Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Folha de S. Paulo

ELEIÇÃO
Jornalista e delegado são pivôs de intriga do dossiê

‘No final da tarde de 20 de abril passado, uma terça-feira, cinco pessoas se reuniram para uma conversa no tradicional restaurante alemão Fritz, na quadra 404 da Asa Sul, em Brasília.

Comandava a mesa Luiz Lanzetta, dono da Lanza Comunicação, empresa responsável pela contratação da maioria dos integrantes da assessoria de imprensa da pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff.

Também estava lá o jornalista Amaury Ribeiro Júnior, que investigou por anos o processo de privatização brasileiro iniciado nos anos do governo FHC (1995-2002).

Completavam a mesa o delegado aposentado da Polícia Federal Onésimo de Souza e dois servidores públicos aposentados da chamada ‘comunidade de informação’, que trabalham com ele.

O encontro fora marcado por Lanzetta para tentar contratar Onésimo e sua equipe.

A ideia era investigar os funcionários de uma das sedes do comando da campanha dilmista. A demanda incluía averiguar se quem circulava no local mantinha algum tipo de relação com integrantes do PSDB e da campanha tucana a presidente encabeçada por José Serra.

A Folha apurou que Onésimo sugeriu um orçamento de R$ 180 mil para executar o serviço. O valor não foi aprovado pelo QG de Dilma. A conversa resultou inócua, mas o encontro vazou.

Na semana iniciada em 2 de maio, integrantes do PSDB souberam que a campanha de Dilma estaria montando uma equipe de ‘inteligência’ -com o objetivo, deduziram, de espionar Serra.

PONTOS OBSCUROS

Aí aparecem pontos de interrogação na rede de intrigas formada na história do suposto dossiê anti-Serra relatado na mídia há uma semana, a partir de uma reportagem da revista ‘Veja’.

Há pelo menos dois conjuntos de papéis, um com dados sobre aliados de Serra investigados na CPI do Banestado, e outro, com relato de operações fiscais da filha do presidenciável, Verônica.

Há dois aspectos obscuros principais. Primeiro, a real intenção de Lanzetta ao fazer contato com detetives. Segundo, como a informação sobre o encontro entre Lanzetta e o ‘grupo de inteligência’ foi repassada para a imprensa e chegou aos tucanos.

Um terceiro detalhe também não foi esclarecido: por que Ribeiro estava na conversa do dia 20 de abril?

Ele é amigo de Lanzetta. Havia relatado trechos de suas investigações. Os dados começaram a ser coletados pelo jornalista em sua passagem pelo ‘Estado de Minas’, principal diário mineiro, próximo politicamente do ex-governador Aécio Neves (PSDB-MG).

Lanzetta e Ribeiro dizem que o conteúdo da apuração seria usado na elaboração de um livro e nunca teriam cogitado fazer um dossiê para ser usado na campanha.

A apuração de Ribeiro começou em 2009, depois que Aécio, então ainda um potencial presidenciável, foi alvo de reportagens críticas.

Repórter investigativo com passagens por Folha, ‘O Globo’ e ‘Jornal do Brasil’, ele foi escalado para apurar eventuais irregularidades relacionadas ao outro presidenciável tucano, Serra.

O resultado das apurações do jornalista nunca foi publicado pelo jornal. ‘Ele trabalhava em várias investigações. Essa investigação específica não estava concluída quando ele pediu demissão no final de 2009’, diz o diretor de Redação do ‘Estado de Minas’, Josemar Gimenez.

Depois de deixar o emprego, Ribeiro contou o objeto de suas apurações a Lanzetta. O contratado da campanha de Dilma se interessou pelo assunto. Havia ali um caso potencial para ser usado na disputa presidencial.

Lanzetta e Ribeiro passaram a considerar a produção de um livro. A Lanza chegou a redigir um texto para ser distribuído à imprensa com os principais tópicos do futuro livro -que passou a circular ontem na internet.

Nesse meio tempo, a pré-campanha de Dilma passou a suspeitar de vazamentos de dentro de seus QGs em Brasília. Surgiram reportagens negativas, relatando custos de montagem de estrutura.

O alvo dessas informações era sempre o chamado grupo mineiro, encabeçado pelo ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, amigo de Lanzetta e responsável pela montagem da estrutura de comunicação de Dilma.

RACHA PETISTA

Nessa época, no início de maio, houve uma bifurcação dentro do comando dilmista.

O grupo mineiro passou a ser abordado por órgãos da mídia querendo saber se havia produção de dossiês. Na outra ponta, um outro grupo composto por petistas paulistas foi acionado pela cúpula partidária para analisar o que estava sendo feito.

