Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Gabriela Carelli

‘O loirinho bonito que derrubava presidentes ficou no passado. Aos 61 anos, no topo de uma carreira jornalística lendária, que o transformou em estrela internacional quando desvendou o escândalo de Watergate, provocando a renúncia de Richard Nixon, Bob Woodward tende para o conservadorismo. Sob o impacto do 11 de Setembro, escreveu um livro excessivamente apologético sobre o ataque ao Afeganistão, Bush em Guerra. A invasão do Iraque propiciou uma nova obra, Plano de Ataque, a ser lançada no Brasil nas próximas semanas. Independentemente de suas simpatias, continua a ser uma usina de processamento de informações. Woodward teve também um acesso sem paralelos à Casa Branca para escrever Plano de Ataque. Entrevistou 75 funcionários do alto escalão do governo americano e teve vários encontros com o próprio presidente George W. Bush, captando detalhes preciosos de sua personalidade e forma de agir. ‘Ele está sempre no comando’, disse nesta entrevista, de Washington, a VEJA.

Veja – O Executivo americano funciona como nos filmes de Hollywood, em que o presidente se reúne com uma série de conselheiros, escuta todo mundo e então toma a decisão final?

Woodward – O governo atual é diferente porque tem seu perfil determinado pela personalidade e pelas necessidades do presidente George W. Bush. Na Casa Branca de Bill Clinton, tudo era debatido, até mesmo depois que as decisões tinham sido tomadas. Na de Ronald Reagan, havia uma série de regras. As pessoas costumavam escutá-lo, mas o presidente não se envolvia em detalhes. Já a Casa Branca de Nixon funcionava como uma quadrilha dedicada ao crime organizado.

Veja – Em que outros aspectos o governo Bush é diferente?

Woodward – No caso da invasão do Iraque, os principais assessores nunca se sentaram com Bush para questionar os argumentos dele em favor da guerra. O presidente provavelmente sabia o que cada um pensava. Tinha conhecimento, por exemplo, das advertências do secretário de Estado, Colin Powell, sobre as conseqüências e responsabilidades de uma guerra. Mas o presidente não levou isso em consideração. Bush não ouve ninguém. Em relação a Saddam Hussein, o presidente tinha uma convicção muito forte de que ele deveria ser tirado do poder, e o mais cedo possível. Essa foi a lição que tirou do 11 de setembro: não hesitar jamais.

Veja – O vice-presidente Dick Cheney, um dos grandes defensores da guerra no Iraque, tem fama de ditar as regras no governo Bush. Isso é verdade?

Woodward – Não há dúvida de que Cheney teve extrema importância na questão da guerra. Ele é provavelmente um dos homens mais poderosos do presidente. No caso do Iraque, descrevo Cheney como uma roda que fez o carro andar. Não por seus conselhos, mas, sim, porque o presidente sabia que Cheney era um negociador persistente e habilidoso. Sem alguém como ele para agir nesse campo quando fosse preciso, talvez Bush mudasse de idéia. Sua influência na guerra parou por aí. Todas as evidências, todas as fontes que ouvi abertamente ou em sigilo afirmam que, ao contrário do que dizem, não foi Cheney quem convenceu Bush a ir à guerra. Foi uma decisão única e exclusiva do presidente. Bush achava que Saddam Hussein era um problema e que tinha de derrubá-lo.

Veja – Por que tanta gente continua achando que Cheney é quem realmente manda no governo?

Woodward – Criou-se um mito em torno da influência dele, mas isso é coisa de quem não conhece o funcionamento da Casa Branca. O presidente é o detentor absoluto do poder. O vice não tem poder nenhum. Zero. Não dá para dizer sequer que ele é um conselheiro capaz de mudar a cabeça de Bush. Cheney se refere a Bush da maneira mais formal do mundo: ‘Senhor presidente, preciso conversar com o senhor, precisamos ouvir outras pessoas’. Há uma deferência natural de Cheney para com o presidente.

Veja – Depois de entrevistar o presidente e dezenas de pessoas próximas a ele, como o senhor definiria o perfil psicológico de Bush?

