TELES
Elvira Lobato
O Congresso e a supertele
‘NA RETA final para a aprovação da compra da Brasil Telecom pela Oi, dois partidos de oposição -Democratas e PPS- ameaçam criar embaraços ao negócio, que até agora contou com o apoio pessoal do presidente.
Na última terça-feira, os deputados federais do PPS Arnaldo Jardim (SP) e Raul Jungmann (PE) apresentaram proposta de decreto legislativo para anular o decreto do presidente Lula, de 20 de novembro, que criou as condições legais para a fusão da BrT com a Oi.
Como o governo tem maioria na Câmara, as chances de a iniciativa prosperar são remotíssimas. Mas o PPS e o DEM estudam outras medidas para tentar impedir que a fusão seja consumada.
Jardim, vice-líder do PPS na Câmara, disse a este jornal que pretende acionar o Ministério Público Federal e o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
Raul Jungmann e o presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ), defendem a via judicial. Ambos estudam recorrer ao Supremo Tribunal Federal, na próxima semana, contra o decreto de Lula.
O argumento dos dois partidos, em síntese, é que o decreto afronta a Lei Geral de Telecomunicações, aprovada em 1997, que autorizou a privatização do Sistema Telebrás, mas atribuiu ao Poder Executivo a responsabilidade de promover a competição no setor. A fusão das duas teles elimina um concorrente e estaria na contramão da LGT, alegam os deputados.
O segundo motivo é que o governo conduziu a mudança do Plano Geral de Outorgas para viabilizar um negócio privado. Se a Oi não tivesse manifestado interesse pela BrT, ele não teria se mobilizado para ‘atualizar’ a regulamentação, assim como não se mexe para atualizar a legislação de radiodifusão, que data dos anos 60.
Mesmo tardia, é salutar a ação dos dois partidos, porque o impacto da fusão da BrT com a Oi sobre a oferta e preços dos serviços de telecomunicações não está suficientemente esclarecido para a população.
Os estudos divulgados até agora foram feitos por encomenda das partes envolvidas ou de seus concorrentes. Só a Anatel tem acesso aos dados confidenciais das empresas, e, por isso, é grande a sua responsabilidade ao examinar o pedido de aprovação que foi apresentado pela Oi.
Diante das notícias vindas da Itália, de que a TIM Brasil poderá ser vendida à Telefónica, aumentou o receio de que a fusão da BrT com a Oi abra o caminho para mais fusões no setor, restringindo a competição também na telefonia celular.
Os partidos de oposição podem levar esta discussão ao Congresso.
ELVIRA LOBATO é repórter especial da Sucursal do Rio.’
Folha de S. Paulo
Costa diz que compra da BrT deve ser aprovada até o dia 15
‘O ministro Hélio Costa (Comunicações) disse ontem que a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) votará a anuência prévia da compra da Brasil Telecom pela Oi até o dia 15 de dezembro. De acordo com o contrato assinado pelas duas empresas, se a agência não aprovar a operação até o dia 21 de dezembro, a Oi pagará multa de R$ 490 milhões.
‘A informação que tenho é que até o dia 14 ou 15 é possível que a Anatel tenha já a decisão sobre a anuência prévia’, disse Costa.
Costa disse não ter nenhuma informação oficial sobre a compra da TIM Brasil pela Telefónica, que foi noticiada pela imprensa italiana.
O ministro também criticou ontem a falta de políticas industriais para popularizar o conversor para a TV digital. Segundo Costa, seria necessário produzir 1 milhão de conversores por mês, mas só 100 mil conversores são produzidos mensalmente.
Costa deve se reunir na terça com representantes do BNDES para discutir novas linhas de financiamento para o setor. Ele diz que há espaço para reduzir impostos.’
VAZAMENTO
PF obtém dados sigilosos de site para Abin investigar servidores
‘Para descobrir a identidade de servidores que fizeram críticas à instituição na internet, a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) recorreu à Polícia Federal para obter dados sigilosos de usuários de um fórum virtual de debates e os repassou à agência.
Sem autorização judicial, a PF pediu ao portal CorreioWeb – mantido pela S.A. Correio Braziliense, que edita o jornal ‘Correio Braziliense’- dados que revelaram as identidades de internautas que se identificaram apenas por apelidos. Mesmo depois de reconhecer ‘não ter visto qualquer indício de crime’ nas mensagens, a PF enviou as informações à Abin, que abriu processo disciplinar interno contra dois agentes, ameaçados de demissão.
Em documento confidencial, obtido pela Folha, a Abin revela que procurou a PF porque o cadastro de usuários no site era sigiloso, e só poderia ser obtido por autoridade policial. A PF e a Abin negam a quebra ilegal do sigilo dos internautas no caso.
Os autores das críticas à gestão da Abin usavam na internet codinomes como ‘pindaíba’, ‘desvendando’, ‘agente sofre-dor’, ‘arapongamandraque’ e ‘james bondcama’. As mensagens podiam ser vistas por qualquer internauta, mas as identidades eram preservadas.
