responde: ‘É dever do escritor contar essa terrível verdade, e é um dever civil do leitor aprender isso’.
OSCAR PILAGALLO é jornalista e autor de ‘A História do Brasil no Século 20’ (em cinco volumes, pela Publifolha).’
WIM WENDER NA FSP
Preciso filmar Brasília
‘Em sabatina, diretor alemão Wim Wenders revela paixão por Oscar Niemeyer, conta que escreve ‘falsos roteiros’ para obter financiamento e defende a liberdade de filmar o acaso
O CINEASTA alemão Wim Wenders, 63, apontou Brasília como o lugar em que gostaria de filmar no Brasil. Disse que se ‘sentiria livre para trabalhar aqui’, sem ‘o peso que um diretor sente quando vai filmar nos EUA’ e que ele sentiu quando rodou lá ‘Paris, Texas’ (1984). Wenders definiu Brasília como ‘uma tela em branco’, em contraste com a paisagem dos EUA, que é ‘a mais fotogênica, porque fazem-se mais filmes lá do que em qualquer outro lugar’. O cineasta foi sabatinado anteontem no auditório do Masp, em SP, pelo diretor brasileiro Walter Salles e pelos jornalistas da Folha Alcino Leite Neto, José Geraldo Couto e Marcos Strecker. A seguir, os trechos centrais da conversa.
BRASÍLIA É EXEMPLO PARA O MUNDO
Minha história com o Brasil começou quando eu era criança. E não tinha a ver com filmes, mas com cidades. Eu era apaixonado pelo [trabalho do arquiteto Oscar] Niemeyer e impressionado com a idéia de construir uma cidade no meio da selva -ou, pelo menos, era assim que sua obra era apresentada na Alemanha. Na parede do meu quarto, tinha todas as informações e imagens que podia ter sobre Brasília. Se eu fosse fazer um filme amanhã sobre o Brasil, não hesitaria em filmá-lo em Brasília, um lugar extraordinário e um exemplo para o mundo. Passaria algum tempo lá, até encontrar a história que a cidade me contasse. Você tem que ir a um lugar com o qual tenha afinidade e deixar o próprio lugar lhe contar uma história. Assim surgiu a maioria dos meus filmes.
MIL FILMES PARA FUGIR DO FRIO
Era jovem em Paris e queria me tornar pintor. Não conhecia ninguém, morava sozinho num quarto frio, gelado. Encontrei o lugar mais barato e quente para passar o tempo, que era a Cinemateca. Vi mais de mil filmes em um ano. Uma retrospectiva do diretor americano Anthony Mann [1906-1967] me marcou.
Pela primeira vez, via filmes em que não estava só seguindo a história, mas entendendo a linguagem. A segunda grande influência veio depois de já ter feito quatro filmes. Alguém me disse que estavam mostrando um filme japonês que eu tinha que ver. Nunca tinha ouvido falar em [Yasujiro] Ozu [1903-1963].
Fui a uma sessão de ‘Era uma Vez em Tóquio’ em Nova York e fiquei apaixonado. Vi algo tão mais profundo, transparente e transcendente do que qualquer coisa que tinha feito.
A LIBERDADE DA ESTRADA
Ainda fazia meus curtas quando percebi que os filmes podiam ser feitos no estúdio mas também na estrada. Desde que fiz isso pela primeira vez, vi que não havia nada melhor. Uma viagem não é sobre chegar a algum lugar, é a experiência de estar na estrada. A maioria dos filmes são rodados fora da ordem cronológica, primeiro o final, depois o meio etc. Uma forma insana. Num ‘road movie’, você segue a estrada. Percebi que havia muita liberdade em conseguir filmar a história e vivê-la ao mesmo tempo. Na estrada, você fica inclinado a se abrir mais -não só à paisagem mas também em relação às pessoas que você encontra.