Woodward – Ele é direto, dedicado, responde a todas as perguntas nas entrevistas. Não é tão articulado quanto Henry Kissinger ou Bill Clinton, usa frases truncadas e não é capaz de enunciar um parágrafo do começo ao fim. Na verdade, não se expressa de forma nítida quando fala. Mas deixa claro o que quer dizer. Não negou nenhuma informação durante as entrevistas que fiz, mas sugeriu que fui maldoso uma ou duas vezes em determinados temas e que eu não deveria abordá-los novamente. Ele é amigável, mas durão. Está sempre no comando e é muito confiante. Confiante até demais. Tem intuição forte, mas, por ser muito dono de si, às vezes não dá atenção a informações importantes. Seu faro lhe disse que as dúvidas sobre a existência de armas de destruição em massa no Iraque poderiam lhe causar problemas. Mas, mesmo assim, ele foi em frente e fez Colin Powell afirmar na ONU, seis semanas antes de a guerra começar, que elas existiam.

Veja – Por que Bush costuma dar apelidos às pessoas mais próximas? Para firmar sua superioridade?

Woodward – Esse hábito de Bush pode realmente soar estranho quando não se está acostumado com ele. Eu, que estive com ele durante alguns dias, por horas seguidas, de um momento para outro percebi que não era mais Bob – era Woody. Mas ele não faz isso para desmerecer ninguém e nem de forma jocosa. É uma maneira que encontrou para se lembrar das pessoas.

Veja – Bush fala sério quando diz que tem uma missão divina a cumprir?

Woodward – Acho que sim. Perguntei a ele sobre isso e ele respondeu que tinha a missão de libertar as pessoas, que se sentia investido dela. Perguntei também se ele não achava que estava sendo perigosamente paternalista. Ele repetiu que tinha a obrigação de velar pelo povo. De outra feita, disse que vê a oportunidade de atingir grandes objetivos, que quer fazer uma coisa importante. Pareceu-me muito sincero. Algumas pessoas concordam com essa forma de encarar o mundo, outras discordam e acham que ele está no caminho errado.

Veja – Como o senhor explica que Bush, um conservador tradicional, tenha se convencido a mergulhar num projeto de ocupação ambicioso, que pretendia transformar o Iraque numa democracia exemplar?

Woodward – Ele acredita na democracia, nos benefícios de um lugar onde todos são tratados de forma igualitária. Muitas pessoas concordaram com ele. Outras acharam que ele extrapolou, que a democracia no Iraque era um objetivo distante demais. Um dia perguntei a ele sobre como a história iria julgar essa guerra e seus planos ambiciosos. Ele tirou as mãos do bolso, fez um gesto de quem não pode fazer nada e disse: ‘História? A gente não sabe sequer se vai estar vivo amanhã’.

Veja – A ocupação no Iraque tem se mostrado desastrosa. Em algum momento, antes da guerra ou em seu decorrer, Bush considerou a hipótese de fracassar?

Woodward – Bush previa dificuldades, mas não da forma como aconteceu. Não esperava a insurreição, a violência organizada nem imaginava um resultado tão sombrio.

Veja – O que o alto escalão da Casa Branca pensa hoje sobre a situação no Iraque?

Woodward – Publicamente eles não mudaram de idéia. Continuam com o discurso de que fizeram a coisa certa. Mas, internamente, estão a todo momento tentando se justificar e se explicar. No ano passado, o quadro era muito diferente. Antes da guerra, os principais envolvidos jamais consideraram a hipótese de rever seus conceitos e suas posições, de justificar os erros, mesmo entre eles.

Veja – A guerra no Iraque foi deflagrada porque o governo realmente acreditava que Saddam tinha armas de destruição em massa? Ou sabia que não havia armas e decidiu continuar assim mesmo?

Woodward – Eles tinham pistas que apontavam para a existência dessas armas e acreditavam realmente que elas existiam. Ainda acreditam e continuam procurando. O problema é que o diretor da CIA, George Tenet, cometeu um erro grave ao afirmar com veemência que elas existiam, sem ter certeza.

Veja – Como um diretor da CIA pode ser tão mal informado, como aconteceu com Tenet?

Woodward – Ele não estava mal informado. Agiu de forma errada. Deveria ter feito relatórios confidenciais afirmando que não havia certeza sobre a existência das armas. O problema é que isso tornaria a guerra mais difícil.

Veja – Se o senhor tivesse de avaliar o arrependimento de Bush de 1 a 10, que nota daria?

Woodward – Ele não se arrependeu.

Veja – Em nenhum momento?

Woodward – Acho que ele ainda acredita que fez o que era necessário, apesar das más notícias e de armas proibidas não terem sido encontradas. Quando o entrevistei, ele continuava a ter certeza de que havia agido corretamente. Disse-me de maneira muito incisiva, sem nenhuma dúvida.

