TECNOLOGIA
Richard Waters,Financial Times
Apple aposta no iPad para emplacar nova revolução
‘O lançamento do Apple iPad, que chega hoje ao mercado dos Estados Unidos, e terá estreia internacional até o fim do mês, será um momento polarizador. Os telejornais se concentrarão nas filas diante das lojas Apple, formadas por fãs dos objetos de luxúria tecnológica.
Os céticos, enquanto isso, apontarão para o fato de que todos os computadores ‘tablet’ (sensíveis ao toque) já lançados fracassaram e, se a nova tela é mesmo tão revolucionária, por que a Apple planeja vender um teclado à moda antiga para o aparelho?
Mas destacar esse tipo de questão seria um erro. O lançamento é muito mais que um simples aparelho pessoal novo, por mais desejável que se prove. Porque o iPad é um significativo desdobramento da evolução tecnológica vista na informática desde que surgiu o computador pessoal.
Caso decole, selaria a recuperação da Apple e a reconduziria ao topo do mundo da computação. Começando pelo iPhone em 2007 e pelo iPod Touch, do mesmo ano, a companhia vem mudando a maneira pela qual as pessoas se relacionam com aparelhos portáteis inteligentes. O toque se tornou a interface, e as ‘lojas de aplicativos’ online, o novo local para se obter serviços e conteúdo.
Somados, o iPhone e o iPod Touch já representam a plataforma de computação nova com mais rápido crescimento na história, de acordo com Mary Meeker, analista de internet do Morgan Stanley.
Com o iPad, a Apple agora deseja capturar novos territórios para essa plataforma. Os computadores ‘tablet’ de propósitos gerais já se provaram um beco sem saída para companhias de tecnologia no passado.
Mas, com um modelo aperfeiçoado tendo por base o do iPhone, a Apple está começando com mais chances do que seus predecessores. E, mesmo que as vendas sejam decepcionantes no primeiro momento, como foram no caso do iPod e iPhone, a Apple ao menos delineou os contornos de um grande mercado novo para o exército de programadores que decidiram atrelar seus destinos à tecnologia da empresa.
A plataforma iPhone/iPod Touch/iPad é definida por diversos ingredientes. Mark Rolston, vice-presidente de criação da Frog Design, uma empresa de design que trabalha principalmente com produtos tecnológicos, define o modelo como ‘computação casual’, uma maneira mais pessoal e intuitiva de interagir com aparelhos inteligentes e com as informações e serviços que eles oferecem. O toque, o aspecto mais evidente desse novo paradigma, é mais que simplesmente uma maneira fácil e direta de enviar comandos. Também propicia prazer tátil: acariciar o aparelho para obter o resultado desejado é parte importante da experiência.
Outro aspecto é a facilidade com que isso se enquadra ao fluxo da vida cotidiana. Não existe necessidade de sequências de acionamento, ou mesmo de abrir uma tampa. Basta olhar para a tela e bater nela rapidamente por duas vezes. O iPad pode não oferecer a mesma portabilidade extrema do iPhone, mas compartilha do mesmo legado.
Um terceiro elemento importante nessa nova plataforma é sua natureza contínua. O sistema extrai informações de serviços altamente conectados na internet e faz de um aparelho simples um mecanismo de entrega para uma experiência cuidadosamente desenvolvida.
A venerável combinação entre o iPod e o iTunes, desenvolvida sete anos atrás, serve como base, mas o iPhone e a App Store e, a partir deste final de semana, o iPad e a iBook Store, expandiram a ideia.
Cópias
Não são características únicas da Apple. Outras empresas vêm batalhando para copiá-las. A Amazon, com seu Kindle e loja de livros conexa, aplicaram algumas dessas lições ao mundo dos livros até antes da Apple.
O Google, com seu pesado investimento em serviços on-line, oferece desafio especialmente sério. A empresa já demonstrou a capacidade de navegação do Android, sua plataforma de software para aparelhos móveis, e está bem adiante da Apple em campos como um serviço de reconhecimento de imagens capaz de identificar o local de qualquer marco geográfico fotografado pelo aparelho, ou um sistema de tradução com recurso de voz.
E o gigantesco Google está ganhando ímpeto. A empresa se prepara para lançar uma segunda plataforma de software, o Chrome OS, ainda este ano, com o objetivo de propiciar um método mais enxuto de acesso a serviços via internet. O Google demorou menos de 18 meses a produzir seu primeiro celular inteligente para competir com o iPhone; um rival para o iPad pode surgir em prazo 50% mais curto.