Após desconfiar de seus funcionários, a Abin acionou a PF, que pediu os dados à empresa de comunicação. Em maio de 2007, a S.A. Correio Braziliense forneceu ao delegado Disney Rosseti uma lista de 11 participantes, com nome completo, CPF e e-mails declarados por eles em um cadastro prévio. A empresa também informou o endereço IP (protocolo de internet) dos internautas, o que permite identificar o computador usado para acessar o site.
Com base nos dados, repassados em novembro de 2007, o diretor-geral afastado da Abin, Paulo Lacerda, abriu em julho deste ano processo administrativo disciplinar contra os servidores Weber Ferreira Junqueira de Barros Junior e Iracema da Rocha Costa e Silva.
No despacho, Lacerda diz que, se valendo de ‘pseudônimos’, ‘registros falsos’ e CPFs ‘de terceiros’, eles emitiram ‘opiniões desrespeitosas, agressivas e de desapreço à hierarquia funcional e à imagem da Abin’ durante dois meses.
Este mês, Junior entrou com um mandado de segurança na Justiça Federal para tentar interromper o processo disciplinar. Ele alega que os dados foram obtidos de forma ilegal.
Na última terça-feira, a juíza Maria Cecília de Marco Rocha decidiu que ‘não há como, por ora, dizer que as provas colhidas na sindicância são oriundas de ‘devassa ilegal’. Ela argumenta que o site informa que os dados podem ser obtidos pela polícia se usuários ‘se tornarem alvos de investigação’.
A denúncia chegou à CPI dos Grampos. ‘Esse episódio é a síntese do Estado policial. Usa-se o aparato policial para apurar que crime? Uma infração administrativa, uma crítica ao chefe? Isso não é crime’, disse o presidente da CPI, Marcelo Itagiba (PMDB-RJ). Para o presidente da OAB, Cezar Britto, o caso revela traços de autoritarismo. ‘Esse meio de comunicação tem um papel importante na democratização das informações. Censurá-lo é um precedente perigoso’.’
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Envolvidos negam violação e dizem que repasse de informações não foi ilegal
‘A empresa Correio Braziliense S.A., a Polícia Federal e a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) negam qualquer ilegalidade ou violação de sigilo no processo que apurou a autoria de mensagens publicadas em fórum de debates do site CorreioWeb.
Dados de usuários do site foram obtidos pela Polícia Federal e repassados à agência sem autorização judicial.
A PF afirmou que, no início de 2007, a Abin solicitou investigação sobre possíveis crimes de funcionários da agência, os quais, conforme suspeita, estariam publicando informações sigilosas no CorreioWeb.
Com base nessa alegação, a PF diz ter pedido à Correio Braziliense S.A. informações do cadastro que uma pessoa preenche para acessar o CorreioWeb. Nesse cadastro, estão dados como o CPF, o nome completo, o Estado onde a pessoa mora e o e-mail do usuário.
Apesar da suspeita alegada de que funcionários estariam circulando informações sigilosas, a PF informou que não houve ‘qualquer indício de crime, uma vez que as mensagens somente traziam algumas críticas à administração da Abin, o que poderia configurar, em tese, no máximo infrações disciplinares’.
Ainda segundo a PF, as regras do CorreioWeb dizem que não será resguardado o sigilo dos dados dos usuários quando ‘eles se tornarem alvos de investigação’. As informações, porém, serão fornecidas ‘apenas diante de ordem judicial e/ ou autoridade policial’.
Com base nisso, o superintendente jurídico do Correio Braziliense, Vitório Augusto de Fernandes Melo, disse que não houve quebra de sigilo, pois as informações poderiam ser fornecidas a autoridades policiais -no caso, para a PF- sem ordem judicial.
‘A Abin chegou a pedir os dados informalmente, mas eu neguei’, disse o diretor, argumentando que só entregaria as informações à PF.
A partir dos dados repassados, a agência abriu, em julho deste ano, processo administrativo disciplinar contra os funcionários investigados.
Na avaliação da Abin, o processo foi apenas mais um trabalho de cooperação de rotina entre a PF e a agência.’
ATAQUE EM MUMBAI
Telespectador americano
‘A forma como a mídia e o público vêm reagindo à turbulência recente na Índia revela muito sobre como o terrorismo é reportado e apreendido nos EUA. A grande imprensa vem cobriu os fatos em Mumbai, mas não de modo extensivo ou em profundidade. A violência foi retratada como o tipo de coisa que acontece ‘lá’, em lugares distantes como a Ásia.
O tom da cobertura ficou evidente no jornal do horário nobre na TV pública. Dois professores universitários respeitados explicaram os acontecimentos num contexto quase inteiramente da Índia e do Paquistão. Atenção considerável foi dada às tensões entre muçulmanos e hindus e aos problemas crônicos na Caxemira.
