‘‘Uma sociedade define-se não só por sua atitude diante do futuro como frente ao passado: suas lembranças não são menos reveladoras que seus projetos.’ (Octavio Paz)
A Memória está no centro das atenções da Aberje, entidade que reúne as empresas de jornalismo empresarial em âmbito nacional. No início dos anos 90, a economia brasileira passou por grandes transformações. Empresas quebraram, empresas foram vendidas, empresas se envolveram em longos processos de fusões, empresas foram privatizadas. Uma das grandes questões dessa época foi: O que fazer com acervos como mapas, instalações históricas, campanhas publicitárias, documentos, enfim, tesouros a testemunhar a trajetória dos negócios, da economia, das cidades, do País?
Em busca de uma resposta substantiva, o primeiro passo foi a iniciativa pioneira de organizar, em São Paulo, um Encontro Internacional de Museus Empresariais. O mérito do debate foi trazer para o País experiências de preservação de memória como as que vinham sendo levadas à prática por clubes – sim, clubes de futebol – como o Barcelona, São Paulo, Santos e Flamengo, além de empresas americanas a partir de relatos de Thom Gillespie, diretor do Instituto de Mídias Interativas da Universidade de Indiana, presente ao evento. Não por coincidência, homenageou-se três titãs da história brasileira: Gilberto Freire, Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Júnior. Foi uma forma elegante de dizer que a memória não pode ser apagada, ser esquecida como uma zona vazia ou transformada em ruínas.
Nos anos seguintes, se desenrolaram mais dois encontros. Um com a participação do sociólogo Paul Thompson, diretor do Arquivo Nacional de Histórias de Vida da Biblioteca Britânica. Outro alcançou experiências vitoriosas do Itaú Cultural, Instituto Moreira Salles, Santander Cultural, Centro Cultural do Banco do Brasil, Instituto Pão de Açúcar, Telecom, Mineração Rio do Norte e Companheira Vale do Rio Doce, ao lado de produtos como as sandálias havaianas e a linha Cônsul. Agora, todo esse esforço ganha forma no livro Memória de Empresa – história e Comunicação de mãos dadas, a construir o futuro das organizações editado com o selo Aberje Editorial.
Um amigo íntimo
‘Sem a memória, o futuro fica suspenso no ar’, assinala Paulo Nassar, presidente da Aberje no artigo de abertura do livro. ‘ Lembre-se: sua história é a sua cara. Ela conta de onde você veio, para onde vai, como e com quem vai fazer esse percurso. A sua história é a sua identidade.’ Em outras palavras, a história é algo parecido como um personagem geralmente longínquo que transformamos num amigo íntimo.
É o que transcende dos diferentes capítulos do livro, com relatos em torno do Museu da Pessoa, os 50 anos do BNDES e da Pfizer, os projetos de memória da Fundação Belgo, da Petrobrás, da Eletrobrás, Ultragás, Companhia Brasileira de Mineração e Metalurgia e Souza Cruz. No texto que fecha o livro, Beth Totini e Élida Gagete, contam a trajetória do conceito de memória empresarial, cunhado na década de 20 na Havard Business School, nos Estados Unidos. No Brasil, os primeiros marcos datam da década de 60, mas o caminho a percorrer ainda é longo, acidentado e mistura-se diariamente com o desafio da construção da cultura de comunicação nas empresas.
Nesse contexto, o selo Aberje Editorial está contribuindo para trazer ao presente a memória dos comunicadores. Gente que inovou, que construiu, que se tornou útil com idéias e práticas que se renovam e servem de referência. Um desses livros é um relato memorialístico de quatro décadas de experiência de Carlos Eduardo Mestieri. Trata-se de um dos grandes ícones da Relações Públicas. Sua história ganha vida em 17 palestras, todas escritas em parceria com a saudosa Vera Giandrade e Waltemir de Melo.
