COMUNICAÇÃO
Ruy Castro
Risos galináceos
‘RIO DE JANEIRO – Uma característica dos e-mails, além da velocidade da comunicação, é a simplificação das mensagens. Assim como nos antigos telegramas -haverá algum sub-90 que ainda passe telegrama em dias de hoje?-, as palavras podem ser podadas, resumidas ou abreviadas, acelerando mais ainda a comunicação. Como a humanidade troca milhões de e-mails por segundo, temo que, em pouco tempo, comecemos a falar da maneira como os escrevemos -se é que isso já não está acontecendo.
A representação gráfica do riso nos e-mails, por exemplo, está se tornando, cada vez mais, kkkkkkkk kkkkkkkkkkkkk. O remetente escreve algo que ele próprio acha engraçadíssimo. Então, tecla o k e deixa a letra disparar. Pronto, está dada a hilariante mensagem. Se o recipiente não rir, problema dele.
O kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk, até pela facilidade de escrever, parece ter aposentado o querido hahahahahahahahahaha. O que significa isto? Que passamos a cacarejar em vez de gargalhar? Nos e-mails, sim. Só espero que, na vida real, as pessoas não abandonem o gordo e pleno hahahahahahahahahaha, que vem das profundas das entranhas e faz com que a gente se sacuda, pelo som glótico, quase galináceo, tipo bruxa de disco infantil, do kkkkkk kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
Uma alternativa a kkkkkkkkkkk kkkkkkkkkkkkkk é quando o sujeito escreve rsrsrs -que, só há pouco, na minha profunda inocência tecnológica, descobri ser uma abreviatura de risos. Juro que, até então, eu pensava que rsrsrs era uma abreviatura de rosnado ou de rilhar de dentes -até que uma amiga me alertou de que, para significar rosnado, o sujeito provavelmente escreveria grrr.
Aprenderei. Mas acho difícil que, um dia, eu passe a usar rsrsrs, grrr ou o kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk. Até lá, bjs e abrs.’
DITADURA
Folha de S. Paulo
Professores pedem direito de resposta no caso ditabranda
‘Por meio de seus advogados, os professores Fábio Comparato e Maria Victoria Benevides requerem a publicação das considerações abaixo a título de ‘direito de resposta’ a declarações do diretor de Redação da Folha, Otavio Frias Filho, publicadas em 8 de março:
‘Levar mais de duas semanas para reconhecer um desatino editorial (a classificação do regime militar brasileiro como ‘ditabranda’), imputando a responsabilidade pelo episódio ao teor de nossas críticas, não parece um comportamento compatível com a ética do jornalismo. Sempre sustentamos, sem precisar receber lições de ninguém, que as vítimas de regimes arbitrários, aqui e alhures, merecem igual proteção e respeito, sem desvios ideológicos ou idiossincrasias pessoais.’
Nota da Redação: O tratamento dado pela Folha ao uso da palavra ‘ditabranda’ em editorial de 17 de fevereiro, com a publicação de diversas críticas e o reconhecimento da impropriedade do termo, é um exemplo de transparência editorial. Imaginava-se encerrado o episódio, mas os professores Comparato e Benevides estão empenhados em extrair dele o máximo rendimento possível. As opiniões de ambos sempre foram transmitidas pelo jornal, por meio de numerosos artigos, sem a necessidade de advogados. A ‘resposta’ acima é publicada com base na Lei 5.250/67, editada pela ditadura militar, a fim de que vítimas de regimes cautelosamente chamados de ‘arbitrários’ e vagamente situados ‘alhures’ também se sintam destinatários dessa solidariedade envergonhada.’
CAMPANHA
Flávio Ferreira
Para procurador, Lula e Dilma não anteciparam propaganda
‘A Procuradoria Geral Eleitoral afirmou em parecer que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) não realizaram propaganda eleitoral antecipada no encontro de prefeitos organizado pelo governo federal em 10 e 11 de fevereiro.
A manifestação da Procuradoria é resultado de uma representação protocolada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) pelo PSDB e DEM.
Na ação judicial, Lula e Dilma são acusados de usar o evento, que reuniu cerca de 5.000 prefeitos em Brasília, para promover eleitoralmente a ministra, pré-candidata do PT à Presidência da República.
O parecer, cujo conteúdo pode ser acolhido ou rejeitado pelo TSE, é do vice-procurador-geral eleitoral Francisco Xavier Pinheiro Filho.
