ELEIÇÕES
Um blog e jornais ligados à candidatura de Roseana Sarney (PMDB) ao governo do Maranhão tentaram intimidar repórter da Folha que investigava indícios de compra de votos no Estado.
A repórter Elvira Lobato estava em São Luís apurando informações de que apoiadores da campanha de Roseana estavam supostamente pagando contas de eleitores pobres em troca de voto nela.
O dono de uma lotérica havia relatado que um homem chegou com centenas de contas de luz, água e telefone para pagar. Desembolsou R$ 10 mil em espécie. Como o dinheiro não foi suficiente para quitar todas as contas, saiu e voltou com mais R$ 10 mil.
Mesmo assim, faltou dinheiro. O homem então deixou na lotérica uma pilha de boletos não pagos dizendo que iria buscar mais dinheiro para saldá-los.
A repórter foi até a lotérica anteontem e conferiu os dados e fotografou contas de várias pessoas. Com os nomes e endereços dos donos das contas, ela chegou a suas casas. Nas ruas do bairro, onde moram pessoas de baixa renda, havia cartazes de Roseana e de Ricardo Murad -cunhado da peemedebista, ex-secretário de Saúde e candidato a deputado estadual.
A procuradora Carolina da Hora Mesquita abriu procedimento administrativo para apurar se as contas foram pagas em troca de votos.
BLOG
No mesmo dia, o ‘Blog do Décio’ -pertencente ao jornalista Aldenísio Décio Leite de Sá e hospedado no site do jornal ‘O Estado do Maranhão’, pertencente à família Sarney- postou nota com o título: ‘Folha prepara novo factóide contra Roseana’.
O blogueiro publicou foto da jornalista, com o número do celular dela. A repórter começou então a receber telefonemas e mensagens com insultos e ameaças.
‘O jornal Folha de S. Paulo está preparando um novo factóide para tentar atingir a candidatura da governadora Roseana Sarney (PMDB). A repórter do jornal Elvira Lobato esteve reunida hoje pela manhã com Aderson Lago e Aziz Santos [assessores de Jackson Lago, adversário de Roseana] para colher deles algumas informações no sentido de embasar suas matérias’, escreveu o blogueiro.
Uma das mensagens enviadas ao celular da repórter dizia: ‘Você envergonha a classe (…). Bandida, deixe o Maranhão em paz!’
A repórter esteve com assessores de Lago em busca de notícias sobre a queda de helicóptero usado na campanha. Os assessores disseram à repórter ter ouvido relatos de compra de votos.
O post de Décio Sá foi reproduzido na íntegra pelo jornal ‘Tribuna do Maranhão’, de Timon (MA), e por diversos outros blogs de linha governista no Estado.
A Folha ligou para Décio Sá, que não quis explicar as razões sobre o que escreveu: ‘Foi uma informação que recebi’, disse antes de desligar.
A campanha de Roseana Sarney não se manifestou até a conclusão desta edição.
Em julho de 2009, o mesmo Décio Sá já havia tentado constranger o trabalho do repórter da Folha Hudson Corrêa, enviado especial do jornal ao Maranhão para investigar um suposto desvio de verba pública pela Fundação José Sarney.
Décio chegou a escrever no blog, citando o nome de Corrêa, que o jornalista preparava ‘novo factóide’ contra Sarney e conspirava com o PSDB. Também relatava, distorcendo os fatos, os passos do repórter em São Luís.
Breno Costa
Em São Paulo, Serra reclama das regras dos debates na TV
Na antevéspera das eleições, o candidato da oposição à Presidência, José Serra (PSDB), optou por uma solução caseira e fez agenda casada com o candidato tucano ao governo de São Paulo, Geraldo Alckmin.
Ao contrário de Serra, que ainda luta para chegar ao segundo turno, Alckmin tem ampla vantagem na sucessão estadual e pode definir sua eleição já amanhã.
A agenda de Serra previa inicialmente caminhada em Osasco. À tarde, ele decidiu também ir a Suzano, onde Alckmin já tinha agenda marcada. No entanto, o mau tempo impediu a viagem.
Em Osasco, o candidato deu uma rápida entrevista coletiva, em que se limitou a comentar brevemente seu desempenho no debate da Rede Globo, anteontem.
Queixando-se do engessamento das regras, com temas sorteados, ele minimizou o fato de não ter se confrontado diretamente com a candidata Dilma Rousseff (PT).
Serra jogou para a adversária a responsabilidade pelo fato de não ter havido debate direto entre os dois candidatos que polarizam a corrida presidencial.