A TRAPAÇA DO FALSO ROTEIRO
A maior parte dos meus filmes foi feita sem roteiro ou com roteiro bastante frouxo. Os de que mais gosto são os menos cerebrais, que aconteceram espontaneamente. ‘Asas do Desejo’ foi feito sem roteiro. Prefiro que a realidade entre o máximo possível no filme. O que acontece sem planejamento é muito mais precioso do que qualquer coisa que você possa tentar. Hoje, até para um diretor como eu, que já provou que consegue filmar sem roteiro, isso não é mais possível. Escrevo roteiros falsos, só para conseguir o financiamento, e depois os deixo de lado. Em ‘Paris, Texas’, escrevemos um outro final, ridículo, hilário, que não seria rodado. Fizemos isso só para ter um roteiro completo. Trapaceamos. É o jeito.
O MUNDO DE HOJE É DIGITAL
O que o cinema produziu nos primeiros cem anos foi extraordinário, mas o mundo de hoje não pode ser tratado com essa tecnologia, essa gramática e esse vocabulário. As histórias que precisam ser contadas hoje lidam com pessoas que vivem num contexto social totalmente diferente do que poderia ser imaginado no século 20. A tecnologia daquele cinema não consegue mais captar a essência da vida contemporânea.
AS SALAS DE CINEMA NÃO MORRERÃO
A experiência [de assistir a um filme com outras pessoas no cinema] não se perdeu e não se perderá. Mesmo gente muito jovem gosta da sala escura. Ao mesmo tempo, gosto dos DVDs. Com eles, posso tratar os filmes e tê-los como tenho livros. Posso ir para o capítulo que gosto ou ouvir os comentários do diretor. São experiências completamente diferentes.
CINEMA REGIONAL
‘Cinema europeu’ é uma noção muito nova. Só nos últimos 20 anos os realizadores começaram a usar o termo. Surgiu porque precisávamos desse guarda-chuva para proteger os diversos cinemas nacionais. É a única maneira de continuarmos a fazer filmes em nossos idiomas. Não sei o quanto essa idéia está na mente do público sul-americano. Por exemplo, para o cinema brasileiro ou argentino poderem sobreviver. Essa noção existe? Se não, está na hora. Vocês vão precisar desse guarda-chuva. Quando tudo se tornar igual na era global, o nosso futuro e o futuro de muitos países vão depender do quanto as pessoas se sentirão em casa e se identificarão com aquele lugar. Só os cinemas regionais poderão dar suporte a isso. No futuro, a riqueza de um país não será a riqueza econômica, mas a da identidade própria.
IMIGRAÇÃO E XENOFOBIA
Existe na Europa uma onda de xenofobia crescente, que a globalização criou. Por causa do incrível crescimento da Alemanha nos anos 60, fomos dos primeiros países a ter exércitos de trabalhadores estrangeiros. Houve uma saturação. Os alemães acreditaram que essas pessoas iriam voltar para seus países. Mas é claro que não voltaram. A idéia de trazer aquela força de trabalho mais barata teve resultados bem diferentes do que imaginavam as pessoas. Infelizmente, muitos países europeus começaram a se tornar hostis e rígidos. Mas a maior razão para a imigração é a diferença crescente entre os países que têm emprego e os que não têm nada. No futuro, isso criará mais crise, mais violência, e forçará o planeta a buscar novas soluções. A solução não é fechar as fronteiras, mas abordar a fonte do problema -a pobreza. Se a pobreza no mundo não for reduzida, esse será o maior problema no resto do século.
ALERGIA A FILMES VIOLENTOS
Saí nos últimos anos de uns 12 filmes em que percebi que não estavam me contando por que a violência ocorria, mas entravam em detalhes porque o diretor achava que era atrativo mostrá-la. Sou extremamente alérgico a esse tipo de filme. E grato a minha mulher. Sempre permaneci nesses filmes achando que, no fim, aprenderia alguma coisa. Ela vai embora logo. Levanta e diz: ‘Te espero lá fora’. As mulheres têm uma antena social mais sintonizada. Ela percebe de cara que é um produto comercial e que a violência está lá apenas para criar um apelo.