Segundo o texto, não há na representação provas de que houve ‘divulgação de ideias capazes de indicar futura candidatura, nem mensagem tendente a influir na opinião do eleitor com o propósito de angariar voto. Não há nos discursos do presidente ou da ministra referência à eleição, candidatura ou pedido de voto’.
Para o vice-procurador, os elogios feitos por Lula a Dilma no evento não configuraram propaganda irregular.
O parecer também aponta que o encontro foi suprapartidário e que contou inclusive com a presença de representantes do PSDB e do DEM.
Pinheiro Filho reproduziu na manifestação dois argumentos da defesa de Lula e Dilma, que está sendo conduzida pela Advocacia Geral da União.
O primeiro foi o de que no evento ‘compareceu até mesmo o governador do Distrito Federal, o senhor José Roberto Arruda, filiado ao Democratas (DEM), que acompanhou o presidente da República na abertura dos trabalhos e aproveitou a ocasião para também fazer seu discurso’.
A manifestação da Procuradoria, a exemplo da petição da defesa, aponta que ‘não se pode ter como meramente eleitoreiro um evento dessa natureza’ e que ‘o governador [de São Paulo] José Serra, filiado ao Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), também realizou, em 18 de fevereiro de 2009, encontro com os prefeitos paulistas, sem sofrer os incômodos de uma representação’.
Procurado para se manifestar sobre o parecer, o PSDB afirmou por meio de nota que ‘mantém a posição expressada na representação ao TSE’.
A assessoria do DEM informou que o partido ‘reitera sua posição de que os atos cometidos pelo presidente Lula e a ministra Dilma são contrários à legislação eleitoral’.
Agora o relator do processo no TSE, o ministro Arnaldo Versiani, pode adotar três caminhos: julgar sozinho a representação, levar o processo para julgamento pelo plenário do TSE ou abrir prazo para as partes se manifestarem sobre o parecer da Procuradoria.’
SÃO PAULO
Folha de S. Paulo
Folha é o jornal com a cara de SP, diz pesquisa
‘A Folha é o jornal que tem a cara de São Paulo. É essa a opinião de 44% dos entrevistados pelo instituto APPM (Análise, Pesquisa e Planejamento de Mercado), que buscou determinar pessoas, lugares, produtos e costumes que compõem a identidade da cidade.
Na categoria jornal impresso, ‘O Estado de S.Paulo’ obteve 26% dos votos. O ‘Diário de S.Paulo’ ficou com 15% do total, enquanto o ‘Jornal da Tarde’ foi indicado por 12%.
A Folha obteve mais votos do que os outros jornais em todas as faixas etárias. O maior percentual de votos ficou entre os entrevistados com ensino superior: 56% deles afirmaram que a Folha é o jornal com a cara de São Paulo.
‘A importância desses dados vai além de uma lista de preferências’, diz Antônio de Pádua Prado Júnior, sócio da APPM. ‘Eles apontam para um conceito de imagem que os paulistanos têm das marcas, que envolve confiabilidade e questões históricas. Ao mesmo tempo, são pessoas e produtos que, de certa maneira, se impuseram e são vitoriosos na metrópole, apesar das dificuldades.’
Alguns colunistas da Folha também mereceram destaque na pesquisa. José Simão obteve 22% dos votos, enquanto Gilberto Dimenstein ficou com 21% do total. Para os jovens entre 16 e 24 anos, Dimenstein obteve 27% do total.
Ídolos
Feita em parceria com a revista ‘Veja São Paulo’ para o aniversário da cidade, a pesquisa foi realizada nos dias 12 e 13 de janeiro com mil entrevistados adultos e moradores da cidade. Numa fase anterior, tinham sido ouvidos cinco grupos de dez pessoas sobre a imagem que eles têm da capital. Essas entrevistas foram usadas para formular os questionários aplicados posteriormente.
Além dos jornais, os paulistanos elegeram a revista ‘Veja’ e as rádios Band e Nativa FM como veículos que têm a cara da cidade. Também foram eleitos na pesquisa clássicos como o Parque do Ibirapuera, o Museu do Ipiranga, o Teatro Municipal e o Morumbi. Entre as personalidades que simbolizam São Paulo, estão Silvio Santos, Hebe Camargo, Rogério Ceni, Roberto Carlos e os Titãs.
Na primeira edição da pesquisa, feita em 1990, foi perguntado aos paulistanos que cara a cidade teria se fosse uma pessoa. Naquela época, São Paulo seria homem, corintiano e trabalharia num banco na avenida Paulista. Seria casado, mas teria amantes. Gostaria de samba, mas não saberia dançar. Bem de vida, passaria os fins de semana no Guarujá e dirigiria um Monza. Seu nome seria Progresso e Esperança.