Mas a capacidade de oferecer experiências completas, bem como a grande vantagem inicial conquistada pelo iPhone, ainda fazem da Apple a principal rival. É tentador avaliar os avanços tecnológicos com base nos ganhos de velocidade e conveniência ou nas quedas de preços que propiciam. Mas o verdadeiro poder de uma nova plataforma está nas novas formas de comportamento que ela torna possível, a maior parte das quais é impossível antecipar.
John Seely Brown, ex-diretor do laboratório de pesquisa da Xerox, a instituição responsável pela criação de boa parte das tecnologias básicas da computação pessoal, afirma que a plataforma da Apple já está mudando a vida cotidiana de maneiras inesperadas. Ele classifica o iPhone, por exemplo, como um ‘amplificador de curiosidade’, já que qualquer conversa social resulta em alguém recorrer ao iPhone para resolver uma disputa ou verificar um fato, o que altera os rumos da discussão. O impacto pleno de uma tecnologia que se enquadra dessa maneira à vida cotidiana ainda precisa ser compreendido, ele diz.
Não está claro, de imediato, a forma pela qual o iPad se encaixará nesse panorama. No lançamento, ele está surgindo basicamente em forma de um aparelho para consumo de mídia, um sistema melhor que o iPhone para ler livros, assistir vídeos ou ver novas versões eletrônicas de revistas, que oferecem vídeos além de textos e imagens estáticas.
Mas, como no caso do iPhone, a história real estará na maneira pela qual o aparelho será adotado e usado e em quanto tempo os criadores de aplicativos demorarão para encontrar maneiras de aproveitar suas características únicas a fim de propiciar novas experiências.
Há certamente motivos para duvidar. A tela maior pode torná-lo menos portátil que um celular inteligente, a ausência de teclado pode fazer dele um método menos prático de inserir dados do que um laptop. Mas a tela de 9,7 polegadas e alta definição do iPad está a ponto de se tornar o território inexplorado no qual serão desenhados os próximos sonhos do setor de computação.
Tradução de Paulo Migliacci’
Reuters
iPad não atrai multidões como o iPhone em 2007
‘O iPad, da Apple, causou euforia desde seu anúncio em janeiro, mas ontem, um dia antes do lançamento oficial nos Estados Unidos, o público ainda não estava tão aglomerado em frente às lojas, diferentemente do que ocorreu na véspera da estreia do iPhone, há três anos.
Na tarde de ontem, poucos clientes faziam fila nas lojas em Nova York, Boston, Washington, San Francisco e Los Angeles.
Havia, porém, algumas pessoas dispostas a esperar durante toda a madrugada. Em frente à loja ícone da Apple na Quinta Avenida, em Nova York, cerca de dez pessoas se acomodavam em cadeiras de praia com guarda-chuvas, casacos e lanches do McDonald’s.
Mas, diferentemente do lançamento do iPhone em 2007, não havia razão para filas maiores, já que a Apple trabalhou com encomendas do iPad desde meados de março, para que aqueles que encomendaram o aparelho possam recebê-lo hoje em casa.
Grandes vendas do iPad são esperadas para este fim de semana nos Estados Unidos. O iPad é o lançamento mais importante da Apple desde o iPhone.
De acordo com analistas, a empresa já recebeu centenas de milhares de encomendas do aparelho.’
ELEIÇÕES
Marcio Aith
Nova mídia, velha moda
‘SÃO PAULO – Só um ingênuo desprezaria o impacto potencial da internet nas eleições. Afinal, ao lado do celular, redes sociais e e-mails aproximam candidatos e eleitores, campanhas e financiadores.
Mas parece haver uma dose de exagero, salpicada de modismo, na suposição de que internet será prioritária nas eleições brasileiras de 2010, assim como o foi na campanha de Barack Obama. Por um motivo: o sistema eleitoral americano está para o brasileiro assim como o golfe está para o baralho.
Nos Estados Unidos o voto não é obrigatório e os eleitores, em sua esmagadora maioria, são registrados a partidos políticos. Ganha, então, o candidato que convencer o eleitor de seu próprio partido a levantar-se da poltrona. E qual é a melhor forma de fazer isso? Com mensagens, pela internet e pelo celular, direcionadas ao eleitor cativo nos dias que antecedem o pleito. Já no Brasil, onde o voto é obrigatório, eleitores formam filas sem que ninguém, além das autoridades, os convença a sair de casa.