O fato de americanos, britânicos e judeus terem sido alvejados especificamente não foi enfatizado. Mais importante foi a discussão de uma possível vinculação com as forças da Al Qaeda que têm seu quartel-general no norte do Paquistão.
Essa abordagem parece ser parte do que Noam Chomsky chamou de o processo de ‘manufatura do consentimento’.
Há apenas um ano, o Paquistão era retratado como aliado leal dos EUA, mas que estaria passando por problemas. Agora, o país é cada vez mais retratado como Estado falido. O Paquistão, em suma, está tomando o lugar do Irã como o Estado com o qual talvez seja necessário lidar militarmente. As consequências dos bombardeios americanos no Paquistão ganham cobertura mínima na mídia de massas, e todos os indicativos apontam para mais ações militares, em lugar de menos. O presidente eleito Barack Obama já declarou que não hesitará em lançar bombas no Paquistão, com ou sem o consentimento de Islamabad.
Num nível mais profundo, a cobertura feita pela mídia dos acontecimentos na Índia reflete uma indiferença geral da maioria dos americanos em relação ao que acontece em outros países. Essa indiferença é incentivada por programas noticiosos que mal tocam em questões exteriores, a não ser que crises estejam prestes a estourar. Os americanos geralmente são informados que esses acontecimentos foram totalmente inesperados. Na realidade, eles geralmente foram previstos por especialistas como sendo inevitáveis.
Os aspectos violentos do terrorismo na Índia não foram retratados com a urgência dada a ações semelhantes nos EUA.
Tiros disparados numa faculdade local ganham mais cobertura do que os acontecimentos em Mumbai, sobretudo na mídia local. O eurocentrismo não é necessariamente um fator importante. O assassinato de Theo Van Gogh na Holanda e os atentados na Espanha também receberam cobertura mínima. Tudo o que parece ter importância para a mídia são vidas americanas ceifadas nos EUA ou no campo de batalha.
Outro grande tema da cobertura é a demonização dos terroristas. Eles quase sempre são retratados como indivíduos desencaminhados, até mesmo idealistas, manipulados por líderes malévolos protegidos em esconderijos seguros. Gravemente mal-informado e com frequência ignorando por completo o que acontece em outros países, o público americano continua mal-informado sobre as realidades sociais e econômicas que geram atos terroristas. Não há repressão da informação. Há abundância de blogs e periódicos que falam sobre os assuntos mundiais com franqueza. Mas a grande imprensa reflete principalmente as posições do governo e se mantém em grande medida silenciosa em relação a outros pontos de vista. Foi esse o padrão que precedeu a invasão do Iraque.
DAN GEORGAKAS lecionou mídia e política global na Universidade de Nova York, no Queens College e na Universidade de Massachusetts e escreve extensamente sobre o tema
Tradução de CLARA ALLAIN’
Luís Ferrari
‘Repórter amador’ dita cobertura
‘Concebido como uma amenidade do mundo cibernético, mais uma rede social na internet, o Twitter, sistema de microblogs que permite a publicação de textos de até 140 caracteres, virou -para o bem e para o mal- um sistema de informações extra-oficial acerca da ação terrorista em Mumbai.
O site, que pode ser atualizado a partir de mensagens SMS enviadas por telefones celulares, revelou-se um mecanismo ágil de troca de informações, antecipando alguns dados que posteriormente foram noticiados por meios de comunicação indianos e ocidentais.
Emissoras de TV, jornais e sites locais incentivaram o público a mandar seu relatos particulares dos ataques e da ação repressora, divulgando fotografias e vídeos feitos pela população -o chamado ‘jornalismo cidadão’.
Foi por meio do Twitter, segundo relato do ‘Financial Times’, que um usuário da Austrália pediu (e mais tarde obteve) informações sobre a libertação de parentes hospedados no Oberoi. O serviço foi usado também para orientar doadores de sangue a se destinarem a determinados hospitais.
Lado negativo
Mas, num país obcecado por tecnologia, com 296 milhões de telefones celulares em uso e aparelhos à venda a partir do equivalente a R$ 34, o Twitter também foi inundado de informações inúteis.
O ‘Financial Times’ registrou proliferação de mirabolantes teorias da conspiração, e a Reuters citou um usuário que cobrou mais respeito no tom da linguagem das mensagens postadas: ‘É um ataque terrorista, não entretenimento. Tweeters [usuários], por favor sejam responsáveis ao postar’.
Também houve controvérsia acerca do risco de publicar os acontecimentos e comentários em tempo real antes do desfecho das ações de resgate -poderia trazer dados úteis aos terroristas, caso eles tivessem como monitorar o site.
A rede britânica BBC chegou a noticiar autoridades pedindo que os usuários não tratassem dos ataques no Twitter, o que, segundo o jornal ‘Guardian’, também do Reino Unido, revoltou os usuários, que apontaram injustiça no fato de a solicitação não ter sido estendida à mídia, só às iniciativas particulares.