Entre os paulistas estão o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci e o deputado estadual Rui Falcão. Eles alimentaram na mídia a versão de que houve de fato a tentativa de montar uma equipe de inteligência. Mas venderam também o relato de que abortaram essa estratégia.

A facção mineira sustenta que o material produzido por Ribeiro nunca foi cogitado como um dossiê antitucanos. Também declara não ter estabelecido relação comercial com a campanha de Dilma.

Na reportagem de ‘Veja’ e em conversas reservadas, o comando dilmista comemorou inicialmente ter abortado potencial escândalo semelhante ao do dossiê dos ‘aloprados’ de 2006. Já no fim da semana, agora publicamente, petistas negam qualquer contato com os papéis.’

 

Claudio Weber Abramo

Por uma agenda oculta

‘ELEIÇÕES DEIXARAM de ser uma ocasião em que a comunidade designa representantes para perseguir alguma agenda significativa. Quase tudo se passa no imaginário. Quando não se trata disso, a tendência é que se discutam desimportâncias.

Diferentemente de outros países, no Brasil não se discute ideologia em eleições. Só o PSOL faz isso. No mais, quem se diz de esquerda não o é e quem é de direita afirma não sê-lo.

Assim é que ganham proeminência assuntos como a união civil entre homossexuais e o direito de aborto, os quais, por mais importantes que sejam para alguns públicos, a rigor dizem respeito ao plano privado.

Questões pertinentes à esfera pública e relevantes para o futuro da comunidade só aparecem se traduzíveis em lugares-comuns.

Há, porém, uma série de protagonistas importantes, em particular na área empresarial, para os quais a única coisa que de fato importa são os temas de fundo. Como candidatos não podem ignorá-los, dirigem-se a eles privadamente.

Opera-se assim uma inversão: o que é privado se discute em público e o que é público se discute em privado.

Como é assim que as coisas são, assim continuarão a ser. Isso não significa que não deva haver preocupação sobre o que os candidatos oferecem quanto ao futuro. Vão aí três temas que precisariam constar de sua agenda, ainda que oculta.

Distribuição de renda. O Brasil tem uma das piores distribuições de renda do mundo. Melhorá-la significa retirar renda futura dos mais ricos. Isso não acontecerá por benemerência destes últimos, mas por políticas específicas, tanto tributária quanto de desenvolvimento.

Desenvolvimento. A economia brasileira se alimenta da exportação de commodities agrícolas e de recursos minerais que sofrem mínima agregação de valor.

Do outro lado da mesa, quase tudo que tem valor agregado é importado. Apesar do hiperotimismo dominante, tal não dá futuro.

Um importante conjunto de políticas subsidiárias à política de desenvolvimento industrial diz respeito à educação, pois sem desenvolvimento econômico não há motivo para melhorá-la.

Modernização administrativa. Se alguma unanimidade existe, é que a administração pública brasileira é ineficiente. Um dos fatores mais determinantes para isso é a liberdade de os governantes nomearem pessoas para ocupar os chamados ‘cargos de confiança’.

Além de constituir uma usina de corrupção, o compromisso dos agentes públicos (concursados ou não) com interesses partidários se superpõe a seu compromisso com o público. Não há serviço público que resista a isso.

Questões como essas três (e existem muitas mais) são as que impactam sobre o futuro da comunidade. O resto é ilusão.’

 

TECNOLOGIA
Ronaldo Lemos

História dos fundadores da Apple é crônica da inovação

‘Nem todo mundo se lembra, mas Steve Jobs começou sua carreira como ‘hacker’, vendendo um aparelho que permitia burlar a rede telefônica e fazer ligações sem pagar nada por isso.

Essa é só uma das histórias contadas por Michael Moritz em ‘O Fascinante Império de Steve Jobs’. Moritz, investidor de risco do Vale do Silício, acompanhou a Apple por boa parte da vida.

Retorna agora acrescentando um novo capítulo ao livro que escreveu na década de 80 sobre a fundação da Apple [‘The Little Kingdom’, O Pequeno Reino].

Vale notar que o protagonista do livro não é só Steve Jobs, mas também Steve Wozniak, engenheiro e cofundador da Apple, que ajudou definir o conceito de computador pessoal.

Ao acompanhar a história dos dois, o livro relata a dinâmica da inovação. É interessante ver como a Califórnia dos anos 70, com sua mistura de filosofia zen e um ambiente tecnológico colaborativo, foi determinante para o surgimento da Apple.

Tanto Jobs quanto Wozniak aprenderam sobre computadores na prática.

Estudaram os circuitos de outras máquinas (como o precursor Altair), visitaram projetos de outras empresas (como Atari e HP), participaram de clubes de computação e se valeram do ambiente universitário favorável.

