Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

França tenta decifrar Sarkozy


Leia abaixo a seleção de domingo para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Domingo, 13 de janeiro de 2008


FRANÇA


Raul Juste Lores


Decifra-me


‘Nicolas Sarkozy, 52, deve pôr fim ainda neste ano à jornada de trabalho de 35 horas semanais, reformar a administração e o financiamento de sindicatos e universidades públicas e ainda aumentar o tempo de contribuição dos franceses para a Previdência.


Sem descanso, também deve se casar em fevereiro com a cantora italiana Carla Bruni e continuar a passar férias em lugares um tanto inusitados para um presidente francês.


Um líder socialista disse que a França tem assistido, entre divórcio e namoro, a uma versão francesa do novelão ‘Dallas’, enquanto aristocratas conservadores, eleitores fiéis de Sarkozy, manifestam horror ao namoro no parque de diversões Eurodisney. A palavra de ordem de Sarkozy é ruptura. Alguém duvida dele?


Sarkô promete romper com a tradição estatista da França e libertar a economia engessada que cresceu menos de 2% ao ano na última década. Apesar da riqueza de potência européia e do charme do país, as revoltas periódicas na periferia e as teses xenófobas adotadas por boa parte do eleitorado mostram que o mal-estar vai muito além da ‘malaise’ dos parisienses no café.


Ainda é cedo para ver os resultados do hiperativo presidente, mas Sarkô já mudou a agenda francesa em oito meses no cargo. Começou a impor reformas liberais thatcherianas à francesa, engavetadas durante anos por socialistas e até por conservadores, como seu antecessor, Jacques Chirac.


Mais chocante até, quebrou o pacto de discrição entre imprensa e presidentes franceses, a ponto de alimentar uma política midiática que faz a festa das congêneres francesas da revista ‘Caras’. Onde Thatcher encontra Paris Hilton.


Ao ofuscar com facilidade uma geração de líderes europeus que não empolga além de suas fronteiras (Merkel, Brown, Prodi e Zapatero), sua comunicação é acompanhada com lupa por quem estuda marketing político.


A estratégia de Sarkozy é ocupar a mídia o tempo inteiro, criando um enorme contraste com a siesta prolongada dos últimos anos do governo Chirac.


Sua atividade frenética o leva a liderar a libertação de enfermeiras búlgaras presas na Líbia (que padeceram por um ano de gestões infrutíferas da União Européia); e a se encontrar com o presidente venezuelano Hugo Chávez para tentar libertar das Farc a franco-colombiana Ingrid Betancourt.


Em casa, ele pode ser visto batendo boca com pescadores em uma manifestação na Bretanha ou com ferroviários durante uma greve.


Em um braço-de-ferro com os sindicatos, conseguiu acabar com o regime especial de aposentadoria de 1,6 milhão de trabalhadores de áreas como energia e ferrovias, mesmo após uma greve de nove dias que parou os transportes do país em novembro. Eles passarão a contribuir com a Previdência por 40 anos de trabalho, como os demais franceses, e não mais com 37 anos.


Marketing mediterrâneo


O ritmo das reformas para endireitar a economia francesa é acompanhado por uma exibição desavergonhada de sua vida privada.


‘Sarkozy mistura o estilo presidencial francês -autoritário, a encarnação da nação, sem deixar espaço para ninguém mais no executivo -, com uma comunicação dirigida ao homem comum’, diz Thierry Leterre, pesquisador do Centro de Estudos da Vida Política Francesa do Instituto de Estudos Políticos de Paris, o tradicional Sciences Po.


‘Há um marketing mais mediterrâneo (que se caracteriza por mostrar belas mulheres, dinheiro, histórias borbulhantes) que americano (homens fortes, fé, grandes palavras). Ele anunciou o divórcio durante uma enorme greve, por exemplo.’


Poucos dias após ter recebido o polêmico ditador líbio Muammar Khadafi (visita criticada à direita e à esquerda), ele surge em plena Eurodisney com a nova namorada, a cantora italiana Carla Bruni. Quem quis mais saber de Khadafi?


‘Em nossas sociedades, muitas pessoas gostam de imaginar que seus líderes não são diferentes de si próprias, e vice-versa. Ele sacia esse apetite por identificação’, disse ao Mais! o editor e colunista do jornal Le Monde, Patrick Jarreau. ‘Mas isso não deveria influenciar a avaliação de suas políticas’.


A jornalista brasileira Daniela Fernandes, há oito anos em Paris trabalhando para BBC e Radio France, confirma que até o novo-riquismo de Sarkozy, gozando férias em mansões, iates e jets emprestados por amigos milionários, é parte da ruptura. ‘É uma modernidade calculada, que contrasta com seus antecessores, que estudaram nas melhores universidades e eram menos mundanos’.


A estratégia popular é coerente com a contradição das revistas de celebridades, conta o professor Laterre. ‘Elas tendem a mostrar como estrelas e milionários são gente comum com preocupações comuns, enquanto atraem esse mesmo público pelo luxo e glamour. A frivolidade dele é a estratégia menos frívola’, diz.


O presidente defendeu não esconder seu namoro com a ex-modelo, o que quebra uma longa tradição dos líderes franceses de esconder suas relações do domínio público. Disse que era contrário à hipocrisia.


Diversos livros continuam a ser lançados na França para tentar decifrar o enigma Sarkozy. De histórias em quadrinhos que contam sua infância ao livro da dramaturga Yasmina Reza, autora da peça ‘Art’, que acompanhou Sarkozy em campanha e escreveu ‘L’Aube le Soir ou la Nuit’ (A Aurora, a Tarde ou a Noite).


No Brasil, acaba de sair ‘Nicolas Sarkozy – Uma Biografia’, da jornalista Catherine Nay, pela editora Manole.


Gente de esquerda


No livro de Yasmina Reza, ela conta que Sarkozy enchia de elogios os premiês Zapatero, da Espanha, o italiano Romano Prodi e o britânico Tony Blair.


Reza disse que era estranho que ele fosse amigo de tanta gente de esquerda. O então candidato lhe respondeu. ‘Eles não são de esquerda. Só na França ainda tem gente que vive na esquerda’.


Para o professor Yves Surel, do Instituto de Estudos Políticos de Grenoble, as primeiras medidas, como reformas fiscais, previdenciárias e trabalhistas, ‘já são clássicas, mas são ruptura na França’. ‘Sarkozy se beneficia de um apoio parlamentar sólido e de ótimas relações com os donos da mídia, o que lhe dá uma certa tranqüilidade’, diz.


Mas Sarkozy não parece gostar de tranqüilidade. Ele estipulou que, até terça, sindicalistas e empresários cheguem a um acordo para flexilibilizar leis trabalhistas (leia-se acabar com alguns direitos dos trabalhadores para baratear e facilitar mais contratações). Se não houver acordo, o presidente já disse que mudará a legislação de qualquer modo.


Ele também quer tornar mais transparentes a administração e o financiamento de sindicatos e universidades públicas, além de acabar com a jornada de trabalho de 35 horas -medida criada para forçar os empresários a contratar mais gente, mas que não conseguiu reduzir a taxa de desemprego de 9% -porém deu aos franceses cerca de 50 dias úteis para ficar em casa.


E depois de acabar com o regime especial dos ferroviários, ele quer aumentar o tempo de contribuição previdenciária de todos os franceses para, pelo menos, 41 anos.


Apesar da terapia de choque das reformas, há poucos resultados. O PIB francês cresceu menos de 2% em 2007 e só deve crescer 1,7% em 2008, repetindo a década de crescimento medíocre do país. A inflação deve aumentar,o desemprego não diminuiu e a confiança dos consumidores está em queda.


A economia francesa foi atingida pelas altas do petróleo, de commodities e alimentos. Em sete meses de governo, a popularidade de Sarkozy caiu de 65% a 49%. Se sua hiperatividade não trouxer crescimento, a única lua-de-mel que poderá gozar será com Carla Bruni.


E adieu, eleitorado francês.’


MÍDIA & VIOLÊNCIA


Peter S. Goodman


Sangue com pipoca


‘DO ‘NEW YORK TIMES’ – Será possível que filmes como ‘Hannibal’ e o remake de ‘Halloween’, cujo cardápio é recheado de mortes e mutilações, podem na realidade estar fazendo com que o país seja um lugar mais seguro?


Um artigo apresentado na semana passada por dois pesquisadores na reunião anual da Associação Econômica Americana, em Nova Orleãs, contesta a idéia generalizada a esse respeito, concluindo que filmes violentos previnem crimes violentos pelo fato de atrair potenciais agressores e mantê-los encerrados em ambientes escuros e livres de álcool.


Em lugar de embriagar-se em bares e depois andar pelas ruas à procura de encrenca, os potenciais criminosos passam o ‘horário nobre’ para cometer crimes comendo pipoca e assistindo a pessoas na tela serem mortas por vilões de celulóide.


‘O que se está fazendo é tirar muitas pessoas violentas das ruas e, em lugar disso, colocá-las dentro de cinemas’, disse o autor principal do estudo, o economista Gordon Dahl, da Universidade da Califórnia em San Diego. ‘No curto prazo, se eliminarmos os filmes violentos, faremos a criminalidade violenta aumentar.’


Dahl e o co-autor do estudo, Stefano DellaVigna, da Universidade da Califórnia em Berkeley, reforçam seu argumento com estatística precisas. Nos últimos dez anos, afirmam, a exibição de filmes violentos nos EUA levou as agressões a diminuírem em aproximadamente 52 mil por ano.


Freakonomics


De acordo com eles, os crimes não são apenas adiados. Na segunda-feira e terça-feira seguintes a finais de semana recheados de filmes violentos exibidos em salas lotadas, não se verifica nenhum aumento na criminalidade violenta para compensar as horas de paz passadas nos cinemas. Mesmo algumas semanas mais tarde, afirmam, não há evidências de aumento da criminalidade.


As descobertas fazem parte de uma onda recente de pesquisas econômicas sobre o que se poderia chamar de ‘a era da freakonomics’. Os praticantes da triste ciência (a economia) andam transcendendo os tópicos tradicionais, como mão-de-obra e mercados, e passando a fazer cálculos numéricos para avaliar coisas como as trapaças entre lutadores de sumô.


