Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Folha de S. Paulo

ELEIÇÕES 2010
Ana Flor e Márcio Falcão

Às vésperas da estreia na TV, Lula grava para 20 aliados nos Estados

Às vésperas do início da propaganda gratuita em rádio e TV, que estreia terça-feira, o presidente Lula já fez gravações para ao menos 20 aliados que disputam governos estaduais e Senado.

Ontem, o presidente gravou 15 depoimentos no Palácio do Alvorada. Em uma das cenas, Lula aparece no hall de entrada, acenando. Nos próximos dias, ele participará de mais uma rodada de gravações.

Lula decidiu que entrará com força na campanha pela TV. A participação em comícios e agendas locais será menor. Ele viajará apenas para os Estados de aliados com quem se comprometeu pessoalmente.

Ontem pela manhã, Dilma Rousseff (PT) passou cerca de uma hora e meia no Alvorada, enquanto Lula gravava. Eles não fizeram tomadas juntos. Dilma gravou à tarde, separadamente, em estúdio.

Os dois comemoraram o resultado da pesquisa Datafolha, que colocou a petista pela primeira vez à frente do tucano José Serra (41% a 33%) e a três pontos de uma vitória no primeiro turno.

HUMILDADE

Mas publicamente Dilma adotou discurso de humildade. Disse que não haverá ca campanha ‘salto alto, soberba ou autossuficiência’. ‘Prefiro não tratar dessa questão [da possibilidade de vitória no primeiro turno] através de análise de pesquisa. De hoje [ontem] até o dia 3 de outubro, não tem nada decidido’, disse.

Dilma afirmou ainda esperar que o resultado da pesquisa Datafolha não provoque uma desmobilização na militância petista.

Questionado sobre o resultado da pesquisa, Serra não comentou. Ele fez caminhada ontem em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, (RJ), onde também gravou para o programa de TV.

Dilma falou ainda sobre reportagem da revista ‘Época’ desta semana, que trouxe um relato da participação dela em grupos que promoveram a luta armada contra a ditadura. ‘Eu não participei de ação armada. Nem sequer fui julgada por isso ou condenada’, disse.

Colaborou a Sucursal do Rio

 

EUA, onde internet influi mais, não tiveram evento só on-line

As eleições de 2008 nos EUA foram marcadas pela explosão do uso da internet nas campanhas, mas, se os debates na TV tinham transmissão também on-line, não houve um único evento em que a discussão foi ao vivo apenas neste meio.

O mais próximo que os americanos chegaram de ver um debate exclusivamente on-line foi em uma iniciativa de três sites -Yahoo!, Huffington Post e Slate.

Em setembro de 2007, o público enviou perguntas pela internet que, após selecionadas, foram apresentaram aos pré-candidatos democratas durante as primárias (Barack Obama, Hillary Clinton, Joe Biden, John Edwards, Christopher Dodd, Bill Richardson, Dennis Kucinich e Mike Gravel).

Cada um deles respondeu separadamente em segmentos gravados. Os vídeos foram então postados na internet, divididos por temas e candidatos, e os internautas navegavam por eles na ordem de sua preferência.

O Yahoo afirma que, apenas nas duas primeiras semanas, mais de 1 milhão de pessoas acessaram os vídeos.

 

Folha e UOL fazem debates inéditos na web esta semana

A Folha e o UOL, o maior jornal e o maior portal de notícias do país, promovem nesta semana dois debates eleitorais inéditos, ambos transmitidos em áudio e vídeo, ao vivo, pela internet, nos dias 17 e 18 de agosto.

O primeiro debate, dia 17, terá a participação dos candidatos mais bem colocados na disputa pelo governo do Estado de São Paulo: Geraldo Alckmin (PSDB), Aloizio Mercadante (PT) e Celso Russomanno (PP).

No dia seguinte, os veículos promovem o primeiro debate on-line entre candidatos a presidente no Brasil. O evento contará com a participação dos candidatos Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV).

Os dois eventos serão realizados no Tuca (teatro da PUC-SP), em São Paulo, às 10h30 da manhã, com mediação de Fernando Rodrigues, colunista da Folha e do UOL (leia mais sobre formato e regras dos debates ao lado).

