Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Folha de S. Paulo

INTERNET
Álvaro Fagundes

China causou mudança no comando do Google, diz revista

Qual a razão para um executivo deixar o comando de uma empresa líder do mercado e com lucro cada vez maior? Essa é a pergunta que se faz desde quinta-feira, quando Eric Schmidt anunciou que não vai ser mais o presidente-executivo do Google.

A resposta é a decisão da empresa de enfrentar a censura chinesa no ano passado, de acordo com a revista ‘The New Yorker’.

Segundo a publicação, a relação entre Schmidt e os fundadores do Google, Sergey Brin e Larry Page (que vai substitui-lo no cargo a partir de abril), ficou estremecida depois que o site optou em março do ano passado por encerrar suas operações na China e transferir as buscas dos internautas para seu domínio em Hong Kong.

Para Schmidt, 55, que está no Google desde 2001, o mais sensato era permanecer na China, com o seu enorme mercado consumidor.

Vencido na decisão pelos fundadores, o executivo perdeu parte do foco e da energia, diz a revista.

Ao mesmo tempo, a empresa enfrenta a pressão de perder espaço para o Facebook. Ainda que seja líder no mercado de buscas, o Google não conseguiu emplacar nenhum projeto de rede social.

O Wave foi um fracasso, o Buzz (até agora ao menos) não conseguiu emplacar, e o Orkut está praticamente restrito ao Brasil, já que nem mais é líder na Índia.

E as pressões de entidades privadas e governos sobre invasão de privacidade e direitos autorais têm aumentado, manchando o slogan informal da empresa: ‘Don’t Be Evil [não seja mau]’.

Com pressões de todos os lados (mas especialmente de Page e Brin), Schmidt já estaria sem forças para lutar. A decisão de ficar como presidente do conselho seria algo apenas temporário: ele ficaria somente um ano no cargo e deixaria a empresa.

Dinheiro não deve ser problema para o executivo. As ações que têm do Google estão avaliadas em cerca de US$ 5,8 bilhões. Na quinta, quando anunciou que vai deixar de ser presidente-executivo, ele também entrou com documentação para vender uma fatia que vale atualmente pouco mais de US$ 330 milhões.

DESAFIO

Para Page, 37, a decisão de substituir Schmidt nas decisões diárias será um desafio. O ainda presidente-executivo gosta de brincar que sua função na companhia é ‘supervisão de um adulto’.

A comparação mais frequente é com Steve Jobs, o presidente-executivo da Apple, de quem Page é admirador e com quem teria semelhanças, como a obstinação.

Jobs foi capaz de reverter os rumos da Apple após voltar à empresa em 1996, após 12 anos fora.

Outros fundadores de companhias de tecnologia, porém, não tiveram o mesmo sucesso. Jerry Yang ficou no comando do Yahoo! de 2007 a 2009, mas a empresa só encolheu no período.

 

Elio Gaspari

Livro ensina como Mark virou Zuckerberg

DENTRO DE POUCAS semanas chegará às livrarias brasileiras ‘O Efeito Facebook’, do jornalista David Kirkpatrick. É a história do fenômeno criado por Mark Zuckerberg. Para quem viu ‘A Rede Social’ ou leu ‘Bilionários por Acaso’, explica o que fez daquele garoto avoado e mal vestido um dos homens mais ricos do mundo.

Em sete anos, sua rede, nascida num dormitório de Harvard, juntou 500 milhões de usuários ativos, emprega 1.400 pessoas e vale US$ 50 bilhões. É uma aula.

‘Efeito Facebook’ evitou os adornos folclóricos (ainda que reais) do filme e não centralizou a narrativa na briga com os gêmeos Winklevoss, que acusam Zuckerberg de lhes ter roubado a ideia, nem na disputa com o brasileiro Eduardo Saverin, que foi afastado da gerência comercial do empreendimento, com US$ 2,5 bilhões no bolso. Kirkpatrick, ex-editor da revista ‘Fortune’, entrevistou Zuckerberg, mas não falou com os gêmeos nem com Saverin.

Seu livro ajuda a buscar resposta para uma pergunta: o que é que transformou Mark Zuckerberg em Mark Zuckerberg?

Hipótese: como Bill Gates, Sergey Brin e Larry Page (a dupla do Google), ele inventou uma novidade genial, e o resto veio junto.

Falso, tanto no caso dele como no dos outros três. Todos tiveram boas ideias, mas não inventaram nada. O sucesso do Facebook, como o da Microsoft e o do Google, é produto de alguma sorte, uma ideia simples obsessivamente aperfeiçoada, e muito trabalho.