Nesta edição, a mesma pergunta foi feita, mas a cara da cidade mudou. São Paulo seria uma mulher, casada e com filhos. Com um bom salário por trabalhar no mercado financeiro, ela torceria para o São Paulo e seria bem-humorada. ‘Gastaria como se não houvesse amanhã’, enfrentaria o trânsito numa Cherokee e teria voltado a estudar recentemente, dessa vez psicologia. Seu nome seria Maria Vitória.’
LÍNGUA
Folha de S. Paulo
Museu e FMU distribuem guia de reforma ortográfica em escolas
‘Visitantes do Museu da Língua Portuguesa, bibliotecas e cerca de 7.900 escolas públicas do Estado de São Paulo receberão um manual com as mudanças propostas pelo Acordo Ortográfico, em vigor desde janeiro.
O ‘Guia da Reforma Ortográfica’ é resultado de uma parceria entre a FMU e o Museu da Língua Portuguesa. Será lançado na segunda-feira e começará a ser distribuído na terça. Ele também estará disponível para download gratuito no site da FMU (www.fmu.br).
‘A ideia do guia é ajudar os nossos visitantes’, diz Antonio Carlos Sartini, superintendente do museu. ‘Porque, sempre que surgem mudanças, surgem perguntas.’
A tiragem inicial do guia é de 100 mil exemplares -metade será distribuída aos frequentadores do museu e a outra metade às escolas e bibliotecas paulistas.
Segundo Arthur Sperandéo, vice-reitor da FMU, em abril sairá uma segunda tiragem, que será distribuída a escolas públicas de todo o país. ‘É uma contribuição para a educação brasileira.’
‘As regras sempre são gerais, então, na dúvida sobre uma palavra específica, o usuário deve recorrer ao Volp [Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa]’, diz Ataliba Teixeira de Castilho, especialista em língua portuguesa que participou da elaboração do guia.
Elaborado pela Academia Brasileira de Letras, o Volp registra a grafia correta das palavras. Ele será lançado oficialmente na quinta.’
Cíntia Acayaba e Matheus Pichonelli
Brasil tem uma biblioteca para cada 33 mil habitantes
‘O Brasil tem apenas uma biblioteca pública para cada 33 mil habitantes. São hoje 5.796 bibliotecas públicas cadastradas ou em processo de implantação. Os números são resultado de um levantamento feito pela Fundação Biblioteca Nacional a pedido da Folha.
Na Argentina, a média é de uma biblioteca para cada 17 mil pessoas. Segundo o CFB (Conselho Federal de Biblioteconomia), a proporção na França é de uma instituição para cada 2.500 pessoas.
Anteontem foi celebrado o Dia do Bibliotecário no Brasil, onde cerca de 6,5% municípios (361) não possuem uma biblioteca. A meta do governo federal é zerar o número de cidades sem esses espaços até 2010.
Para a presidente do CFB, Nêmora Arlindo Rodrigues, o índice de bibliotecas por habitante no país é ‘tragicamente insuficiente’. ‘Reconhecemos as iniciativas do Ministério da Cultura, que são um avanço, mas estamos longe do ideal.’
Segundo Rodrigues, cerca de 90% das bibliotecas não têm acervo adequado, não atendem às demandas nem possuem profissionais capacitados. ‘Somos pouco mais de 30 mil bibliotecários e a maioria trabalha em outros locais’, diz.
O ideal seria que uma biblioteca com 201 livros tivesse ao menos um profissional em biblioteconomia, diz Regina Céli de Sousa, ex-presidente do CRB (Conselho Regional de Biblioteconomia) de São Paulo.
O Estado com a situação mais grave é o Amazonas, onde há 19 bibliotecas para 3,2 milhões de habitantes -uma para cada quase 170 mil pessoas.
Sharles Silva da Costa, diretor de bibliotecas do Amazonas, diz que o levantamento não leva em conta o número dessas instituições em Manaus -ele não informa quantas são.
Mesmo assim, diz, quase dois terços dos municípios no Estado não têm bibliotecas. Já o Tocantins, com 144 bibliotecas e 1,2 milhão de habitantes, tem o melhor índice do país: 10 mil pessoas por biblioteca. Cada espaço, segundo o governo local, tem ao menos 3.000 itens em seu acervo.