Os filmes de guerra, mesmo os que são críticos a ela, preparam você para aceitá-la como opção. Qualquer filme de guerra prepara você para a idéia da guerra. Toda vez que os americanos começam uma guerra, pedem a Hollywood uma série de filmes sobre o tema. Não podemos combater o fato de que os filmes são o que mostram.
NA INTERNET
www.folha.com.br/082354′
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‘Eu te avisei!’, diz Wenders a Salles sobre Hollywood
‘Wim Wenders sentiu-se ‘o homem errado em Hollywood’, porque ‘em Hollywood, eles querem que você entregue o que esperam -um determinado produto, que foi extremamente elaborado’, afirmou, ao comentar sua experiência de dirigir nos EUA.
‘Quando você é um diretor mais interessado no processo de filmagem e acha que pode melhorar o produto durante o processo, é o homem errado.’
Depois de dizer que foi ‘ingênuo’ ao aceitar o convite de Francis Ford Coppola para filmar ‘Hammett – O Falcão Maltês’ (1982) nos Estados Unidos, achando que ‘faria um filme americano’, Wenders virou-se para o diretor brasileiro Walter Salles, que o sabatinava, e disse: ‘Eu te avisei!’.
Salles, que tem entre seus oito longas um título rodado nos EUA -’Água Negra’ (2005)-, respondeu: ‘Você não foi enfático o suficiente!’.
Embora tenha tido ‘experiência difícil’ nos EUA, Wenders disse que aprendeu com ela e que é ‘grato ao Coppola’, de quem permaneceu ‘amigo, de um modo muito estranho’.
Filmar em Hollywood, disse Wenders, parecia ‘o convite perfeito’ para alguém que ‘sempre quis sair de sua própria pátria’. Ele afirmou que, com a experiência, percebeu que nunca iria se tornar um diretor americano. ‘Aprendi a aceitar que eu era um alemão e um diretor alemão’, disse.
Ao final da sabatina, Salles presenteou Wenders com o DVD do longa brasileiro ‘São Paulo S/A’ (1965), de Luiz Sérgio Person. ‘É o primo brasileiro de ‘Memórias do Subdesenvolvimento’ [1968, do cubano Tomás Gutiérrez Alea]. É um primeiro filme [de Person] realmente extraordinário, que toca em temas importantes para você, como a colisão entre o homem e o meio’, disse Salles.’
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‘Um dia, o mundo inteiro vai querer ver seus filmes’, afirma diretor a Pedro, 14 que põe vídeos no YouTube
‘‘Tenho 14 anos. Gosto muito de cinema. Queria ser diretor. Se o sr. pudesse me dar uma dica de como realizar esse sonho, qual seria?’
A pergunta do estudante Pedro Braga, 14, conquistou a simpatia de Wim Wenders, que lhe indaga: ‘Você tem computador, certo?’. Da platéia, Pedro ergue o polegar, afirmativamente. ‘Tem câmera digital?’ Novo sinal positivo. ‘Sabe como editar?’ A mão de Pedro oscila, num ‘mais ou menos’. Wenders, então, o incentiva: ‘É fácil. O mais legal é começar com coisas pequenas, como se fosse um diário, uma historinha. Talvez você possa usar um amigo como ator. Vai impressionar sua namorada. Assim se começa. Um dia, o mundo inteiro vai querer ver você e os seus filmes’.’
TELEVISÃO
Jurado de ‘Astros’ reprova cantor de novela da Globo
‘Cassiano, personagem de Thiago Rodrigues em ‘A Favorita’, vai virar um cantor de sucesso. Hoje, ele grava uma fictícia participação no ‘Domingão do Faustão’, a ser exibida na novela das oito da Globo.