Veja – O senhor é um dos poucos jornalistas que tiveram acesso aos bastidores da Casa Branca. O que realmente acontece lá?

Woodward – Na maior parte do tempo, o presidente tem uma agenda cheia. Ele só relaxa quando vai para sua fazenda, um lugar muito bonito. Nas ocasiões em que estive na Casa Branca, não aconteceu nada de excepcional. Ninguém dá festas, não há nenhum tipo de bebida alcoólica. Bush me ofereceu uma bebida, sim: Coca-Cola. Podia escolher entre a versão diet e a normal. Optei pela diet.

Veja – Desde o caso Watergate, os presidentes americanos passaram a ter a vida cada vez mais vigiada. O senhor acredita que esse controle tem de ser tão absoluto a ponto de entrar na vida pessoal do chefe de Estado, como aconteceu com Bill Clinton?

Woodward – Acredito que o trabalho da imprensa é vigiar o que o presidente e os poderosos estão fazendo e informar os leitores sobre o que encontrarem. No caso de Clinton, descobriram a relação com Monica Lewinsky. Uma coisa que posso dizer com certeza sobre a Casa Branca é que não há indício nenhum de que algo desse gênero esteja acontecendo agora.

Veja – Mas todo mundo sabia que John Kennedy tinha vários casos e, na época, ninguém se importava. Por que foi tão diferente com Clinton?

Woodward – Não, ninguém sabia àquela época. A vida privada dos presidentes era muito mais preservada. Nem sobre o caso de Kennedy com Marilyn Monroe se sabia. As pessoas, inclusive os jornalistas, tinham menos acesso às notícias. Os tempos eram outros também. Hoje vivemos a era do politicamente correto, qualquer deslize pode ser usado contra você. Principalmente quando se trata de pessoas públicas. Sinceramente, não sei se deveríamos preservá-los nessas situações. É uma questão muito complicada, pois envolve valores morais. As pessoas elegem os políticos por inúmeras razões, inclusive pelos princípios.

Veja – Os críticos de seu trabalho argumentam que desde Watergate o senhor se tornou um jornalista oficialesco. Costumam contrapô-lo a outro grande nome da imprensa americana, o jornalista Seymour Hersh, da revista The New Yorker, que publica reportagens que enfurecem a Casa Branca.

Woodward – Eu não estou aqui para fazer julgamentos. Estou aqui para contar a história de fato. Como tudo realmente aconteceu.

Veja – Que tipo de acordo o senhor faz para ter acesso às informações publicadas em seu livro?

Woodward – O mesmo que Hersh faz: dou garantias de que não vou revelar minhas fontes. Só isso. Com a diferença de que consigo convencer muitas pessoas a falar sem exigir sigilo, como o presidente Bush e o secretário de Defesa Donald Rumsfeld. Tenho, além dos bastidores, o lado oficial da história.

Veja – A pergunta inevitável: quando o senhor vai contar os detalhes que faltam e revelar a identidade de ‘Garganta Profunda’, a sua principal fonte no caso Watergate?

Woodward – A história será recontada com ele como personagem, mas isso só vai acontecer se ele mudar de idéia, o que não ocorreu ainda. Ou se ele morrer. Nesse caso, eu mesmo direi de quem se trata. Se eu ainda estiver neste mundo, é claro.’



ELEIÇÕES / EUA
Nelson Ascher

‘Bush vs. Kerry’, copyright Folha de S. Paulo, 26/07/2004

‘Daqui a poucos meses as pessoas mais poderosas do planeta farão uma escolha cujos desdobramentos afetarão a todos nós durante anos. Essas pessoas são o eleitorado norte-americano que decidirá, em novembro, se o republicano George W. Bush ficará mais quatro anos na Casa Branca ou se dará lugar ao democrata John F. Kerry.

Seja qual for o resultado, esta será a disputa presidencial mais importante dos últimos decênios, porque, ao contrário do que em geral acontece, o que vai estar em jogo no fim de 2004 não é tal ou qual doutrina econômica nem qualquer tópico que diga respeito principalmente aos cidadãos dos Estados Unidos. Pela primeira vez desde a Guerra do Vietnã ou os primórdios da Guerra Fria, as próximas eleições serão dominadas pela política internacional, e isso numa época em que o que quer que os EUA façam ou deixem de fazer repercute mais profundamente do que antes no resto do mundo.