Com agências internacionais’
TRAGÉDIA EM SANTA CATARINA
TV Cultura e clube promovem eventos para ajudar as vítimas
‘Amanhã a TV Cultura, em parceria com a prefeitura e o governo de São Paulo, promove o show ‘SOS Santa Catarina’, em prol das vítimas das chuvas, no Anhembi (av. Olavo Fontoura, 1.209, Santana, zona norte).
Confirmaram presença Ed Motta, Chico César, Fabiana Cozza, Simoninha, Jairzinho Oliveira e Lecy Brandão, entre outros. Os ingressos serão distribuídos a partir das 18h para quem levar uma garrafa de água mineral ou um cobertor.
O show vai das 20h às 22h e terá transmissão ao vivo pela TV Cultura. A entrada ocorrerá pelo portão 34. O acesso ao estacionamento gratuito será feito pelo portão 30.
O clube Esperia, na av. Santos Dumont, 1.313, também em Santana, aproveita a festa dos seus 109 anos, amanhã das 9h às 17h, para receber doações. O evento tem entrada gratuita.
As doações continuam chegando de todo o país e até do exterior. O Ministério das Relações Exteriores da Alemanha doou 200 mil euros (cerca de R$ 600 mil). A Embaixada dos Estados Unidos liberou US$ 50 mil (cerca de R$118 mil) para a aquisição de suprimentos de emergência. São Paulo enviou dois caminhões carregados de água e mantimentos. A Defesa Civil já arrecadou R$ 3 milhões.’
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E-mails falsos pedem doações para as vítimas de enchentes em sc
‘A Defesa Civil de Santa Catarina alerta que não envia correio eletrônico solicitando doações às vítimas das enchentes. E-mails em nome da instituição já circulam pela internet. A Folha teve acesso a um e-mail solicitando doação para uma conta corrente do banco Itaú que não é a conta oficial destinada às vítimas, segundo a assessoria de imprensa.
De acordo com o advogado Roberto Delmanto, o simples envio do e-mail não configura crime -trata-se de uma tentativa de estelionato. O crime só será consumado caso sejam efetuados depósitos na conta falsa.’
LITERATURA
Brasil em 1ª pessoa
‘‘O alemão Hans Staden (c.1520-1576) teve a oportunidade de ver de perto uma cerimônia que era central em toda a cultura tupi-guarani: comer a carne de um guerreiro inimigo valente, num ritual que reunia várias aldeias.’
Feita a breve explicação, que abre um dos capítulos do novo livro do jornalista e historiador Jorge Caldeira, o leitor pode em seguida receber a ‘notícia’ da cerimônia antropofágica diretamente da pena de Staden.
Em ‘Brasil – A História Contada por Quem Viu’, Caldeira reuniu relatos de ‘testemunhas da história’ do país, de Pero Vaz de Caminha a Pedro Collor de Mello, em textos que descrevem, de um ponto de vista particular, os momentos capitais da experiência brasileira.
Como se pode imaginar, não era todo dia que um sujeito tinha a ‘oportunidade’ de Staden e sobrevivia para contar história. A eficiência dos tupis era de fazer inveja a qualquer manual de auto-ajuda corporativa. Isso não faz do milagroso texto do mercenário alemão, no entanto, uma exceção na reunião feita por Caldeira.
Num país que tardou -e muito- a ter imprensa e universidade, relatos do que quer que seja eram coisa raríssima.
São poucas as vozes disponíveis para a seleção dos historiadores. Talvez isso ajude a explicar uma constatação do autor: ‘O ponto de vista não é muito valorizado na história do Brasil’.
‘É curioso isso. Pensamos o Brasil mais em termos de grandes abstrações do que na concretude, na coisa pequena, o momento, o fragmento’, afirma o jornalista, que disse ter procurado ir contra a corrente e reunir tais ‘fragmentos’ de forma sistemática.
Paradoxalmente, quando há relatos, muitos são de altíssima qualidade. Estão lá o padre Antônio Vieira a descrever o sofrimento dos escravos, Lima Barreto que saúda a abolição da escravidão, Nelson Rodrigues no momento em que aplica em Pelé o epíteto de ‘rei’.
Assim como na reflexão ‘sociológica’ sobre o Brasil, os escritores tiveram, também nesse caso, que acumular o trabalho da ficção e da realidade -antes que as universidades e jornais formassem outros observadores ‘técnicos’-, cumprindo o papel de ‘jornalistas’ dos grandes eventos.
BRASIL – A HISTÓRIA CONTADA POR QUEM VIU
Organizador: Jorge Caldeira
Editora: Mameluco
Quanto: R$ 59 (656 págs.)’
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Brasileiros se estranham, diz Caldeira
‘Os brasileiros são os outros. Essa é a impressão que tem o leitor -e Jorge Caldeira, organizador da obra- após percorrer os 170 relatos reunidos em ‘Brasil – A História Contada por Quem Viu’.
