CHINA
A pressão do Nobel
Não há prova mais eloquente do acerto da escolha do Comitê do Nobel para o laureado com seu prêmio da Paz deste ano do que o fato de o agraciado ainda não saber que recebeu a honraria.
O chinês Liu Xiaobo está preso por ter organizado, há dois anos, um manifesto em que intelectuais e ativistas reivindicavam reformas políticas abrangentes no país. Não tem nenhum contato com o mundo exterior, à exceção das visitas mensais de sua mulher.
Foi condenado a 11 anos de prisão pelo crime de promover campanhas em prol de liberdades políticas no país, onde vigora uma ditadura de partido único que não tolera oposição e reprime a liberdade de expressão. A Dui Hua Foundation, organização não governamental baseada nos EUA, estima em quase 22 mil o número atual de presos políticos na China.
O país, porém, tem se valido de sua crescente relevância econômica para amenizar as pressões internacionais pela abertura política. Com a economia norte-americana presa numa relação de interdependência com a chinesa, o anterior ganhador do Nobel da Paz, o presidente Barack Obama, conduz uma diplomacia pragmática em relação ao país asiático, na qual não cabem restrições a violações dos direitos humanos.
Sua secretária de Estado, Hillary Clinton, chegou a afirmar que ‘nossa pressão nessas questões [relativas aos direitos humanos] não pode interferir na crise financeira global, na mudança climática e nas crises de segurança’ -considerados os assuntos prioritários no diálogo EUA-China.
Após o prêmio a Liu, Obama sinalizou uma mudança de tom, ao dizer que a abertura política na China não caminha na mesma velocidade que a econômica. Outros países reforçaram os apelos para que o país liberte Liu. O governo chinês respondeu classificando a escolha como uma ‘blasfêmia’.
Talvez a decisão sirva para lembrar ao mundo que em alguns casos pode-se ir além do pragmatismo comercial. Pelo menos em círculos não governamentais, o prêmio contribuirá para aumentar as pressões internacionais pela abertura democrática na China.
Fabiano Maisonnave
Nobel da Paz causa reação da China
O ativista chinês pró-democracia Liu Xiaobo, 54, sobrevivente do massacre da praça da Paz Celestial e condenado recentemente a 11 anos de prisão, foi nomeado ontem Prêmio Nobel da Paz. Pequim rebateu: criticou duramente a escolha, censurou a notícia no país e ameaçou a Noruega com retaliações.
Liu Xiaobo (pronuncia-se ‘Xiaobô’) recebeu o prêmio por ‘sua luta longa e não violenta em favor dos direitos humanos fundamentais na China’, afirmou o Comitê Nobel Norueguês, indicado pelo Parlamento desse país.
Para o comitê, os recentes avanços econômicos transformaram a China na segunda economia mundial e ‘tiraram milhares de pessoas da pobreza’, mas esse novo status do país ‘deve incluir maior responsabilidade’.
Professor de literatura, Liu foi preso em dezembro de 2008, dias antes da divulgação da Carta 08, assinada por 303 ativistas que defendiam reformas democráticas, incluindo o fim do monopólio do Partido Comunista.
Em dezembro do ano passado, foi condenado a 11 anos de prisão por ‘atuar para subverter o governo’, a pena mais alta aplicada a um dissidente nos últimos anos.
O comitê afirmou que, ao receber punição tão severa, ‘Liu se tornou o principal símbolo da ampla luta por direitos humanos na China’.
Não é a primeira vez que o Nobel da Paz vai para um opositor do regime comunista chinês. Em 1989, ano do massacre da praça da Paz Celestial, o nomeado foi o líder tibetano no exílio, dalai-lama, que ontem exortou Pequim a soltar o dissidente.
Liu é o terceiro Nobel da Paz nomeado enquanto cumpre pena dada por seu próprio governo. Foi precedido da líder oposicionista de Mianmar Aung San Suu Kyi (1991) e pelo ativista alemão Carl von Ossietzky (1935).
Preso a cerca de 500 km de Pequim, ele deve ser informado da premiação hoje, numa visita da mulher. Liu tem direito a R$ 2,5 milhões, a um diploma e a uma medalha.