CONTROLE

Esse cenário quase utópico, em que o papel do amador era tão importante quanto o do profissional, contrasta com as transformações posteriores da Apple, no sentido de exercer controle quase total sobre seus produtos. Sobre isso, vale notar que nem iPhone nem iPad trazem parafusos que permitam que os produtos sejam abertos pelo consumidor. Até a troca da bateria deve ser feita pela Apple. Um símbolo de como os valores da empresa foram se modificando desde seu surgimento descrito no livro.

Outra transformação importante foi a evolução da empresa, surgida literalmente em uma garagem, para uma gigante de capital aberto, com mais de 1.500 funcionários, em alguns poucos anos. É o ponto forte do livro.

Ele mostra os dois pesadelos fundamentais que assolam empresas de tecnologia.

O primeiro, criar demanda por um novo produto, muitas vezes desconhecido do consumidor. O segundo, lidar com a explosão dessa demanda e se reorganizar para dar conta dos pedidos O livro deixa claro como os ciclos de inovação impulsionam ou destroem empresas.

A Apple que ganhou o mundo na década de 80 com o Apple 2 foi obliterada, após a saída de Jobs, pela conjunção entre IBM e Microsoft. Hoje Steve Jobs está de volta e o mundo é de novo da Apple. E o livro de Moritz nos leva inevitavelmente a perguntar: por quanto tempo?

O FASCINANTE IMPÉRIO DE STEVE JOBS

AUTOR Michael Moritz

TRADUÇÃO Heinar Maracy

EDITORA Universo dos Livros

QUANTO R$ 39,90 (368 págs.)’

 

MERCADO
Dono de tabloides diz que pretende comprar ‘The Sun’

‘O empresário britânico Richard Desmond, dono de tabloides como o ‘Daily Express’ e o ‘Daily Star’, disse estar interessado no rival ‘The Sun’, o mais vendido do Reino Unido e que pertence a Rupert Murdoch.

‘Nós comandaríamos [o jornal] de modo diferente, que seria mais eficaz no mercado atual’, afirmou em entrevista à BBC. Murdoch não manifestou desejo de vender o jornal.’

 

INTERNET
Chris Nutall, Financial Times

Fifa marca a estreia de jogos de série no Facebook

‘O Fifa Superstars, jogo lançado ontem no Facebook, é a primeira grande série de videogame a estrear em uma rede social.

Depois do sucesso dos animais de estimação, das fazendas e das guerras de gangues, o fenômeno dos jogos sociais está a ponto de mudar de patamar, com marcas lutando por uma fatia do segmento de maior crescimento nos videogames.

Mais de 200 milhões de pessoas usam jogos do Facebook por mês e um punhado de títulos -Farmville, Treasure Isle, Café World, Mob Wars e Petville- responde por mais da metade do total.

A produtora Zynga criou todos esses títulos e gera receitas anuais estimadas em US$ 600 milhões.

Além disso, as vendas de bens virtuais ultrapassaram US$ 1 bilhão nos EUA em 2009, segundo o grupo de pesquisa Inside Network.

O Fifa Superstars é produzido pela Playfish, uma criadora de jogos digitais adquirida pela distribuidora Electronic Arts por US$ 300 milhões em novembro com o objetivo de facilitar a entrada da EA nesse mercado.

‘Acreditamos que o Fifa Superstars represente um ponto de inflexão no setor de jogos sociais. Estamos conectando paixões reais a uma atividade on-line’, disse Sebastien de Halleux, cofundador da Playfish.

O jogo de estratégia permite que os participantes treinem e dirijam times e construam estádios. Jogadores podem ser comprados e vendidos e os participantes podem escolher entre desafiar os amigos ou enfrentar times da Copa do Mundo ou da Premier League da Inglaterra.

A EA fatura quando os participantes compram créditos para jogos adicionais ou para jogadores melhores.

‘Com todo o respeito a fazendas, animais de estimação e à máfia, a propriedade intelectual disponível não era tão envolvente ou interessante para mim até o momento’, disse Peter Moore, diretor da EA Sports.

‘Encontrar [o meio-campista espanhol] Xavi em um pacote [de jogo] é história bem diferente de levar um gatinho para casa’, afirmou.

TRADUÇÃO DE PAULO MIGLIACCI’

 

‘Pisamos na bola’, diz Google sobre dados

‘O Google vai repassar a autoridades europeias nos próximos dias os dados que coletou irregularmente de conexões Wi-Fi.

A informação será disponibilizada a autoridades da Alemanha, França e Espanha, segundo o presidente do Google, Eric Schmidt. ‘Nós pisamos na bola’, disse ele.

Dados pessoais foram coletados a partir de conexões Wi-Fi sem proteção por carros da empresa que fotografam ruas para incluir no Google Maps o chamado ‘street view’.’

 

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