No caso em pauta, os autores entraram de cheio numa discussão sobre a violência na mídia que vem sendo travada há anos, e é muito provável que suas constatações causem polêmica. A conclusão deles parece entrar em choque com as pesquisas de psicólogos, que alimentam os receios de pais e políticos de que as imagens brutais mostradas em filmes, videogames e outras mídias alimentem a agressão.


‘Existem centenas de estudos conduzidos por numerosos grupos de pesquisa pelo mundo afora que mostram que a exposição à violência nos meios de comunicação aumenta o comportamento agressivo’, disse o psicólogo Craig A. Anderson, diretor do Centro de Estudos da Violência da Universidade do Estado de Iowa.


Os autores do estudo reconhecem que sua pesquisa não refuta as descobertas dos estudos feitos em laboratório. Tampouco trata dos efeitos de longo prazo da exposição à violência na mídia, influência que consideram nociva.


Em vez disso, a pesquisa usa uma década de relatórios nacionais sobre criminalidade, classificações de filmes e dados sobre o público para examinar o que aconteceu com os índices de criminalidade violenta durante e imediatamente após a exibição de filmes violentos.


Imobilização


Embora tais filmes possam de fato estimular uma tendência maior à agressividade em seu público, Dahl responde com uma pergunta dileta dos economistas: ‘Em comparação com o quê?’


As pessoas que têm a maior probabilidade de cometer crimes violentos são homens jovens. Ao optar por assistir a um filme -mesmo um filme que mostre, por exemplo, uma mulher sendo currada ou uma amputação feita com serra elétrica-, esses jovens deixam de realizar atividades que têm chance maior de conduzir à violência, como o consumo de álcool ou drogas.


‘O que essas pessoas teriam feito se não tivessem optado por ir ao cinema? Qualquer coisa que fizessem teria maior tendência a envolver o consumo de álcool. Se você pode imobilizar um grupo grande de pessoas potencialmente violentas, isso é uma coisa boa.’


DellaVigna acrescentou: ‘Se não estivessem no cinema, as pessoas que assistem a filmes violentos tampouco estariam em casa lendo um livro’.


Tradução de Clara Allain’


VENEZUELA


Carlos Heitor Cony


Chávez e a mídia


‘RIO DE JANEIRO – Como na maioria dos assuntos que preocupam a humanidade em geral e, em particular, a humanidade de hoje, não tenho opinião formada sobre o atual presidente da Venezuela. Vejo nele algumas coisas positivas, outras negativas. Trata-se, evidentemente, de um ditador em potencial, mas também não tenho opinião segura sobre os ditadores, desde que não sejam ladrões ou sanguinários. Alexandre, César e Napoleão foram ditadores, mas deixaram bom saldo para a história.


Não é o caso de Hugo Chávez, que, não faz muito, sofreu pesada derrota eleitoral em seu país e recebeu do rei da Espanha um ‘cala a boca!’ humilhante, mas merecido.


Com a libertação de duas reféns das Farc, operação bem-sucedida, que ele articulou e realizou, deu a volta por cima e se colocou no pódio do maior acontecimento internacional neste início de 2008.


Para minimizar a proeza feita por ele, os entendidos nesses assuntos classificam a operação do resgate como uma ação apenas midiática, ou seja, um fato produzido para gerar mídia, ocupando espaços na imprensa e na TV. Evidente que é.


Um corredor de Fórmula 1, que arrisca a vida para vencer uma prova, também produz um fato midiático, tem sua foto no pódio publicada em todo o mundo, mas nem a foto nem a repercussão da vitória diminuem o valor intrínseco de seu feito. Ele ganhou porque sua intenção apenas era vencer. O resto é conseqüência.


O maior fato midiático da humanidade foi num tempo em que nem havia mídia. Um dissidente do judaísmo foi crucificado num morro ao lado de dois ladrões. Nos 2.000 anos seguintes, esse fato, que poderia ter passado despercebido, dividiu a história em antes e depois, fez toneladas de textos e imagens invadirem o mundo e gerou detratores e mártires.’


PAQUISTÃO


Folha de S. Paulo


Jornalista é expulso depois de reportagem


‘Um repórter da ‘New York Times Magazine’ que entrevistou líderes do Taliban foi deportado do Paquistão na sexta-feira. Scott Malcomson, editor da revista, disse que não foi dada nenhuma explicação para a deportação, mas crê que ela esteja ligada à publicação da reportagem ‘e não a qualquer outra coisa que ele estivesse fazendo’. Um funcionário do Ministério da Informação disse que Schmidle não tinha visto para atuar como jornalista.’


ROTEIRISTAS EM GREVE


Lucas Neves


Brasileiros criam tramas para séries


‘Na peça ‘Seis Personagens à Procura de um Autor’ (1921), o dramaturgo italiano Luigi Pirandello tece uma fantasia metalingüística a partir de um sexteto que, abandonado a meio caminho por seu criador, pede a uma trupe de atores que interprete suas histórias.


Pois bem poderiam ser Jack Bauer, Gregory House, Kate Austen, Jack Shepard, Meredith Grey e Derek Shepherd os personagens a vaguear em busca de alguém que lhes invente o que fazer: por conta da greve dos roteiristas de Hollywood, eles já amargam 70 dias de ócio nos sets de ‘24 Horas’, ‘House’, ‘Lost’ e ‘Grey’s Anatomy’.


Para sacudir o tédio da turma e especular sobre o que pode ter acontecido com os personagens nesse longo inverno de scripts, a Ilustrada convidou quatro roteiristas brasileiros: Fernando Bonassi, Rodrigo Castilho, Mauro Wilson e Margareth Boury. O resultado está nos textos a seguir.


Da pena de Bonassi, saiu um Jack Bauer que, sem falas inéditas e afogado num porre perpétuo, balbucia velhos galanteios a garçonetes. Como tampouco há bombas a desarmar, vírus letais a deter ou supostos terroristas a ‘interrogar’ em exíguas 24 horas, sobra tempo para bater a culpa protestante. E Bauer bebe mais e mais…


Menos tenebrosa é a sinopse imaginada por Rodrigo Castilho para ‘House’. O médico cuja simpatia é inversamente proporcional à capacidade de diagnóstico primeiro fica sabendo que vai ser pai. Mais tarde, as complicações do parto deixam seqüelas na criança.


Já Mauro Wilson radicalizou: pintou um cenário em que os ilhéus de ‘Lost’, enfastiados pelo sumiço dos roteiristas (e, por conseguinte, da fumaça negra, d’Os Outros etc.), armam um reality show. Saliente, a brincadeira envolverá Kate e a ala masculina.


Por fim, Margareth Boury tramou reviravoltas sentimentais em ‘Grey’s Anatomy’ a partir de um temporal que deixa médicos e residentes isolados no hospital Seattle Grace.’


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Prejuízo com a greve é de US$ 1,4 bilhão


‘Iniciada em 5/11, a greve dos roteiristas de TV e cinema dos EUA já gerou um prejuízo de US$ 1,4 bilhão (cerca de R$ 2,4 bilhões), estima a corporação de desenvolvimento econômico do condado de Los Angeles. A classe reivindica fatia maior dos lucros com downloads, streamings e vendas de DVDs.


A maior demonstração de força da categoria até agora foi o cancelamento da cerimônia de entrega do Globo de Ouro (prêmio da associação de imprensa estrangeira de Hollywood), prevista para esta noite. No lugar da solenidade, haverá uma coletiva de imprensa em que será lida a relação de vencedores.


O sindicato dos roteiristas promete fazer piquete na porta do hotel Beverly Hilton (local da coletiva), em Los Angeles, para evitar que o canal NBC (detentor dos direitos de transmissão da premiação para os EUA) ‘infiltre’ estrelas para turbinar a audiência do programa.


No Brasil, a cerimônia seria exibida ao vivo pelo canal pago TNT, que alterou os planos com o esvaziamento da festa e não mostrará a coletiva. Para os curiosos, o jeito será acompanhar as atualizações no site da associação de imprensa estrangeira (www.goldenglobes.org).


Quando a paralisação foi anunciada, há dois meses, os primeiros atingidos foram os talk-shows noturnos -que não têm reserva de episódios- e as sitcoms, cujos capítulos só são gravados depois de vários polimentos de roteiro (feitos a partir do resultado dos ensaios). Sem escribas para afiar suas piadas, comédias como ‘Two and a Half Men’ e ‘The Big Bang Theory’ (exibidas por aqui pela Warner) logo interromperam os trabalhos.


No início de janeiro, os programas de entrevista voltaram ao ar, mas só dois apresentadores, David Letterman e Craig Kilborn, chegaram a acordos com suas equipes de criação. No mesmo período, o sindicato dos roteiristas acertou os ponteiros com o estúdio United Artists, que tem Tom Cruise entre seus sócios.’


Fernando Bonassi


24 horas de porre


‘Amanheceu outro dia de semana e lá está ele debruçado sobre o copo de Bourbon ressecado; um cinzeiro inteiro de cigarros sugados em desespero, apoiado no balcão em desalinho. É um boteco em Sunset Boulevard que já deu o que falar, mas começou a abrigar esses tipos de filmes antigos ou simples mendigos que pararam para se encharcar.


Jack tenta balbuciar algo nesta terra que prefere se fechar em casa vendo TV para a prosperidade dos autores de ficção, ou ir matar longe dela, para o deleite da edição dos jornalistas de documentários…


Seu texto é deficitário, mal urdido, e não foi renovado por causa do salário pago aos que lhe escrevem o que é preciso dizer. Está barbado, suado, as roupas reviradas em campos de batalha, emboscadas furadas e salas de tortura, enquanto sua diretora de arte espera em casa, como o resto da equipe, pela solução do impasse sindical.


Acontece que o nosso herói está mal e olha para os lados procurando um coadjuvante, ou um figurante que seja… Jack quer conversar, explicar o que tem feito, mas é impossível… E imperdoável. Sua culpa protestante está latejando por todos os ciganos, palestinos e muçulmanos que interrogou com ‘métodos especiais’, pelos subalternos que humilhou em missões suicidas e pelos superiores que desrespeitou em decisões, com graves prejuízos à constituição de seu país.