Advogado que sonhava em ser diplomata, Mestieri começou a trabalhar com comunicação em 1963 num momento em que haviam apenas duas empresas ou agências de relações públicas no País. A resistência dos jornalistas em aceitar o trabalho do RP era enorme. Telefone ou telex, um privilégio raro. Foram tempos difíceis. Veio o regime militar. O Congresso foi fechado. Mandatos foram cassados. A imprensa amordaçada. Mas a comunicação corporativa, a despeito das dificuldades, prosperou. E na década de 90 as empresas de assessoria passaram a ser contadas aos milhares. Mestieri é testemunha dessa evolução persistente e continuada. Ele analisa, do alto de sua profunda experiência:
‘Ao mesmo tempo em que a comunicação passa a ser , realmente, um dos pilares da moderna administração, temos novo e grande desafio para todos nós profissionais: a globalização da informação, resultante do desenvolvimento da tecnologia principalmente na última década. E, para mim, a mais intrigante, fantástica e ainda pouco explorada tecnologia, mas o maior desafio da comunicação – a Internet’.
Experiências como as perpetuadas no livro Memória das Empresas e em Relações Públicas: arte de harmonizar expectativas, esse o título do relato de Mestieri, é que fazem a diferença do processo de comunicação, apontando seu utilidade e sua transcendência. Breve, o selo Aberje Editorial surgirá com novidades sobre essa utopia permanente dos criadores de todas as linhagens: fixar o tempo, fazê-lo eterno. (Jornalista e escritor)’
RÁDIO NACIONAL
‘Rádio Nacional precisa de pautas’, copyright Comunique-se, 15/07/04
‘Após a revitalização, a Rádio Nacional enfrenta um novo problema: depois de tanto tempo fora do ar, a emissora deixou de receber pautas e sugestões, e a produção muitas vezes sofre com a falta de material jornalístico.
Os programas mais prejudicados são o Manhã Nacional, sob o comando do jornalista Marco Antônio Monteiro, e o Redação Nacional, da jornalista Neise Marçal. Somada à pouca quantidade de profissionais que compõem a redação nesse recomeço da rádio, a escassez de pautas torna a produção de três horas de programa jornalístico uma missão quase impossível. ‘Temos feito muitas entrevistas, e ocupo a última hora do meu programa com matéria de cidadania. Como ficamos muito tempo fora do ar, é preciso acostumar os jornalistas e as agências a uma nova era de jornalismo da Rádio Nacional’, afirma Neise.
Para enviar pautas para a rádio, basta enviar e-mail para Neise (neise@radiobras.gov.br) ou Marco Antônio (marcoantonio@radiobras.gov.br), ou telefonar para a produção, que é comum aos dois programas. Os números são: (21) 22537863 ou 22537856.’
ABORTO EM QUESTÃO
‘Bispo de Santo André diz que mídia ‘manipula’ questões sobre aborto’, copyright Repórter Social, 15/07/04
‘O presidente da Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Nelson Westrupp, bispo diocesano de Santo André, utilizou sua fala no I Mutirão de Comunicação do Regional Sul 1, realizado em São José dos Campos entre 8 e 11 de julho, para criticar duramente a cobertura realizada pela mídia sobre aborto. Ele citou a polêmica recente sobre aborto em caso de anencefalia como um exemplo de como a mídia ‘manipula’ a questão.
‘Se você, por exemplo, estiver atento a um tema que aparece no jornal, sobretudo, em certos jornais ou em certos periódicos, você percebe logo se são contra ou a favor da Igreja’, disse o bispo, em debate sobre Comunicação e Responsabilidade Social. ‘Vou dar só um exemplo: aconteceu recentemente uma declaração sobre a permissão do aborto em determinadas circunstâncias. Imediatamente certo jornal se colocou a favor do ministro que teve uma postura favorável (aborto no caso da anencefalia). Como se manipula a notícia!’
