CHINA
Izabela Moi
‘Vencedor do Nobel quer ser um mártir’
Colaboradora de jornais de língua inglesa como os norte-americanos ‘New York Times’ e ‘Washington Post’ e o britânico ‘Guardian’, a jornalista Lijia Zhang, 46, tem se tornado ao longo dos anos espécie de porta-voz não oficial dos chineses.
Vivendo em Pequim desde 1993, onde montou seu escritório de colaboração, é também apresentadora de um programa de entrevistas da TV a cabo Blue Ocean -grade inteiramente dedicada à China, mas dirigida com exclusividade aos telespectadores norte-americanos.
A jornalista veio ao Brasil no mês passado lançar seu livro ‘A Garota da Fábrica de Mísseis – Memórias de Uma Operária da Nova China’ (Reler), onde relata os dez anos em que trabalhou em uma fábrica de armamentos em Nanquim, no sul da China, na década de 1980.
Ela organizou, em 1989, a maior manifestação de trabalhadores em apoio ao movimento estudantil, que pedia democracia.
Naquele mesmo ano, os protestos culminaram com a morte de mais de 3.000 pessoas pelas Forças Armadas chinesas, na praça da Paz Celestial, em Pequim.
Patriótica (‘auto-declarar-se um dissidente é um problema’), Lijia Zhang acredita que é o desenvolvimento lento e gradual das liberdades individuais que vai ‘empurrar as grades da gaiola até a democracia’.
Para a jornalista, sua missão é justamente essa, complexa: ‘ser uma ponte de compreensão e diálogo entre a China e o resto do mundo’.
De seu apartamento em Pequim, ela disse à Folha que o recém-premiado Nobel da Paz Liu Xiaobo é uma figura controversa, que ‘quer se tornar um mártir’, mas que o governo fez uma ‘bobagem’ ao enviá-lo para a prisão. Leia a seguir os principais trechos da conversa.
Folha – Você esperava que o prêmio Nobel da Paz fosse dado ao dissidente chinês Liu Xiaobo? Lijia Zhang – Eu fiquei um pouco surpresa, mesmo que soubesse que ele era um dos mais fortes candidatos ao Nobel. Não tenho certeza se ele merece o prêmio.
É claro que admiro suas ações. E não acho que deveria estar preso.
Nós precisamos de pessoas como ele, mas Liu Xiaobo é irrelevante para o cotidiano das pessoas comuns em nosso país.
Apenas poucos chineses sabem quem ele é. Ele não conseguiu constituir uma força, um poder que possa contrabalançar o poder do governo chinês.
O movimento democrático está num estado lastimável atualmente. Além do mais, pessoalmente, não acredito que seus métodos, seu ativismo, sejam os mais eficazes.
Existem muitas outras pessoas que trabalham de dentro do sistema para mudá-lo positivamente.
Mas a notícia da premiação chegou à população chinesa?
Muito pouco.
E qual sua opinião sobre a reação do governo de seu país?
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores considerou a premiação ‘um insulto’. [A jornalista não respondeu se concordava ou não com a posição.]
Você acredita que o prêmio vá mudar alguma coisa no sistema chinês, internamente, ou sua relações externas? Para o bem ou para pior?
Acho que não. Se mudar, será muito pouco.
Segundo o discurso do comitê norueguês do Nobel, a China tornar-se mais importante no jogo da comunidade internacional significa também que ela se torna mais visível. Portanto, é mais permeável às opiniões e considerações do resto do mundo.
Qual sua opinião sobre esse depoimento dos responsáveis pelo prêmio?
Eu concordo e acho que a China deverá aprender a como se comportar como uma ‘grande nação’ e aceitar que outros países têm valores e padrões diferentes dos dela.
Acredito que a crítica é importante, mas também é importante enxergar o progresso do país, que nos últimos anos levou grande parte da população chinesa a ter uma vida melhor e com mais liberdade individual.