Das discussões de padres jesuítas sobre a alma e o pecado original entre os índios do território recém-descoberto à saga dos retirantes e a formação das grandes periferias e favelas, é preciso, na maior parte das vezes, recorrer a testemunhos e análises de observadores ‘externos’ para se travar contato com movimentos cruciais da sociedade brasileira.
‘Conversando com o antropólogo Darcy Ribeiro, certa vez, ele me fez notar algo interessante. Ele dizia que o primeiro relato escrito a partir do ponto de vista de um pobre na literatura brasileira, um escritor pensando como um sujeito que é pobre, e escrevendo na primeira pessoa como tal, é o Riobaldo, no ‘Grande Sertão: Veredas’, comenta Caldeira.
Assim é também nos relatos factuais. ‘Boa parte da nossa subjetividade é, durante longo período, ágrafa. Fui buscar onde nasceu essa subjetividade. Fala-se sempre sobre ‘eles’. No caso dos índios, é um ‘eles’ absoluto’, diz o jornalista.
‘O brasileiro que aparece aí nesse livro é quase sempre um objeto, ele é visto por outro. Ele não é o sujeito. É sempre ‘eles são assim’. E tem muito pouco a versão própria do brasileiro. A gente se estranha um pouco. Essa subjetividade, necessária para que o testemunho seja bom, é recente e rara.’
Excluídos do discurso
Embora, no século 20, aumentem a consciência de uma identidade nacional e o volume de relatos, que ganham forma comum e certa consistência por causa da influência do jornalismo, o ponto de vista ‘externo’ persiste.
‘Isso existe um pouco até hoje. Os brasileiros se estranham. Por exemplo, o que o favelado pensava há algumas décadas, que eu queria pôr no livro, está lá num relato antropológico da Ruth Cardoso. Não achei um auto-relato de um favelado nos anos 60, quando começou a se formar a atual periferia’, afirma Caldeira.
Um dos exemplos mais interessantes desse olhar aparece em poemas de Gregório de Matos (1623-1696) reproduzidos no livro, nos quais se pode capturar algo da vida na Bahia do século 17.
O mesmo autor sempre ocupado em confessar os próprios pecados, não poupa de críticas seus contemporâneos, embora muitas vezes se apartando deles. ‘Gregório vivia a mesma vida daqueles que ele criticava -era boêmio, gastava dinheiro-, mas achava que eram ‘eles’ que eram assim. Eram ‘eles’, não ‘somos nós’, comenta o organizador.
A obra se torna, assim, um acompanhamento da lenta formação de identidades e subjetividades brasileiras, processo ainda hoje truncado. ‘A subjetividade é uma coisa recente no Brasil. A identidade também. Para se ter subjetividade, você precisa ter gente escrevendo. Precisa ter treino. Você encontra pouca auto-identificação na história.’
Na falta de ‘treino’ está, para Caldeira, uma das causas desse modo próprio de se relacionar com o país. ‘O alto grau de analfabetismo na história do Brasil leva a um baixíssimo grau de testemunho’, ele afirma.
Mesmo na elite, a ausência de sistemas universitário e literário contribui para a restrita ‘auto-identificação’. ‘Em Lima, você já tinha jornal impresso em 1620, por exemplo. Você tinha gráfica nas reduções de índios guaranis’, cita Caldeira, para fazer o contraste com as colônias espanholas.
‘A política portuguesa realmente influencia muito nisso. No Brasil, o jornal de massa, a alfabetização em massa são coisas do século 20.’
É quando, segundo ele, finalmente o testemunho se torna ‘algo múltiplo’, quando ‘você passa a ter a oportunidade de escolha’.
Um desses raros casos acontece com o suicídio de Getúlio Vargas. Caldeira diz que todo mundo que estava no Palácio do Catete na noite de 23 de agosto de 1954 deixou algum tipo de relato sobre o que aconteceu. ‘Para esse momento é possível fazer um livro inteiro’, diz o organizador, que acabou selecionando o depoimento de Alzira Vargas, filha do presidente.
DESCOBRIMENTO (1500)
‘Foram-se lá todos e andaram entre os nativos. E, segundo eles diziam, andaram bem uma légua e meia até uma povoação em que haveria nove ou dez casas, as quais eram tão compridas, cada uma, como essa nau capitânia. Eram de madeira e cobertas de palha, de razoável altura. Todas as casas eram de um só ambiente, sem nenhuma divisão, e tinham dentro muitos pilares. De pilar em pilar havia uma rede atada pelos cabos, alta, em que dormiam. Debaixo, para se aquentarem, faziam seus fogos. E cada casa tinha portas pequenas, uma num lado e outra no outro. Diziam que em cada casa se recolhiam 30 ou 40 pessoas, pois assim se organizavam.’