Como haverá só três candidatos em cada evento, o embate direto entre eles será bem maior do que nos debates na TV (nos quais há pelo menos quatro candidatos).

Até o momento, o debate presidencial Folha/UOL já conta com a participação de outros 44 veículos, que vão transmiti-lo ao vivo pela internet. Por conta da lei eleitoral, que impõe restrições a debates em TV e rádio, a transmissão ao vivo não será feita por esses veículos, que terão acesso às imagens para cobertura jornalística.

 

AMÉRICA LATINA
Flávia Marreiro

Laços com a mídia impulsionam Santos

O novo presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, em oito dias de governo, fez tudo para se afastar da ‘herança maldita’ de seu padrinho político Álvaro Uribe, amado pelas conquistas em segurança, mas incômodo no quesito escândalos e na etiqueta para tratar a oposição e os vizinhos.

De sábado até hoje, o novo governo pactou trégua com a Venezuela, com a Corte Suprema de Justiça -em pé de guerra com Uribe-, e acenou até à diminuta oposição, oferecendo participação em comissões no Legislativo.

Sem falar na nomeação de um gabinete ‘de luxo’, com acadêmicos, políticos de renome e nomes do setor privado com formação no exterior.

Nem o atentado em Bogotá, na quinta-feira, foi capaz de afetar a atmosfera de lua de mel do novo governo.

‘Rapidamente Santos tratou de corrigir as tensões do governo anterior. Foi uma surpresa que tenha sido tão rápido e, de alguma maneira, exitoso’, disse Rodrigo Pardo, ex-chanceler no governo Ernesto Samper (1994-1998) e parte do conselho editorial da famosa revista ‘Semana’.

A dourada estreia de Santos foi coroada pelos elogios de colunistas críticos de Uribe, como Pardo, e vem embalada pelos laços do presidente com os principais meios de comunicação e com a elite tradicional do país.

LICITAÇÃO

É justamente da sua estreita ligação com a mídia -a família é fundadora e acionista do principal jornal colombiano, o ‘El Tiempo’- que devem vir os primeiros desafios concretos do ‘estilo Santos’.

Em primeiro lugar, está em curso a controversa licitação do terceiro canal de TV nacional da Colômbia. Em uma batalha que se arrasta ao menos por um ano, o processo está paralisado porque só há um candidato: o grupo espanhol Planeta, sócio da família Santos no ‘El Tiempo’.

Os dois demais concorrentes, o também espanhol Prisa e o magnata venezuelano Gustavo Cisneros, desistiram de disputar a concessão por falta de ‘garantias jurídicas’.

‘É uma das primeiras provas para Santos, de passar do estilo à ação. Vamos ver se ele deixa a licitação como está e outorga o terceiro canal à família ou se muda as regras do jogo’, diz Pardo.

A licitação está à espera de um parecer do Conselho de Estado, um órgão consultivo do Executivo. E Santos terá de coordenar a escolha do quinto integrante da comissão governamental que terá a última palavra no caso.

Se a nova emissora terminar de fato nas mãos do Planeta, analistas alertam para a perigosa concentração do poder midiático em torno da família do novo presidente.

Seu primo, Francisco Santos, vice de Uribe, anunciou nesta semana que será diretor de notícias da rádio RCN, a segunda do país, cujo grupo controla uma das TVs. O sobrinho do presidente, Alejandro, dirige a ‘Semana’.

O irmão de Santos, Luis Fernando, acaba de anunciar que deixará a direção da Casa Editorial El Tiempo, para evitar conflito de interesse.

Mas textos do jornal não escondem a admiração pelo novo presidente, que já foi subdiretor da casa. ‘Não sabiam os colombianos, por exemplo, de sua obsessão por pontualidade, por dizer a verdade, por reconhecer seus erros e sua disposição de corrigir’, diz o perfil dele, na edição do dia da posse.

Daniel Samper Pizano, colunista do jornal centenário, expressou seu desconforto. Escreveu no ‘El Tiempo’, em 31 de julho, que a Presidência de Santos pode ser ‘uma desgraça’ para o diário.

