Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Folha de S. Paulo

MÍDIA E POLÍTICA
ANJ repudia agressão de Collor a jornalista da revista ‘IstoÉ’

A ANJ (Associação Nacional de Jornais) divulgou ontem nota de repúdio à agressão e aos xingamentos feitos pelo senador Fernando Collor (PTB) ao jornalista da revista ‘IstoÉ’ Hugo Marques.

Ontem, Collor ligou para a redação da revista em Brasília e ameaçou o jornalista devido à publicação nesta semana de uma nota sobre a impugnação de sua candidatura. O senador concorre ao governo de Alagoas nas eleições deste ano.

‘Quando eu lhe encontrar, vai ser para enfiar a mão na sua cara, seu filho da p…’, disse o senador.

Conforme a ANJ, é inadmissível que um candidato desconheça o papel da imprensa a ponto de reagir desta forma a uma notícia. A entidade também afirma que espera dos candidatos espírito democrático e respeito às instituições e às liberdades.

‘A ANJ insiste junto às autoridades competentes para que assegurem a plena vigência dos princípios constitucionais de liberdade de expressão e promovam a imediata apuração dos eventuais abusos.’

 

ELEIÇÕES 2010
Folha e Rede TV! realizam debate com 4 candidatos

A Folha e a RedeTV! fizeram acordo com quatro candidatos a presidente da República para a realização de um debate às 21h do dia 12 de setembro, domingo.

Participarão os candidatos que, por força legal, devem ser convidados: José Serra (PSDB), Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda Sampaio (PSOL).

Em reunião na quarta-feira com representantes de PSDB, PT, PV e PSOL, ficaram acertadas as regras.

O debate será nos estúdios da Rede TV! em Osasco.

Haverá três blocos com confronto direto entre os candidatos e outros dois nos quais jornalistas da Folha e da RedeTV! farão perguntas.

Os representantes das campanhas elogiaram o fato de o debate ocorrer em horário nobre. ‘É uma novidade o primeiro debate em horário realmente nobre’, disse Luciano Zica, aliado de Marina.

Rui Falcão, coordenador da campanha de Dilma, disse que o horário ‘é muito bom’. ‘O debate é mais uma oportunidade para as candidatas e os candidatos confrontarem seus projetos’, afirmou.

Na opinião de Luiza Pastor, representante da campanha de Serra, ‘o debate é mais uma opção para o eleitor identificar qual é o melhor candidato’.

‘É mais um momento importante que a Folha e a RedeTV! propiciam para que os candidatos tenham espaço para expor suas propostas’, disse Edson Miagusko, representante de Plínio.

Há restrição para a realização de debates em rádio e TV. A lei diz que devem ser convidados os candidatos que pertençam a partidos que tenham obtido representação na Câmara dos Deputados na eleição anterior (2006).

Por isso, foram chamados Serra, Dilma, Marina e Plínio.

O debate será mediado pelo jornalista Kennedy Alencar, repórter especial da Folha e apresentador do programa ‘É Notícia’, da RedeTV!. As jornalistas que farão as perguntas aos candidatos serão Renata Lo Prete, editora do ‘Painel’, da Folha, e Patrícia Zorzan, repórter especial da televisão.

A ordem dos candidatos no palco foi decidida em sorteio. O debate, que vai durar 90 minutos, será transmitido pelo UOL (Universo Online), portal de internet do Grupo Folha, e pela RedeTV! e o seu portal de internet.

ESTADOS

A parceria entre a Folha e a RedeTV! prevê ainda a realização de debates com candidatos a governador em cinco Estados.

Em São Paulo, o evento acontecerá em 15 de setembro. No Rio, no dia seguinte.

O encontro de Pernambuco será no dia 20. O de Minas Gerais está previsto para 22 de setembro. O do Ceará, para o dia 23.

 

Fernando Rodrigues

Eleições e internet

A internet ainda não pegou nas eleições brasileiras. Pelo menos, não como no modelo visto nos Estados Unidos em anos recentes, com milhões de pessoas fazendo campanha e doando dinheiro para seus candidatos.

