‘Em matéria de capa, revista acusa Chávez de ameaçar estabilidade na América Latina, repetindo recado de Condoleezza Rice. Veja, que exaltou o golpe de abril de 2002 contra Chávez, tenta firmar-se como o maior panfleto da direita brasileira.
Veja se autoproclama uma ‘revista semanal de informação’. Para obter sucesso, conta sempre com a falta de informação e de memória alheias. Veja, não nos esqueçamos, apoiou Collor no início. Em dezembro de 1994, chegou a classificar, em matéria de capa, o Plano Real como ‘O novo milagre brasileiro’. Para atacar o MST, não teve dúvidas em adulterar uma foto do líder do Movimento, João Pedro Stédile, ou de falsear informações sobre a luta pela terra.
Atravessado na garganta de Veja está o presidente da Venezuela, Hugo Chávez Frías. Os motivos são basicamente dois. Um é – chamemos as coisas pelos nomes – ideológico. Veja soma-se ao ódio de fundo – pelos nomes, pelos nomes! – classista, racista e político devotado ao mandatário venezuelano pela mídia de seu país, que o sataniza ao ponto de concluir tratar-se de um débil mental. A pauta é ditada pela imprensa estadunidense mais conservadora, tendo o Washington Post à frente. Veja acha que Chávez não é democrático. Até aí, é um direito de quem manda na publicação.
Estragou uma capa
Mas o ódio de Veja tem por base um outro elemento, mais concreto. Chávez estragou uma capa que deve ter dado muita satisfação à alta direção da empresa da família Civita. Recordemos a chamada de capa do número 1.747, datada de 17 de abril de 2002. A edição fechava na noite de sexta-feira, 12 de abril. Menos de 20 horas antes, a oposição a Chávez – composta por membros do empresariado, em aliança com o alto comando das forças armadas, setores da burocracia petroleira e a Casa Branca – consumara um golpe que o retirara do palácio de Miraflores, acabando com as instituições democráticas do país. Veja não teve dúvidas. Sapecou na capa a chamada ‘A queda do presidente fanfarrão’.
Na página 45, a revista sentenciava:
‘Chávez se considerava um Robin Hood bolivariano. Era mais um bufão, que entretinha o povão com programas de televisão em que se portava mais como animador de auditório do que como presidente. Sua queda foi recebida como boa notícia no mundo: melhorou o índice risco-país da Venezuela, a bolsa de Caracas disparou (alta de 8%) e o preço internacional do petróleo caiu 9%’.
Todos sabem o resto da história. Quando chegou às bancas, na manhã de domingo, a edição estava para lá de velha. Milhões de venezuelanos nas ruas e uma inédita divisão do exército abortaram o golpe. Veja sequer pediu desculpas aos leitores pela barriga, na semana seguinte. Se os fatos não se ajustam à manchete, danem-se os fatos, parece ser a máxima da direção de Veja. Imperdoável a petulância do mestiço em teimar voltar ao poder e estragar uma manchete do maior semanário brasileiro do mundo!
Condinha paz e amor
Agora, Veja volta à carga na edição desta semana, aliás, primorosa no que revela de sua linha editorial. A capa é eloqüente: ‘Quem precisa de um novo Fidel?’ Encimada pela expressão carrancuda do líder venezuelano, a manchete logo emenda: ‘Com milícias, censura, intervenção em países vizinhos e briga com os EUA, Hugo Chávez está fazendo da Venezuela uma nova Cuba’.
A entrevista das páginas amarelas é com a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice. O tom é todo Condinha paz e amor, como se vê pelo trecho seguinte: ‘Mesmo quando a missão inclui assuntos mais comezinhos, como as encrencas de Hugo Chávez na Venezuela e as hesitações brasileiras na Alca, Condi tem se saído extraordinariamente bem na Operação Simpatia. Sua espetacular história de sucesso a precede: nascida no coração racista da América, entrou na faculdade aos 15 anos, formou-se aos 19, doutorou-se com 26. Pianista, especialista em relações internacionais e fluente em russo, chegou a reitora de Stanford e, embora negue quase que diariamente, o caminho da Casa Branca é uma possibilidade no horizonte’.