Mas, se fosse na vida real, a história de Cassiano seria outra. Ele não passaria pela primeira fase de ‘Astros’, reality show musical do SBT.
A pedido da Folha, o produtor musical e compositor Thomas Roth, um dos jurados de ‘Astros’, analisou o desempenho de Cassiano, que se lançou cantor romântico-sertanejo na semana passada. Ele apresentou em uma ‘festa do gado’ uma ‘composição própria’ que fez enquanto curtia uma fossa por Lara (Mariana Ximenes).
Para Roth, Cassiano ‘até canta afinadinho, mas não tem grandes dotes vocais’. ‘Eu não o classificaria [em ‘Astros’]. Porque o único atributo a favor dele é a afinação. Mas não tem expressão, não tem nenhuma atitude, não tem emoção’, diz.
O compositor ressalva que Cassiano, por ser personagem de novela, pode estar ‘escondendo o jogo’. Faz um paralelo com o filme ‘Dois Filhos de Francisco’, que mostra ‘a construção do ídolo, o amadurecimento, a segurança do artista em cima do palco, o gradativo aumento da desenvoltura’ de Zezé Di Camargo. Não duvida que a Globo reserve algo semelhante a Cassiano.
Roth acredita até que, com a força da Globo, a música de Cassiano emplaque nas paradas reais. ‘Mas será um sucesso efêmero, bem passageiro, um negócio de oportunidade.’
A canção executada por Cassiano se chama ‘Longe Tão Perto’ e foi feita sob encomenda pelos produtores musicais Alberto Rosemblit e Victor Pozas. O ator sabe tocar violão e chegou a estudar cavaquinho para fazer a novela.
ATRÁS DE UM SONHO
Com quatro filmes no currículo, Juliano Cazarré (na foto, com o gato Alabar) vai estrear na TV em ‘Alice’. Na série que a HBO exibe a partir de setembro, será um funcionário de financeira que sonha -e consegue- virar DJ. Foi em busca do sonho de ganhar a vida interpretando que Juliano trocou Brasília por São Paulo, há um ano e meio. Atualmente, grava ‘Som e Fúria’, minissérie de Fernando Meirelles. Nela, será o cômico namorado de Andréa Beltrão. Ele está em cartaz nos cinemas em ‘Nome Próprio’ -faz o primeiro namorado de Leandra Leal.
CINEMATOGRÁFICA
Luciana Gimenez quer virar estrela de Hollywood. Ela acaba de receber a primeira versão do texto de um filme que um roteirista americano desenvolveu a partir de um argumento dela. Por enquanto, ela só abre que é ‘um drama de amor’ com uma personagem que é a ‘cara’ dela. A idéia de Luciana é convencer algum produtor hollywoodiano a bancar o filme. Enquanto isso não ocorre, ela se prepara para, em 2009, ficar grávida. Mas diz que isso não a impedirá de apresentar o ‘Superpop’ todos os dias.
BOLADA
A Record está disposta a pagar R$ 500 mil mensais para tirar Cléber Machado da Globo. A emissora, que começa hoje a promover a Olimpíada de 2012, precisa montar um time esportivo. Machado seria a ‘estrela’.
APELIDOS
O personagem de José Mayer em ‘A Favorita’ foi apelidado de Patropi, pela semelhança com o maluco-beleza da ‘Escolinha do Professor Raimundo’. No SBT, a menina Maisa é chamada pelas costas de ‘Chuck’.
COPIADORA 1
Diretor do ‘Domingo Legal’ (SBT), Homero Salles solta os cachorros quando alguém diz que ‘Construindo um Sonho’, quadro que reforma casas, é cópia do ‘Lar Doce Lar’, do ‘Caldeirão do Huck’ (Globo).
COPIADORA 2
‘O ‘Lar Doce Lar’ é que é uma cópia do ‘Extreme Makeover’, que passa no People+Arts’, alfineta Salles. A Globo nega. Diz que seu quadro ‘é um formato original criado pela equipe do ‘Caldeirão do Huck’.