Nos EUA, onde não há horário eleitoral gratuito na TV, candidatos rebolam para financiar inserções nas grandes redes. E parte do dinheiro vem de contribuições feitas pela internet. Ou seja, novas mídias ajudam a financiar a velha mídia.
No Brasil, onde 97% dos domicílios têm acesso à TV aberta (contra 18% da internet), emissoras são obrigadas a reservar horários entre programas de maior audiência para o cumprimento da propaganda eleitoral gratuita. Aqui, os candidatos não caçam: a comida cai do céu.
Isso não tira a utilidade da internet. A rede será útil a candidatos com menos tempo na TV, espalhará ataques pessoais e formará, entre os jovens, nas candidaturas mais moderninhas, um clima de ‘pertencimento’. Não muito além disso.
No Brasil, enquanto perdurar o anacronismo da lei eleitoral, repleta de tutelas e obrigatoriedades, estaremos ‘protegidos’ do avanço da internet. Não será desta vez.’
PROFISSÃO PERIGO
Honduras é país mais violento para jornalistas, afirma ONG
‘O assassinato de cinco jornalistas em março e o exílio de outro repórter converteram Honduras no país mais perigoso do mundo para os profissionais de comunicação no primeiro trimestre de 2010, disse a organização Repórteres sem Fronteiras.
A entidade criticou a ‘impunidade’ no país contra aqueles que cometem crimes contra a imprensa desde o golpe de Estado do ano passado. ‘Nunca se fez justiça em relação aos ataques, intimidações, atos de censura e assassinatos de jornalistas e defensores dos direitos humanos cometidos desde 28 de junho de 2009.’
Os últimos dois assassinatos aconteceram em 26 de março, quando dois repórteres de rádio foram baleados dentro de um carro.
Honduras recobrou a democracia em janeiro, com a posse do presidente eleito Porfirio Lobo, mas seu governo ainda não é reconhecido por países como o Brasil.’
FUTEBOL
Sérgio Rangel
CBF libera uso do Twitter durante a Copa da África
‘Os jogadores da seleção vão poder twittar durante a Copa do Mundo. A CBF decidiu liberar o uso do microblog pelos convocados até dentro da concentração na África do Sul.
Pelo menos três titulares (Kaká, Luis Fabiano e Gilberto Silva) já escrevem no Twitter. Outros dois selecionáveis (Ronaldinho e Alex Silva) também utilizam frequentemente o site, que foi desenhado para abrigar uma rede social construída por meio de mensagens via telefone celular (daí a limitação a 140 caracteres para cada texto).
‘Os atletas vão poder postar sem problemas. A única restrição que vamos fazer é de não abordar assuntos internos de dentro da seleção em público. Essa é a mesma recomendação que fazemos aos atletas quando vão se expor em outros meios de comunicação’, disse Rodrigo Paiva, assessor da CBF.
Em 2008, o COI (Comitê Olímpico Internacional) impediu os atletas de manterem fotoblogs durante os Jogos de Pequim. Eles também eram proibidos de atualizarem seus sites pessoais com imagens sobre o evento. A regra valia a partir do momento em que o atleta passava a fazer parte da delegação.
Quem violasse a norma estaria sujeito a punições, que incluíam a ‘retirada da credencial’, pena semelhante às de atletas flagrados no antidoping.
Na ocasião, não havia uma regulamentação sobre o uso do Twitter, que ainda engatinhava na audiência. Criado em março de 2006, o Twitter é o microblog com o maior número de usuários na internet -há outros serviços semelhantes, mas nenhum com tal notoriedade.
O volante Gilberto Silva é o que mais twitta na seleção, com várias mensagens postadas diariamente. Com mais de 11 mil seguidores, Silva posta, via celular, até do vestiário. ‘Olá pessoal, ótima vitória hoje contra o Atromitos fora de casa 0x3 e rumo ao titulo, quase lá…’, escreveu o atleta no último domingo, após o jogo do Panathinaikos, pelo Campeonato Grego.
Além de comentar sobre as partidas do time, ele gosta de falar a respeito das rotinas de treinos em Atenas e das vitórias do Atlético-MG, seu ex-clube.
Sucesso no Twitter, Kaká tem mais de 380 mil seguidores. O jogador escreve em português e inglês. Apesar de tanto assédio, o meia do Real Madrid deu um tempo no microblog depois de sua mulher se envolver em polêmica no dia da eliminação do clube espanhol na Copa dos Campeões da Europa.