Líderes do governo chinês foram à Grécia nesta semana oferecer um ‘resgate financeiro’ quando nenhum outro país, nem da própria União Europeia, estava disposto a fazê-lo. Aceita-se o dinheiro sem críticas nesse momento? Quer falar sobre isso?
O poder econômico sempre vem ao lado de influência política. A China tem se mostrado mais objetiva em suas posições internacionais. Espero que o governo chinês saiba usar esse poder com sabedoria.
Qual sua opinião pessoal sobre Liu Xiaobo, seu ativismo e sua sentença de prisão?
Não o conheço pessoalmente. A primeira vez que ouvi seu nome foi quando ele emitiu uma opinião muito crítica -para mim, exageradamente acima do tom- sobre a cena literária chinesa dos anos 1980.
Isso foi antes de 1989. Liu Xiaobo, em minha opinião, é um radical. Entre os chineses, ele é uma figura controversa. E essa é a sua imagem mesmo para a comunidade de dissidentes. Alguns acreditam que ele queira apenas se tornar um mártir.
Outros, talvez mais radicais do que ele [que acham que a democracia só virá com o fim do regime de partido único], o acusam de negociar e acreditar em mudanças que mantenham o poder do partido comunista.
De qualquer maneira, acho uma besteira o governo tê-lo enviado para a prisão, e acredito firmemente que ele sairá muito antes de os 11 anos se completarem.
Liu ainda não teve notícia da premiação
O encontro entre o Nobel da Paz Liu Xiaobo e sua mulher, planejado para ontem, ainda não aconteceu. Segundo um irmão de Liu, ela deve visitá-lo hoje na prisão (localizada a 500 km de Pequim). O advogado de Liu, porém, alerta que ela está desaparecida desde o anúncio do prêmio, quando passou a ser impedida de sair de casa.
ELEIÇÕES
Valdo Cruz e Ana Flor
Dilma quer evitar clima de crise no 1º debate
A Dilma Rousseff do segundo turno tem de ser ‘firme, mas não arrogante’, evitando que a ‘Rousseff’ atropele a ‘Dilma’.
É preciso também transmitir a mensagem de uma mulher preocupada com a ‘família brasileira’.
As recomendações fazem parte da cartilha da equipe de Dilma e de aliados para os debates, entrevistas e comícios do segundo turno contra o tucano José Serra.
Há, porém, na base de apoio da candidata, um temor de que se instale um clima de crise caso ela não se saia bem no debate de hoje na Band. O resultado do Datafolha foi considerado ‘bom’ pela equipe da candidata, que apesar da margem percentual apertada, ressalta que em votos válidos a diferença é positiva para Dilma.
Segundo um aliado, não há motivos para crise nesse momento, mas a situação pode mudar se perdurar o ‘pessimismo’ que marcou o início da semana passada.
O presidente do partido e um dos coordenadores da campanha, José Eduardo Dutra, reconheceu que houve frustração por causa da expectativa de vitória em 3 de outubro. Reservadamente, alguns assessores admitiram um clima de ‘desânimo’.
Na opinião de aliados, a coordenação da campanha de Dilma transformou a vitória em derrota, consumindo os dias seguintes ao primeiro turno com discussão de falhas e ouvindo críticas. Agora, dizem, o desafio é evitar que o pessimismo ‘contamine’ a militância.
Para isso, o PT foi mobilizado para atuar fortemente nas bases. Aliados regionais foram também acionados. O partido programa para a próxima semana um grande evento, em uma capital ainda não definida, para ser um marco na mobilização do segundo turno.
Segundo um governador aliado, apenas amanhã, pós-debate da Band e com base no resultado das primeiras pesquisas, será possível ter uma ‘exata noção da realidade’ e traçar estratégias reais para a fase final.
Governadores dilmistas creem na vitória, mas avaliam que pode ser mais difícil do que o previsto, com tensões na campanha, caso o desempenho inicial no segundo turno seja negativo.
Um deles teme que a tendência de queda na intenção de voto do final do primeiro turno não tenha sido interrompida. Segundo ele, uma parcela do eleitorado está ‘discutindo a relação’ com a petista e esse grupo pode estar influenciando outros.