Zuckerberg ralou. Quando foi aceito em Harvard, tinha um currículo de aluno excepcional.

Em 2003, aos 19 anos, fazia um bico no David Rockefeller Center for Latin American Studies, programando o acesso on-line de candidatos às bolsas de Jorge Paulo Lemann e conectando impressoras encrencadas.

No ano seguinte, criou uma rede social exclusiva para estudantes, professores e funcionários de Harvard, um dos maiores símbolos da elite americana. Em três semanas, juntou 6.000 usuários.

Depois, expandiu-se para outras escolas, todas selecionadas pela fama. Nascera um produto da elite, para a elite e pela elite. Coco Chanel fez o mesmo com o seu ‘nº 5’, nos anos 20.

Essa é a parte saborosa da história, mas Zuckerberg virou Zuckerberg por decisões muito mais relevantes. Cinco delas:

1) Quando o negócio mal começara, botou a sociedade no papel e ficou com 65% da empresa. Até hoje ele controla a companhia, dominando o Conselho de Administração. (Steve Jobs não fez o mesmo na Apple e foi defenestrado em 1985, retornando 11 anos depois.)

2) Diante do sucesso, percebeu que devia cuidar de Sua Excelência, o Usuário. Até bem pouco tempo, todo o dinheiro que conseguiu foi investido no aluguel de servidores para a rede, impedindo que o sucesso a congestionasse.

3) Ele calibrou a expansão do negócio e obrigou os anunciantes a se adaptar aos seus critérios de sociabilidade. Com isso, está revolucionando o mercado.

4) Quando poderia acreditar que o Facebook estava pronto, foi adiante. Cruzou as informações dos usuários, abriu o site para fotos e hospedou aplicativos. Seguiu a escrita segundo a qual, na internet, tudo o que é aberto, grátis (ou barato), prospera. Quem quer abarcar o mundo fica para trás. (Por exemplo, a Microsoft e, quem sabe, a Apple daqui a muitos anos.)

5) Zuckerberger teve fé no próprio taco. Recusou US$ 10 milhões quando o site não completara um ano e, mais tarde, não o vendeu por US$ 800 milhões para o Yahoo!, nem por US$ 1,5 bilhão para a Viacom. Mais: afastou-se dos executivos que preferiam vender a empresa.

‘Efeito Facebook’ não ensina como virar Zuckerberg, mas mostra como o segredo está mais no trabalho e na firmeza do que na genialidade. No entanto, que o moço é esquisito, não há dúvida. Quando sua namorada reclamou da sua falta de atenção, contratou que passariam cem minutos semanais a sós, e teriam ao menos um encontro fora da empresa ou da casa dele.

Serviço: Para quem compra e-books, a edição americana de ‘The Facebook Effect’ está na internet por US$ 12,99.

 

TECNOLOGIA
Colocaria câmera no iPad, diz Wozniak, cofundador da Apple

Se fosse de sua alçada, Steve Wozniak, cofundador da Apple, colocaria câmera no próximo iPad e o tornaria mais versátil para ser conectado a outros dispositivos.

Woz, como é conhecido, foi ontem ao último dia de atividades da Campus Party, feira de tecnologia em São Paulo.

Apesar das críticas, o cofundador não deixou de elogiar o tablet: ‘O iPad é um computador glorioso. Ele mudou tudo’. No futuro, Wozniak aposta, entre outras coisas, no sucesso dos comandos de voz para computadores.

Perguntado sobre a licença médica de Steve Jobs, Woz pouco disse. ‘Steve já tirou outras licenças. Espero que ele tenha sorte em suas decisões e que seja bom para ele.’

 

TELEVISÃO
Keila Jimenez

O vilão que a Globo foi buscar na concorrência

Ele sim sentou na janelinha, como dizem. Depois de cinco anos na Record, Gabriel Braga Nunes não só quebrou o gelo imposto pela Globo aos atores da concorrência como voltou em grande estilo: antagonista da principal novela da casa, de Gilberto Braga.

Escalado às pressas para substituir Fábio Assunção em ‘Insensato Coração’, que deixou o folhetim para tratar de problemas de saúde, Gabriel assumiu a missão de viver Léo, mau caráter desde criancinha. Chegada de supetão, mas promete muito.

Folha – Quando foi para a Record pensou que as portas estariam fechadas na Globo?