Não há encrencas COM Hugo Chávez, mas encrencas DE Hugo Chávez, de acordo com o olho da entrevista. O pingue-pongue pauta a edição. Mas a grande arte está lá pelo meio da revista, sob o espirituoso título ‘O clone do totalitarismo’. Em seis páginas ficamos sabendo, entre outras coisas, o que se segue. Alguns comentários são colocados abaixo de cada trecho.
‘Chávez tem um objetivo claro: quer se tornar o grande líder de massas da América Latina’, disse à Veja o historiador venezuelano Manuel Caballero, o mais respeitado do país’. A revista conta com o desconhecimento dos leitores para fazer afirmações peremptórias. Manuel Caballero, com toda sua longa trajetória acadêmica, só é respeitado na Venezuela pelos monopólios privados da mídia e pelas elites econômicas. Tornou-se um destemperado e folclórico opositor de Chávez, a que volta e meia a imprensa estrangeira recorre em busca de frases bombásticas.
‘Chávez dá dinheiro e apoio político e técnico para movimentos de esquerda latino-americanos’.
Sequer a CIA consegue levantar uma única evidência de que tal fato esteja acontecendo.
‘Venezuela substituiu a União Soviética como patrocinadora do regime castrista em Cuba, fornecendo petróleo e abastecendo o país de bens de consumo industrializados, tudo a preço simbólico ou a fundo perdido’.
Não há preço simbólico ou fundo perdido. Há um acordo, firmado em 30 de outubro de 2000, pelo qual a Venezuela fornece a Cuba 53 milhões de barris diários de petróleo – metade do que a Ilha consome – a preços de mercado, com prazo de carência de até 15 anos. Além de pagar, Cuba compensa as condições de financiamento mediante o fornecimento de serviços médicos, educacionais e esportivos, além de remédios, vacina e açúcar. A íntegra do acordo pode ser lida em: http://www.asambleanacional.gov.ve/ns2/leyes.asp?id=175 Seria bom aos elementos responsáveis pelos textos de Veja darem uma lida antes de mentirem aos seus leitores.
‘O presidente venezuelano interfere nos assuntos internos de outros países de várias maneiras’.
Quem interfere em assuntos de outros países é o governo dos Estados Unidos. Só Veja, ao que parece, não se dá conta disso.
‘Hugo Chávez adotou um virulento discurso antiamericano’.
Qualquer pessoa medianamente informada sabe que isso não é verdade. Em várias oportunidades, Chávez afirmou que não tem nada contra os Estados Unidos, mas se opõe ao governo do país e suas práticas imperiais. A verdade é que Chávez tem um discurso antiimperialista.
‘Ele diz a toda hora que os americanos querem matá-lo ou estão prontos para invadir o país. Até agora, de real, o que se viu foi o governo de George W. Bush evitar respostas às provocações’.
Até agora o que de real se viu foi o governo Bush patrocinar, entre outras coisas, um golpe de estado. Uma recomendação aos redatores de Veja: encomendem o recém-lançado livro ‘El código Chávez – decifrando la intervención de los EE.UU. en Venezuela’, da advogada estadunidense Eva Golinger (Fondo Editorial Question, 336 páginas). O volume é resultado de uma exautiva garimpagem em documentos oficiais do Departamento de Estado e do Departamento de Defesa, obtidos sob o amparo da Lei de Liberdade de Informação (Freedom Information Act). Em suas páginas, a autora desvenda – com fartas provas e evidências – as relações entre a entidade conhecida por NED (National Endowment for Democracy) e a oposição venezuelana, incluindo fornecimento de dinheiro e uso de chantagem política e estímulo à violência. É ressaltado ali que o embaixador estadunidense, Charles Shapiro, foi o primeiro a se reunir com o líder do golpe de 2002, Pedro Carmona. E, entre muito mais, o livro detalha – com os números de matrícula – as embarcações e aviões dos EUA que entraram em águas territoriais venezuelanas, sem autorização, durante o golpe.