A aposta é que esse eleitor acabará voltando para Dilma. Em Belo Horizonte, na semana passada, eleitores chegaram a dizer à candidata que votaram em Marina Silva no primeiro turno, mas estavam dispostos a votar na petista no segundo turno.
Para atrair esse eleitorado, a equipe de Dilma diz que ela não pode adotar um tom radical nesse segundo turno, fugindo da pecha de arrogante e destemperada, sem passar, porém, a imagem de fraca e insegura.
Para afastar qualquer risco de crise, será fundamental também, segundo assessores e aliados, manter a qualidade dos programas de TV do primeiro turno. Defendem, porém, maior participação de políticos e cenas da candidata com eleitores nas ruas.
Pouco ouvidos no primeiro turno, aliados regionais criticaram o que classificaram de despolitização da campanha na TV. O ajuste já começou a ser feito na sexta-feira, quando vários recém-eleitos apareceram pedindo voto para a candidata.
Catia Seabra
Serra não deve usar tom agressivo em confronto na TV
Nada disposto a repetir a experiência de 2006, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, deverá evitar investidas agressivas hoje no primeiro debate com a adversária petista Dilma Rousseff.
Segundo integrantes do comando da campanha de Serra, o candidato reservará seus comentários mais ácidos para respostas e réplicas.
Mas não deverá reproduzir a estratégia de 2006, quando, instado pelo PSDB, Geraldo Alckmin partiu para o ataque no debate com o presidente Lula -e teve sua performance mal avaliada.
Como o adversário fica com a última palavra nos confrontos diretos, Serra deverá evitar perguntas agressivas para Dilma.
Serra não deixará de abordar temas polêmicos, como denúncias de tráfico de influência na Casa Civil e loteamento de cargos no governo, mas as críticas serão diluídas ao longo de suas respostas.
Deve concentrar seus questionamentos em áreas que considera falhas no governo – como saneamento, resultado negativo do Banco Central e deficiências do programa de habitação.
PRIVATIZAÇÕES
Serra também reuniu material para se defender em temas como privatizações. Vai apontar benefícios da saída do Estado de setores como telefonia e siderurgia.
A equipe do tucano aposta no formato do debate como um ingrediente favorável.
Como o tempo destinado a respostas e réplicas é de dois minutos, tucanos acreditam que essa seja a oportunidade de Serra para mostrar maior preparo e domínio técnico.
Os dois ficarão frente a frente no estúdio e devem interagir cerca de 40 vezes ao longo do debate, um formato bem diferente dos confrontos do primeiro turno.
Os tucanos torcem para que, nervosa diante da maior exposição, Dilma cometa deslizes nas respostas.
A ideia do comando serrista é se valer do modelo do debate -mais longo e com tempo equânime para cada um falar- para explorar temas áridos e, assim, poder explicar melhor suas propostas para várias áreas.
Além de estudar conteúdo e exercitar o tempo de suas respostas, Serra deverá ser submetido a massagem hoje. O candidato também deverá preservar a garganta para o embate, que começa às 22h.
Serra deve aproveitar o encontro da Band para cobrar de Dilma participação em todos os outros debates previstos para o segundo turno.
Na fase inicial da campanha, a petista foi a seis encontros: Band, Folha/UOL, Folha/ Rede TV!, emissoras católicas, Record e Globo.
A Folha e o UOL fizeram convite para debate no dia 21.
MÍDIA E POLÍTICA
Não é boa
A imprensa é livre no país, ressaltou o ministro da Comunicação Social da Presidência, Franklin Martins. ‘O que não quer dizer que seja boa’, apressou-se em acrescentar.
Certamente não é boa.
Não foi boa, por exemplo, para o então presidente Fernando Collor de Mello, hoje aliado do PT, quando se revelaram os escândalos que vieram a resultar no seu impeachment.
Não foi boa quando noticiou a compra de votos de alguns parlamentares para aprovar a emenda constitucional que veio a instituir o direito à reeleição, então defendido por Fernando Henrique.