Samper Pizano pede a Santos que não repita ‘como chefe de Estado as pressões que aplicava como ministro’ da Defesa de Uribe. ‘Mais de uma vez escutei redatores e editores expressarem irritação ou surpresa por interferências suas -diretas ou por meio de mensageiros- no processo informativo.’

Em fevereiro deste ano, o grupo El Tiempo fechou a revista ‘Cambio’, responsável por trazer à tona alguns escândalos do governo Uribe. A razão foi financeira, disse.

Mas os ex-editores da revista, entre eles Pardo, não disfarçaram à época o incômodo pelas críticas feitas semanas antes por Santos. Ele insinuara que os jornalistas da ‘Cambio’ eram ‘idiotas úteis’ por criticar o governo.

CAPATAZ

Passar da retórica de mudança à distância das investigações de escândalos da era Uribe na Justiça é outro desafio para o novo governo.

‘Foi-se o capataz e chegou o dono da fazenda, como dizem alguns’, escreveu Daniel Samper Ospina, ácido colunista humorístico da ‘Semana’, na edição que circulou na segunda passada.

Ele ironizava o que aparecia de forma mais ou menos explícita na mídia para representar a volta da elite bogotana ao poder, em substituição aos emergentes do uribismo, ligados ao poder rural e fortalecidos sob o reinado do paramilitarismo até 2005.

‘As elites bogotanas e o uribismo se usaram mutuamente. E essa frase expressa o alívio pelo fim do tom fundamentalista de Uribe’, diz Omar Rincón, especialista em comunicação e coautor do blog Midiática do Poder, no portal político colombiano LaSillaVacía. ‘É como para dizer: vamos para frente, não importa como. Não tenhamos memória!’

Santos terá como embaixador no Vaticano o ex-secretário de Imprensa do governo anterior César Mauricio Velázquez, um dos quatro assessores de Uribe chamados a depor no ‘escândalo do grampo’, a interceptação ilegal de juízes e opositores feitas pelo DAS, a agência de inteligência colombiana.

O novo presidente ainda ratificou no cargo o presidente do DAS, Felipe Muñoz.

‘[Santos] perdeu a oportunidade de assumir uma atitude séria frente às investigações que estão ocorrendo’, diz Rodrigo Pardo.

 

MEIO AMBIENTE E POLÍTICA
Danuza Leão

Ecologia, jornalismo, elegância

A ECOLOGIA ENTROU devagar na mente das pessoas. Quando ouvi falar pela primeira vez do assunto, nem prestei muita atenção; achei estranho pensar em mudar hábitos que praticava desde a infância e que naquela época eram normais.

Tenho em mente, como se fosse hoje, Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo, onde morava minha avó. Um rio separava a cidade, e havia os que moravam do lado de cá e os que moravam do lado de lá; todas as casas davam frente para a rua e as cozinhas para o rio. As cozinheiras faziam o que era de praxe: jogavam os restos de comida pela janela, no que era a lata de lixo da cidade, e ninguém se dava conta de que morar de frente para o rio seria o maior dos luxos.

As pessoas largavam nas calçadas saquinhos vazios, maços de cigarro amassados, cascas de banana, latinhas vazias de refrigerante, e todos achavam que isso era o certo. O tempo foi passando, os jornais começaram a falar de ecologia, e latas de lixo foram aparecendo. Até quem não é radical hoje procura onde jogar aquela notinha perversa que vem junto com o troco, apenas uma questão de educação: se não fazemos isso em nossa casa, por que fazer na cidade, que também é nossa?