‘Uma das preocupações americanas decorre de compras de armas em quantidade muito acima do que seria razoável num país cujo Exército tem apenas 35.000 homens. De janeiro para cá, a Venezuela comprou mais de 7 bilhões de dólares em aviões de combate, helicópteros, navios e sistemas de radares. O pacote russo inclui 100.000 fuzis AK-47’.
A Venezuela tem investido nas forças armadas principalmente para defender suas fronteiras e para isso os aviões Super Tucanos são ideais. O que tem acontecido na divisa com a Colômbia é uma intensa provocação à Venezuela. As forças armadas do país presidido por Alvaro Uribe são dirigidas, armadas e instruídas pelos EUA, através do Plano Colômbia, – informação omitida por Veja – em seu combate à guerrilha das Farc, que controla 40% do país. A movimentação é clara: empurrar contingentes das Farc para o território venezuelano, na tentativa de se acusar Chávez de acobertar a guerrilha. E, claro, de cumplicidade com o terrorismo, qualificativo utilizado pela Casa Branca para classificar as Farc.
‘Em 1958, um pacto garantiu estabilidade política até os anos 90, um dos mais longos períodos de democracia do continente’.
Ninguém sério acredita nisso. Em 1958, as elites políticas e econômicas selaram o Pacto de Puntofijo, para criar uma alternância de poder de fachada, enquanto submetia a esquerda e as forças populares a uma duríssima repressão.
A matéria tem muito mais. É impossível dizer onde está a pior parte. É um panfleto, bem ao gosto do que faz na Venezuela a imprensa local. Como ela, Veja não trafega pelos caminhos do apego à realidade. Sua matéria prima é a ficção e a lorota pura e simples. É parte do novo coro golpista que se avoluma contra um governo democraticamente eleito, tendo como repetidores outros órgãos da imprensa brasileira.
Que os Civita façam isso, é papel deles. Mais uma vez – chamando as coisas pelo nome – é papel de sua classe social. A matéria é assinada por Diogo Schelp, Ruth Costas e José Eduardo Barella. São contratados e fazem o que o patrão manda. Servir bem para servir sempre, parece ser o lema. Talvez acreditem no que escrevam. Mas não deixa de ser deprimente a existência de gente que tope assinar uma peça totalmente editorializada e anti-jornalística, apenas para manter seus proventos no fim do mês.
É certo que a vida anda difícil, mas tem um pessoal que pega pesado.
Gilberto Maringoni, jornalista e cartunista da Agência Carta Maior, é autor de ‘A Venezuela que se inventa – poder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez’ (Editora Fundação Perseu Abramo) e observador, a convite do CNE, no processo do referendo revogatório na Venezuela.’
BUSH & JORNALISTAS
‘Laura, ‘dona de casa desesperada’’, copyright O Globo, 2/05/05
‘‘Essa piada velha de novo, não’. Assim a primeira-dama dos EUA, Laura Bush, interrompeu a fala do marido durante o jantar anual que o presidente George W. Bush oferece aos jornalistas que cobrem a Casa Branca. Num gesto ensaiado, Bush, que tradicionalmente faz um discurso cheio de piadas durante o jantar, cedeu o palco para a mulher, que roubou a cena. Laura Bush fez graça com o hábito do marido de dormir cedo. E chegou a se classificar como uma ‘dona de casa desesperada’ – referindo-se ao seriado ‘Desperate housewives’, sucesso da TV americana.