Não foi boa quando revelou o esquema do mensalão, o caso dos aloprados, a trama para expor o sigilo bancário do caseiro Francenildo e as atividades da família de Erenice Guerra, entre outros casos que pontuaram o governo lulista.
Em viagem à Europa, onde afirma colher subsídios para a criação de um marco regulatório na área de comunicações, o ministro Franklin Martins tem, portanto, motivos para reclamar de uma imprensa alheia à notória parcialidade com que costuma pautar as suas avaliações.
Seu comentário merece ser catalogado junto com reclamações de teor equivalente, feitas pelos governistas de todas as épocas.
Dois aspectos, entretanto, requerem atenção. O primeiro é que, neste final de governo, ainda exista empenho em engajar o Executivo num tema que mereceria antes de tudo ser objeto de uma iniciativa do Congresso.
O segundo, e mais importante, é o que revela da reiterada disposição por parte de representantes do PT de exaltar a liberdade de imprensa para em seguida assestar novos ataques a quem publica o que o governo gostaria de ocultar.
No triunfalismo que antecedeu a divulgação dos resultados eleitorais, o presidente Lula elevava a voltagem de suas provocações à imprensa. Diminuíram com a notícia de que haveria um segundo turno. Mas o inconformismo permanece -e o ministro novamente o manifesta. Não será uma breve viagem a países europeus que irá civilizá-lo quanto a isso.
TELEVISÃO
Laura Mattos
Pais de Ben 10 falam do herói que virou fenômeno
Ben 10, um dos maiores heróis infantis da atualidade, tem quatro pais. E eles estão orgulhosos, porque a cria é líder de venda de produtos licenciados para crianças. Eles são Joe Casey, Joe Kelly, Duncan Rouleau e Steven T. Seagle, do estúdio Man of Action. Fundaram o grupo quando faziam quadrinhos do ‘X-Men’. Após dois trabalhos pequenos, saiu Ben 10, garoto que usa um relógio capaz de transformá-lo em alienígenas que lutam contra o mal. Os quatro, que respondem em conjunto, falaram à Folha sobre a série, exibida em 167 países, e a nova temporada, ‘Ben 10: Supremacia Alienígena’, que estreia hoje, 10/10/10, no Cartoon.
Folha – Normalmente, heróis são adultos. Ben é criança. Isso facilita a identificação com o público e explica o sucesso? Man of Action – Nossa intenção foi criar um ponto de forte identificação. Crianças tendem a se espelhar em outras um pouco mais velhas, então Ben é sempre um pouco mais crescido do que o público. Pensamos nele como um garoto ousado, engraçado, cabeça-dura e heroico.
O fato de Ben ser criança, além de gerar identificação, facilita o licenciamento?
Ben 10 é provavelmente o personagem infantil mais bem-sucedido em licenciamento dos últimos 20 anos. O fato de a marca ter ido tão bem tão rapidamente traduz o entusiasmo do público.
A profusão de aliens em que Ben se transforma, além de render histórias, é boa comercialmente, são mais personagens para estampar mais produtos. Essa foi uma preocupação de vocês?
Man of Action é sintonizado com o mercado, mas nenhum de nós acreditava que era uma boa ideia basear a criação em torno de questões comerciais. Começamos com a história, personagem e identificação com o público. Se grandes oportunidades se abrem a partir das escolhas criativas, e normalmente isso ocorre, ótimo. Mas se o público não gosta das histórias e dos personagens, nem é preciso pensar comercialmente.
Na primeira temporada, Ben tinha 10 anos, na segunda, 15. Quanto terá na terceira?
Tem 16 e dirige o Benmovel. Sua identidade secreta é revelada e ele se torna astro internacional, amado por crianças, mas vítima da desconfiança de adultos. Como seu relógio Omnitrix foi destruído, tem o Superomnitrix, que o transforma em formas avançadas de velhos aliens.