A discussão, porém, não se limitará à campanha do Iraque, uma vez que a transferência de poder para um governo provisório local já está dando uma cara iraquiana, não mais americana, aos distúrbios de lá, e essa tendência deve se acentuar a cada mês que passa. O debate central, que envolve a reorganização estratégica e geopolítica do planeta, a dissolução de antigas alianças e a formação de novas, o futuro da Otan, da ONU, da União Européia e do processo de globalização, vai se encapsular numa única pergunta: como é que os Estados Unidos devem lidar com o terrorismo islâmico?

Desde que essa pergunta se colocou a sério com a instalação, 25 anos atrás, de um regime clericalista no Irã, a resposta era a de que tudo não passava de um caso de polícia a ser resolvido mediante a investigação, detenção, julgamento e condenação de indivíduos ou grupos de acordo com os parâmetros da justiça nacional e internacional. Depois dos mega-atentados de 2001 a atual administração passou a abordar a ameaça como uma questão militar.

A diferença entre ambas as abordagens não é somente nominal. A primeira vê o problema como algo superficial, incapaz de influenciar o destino de povos e nações, quase um fenômeno natural cujos efeitos podem ser mitigados, mas cujas causas não acharão uma cura a curto prazo. A segunda, contudo, o toma como um defeito estrutural da ordem internacional e como uma agressão que, se não for combatida, atingirá seus objetivos.

Enquanto os defensores da primeira falam em diplomacia, reformas, redistribuição de renda etc., afirmando que guerra é algo que se trava obrigatoriamente entre Estados, os da segunda insistem que o terrorismo decorre menos de estatísticas do que de uma ideologia e que movimentos subnacionais ou transnacionais são igualmente capazes de guerrear. Caso se trate de um caso de polícia, não há inimigos, mas sim suspeitos, todos eles inocentes até prova em contrário. Se o que está acontecendo, no entanto, é uma guerra, então os antagonistas são inimigos de verdade que precisam ser capturados ou mortos.

Bush, sem dúvida, defenderá sua orientação que, se temida ou desprezada no exterior, é popular em seu país. Kerry, para convencer os militantes de seu partido a fazerem dele o candidato à presidência, se contrapôs a Bush no início e agora, para atrair os eleitores centristas e indecisos, precisa se aproximar da orientação que combatera, tomando o cuidado de não alienar a esquerda democrata. Ele também procurará redirigir a discussão para a política interna, se bem que a recente retomada do crescimento econômico favoreça seu adversário.

Que Bush seja detestado ou temido no exterior, sobretudo na Europa ocidental, não traz alívio para Kerry, ainda mais porque ao antiamericanismo europeu contrapõe-se hoje em dia um novo e intenso antieuropeanismo americano. Nem as pesquisas de intenção de voto, que mostram Kerry alguns pontos na frente, chegam a ser demasiado importantes. Essas oscilam com freqüência e a única intenção de voto que conta é a definitiva, nas urnas. A posição de Bush é mais confortável do que seus inimigos gostariam de crer e nada o prova melhor do que o fato de que, a rigor, ele mal começou sua campanha.

A oposição ao presidente, desde a recontagem dos votos na Flórida, tem sido tão intensa e ininterrupta que seus adversários, usando e abusando cedo demais de vários entre os melhores argumentos de que dispunham, correm o risco de chegar às eleições com pouca munição. No meio tempo, os republicanos se mantiveram discretos e silenciosos, guardando seus trunfos para a hora certa. A torcida menos pró-Kerry do que anti-Bush na imprensa liberal americana, na Europa e mesmo no Brasil impede que se constate o óbvio, ou seja, que não há como se ter uma idéia informada do que sucederá em novembro antes de outubro.

Malgrado a caricatura, segundo a qual a administração atual é concomitantemente idiota e ardilosa, induzir muitos a verem em Kerry um salvador, alguém que reconduzirá a hiperpotência à normalidade dos anos 90, sua vitória, a esta altura, não está minimamente assegurada. O candidato democrata não é nenhum Clinton, e mesmo esse, para conseguir seu primeiro mandato, foi auxiliado por um terceiro candidato, o milionário conservador Ross Perot, que ficou com os votos necessários para a reeleição do pai de Bush. Convém tampouco esquecer que, numa democracia, a margem de manobra de qualquer presidente é exígua e que, se eleito, Kerry será compelido, especialmente no caso de um novo mega-atentado, a seguir boa parte da política internacional de seu antecessor.’