– Se você quer acabar com a tirania no mundo, terá de ficar acordado até mais tarde – disse Laura ao marido. – Tenho comparecido a esses jantares e ficado quieta por anos. Bem, tenho algumas coisas a dizer para variar – disse a primeira-dama sob aplausos da platéia, composta ainda de políticos e celebridades, como Richard Gere, Goldie Hawn, Jane Fonda, Mary Tyler Moore, Venus e Serena Williams, a top Elle MacPherson e o rapper L.L. Cool J.:
– São apenas nove da noite e o senhor Empolgado aqui está na cama e eu assistindo a ‘Desperate housewives’ com Lynne Cheney (a mulher do vice-presidente) – ironizou.
Laura Bush fez piadas sobre a juventude rebelde do marido:
– Eu era uma bibliotecária que trabalhava 12 horas por dia. Mas ainda assim, consegui encontrar George.
A primeira-dama arrancou risos ao lembrar do talento de caubói de Bush quando ele comprou uma propriedade em Crawford, Texas:
– Ele aprendeu um bocado sobre ranchos quando tentou ordenhar um cavalo – acrescentou.
A senhora Bush também ironizou a sogra, Barbara Bush:
– As pessoas pensam que minha sogra é uma avó doce. Mas na verdade ela está mais para Don Corleone – disse lembrando do personagem de Marlon Brando em ‘O poderoso chefão’.’
EUA, TERROR & MÍDIA
‘McVeigh, Bin Laden e a tecnologia’, copyright O Estado de S. Paulo, 1/05/05
‘O ataque a bomba no prédio de escritórios federal em Oklahoma City, desfechado por Timothy McVeigh, parece ter acontecido há menos de dez anos, mas seu décimo aniversário, no dia 19, parece não ter acontecido de todo. E, para fins práticos, não aconteceu.
Muitas notícias tiveram uma importância maior nos acontecimentos da semana – algumas delas compreensíveis (a escolha do novo papa), algumas nem tanto (no programa American Idol, o fim da jornada de Anwar). Esta falta de atenção se explica parcialmente pelo que aconteceu em Lower Manhattan seis anos após o bombardeio. A atrocidade de Osama bin Laden reduziu o tamanho da atrocidade de Timothy McVeigh em várias dimensões – mais americanos mortos por mais matadores com uma base política maior.
Embora o atentado de McVeigh pareça não ter acontecido há tanto tempo, também parece parte de uma época mais simples, antes que conhecêssemos o verdadeiro perigo.
Mas permitir que a lembrança de McVeigh desapareça tem seus perigos. Num sentido crucialmente instrutivo, ele e Bin Laden representam a mesma ameaça. Embora as ideologias deles sejam divergentes (estou imaginando que eles não teriam se dado bem), ambos estavam equipados com uma força que irá aparelhar os terroristas de amanhã ainda mais. Infelizmente, é uma força que o governo Bush tem uma profunda aversão em confrontar.
E não há melhor exemplo desta aversão do que uma das muitas pessoas que na semana passada receberam muito mais atenção da imprensa que Timothy McVeigh – John Bolton, a escolha do presidente Bush para embaixador na ONU.
A força à qual estou sombriamente aludindo é a tecnologia e, com certeza, tem sido muito discutida desde o 11 de setembro. Até produtivamente. Muita gente agora se dá conta com que teimosia a ameaça das armas de destruição em massa cresce. O progresso da biotecnologia, por exemplo, porá mais ferramentas e ingredientes de armas biológicas ao alcance de mais pessoas em companhias farmacêuticas, universidades e assim por diante. Há, também, um maior reconhecimento de como o progresso na tecnologia da informação ajuda grupos terroristas a fazer planos e orquestrá-los e até os ajuda a se formar e crescer.
Mas se realmente nos dermos conta do quão teimosas são essas tendências e como elas favorecem os terroristas ecumenicamente, manteríamos a imagem de McVeigh não apenas viva mas bem ao lado da de Bin Laden, E enxergamos as vidas que os dois homens levaram – mais de 150 em 1995 e quase 3 mil em 2001 – como os primeiros dois eventos numa seqüência nefasta. Timothy McVeigh pode parecer primitivo (uma bomba feita de fertilizante?), mas ele é primitivo no sentido clássico da palavra: representa a fase inicial de um crescimento natural.