‘Ela [Dilma] teve três oportunidades para me perguntar. Não perguntou. Eu tive uma, e nessa uma, veio por sorteio um tema pré-determinado e eu preferi perguntar a outra pessoa’, afirmou Serra, que não respondeu que pergunta teria feito a Dilma.
A questão, dirigida a Marina Silva (PV), era sobre habitação, um dos temas que o candidato mais costuma explorar quando critica o governo federal, devido à baixa execução do programa Minha Casa, Minha Vida.
A participação de Serra no debate, sem confrontar sua principal adversária, foi criticada por aliados do tucano momentos após o programa.
Serra também não comentou a reação de aliados ao seu desempenho, mas destacou a reação positiva das pessoas nas ruas.
‘As pessoas agora estão ligadíssimas. Eu ouvi até comentários específicos sobre o debate de ontem. Nunca tinha acontecido isso, de as pessoas falarem de um debate, se referirem a este ou aquele aspecto’, disse. ‘Agora é a hora de iluminar os corações e as mentes das pessoas por um bom voto.’
‘AH, MOLEQUE’
A pedido de adolescentes durante corpo a corpo no centro de Osasco, o tucano dançou quatro vezes o ‘Ah, moleque’, moda inventada pelo programa humorístico ‘Pânico na TV’.
Na última delas, fez questão de esperar fotógrafos e câmeras de TV se posicionarem e ainda esperou por Alckmin antes de iniciar os passos.
‘Cadê o Geraldo?’, perguntou a assessores.
Dimitri do Valle e José Maschio
TRE censura mais uma pesquisa Datafolha no Paraná
O TRE (Tribunal Regional Eleitoral) censurou ontem a terceira pesquisa Datafolha no Paraná em nove dias. Ao todo, foram impugnados no Estado nove levantamentos.
A última pesquisa divulgada no Paraná sem impugnação foi a do Datafolha, do dia 16, quando foi apontado um crescimento da candidatura de Osmar Dias (PDT).
Das nove impugnações, sete foram pedidas pela coligação de Beto Richa (PSDB) e outras duas pelo PRTB.
Ontem pela manhã, a pesquisa da Alvorada Pesquisas, para a Rede Massa (afiliada do SBT), chegou a ser liberada, em liminar, e depois foi impugnada pelo colegiado de juízes do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná.
O levantamento Datafolha impugnado ontem teve decisão confirmada pelo colegiado do TRE-PR. O pedido havia sido feito pelo candidato do PRTB ao governo, Robinson de Paula, que alegou a ausência do nome do partido em uma das questões da entrevista.
As outras impugnações foram de pesquisas de Ibope (3), Vox Populi, Alvorada Pesquisas e Radar. O diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, disse que o instituto não colocou no cartão apresentado ao eleitor o partido associado aos nomes dos candidatos porque nem todo os eleitores terão essa informação no momento do voto.
A pesquisa da Radar Assessoria e Estatística que depois foi impugnada apresentava empate técnico entre os candidatos Richa e Osmar. O Datafolha requereu ontem ao presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Ricardo Lewandowski, liminar permitindo a divulgação de pesquisa proibida desde o dia 22 por juiz auxiliar do TRE-PR. O caso foi distribuído à ministra Cármen Lúcia.
O Datafolha defende que o caso é ‘excepcional e urgente’ e que o TSE teve suas instruções e resoluções desobedecidas pelo TRE-PR.
ESTRATÉGIA
A Folha apurou que as impugnações fazem parte de uma estratégia da candidatura de Richa para evitar que o eleitor seja influenciado por um eventual crescimento da candidatura adversária.
O advogado do PSDB, Ivan Bonilha -também advogado de Richa e da coligação que o apoia na disputa- negou a estratégia. ‘Não é isso. As pesquisas foram impugnadas juridicamente, sem qualquer viés político’, disse.
Colaborou FREDERICO VASCONCELOS , de São Paulo
TV Folha fará cobertura ao vivo da eleição
A Folha fará amanhã inédita cobertura eleitoral on-line e em vídeo, com transmissão ao vivo pela Folha.com.
Além de flashes durante a votação, logo após o fechamento das urnas haverá entradas ao vivo com comentários e análises sobre últimas pesquisas e dados do TSE.
Também será possível acessar a programação por iPhone e no Facebook (facebook.com/folhadesp).
Cerradas as urnas, a TV Folha levará ao ar um programa especial, apresentado pelo repórter especial Fernando Rodrigues
A atração terá análises e comentários de colunistas e jornalistas da Folha, como Clóvis Rossi, Maria Cristina Frias, Fernando de Barros e Silva, Gilberto Dimenstein, Eliane Cantanhêde, Valdo Cruz, Renata Lo Prete, Mônica Bergamo, Vinicius Torres Freire e Josias de Souza.