Ele é republicano, mas se sente traído pelos políticos. O que os republicanos fizeram de si nos últimos 200 anos só piora sua ressaca. E Jack bebe. Pede uma dose dupla como quem quer se afogar duas vezes nas mágoas desvairadas de sua aposentadoria compulsória. Todos concordam que ele tem se excedido nessas folgas, e os patrocinadores estão preocupados com os processos e prejuízos causados pela forma como Jack dirige os carros emprestados.


Ele dá mais um gole. E continua mudo. Sem palavras aprovadas, bebe para esquecer que não se fazem mais atores como David Sutherland, presidentes como David Palmer ou primeiras-damas como Jackie Kennedy… Saca seu celular, tenta estabelecer alguns contatos, falar com certos agentes, mas até as garçonetes fogem de suas cantadas reprisadas e dos riscos que os seus vícios oferecem às americanas indefesas.


Aqueles que poderiam avisá-lo dos vexames por que passa estão na greve ou morreram naquela explosão que nosso amigo Jack, ali, não conseguiu evitar na última temporada.


Um artefato nuclear inimigo extinguiu uma porção de solo americano, e ele sobreviveu para contar a história. Deveria ter morrido para sua glória, como a inocência de sua pátria inviolável, mas seus escritores não lhe concederam essa honra…


Agora, assassino de parceiros, traído pelo próprio pai e abandonado por seus roteiristas, o que Jack Bauer pode pensar ou inventar para fazer?!


Nada. Então bebe mais, tentando acordar do pesadelo cotidiano do resto dos mortais…


FERNANDO BONASSI é escritor e roteirista


7º ANO DE ‘24 HORAS’ É ADIADO


Previsto para estrear na Fox dos EUA neste mês, o novo dia de Jack Bauer foi adiado, já que o número de episódios concluídos antes da greve era pequeno; para piorar, Kiefer Sutherland teve que cumprir pena por dirigir embriagado’


Rodrigo Castilho


O desafio de House


‘House recebe a notícia de que vai ser pai. E então o médico, cerebral e ‘verborrágico’, vive o maior e mais difícil desafio de sua vida: lidar com uma criatura de 48 cm que não fala e não entende nada que ele diz.


House passa todo o período de gravidez negando que esteja feliz. O bebê nasce e, depois de uma complicação no parto, a mãe (que pode ser a Cuddy ou mesmo a Cameron) entra em coma, e o médico é obrigado, por algum tempo, a cuidar sozinho da criança. Quando acorda, a mãe do bebê se surpreende com o forte laço que se estabeleceu entre House e seu filho.


E, conforme o tempo passa, as situações ficam cada vez mais interessantes. House sempre questiona as regras e desafia todas as convenções. Para exercer a paternidade e criar seu filho, ele se utiliza de meios e maneiras politicamente incorretos, porém, absolutamente genuínos.


Depois de um certo tempo, e no auge de seu entusiasmo, House começa a perceber que seu filho apresenta algum tipo de seqüela, em decorrência das complicações do parto. Ele reúne a equipe, e inicia-se um diagnóstico diferencial para tentar descobrir o que a criança tem.


Só que House não consegue fazer o diagnóstico. Ele está inseguro. Tem medo de errar, como erraram com o diagnóstico de sua perna. Ele pede que sua equipe conduza o caso sem ele. Mas todos recuam. Ninguém tem coragem de assumir essa responsabilidade.


House decide então visitar outros hospitais usando disfarces e um nome falso. E, um após o outro, os médicos chegam ao mesmo resultado inconclusivo.


Nenhum deles consegue encontrar o que há de errado com a criança. Todos sugerem que ele leve o filho ao hospital de Princeton-Plainsboro e procure um médico que trabalha lá e pode resolver o caso. O nome dele é dr. House.


RODRIGO CASTILHO é roteirista de ‘Mothern’


GREVE BRECA ANO 4 DE ‘HOUSE’


Nos EUA, a quarta temporada da série está no ar desde setembro; nove episódios já foram ao ar, e outros dois devem ser exibidos entre o fim deste mês e o início de fevereiro; no Brasil, o Universal Channel exibe o capítulo nove nesta quinta, às 23h; a partir do dia 24/1, a série entra em reprise’


Mauro Wilson


Totalmente ‘Lost’


‘Todos os perdidos de ‘Lost’ estão sentados na praia olhando o mar, esperando por um barco, um avião, um texto, uma cena, uma fala, até mesmo uma rubrica (eles não sabem da greve dos roteiristas. Na verdade, eles não sabem de quase nada mesmo -nem nós). Os dias passam e nada acontece. Os sons estranhos sumiram, a fumaça negra desapareceu, não apareceram mais mortos, Os Outros não aprontaram mais nada. Até parece uma ilha deserta perdida no mar como outra qualquer.


É aí que Locke, o nosso homem das idéias, tem uma idéia: transformar o seriado em um reality show. É claro que Jack discorda, Sayid fica desconfiado e Jin não entende patavina. Mas Locke, usando a sua coleção de facas Ginsu, convence todo mundo.


O reality show de Locke é muito simples. Kate, a única gata do pedaço que sobrou depois que Shannon, uma versão com menos dinheiro da Paris Hilton, passou dessa para melhor, e Ana Lucia trocou de ilha e foi arrumar confusão no Havaí, vai escolher um deles para ter um filho. Se bem que ter um filho naquela ilha é tão perigoso como passar de madrugada na Linha Vermelha ou na Amarela, no Rio de Janeiro. Tudo bem que alguém pode levantar o dedo e dizer que Claire também é uma gata, mas é uma mala com a rodinha quebrada.


Como diz uma amiga minha também autora, naquela ilha tem homem pra qualquer gosto. Louro Belzebu (Sawyer), Carente de Colo (Charlie), Morenão Selvagem (Sayid), Tudo de Bom (Jack), Misterioso (Jin), Colosso (Mr. Eko), Experiente (Locke), Golpe do Baú (Hurley).


O reality show de Locke, por incrível que pareça, é bem simples: chama-se ‘Quem Vai Ficar com Kate?’. Cada um deles passa uma noite com Kate e, no final, ela escolhe o sortudo para ser pai do filho dela. Ninguém leva em conta que atualmente Kate tá fazendo um meio-de-campo com Jack e Sawyer. Jack chega a protestar, mas faz uma votação e perde feio. Sawyer vai reclamar e fazer cara de mau, mas leva um por fora de Hurley e fica na sua.


Um a um, todos vão passando pela tenda de Kate. As mulheres que sobraram, comandadas por Sun, resolvem fazer um piquete na frente da escotilha mais próxima.


Kate sai de sua barraca com a escolha final. Suspense, muito suspense. Ela vai falar. Mas esse é o gancho para a próxima temporada.


MAURO WILSON é autor do especial da TV Globo ‘Os Amadores’


‘LOST’ TEM 1/2 TEMPORADA PRONTA


Oito dos 16 episódios da quarta temporada foram finalizados antes da greve; nos EUA, a exibição da nova leva começa em 31/1; no Brasil, o AXN prevê mostrá-la a partir de março’


Margareth Boury


Indecisões de Meredith


‘Derek Shepherd, cansado dos encontros ‘casuais’ (leia-se sexuais), dá um fim no relacionamento com Meredith. Ele deixa claro que ou ela cresce e assume uma relação madura, ou nada feito.


Exatamente no dia em que eles terminam, Richard Webber recebe uma ligação de Addison. Um caso grave na clínica onde ela trabalha exige a presença de Derek: uma criança sofreu um atentado e precisa urgentemente de uma cirurgia, e a ex de McDreamy só confia nele para realizá-la. Vai precisar também de um cirurgião cardíaco, pois a criança sofreu horrores nas mãos do homem que a seqüestrou. Cristina Yang se oferece para ir com Derek.


Meredith fica atordoada quando sabe que ele vai rever a ex. George O’Malley e Izzie não conseguem ficar sozinhos. Ou ela está muito cansada, ou ele tem que ir ao tribunal para resolver o divórcio com Callie.


Quando finalmente eles têm a segunda noite de amor, é um desastre. Muita expectativa acaba deixando O’Malley tenso, e a noite é tudo, menos o que eles esperavam que fosse. Fica aquele clima de ‘depois a gente resolve isso’, e os dois evitam falar no assunto.


Mark ‘McSteamy’ Sloan cai desmaiado no chão da sala de operação. Miranda Bailey o socorre. Mark está com um problema na válvula mitral e vai precisar de uma válvula biológica. Ele exige que a cirurgia seja feita por Burke. Meredith tenta falar com Cristina pelo celular; ela quer saber se Derek e a ex estão juntos. Cristina diz que lógico que estão, o que ela queria? O caso é sério. Meredith conta que Burke vem para o hospital operar McSteamy.


Na televisão do hospital, um repórter anuncia uma grande chuva para as próximas horas. Ninguém presta muita atenção.


O temporal acontece, acaba luz, acaba água, é quase o fim do mundo em Seattle e na costa oeste dos EUA.


Izzie e Alex ficam presos no elevador, sem luz. Vai rolar o beijo? Ele vai dizer que ama a moça? Ela vai gostar?


George e Callie se esbarram nas escadas, ela tem uma tontura e quase desmaia. Ele acaba pegando um papel que caiu das mãos dela: teste de gravidez. George fica sabendo que vai ser papai.


Na sala de cirurgia, Meredith espera Burke, que ainda não chegou. Mark precisa ser operado logo. Ele diz para Meredith que ela precisa viver como se pudesse ser feliz, que só agora ele percebeu o que jogou fora. ‘As oportunidades passam voando. Você ama o Derek, ele a ama. Vai ser feliz, menina!’


O celular dela toca. Cristina diz que Derek estava voltando quando a chuva desabou, e não se tem notícias do jatinho que ele estava. Será que ele volta?


Será que Meredith vai ter chance de ser madura e ter uma relação? Isso fica para a próxima temporada.