Kevin Anderson


"Convenção tem cobertura de blogueiros pela 1ª vez", copyright BBC Brasil (http://www.bbc.co.uk), 26/07/04


"As convenções partidárias que antecedem as eleições presidenciais nos Estados Unidos terão uma novidade neste ano: a presença de blogueiros, os irreverentes comentaristas da internet que pela primeira vez vão acompanhar esses eventos.


Os blogs ajudaram a reviver as antigas promessas de que a internet permitiria que toda e qualquer pessoa se tornasse um divulgador de notícias. O Partido Democrata, que teve no pré-candidato e ‘rebelde da internet’ Howard Dean um pioneiro no uso de blogs em sua campanha, abraçou a causa dos blogueiros.


O partido credenciou cerca de 35 blogueiros para a cobertura da convenção em Boston e até mesmo agências de notícias tradicionais como a Associated Press (AP) terão um blog. Na AP, o responsável pelo texto será o veterano analista político Walter R. Mears.


Em uma manobra no sentido contrário, a blogueira Ana Marie Cox, mais conhecida em Washington e em seu blog como Wonkette (´futriqueira´, em tradução livre), pulou das telas de computador para a telinha da TV. Cox vai comentar a convenção democrata para a MTV.


Delegado blogueiro


A atuação dos blogueiros não ficará restrita aos comentaristas políticos. Alguns delegados democratas – incluindo Karl-Thomas Musselman, o mais jovem delegado do Texas – também terão seus blogs.


O rapaz de 19 anos, que quando criança sonhava em ser o primeiro homem a pisar em Marte, despertou para a política nas eleições de 2000.


Musselman criou o seu site e o seu blog, o musselmanforamerica.com, porque estava concorrendo para representar um distrito com 480 quilômetros de extensão. A iniciativa revelou a possibilidade de um novo elo com os eleitores.


O site foi redesenhado para as convenções e Musselman espera conseguir atualizar o blog, com uma conexão sem fio, direto do encontro em Boston.


O delegado democrata diz não acreditar que os blogueiros vão suplantar a mídia tradicional, mas destaca o papel deles.


‘Os blogueiros vão oferecer um outro ângulo, um outro mercado para notícias e informação fora da convenção’, afirma Musselman.


‘Nós não estamos sob uma bandeira de ´justos e equilibrados´ (slogan da emissora Fox). Nós podemos ser um pouco mais irreverentes, mais críticos, mais analíticos’, acrescenta o blogueiro. ‘Essa é a natureza do que somos, e é por isso que as pessoas lêem blogs.’"



FT & GLOBALIZAÇÃO
Clóvis Rossi

‘Seus problemas acabaram’, copyright Folha de S. Paulo, 22/07/04

‘Agoniado e irritado com a carga fiscal? Se você é grande empresário ou executivo de multinacional, seus problemas acabaram. Não, quem anuncia não são as Organizações Tabajara, do Casseta & Planeta, mas um certo ‘Financial Times’, um dos melhores jornais do mundo.

O ‘FT’ botou sua equipe de investigação em campo para comprovar, com números, o que muita gente já intuía: a tal de globalização está levando as grandes corporações a uma feroz competição para ver quem paga menos impostos.

Diz o primeiro de dois artigos sobre o tema, publicado ontem, que as evidências encontradas ‘sugerem que as autoridades fiscais estão lutando uma batalha perdida contra a arbitragem de impostos, na qual companhias multinacionais localizam rendimentos, custos, empréstimos e lucros nas jurisdições mais favoráveis para os lucros globais do grupo’.

O jornal chama de ‘chocante’ o quadro que emerge do pagamento de impostos por 20 companhias ‘top’. Oito delas pagaram ‘somas negligenciáveis ou nenhum imposto’.

O jornal não diz, mas eu seria capaz de apostar que a maior parte dessas empresas, se não todas, edita, todos os anos, lindas brochuras para provar que cumprem maravilhosos programas de responsabilidade social, o já não tão recente mantra das corporações.

Há, no trabalho feito pelo ‘FT’, um claro choque entre responsabilidade social e desempenho corporativo. O valor das ações é cada vez mais um componente essencial para as empresas. Esse valor, por sua vez, pode sofrer variações significativas conforme o imposto pago. Logo, os executivos tratam de fugir de países que cometem o crime de cobrar impostos e vão para paraísos fiscais.

O problema é que, se o Estado já funciona mal cobrando impostos, sem cobrá-los ou cobrando cada vez menos de quem mais pode, irá à breca. Aí, caro leitor, se você não é nem grande empresário nem executivo de grande empresa, seus problemas apenas começaram.’