ELA BATE PRA VALER
Lutadora profissional, vice-campeã brasileira em duas categorias de kung fu, Luciana Mizutani (foto) estava se preparando para disputar um campeonato mundial quando foi convidada para atuar em ‘Negócio da China’, próxima novela das seis da Globo. Como também é atriz, não pensou duas vezes. Na trama de Miguel Falabella, ela será Suy-Na, professora de kung fu e dona de uma academia de artes marciais. Vai lutar com vários vilões, em apresentações coreografadas à la ‘Kill Bill’. Suy-Na também terá um lado dramático. Casada, viverá o dilema de adiar (pelo kung fu) ou não (pelo marido) a maternidade.’
Silvana Arantes
Garota papo firme
‘Quando soube que o cineasta Walter Lima Jr. faria um filme ambientado nos anos 60 -da bossa nova, do feminismo e da ditadura militar-, a atriz Cláudia Abreu quis estar nele. Mas não disse. Por ‘pudor’, explica.
O papel da cantora Glória Goldfaber, protagonista feminina da trama de ‘Os Desafinados’ e símbolo da mulher emancipada que faz Cláudia sentir ‘intimidade com aquela época’ e achar ‘sempre muito rico voltar aos anos 60’, já tinha dona -e não era ela.
Às vésperas das filmagens, no entanto, o diretor decidiu substituir a atriz e cantora francesa Clara Bellar, que estava escalada para o papel. Julgou-a magra demais. Cláudia Abreu tornou-se a estrela do filme, que será lançado nos cinemas na sexta.
‘Cláudia é uma atriz de muitos recursos, excepcional. Em geral, os atores que trabalham freqüentemente para a TV ficam travados, por força da repetição do melodrama. No caso dela, não. Nunca sei até onde ela pode ir’, afirma Lima Jr.
Dora, a fútil
Na TV, Cláudia volta ao melodrama -com as típicas tintas cômicas da faixa das 19h da Globo- a partir do mês que vem. Ela será uma das ‘Três Irmãs’ na novela de Antonio Calmon (leia texto à direita).
Fútil e consumista, Dora, sua personagem na novela, é a antítese da Glória de ‘Os Desafinados’, personagem de ficção inspirada em mulheres reais que Lima Jr. conheceu nos anos 60.
Glória é uma brasileira que vive sozinha em Nova York, onde encontra Os Desafinados, quarteto de jovens músicos que tocam bossa nova.
Ela se apaixona pelo pianista Joaquim (Rodrigo Santoro) e hospeda o grupo em sua casa. Quando descobre que Joaquim tem no Brasil uma mulher (Alessandra Negrini) e uma filha a caminho, Glória reage de acordo com o espírito da época -’corajoso e libertário’, na definição de Cláudia.
A cena envolve um banho de espumas, uma nudez desenvolta, um golpe no ego de Joaquim e uma brecha para a sedução dos demais Desafinados.
‘Nesse filme, Cláudia está no ápice de sua beleza’, disse o ator Ângelo Paes Leme, ao receber, em nome dela, o troféu de melhor atriz no 1º Festival Paulínia de Cinema, no mês passado. Paes Leme, que vive o ‘desafinado’ Davi, foi premiado como melhor coadjuvante.
Nem magra nem gorda
Com pudor (de novo ele) de auto-elogiar-se, Cláudia evita referendar o comentário. Mas diz que se sente ‘melhor hoje do que há 15 ou 20 anos’. Acha que seu rosto ficou ‘mais anguloso’ sem as bochechas da adolescência, e seu corpo, ‘mais simétrico’, num padrão ‘nem tão magra nem rechonchuda’.
Os 37 anos de idade também lhe trouxeram ‘o prazer de ter, ao mesmo tempo, alguma experiência e juventude ainda’ e a convicção de que ‘o difícil é se manter interessante e interessado, curioso com a vida’.