MARGARETH BOURY foi roteirista de ‘Alta Estação’ (Record) e atualmente desenvolve a sinopse de ‘Bem-me-Quer’


‘GREY’S’ 4 ESTRÉIA AQUI EM FEVEREIRO


Onze episódios do programa que desbancou ‘CSI’ foram gravados; o último inédito foi mostrado nos EUA na quinta passada; a estréia do quarto ano no Brasil está agendada para o dia 4 de fevereiro, às 22h, no canal Sony’


TELEVISÃO


Paulo Sampaio


Jornalista é BBB durante meia hora


‘Uma reportagem sem caneta, bloco de anotações, gravador ou máquina de fotografar. Como no café da manhã de fim de ano oferecido à imprensa pelo presidente Lula, no Palácio da Alvorada, os jornalistas convidados a visitar na terça-feira passada a locação do programa ‘Big Brother Brasil’, da TV Globo, não puderam anotar nem gravar nada.


A assessoria da emissora avisa aos cinco convidados que eles têm vinte minutos para ‘sentir o ambiente na casa’. ‘É como se vocês fossem ‘big brother’!’, diz a assessora, lançando um alegre desafio.


‘Que mico’, murmura uma colega repórter, pouco antes da incursão. Ela se refere também à obrigatoriedade de assinar um termo de compromisso de cessão de imagem para TV.


‘Imagina, ninguém vai lembrar de colocar imagens da gente’, diz outra colega, para tranqüilizar a primeira. (Todo mundo apareceu no vídeo).


Apesar do ‘mico’, os jornalistas são recebidos no Projac, o megaestúdio carioca da emissora, como um grupo de ‘privilegiados’ (pela oportunidade de estar ali). A assessoria quer fazer crer que os cinco, representantes dos maiores veículos de imprensa escrita do país, foram sorteados. Depois, por telefone, reconhece que a escolha foi de caso pensado.


Qualquer pessoa pode


Na porta da casa, os repórteres conversam com o diretor de núcleo, Boninho, o apresentador Pedro Bial e o diretor geral, LP Simonetti. As perguntas são do tipo: ‘Teve marmelada na escolha dos participantes?’.


‘Não existe a menor possibilidade. Se alguém tenta indicar um amigo pra mim, esse candidato está automaticamente desclassificado’, responde Boninho. Para provar que qualquer pessoa pode participar do programa e que não se buscam personagens estereotipados, Boninho diz: ‘Não há nenhuma negra, por exemplo’.


Mas há um negro, lembra um repórter. Tem cota? ‘O rapaz (negro) tentou pela terceira vez. Agora, ele estava pronto’, explica o diretor de núcleo.


Os jornalistas entram na casa. Depois de bisbilhotar livros, murais e checar a decoração, eles voltam para o pátio central. Não viram ainda os BBBs, apesar de eles estarem lá dentro (trancados no confessionário): a liberação só se dá quando os repórteres já estão no pátio.


Pronto! Os 14 irrompem pela porta automática, aos gritos, meio embolados, como se estivesse pegando fogo lá dentro.


Em um descontrolado desbunde nervoso, os participantes falam ao mesmo tempo, perguntam se podem beber a cerveja disponível no bufê, riem muito alto, se empurram, gralham e, apesar de terem acabado de se conhecer, já demonstram uma incrível disposição para a intimidade.


São extremamente ‘facinhos’: conversam com os jornalistas durante cerca de 15 minutos, sem questionar nada. ‘Quem vocês acham que nós somos?’, pergunta um repórter. ‘Ahhhh, vocês devem ser as pessoas que vão preparar uma festa pra gente…’, dizem, alegremente.


Um repórter apresenta os jornalistas e diz o veículo de cada um: ‘Nossa, só tem os ‘crânio’, observa Marcos, 25, vestindo apenas um bermudão com o cós abaixo da linha dos pêlos pubianos.


A verdadeira cachorra


A primeira ‘sensação’ marcante, e que dispensa caneta ou bloco para posterior lembrança, é a devastadora presença de borrachudos. A segunda, que só faz agravar a primeira, é a irrefreável catarse dos ‘brothers’.


Daniela Mercury entra: ‘A cor dessa cidade sou eeeeeeeu!’


Começa uma acirrada competição de rebolado. Depois de entortar a coluna vertebral até o limite do improvável, Jaqueline, 23, diz: ‘Comprei biquínis maiores para usar aqui, porque não quero me expor muito.’


‘Essa mente’, afirma Boninho mais tarde, na continuação da conversa com a imprensa. Segundo o especialista, a ‘verdadeira cachorra’ se entrega justamente numa declaração exageradamente puritana.


Boninho diz ainda que um dos candidatos revelou a ele que é gay. O psiquiatra Marcelo, principal suspeito, parece confuso. ‘Cara, eu não digo que sou isso ou sou aquilo, mas acho que, se alguma coisa estiver para ser revelada aqui, sem problemas’. O psiquiatra explica ainda que está ali ‘não como médico, mas como pessoa.’


A bartender Thalita, 29, afirma que desde os 16 anos é atriz, como a mãe, Nadia Lippi. Mas não sabe se ‘dá para a coisa’. ‘Eu não aconteci até agora. Vai ver que eu não tenho talento.’


A modelo Juliana diz que sua estratégia é ‘ser eu mesma’.


O gerente de contas Fernando, 25, afirma que não toma mais ‘bomba’. ‘Tinha 42cm de bíceps, agora estou com 40cm.’


Nesse contexto, descobrir se uma das participantes é lésbica parece um furo de reportagem. Mas Bianca, 28, a mais cotada, ri da possibilidade. ‘Gente, isso é muito engraçado!’


Os meninos olham para o ‘campeonato de rebolado’ como se estivessem em frente a uma fileira de franguinhos de padaria. De repente, uma produtora aparece e recolhe os jornalistas: ‘Tá na hora!’, diz.


Os ‘privilegiados’ ficaram até mais que os vinte minutos preestabelecidos: das 17h17 às 17h58. Nem precisava tanto.’


***


Pequena para 14 pessoas, casa tem penduricalhos e quartos opressores


‘Revestidos com papel de parede colorido, os quartos dos BBBs estão cheios de almofadas, penduricalhos e gravuras. Um deles é tão intensamente rosa que requer, à entrada, um certo esforço físico: parece que não cabe mais nada ali dentro.


A casa tem 345 m2, mas é relativamente pequena para 14 moradores. Ou 13, já que o ‘líder’ tem um quarto só para ele, do lado de fora.


A planta se distribui ao redor de uma estrutura central em forma de ‘U’: à direita estão a cozinha, a sala de jantar, dois quartos e um banheiro; à esquerda, a sala de estar, mais um quarto e um banheiro. Entre a sala de estar e a cozinha, na curva externa do ‘U’, há uma porta automática espelhada, que dá para o pátio.


Para receber a imprensa e os BBBs, a produção colocou no jardim um aparador com canapés, cervejas e garrafas de espumantes em baldes de gelo.


Decorado com grama bem cortada, o pátio é revestido por pedras estilo ‘São Tomé’ e tem, ao fundo, piscina e sauna. À direita, há um palco coberto por um plástico preto, onde Daniela Mercury vai cantar. Na hora do show, o plástico cai e soltam-se bombas de artifício.


Em volta do pátio, há paredes com lambris horizontais de vidro espelhado, que camuflam as câmeras. Não é permitido chegar perto para tentar controlar o movimento delas. Talvez fosse até pior. A sensação de liberdade vigiada, pelo menos para quem não pretende ser ‘televisivo’, é extremamente incômoda.’


Bia Abramo


Auto-ajuda eletrônica nas tardes da TV


‘DE TARDE, a televisão parece ainda mais estúpida do que de noite. Nas atrações noturnas, há mais brilho e estridência; nas vespertinas, a programação fica numa modorra de domesticidade e de tédio.


As donas-de-casa, entre um afazer e outro, e as crianças fora da escola têm de se contentar com um regime de fofocas, de receitas, de reprises, de filmes velhos e desinteressantes, devidamente recheados de propaganda e mais propaganda.


De repente, no meio da tarde, começa no SBT uma coisa chamada ‘Casos de Família’. Está, no site da emissora, classificado como um talk-show e, de fato, a inspiração está em seus similares norte-americanos, do super bem-sucedido programa da Oprah Winfrey ao supersensacionalista Jerry Springer.


O formato é igual -a cada programa, seleciona-se um tema, do tipo ‘Ele só quer economizar’, ‘Minha mãe não me entende’ etc., e três duplas de familiares em conflito vão lá contar sua história. A apresentadora Regina Volpato faz perguntas, a platéia se intromete, os convidados também metem o bedelho uns nas histórias dos outros e, no final, um psicólogo dá sugestões.


O dado terceiro-mundista é que para a terapia televisiva acorrem aqueles que não têm outros recursos -não têm grana para fazer psicoterapia, nem para comprar antidepressivos, nem para os paliativos habituais da classe média, como afundar no consumo ou na diversão. Para além dos elementos habituais dos conflitos humanos -ciúme, rivalidade, incompreensão, neurose-, há uma dose de barra-pesada sociológica advinda do desemprego, da pobreza, da falta de perspectivas.


Nessa confluência de miséria psíquica com dificuldades materiais, as histórias são todas pungentes e, quase sempre, desesperadoramente complicadas.


Aliás, roteiristas de TV deveriam prestar atenção no que sai dessas falas; a teledramaturgia tem mostrado uma inabilidade enorme para olhar além do umbigo.


A apresentadora Regina Volpato é, nesse sentido, até cuidadosa. Trata com delicadeza os convidados, e seus comentários, ainda que de certa forma extraídos do senso comum, não traem os preconceitos de classe, nem derivam para a moralização tacanha.


Não é pouco, na verdade. Mesmo com o aspecto exploratório que é da natureza desses programas e o caráter exibicionista dessas pessoas, ter suas aflições ouvidas e acolhidas já representa alguma espécie de alívio.’


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O Estado de S. Paulo


Domingo, 13 de janeiro de 2008


TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO


Pedro Doria


A maior invenção de Bill Gates


‘O PDP-11, fabricado pela Digital, era uma máquina grande: tinha o tamanho de uma geladeira. Foi num computador desses, em finais de 1975, que um jovem engenheiro chamado Dan Sokol produziu pacientemente 50 cópias, em rolo de papel perfurado, do programa Basic para o recém-lançado microcomputador Altair. Numa era anterior aos disquetes e na qual computadores pequenos eram uma novidade levada pouco a sério, Sokol se tornou o primeiro pirata. Mas ninguém chamava ainda de pirataria fazer cópias de programas sem pagar por eles. Ninguém, exceto uma pessoa: o autor daquele Basic, Bill Gates.