Outros colunistas do jornal, como Danuza Leão, Janio de Freitas, Michael Kepp e João Pereira Coutinho, bem como os correspondentes do jornal pelo Brasil, também participarão diretamente do programa, via telefone.
A equipe de correspondentes no exterior mostrará a repercussão do processo eleitoral fora do país.
Ao lado de convidados do mundo político e do diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, Rodrigues e a equipe do jornal vão acompanhar a apuração dos votos em tempo real e discutir as perspectivas pós-eleitorais.
O programa terá uma câmera que circulará pela Redação, para apresentar comentários da equipe que participa da cobertura eleitoral.
Candidatos se negam a dar entrevistas
Na reta final da campanha, a Folha buscou entrevistar os principais presidenciáveis, além de três candidatos a senador por São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Dos 12 convidados, 5 se recusaram a dar entrevista para o jornal.
Entre os presidenciáveis, José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) não aceitaram o pedido da Folha, ao contrário de Marina Silva (PV).
Entre os candidatos ao Senado, Marta Suplicy (PT), em SP, Itamar Franco (PPS), em Minas, e Marcelo Crivella (PRB), no Rio, não deram entrevista ao jornal.
Os que deram entrevista foram Cesar Maia (DEM), Lindberg Farias (PT), Aécio Neves (PSDB), Fernando Pimentel (PT), Netinho de Paula (PC do B) e Aloysio Nunes (PSDB).
PUBLICIDADE
Estudo expõe contradições da propaganda brasileira
Se você conseguir vencer a barreira da linguagem -um jargão universitário cinzelado com toques de marxismo-, encontrará em ‘A Nova Retórica do Capital – A Publicidade Brasileira em Tempos Neoliberais’, de Maria Eduarda da Mota Rocha, uma leitura bastante informativa e instigante.
O livro traça um panorama da indústria da propaganda no Brasil desde o golpe militar de 1964 até mais ou menos o início dos anos 2000.
Ao relacionar a retórica publicitária aos desenvolvimentos políticos e à situação econômica, a autora explica de modo convincente as mudanças pelas quais passou o discurso propagandístico.
E elas não foram pequenas. Se, nos anos 70 e 80, as peças eram caracterizadas por uma espécie de enaltecimento do progresso e pela valorização do produto como promotor de status social, a partir de meados dos anos 90, o discurso neoliberal, embora vitorioso nos planos político e legal, perdeu pontos no imaginário popular.
As razões para essa perda de prestígio incluem desde ingredientes políticos, como a atribuição do fracasso do Plano Cruzado ao comportamento de alguns empresários, até propriamente econômicos, notadamente o processo de ‘commoditização’ por que passaram diversos bens de consumo.
Na publicidade, isso se materializou numa linguagem que glorifica a qualidade de vida e a responsabilidade social das empresas.
‘CASES’
Mota Rocha não se limita a teorizar sobre as mudanças, mas as demonstra através de uma profusão de exemplos.
É nessas passagens que o livro se torna uma divertida viagem no tempo, em especial para leitores com mais de 40 anos, que irão reencontrar campanhas que marcaram momentos de suas vidas.
Alguns dos anúncios podem até chocar as sensibilidades contemporâneas: ‘Veja como o gerente do seu banco vai se sentir quando você aparecer num Dodge Dart Sedan’ (1971); ‘A vida é uma escada. Este é o degrau mais alto’ (H. Stern, 1988); ‘Se todo mundo tivesse privilégio, o privilégio não existiria’ (American Express, 1981).
Duplamente escandalosa tende a ser a propaganda de cigarros, por existir e pelo tipo de mensagem que transmitia: ‘Mais que um cigarro, um estilo de vida’ (Hilton, 1971); ‘Fino como poucas coisas e elegante como certas pessoas’ (Chanceller, 1980).
Se a retórica publicitária atual, na qual empresas exaltam suas virtudes cívicas e o consumidor é tratado como um sujeito inteligente que faz as escolhas que mais lhe convêm, não choca, é porque nos acostumamos a ela.
Olhando com maior distanciamento, entretanto, constatamos que ela mal esconde uma contradição, na qual o consumo é ao mesmo tempo incentivado e tratado como um valor menor, entre a futilidade e a amoralidade.
A NOVA RETÓRICA DO CAPITAL
AUTORA Maria Eduarda da Mota Rocha
EDITORA Edusp
QUANTO R$ 40 (272 págs.)