PERO VAZ DE CAMINHA, em carta ao rei d. Manuel (1469-1521)
ANTROPOFAGIA (séc. 16)
‘Assim que tudo está preparado, determinam o tempo em que deve morrer o prisioneiro e convidam os selvagens de outras aldeias para que venham assistir. Enchem então de bebidas todas as vasilhas. Um ou dois dias antes de as mulheres fabricarem as bebidas, conduzem o prisioneiro uma ou duas vezes ao pátio dentre as cabanas e dançam-lhe em volta. Logo que estão reunidos todos os que vieram de fora, dá-lhes as boas vindas o principal da choça e diz: ‘Vinde e ajudai a comer o vosso inimigo’.’
HANS STADEN (c.1520-1576), que foi capturado por índios tupis, mas deixou de ser comido por ter sido considerado covarde
TIRADENTES ENFORCADO (1792)
‘Pelas onze horas do dia, que o sol descoberto fazia ardente, entrou na praça vazia por um dos ângulos da figura, que faziam os regimentos postados, o réu e o demais acompanhamento dos ministros de justiça, dos irmãos da misericórdia, do clero e dos religiosos. Ligeiramente subiu os degraus e, sem levantar os olhos, que sempre conservou pregados no crucifixo sem estremecimento algum, deu lugar ao carrasco para preparar o que era necessário e, por três vezes, pediu-lhe que abreviasse a execução.’
FREI RAIMUNDO DE PENAFORTE, um dos confessores de tiradentes
INDEPENDÊNCIA (1822)
‘Montava d. Pedro uma possante besta gateada, sendo menos verdadeira a notícia, mais tarde dada pelos jornais, de que vinha em ardoroso cavalo de raça mineira. […] Já havíamos subido a serra quando d. Pedro se queixou de ligeiras cólicas intestinais, precisando por isso apear-se, para empregar os meios naturais de aliviar seus sofrimentos. Observou-nos então que melhor seria a guarda seguir adiante e esperá-lo na entrada de São Paulo’
MANUEL MARCONDES DE OLIVEIRA MELO (1780-1863), futuro barão de Pindamonhangaba, que acompanhava d. Pedro na viagem pela província de São Paulo
ABOLIÇÃO (1888)
‘Fazia sol e o dia estava claro. Jamais, na minha vida, vi tanta alegria. Era geral, era total […]. Houve missa campal no campo de São Cristóvão. Eu fui também com meu pai; mas pouco me recordo dela, a não ser lembrar-me que, ao assisti-la, me vinha aos olhos a Primeira Missa, de Vítor Meireles. Era como se o Brasil tivesse sido descoberto outra vez… Houve também préstitos cívicos. Anjos despedaçando grilhões, alegorias toscas passaram lentamente pelas ruas.’
LIMA BARRETO (1881-1922), o escritor, que era mulato, e publicou, em 1911, sua memória do dia em que foi assinada a Lei Áurea
PELÉ
‘O que nós chamamos de realeza é, acima de tudo, um estado de alma. […] Quando ele apanha a bola, e dribla um adversário, é como quem enxota, quem escorraça um plebeu ignaro e piolhento.’
NELSON RODRIGUES (1912-1980), o escritor que decretou, três meses antes da Copa de 1958, que Pelé era ‘rei’’
JOSÉ SARAMAGO
A humanidade não merece a vida
‘O ESCRITOR português José Saramago, 86, disse ontem que ‘a história da humanidade é um desastre’ e que ‘nós não merecemos a vida’. O autor, vencedor do Nobel de Literatura em 1998, participou de sabatina da Folha em celebração dos 50 anos da Ilustrada. O debate, assistido por 300 pessoas em um Teatro Folha lotado, teve como mediador o secretário de Redação do jornal Vaguinaldo Marinheiro. Participaram também, como entrevistadores, o crítico Luiz Costa Lima, a repórter da Ilustrada Sylvia Colombo e Manuel da Costa Pinto, colunista do caderno.
DA REPORTAGEM LOCAL
HUMANIDADE
A história da humanidade é um desastre contínuo. Nunca houve nada que se parecesse com um momento de paz. Se ainda fosse só a guerra, em que as pessoas se enfrentam ou são obrigadas a se enfrentar… Mas não é só isso. Esta raiva que no fundo há em mim, uma espécie de raiva às vezes incontida, é porque nós não merecemos a vida. Não a merecemos. Não se percebeu ainda que o instinto serve melhor aos animais do que a razão serve ao homem. O animal, para se alimentar, tem que matar o outro animal. Mas nós não, nós matamos por prazer, por gosto. Se fizermos um cálculo de quantos delinqüentes vivem no mundo, deve ser um número fabuloso. Vivemos na violência. Não usamos a razão para defender a vida; usamos a razão para destruí-la de todas as maneiras -no plano privado e no plano público.
MARXISMO HORMONAL
Desde muito novo orientei-me para a consciência de que o mundo está errado. Não importa aqui qual foi o grau da minha militância todos esses anos. O que importa é que o mundo estava errado, e eu queria fazer coisas para modificá-lo. O espaço ideológico e político em que se esperava encontrar alguma coisa que confirmasse essa idéia era, é claro, a esquerda comunista. Para aí fui e aí estou. Sou aquilo que se pode chamar de comunista hormonal. O que isso quer dizer? Assim como tenho no corpo um hormônio que me faz crescer a barba, há outro que me obriga a ser comunista.