Na segunda-feira passada, Gates confirmou para o público da CES, a maior feira anual de produtos eletrônicos de consumo do mundo, que deixará este ano a presidência da Microsoft. Seu plano, diz, é dedicar-se integralmente à Fundação Bill e Melinda Gates, a maior organização filantrópica jamais criada. Os superlativos parecem acompanhar o fundador da Microsoft – ele próprio, segundo a revista Forbes, ainda na primeira colocação na lista dos homens mais ricos do mundo. Tudo, no entanto, poderia ter sido muito diferente não fossem os eventos transcorridos naquele final de 1975 e suas conseqüências, ao longo de 76.


Sokol era membro de um pequeno e seleto grupo de amadores apaixonados por tecnologia que se encontravam mensalmente. Era o Homebrew Computer Club – Clube do Computador Caseiro -, que reunia estudantes, engenheiros e interessados em tecnologia nos arredores da Universidade de Stanford, na Califórnia. Daquele clube vieram muitos dos pioneiros do Vale do Silício, incluindo os fundadores da Apple. O Basic, produzido para o Altair pela então chamada Micro-Soft, era vendido por US$ 500. Mas a venda de programas não era hábito. Programadores, oriundos de empresas de tecnologia ou universidades, tinham o costume de trocar as linhas de código que escreviam.


‘A maioria de vocês sabe que quase todos roubam seus programas’, escreveu um jovem Bill Gates, ainda aos 20 anos. ‘Computadores têm de ser comprados, mas software é algo que se divide. Alguém liga a mínima para o fato de que programadores não recebam pelo trabalho?’


Em fevereiro de 1976, quando essa carta aberta foi publicada na newsletter do clube Homebrew, não existia uma indústria de software. O mercado para microcomputadores era mínimo e técnico. O Altair não era vendido em lojas, mas por encomenda postal, na forma de um kit que precisava ser montado, seguindo instruções publicadas na revista Popular Electronics. Cinco mil unidades foram vendidas em 1975 – e esse era o mercado potencial do programa de Gates. Alguns dos membros do clube ficaram furiosos – ‘chamar de ladrão clientes potenciais é um erro de marketing’, chegou a escrever um deles. Programar era um hobby. Ou um serviço pelo qual uma empresa pagaria um salário. Não mais que isso.


Não foi aquele Basic, o primeiríssimo produto da Microsoft, que fez a fortuna de Bill Gates. Mas o fruto das intensas discussões entre os hobistas – como se autodenominavam os usuários daqueles primeiros microcomputadores – foi a aceitação de duas idéias suas. A primeira, que programas, assim como máquinas, eram produtos. A segunda, que a cópia sem pagamento era o mesmo que roubo.


Ainda assim, aquele mercado inicial de computadores pessoais não faria a fortuna de ninguém. Ao Altair, seguiram-se meia centena de computadores em kit até os primeiros modelos caseiros, mais amigáveis ao usuário – como o Apple II – virem à tona. Artigos na imprensa já sugeriam, no final dos anos 70, que uma revolução tecnológica estava em curso. O interesse dos grandes investidores, no entanto, era em empresas nascentes como Apple, Comodore ou Atari, que faziam as máquinas. O negócio dos programas antevisto por Gates não parecia promissor.


A aposta nas máquinas pareceu se confirmar quando a gigante IBM se dispôs, em 1981, a entrar no ramo com seu PC. Já com a grafia definitiva do nome, a Microsoft de Bill Gates conseguiu o contrato para produzir o sistema operacional do computador IBM. A condição era que produzisse o software em tempo recorde. Ninguém conseguiria. Mas Gates não teve dúvidas: assinou o acordo, pegou um avião e comprou o sistema que um programador hobista já havia desenvolvido. Rebatizou-o de MS-DOS e o entregou. O programa mais importante da história de sua empresa não foi produzido por ela.


Como queria dominar o mercado de micros, a IBM decidiu franquear a qualquer empresa a cópia de suas máquinas. Seriam PCs iguais, só que com marcas múltiplas, uma lógica que se mantém até hoje. O resultado da estratégia é que o mercado de micros se pulverizou entre vários fabricantes. Mas o programa que fazia as máquinas funcionarem tinha um único dono: a Microsoft.


Ter o domínio do sistema operacional (software), Gates descobriu, era muito mais valioso do que os executivos da IBM jamais suspeitaram. O sistema é que gerencia todas as atividades da máquina. É a partir dele que os outros programas – processadores de texto, planilhas eletrônicas, etc. – rodam. Com pequenas adaptações nesse sistema, o DOS, a Microsoft podia piorar a performance dos programas que concorriam com seu pacote de softwares, como Word e Excell. Desde o MS-DOS e, mais tarde, do Windows, a Microsoft jamais hesitou em usar essa vantagem para promover os outros programas de sua linha. Garantiu o monopólio pelo qual terminou condenada, em 2000, pela Justiça dos EUA. Um processo similar ainda está em curso na União Européia.


Visto como vilão ou ícone da inovação, Bill Gates inventou o negócio do software e, passando a perna numa das maiores multinacionais de então, fez desse negócio o dominante da revolução digital. No rastro, sua Microsoft produziu 12 mil milionários, três bilionários e o homem mais rico do mundo. Por causa da valorização das ações de sua empresa antes do crash da Bolsa de Valores em 2000, sua fortuna chegou a ser avaliada em mais de US$ 100 bilhões. Gates é o único do mundo que chegou a ser um centibilionário.’


Sérgio Augusto


Laptop, baralho & filantropia


‘Enquanto Bill Gates se aposentava da Microsoft, seu rival Steve Jobs não só continuava dando expediente na Apple, como anunciando novos inventos e planos mirabolantes para a expô Macworld, que abre amanhã em São Francisco. A mais aguardada promessa, desta vez, será a entrada da Apple no mercado de aluguel de filmes online. Graças a uma parceria com a Disney, Paramount, Warner, Fox e Lions Gate, será possível baixar filmes daquelas produtoras em computadores e televisores com recursos da Apple, e também em iPods e iPhones, pela módica quantia de US$ 3,99 (R$ 7,10).


Enquanto Bill Gates ressaltava que não estava propriamente se aposentando, mas ‘repriorizando’ sua vocação para a filantropia, Mary Lou Jepsen passava a perna em Nicholas Negroponte e anunciava um filantrópico laptop de US$ 75 (R$ 135), bancado pela Pixel Qi. Até duas semanas atrás, Jepsen dava duro (e ordens) na OLPC, que, apesar das aparências, nada tem a ver com a libertação da Palestina e da Caxemira. OLPC é o acrônimo de One Laptop per Child (Um Computador para Cada Criança), utópica cria de Negroponte, que, associado à Intel, almejava viabilizar a produção de laptops a US$ 100 (R$ 180) para incluir milhões de crianças do Terceiro Mundo na era digital.


Em pouco tempo, o preço do XO, a ‘democratizante’ máquina da OLPC, subiu 30%. E muito mais, depois do rompimento de Negroponte com a Intel, que estaria levando água para o moinho de um laptop concorrente, ClassMate – estranhamente concorrente porque bem mais caro: US$ 420 (R$ 760). Pechincha daqui e dali, e o preço do ClassMate, na licitação de 150 mil laptops para 300 escolas públicas brasileiras, baixou para US$ 387 (R$ 697), conforme informou Elio Gaspari em sua coluna de quarta-feira passada. Tsk, tsk. Se o governo peruano vai pagar US$ 175 (R$ 315) por um lote de 100 mil modelos XO, e o governo uruguaio US$ 199 (R$ 358), por que gastar o dobro e até um pouco mais com um computador dotado dos mesmos recursos do XO?


Com a entrada em cena da ex-sócia de Negroponte, com seu laptop de US$ 75, nosso Ministério da Educação ganhou uma terceira opção. Resta saber se o MEC terá condições de esperar e testar o maná eletrônico da Pixel Qi, para só então começar a mudar o curso da educação no país.


Enquanto Bill Gates redirecionava sua agenda, Steve Jobs anunciava o seu iMovies e a ex-sócia de Negroponte prometia um dumping do bem, o site de busca Lycos.com divulgava os campeões de acesso na Internet em 2007. Não aqui, mas na terra da Microsoft e da Apple. Foi a mais palpitante notícia ligada à informática da semana, inclusive porque o laptop de US$ 75 ainda é apenas um projeto e o download de filmes programado pela Apple apresenta pelo menos um senão: é caro para um aluguel de apenas 24 horas.


Adivinhe por que arcanos da Web os americanos navegam com mais freqüência?


Sites de busca? No, sir. Sites literários? Não me façam rir. Nos países nórdicos, quem sabe, seriam essas as preferências. Mas no país em que 20% da população não consegue localizar no mapa-múndi o território que habita, as preferências ou prioridades são outras. Quem pensou em alguma forma de vício, além do vício de só largar o computador para dormir, ganhou a aposta-metáfora justificável por serem os sites de pôquer os mais visitados pelos internautas americanos.


Na verdade, os campeões absolutos e imbatíveis são os sites pornográficos, aí incluídos desde os mais leves, aqueles que no máximo expõem os mamilos de Paris Hilton papparazzitados numa festa, aos mais pesados, com imagens de sexo explícito e pirotecnias ginecológicas. Estes, por pudor, creio, o Lycos.com não computa. Razão pela qual o primeiro colocado é sempre, efetivamente, o segundo.


Vício por vício, o pôquer leva a vantagem de oferecer a possibilidade de alguma recompensa real. Há cinco anos, um contador do Tennessee, que, de tão confiante em sua sorte, mudou o sobrenome para Moneymaker, saiu de um torneio internacional de pôquer US$ 2,5 milhões mais rico. O boom da jogatina online começou aí. Estima-se que cerca de 70 milhões de americanos arriscam o que têm e não têm por um royal straight flush no Poker.com.