Roberto Kaz
Clube da LUTA
Na madrugada de 8 agosto, a cantora Sandy ligou seu televisor para assistir, ao vivo, a 30 minutos de suculenta pancadaria.
O brasileiro Anderson Silva e o americano Chael Sonnen disputavam o cinturão de peso médio do UFC (Ultimate Fighting Championship), mais badalado torneio de artes marciais do mundo.
Assim que a luta começou, Sandy escreveu em sua página no Twitter: ‘Vaaai, Anderson!!!’. Quando o brasileiro tomou sucessivos socos na cabeça, a cantora se disse ‘chocada’, protestando: ‘Essa luta foi vendida, não é possível’. Por fim, ao ver Silva sufocar o adversário a minutos do gongo final, explodiu em alegria: ‘Bateeeeuu!! Meu Deus!!’.
Sandy não estava sozinha em sua torcida pelo brasileiro. O embate, transmitido pelo SporTV, fez com que o canal alcançasse a liderança entre as redes por assinatura naquele horário.
Três semanas depois, a mesma luta foi ao ar pela RedeTV!, que, por contrato, é obrigada a aguardar um tempo para a exibição. Transmitida à meia-noite de um sábado, angariou, segundo o Painel Nacional de Televisão, 650 mil espectadores, ou 8,25% dos aparelhos ligados.
AUMENTO DE PÚBLICO
Criado em 1993 nos Estados Unidos, o vale-tudo -hoje chamado de MMA [Mixed Martial Arts (artes marciais mistas)]-, amargou longos anos de marginalidade televisiva no Brasil.
Embora sempre tenha contado com lutadores nacionais em seu hall de estrelas (Royce Gracie, Vitor Belfort, os gêmeos Rodrigo Minotauro e Rogério Minotouro), o esporte só chegou à TV aberta em 2008, quando a RedeTV! comprou, do UFC, um pacote de lutas antigas.
‘Ali, ainda se via o MMA com maus olhos em função da época em que era chamado de vale-tudo’, conta Terence Paiva, diretor de esportes da RedeTV!.
‘Mas, quando o Amilcare Dalevo e o Marcelo Carvalho (donos da emissora) viram a força comercial, decidimos ir atrás’, disse.
No time de anunciantes do UFC Sem Limites -programa da emissora que transmite as lutas-, há uma petrolífera, uma cadeia de fast food, uma empresa de telefonia móvel e uma tubaína -marcas não necessariamente associadas à troca de surras.
A atração ocupa o quarto lugar em termos de share (porcentagem de televisores ligados no horário) na RedeTV!. Fica atrás do ‘Pânico’, da reprise do ‘Pânico’ e do ‘Dr. Hollywood’.
O aumento também se fez sentir na TV por assinatura. Nos últimos dois anos, o Premiére Combate, canal pay-per-view dedicado ao MMA, viu seu público quadruplicar de 20 mil para 81 mil assinantes.
Nessa esteira, outras emissoras passaram a dar espaço aos pugilistas. Em abril, Faustão abriu 17 minutos de seu dominical para conversar com Anderson Silva. Em setembro, Silva voltou à TV para participar do programa ‘Legendários’, da Record.
No mesmo mês, o lutador Rodrigo Minotauro foi entrevistado no ‘CQC’, da Band. Terence Paiva resume: ‘Quando o esporte não era muito aceito, a gente pôs a cara para bater. Agora os urubus estão rodando’.
Já o inglês Marshall Zelaznik, diretor de desenvolvimento internacional do UFC, credita a boa audiência a uma razão ‘genética’: ‘A luta está no nosso DNA, e o Brasil, terra do jiu-jitsu, está no DNA do UFC’.
RINHA DE GALO
O deputado federal José Mentor (PT-SP) apresentou, em 2009, um projeto de lei, ainda não votado, contra a transmissão em TV do MMA.
O deputado diz que a luta não combina com a evolução da sociedade. ‘No Brasil, é proibido rinha de galo, mas isso pode?’ Para ele, os altos índices de audiência decorrem da ‘inclinação do ser humano (Sandy inclusa) para ver a maldade’.