São Paulo, com 714 e dez cursos de biblioteconomia, tem o melhor acervo e estrutura, afirma o conselho. Só a capital tem um acervo com cerca de 2 milhões de livros. Mas no ranking ‘biblioteca por habitante’, o Estado é o sexto pior.
Segundo o Instituto Pró-Livro, cerca 73% dos brasileiros não frequentam bibliotecas.
Além das instituições públicas, o país tem 52.634 bibliotecas escolares, 2.165 universitárias e cerca de 10 mil comunitárias.
Colaborou THIAGO GUIMARÃES , de Buenos Aires’
BIOGRAFIA
Mônica Bergamo
Aquele abraço
‘Gilberto Gil assinou contrato com a editora Nova Fronteira para o lançamento de um livro sobre sua vida. O músico escolheu como biógrafo o jornalista Otávio Rodrigues, que já o entrevistou para revistas como ‘Trip’, ‘VIP’ e ‘Rolling Stone’. Ele passou uma semana em Salvador na casa de Gil em janeiro e conheceu o bairro de Santo Antônio, onde o cantor morou a partir dos dez anos.
DO MUNDO
Rodrigues calcula que a pesquisa e a redação do livro devam durar ‘de dois a três anos’. Ele elaborou uma lista prévia de 300 brasileiros e estrangeiros para serem entrevistados para a obra. ‘Dos vendedores de coco em Salvador ao ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan, todo mundo tem uma história com o Gil’, diz.’
TELEVISÃO
Fernanda Ezabella
‘Larica Total’ ensina ‘culinária de guerrilha’
‘‘Culinária verdade, da realidade’. É com essa ideia na cabeça e poucas panelas à mão que Paulo Tiefenthaler tem feito picadinho da noção limpinha da arte de cozinhar na televisão. Ele protagoniza o programa ‘Larica Total’, que vai ao ar na noite de sexta, à 0h30, no Canal Brasil. Há reprises ao longo da programação, como hoje, às 22h30.
Tiefenthaler está longe de ser um bonitão como Jamie Oliver, um descolado como Alex Atala ou mesmo um chef. Ele é ator, interpreta Paulo de Oliveira, um solteirão metido a filósofo que faz da cozinha de sua casa antiga em Santa Teresa, no Rio, o estúdio experimental para seu programete de 15 minutos.
‘Yakisobra’, ‘sushi de feijoada’ e ‘moqueca de ovo’ são alguns de seus pratos ‘elaborados’. Tem também sopa, sanduíche e arroz. Às vezes, ele surge enrolado numa toalha, fantasiado para o Carnaval ou de ressaca. Está sempre aberto ao erro -que não são poucos- e a muita improvisação. ‘Não é a panela ideal, mas é a que temos, então vamos em frente’, avisa, olhando para a câmera, desafiador. Em conversa por telefone, explica: ‘O ‘Larica’ é a culinária verdade, cozinha de guerrilha, mas de guerrilha do dia-a-dia da gente, a verdade da nossa geladeira’.
O programa, que está no final da primeira temporada, é feito por um ‘exército de Brancaleone’, segundo o ator. Os três diretores são editores e redatores; há um técnico de som e dois produtores, um deles filósofo, que já errou três vezes na data de validade dos alimentos. Tiefenthaler, 40, nasceu na Suíça e foi criado no Rio. É também cineasta de curtas e editor de cinema e televisão.
Apesar da sua interpretação parecer uma sátira aos programas assépticos de culinária, ‘Larica Total’ é levado a sério pelos fãs. Há uma comunidade bem ativa no Orkut, além de um site oficial que vende camisetas e já recebeu mais de 200 sugestões de receitas.
Os fãs também são responsáveis pela postagem dos episódios no YouTube. São cerca de 300 mil page views para todos os 21 capítulos na internet. Tiefenthaler também leva o trabalho com seriedade. Fica irritado quando dizem que sua cozinha é suja, ou seus pratos, nojentos. Aliás, a cozinha é da casa dele mesmo, e não fictícia do personagem, com o qual sua personalidade entusiasmada se mistura um pouco.
‘Todos os pratos ficam bons, é comida normal, caseira’, diz, se esquecendo da salsicha que acabou crua após ser ‘flambada’, ou seja, aquecida diretamente na boca do fogão. ‘Minha cozinha é limpa, real. Não é um cenário de novela.’ ‘O molho Total Flex não é nojento’, diz, defendendo um molho de frango. ‘É tomate com mostarda, vinho misturado com um pouco de mel. É uma maluquice, mas fica bom.’