Mesmo os mais desligados veem hoje, claramente, o que está acontecendo: geleiras desaparecendo, tsunamis matando milhares de pessoas, deslizamentos de terra diários, pequenas ilhas da Indonésia ameaçadas de desaparecer, ondas de calor na Rússia, enchentes no Paquistão, e, há dias, um imenso iceberg, quatro vezes maior do que a ilha de Manhattan, se soltou na Groenlândia. Como o planeta não tem assessor de imprensa, não dá entrevistas nos jornais nem na TV, é a sua única maneira de reclamar dos abusos que estão cometendo, e as catástrofes chegam cada vez mais perto: na semana passada, uma linda praia em Arraial do Cabo amanheceu com um óleo grosso em toda sua extensão, que ninguém sabe de onde veio, e só daqui a 20 dias vai se ter ideia do que se trata. Com tudo isso, ainda tem gente querendo até mudar o curso dos rios; isso não pode dar certo.

Agora um pouquinho de política: parabéns ao ‘Jornal das 10’, da Globonews, que conseguiu entrevistar os candidatos sem o engessamento tradicional dos debates, com perguntas curtas e objetivas, e ainda com direito a comentários no bloco seguinte sobre a atuação dos candidatos. Foi uma conversa civilizada, cordial e sem estresse, nem da parte dos entrevistadores -André Trigueiro e Carlos Monforte-, nem dos entrevistados, que tinham que raciocinar para responder, e não chegar com o discurso já decorado; nem todos conseguiram, pois isso não se aprende, mas o formato foi encontrado, e é o ideal. Uma ideia elementar: colocar um relógio em frente ao candidato, para que ele acompanhe o tempo que lhe resta e não seja surpreendido com um corte no meio do raciocínio.

Outro comentário -e esse não tem nada a ver com política: preste atenção à elegância de Marina Silva. Suas roupas são discretas, a combinação de cores, perfeita. Seu porte, com o xale nos ombros, faria inveja a Gisele Bündchen, e ponto para as bijuterias feitas de contas e sementes da Amazônia que, segundo consta, são feitas por ela mesma; isso é que é ter estilo. Além disso, a candidata é serena, bem educada e não grita, coisa rara na política; suas aparições são uma lição de bom gosto a ser imitada pela peruagem nacional.

Chiquérrima, Marina.

 

TELEVISÃO
Audrey Furlaneto

‘O homem merece ser sacaneado’, diz ator da MTV

Ao estilo da Gaiola das Cabeçudas, o ‘bonde’ filosófico-funkeiro do ‘Comédia MTV’, pode-se teorizar sobre os princípios do humor exibido pela emissora.

Princípio número um, do ator Bento Ribeiro: ‘O homem merece ser sacaneado’. Princípio número dois: ‘É preciso rir de si mesmo’, também de Ribeiro. Princípio três: ‘Não há princípios’.

É no último, aliás, que se baseia o humor da MTV, que, desde 2009, ganha mais espaço na programação do canal. Hoje, são quatro programas e nove humoristas.

Atores de stand-up comedy, eles exploram novas possibilidades no gasto quadro de humorísticos da TV (com produtos como ‘Zorra Total’, na Globo desde 1999).

E, ao contrário dos mais recentes ‘CQC’, da Band, e ‘Pânico’, da Rede TV!, os programas no ar na MTV (‘Furo MTV’, ‘Comédia MTV’, ‘Quinta Categoria’ e ‘15 Minutos’) não são sempre pautados pela realidade.

O mais ‘realista’ é a sátira jornalística ‘Furo MTV’, com Dani Calabresa e Bento Ribeiro. ‘A grande parada desse programa é a sacanagem com o mundo’, avalia Bento. No jornal deles, nem o caso do goleiro Bruno passou sem piadas de humor negro.

Os demais programas lembram os tempos de ‘TV Pirata’: têm esquetes de humor sobre qualquer tema, paródias hilárias e improviso.

Embora sejam hit entre jovens e tenham aumentado o público da MTV, os programas ainda se alimentam da pequena audiência do canal: em bons momentos, marcaram dois pontos no Ibope.

Xuxa? Onde? O programa ‘Brasil Urgente’, da Band, noticiou o acidente na pista do aeroporto Santos Dumont na última quinta, mas não citou o nome de Xuxa, estrela da Globo, que viajaria naquele mesmo avião para o Recife.

Amigo no castelo Em meio a tantas reformulações, a TV Cultura comprou o desenho animado ‘Meu AmigãoZão’, coprodução do Brasil com o Canadá, que vai ao ar no canal pago Discovery Kids.