Indiferente ao projeto de lei e dotado de um certo exagero, o ex-lutador Wallid Ismail acredita que o esporte, se chegar à Globo, há de ultrapassar o futebol.
Promotor do Jungle Fight, principal torneio de MMA no Brasil, Ismail diz ter estado recentemente com Luiz Fernando Lima, diretor da Central Globo de Esportes: ‘Fui com o (ex-deputado estadual) Bernard do vôlei, para falarmos da luta. O Luiz Fernando disse que olharia com carinho’.
A Globo, que nos anos 1990 transmitia as disputas internacionais de boxe, diz não ter interesse no esporte.
NA TV
UFC Sem Limites Lutas de MMA
QUANDO na madrugada de sábado para domingo, às 0h, na RedeTV!
CLASSIFICAÇÃO livre
Lúcia Valentim Rodrigues
‘Passione’ põe galã para mendigar
A barba está comprida. O cabelo, ainda não. ‘Dei uma arrumadinha nele hoje. Já está todo desgrenhado, tomando rumo próprio’, conta o ator Cauã Reymond, 30, prevendo as mudanças físicas para o personagem Danilo, da novela global ‘Passione’.
Ele está sem gravar há quase um mês e só volta para o Projac ‘daqui a algumas semanas’ por conta de uma cirurgia no quadril para curar lesão semelhante à que teve o tenista Gustavo Kuerten.
‘Surgiu uma urgência para operar. Conversei com o Silvio [de Abreu, autor da trama], que me disse que meu afastamento se encaixava no que ele estava imaginando.’
Então o playboy Danilo sumiu. Mergulhou no crack e foi expulso de casa. Seu nome só vai surgir nas conversas da família à sua procura.
‘É muito semelhante à vida real. As pessoas somem e reaparecem. Minha saída acabou sendo útil ao drama.’
Por enquanto, os esforços de Reymond estão na fisioterapia. ‘Estou somente lá, ó’, diz, apontando para o par de muletas apoiado na cadeira. As sessões vão durar até bem depois de a novela terminar.
BEM BABACA
Danilo, no início, era só um filhinho de papai rico. Silvio de Abreu não escondia a dependência química, mas não explicitava qual seria.
‘Quem consome crack se degenera rápido. Tínhamos de esperar para apresentar isso’, justifica o ator.
‘Fiz o Danilo bem babaca para fugir do estereótipo do bonzinho. Mas cheguei a duvidar que o público fosse sofrer. Tive medo de que, quando eu entrasse na droga, torcessem para eu morrer.’
Não foi o que aconteceu. Apesar de estar fora da espinha dorsal da trama, sua história ganhou compaixão.
‘Na rua, me contam muitos problemas familiares. Todo mundo tem. É triste. Também tenho uma pessoa na minha família, que não cabe aqui falar. Ela vai para a clínica [de reabilitação]’, explica.
Após ver reportagens na internet e se aprofundar no assunto, combinou com um ex-policial para levá-lo à cracolândia, na região da Luz.
‘A única pessoa sã é o traficante. Nesse dia era uma mulher no comando. Vi a polícia tocando os viciados de lá. O drogado se torna um zumbi, um rato mesmo.’
Por algumas semanas, frequentou o Narcóticos Anônimos e clínicas de reabilitação. ‘Dá muito trabalho interpretar um drogado sem ser um consumidor. Nunca experimentei [drogas].’
Ele perguntava quem já tinha tomado o mesmo que o personagem, ex-velocista. ‘No meu desespero para encontrar verossimilhança, descobri muita gente que se droga. Foi um laboratório.’
Ajudaram nessa preparação seus recentes papeis no cinema (veja ao lado). ‘Fui guloso, fiz quatro filmes. Mas, depois da novela, quero tirar férias e me recuperar. Acho que eu preciso.’