CRISE ATUAL
Marx nunca teve tanta razão quanto agora. O trabalho constrói, e a privação dele é uma espécie de trauma. Vamos ver o que acontece agora com os milhões de pessoas que vão ficar sem emprego. A chamada classe média acabou. Ou melhor: está em processo de desagregação. Falava-se em dois anos [para a recuperação da economia depois da crise financeira]; agora já se fala em três. Veremos se Marx tem ou não razão.
DEUS E BÍBLIA
Por que eu teria de mudar [a concepção de Deus após a doença]? Porque supostamente me salvou a vida? Quem me salvou foram os médicos e a minha mulher. E Deus se esqueceu de Santa Catarina? Não quero ofender ninguém, mas Deus não existe. Salvo na cabeça das pessoas, onde está o diabo, o mal e o bem. Inventamos Deus porque tínhamos medo de morrer, acreditávamos que talvez houvesse uma segunda vida. Inventamos o inferno, o paraíso e o purgatório. Quando a igreja inventou o pecado, inventou um instrumento de controle, não tanto das almas, porque à igreja não importam as almas, mas dos corpos. O sonho da igreja sempre foi nos transformar em eunucos. A Bíblia foi escrita ao longo de 2.000 anos e não é um livro que se possa deixar nas mãos de um inocente. Só tem maus conselhos, assassinatos, incestos…
RELAÇÃO COM PORTUGAL
Espalham por aí idéias sobre minha relação com meu país que não estão corretas. Saímos [Saramago e sua mulher, Pilar] de Lisboa [para a ilha de Lanzarote] em conseqüência de uma atitude do governo, não do país nem da população. Mas do governo, que não permitiu que meu livro [‘O Evangelho Segundo Jesus Cristo’] fosse inscrito num prêmio da União Européia. Nunca tive problemas com o meu país, mas com o governo, que depois não foi capaz de pedir desculpas. Nisso, os governos são todos iguais, dificilmente pedem desculpas. Fomos para lá e continuamos pagando impostos em Portugal. Agora temos duas casas. Mudei de bairro, porque o vizinho me incomodava. E o vizinho era o governo português.
ACORDO ORTOGRÁFICO
Em princípio, não me parecia necessário. De toda forma, continuaríamos a nos entender. O que me fez mudar de opinião foi a idéia de que, se o português quer ganhar influência no mundo, tem de adotar uma grafia única. Se Portugal tivesse 140 milhões de habitantes, provavelmente teríamos imposto ao Brasil a nossa grafia. Acontecem que os 140 milhões estão no Brasil, e o Brasil tem mais presença internacional. Perderíamos muito com a idéia de que o português é nosso, nós o tornaríamos uma língua que ninguém fala. Quando acabou o ‘ph’, não consta que tenha havido uma revolução.
LITERATURA BRASILEIRA
Houve um tempo em que os autores brasileiros estavam presentes em Portugal, e em alguns casos podíamos dizer que conhecíamos tão bem a literatura brasileira quanto a portuguesa. Graciliano Ramos, Jorge Amado, os poetas, como João Cabral [de Melo Neto], Manuel Bandeira, essa gente era lida com paixão. Para nós, aquilo representava a voz do Brasil. Agora, que eu saiba, não há nenhum escritor brasileiro que seja lido com paixão em Portugal. Culpo a mim, talvez, por não ter a curiosidade. Mas também não temos a obrigação de descobrir aquilo que nem sabemos se existe.
LEITOR
O leitor me importa só depois que escrevi. Enquanto escrevo, não importa, porque não se escreve para um leitor específico. Há dois tempos, o tempo em que o autor não tinha leitores e o tempo em que tem. Mas a responsabilidade é igual, é com o trabalho que se faz. Agora, eu penso nos leitores quando recebo cartas extraordinárias. É um fenômeno recente. Ninguém escreveu a Camões, mas hoje há essa comunicação, essa ansiedade do leitor.
‘Em nome de todos os brasileiros, obrigada por existir’, disse alto, ao final da sabatina, uma integrante da platéia, enquanto Saramago terminava de falar.’
Folha de S. Paulo
Luiz Paulo Horta é empossado na Academia Brasileira de Letras
‘A ABL (Academia Brasileira de Letras) empossou ontem à noite o jornalista, teólogo e crítico musical Luiz Paulo Horta, 65. Primeiro acadêmico ligado à música, Horta é o sucessor da escritora Zélia Gattai na cadeira nº 23, inaugurada em 1897 por Machado de Assis e ocupada também por Jorge Amado de 1961 a 2001.