Como esperado, o governo chinês reagiu com dureza ao anúncio. ‘Conceder o Nobel da Paz maculou o prêmio e pode afetar os laços entre China e Noruega’, disse o porta-voz da Chancelaria chinesa Ma Zhaoxu, em nota.
Ma afirmou que o Nobel da Paz deveria ser concedido a pessoas que ‘contribuem para a harmonia nacional, para a amizade entre países, para o avanço do desarmamento e para a convocação de conferências de paz’, repetindo as diretrizes de Alfred Nobel.
Logo após a anúncio do prêmio, o embaixador da Noruega em Pequim foi convocado pela Chancelaria chinesa para dar explicações.
Em junho, quando o ativista chinês já despontava como favorito ao prêmio, a vice-chanceler chinesa Fu Jing pediu um encontro com o diretor do Instituto Nobel, Geir Lundestad, para lhe advertir de que a nomeação seria considerada ‘uma ação hostil’.
Agraciado com o Nobel da Paz em 2009, o presidente norte-americano, Barack Obama, em nota, elogiou a nomeação de Liu Xiaobo e exortou Pequim a libertá-lo ‘o mais rápido possível’.
Como o comitê do Nobel, Obama elogiou o progresso socioeconômico chinês, mas disse que ‘não ocorreram as reformas políticas’.
Para esconder prêmio, China bloqueia mídias
O governo chinês montou uma operação para tentar bloquear a notícia de que um preso político do país havia sido o vencedor do prêmio mais prestigiado do mundo.
Logo após o anúncio, por volta das 17h em Pequim, os sites Baidu, o mais popular da China, e Google não aceitavam a busca com o nome de Liu Xiaobo, ‘Prêmio Nobel’ ou ‘Prêmio da Paz’.
Aparecia mensagem dizendo que a pesquisa contrariava ‘a lei e o regulamento’. Em sites de notícias, só havia declarações da Chancelaria chinesa.
Segundo relatos, até telefones celulares foram impedidos de enviar mensagens de texto com o nome do dissidente.
No Twitter, que é bloqueado na China mas pode ser usado via VPN (rede privada virtual de internet) do exterior, surgiram relatos de que internautas teriam sido presos em Pequim e Xangai após elogiarem o Nobel.
Na CNN e na BBC, acessíveis por serviços de cabo disponíveis principalmente em condomínios de luxo, o sinal era cortado durante reportagens sobre a nomeação.
Colaborou JAY HELSING, de Pequim.
‘Premiação é uma recompensa à luta pró-democracia’
Um dos poucos advogados de direitos humanos em liberdade, Li Heping disse que o Nobel da Paz será um incentivo para parte do governo favorável a maior abertura política, incluindo o premiê Wen Jiabao. Com mais de dez anos atuando em direitos humanos, Li participou de vários casos célebres, como a defesa da organização religiosa Falun Gong, proibida no país. Leia sua a entrevista à Folha.
Folha – No longo prazo, a nomeação de um dissidente chinês para o Nobel da Paz terá o impacto positivo no movimento pró-democracia?
Li Heping – O Prêmio Nobel da Paz se baseia na coexistência e nos direitos humanos. Talvez Liu Xiaobo seja o mais famoso, mas ele não é o único defensor dos direitos humanos na China. Há muitos fazendo a mesma coisa. No fim das contas, o prêmio é uma recompensa para toda uma categoria e é forte o suficiente para encorajar aqueles com o mesmo objetivo.
Acredito que o prêmio despertará as pessoas que sofrem abusos. Em segundo lugar, fará com que os funcionários do governo que têm a intenção de construir a democracia na China se decidam por realizar reformas, como o próprio premiê Wen Jiabao. Por fim, o prêmio ajuda outros ativistas a entender que a colheita vem à medida que eles persistem na luta.
Como foi a repercussão na China até agora?
Nenhuma notícia sobre a vitória de Liu foi divulgada nos sites controlados pelo governo e nos principais sites privados. Não houve reportagens nos jornais, TV e rádio.