Morris Kachani
‘Provocações’ comemora dez anos com 500 entrevistas e DVDs
‘Se você não fosse cantora, o que gostaria de ter sido?’, pergunta Antonio Abujamra. Elza Soares responde: ‘Olha, é uma resposta pesada. Eu seria uma grande prostituta’. ‘Com consciência?’ ‘Com consciência’, diz a cantora. ‘Puxa vida, por que você aprendeu a cantar meu Deus do céu!’, arremata o apresentador.
Há quem diga -e não são poucos- que ‘Provocações’ é o programa mais livre da televisão brasileira. É pena que seja visto apenas por uma audiência de um ponto no Ibope (cada ponto equivale a 60 mil domicílios ligados na Grande São Paulo).
O eterno jogador Antonio Abujamra, 78, veterano ator e diretor, é quem comanda a atração que sempre recebe convidados para entrevistas nada convencionais. Chama a atenção o fato de esse ser considerado um dos programas com maior apelo entre o público jovem na TV Cultura.
‘Provocações’ agora chega aos dez anos com mais de 500 entrevistas exibidas, o que não deixa de ser um marco em se tratando da volatilidade da televisão brasileira. E, para comemorar, lança quatro DVDs trazendo alguns dos grandes momentos do programa.
Os entrevistados são de toda espécie, já que a proposta de ‘Provocações’ é a de ser ‘um periscópio sobre o oceano do social’, como gosta de definir Abujamra.
Já participaram artistas conhecidos como o escritor Mario Prata, o ator Paulo Autran e o músico Arnaldo Antunes.
E personalidades que, com base na experiência vivida, compartilham seus conhecimentos. Esse é o caso do ex-presidiário Luiz Alberto Mendes, para quem, depois de matar uma vez, fica mais fácil matar numa próxima oportunidade.
RECURSOS DRAMÁTICOS
Estaríamos em um ‘talk show’? O diretor Gregório Bacic rejeita: ‘Essa é uma expressão da televisão americana para um gênero de programa que não é o nosso’.
‘Provocações’ é difícil de ser enquadrado.
A captação das imagens, com campos de luz e de sombra sobre os rostos e com a câmera chegando ao close, serve como um recurso dramático.
A leitura de poemas ou trechos de alguma obra-prima da literatura universal, que de alguma forma compõe com o tema da conversa, também evoca o ambiente de teatro.
Quem é instado a também participar do programa é a opinião pública, que comparece na forma de depoimentos captados pelas ruas da cidade -moradores de rua, funcionários públicos, gente engravatada, peruas, todos têm espaço.
Diante de perguntas inusitadas, a ideia é captar as reações, a espontaneidade das respostas. Claro que alguns programas saem melhores do que outros, a depender do desprendimento dos entrevistados e do que têm a contar. Assim como os humores de Abujamra, eles oscilam.
NA TV
Provocações
Programa de Antonio Abujamra
QUANDO terças, às 23h, na Cultura
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
PROVOCAÇÕES
DISTRIBUIÇÃO Cultura Marcas
QUANTO R$ 29,90 cada um
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
Vanessa Barbara
O primo da irmã da avó do Parada
‘O meu pai gostava de contar causos. Ele me contô uma vez um causo do surdo, um surdo daqueles não totalmente surdo, daqueles meio surdo’, relata o ator, compositor e cantor Rolando Boldrin.
‘O tal do caboclo tava na roça tirando mandioca. E meu pai puxou assunto, né.’
Há cinco anos, Boldrin comanda o ‘Sr. Brasil’ (Cultura, qui. às 22h, classificação indicativa não informada), em que costuma fazer a mesma coisa que o pai fazia: sentar e tirar uns dedos de prosa.
É o programa preferido do meu avô e uma das maiores audiências da TV no segmento da terceira idade. Trata-se de uma atração de palco -com plateia- focada em ritmos brasileiros como a música caipira, mas que também dá espaço a outras manifestações regionais (prosa, verso, dança e teatro).
Sempre bonachão, Boldrin emenda os números musicais com ‘causos’ variados como esse do caboclo meio surdo.