Mais à frente, o integrante da Pastoral da Comunicação atacou os meios de comunicação em massa como um todo. ‘É claro que neste caso, por exemplo, sobre a lei do aborto, não é só o valor econômico que pressiona’, afirmou. ‘Temos uma série de outros valores predominando, menos os valores que interessam, ao menos para nós. Percebemos pressões constantes cobrando dos MCS, responsáveis pela formação da opinião pública, a respeito desses valores. Não é fácil para nós.’
De acordo com Nelson Westrupp, ‘basta se colocar um minuto diante de um televisor ligado ou ler uma manchete de jornal, que logo perceberemos quais as tendências para e por onde essa Comunicação trabalha – sua linha editorial’. ‘Infelizmente não temos os recursos necessários e imediatos para reagirmos; não é fácil resistirmos às pressões do poder econômico e político, e nem às insinuações ideológicas e à mentalidade laicista e descompromissada reinante em nosso meio.’
A colunista Eliana Cantanhêde, da Folha de S. Paulo, disse nesta terça-feira em sua coluna que discussões ‘em pleno 2004’ como a o direito legal ao aborto em caso de fetos sem cérebro revelam ‘o obscurantismo da Era Medieval’. ‘O que há por trás de todas essas discussões é o obscurantismo, de um lado, e a dignidade e a solidariedade, de outro’.’
PASQUIM
‘‘A imprensa alternativa está acabando’’, copyright Revista Imprensa, 15/07/04
‘Poucos dias depois de escrever, ‘aos prantos’, o editorial que marcou a despedida do Pasquim das bancas, Ziraldo embarcou para um evento editorial em Curitiba. Na capital paranaense, entre uma palestra e outra, passou mal, começou a suar frio e sentiu vontade de vomitar. No hospital, depois de uma bateria de exames, constatou-se entupimento da coronária. Conta o humorista que o boato se espalhou tão rápido que seu amigo e chargista Laerte chegou a escrever seu necrológio chorando. Na verdade o caso não foi tão grave assim, para alívio geral. ‘Foi só uma angeoplastia. Eu fiz um cateterismo e pronto. Vou precisar de uma operação maior para justificar todo o carinho que recebi’, brinca. Contrariando todas as expectativas Ziraldo deixou o hospital e desembarcou em Parati, no último dia 9 de julho, para participar da 2º FLIP – Festa Internacional Literária de Parati. Ao lado doa amigos Luís Fernando Veríssimo, Angeli e Zuenir Ventura, o pai do Pasquim participou do debate ‘Humor a favor’ e se emocionou ao falar sobre o fim do Pasquim, que essa semana deixa as bancas para entrar de novo na história. ‘No Pasquim nós mantivemos viva a idéia de que a imprensa é uma coisa de missão e não pode estar comprometida com o mercado. Só que eu não conseguia anúncio. Minhas três últimas empreitadas – Palavra, Bundas e Pasquim – foram fracassos financeiros. A verdade é que a imprensa alternativa está acabando’.
Outro motivo apontado por Ziraldo para o fim do Pasquim foi a fidelidade dele ao governo Lula e a dificuldade em se fazer humor a favor do governo: ‘Quando eu, aos prantos, entreguei o editorial do último número do PASQUIM, senti um grande alivio. Eu fiz 18 anos em 1950 e isso é muito emblemático. Passei a metade do século20 adulto, responsável, eleitor. Nesses 54 anos eu me comprometi de todas as maneiras que pude para colocar o que eu achava ser meu grupo no poder. Não através da guerrilha, que a minha geração tentou fazer mas não conseguiu. E finalmente o Lula chegou ao poder com o Zé Dirceu e o Genoino, que eram os grandes heróis da minha vida. Eu que vi o Genoino indo para o Araguaia e o Zé Dirceu em cima da kombi, discursando em passeata. Por isso não posso maltratar o Lula, o governo dele não acabou ainda. Eu lutei toda minha vida para isso…e agora a gente vai perder essa oportunidade? Daí a dificuldade de esculhambá-los,um dos motivos pelos quais o Pasquim acabou. Ficou desconfortável fazer humor pró-governo. O Pasquim se entregou mesmo’.’