Mas há pessoas aplaudindo e comemorando ao saber da notícia. Houve uma enorme resposta no Twitter. Algumas pessoas se reuniram para celebrar, mas a maioria foi presa pela polícia. O metrô de Pequim parou de funcionar mais cedo para evitar problemas.
Quem é Liu Xiaobo?
Ele é um dos representantes dos incidentes da praça da Paz Celestial, em 1989. Estava encarregado de negociar com o Exército em nome dos estudantes para ajudá-los a deixar o lugar sem serem atacados.
Antes, era um professor da Universidade Normal de Pequim conhecido por escrever comentários dissidentes e por falar abertamente em público. Era líder do Centro Chinês Independente, que premiava quem ousava publicar artigos críticos.
Ele foi nomeado por dar uma enorme ajuda a grupos de vítimas de problemas políticos sem se preocupar por sua segurança pessoal.
ELEIÇÕES
Deus, valores e defesa da vida marcam volta à TV
Como uma onda que ganhou volume entre o primeiro e o segundo turno das eleições, a nova rodada da propaganda eleitoral no rádio e na TV foi aberta ontem com Dilma Rousseff e José Serra agradecendo a Deus e pregando a defesa da vida, da fé e dos ‘valores’.
A petista assumiu compromisso com os ‘nossos valores mais sagrados’. O tucano fez a defesa ‘dos valores da família brasileira’ e dos ‘valores cristãos’.
O último programa do primeiro turno já prenunciava a ‘guerra santa’ pelo eleitor conservador: na ocasião, Dilma se comprometera a respeitar a liberdade religiosa; Serra mostrou a família e leu a Bíblia para uma eleitora.
De lá para cá, houve um acirramento entre correligionários das duas candidaturas, a partir de material apócrifo na internet sobre as convicções de Dilma e da exploração da dubiedade da posição da petista sobre descriminalização do aborto.
Uma pesquisa do Ibope também detectou que, em setembro, Dilma perdeu votos e teve um aumento de rejeição entre evangélicos.
A candidata governista abriu o seu programa da tarde agradecendo a Deus por ter lhe concedido ‘uma dupla graça: ter sido a candidata mais votada no primeiro turno e ter a oportunidade agora de discutir melhor as minhas propostas e me tornar ainda mais conhecida’.
Serra foi mostrado num discurso em que diz que irá à vitória ‘com Deus, com amor no peito pelo Brasil, no nosso coração verde e amarelo’.
Até as propostas de governo ganharam embalagem adequada à nova ordem. O programa de Dilma informou que, ‘para fortalecer a família brasileira’, a candidata irá ‘construir mais 2 milhões de moradias, melhorar o sistema de saúde’ etc.
Ao anunciar o programa Mãe Brasileira, de atendimento pré-natal e pós-parto, a propaganda serrista citou o ‘dom da vida’.
Dilma apareceu numa foto com um véu na cabeça ao lado do papa Bento 16, numa com a filha e noutra com o neto, como a ‘mulher mãe’, ‘a mulher avó’ e a ‘mulher que respeita a vida’.
Em depoimento, Lula disse já ter sido vítima de boataria: ‘Quando pessoas saíram do submundo da política mentindo a meu respeito. Dizendo que eu ia fechar as igrejas, mudar a cor da bandeira. Ganhei as eleições, e o que aconteceu? Mais liberdade religiosa, mais respeito à vida, mais democracia’.
O programa de Serra citou pela primeira vez a palavra ‘aborto’. Disse o locutor: ‘[Serra é] um homem que nunca se envolveu em escândalos. E que sempre foi coerente. Sempre condenou o aborto e defendeu a vida’.
ALIADOS E FHC
Serra mostrou duas vezes o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ambas rapidamente. Na primeira, os dois aparecem juntos (‘no Ministério do Planejamento, Serra ajudou no Plano Real’). Depois, ao exibir uma galeria de fotos de ex-presidentes, o programa tucano comparou Dilma a Collor.