Em nome desse duplo objetivo, já experiente como atriz, Cláudia decidiu estudar filosofia, na PUC-RJ. ‘Na época do vestibular, eu já trabalhava e ganhava dinheiro’, diz a ex-aluna do teatro Tablado.
Alternando trabalhos no teatro, no cinema e na TV, a carreira de atriz progredia bem, mas Cláudia ‘sentia que podia ir mais longe’ e foi buscar ‘estofo intelectual’ na universidade.
Descobriu no alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) seu filósofo favorito, capaz ‘dos questionamentos mais sinceros’, e elegeu a obra nietzschiana ‘O Nascimento da Tragédia’ como tema da monografia que prepara atualmente, para a conclusão do curso.
Veto ao canto
Em relação à sua atuação em ‘Os Desafinados’, Cláudia também sente que poderia ter ido mais longe. ‘Fiz o que pude. Poderia ter feito mais’, diz.
Ela gostaria de ter usado a própria voz nas cenas em que Glória canta no filme. Mas foi dublada por Branca Lima, filha do diretor, que registrou todas as músicas antes das filmagens.
Cláudia diz que insistiu com Lima Jr. que poderia se preparar e dublar a si mesma para a versão final do filme. ‘Ele disse que tinha medo que eu me desgastasse para fazer algo que talvez ele não fosse usar. Mas eu preferiria tentar. Como atriz, tenho certeza de que eu iria até o fim do mundo para cantar bem nesse filme. Mas tenho que respeitar o fato de que o filme é do diretor’, afirma.
Lima Jr. disse à Folha que levou em conta, na decisão, o fato de que ‘Cláudia essencialmente não é cantora; teria que estudar canto’ para poder dublar a si mesma no filme. Mas isso não seria boa solução, na opinião do diretor. ‘Eu não conseguiria o equilíbrio da minha exigência de uma cantora nem daria a ela o conforto de estar fazendo o canto segundo sua própria inspiração’, afirma.
Cláudia acha ‘uma pena’, mas se resigna: ‘Branca realmente canta muito bem. Entendo essa opção dele de ter preferido não arriscar. Em cinema, o ator tem o controle até certo ponto’.
Para voltar a representar com regularidade no teatro, ‘onde o ator assina a arte-final, ao vivo’, Cláudia planeja montar um grupo. Tem discutido a idéia com o amigo Pedro Cardoso, com quem contracena no longa inédito ‘Todo Mundo Tem Problemas Sexuais’, de Domingos Oliveira.
Embora se incomode com o rótulo de ‘atriz global’, que julga ‘reducionista’, Cláudia nunca teve dilemas em relação ao trabalho na TV, nem quando foi ‘patrulhada’ por ex-colegas do Tablado. ‘Não existe isso de vender a alma ao diabo. Se até Fernanda Montenegro faz TV, é inegável que é importante.’’
Audrey Furlaneto
Novela mistura ‘Mulherzinhas’ e surfistinhas
‘Ela tem ‘espírito de grã-fina, gosta do bom e do melhor’, é ‘preguiçosa desde pequena’ e ‘sempre quis pertencer ao mundo dos ricos’: é o que diz o perfil de Dora, personagem de Cláudia Abreu na novela ‘Três Irmãs’, de Antonio Calmon.
‘Ela é fútil, mas não só. Acho divertido [o papel]. O bacana é ser eclético. Se fizesse só personagens densas, cansaria’, diz a atriz, que divide o lugar de protagonista com Giovanna Antonelli e Carolina Dieckmann, as outras duas irmãs da família Jequitibá -o lado do ‘bem’ da trama, oposto ao de Violeta, a vilã vivida por Vera Holtz.