BYE BYE BRASIL

Zero filmes nacionais

Segundo a Ancine, em 2009, o Telecine Cult exibiu 852 filmes, mas nenhum brasileiro

34,5 horas de séries nacionais

Os seriados brasileiros só ocuparam 1,2% de 2.754 horas de séries na TV paga

 

James Cimino

Pausa para o grito

O escritor e jornalista Ale Rocha, 33, já fez um livro sobre seu hábito de assistir a televisão. No entanto, foi apenas devido ao filho, João Vitor, 4, que percebeu como os intervalos comerciais são mais barulhentos do que a programação normal.

‘Meu filho [quando tinha um ano de idade] dormia no meu colo quando eu via TV e sempre resmungava na hora dos comerciais. Agora uso fone de ouvido para não incomodá-lo mais.’

A variação de volume entre a programação da emissora e os intervalos comerciais é contra a lei federal 10.222 de maio de 2001.

De acordo com ela, ‘os serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens padronizarão seus sinais de áudio, de modo a que não haja, no momento da recepção, elevação injustificável de volume nos intervalos comerciais’.

A punição prevista aos canais infratores é a suspensão das transmissões pelo prazo de 30 dias -90 dias em caso de reincidência.

Como a percepção sonora varia de pessoa para pessoa, a Folha pediu ao perito judicial José Gonzalez que medisse a variação de volume em 26 canais para verificar se há diferenças entre o volume das atrações e o das propagandas veiculadas.

Os dados coletados pelo perito (leia na pág. E4) demonstram que quase todos os canais variam. Alguns em até 6dB, um aumento de quase quatro vezes no volume.

Pela medição de Gonzalez, as TVs pagas apresentam a maior variação, principalmente nos canais infantis. Na TV Rá Tim Bum e no Cartoon Network, há variação de 5dB.

LIMITES

Entre as TVs abertas a variação é a menor: apenas 1dB. A única que não apresenta essa diferença, segundo o perito, é a Rede TV!

De acordo com o engenheiro Mitsuo Yoshimoto, do laboratório de conforto ambiental do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), a variação de 1dB é tecnicamente pequena.

No entanto, 1dB pode ser o limiar entre o bom e o mau humor, principalmente em São Paulo, em que o barulho do trânsito ultrapassa os 55dB, limite de ruído definido pela lei do Psiu durante a noite em áreas mistas (comercial e residencial).

Para poder ouvir seu programa favorito sem essa interferência, em geral o telespectador aumenta o volume da TV alguns decibéis acima do ruído do tráfego.

Some-se a isso mais 1dB do comercial e lá estará o pequeno João Vitor resmungando enquanto o pai perde o retorno do programa, pois tira o fone e não percebe que o comercial acabou.

Já o economista Caio César Falconi Pires, 29, mora na av. Brigadeiro Luís Antônio (região central de SP) e diz que esse aumento de volume é até engraçado.

‘De repente, a sala parece um mercado de peixe. Um grita da cozinha, outro responde da sala. Quando alguém nota, pergunta: ‘Quem deixou a TV nesse volume?’

Formada em marketing, a blogueira Bianca Muller, 25, diz que já pegou raiva de certas marcas pelo abuso. ‘Se o comercial é interessante, você presta atenção independentemente do volume.’

 

Cristina Fibe

Emissoras dos EUA criam corre-corre para ver TV na web

Enquanto no Brasil o telespectador precisa se programar para assistir à maior parte das séries preferidas pela TV, nos EUA as emissoras facilitam a vida do fã, disponibilizando os episódios on-line logo depois de irem ao ar.

Segundo pesquisa recente do Clicker.com, um guia de conteúdo de TV na web, 90% das séries das temporadas 2009/2010 (de setembro a maio) foram colocadas na rede, de graça, pelas cinco principais emissoras americanas -50% delas no dia seguinte à primeira exibição.

No entanto, o espectador precisa correr para ver os episódios, retirados do ar sem avisos. ‘Às vezes, voltam à rede, mas não há um padrão claro para prever qual voltará e quando’, diz o Clicker.