‘Esse [Collor] foi o último presidente desconhecido que o Brasil elegeu. O estrago foi tão grande que precisou desse [Itamar] para trazer decência. E desse [FHC] pra controlar a inflação, modernizar o Brasil e criar programas sociais. Depois veio esse [Lula] que também tinha história e deu continuidade. Para o Brasil avançar, tem de ser alguém já testado.’
Os dois candidatos levaram ao ar os aliados vitoriosos no primeiro turno -governadores e senadores eleitos ou reeleitos.
Propaganda tucana resgata as ‘grávidas de Lula’ de 2002
Mulheres grávidas vestidas de branco, simbolizando a vida e o futuro. Sim, o eleitor já viu esse filme.
A sensação de déjà-vu suscitada pelo programa eleitoral de José Serra ontem remete a uma famosa peça criada em 2002 pelo marqueteiro Duda Mendonça para a campanha de Lula.
A propaganda tucana exibiu as grávidas ao falar da proposta do ‘Mãe Brasileira’, programa de atendimento pré-natal e pós-parto a gestantes e recém-nascidos.
Com uma trilha suave de piano e cordas ao fundo, a locutora diz: ‘O dom da vida é o mais bonito e o mais sagrado que a gente recebe. Mãe Brasileira, um programa do Serra que vai cuidar da mamãe e proteger a vida do bebê muito antes de ele nascer. (…) Mãe Brasileira, a favor da vida, a favor do Brasil.’
Há oito anos, no fim do primeiro turno, o programa de Lula -que passaria ao segundo turno com Serra- levou ao ar um batalhão de mulheres grávidas, todas vestidas de branco, caminhando num campo ao som do Bolero de Ravel.
O narrador era Chico Buarque: ‘Você não pode escolher se seu filho será menino ou menina. (…) Muito menos o que ele vai ser quando crescer. Mas uma coisa você pode escolher: que tipo de país você quer pra ele’.
Uma criança segurava uma estrela vermelha, e aí surgia Chico, que finalizava: ‘Se você não muda, o Brasil também não muda’.
TRIBUNAL
Procuradoria apoia Folha em mandado
O Ministério Público Militar deu parecer favorável à Folha no mandado de segurança protocolado pelo jornal no STM (Superior Tribunal Militar) para ter acesso ao processo que levou Dilma Rousseff à prisão durante a ditadura militar (1964-1985).
Em documento assinado pelo subprocurador Carlos Frederico de Oliveira, a Procuradoria diz que o pedido da Folha está ‘conforme ao direito constitucional’ e que a decisão do STM de ocultar o processo viola o ‘direito líquido e certo de informação’ e a ‘liberdade e imprensa’.
‘Todos têm interesse no acesso à informação pretendida, aí entenda-se não apenas os impetrantes -empresa e jornalista- mas a própria sociedade’, diz o texto.
O Ministério Publico Militar também ataca outro argumento do STM, que disse que os autos do processo de Dilma estão em estado precário: ‘Esse fundamento não se impõe (…) sobretudo diante da excelente qualidade do serviço de conservação de documentos do STM’.
Em agosto, a Folha revelou que o processo sobre a candidata do PT estava trancado em cofre no STM. O material foi retirado dos arquivos e mantido em sigilo por decisão do presidente da corte, Carlos Alberto Marques Soares, que diz querer evitar uso político do material.
O mandado de segurança foi protocolado depois que o presidente do STM negou acesso ao jornal. Na semana passada, o relator do mandado de segurança, Marcos Torres, negou provisoriamente o acesso. Disse que a decisão deveria ser do plenário.
Nesta semana, o plenário começou a analisar o mandato. O julgamento estava empatado (2 a 2) quando a ministra Maria Elizabeth Rocha pediu vista. Maria Elizabeth foi assessora da Casa Civil quando Dilma era ministra.
GRADUAÇÃO
Comissão de especialistas debate mudança em cursos de jornalismo
A separação do curso de jornalismo de outras áreas da comunicação social e a introdução de um estágio obrigatório foram os pontos mais polêmicos da audiência pública sobre diretrizes da graduação em jornalismo realizada ontem no CNE (Conselho Nacional de Educação).