Ok, viciar é humano, e sexo, sobretudo se virtual e voyeurístico, não mata; mas se a partir do terceiro lugar não se enfileirassem sites de golfe, moda, Disney, dieta, e de figurinhas como Britney Spears, Paris Hilton e Clay Aiken (cantor pop revelado na segunda temporada do programa American Idol), não estaria aqui chancelando o que Chunk Blount disse da pesquisa da Lycos.com, nas páginas do Toronto Daily Star: ‘Eis mais uma prova contundente de que o declínio da civilização ocidental continua em franco progresso.’


Se a alguns talvez surpreenda a quinta colocação do YouTube, mais espantosa me parece a posição do MySpace (15º), logo à frente do Facebook. Isso não implica que os internautas americanos estejam se saturando dos sites de relacionamento. Menos curiosos parecem ter ficado – ou a Wikipedia não teria sido relegada ao 30º lugar, superada por sites alcoviteiros sobre a vida, os amores e os barracos de celebridades como Vanessa Hudgens, Lindsay Lohan, Jessica Alba, Angelina Jolie, Beyoncé, Jennifer Aniston, sem contar as que não têm vida (Barbie) ou a perderam (Anna Nicole Smith).


E nós, brasileiros, o que mais acessamos na Web?


Primeira surpresa: existe pesquisa a respeito. Segunda: ela não discrimina os sites pornográficos (a da Alexa.com, ao menos, não discrimina). Terceira: os quatro sites pornográficos (encabeçados pelo Pornutube) só entram na lista depois do 35º lugar, dois deles na frente do MySpace (talvez outra surpresa).


Relacionamento e interação lideram as preferências nacionais, daí a ponta ser ocupada pelo Orkut, o YouTube vir em quinto, o Yahoo em sétimo e o Blogger em décimo. Deveria ser motivo de orgulho verificar que o Google em português ocupa a segunda colocação, e o Google em inglês, a sexta; que a Wikipedia (17ª) possui, proporcionalmente, mais visitantes brasileiros que americanos; e que o pôquer e o golfe não têm vez entre nós.


Só falta agora a gente saber que não chega a 20% a porcentagem de brasileiros incapazes de localizar no mapa-múndi o país que habitam. E o MEC acertar a compra dos laptops de US$ 75 prometidos por Mary Lou Jepsen.’


EUA / MÍDIA & POLÍTICA


Cristiano Dias


Famosos de Hollywood invadem os palanques


‘Diga-me com quem andas que te direi quem és. O ditado surrado serve perfeitamente para definir o caráter das celebridades de Hollywood e a personalidade dos pré-candidatos à presidência dos EUA apoiados por cada artista.


No epicentro da indústria cinematográfica, o apoio de uma celebridade dá ao político americano a atenção da mídia e dos eleitores, facilitando doações de campanha. Para Natalie Wood, especialista em marketing e professora da Universidade Saint Joseph, da Filadélfia, associar a candidatura a uma estrela de Hollywood pode mudar a imagem do candidato.


‘No que diz respeito à votação em si, o apoio de famosos tem pouca importância. Por isso, em um primeiro momento, pode parecer uma bobagem correr atrás desse tipo de apoio’, disse Natalie por e-mail ao Estado. ‘No entanto, os políticos americanos procuram o apoio de celebridades porque elas atraem a atenção e, conseqüentemente, dinheiro para a campanha.’


Natalie, que é autora de um estudo recente sobre o assunto, diz que existem duas razões para que uma estrela de cinema associe sua imagem a um político. ‘Ou o artista realmente acredita que está fazendo a diferença ou ele também usa o político para se promover.’


AS ESTRELAS DE BARACK


De todos os candidatos, o senador Barack Obama é quem tem a campanha mais recheada de estrelas do cinema. Com o voto dos jovens descolados e moderninhos ele venceu as primárias de Iowa. A reboque, ganhou apoio de Scarlett Johansson, atriz da moda em Hollywood. Scarlett esteve pessoalmente em Iowa, discursando e respondendo a perguntas de fãs-eleitores.


O time de Obama, apelidado pela imprensa americana de Barack Stars (Estrelas de Barack), traz outros ícones da adolescência americana como os atores Tobey Maguire, Ben Stiller, Matt Damon e Ben Affleck, e uma constelação de estrelas negras: a apresentadora Oprah Winfrey, o ídolo do basquete Kareem Abdul Jabbar, a atriz Halle Berry e os atores Will Smith, Laurence Fishburne e Morgan Freeman.


O eleitorado da senadora Hillary Clinton, por sua vez, tem perfil diferente. São eleitores mais velhos, que preferem confiar na experiência pública da ex-primeira-dama em detrimento da juventude de Obama. São celebridades mais conservadoras do que as do senador, mas não tão reacionárias a ponto de posar ao lado de um republicano.


Assim, os famosos que optaram por ela acabaram seguindo essas mesmas características: Barbra Streisand e Elizabeth Taylor, atrizes da velha guarda de Hollywood, a tenista Billie Jean King, e os compositores Barry Manilow e Quincy Jones, – os três personalidades dos anos 70 -, e Hugh Hefner, o bilionário de 81 anos dono da revista Playboy.


John Edwards, o terceiro na lista de preferência dos democratas, foi pré-candidato em 2004, mas perdeu a nomeação para o senador John Kerry. Edwards acabou aceitando ser vice na chapa de Kerry, que perdeu a eleição para o presidente George W. Bush. Em 2008, Edwards ensaiou um retorno aos holofotes, tal como sua trupe de artistas: os atores Kevin Bacon e Tim Robbins e a atriz Madeleine Stowe.


CHUCK PARA PRESIDENTE


Historicamente, o campo republicano sempre foi mais pobre de famosos. Quem mais conseguiu apoio de personalidades hollywoodianas foi o ex-prefeito de Nova York Rudy Giuliani. Na linha de frente está o ator Robert Duvall, que diz seguir a mesma linha ideológica de Giuliani – e que se parece até fisicamente com ele.


O conservador Mike Huckabee, por exemplo, conseguiu o apoio do ator Chuck Norris, veterano defensor do estilo de vida americano nas telas de cinema. Em um comício de Huckabee, em New Hampshire, na semana passada, a multidão foi a loucura quando Norris subiu ao palco. ‘Chuck para presidente’, gritou um eleitor de Huckabee. ‘Meu amigo, acredite, eu não sou durão o suficiente para esse trabalho’, respondeu Norris.


Alguns candidatos, como Mitt Romney, não conseguiram atrair nenhuma celebridade digna de menção. Já Fred Thompson deu um pouco mais de sorte. Lorrie Morgan, uma conhecida cantora country e antiga namorada, decidiu dar uma empurrãozinho na campanha. ‘Minha mãe sempre gostou do Fred’, disse Lorrie. ‘Ela vive me dizendo que se eu não tivesse terminado o namoro hoje poderia estar na Casa Branca.’’


QUÊNIA


O Estado de S. Paulo


Jornais quenianos apelam por fim da crise


‘Jornais quenianos apelaram ontem pelo fim da crise no país, que deixou mais de 500 mortos desde a reeleição do presidente Mwai Kibaki no dia 27. A oposição, liderada por Raila Odinga, acusa o governo de ter fraudado a votação. ‘Lembrando das vidas perdidas e da destruição, os dois lados deveriam parar um pouco e pensar se realmente querem ser culpados por algo que pode destruir o país’, disse em editorial o Daily Nation. Apesar do apelo dos jornais e da comunidade internacional, a oposição marcou uma série de novos protestos, que começará com uma grande manifestação na quarta-feira, em Nairóbi.’


ENTREVISTA / BRUNO BARRETO


Sonia Racy


‘Estou no horário nobre da vida’


‘Bruno Barreto aplaude a greve dos roteiristas em Hollywood. Acredita tratar-se de um avanço da civilização, do que chama de capitalismo não selvagem. ‘É bom que eles tenham consciência do seu poder’, avisa. Bem instalado em São Paulo, onde diz estar absolutamente confortável (o cineasta nasceu no Rio), Barreto se prepara para lançar um novo filme, o 174, baseado em documentário do mesmo nome de José Padilha, em cima de um episódio marcante da vida carioca. ‘É um filme Sebastião Salgado’, adverte. Para quem não sabe, há um novo jargão no cinema brasileiro para definir se o filme trata de coisas leves ou pesadas usando o nome de Salgado, o premiadíssimo fotógrafo brasileiro, que fez fama tratando da fome e desnutrição pelo mundo.


Sobre as eleições nos EUA, Barreto é contundente. ‘Não tem ninguém nesta corrida melhor que o republicano John McCain’, avisa. Como tem cidadania americana, o cineasta pensa até em voar para lá para exercer seu direito de votar. A seguir, os principais trechos da sua longa conversa com a coluna.


Você acaba de rodar um novo filme, o 174, depois de ter feito filmes mais leves. Por que isto?


Olha, vou dizer uma coisa sem querer parecer pretensioso. Este é o meu melhor filme. Aí você vai me perguntar, por quê? Porque houve intersecção de vários elementos e idéias, tipos humanos bem complexos. Não dá para fazer uma obra de arte sem complexidade. Não gosto de nada preto e branco. Por isso essa Dúvida, peça que eu dirigi em São Paulo em 2006. E que não teve patrocínio nenhum por causa do tema. Uma peça que ganhou a melhor em dramaturgia e que em 2005, nos EUA, ganhou o Tony, o Oscar da Broadway. Do quê? De melhor peça, melhor atriz, melhor ator, melhor diretor. Aqui não teve patrocínio porque o tema era a possibilidade de um padre ter molestado uma criança católica. A peça não era sobre isso, era sobre a dúvida e a certeza de poder enxergar. Se o padre realmente molestava, não tinha a mínima importância. Mas não foi visto assim.


O 174 foi visto desta maneira?