No dia 10 de março, Caroline Celico, mulher de Kaká, usou o Twitter para criticar o técnico chileno Manuel Pellegrini. Ela encaminhou pelo seu perfil no microblog uma mensagem feita por Diogo Kotscho, assessor do brasileiro, chamando Pellegrini de ‘covarde’. No dia seguinte, a mensagem foi retirada.
‘Técnico covarde sempre tira um jogador cobrado para tentar tirar o foco da própria incompetência’, diz o texto escrito por Kotscho e depois repassado por Carolina.
Desde então, Kaká não postou mais nada no microblog.’
Patrocinador quer faturar com twiteiros
‘Os convocados por Dunga devem faturar com suas opiniões na Copa do Mundo. Uma das patrocinadoras da seleção, a Brahma já fez proposta para alguns titulares.
Os executivos da cervejaria querem hospedar o twitter ou blogs dos atletas nos seus portais na rede durante o Mundial da África do Sul.
Kaká e Luis Fabiano são os preferidos por já dominarem a ferramenta virtual. Júlio César e Robinho também agradam os patrocinadores.
Dezenas de atletas usam o Twitter no Brasil. Fora os selecionáveis, quase todo grande time tem pelo menos três twiteiros. Até o ex-atacante Romário, avesso a entrevistas, posta diariamente.
No exterior, vários atletas famosos também se comunicam pela rede. No ano passado, o ciclista Lance Armstrong, sete vezes campeão da Volta da França, usou o Twitter para noticiar que sofreria cirurgia na clavícula direita, fraturada após uma queda em uma corrida.
Nos EUA, o Twitter virou moda. O jogador de basquete Steve Nash (duas vezes MVP da NBA), o skatista Tony Hawk, CC Sabathia (um dos cinco maiores salários da liga de beisebol) e o tenista Andy Murray são alguns dos esportistas com perfil na rede.’
Fabio Victor
No Brasil, há resistência ao formato e ao preço de leitores digitais
‘Editores e livreiros que foram ao 1º Congresso Internacional do Livro Digital, encerrado na quarta, em São Paulo, saíram com quase tantas incertezas quanto entraram. Em três dias de palestras, pouca informação foi agregada à constatação de que algo vai mudar no setor, mas não se sabe quando nem como. A única certeza: no Brasil não é para já.
Além do preço elevado dos leitores eletrônicos, todos importados, e da escassa disponibilidade de títulos em português, não há estatísticas sobre o mercado nacional.
Um tímido passo foi dado com a apresentação de uma pesquisa qualitativa, encomendada pela Câmara Brasileira do Livro e pela Imprensa Oficial de SP ao Observatório do Livro, sobre a expectativa do leitor convencional sobre o livro digital. Em entrevistas com grupos de leitores das classes A e B em São Paulo, Rio, Porto Alegre e Recife, constatou-se que há resistência ao formato e ao atual preço dos leitores eletrônicos.
O preço tido como aceitável de um e-reader variou de R$ 1.500 (SP) a R$ 300 (Recife). Por um e-book, os grupos disseram topar pagar 1/4 do valor de capa de um livro normal.
Dois convidados americanos (representando a Barnes & Noble e o IDPF, fórum internacional de publicações digitais) apresentaram números do mercado dos EUA, o mais desenvolvido. Segundo dados da associação de editoras, as vendas de livros eletrônicos em 2009 somaram US$ 165,8 milhões, contra US$ 53,5 milhões em 2008, aumento de 213%.
O diretor do IDPF, Michael Smith, avaliou que a negociação de preços que a Kobo (fabricante de um e-reader ‘popular’) fará em breve com editoras americanas ‘vai mudar para sempre’ o mercado. E disse que, para popularizar o modelo no Brasil, é necessário digitalizar mais títulos em português.
Ocorre que, no congresso, quase nada se falou sobre como passar o conteúdo do papel para o meio digital, tema crucial. Em vez disso, convidados internacionais repisaram a tese de que o mercado editorial precisa aproveitar o potencial da internet e das redes sociais.
O presidente da Feira de Frankfurt, Juergen Boos, afirmou que, ‘com a internet dando a todos a chance de publicar livros, a seleção de conteúdo passa a ser um diferencial maior’ e conclamou os empresários a usar a rede para descobrir o perfil dos usuários.
‘Não é para ficarmos apavorados. Nesse aspecto, o congresso foi positivo. Mas, quando formos começar a fazer, como vamos operacionalizar? Isso faltou mostrar’, resumiu Luís Fernando Araújo, da editora Artes e Ofícios (PA).’
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