A proposta em debate foi elaborada por uma comissão de especialistas convidados pelo Ministério da Educação.
Uma das novidades é a previsão de que o curso tenha 200 horas de estágio supervisionado, o que não existe hoje.
A ideia foi criticada pelo coordenador do curso de jornalismo da Universidade Anhembi-Morumbi, Nivaldo Ferraz. Estudantes pediram mais discussões.
O relator da proposta, Reynaldo Fernandes, disse que vai estudar as sugestões e não descartou novas audiências.
HISTÓRIA
Livro reúne melhores capas de jornais
‘As Melhores Primeiras Páginas dos Jornais Brasileiros’ apresenta um panorama histórico da imprensa diária do país.
Não estamos diante do que os organizadores, Judith Brito e Ricardo Pedreira, consideram as melhores primeiras páginas publicadas ao longo da história pelos jornais brasileiros -o que poderia resultar numa seleção concentrada em número relativamente restrito de veículos.
O livro, lançado pela Associação Nacional de Jornais, reúne as melhores primeiras páginas de jornais associados à entidade, escolhidas por seus próprios editores.
De um total de 146 diários convidados, 101 enviaram suas escolhas. Como diz Judith, atual presidente da ANJ, trata-se antes de um ‘um mosaico’ de jornais em atividade no país.
Títulos pouco conhecidos fora de suas cidades, como o ‘Jornal de Jundiaí’ ou ‘Mogi News’, exibem suas páginas ao lado de jornais de projeção nacional, como ‘O Globo’ e ‘O Estado de S. Paulo’.
Este último está representado pela manchete ‘Viva a República’, que tomava toda a página da edição de 16 de novembro de 1889.
Há outras escolhas que também remetem aos primórdios da imprensa diária do país, no século 19.
É o caso da primeira edição do ‘Correio do Povo’, de Porto Alegre, datada de 1º de outubro de 1895, que lança o compromisso de um noticioso ‘literário e comercial a ocupar-se de todos os assuntos de interesse geral’.
Aparecem efemérides e fatos históricos, como o suicídio de Getulio Vargas, em 1954, e a comemoração do centenário da Independência, em 1922 -estampados nas primeiras páginas de ‘A Notícia’, de Joinville (SC), e ‘A Tarde’, de Salvador.
Mais recente, o histórico impeachment de Fernando Collor de Mello é a manchete da Folha do dia 30 de setembro de 1992, encimada por uma tarja com os dizeres: ‘Vitória da democracia’.
O jornal foi alvo de investidas do presidente. Uma delas foi a invasão da sede da Folha pela PF logo no início do mandato de Collor.
O panorama, no entanto, tem predomínio da província, com primeiras páginas voltadas para aspectos da política paroquial, à qual os jornais muitas vezes estão vinculados. São comuns manchetes e fotos que destacam tragédias, como quedas de avião e enchentes.
O esporte regional neste contexto não poderia faltar, bem como a religião -não são poucas as primeiras páginas que tratam da morte do papa João Paulo 2º.
Derrotas em Copa também aparecem, como no ‘Jornal da Tarde’ e na ‘Folha de Pernambuco’. A nota vitoriosa vem do ‘Lance!’, com a conquista do Mundial de 2002. Ronaldo ergue a taça sob o título ‘Os reis do futebol’.
AS MELHORES PRIMEIRAS PÁGINAS DOS JORNAIS BRASILEIROS
ORGANIZADORES Judith Brito e Ricardo Pedreira
EDITORA Associação Nacional de Jornais
QUANTO R$ 48 (344 págs.)
IMPRENSA
Vaguinaldo Marinheiro
País melhorou e jornais negam, diz Franklin
A imprensa brasileira faz muitas bobagens. Muitas vezes age como um partido político, mas esse é um preço baixo que se paga pela liberdade de expressão.
Essa é a opinião do ministro Franklin Martins (Secretaria de Comunicações), que endossa as críticas feitas pelo presidente Lula pouco antes do primeiro turno.