Existe aquele episódio do final do filme, quando Sandro morre, mas o filme não é sobre isto. Trata-se da odisséia desse herói trágico, o menino Sandro, um dos sobreviventes da Candelária, que acabou no ônibus 174. É sua trajetória. Se você nasce num determinado nível social no Brasil, a possibilidade de sair daquilo é quase zero. Não estou falando de justiça social, meu filme é sobre a existência. A vida dessas pessoas é um olhar de dentro para fora, o oposto de Cidade de Deus, Pixote, Tropa de Elite – filmes que são visões de fora pra dentro. Eu narro a história de dentro para fora, do ponto de vista desse menino. Entro nessas pessoas, como é o amor de mãe e filho quando você vive nessas condições, sem o que comer, vestir. Essas pessoas não deveriam a ser submetidas ao mesmo código penal da gente. Vivem em outro mundo, a gente não pode esperar delas o mesmo comportamento nosso, ético e moral.


O que o levou a fazer o filme? A história?


Francis Ford Coppola disse, certa vez, numa entrevista: ‘O melhor conselho que posso dar a vocês que querem ser atores, diretores, é que para ser ator se tem que viver, não ficar nesta coisa do americano que pensa em carreira até os 35 anos e que depois vai casar, ter filhos.’ Se você não tiver uma vida, não pode ser artista. A arte vem da vida. Veja, o Nelson Pereira dos Santos, que vai fazer 80 anos, fez tanto filme quanto eu fiz. Eu trabalho 24 horas por dia, mas eu vivo também. Casei cedo, tive filho cedo e se não tivesse começado a viver cedo não ia poder contar histórias da maneira como eu conto. Para falar de pessoas é preciso ter vivido.


Você passou longo tempo nos EUA. Por que voltou ao Brasil?


Cheguei em um momento em que acredito estar no horário nobre da minha vida. Não quero mais ficar fazendo um longa-metragem a cada dois anos, estou querendo mais. Quero produzir e dirigir teatro. Assim como eu dirigi aqui em São Paulo a peça Dúvida, com a Regina Braga e Dan Stulbach, quero dirigir televisão. Hoje em dia, a TV faz um trabalho incrível, com uma dramaturgia muito melhor que a do cinema. Cinema virou parque de diversão, virou Homem-Aranha. As minisséries televisivas são boas opções. Hoje não dá mais para fazer um filme de três, quatro horas. No máximo, são duas horas e meia. Por isso eu quis voltar ao Brasil: além de fazer os meus longas, posso fazer TV e teatro.


A nostalgia da pátria-mãe não contou?


Não existe esse negócio de voltar às raízes. Quando você migra por muito tempo, torna-se cidadão do mundo e essa condição é irreversível. Não há outra cidade no mundo onde eu me sinta mais estrangeiro do que no Rio de Janeiro em que nasci. Só não me sinto estrangeiro em Nova York e São Paulo. As duas são muito cosmopolitas. Não tem nenhuma outra cidade no mundo, fora Nova York, em que eu moraria, a não ser São Paulo.


Você saiu do Brasil nos anos 90. Acompanhou, de fora, a política brasileira?


Eu voltava todos os anos, para trabalhar. Sempre mantive com o País uma relação muito objetiva e real.


Em termos políticos, você viu alguma evolução no País?


Acompanhei as coisas que estão todos os dias nos jornais, como corrupção, apagão, falta de infra-estrutura. Agora, sou um otimista. O Brasil hoje é muito melhor do que há 40 anos. Mas o maior problema do Brasil é cultural, é a cultura bipolar. Ou a coisa é genial ou é uma m… Ou se está eufórico ou deprimido. O Brasil precisa de uma grande dose de Prozac para chegar a um equilíbrio. Bom é bom e não precisa ser genial – ou, então, uma porcaria.


Os americanos são muito diferentes?


Olha, eu gosto de contar uma história: quando conheci a Amy (Irving, sua ex-mulher), Max, o filho dela, tinha quatro anos. As vezes, eu o colocava para dormir e contava histórias. E o Max me dizia que não estava entendendo. ‘Quem são os mocinhos e quem são os bandidos?’ Aí pensei: ele só podia ser filho de Steven Spielberg, ele é realmente americano. Para os americanos, o bem e o mal têm que ser muito claros. Isso me incomodava. Aqui no Brasil ninguém é totalmente bom ou mau. É bom e mau ao mesmo tempo.


O Brasil perdeu o bonde da história no cinema?


Não. E não estou defendendo o cinema brasileiro por ser cineasta brasileiro. Me considero, como já disse, um cidadão do mundo. E o cinema brasileiro hoje é um dos três mais interessantes, juntamente com o argentino e chinês. Mas aos brasileiros falta auto-estima. Noto isso pelo método, o procedimento, a maneira de agir.


Como assim?


Existe desprezo pelo método. E também uma supervalorização do improviso, como se com ele as coisas saíssem melhor. Neste aspecto, eu concordo com o Fernando Henrique : o País precisa de um choque de racionalidade. Eu não deveria falar, mas vou falar: apesar de todas coisas importantes que significou, um dos grandes males do Brasil foi a Semana da Arte Moderna, de 1922. Fez um estrago. Idolatrar o malandro, coisa de Macunaíma, o herói sem caráter. Até hoje, pessoas formadoras de opinião são reféns desta forma de pensar.


O cineasta vive de sonho?


Como ele introduz a racionalidade nos processos? O cineasta tem que ser arquiteto e engenheiro ao mesmo tempo. O arquiteto é o sonho, mas cinema sem engenharia não funciona. Para um filme se realizar é uma operação quase militar. Eu fiz um filme de US$ 37 milhões, o Voando Alto, com a Gwyneth Paltrow, Mark Ruffalo e um grande elenco… e não tivemos tempo pra ensaiar. Tive muito mais tempo pra ensaiar quando fiz O Casamento de Romeu e Julieta, de US$ 2 milhões.


No Brasil é mais difícil conseguir financiamentos e patrocínios?


É. Ainda não temos um processo industrial. A coisa depende dos subsídios. A quantidade de filmes que não chega ao cinema é enorme. E temos poucos cinemas, menos que a Argentina e o México, proporcionalmente. Aqui não se vive mais da bilheteria.


Lá fora se vive de bilheteria?


Claro. E no passado já vivemos dela. Há 30 anos, quando Dona Flor foi lançado, havia 3 mil cinemas no País. Hoje não passam de 2 mil. É uma coisa que não entendo: esse governo diz que quer incluir, fazer um ‘país para todos’, mas destinou zero centavo para fazer o cinema de todos. O povo não tem dinheiro para ir ao cinema.


Mas o Tropa de Elite não foi bem, exceto pela pirataria?


Olha, a pirataria não prejudicou o filme. A maioria dos que viram a cópia pirata nunca poderia pagar para ver no cinema. Mas aqui o vale-cultura não sai e tampouco o o ticket-cultura. Estão emperrados na Receita Federal.


Quando você leva um projeto a um produtor, o que ele pergunta?


Eu fiz pouco isso. Em geral são os produtores que fazem. O Fernando Meirelles não conseguiu um tostão para Cidade de Deus, por causa do tema. Aí ganhou quatro indicações para o Oscar e todo mundo queria colocar seu logotipo no anúncio dando parabéns.


Você se acha diferente, como cineasta?


Há dois tipos de cineasta. Os que fazem filmes que contam a mesma história, que têm a ver com a vida deles – como o Woody Allen -, e os que fazem pela alta curiosidade. Eu faço para aprender. Por isso me sinto um pouco jornalista. Eu odeio futebol, acho chatíssimo, e queria fazer um filme para entender porque as pessoas enlouquecem tanto por futebol. A começar por meu pai, o Dragão Negro, da turma do Carlinhos Niemeyer, Walter Clark, Márcio Braga. Minha irmã se casou com um jogador de futebol, eu não entendia isso. Passei a entender.’


TELEVISÃO


Shaonny Takaiama


Folga aos domingos


‘Quantas pessoas no mundo deixariam de livre e espontânea vontade a apresentação de um programa como o Fantástico? Glória Maria sustenta que não teve problemas em deixar.


A apresentadora que esteve por mais tempo no comando da famosa ‘ revista eletrônica’ deixou o programa discretamente, no apagar das luzes de 2007, após dez anos à sua frente. Na edição que foi ao ar com a sua substituta, Patrícia Poeta, no dia 6, não foi feita nenhuma menção ao fato.


Puxada de tapete, saída estratégica? Glória garante que não. ‘Eu pedi para sair, porque estava exaurida, no último limite das minhas forças. Acho que todo ser humano tem um limite e eu já tinha ultrapassado o meu nestes dez anos.’


Segundo ela, seu cansaço durava dois anos. E há oito meses já havia pedido um afastamento à direção do programa. ‘Eu estava negociando isso há oito meses. E coloquei de uma maneira ir-re-vo-gá-vel: eu não continuaria no programa, sob que condição fosse. Queria parar esses dois anos de qualquer maneira.’


Depois de várias reuniões, um acordo foi fechado na semana do Natal. ‘Eles (os diretores do Fantástico) acabaram achando que eu estava certa e merecia esse período sabático’, explica.


O nível de esgotamento de Glória era tão grande a ponto de ela, que sempre editou suas próprias reportagens, deixar a última sem finalização. ‘Depois que eu fiz o programa de Natal, que foi o último, eu já não tinha forças para apresentar mais nenhum. Tem uma matéria, inclusive, que fiz no Deserto do Atacama um mês atrás, que eu teria de editar ainda’, conta.


DESTINO


Antes de ser ‘saída’ da atração, Glória preferiu sair. E explica as razões de seu desprendimento em relação ao programa. ‘Normalmente, as pessoas são retiradas quando ficam um determinado tempo. Seria muito fácil esperar daqui a uns quatro, cinco anos, o meu diretor me chamar e dizer: ‘Olha, Glória, nós vamos te substituir.’ Mas nunca fiz nada como os outros e achei que estava na hora de dizer bye, bye’.


Visivelmente aliviada, agora ela só quer viver. ‘Quero ser feliz, não quero me transformar em uma pessoa amarga.’ Na entrevista ao lado, a nova Glória, que agora tem folga aos domingos, fala mais sobre essa história.’


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‘Ao Fantástico acho que não volto nunca’


‘Por que você saiu do Fantástico?


Eu pedi para me afastar por dois anos, há oito meses. Há dois anos eu já estava cansada de todo o fim de semana ter a pressão de um programa de duas horas e meia. Durante 35 anos dei o melhor de mim e, de repente, não tinha mais forças.


Quais eram as suas insatisfações ?