LARICA TOTAL
Quando: sexta, à 0h30; reprise hoje, 22h30, e amanhã, 15h30 e 20h05
Onde: Canal Brasil
Classificação: livre’
INTERNET
Débora Mismetti
Publicidade infantil na rede é alvo de críticas
‘O uso de sites como ferramenta de publicidade dirigida a crianças é um dos alertas da pesquisa do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) e do projeto Criança e Consumo do Instituto Alana, divulgada nesta semana.
O trabalho constatou que, de 12 multinacionais produtoras de alimentos, 10 mantêm sites que promovem as guloseimas, 9 deles com jogos interativos e brincadeiras. A pesquisa também monitorou a publicidade na programação infantil em dois canais de televisão aberta (SBT e Globo) e a cabo (Cartoon Network e Discovery Kids), em janeiro e fevereiro deste ano.
Um dos jogos propostos pelos sites das marcas de alimentos é o da bolacha Passatempo, da Nestlé. Seguindo uma lista de compras, é preciso selecionar, entre chocolates e pacotes de biscoitos, o que vai entrar no carrinho de supermercado. Se algum item errado entrar na compra, a ‘grana’ some mais rápido. Ao identificar corretamente as embalagens de bolachas, a criança passa de fase.
O problema da manutenção desses sites e da publicidade na televisão, segundo o estudo, é que eles estariam em contradição com compromissos assumidos pelas multinacionais nos Estados Unidos, na União Europeia e junto à Organização Mundial da Saúde.
As empresas Burguer King, Cadbury Adams, Coca-Cola, Danone, Ferrero, General Mills, Hershey, Kraft, Kellogg’s, Mars, McDonald’s, Nestlé, Pepsico e Unilever, que atuam no Brasil, assinaram acordos em que se comprometem, em linhas gerais, a não anunciar alimentos não considerados saudáveis para crianças menores de 12 anos.
Para estabelecer o que é um alimento não saudável, cada empresa publicou critérios nutricionais. Segundo o Idec e o Alana, esses parâmetros não são seguidos no Brasil. Os institutos consideram isso uma diferença de tratamento entre consumidores brasileiros e americanos e europeus.
As entidades apontam que os sites de Burguer King, Bubbaloo (Cadbury), Toddynho e Cheetos (Pepsico), Kinder Ovo (Ferrero), Kapo (Coca-Cola), Danoninho (Danone), Sucrilhos (Kellogg’s), Passatempo e Chamyto (Nestlé) não poderiam conter apelos dirigidos para crianças.
Comerciais de TV do McLanche Feliz e do cereal Estrelitas de Mel, da Nestlé, foram considerados irregulares, por anunciarem produtos que excederiam os limites impostos pelas próprias empresas nos acordos internacionais.
A coordenadora do projeto Criança e Consumo do Instituto Alana, Isabella Henriques, diz que a publicidade na internet é tão prejudicial quanto a de TV. ‘A audiência é menor, mas o impacto é o mesmo. Quando a criança vai na internet, procura o jogo, a diversão, e recebe a publicidade.’
No debate de lançamento da pesquisa, as entidades defenderam a aprovação da regulamentação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) sobre anúncios de alimentos. A consulta pública 71 de 2006 prevê limites de açúcar, gordura e sal para alimentos anunciados na mídia e restringe o uso de personagens na publicidade.
Representantes da ABA (Associação Brasileira de Anunciantes) e da Abap (Associação Brasileira de Agências de Publicidade) compareceram ao evento e se disseram favoráveis à discussão de restrições, mas não à proibição de anúncios e de personagens.
Rafael Sampaio, vice-presidente da ABA, defendeu a aplicação integral das regras do Conar (Conselho de Autorregulamentação Publicitária) e disse que, se for aprovada, a regulamentação da Anvisa será inconstitucional.
Sampaio negou que a publicidade seja a principal causa do aumento da obesidade infantil, como afirmaram alguns dos debatedores. ‘A mundaça de hábito da população em direção a alimentos processados não vai ser mudada pela publicidade.’
Para o assessor da Abap Stalimir Vieira, a ideia da proibição da publicidade ‘assusta’. ‘Não podemos ideologizar o processo. Não podemos decretar pensamento único.’ Vieira afirmou que o marketing pode ser usado como aliado na causa do combate à obesidade infantil. ‘É preciso criar uma cultura, assim como foi feito com a conscientização ambiental’, disse.’
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