Gabriel Braga Nunes – Procuro identificar as melhores oportunidades de cada momento. É assim que faço, que penso minha história como ator. Nos últimos anos tive excelentes oportunidades na Record. Nesse momento não tenho dúvida de que estou no melhor lugar que poderia.

Programou sair da Record ou recebeu um convite?

A coisa não é exatamente assim. Fui tendo convites sucessivos para fazer novelas e fui aceitando, sabe? Chegou um momento em que eu tinha feito cinco novelas em cinco anos. Imaginei que em 2011 eu fosse fazer qualquer coisa, menos televisão. Mas não pude resistir ao sabor desse convite.

Como é substituir o Fábio Assunção?

É uma honra, nós somos amigos. O Fábio ficou feliz, disse que ia assistir.

Muitos diretores dizem que você é um bom ator, mas que é temperamental. É verdade?

Não sei. Tenho lidado bem comigo mesmo (risos).

Nem os BBBs lembram dos BBBs

Lembrar os nomes dos colegas de confinamento depois de um tempo já é difícil, imagine acertar os 143 participantes das dez edições do ‘Big Brother Brasil’ (Globo).

Em março, quando a 11ª edição acabar, outros 17 engordarão a lista de ex-BBBs. Haja memória. ‘As pessoas vão esquecendo. É até bom porque conseguimos tocar nossa vidinha’, diz Fernanda Cardoso, segunda colocada na 10ª edição.

Para provar que não é só o público que esquece, a Folha testou a memória de seis ex-participantes. Desses, Marcelo Arantes e Diego Alemão foram os melhores.

Apesar de liderar o teste, Marcelo esqueceu de dois colegas de edição do ‘BBB 8’ (Marcos e Fernando). ‘Sou fã, vi todos’, diz justificando a boa memória.

Alemão disse ter mais facilidade para lembrar ‘das gostosas’. Ele apresenta o programa ‘A Eliminação’ (Multishow), em que entrevista os eliminados da semana. ‘Se errar o nome de alguém sou demitido’, brinca.

Sabrina Sato só conseguiu lembrar os vencedores até a edição de que participou, a terceira. Alan Cavalcante, o lanterninha no ranking, se justifica. ‘Moro em Miami. Fico meio perdido, né?’

6,6 pontos

Foi a média do ‘Jornal da Band’ (Band) segunda e terça-feira (dias 17 e 18) Na semana anterior, o jornalístico marcou 5,5 pontos

27 pontos

Foi a audiência da primeira eliminação do ‘BBB 11’ (Globo), no dia 18 A primeira eliminação do ‘BBB 10’ marcou 29

com SAMIA MAZZUCCO

 

Marcelo Bortoloti

‘Chico Xavier’ se torna mais pessoal na TV

Nada mais elucidativo sobre a tendência do cinema nacional em reproduzir o estilo e a linguagem da televisão que a transformação de um filme em série de TV sem provocar nenhum tipo de estranhamento no espectador.

‘Chico Xavier’, minissérie em quatro capítulos que estreia terça na Globo, e ‘O Bem Amado’, experiência similar exibida na semana passada, são exemplos disso.

No caso da história do médium, a produção dos dois formatos foi praticamente indistinta. ‘Sabíamos que tínhamos um número maior de cenas, mas eu ainda não sabia o que estaria no filme e o que estaria na minissérie’, diz o diretor Daniel Filho.

Há cinco anos, ele foi convidado para fazer um filme baseado no livro ‘As Vidas de Chico Xavier’, do jornalista Marcel Souto Maior.

Ao receber um roteiro de cem páginas, o diretor, expoente do cinema ‘padrão Globo’, percebeu que ele renderia mais que duas horas para um filme comercial e propôs o segundo produto.

Filme e série só se separaram na edição. Daniel optou por centrar o longa na entrevista que Chico Xavier deu ao programa ‘Pinga Fogo’ e numa história dramática poderosa: a do casal (Tony Ramos e Christiane Torloni) que perde o filho e consegue esclarecer circunstâncias alusivas à sua morte numa carta psicografada pelo médium.

O material excedente, de cerca de uma hora, trazia um mergulho mais aprofundado na infância e na vida pessoal de Chico e será incorporado à série. ‘Será uma transposição mais fiel à biografia.’

A série vai mostrar, por exemplo, as relações com a madrasta, interpretada por Giulia Gam, que o maltratava, e com a mãe, vivida por Letícia Sabatella.

O filme teve 3,4 milhões de espectadores, o que permite esperar ibope melhor que o de outras experimentações no horário pós-’BBB’, como ‘Amor em 4 Atos’, que teve 21 pontos na estreia.