De acordo com a pesquisa, 60% dos episódios estavam off-line três semanas depois de estrearem em um dos cinco canais abordados: ABC, CBS, Fox, NBC e CW.

Em seis semanas, mais de 90% já tinham desaparecido -os dados não consideram os serviços pagos. As cinco emissoras, juntas, colocaram na internet 4.420 episódios inteiros de 127 programas da temporada passada.

A recordista é a CW (de ‘Gossip Girl’), que disponibilizou 100% de sua programação, enquanto ABC, Fox e NBC ultrapassaram os 90%. A CBS, apesar de ficar abaixo, com 88%, foi a recordista em número de episódios postados: quase 1.750.

Apesar de os números impressionarem, na temporada passada algumas séries ficaram de fora da web, ao menos legal e gratuitamente. A CBS reservou à TV os episódios de ‘Big Bang Theory’ e ‘The Mentalist’; a NBC resguardou ‘Law & Order’; a Fox, o ‘American Idol’.

MUDANÇAS

Para o Clicker, os dados indicam que, em se tratando de TV on-line, ‘tudo o que sobe, desce’. ‘Se quiser ver um programa, quanto mais rápido o fizer, melhor. Se esperar, a única alternativa provável será um serviço pago.’

A pesquisa conclui que os poucos episódios que foram mantidos na web por mais do que seis semanas podem indicar uma mudança no comportamento das emissoras.

Eles incluem os de ‘60 Minutes’, ‘So You Think You Can Dance’, ‘Parenthood’, ‘Trauma’ e ‘Mercy’.

Nos EUA, cada vez mais pessoas assistem pela internet a programas de TV. Segundo a eMarketer, empresa de análise de mídia digital, quase metade da população americana assiste à TV on-line, número que deve crescer nos próximos anos.

 

Clarice Cardoso

No Brasil, apenas Globo não coloca íntegras de graça

Ao menos na internet, a TV brasileira está um passo à frente da americana: seis dos sete canais abertos disponibilizam íntegras da programação -ou partes dela- de graça nos respectivos sites.

Nos canais Cultura, SBT, Record, RedeTV!, Band e MTV, o tempo para o conteúdo entrar no ar vai de 15 minutos a 24 horas. E, eis a diferença em relação aos EUA, os programas ficam disponíveis por tempo indeterminado, segundo as emissoras -a Folha encontrou vídeos de meses e até anos anteriores nos sites dos canais.

A exceção é a Globo, que só dá acesso às íntegras para assinantes e por um período de seis a 12 meses. Via assessoria de imprensa, afirma que está fazendo ‘experiências de abrir íntegras de programas esportivos e outros’.

Além dos trechos e íntegras, as emissoras nacionais fazem outras apostas para tentar manter a atenção do telespectador.

CRESCIMENTO

Cultura, Record, RedeTV! e MTV exibem programas simultaneamente. O SBT aposta no sucesso de séries como ‘Grey’s Anatomy’, publicando episódios por 48 horas.

Segundo Renata Abravanel, coordenadora do site, o acesso a ele cresceu cerca de 35% na primeira semana.

Entre os canais por assinatura, a Fox disponibiliza algumas de suas séries mais famosas, como ‘24 Horas’, ‘Glee’ e ‘Prision Break’.

A depender do contrato, deixa-os no ar por duas semanas não consecutivas ou indeterminadamente, no caso das produções Fox Latin American. Mas isso só depois de dois a seis meses da TV.

E, já que brasileiros têm acesso a muitos poucos vídeos americanos, para conferir séries, com algum atraso, uma alternativa é o Terra TV. O portal publica episódios de 25 títulos depois de serem exibidos na TV paga -uns saem do ar para voltar em um ano, outros ficam disponíveis por quatro semanas.

 

Vanessa Barbara

Discípulos de Bottini

‘COMPRE! COMPRE! Compre!’, dizia Ciro Bottini no canal de vendas Shoptime, pedindo ‘música para quem ligou a TV neste momento’.