A coisa chegou num ponto muito difícil. Eu trabalho na primeira televisão da América Latina e na quinta do mundo e, nos últimos meses, o Fantástico não tinha figurinista. A mulher do diretor saía comigo para escolher as roupas. Um programa como o Fantástico, sem figurinista e que eu tenha que sair com a mulher do diretor para escolher as roupas é um pouco complicado…


Como era a sua rotina?


Eu viajava na segunda pra fazer reportagem, voltava na sexta ou sábado, entrava em edição, no sábado gravava as chamadas e, no domingo entrava ao vivo. Quando eu viajava, trazia, no mínimo, três reportagens. Na semana em que eu não viajava, já tinha as reportagens para editar. Era uma rotina muito pesada. Tenho uma casa em Búzios que eu não vou há dez anos, porque não tenho fim de semana há dez anos.


O que achou da sua substituta, a Patrícia Poeta?


A Patrícia é uma pessoa talentosa e foi a escolha perfeita para o meu lugar. Não vi (o Fantástico com ela), mas tenho certeza de que ela se saiu muito bem.


Não teve receio de sair?


Nunca tive a sensação de que o Fantástico fosse meu. Quem tinha de tomar a decisão de sair era eu. Eu já tinha dado dez anos da minha vida para aquele programa. Nunca dei dez anos da minha vida para um marido.


Sua relação com a Renata Ceribelli é mesmo conturbada?


Não é conturbada. Não tem relação. Nunca houve briga, nada.


Vocês não se falam?


Não.


Qual o motivo?


Da minha parte não existe motivo. Um dia, ela parou de falar comigo e a gente nunca mais se falou.


Faz quanto tempo?


Ah, tem muitos anos. Nunca parei para contar.


Ela teria inveja de você?


Eu era a apresentadora oficial do programa. Eu não poderia ter inveja de ninguém. E não poderia querer o lugar de ninguém, pois já era meu. Você tem que perguntar para ela. Eu estava no meu lugar, durante dez anos. Eu poderia só ter inveja de quem? De Deus, né, coitado!


Quais foram seus melhores momentos no Fantástico?


Eu ter cruzado a Sibéria com o Paulo Coelho, ter ido para a China, o Deserto do Saara, a Nigéria, cobrir a tomada da embaixada japonesa pelos guerrilheiros peruanos. As entrevistas com a Madonna e o Leonardo di Caprio. É muito difícil dizer uma reportagem preferida. Tudo me fez crescer.


Como será a sua vida daqui pra frente?


Não quero me preocupar com o futuro. Ao Fantástico, acho que não voltarei nunca.


O que ainda falta para você fazer?


Tudo! (Risos) Com trinta e cinco anos de carreira você começa a engatinhar. E agora eu estou querendo começar a andar.’


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Fama de difícil


‘‘Tenho 35 anos de carreira e 10 de Fantástico. É muito difícil você ficar 35 anos em uma empresa tendo qualquer tipo de conflito com alguém. E, se você fica 10 anos em um programa, com o mesmo diretor, também não pode ter nenhum tipo de conflito com ninguém, afinal, 10 anos é muito tempo. Não tinha conflito com as pessoas porque senão, eu não teria agüentado 10 anos. O problema maior era comigo mesma. Sou uma pessoa muito transparente e falo todas as coisas que acho que devem ser ditas. Sou muito sincera. Sempre fiz tudo com muita verdade, simplicidade. Nunca quis ser o que não sou, nunca quis ser mais do que sou e nunca representei um papel. As pessoas aprenderam a me conhecer verdadeiramente, por isso elas me respeitam. E acho que é por isso que criei uma legião de fãs, de pessoas que gostam de mim.’’


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‘Agora estou free like a bird’


‘No período que tirou para descansar, Glória Maria não pretende parar. ‘Eu sou uma pessoa inquieta naturalmente e não quero me acomodar nunca’, diz.


As viagens, que se tornaram sua marca registrada na TV, ocuparão grande parte de seu tempo nos próximos meses. ‘Quero passar um tempo em lugares como a China, que eu visitei en passant fazendo matérias. Quero poder viver, olhar, sentir e aprender mais do que eu aprendi.’ E os destinos? Três meses no Haiti e outros três em aldeias da África.


Dessas viagens, Glória Maria tirará o material para uma espécie de diário de bordo que será publicado. ‘O livro vai ser mais ou menos a minha história, porque não tem muito como não ser, né? Vou escrevê-lo um pouco em cada lugar, vou viajar para vários países e várias partes do Brasil.’


Outros detalhes sobre o fio condutor do livro ela não revela e ainda faz mistério. ‘Vai ser um livro realidade com aparência de ficção porque vai ser tão real, mas tão real, que muita gente vai achar que é ficção.’ Ok, Glória, vamos esperar ele sair para sanar a curiosidade.


CANTORA


Causou surpresa em muita gente a decisão de Glória Maria de fazer aulas de canto para, em 2009, quem sabe, gravar um disco. ‘Eu sempre canto em jantares de amigos. É um sonho que eu sempre tive, se não fosse jornalista eu gostaria de ter sido cantora.’


Glória mostra que realmente gosta de cantar – não cabe aqui julgarmos se ela tem talento ou não. Durante a entrevista, dá uma palhinha de Vivo Sonhando, música de Tom Jobim que ela cantou na campanha de ano novo de 1992 da Rede Globo, a famosa Tente, Invente.


A quem torce o nariz para seu novo projeto, ela dispara: ‘Por que eu não posso gravar um disco? É meu direito, nem que seja para eu ouvir sozinha! (Risos). É a minha vida. Viver é realizar sonhos.’


Futuro


O contrato de Glória Maria com a Rede Globo vai até 2010. Depois disso, só se sabe que o Fantástico agora é ‘uma história encerrada’em sua carreira.


E especulações estão vindo à tona. Circulam boatos de que ela teria recebido propostas de trabalho da Record. Esperta, ela não admite, mas também não desmente nada. ‘Eu não vou te falar que eu recebi propostas da Record, do SBT, etc. Eu tenho (graças a Deus!) recebido propostas. Mas eu recebi propostas ao longo da minha vida. Só que eu sempre fui fiel à TV Globo.’


Para aumentar ainda mais a bolsa de apostas, ela deixa claro que, após o vencimento de seu contrato, poderá sim migrar da Rede Globo para uma outra emissora. ‘Se casamento, que é um contrato, se desfaz, eu não me sinto mais presa a nada. Eu só pedi estes dois anos para ficar livre.’’


Alline Dauroiz


Eu não acredito em BBB


‘Quando se entra no Big Brother Brasil, no Projac, na Globo, além da idéia assustadora de ter 37 câmeras e microfone junto ao corpo prontos para captar qualquer passo, olhar ou palavra dita, é preciso uma dose de esperteza para entender que a maioria das coisas que os os brothers falam não deve ser levada ao pé da letra e pode até ser interpretada ao contrário.


Na última terça-feira, dia de estréia da oitava edição do BBB, a reportagem do Estado vivenciou a experiência de ficar confinada com os 14 participantes do jogo. Também foram convidados para entrar na casa representantes de outros veículos de comunicação. A proposta era, em apenas 40 minutos, entrevistar os participantes e conhecer a casa. Tudo, sem relógio, gravador, bloquinho, caneta ou qualquer objeto que desse referência de tempo, ou favorecesse a comunicação escrita entre eles.


Um coquetel de boas-vindas, com direito a show de Daniela Mercury, estava sendo preparado aos 14 BBBs quando adentramos a casa. A festa seria regada a muito espumante e cerveja, truque manjado para apimentar a edição.


Depois de tudo pronto no jardim, a missão inicial seria nos apresentar como jornalistas. Houve um suspense. Tentamos despistá-los dizendo que éramos um grupo novo no Brasil de pole dance – a tal dança do poste da novela – e, prontamente, a participante Jaqueline Khury disse: ‘Que máximo! Ia pedir pra produção fazer. Adoro isso’, disse revelando muito mais de sua personalidade do que quando afirmou que aumentou o tamanho de seus biquínis para entrar no programa.


Revelado o mistério, começamos a sessão de perguntas. Vocês estão preparadas para posar nuas? E mais uma vez foi de Jaqueline – que já fez ensaios sensuais para site e revista – a revelação, em tom de brincadeira. ‘Para mostrar os seios são R$ 500 mil, nu frontal, R$ 1 milhão. Por R$ 2 milhões, mostro até as trompas.’


Todos garantiam estar ali exclusivamente pelo prêmio de R$ 1 milhão.


Sobre a casa, bem decorada como um verdadeiro cenário, os quartos são pequenos, não há janelas e a luz é muito forte. O quarto rosa-choque chega a dar tontura. Câmera, até em cima do vaso sanitário.


Antes de entrar na casa, os participantes ficaram isolados em um hotel no Rio, sem poder sair do quarto, que não tinha TV, telefone ou jornais. Curiosamente, informações vazaram para uma das sisters. A produtora de moda, Bianca Jahara, que gerou recente polêmica por supostamente ser homossexual, insistia com os jornalistas: ‘Não sou lésbica. Tenho um namorado. Podem ligar para aquela Vanessa, que os jornais dizem ser minha namorada para ver que é mentira.’ Como ela ficou sabendo o que estava sendo publicado? Mistérios do BBB.’


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Pérolas de Boninho


‘Participante gay: ‘Quando soube que foi aprovado, um deles revelou à produção que é gay.’ (Boninho desconversa e depois brinca: ‘Tem um emo no grupo. Será que é ele?’).


Indicações: ‘Não tem QI (quem indica) no BBB! O QI sou eu. Precisamos de gente exibicionista, é natural que alguns tenham feito trabalhos artísticos. Não iríamos barrar a Thalita, só porque ela é filha da Nadia Lippi.’


Jaqueline Khury: ‘É uma das ‘cachorras’. Mente muito bem e pode chegar longe, porque é malandra.’


Bianca Jahara: ‘Não acho que ela seja gay. É que na entrevista ela disse que topava tudo com o namorado.’


Revista: ‘A produção não deixa passar nem um alfinete. Revistamos as malas, frascos, livros, tudo. Mas depois que o programa começa, não mexemos em nada.’’


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