A emissora bancou parte da produção com um valor não revelado. O diretor também teve uma ajudinha do poder público. Do total de R$ 12 milhões, ao menos R$ 5,3 milhões vieram de mecanismos federais de incentivo e de um edital da Prefeitura de Paulínia. No cinema, o filme já faturou R$ 30 milhões.

NA TV

Chico Xavier

Estreia da minissérie

QUANDO de terça (25) a sexta (28), após o ‘BBB’, na Globo

CLASSIFICAÇÃO não informada

 

Mauricio Stycer

Com esquema ‘2 em 1’, Globo comprova que seus filmes são produtos para TV

A exibição de ‘O Bem Amado’ e ‘Chico Xavier’ em forma de microsséries de quatro capítulos comprova a percepção que parte da crítica e do público tem alimentado em relação à produção cinematográfica da Globo Filmes -de que se trata, basicamente, de televisão levada ao cinema.

Não surpreende saber que os dois filmes já foram realizados com a intenção de gerar este subproduto, a microssérie. Cenas adicionais foram filmadas, em ambos os casos, com o propósito de serem acrescentadas na versão para a televisão.

Nada contra. Assim como também é altamente compreensível que a Globo Filmes dê apoio, basicamente, a projetos de grande apelo popular, adaptados ou não da grade de programação da TV.

Uma indústria de cinema que tenha esse nome precisa de público e é saudável que parte da produção atenda ao senso comum.

O que ‘O Bem Amado’ e ‘Chico Xavier’ parecem sugerir, porém, é que este tipo de produção ‘2 em 1’, além de otimizar custos, se destina basicamente a satisfazer o gosto do público que assiste à televisão em casa e agora consegue guardar um extra para visitar o multiplex do shopping uma vez por mês.

‘O Bem Amado’, tanto o filme quanto a microssérie de Guel Arraes, é um produto simplório, em defesa da ideia, corroborada pela conversa de botequim, de que ‘ninguém presta’ em política. ‘Contra os canalhas, somente agindo como um canalha’, diz o dono do jornal que faz oposição a Odorico Paraguaçu.

No caso de ‘Chico Xavier’, há um diferencial importante a se levar em consideração: a experiência de Daniel Filho com cinema -um meio que ele frequenta, como diretor, desde o final dos anos 60.

O sucesso nas bilheterias da história do médium mineiro deve-se muito à habilidade do diretor em fisgar o público pela emoção em uma produção caprichada.

Nada justifica, porém, o constrangimento de ver Daniel Filho optar pela ‘materialização’ do espírito que Chico Xavier considerava seu guia. Emmanuel aparece à sombra do médium, e só é visto por ele. Orienta, cobra disciplina e dá instruções. É um jovem, alto, simpático, sempre vestido com uma túnica clara.

INFANTILIZAÇÃO

É, no fundo, uma opção que revela desconfiança do diretor na capacidade de compreensão do público, um traço típico da produção cada vez mais infantilizada da televisão.

Daniel Filho, um dos ‘magos’ da Rede Globo nos anos 80 e 90, percorre um caminho curioso desde que perdeu espaço na última década. Tornou-se o capitão do braço cinematográfico da emissora, emplacando um sucesso atrás do outro. Agora, com a exibição de ‘Chico Xavier’ na televisão, deixa claro que nunca saiu de casa.

MAURICIO STYCER é repórter e crítico do portal UOL

 

Vanessa Barbara

No próximo bloco, insânia

QUANDO A TV paga chegou ao Brasil, espalhou-se o idílico boato de que seus canais não teriam intervalos comerciais -afinal, a mensalidade dos assinantes serviria para sustentar as emissoras.

Era tudo brincadeirinha. Em 2010, uma pesquisa da associação de consumidores Proteste mostrou que a grade da TV paga contém 15% de comerciais, na média. Em canais como a Fox, a conta é de 23%.

E o pior: se na TV aberta ainda é possível se divertir com anúncios de purgante ou de pomadas para micose em que modelos discutem casualmente suas frieiras, na TV paga a coisa não tem tanta graça. Ali, os comerciais falam da própria programação e se repetem num looping maquiavélico.

Um dos campeões no quesito, o Warner Channel reserva-se o requinte de interromper os episódios de séries na última cena e amarrar o espectador só para exibir os créditos e a piada final. O canal também costuma manter o áudio dos programas baixíssimo e aumentar o volume em 40% nos comerciais, para que os tímpanos da vítima sejam devidamente massacrados pela veemência publicitária.