Naquela época, o célebre apresentador aprovava os produtos com o selo de qualidade do dedão e dialogava com a dona de casa, fazendo ele mesmo a pergunta (com voz fina) e respondendo: ‘Mas, Bottini, dá pra passar as fotos para o computador com essa câmera digital?’.

Era irresistível. Ainda que fosse um multiprocessador de 20 kg que brilhava no escuro e triturava coturno, dava vontade de ter um em casa.

A moda começou com Luiz Galebe, que, em 1987, fundou o programa ‘Shop Tour’, na época veiculado só de madrugada. Hoje há dezenas de atrações similares. A mais conhecida é o ‘BestShop TV’(Gazeta), que chega a ter cinco horários num só dia (um vai das 22h30 às 6h)

No catálogo, garbosas máquinas de fazer pão, panelas elétricas de arroz, massageadores e aparadores de pelos. Não há nada mais zen do que assistir ao programa sem um telefone por perto, alternando com o infomercial da escada articulada que pode ser montada em até 14 posições e o aparelho de fitness que dá choque na barriga enquanto você trabalha no escritório.

As apresentadoras são loiras, têm as unhas cintilantes e articulam exageradamente as vogais, como se estivessem falando com um vaso de plantas. Enaltecem os utensílios de cozinha e, não raro, derrubam comida no chão ou deixam queimar a bisteca. Conversam o tempo todo com o sonoplasta e se referem aos vegetais folhosos como ‘taliças’.

A fim de convencer a dona de casa, proferem frases como: ‘O alumínio sabe espalhar o calor como ninguém’. Sobre aparelhos de ginástica, dizem morbidamente que ‘liberam o corpo e a alma’, ao que alguém, em casa, faz o sinal da cruz.

Para esses profissionais da persuasão, aparelhos pequenos são ‘compactos’, estampagem cafona é ‘alegre’ e até um simples prato é equipado com ‘tecnologia pura’.

É o que nos resta na madrugada: ver como fazem os apresentadores para vender um inseto de pelúcia ‘divertido e colorido’, um tocador de MP4 com rádio-relógio e um bafômetro -todos no mesmo lote, numa promoção bombástica de seis parcelas de R$ 49,99.

 

COLUNA
Clóvis Rossi

Prestação de contas

SÃO PAULO – Regra não escrita do colunismo determina que se escreva preferencialmente (mas não obrigatoriamente) sobre o assunto que foi a manchete do dia. A manchete do dia desta Folha foi ‘Dilma ultrapassa Serra e fica a 3 pontos da vitória no 1º turno’.

O problema é que já escrevi sobre a perspectiva inevitável da ultrapassagem no remoto dia 28 de fevereiro. A chance de Dilma vencer no primeiro turno apareceu no texto de 1º de julho, há um mês e meio portanto.

Não, não estou exibindo dotes de adivinho, que não tenho. Nem presumindo de minha capacidade de entender o povo brasileiro. Estou simplesmente prestando contas, até porque o leitor não é obrigado a lembrar do que cada colunista escreveu e tem portanto o direito de reclamar de um eventual silêncio sobre o tema do momento.

Ainda como prestação de contas, confesso que em nenhuma eleição anterior me senti minimamente confiante para manifestar impressões sobre o vencedor de uma forma tão aberta como agora.

Quando leitores perguntavam quem ia ganhar, respondia sempre que esperaria o Datafolha seguinte para me manifestar -e assim ia até a abertura das urnas.

Agora, no entanto, a persistência do ‘feel good factor’, o sentir-se bem, essa característica do brasileiro que se instalou há uns dois anos, pouco mais ou menos, é tão palpável a olho nu que ficou fácil adivinhar o resultado.

A revista ‘The Economist’, aliás, diz, em seu número desta semana, que ‘feel good factor entrou na língua portuguesa’.

Para fechar a prestação de contas: almocei segunda-feira com a nova correspondente da revista no Brasil, junto com o cônsul britânico, o responsável por Brasil e Cone Sul no Foreign Office e a chefe de imprensa do consulado. Comentei com todos o ‘feel good’. Devo ter sido convincente.

 

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