‘Minha convicção, que é também a do presidente Lula, é que a imprensa tem de ser livre para dizer o que quiser. Mas é preciso haver também liberdade para dizer o que se quer sobre ela. Os governos precisam de críticas fundamentadas, e a imprensa também’, afirmou.
Franklin falou à Folha no trem que o levava ontem de Londres para Bruxelas, onde se encontrou com Neeli Kroes, responsável na Comissão Europeia pelas questões digitais no continente.
O ministro está na Europa para convidar especialistas a participar de seminário no próximo mês que irá discutir um marco regulatório para meios eletrônicos no Brasil.
Ele falou que parte da imprensa está tomando um caminho errado, o que poderá distanciá-la do leitor. Leia abaixo um resumo das opiniões do ministro sobre os principais temas discutidos.
Imprensa
Quem deve julgar a mídia é o público, a sociedade. Não é uma questão de lei, de governos. Alguns jornais e revistas estão tomando um caminho equivocado. A função da imprensa é informar, não ditar os caminhos que o país deve seguir. Do contrário, vira órgão de partido.
Os meios impressos têm o direito de ser órgãos de partido, claro, mas vão se distanciar do leitor. Nenhuma manchete de jornal substitui a experiência das pessoas. E elas estão sentindo que o país melhorou. Não adianta jornais dizerem o contrário.
Publicidade pública
O governo federal adotou critérios técnicos para a distribuição da propaganda oficial. Hoje, as rádios de todas as cidades com mais de 20 mil habitantes recebem propaganda do governo. Mas é bobagem dizer que o governo está comprando o apoio dessas rádios. Algumas recebem R$ 4.500 por ano.
É dinheiro para pagar a conta de luz. É importante, mas não faz a rádio adotar uma postura pró-governo.
Meios eletrônicos
O ministério quer concluir até o final do ano uma proposta de regulação dos meios eletrônicos. Isso será bom para todo mundo. As teles não vão se opor porque uma definição das funções dará a elas segurança para investir.
Pode até ser que uma ou outra queira produzir conteúdo, mas elas devem focar naquilo em que são boas, que é a tráfego de dados. É aí que elas ganham dinheiro.
Neutralidade da internet
A internet tem de ser neutra. Isso significa que quem tem as linhas de transmissão não pode ter vantagens na distribuição de seu conteúdo ou dar prioridade a quem paga mais por isso.
Esse tema precisa ser regulamentado para garantir a competição. Por isso é necessário definir uma regulamentação para meios eletrônicos. Mas esse marco não pode ser muito detalhista, e é necessário que sejam previstas atualizações porque tudo nessa área muda rapidamente.
Devem ser definidos princípios gerais para que a agência regulatória decida para garantir os direitos dos consumidores e dos cidadãos.
Programação regional
As televisões não devem ficar contra a proposta do marco regulatório. A discussão amadureceu, é melhor fazer parte dela, para influir no resultado, que ficar de fora.
Chaui prega ‘boicote’ à mídia para ‘defender liberdade de expressão’
A professora titular de Filosofia da USP Marilena Chaui criticou ontem veículos de imprensa em um ato em apoio à candidata do PT Dilma Rousseff na Faculdade de Direito da USP.
De acordo com reportagem do site ‘Rede Brasil Atual’, Chaui afirmou no ato de ontem que lideranças de esquerda e do PT devem deixar de atender jornalistas da grande imprensa e realizar uma espécie de ‘boicote’ a pedidos de entrevista.
‘Para defender a liberdade de expressão, é preciso não falar com a mídia’, afirmou Chaui. A professora disse no evento que a mídia abre espaços para figuras do PT e de movimentos sociais apenas para ‘parecer plural’, porém realiza um ‘controle de opinião’ sobre o que é publicado, segundo relato do site.
Na manifestação, Chaui afirmou ainda, sempre segundo o site, que ‘para que ela exista [a democracia], seria preciso que, em igualdade de condições, duas ou três ou quatro opiniões antagônicas pudessem se exprimir. O que temos é o controle da opinião e a impossibilidade da contestação’.
O evento teve a participação de professores da USP e representantes de entidades de militância pró-governo, como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), e reuniu cerca de 250 pessoas na Sala dos Estudantes da faculdade, segundo um dos organizadores.