A novela, afirma o autor, investe no tema do surfe porque o esporte ‘voltou a ser notícia de um ano para cá’ -ou ainda, diz ele, ‘porque posso ser o pior dramaturgo do país, mas sou o que mais abordei o tema’, como em ‘Armação Ilimitada’ ou em ‘Top Model’. ‘Não estou chovendo no molhado.’
‘Muito livremente inspirada’ no clássico da literatura dos EUA ‘Mulherzinhas’ (1868), de Louisa May Alcott, ‘Três Irmãs’ usará uma família de mulheres e surfistas em uma praia paradisíaca para ‘atingir donas-de-casa e a garotada’. ‘A gente atira para todos os lados e depois vê quem caiu no gosto do telespectador’, diz Calmon.
Para o diretor Dennis Carvalho, o horário das 19h é ‘o mais difícil e competitivo’. ‘Mas a novela tem história e elenco’, avalia, para alcançar o objetivo do autor. Já Calmon, que se intitula ‘autor pop’ de novelas, afirma que quer ‘divertir o telespectador’. ‘Não acho que isso seja alienar o público. Acho que é dar alívio às pessoas.’
Por ‘não alienar’, ele pressupõe discutir temas como gravidez na adolescência e câncer de mama. E também revela as pretensões artísticas para a obra: ‘Estou mais preocupado em tentar um tom do cinema italiano pós-neo-realismo, de certo romantismo do cotidiano’.
Colaborou SILVANA ARANTES, da Reportagem Local’
Bia Abramo
Cópia da cópia da cópia dá em nada
‘VEJAMOS: o programa original saiu da Inglaterra e tinha o nome de ‘Pop Idol’. Os americanos copiaram com enorme sucesso: ‘American Idol’, já em sua oitava temporada, está entre os programas mais vistos da TV dos Estados Unidos. Como emissoras de vários outros países do mundo (33, na última conta), o SBT comprou os direitos para produzir o programa.
Depois de duas temporadas não muito bem-sucedidas e da ‘fabricação’ de ídolos que despontaram para o anonimato, a Record obteve a licença para produzir a temporada 2008 de ‘Ídolos’. Levou o formato, mas não os jurados -Thomas Roth, Arnaldo Sacomanni, Carlos Miranda e Cyz ficaram no SBT.
O programa estreou nesta semana, finalmente, com muito investimento e barulho por parte da emissora. ‘Ídolos 3’ tem alguns trunfos em relação à versão do SBT, mas, de certa forma, as mesmíssimas limitações.
Para começar, o ator e apresentador Rodrigo Faro está a anos-luz, em termos de carisma e traquejo, de Beto Marden e Lígia Mendes, o casal do SBT. Faro tem uma espécie de cinismo simpático que combina bem com a tarefa de mediar, receber, entrevistar os candidatos.
O investimento mais racional e, claro, também mais volumoso da Record parece ter surtido efeito no sentido da reprodução do formato. Mas, no cerne do programa -jurados e candidatos-, a nova versão tem deficiências que, por ora, parecem comprometedoras. O trio de jurados é em tudo mais inexpressivo que os quatro anteriores. O empresário Luis Calainho, a cantora Paula Lima e o produtor Marco Camargo estão muito presos à mimetização de seus pares americanos.
É evidente que ali, em alguma medida, interpretam-se personagens -boa parte da graça de ‘American Idol’ está na impiedade com que Simon Cowell julga os candidatos. Ou no duelo entre ele e as tendências mais doces de Paula Abdul. O problema é que imitar a ironia ou a generosidade alheias não funciona.
Por fim, os candidatos. A impressão que se tem do programa de estréia é que, ao mesmo tempo em que os fatores crueldade e ridículo serão tão bem explorados como na versão americana, os apelos emotivos também o serão.
Na terça-feira, muitas histórias tristes e de ‘superação’ foram apresentadas como ‘gancho’ para os próximos capítulos. A tradição sentimental brasileira não agüenta isso. Embora fazer chacota da desgraça alheia seja um esporte nacional, há um momento em que os corações amolecem.’
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