No discurso de posse, Horta homenageou Machado de Assis e lembrou o centenário de morte do escritor. ‘Se há o Machado melancólico do Dom Casmurro e do Quincas Borba, há o Machado dos contos, o Machado inesgotável das crônicas, e o Machado final do Memorial de Ayres, que eu leio como se fosse pura música’, disse Horta, que também citou os outros ocupantes da cadeira.
Na cerimônia, realizada no Salão Nobre do Petit Trianon, Horta foi recebido pelo acadêmico Tarcísio Padilha e recebeu o Colar Acadêmico do escritor Ivan Junqueira. A entrega do diploma de membro efetivo foi feita pelo acadêmico Arnaldo Niskier.
‘A Academia Brasileira de Letras vos acolhe de braços abertos na plena convicção de que vós lhe aportareis a preciosa contribuição de vossa cultura e de vosso ameno convívio’, discursou Padilha. Horta foi eleito para a ABL com 23 votos em agosto. Em segundo lugar ficou o escritor Ziraldo, com 11.
Jornalista e teólogo, ele atua desde os anos 1970 como crítico em jornal e atualmente escreve para ‘O Globo’. O crítico é autor de ‘Sete Noites com os Clássicos’ e ‘Villa Lobos: Uma Introdução’, entre outros livros.’
TELEVISÃO
Filho do ‘rei’, Dudu Braga estréia na Cultura
‘Dudu Braga se tornou cego aos 22 anos. Filho do ‘rei’ Roberto Carlos, desde então, adotou, em relação à deficiência física, uma posição bem diferente da do pai, que perdeu uma perna na infância. Ele fala abertamente a respeito do fato de não enxergar e hoje estréia como apresentador de um programa de televisão sobre atividades físicas para deficientes. ‘Sou de uma geração que fala sobre tudo de maneira aberta.
Além disso, a visão das pessoas mudou. Antes, o deficiente era visto como escória, falava-se ‘aleijado’, e quem tinha deficiência escondia. Hoje existe um respeito maior. Costumo dizer que o deficiente é interessante até para o marqueteiro, porque tem um diferencial.’
Produtor musical e apresentador de um programa de rádio, Dudu comandará na Cultura o ‘Vida em Movimento’, durante oito sábados. Fará na vida real o que já experimentou na ficção.
Em 2005, foi convidado por Glória Perez para apresentar um programa dentro da novela ‘América’, que fez merchandising social da deficiência visual, com o personagem de Marcos Frota (Jatobá). A atração fictícia se chamou ‘É Preciso Saber Viver’, como o clássico do pai.
Dudu, que faz 40 anos em dezembro, conta ter apresentado o projeto de um programa como o mesmo nome para a Cultura, que resolveu antes exibir ‘Vida em Movimento’, uma série de DVDs já gravada pelo Sesi. ‘Será uma experiência. Se der certo, podemos entrar na programação em 2009.’
Além do próprio tema, outra novidade do programa é usar a audiodescrição, narração que descreve cenas para cegos.
Dudu diz que a ferramenta é ‘essencial para deficiente visual que não é casado’. ‘Em casa, minha mulher faz a descrição para mim.’ Ele explica ser possível acompanhar alguns programas, especialmente os de humor, mais falados, mas que há obras inviáveis. ‘Filme europeu não dá. Iraniano, então, nem pensar’, diz Dudu, bem-humorado.
VIDA EM MOVIMENTO
Quando: hoje, às 10h
Onde: TV Cultura
Classificação: livre’
Folha de S. Paulo
VH1 repassa história dos Paralamas
‘‘Tô’ louco pra ver a primeira resposta, o que ‘nego’ vai falar…’, diz Herbert Vianna, num registro de 1986, ano em que ‘Selvagem’ chegou às lojas.
O disco se pretendia um divisor de águas entre a temática quase jovem-guardista dos dois primeiros LPs e uma visão de ‘testemunhas de experiências sociais’, que os Paralamas do Sucesso resolveram testar após sua primeira turnê nacional.
‘Todos os colegas tacaram pedra na gente, Barão, Titãs…’, conta depois o baixista Bi Ribeiro. As letras ‘maduras’ não incomodaram os outros roqueiros do cenário BRock -o problema era aquele som que lembrava carimbó, que não parecia rock (‘Alagados’ foi uma coisa meio ‘ué?’, tenta explicar Roger, do Ultraje a Rigor).
O episódio está no primeiro ‘Behind the Music’ brasileiro exibido hoje na VH1, dedicado à banda carioca, em meio aos altos e baixos pelos quais o grupo passou em 26 anos, como o acidente de ultraleve que deixou Vianna paraplégico, em 2001.
Pérolas da narração à parte (‘powertrio que provocou uma revolução selvagem’), o especial vale pelos registros antigos -incluindo Vianna, de bermudinha e óculos de aro grosso, dando bronca na platéia do Rock in Rio, antes de conquistá-la com ‘Óculos’ e cia.
BEHIND THE MUSIC
Quando: hoje, às 22h
Onde: no VH1
Classificação indicativa: não informada’
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