De acordo com um deles,o professor de direito penal da USP Sérgio Salomão Shecaira, durante as duas horas do ato ‘falou-se de tudo, inclusive houve críticas à mídia’.
No entanto, ele disse que ‘o ato era pró-Dilma, e não algo anti-imprensa’.
‘Atacamos bastante o PSDB, como resposta ao ‘Manifesto em Defesa da Democracia’, lido em frente à faculdade há algumas semanas’, afirmou Shecaira.
Para ele, a mídia brasileira tem problemas, sobretudo ‘por causa da concentração’. De acordo com Shecaira, ‘é um absurdo a Rede Globo ter canal de televisão, emissora de rádio e jornal’.
Também participaram do ato pró-Dilma outros professores de direito da USP, como Alessandro Octaviani e Otávio Pinto e Silva, além de políticos petistas, como o deputado federal reeleito Paulo Teixeira (SP) e o senador Eduardo Suplicy (SP).
Segundo diretores do centro acadêmico XI de Agosto, responsável pela sala, houve dúvida sobre a legalidade do ato, uma vez que lei eleitoral não permite a propaganda política nos bens públicos.
Inicialmente a solicitação do espaço foi feita por alunas para uma reunião de um grupo de estudo, de acordo com nota da entidade estudantil.
Os professores organizadores do ato defendem a legalidade da manifestação.
ARGENTINA
Jornais acusam Cristina de incitar greve
Os jornais argentinos ‘Clarín’ e ‘La Nación’, sócios privados da empresa de papel-jornal Papel Prensa, acusaram o governo Cristina Kirchner de estimular a greve iniciada há três dias na fábrica. Os funcionários pedem reajustes salariais.
A empresa, que também tem o Estado como sócio, é o centro de disputa entre o governo e os jornais. A intenção de Cristina é anular a negociação em que os veículos compraram suas ações, em 1976.
No Twitter, a presidente disse que apoiava uma discussão sindical para rever os salários.
TELEVISÃO
Inácio Araujo
‘House’ deixa cair máscara do sarcasmo na volta da série
Mais difícil do que conceber uma série de sucesso é saber quando encerrá-la.
Eis o problema de ‘House’ ao chegar à sétima temporada: há alguns anos, o célebre doutor já trocou a equipe, sofreu alucinações e foi parar num hospício -nada, nem os desencontros com o amigo Wilson (Robert Sean Leonard) nem os romances dos assistentes, tem rompido a impressão de relativa burocracia que domina a sucessão semanal de casos.
A nova proposta da série é radical: finalmente, o médico antissocial libera sua paixão pela antiga colega e hoje chefe dra. Cuddy (Lisa Edelstein), cujos dotes físicos louvou em tantas ocasiões.
O novo ano abre-se com os dois em plena união, ou prestes a isso. E segue em bom ritmo no dia seguinte: Cuddy, neuroticamente responsável, precisa ir ao hospital; House, indisciplinado convicto, a convence a tirar um dia de folga. Cuddy opta afinal pelo idílio, sem se dar conta de que, naquele preciso instante, a célebre instituição médica de Nova Jersey está virando uma bagunça.
Em matéria de suspense e criação de expectativas, tudo rola bem, na melhor tradição da montagem paralela. Mas algo muda no herói, fenômeno de que dá conta o ótimo Hugh Laurie: uma alma amorosa, há muito mascarada pelo sarcasmo, vem à tona.
Para o futuro fica a pergunta: e depois? Os espectadores aceitarão mudanças? E que novos encantos a série de David Shore deve atribuir ao ‘novo House’ para substituir o antigo mau humor?
As respostas virão, para o bem ou para o mal, nesta temporada. E são tão mais urgentes quanto consideramos que é uma série em que o peso dos personagens, House em particular, é bem maior que o da mise-en-scène (ao contrário de ‘Mad Men’, por exemplo).
NA TV
House
Estreia da sétima temporada
QUANDO dia 28 de outubro, às 22h, no Universal Channel
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO bom
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