O Datafolha apurou que apenas 7% dos eleitores se informam a respeito de quem são os candidatos por meio da rede mundial de computadores. Como passam de 70 milhões os brasileiros conectados, é possível inferir com alta dose de acerto que as pessoas usam a internet para muitas coisas, mas só uma parcela diminuta elege essa plataforma como ferramenta para formar juízo sobre os políticos.

Há várias hipóteses para explicar esse cenário. Uma das mais plausíveis é a incapacidade dos próprios políticos de usar a rede com eficiência. Até este ano, trabalhar com internet em eleições restringia-se a ter um site alimentado por assessores. Há também os candidatos especializados em perder eleitores mandando toneladas de e-mails a respeito do último comício realizado no interior.

Essa estratégia conservadora, quase analógica, está mudando. Alguns candidatos passaram a filtrar mensagens enviadas, direcionando-as a públicos específicos. Essa tarefa é difícil. Um político pode precisar atingir no interior de São Paulo jovens de 18 a 25 anos, com faixa de renda até 10 salários mínimos. Como encontrar esse público na web? Os partidos passaram anos sem fazer nada que se aproxime de um banco relacional de dados sobre seus militantes.

Quem tem essas informações são algumas redes de farmácias e supermercados. As listagens não estão à venda. Políticos nos EUA como Barack Obama passaram quase dois anos montando seus bancos de dados de e-mails. Aqui, esse movimento acaba de começar. Surtirá algum efeito nas eleições municipais de 2012. Ou, mais provável, só na sucessão presidencial de 2014.

 

ABRAJI
Congresso termina hoje com palestra de Lowell Bergman

Aron Pilhofer, editor de notícias interativas do ‘New York Times’, será um dos destaques de hoje no 5º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, realizado em São Paulo.

Promovido pela Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) na Universidade Anhembi Morumbi (na na unidade Vila Olímpia ), o congresso começou na quinta-feira e termina hoje.

Frequentemente apontado como ‘guru’ da interatividade do ‘New York Times’, Pilhofer revolucionou o jornalismo on-line ao usar dados brutos para criar mapas interativos, infográficos e aplicativos que permitem ao leitor manejar a informação para tirar suas próprias conclusões.

Outro destaque do encerramento será o jornalista Lowell Bergman, ganhador do prêmio Pulitzer por reportagens sobre a indústria do tabaco. Seu trabalho à frente do programa ‘60 Minutes’ foi retratado no filme ‘O Informante’, de Michael Mann, com interpretação de Al Pacino. Ele falará sobre crime organizado.

 

VAZAMENTO
Walter Ceneviva

Dever de publicar e não publicar

NA ÚLTIMA TERÇA-FEIRA, jornais daqui e de fora destacaram o vazamento de informações sigilosas sobre ações militares dos Estados Unidos e do Paquistão, em face do Taliban, no Afeganistão. A divulgação poria em risco vidas de soldados americanos, naquela área da Ásia, o que Obama amenizou em avaliação feita um dia depois.

Subsiste a questão essencial: o jornalista deve revelar toda a informação segura que consiga obter? Sem outro parâmetro que não o interesse da cidadania, dos pagadores de impostos, ainda que a divulgação possa gerar perigos?

É possível pensar a resposta em termos da Constituição brasileira. O parágrafo único de seu artigo 1º determina: ‘todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de seus representantes eleitos ou diretamente’. Só valem limites fixados na própria Carta.

Nesse perfil, o veículo de comunicação pode optar por revelar ou não o fato, avaliando o interesse do povo. Que interesse?

No vazamento sobre o Taliban, o ‘New York Times’ trouxe boa contribuição. Informou ter recebido a notícia há meses, mas só a divulgou agora, depois de inserida no diário britânico ‘Manchester Guardian’ e na revista alemã ‘Der Spiegel’. Predominou antes a preservação das forças armadas de seu país.

A Constituição brasileira, no artigo 5º, e a jurisprudência americana aceitam que certos assuntos sejam mantidos em segredo. Entre nós há duas normas gerais. A primeira se acha no polo do informante: ‘é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato’ (inciso IV). Ou seja: o direito de manifestar (aí incluída a informação) compreende todos os assuntos.