A atração ‘Warner Movies’ já virou uma lenda. O filme começa bem, mas vai sendo interrompido progressivamente conforme o final se anuncia.

Um longa de 110 minutos de duração leva três horas para passar, totalizando 70 minutos de comerciais -sempre os mesmos. A conta pode chegar a 63% do total da atração, gerando boatos de que, em 2011, os canais terão novos comerciais com menos intervalos de programas.

Houve uma épica madrugada de 2003 em que a MGM levou quatro horas para exibir o especial ‘AFI: 100 anos… 100 filmes’, de 145 minutos de duração. A cada dez títulos citados, amargava-se uma pausa em que os mesmos comerciais se sucediam, talvez procurando levar os espectadores à absoluta e irreversível demência. Conforme os vencedores se aproximavam, a pausa era de três em três.

O documentário acabou pela manhã. Os sobreviventes até hoje se gabam, feito veteranos da campanha na Itália.

A repetição de propagandas em canais como Sony, TNT, Warner, Fox, AXN e Universal ainda será questão de saúde pública. Daí a grandeza das séries em DVD, do gravador digital, da tecla ‘mudo’ e de um providencial cochilo.

 

Thales de Menezes

Novo júri deixa ‘American Idol’ mais ‘light’

Em sua décima temporada, o programa de calouros ‘American Idol’ larga com o desafio de sobreviver à saída de dois jurados que faziam parte do DNA do programa.

Na estreia, na última quarta-feira, a resposta do público acendeu o sinal de alerta.

A audiência nos Estados Unidos atingiu 26,1 milhões de telespectadores, 13% a menos do que no primeiro programa de 2010.

Nas redes sociais, circulou a articulação de um boicote pelos fãs de Simon Cowell, um dos criadores da atração e jurado mais severo, que largou o posto este ano.

Além do ‘carrasco’ dos candidatos, o corpo de jurados perdeu também a boazinha da turma, Paula Abdul, que demonstrava um carinho sem fim pelos que se atrevem a cantarolar na TV.

Do júri que consagrou o programa, ficou Randy Jackson, a figura mais anódina. O ex-baixista do grupo de rock de arena Journey é capaz de amar ou detestar um candidato, sem muita convicção em qualquer alternativa.

A cantora latina Jennifer Lopez entrou no lugar de Paula e logo de cara assumiu sem problemas o papel da madrinha legal da rapaziada. E vai ter de se acostumar a decepcionar as pessoas.

O primeiro ‘não’ a sair de sua boca foi quase um parto.

O momento enternecedor do primeiro episódio foi protagonizado pela candidata fã de Jennifer que simplesmente não conseguia olhar para sua diva. Quando olhou, desabou em lágrimas. Ganhou abraços da musa, uma segunda chance para cantar e, por fim, a vaga na fase seguinte do programa.

A vida para os candidatos parece mais fácil. Steven Tyler, cantor do Aerosmith, definitivamente não está lá para ser o novo Simon. Faz o papel inverso: quando gosta de um candidato, bate palmas, grita, canta junto.

Quando reprova, pode até fazer alguma piada com o sujeito, mas muito longe da crueldade que transformou Simon no vilão favorito de muitos e muitos fãs.

Randy Jackson, com tantos anos no programa, fica mais à vontade para rir e debochar dos candidatos que vão mal. E teve pouca chance de fazer isso na estreia.

Houve uma porcentagem maior de bons candidatos na edição final. Claro que o bloco dos desprovidos de talento e noção teve momentos engraçados, mas ainda não surgiu aquele tipo que faz todos caírem na gargalhada.

‘American Idol’ sofreu outra mudança: entrou definitivamente na era dos ‘candidatos profissionais’.

Depois de nove anos no ar, a lista de pessoas que se deram bem no programa já apresenta alguns tipos recorrentes -o rapaz tímido, o bluesman, a loira country, o chicano divertido, a negra gorda que arrasa no coro da igreja, quem quer fazer sucesso por causa do filho pequeno ou da mãe doente…

Tudo parece requentado.

A originalidade virou artigo raro no ‘American Idol’, mais light em sua largada. Se o público reprovar, Steven Tyler pode passar para o lado escuro da força rapidinho.

NA TV

American Idol

Estreia do reality show no Brasil

QUANDO sábado, dia 29/1, às 20h, no canal Sony

CLASSIFICAÇÃO não informada

AVALIAÇÃO regular

 

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Estado de S. Paulo – Sábado