A história segue: o homem pergunta como vai a família, mas o matuto não escuta direito e diz que está colhendo mandioca. ‘E a mulher, como vai?’, indaga o outro.
‘Tá meio aguada, mas tô comendo mesmo assim…’, responde o caboclo. A plateia vai ao delírio.
Boldrin fala sem parar de um certo Dito Preto, ou Benedicto da Silva, que conheceu em sua cidade natal, São Joaquim da Barra (SP) -terra de outra grande figura das artes, o fotógrafo Renato Parada.
‘Ele é primo do marido da irmã da minha avó. É um cara totalmente especial, o centro das atenções onde quer que esteja. E o mais incrível de tudo: sem ser chato, sem forçar a barra’, conta.
‘No último jantar na casa do tio Mauro’, especifica, ‘ele cantou, declamou poesia, contou piada e passou trote por telefone na filha.’
No programa, Boldrin mistura histórias de Nhô Tico, Noel Rosa, Dominguinhos, João Macacão, Osvaldinho da Cuíca e da cearense dona Jandira, que tem a voz de uma diva negra do jazz. Canta chacoalhando uma caixa de fósforos. Recita poemas sobre gravatas coloridas. Em vez de dizer que alguém morreu, diz que ‘viajou fora do combinado’.
Entre uma cuíca e outra, uma viola e uma sanfona, não podemos deixar de notar que Boldrin é a cara do protagonista da série britânica ‘Inspetor Morse’. Só que mais simpático.
E haja comercial de Cimentcola, farmácia, antena parabólica e remédio para osteoporose.
IMPRESSÃO
Leitores da Folha poderão comprar capas históricas
Que tal presentear seu pai com as capas da Folha nos dias em que o time dele foi campeão? Ou seu filho com a primeira página do dia em que ele nasceu?
A Folha lança hoje um serviço inédito no Brasil que permite a assinantes e não assinantes receber em casa a primeira página de qualquer dia dos quase 90 anos de existência do jornal, que foi fundado em 1921.
No total, mais de 32 mil capas publicadas nesse período poderão ser selecionadas em folha.com.br/capas a partir da data de publicação.
Assinantes pagam R$ 4,90 por página impressa, não assinantes pagam R$ 6,90 (mais o valor do frete).
Em até dez dias após a confirmação do pagamento (que pode ser feito por cartão de crédito, débito em conta corrente ou boleto bancário), será entregue a capa escolhida, num canudo de papelão, para melhor protegê-la.
As capas estarão à venda em formato impresso. Não será possível adquirir apenas o arquivo digital.
Segundo a gerente de vendas e fidelização da Folha, Silvia Franco, 34, a ideia de disponibilizar o serviço surgiu da observação de funcionários da própria Folha, que iam buscar no acervo de jornais antigos, no Banco de Dados, capas publicadas em datas com valor afetivo.
‘Um colega disse que encomendará as 70 capas publicadas desde 1940, no dia do aniversário do sogro. Essa espécie de livro da vida dele será o presente na festa que a família fará’, diz Franco.
HISTÓRIA
Para ela, o novo serviço também poderá ser útil para escolas e pessoas que queiram ter em mãos a reprodução de capas com o registro de acontecimentos históricos do Brasil e do mundo.
Como a que noticiou a capitulação alemã ao final da Segunda Guerra Mundial: ‘Renderam-se incondicionalmente aos exércitos aliados as forças germânicas de terra, mar e ar’, publicada em 8 de maio de 1945.
Ou a que noticiou a presença de 300 mil pessoas no comício pelas eleições diretas, um marco na história da democratização do país, publicada em janeiro de 1984.
Ou a da morte do ídolo do automobilismo Ayrton Senna, de 2 de maio de 1994.
‘As histórias estampadas nas capas do jornal mobilizaram sentimentos e mudaram as vidas de seus leitores. É natural que muitos queiram guardar esses registros como quem guarda as próprias lembranças’, diz Franco.
As capas encomendadas serão impressas a laser em papel vergê branco, no tamanho 44 cm por 30,5 cm.
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