No polo do recebedor da notícia ‘é assegurado a todos o acesso a informação e resguardado o sigilo de fonte quando necessário ao exercício da profissão’ (inciso XIV).

A liberdade é a regra, com responsabilidades inafastáveis, também aceitas, desde que não ofendidos os direitos e as garantias dos interesses individuais nem os interesses coletivos de pessoas físicas e jurídicas, indicados na Constituição.

Mesmo na normalidade democrática há assuntos que, provisoriamente, podem ser negados ao conhecimento da comunidade.

Exemplo corriqueiro é o de áreas imobiliárias nas quais haverá melhoramentos públicos aptos a aumentar o valor delas. O administrador que, sabendo disso, compra imóveis na mesma região comete crime, mas mantendo o segredo, sem se servir dele, defende o interesse geral.

Boa definição nesse sentido saiu no recente livro ‘Necessary Secrets’, de Gabriel Schoenfeld (edição da N. W. Norton, 485 pág.), no cotejo de segredos governamentais e deveres do jornalismo.

Schoenfeld é um conservador estudioso, mas deixa certo que -embora provisoriamente- certas informações possam ser restringidas se puserem a ordem democrática em risco ou sacrificarem a segurança da nação.

São postas na balança as valorações do que se perde no segredo mantido e o que se ganha na informação transmitida. Na dúvida, a solução ideal está na revelação.

Quando, como na invasão do Iraque, a omissão oculta o interesse político da facção dominante, o segredo arma o poder contra o povo, apenas reparado quando a verdade vem à tona, mas sem recuperar perdas e danos de vidas e bens.

 

REVISTA
Morris Kachani

‘Piauí’ reúne em livro a nata de seus perfis políticos

‘Lilibeth, this wine is very bad!’ (‘Lilibeth, este vinho é muito ruim!’) Estamos em um jantar na Embaixada do Brasil, em Londres. De um lado, a ex-premiê Margareth Thatcher. De outro, ‘queen’ Elizabeth.

‘E não é que ela tinha razão? O vinho havia passado do ponto. Ela (Thatcher) é divertida. Durante a recepção, apontava a Elizabeth e repetia: ‘The queen wants dry martini’ (a rainha quer dry martini). E a rainha respondia, cada vez mais vermelhinha, bravíssima: ‘I do not want a dry martini’ (eu não quero um dry martíni)’.

Quem nos conta essa pitoresca história é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em reportagem da revista ‘Piauí’, em 2007.

O texto foi produzido por João Moreira Salles, que se bateu a acompanhá-lo ‘full time’ em um périplo de 11 dias por sete aeroportos e dois continentes.

Para quem se delicia com esse tipo de informação de bastidor e tem curiosidade de conhecer as engrenagens do poder, ‘Vultos da República – Os Melhores Perfis Políticos de Piauí’, que chega às livrarias pela Companhia das Letras, vale ouro.

FHC, José Dirceu, o caseiro Francenildo dos Santos Costa, Dilma Rousseff, José Serra, Márcio Thomaz Bastos, Marina Silva e o presidente do fundo de pensões Previ, Sergio Rosa, são perfilados.

PESQUISA APROFUNDADA

O diferencial é o afinco com que eles são investigados, em pesquisas que podem durar meses e resultam em textos longos, com nível de detalhe impressionante.

‘Nosso luxo é o tempo’, explicou o cineasta João Moreira Salles, fundador e publisher da ‘Piauí’. Um ‘modus operandi’ raro e quase improvável na paisagem atual da imprensa brasileira.

Para compor o perfil de Dilma, o repórter Luiz Maklouf Carvalho entrevistou mais de 70 pessoas. Com o caseiro Francenildo, Moreira Salles conversou 20 vezes, além de ter lido cerca de 2.000 páginas de relatórios policiais e assistido à íntegra todas as sessões da CPI dos Bingos nas quais algum envolvido aparecia.

O resultado é uma reportagem que mostra com clareza como se movem as esferas do poder -Executivo, Judiciário, Legislativo, governo, oposição, Receita Federal, Polícia Federal, Caixa Econômica, imprensa. ‘Todas essas instâncias ajudaram a moer o Francenildo’, disse Moreira Salles.