ESPORTE
Dilema jornalístico
QUALQUER ESTUDANTE de jornalismo que se preze já ouviu a lenga-lenga: um avião só é notícia quando cai, não quando aterra em segurança. O exemplo ilustra como só o extraordinário, o inesperado ou o surpreendente, o que escapa da normalidade, tem interesse jornalístico e valor de notícia.
Imagine-se esse estudante confrontado com a informação de que o campeão de ciclismo Alberto Contador foi pego no antidoping. Ele pode pensar: mas o que há de tão extraordinário em um ciclista professional abusando de substância ilícita?
O difícil é achar um campeão que não tenha sido apanhado no doping. Dos 15 últimos ganhadores da mítica Volta da França, só Carlos Sastre, vencedor em 2008, nunca acusou nada no antidoping. Floyd Landis, Lance Armstrong, Bjarne Riis, Marco Pantani e Jan Ullrich foram apanhados. O espanhol coroado neste ano (pela terceira vez) só vem confirmar aquilo que, na estatística, já é tendência.
Até aqueles que nunca chegarão a campeões abusam do doping: no mesmo dia em que foi anunciada a análise de Contador, os exames de outros dois espanhóis, Ezequiel Mosquera e García Dapena, ciclistas da equipa relativamente secundária Xacobeo-Galícia, revelaram a presença de uma substância que expande o volume sanguíneo e serve para mascarar a manipulação dos glóbulos vermelhos do sangue.
Na colheita de Contador, foi achado clembuterol, estimulante que afecta a capacidade aeróbica, provoca dilatação dos músculos e queima de gordura. O percentual é minúsculo, mas suficiente para suspender Contador. Ele pode ter de devolver o título.
Na entrevista que imediatamente convocou para reclamar sua inocência, tenso e à beira das lágrimas, Contador jurou que não tomou nada ilícito e que a culpa só podia ser de uma carne estragada que ele comeu -ingenuamente, acrescento eu. É preciso ser muito ingênuo para comer carne estragada durante a maior prova de ciclismo do mundo.
Meu conselho para o pobre estudante de jornalismo, que só pode estar confuso sobre o que é normal ou não neste esporte, é que redija um artigo sobre as desculpas que os ciclistas pegos arranjam.
Minha preferida foi a do Tyler Hamilton, que obrigou jornalistas a ligarem para especialistas em genética para entender o que ele dizia. Os glóbulos vermelhos que não lhe pertenciam mas que estavam no seu sangue deviam ser de um gêmeo fantasma, uma ‘quimera’ que teria dividido com ele o útero materno e que depois morreu e foi absorvido. Mais elaborado do que dizer, como outros, que achavam que a injeção era de vitamina B-12 ou que tomavam pastilhas de óleo de fígado de bacalhau.
TELEVISÃO
‘Glee’ volta com novos personagens e musa pop
Seriados que estouram na primeira temporada têm a difícil tarefa de manter o ritmo -e a audiência- nos anos subsequentes. A julgar pelos primeiros episódios da nova safra de ‘Glee’, a comédia musical, vencedora do Globo de Ouro, deve superar, de momento, o desafio.
A nova temporada voltou a apresentar a mistura que fez a fama da série: dramas juvenis entremeados por hits garimpados nos catálogos das gravadoras e celebridades em participações especiais. Os episódios inéditos chegam ao Brasil só no ano que vem, em data a definir.
Na estreia -caso não queira saber o que ocorre, pare de ler por aqui-, o grupo volta à estaca zero quando um dos integrantes do coral, o apagado Matt (Dijon Talton), sai do colégio.
Eles tentam recrutar cantores para o coral New Directions e, assim, entram para a história dois novos personagens: Sam (Chord Overstreet), jogador de futebol americano, e Sunshine (Charice), estudante de intercâmbio que acaba no Vocal Adrenaline, coral adversário.
Mais aguardado até do que a estreia, o episódio exibido nesta semana nos Estados Unidos foi um especial com músicas da cantora pop Britney Spears, que também participou do episódio. Na trama, os alunos querem fazer um número da ex-princesinha do pop, mas são vetados pelo professor Will (Matthew Morrison).
A maior parte dos musicais, bem como todas as aparições da cantora, acontece apenas nos sonhos dos integrantes do coral, quando eles estão sedados no consultório do dentista.
O episódio foi visto por 13,5 milhões de pessoas contra 13 milhões do especial de Madonna na primeira temporada. E, de quebra, bateu os 12,2 milhões da estreia da nova leva de episódios.
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