Os perfis projetam um foco humano e, por que não, muitas vezes até banal sobre personagens públicos a quem pouco conhecemos na intimidade. Também trazem um levantamento de sua história política e pessoal.

INTIMIDADE POLÍTICA

É quando descobrimos que Serra era um galã bem-sucedido que cantava Nat King Cole aos ouvidos das mulheres, ou como Dilma desmanchou o namoro. O processo de alfabetização de Marina Silva, aos 16 anos, no Acre, antes de se tornar empregada doméstica com direito a entrevista da patroa.

Outro ponto alto são os comentários reveladores. FHC dizendo que Dirceu é o Putin que fracassou. Um ex-professor de Dilma na Unicamp falando que ela e Serra têm a mesma visão de mundo. ‘Vultos da República’ traz uma contribuição valiosa para se contar a história recente do país. E ainda pode ajudar na escolha do voto em outubro, pois os perfis dos candidatos feitos por ‘Piauí’ dizem muito mais a respeito deles do que programas de governo mal redigidos, não?

VULTOS DA REPÚBLICA – OS MELHORES PERFIS POLÍTICOS DA REVISTA PIAUÍ

ORGANIZADOR Humberto Werneck

EDITORA Companhia das Letras

QUANTO R$ 49 (304 págs.)

 

CINEMA
Fernanda Ezabella

Disney anuncia venda da Miramax por US$ 660 mi

A Miramax, produtora de filmes como ‘Pulp Fiction -Tempos de Violência’ e distribuidora internacional de ‘Cidade de Deus’, foi vendida pela Walt Disney por US$ 660 milhões (R$ 1,1 bilhão) após seis meses negociando com diversos investidores.

A produtora e seu catálogo de 700 filmes, incluindo muitos ganhadores de Oscar, ficarão nas mãos do grupo de investimento Filmyard Holdings, liderado por Ronald Tutor, um magnata do setor de construção civil de Los Angeles e novato na indústria de Hollywood.

Integram ainda o grupo a firma de private equity (fundo de participações em empresas) Colony Capital, que tem entre os ativos o rancho Neverland de Michael Jackson, e investidores privados.

A Miramax foi fundada há 30 anos pelos irmãos Bob e Harvey Weinstein. Nos anos 90, ajudou a consolidar a fama das produtoras independentes, transformando em sucesso filmes baratos como ‘Cães de Aluguel’, ‘Shakespeare Apaixonado’ e, mais recentemente, ‘Onde os Fracos Não Têm Vez’.

Os irmãos venderam a empresa para a Disney em 1993 por US$ 80 milhões. Em 2005, deixaram de vez a Miramax e fundaram a Weinstein Company, que não repetiu o sucesso, embora tenha coproduzido filmes como ‘Bastardos Inglórios’ e adquirido a distribuição de ‘Tropa de Elite’.

‘Apesar de termos muito orgulho das realizações da Miramax, nossa estratégia agora para o Walt Disney Studios é focar no desenvolvimento de grandes filmes com as marcas Disney, Pixar e Marvel’, disse ontem o presidente-executivo da Disney, Robert Iger, em comunicado.

A Disney é responsável pelos três filmes mais vistos deste ano até agora -’Toy Story 3’, ‘Alice no País das Maravilhas’ e ‘Homem de Ferro 2’- e tem investido em empresas de mídia digital, como a de jogos virtuais Playdom e o site de TV Hulu.

CRISE

Os escritórios da Miramax foram fechados neste ano, após a crise financeira que atingiu praticamente todas as produtoras e distribuidores independentes dos EUA.

O valor acertado foi considerado acima do esperado e deixou para trás os próprios Weinstein, que chegaram a fazer propostas para recomprar a empresa.

A Filmyard Holdings já fez o pagamento inicial de US$ 40 milhões à Disney e apresentou um plano de financiamento. A transação deve ser aprovada em setembro.

Os irmãos Weinstein lideraram pessoalmente os esforços para levar ‘Cidade de Deus’, do brasileiro Fernando Meirelles, ao Oscar 2004, numa campanha que conseguiu quatro indicações.

 

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