Já em 1995, a microeletrônica estava ajudando grupos extremistas a aglutinar-se e solidificar-se. Eles fizeram circular fitas de vídeo como Waco, the Big Lie (Waco: A Grande Mentira), uma favorita de McVeigh. Era incendiário e mentiroso, como um vídeo de recrutamento da Al-Qaeda, apenas não foi distribuído online.
Depois que McVeigh realizou sua missão, a extrema direita usou rádios para dizer aos fiéis que o governo americano tinha feito isso para desacreditar a causa deles. (Parece familiar?) Da mesma forma, a bomba de fertilizante de McVeigh pode parecer singular em comparação com o antraz do pós-11 de Setembro ou os materiais nucleares que tememos que a Al-Qaeda possua, mas se encaixa na linhagem deles, se reduzirmos os três a sua fonte básica: crescente engenhosidade na preparação de força letal; maior disponibilidade dos ingredientes num mundo cada vez mais industrializado e interconectado; e crescente acesso, por meio da tecnologia da informação, aos conhecimentos necessários para usá-los.
É claro que as tecnologias da era Osama são mais ameaçadoras do que as da era McVeigh. Esse é o ponto. O que a internet de hoje é para o rádio de ondas curtas e as fitas de vídeo enviadas por correio, a internet de amanhã será para a internet de hoje. E as tecnologias da informação, como as de armas avançadas cujo uso elas tornam mais provável, propiciam oportunidades iguais para o islamismo radical, ambientalismo radical, neonazismo, o que for. Mesmo assim, a guerra ao terror nos EUA define a ameaça de forma mais estreita: lá, no ‘mundo islâmico’ ou no ‘árabe’ as coisas precisam mudar.
E é claro que precisam. Mas isso não será suficiente. Suponha que o método tenha um sucesso formidável, que dentro de 15 anos, a ‘sanha muçulmana’ tenha desaparecido. Se nós não tivermos atacado a parte da ameaça terrorista de crescimento geral – a tecnologia e suas conseqüências – ainda não estaremos seguros. Venha o próximo trauma sem precedentes da direita ou da esquerda, do exterior ou do ambiente doméstico, o 11 de setembro se desvanecerá em sépia como aconteceu com Oklahoma City.
Nem tudo sobre a política antiterrorismo dos EUA está centrado no mundo muçulmano. A política de segurança interna presta atenção a usinas de energia nuclear e laboratórios de tecnologia. Deixando de lado a questão se isso é feito adequadamente (resposta sucinta: não), não podemos tranqüilizar a pátria concentrando-nos somente nela. Como Bush tem enfatizado, temos que nos preocupar com as armas de destruição em massa no exterior, dada a dificuldade para detectar todos os frascos contendo germes ou cada bomba nuclear compacta e portátil que entra nos EUA.
Mas o método mais visível de ele abordar o problema – invadir um país se suspeitarmos que tem tais armas – é custoso demais (em vários sentidos) para ser aplicado universalmente.
A menos que tenhamos deixado passar uma opção, em última análise não existe alternativa para o controle de armas internacional. Terá de ser um controle de armas de um tipo criativamente restritivo, até mesmo visionário. E realizar isso será um longo caminho. Mas, por enquanto. os detalhes não contam porque o governo Bush se opõe à idéia básica.
Por que? Porque John Bolton não é apenas o subsecretário de Estado para controle de armas mas o espírito orientador, até agora, da filosofia de controle de armas do governo. Para conseguir que os outros países aceitem um monitoramento invasivo, os EUA teriam de se submeter a tal monitoramento. As pessoas da facção ideológica de Bolton insistem que isso resulta em sacrificar a soberania americana. E eles estão certos. Apenas é um sacrifício menos objetável à soberania do que permitir que terroristas explodam nossas cidades.
Semanas antes do 11/9, Bush antagonizou grande parte do mundo civilizado ao rejeitar um protocolo arduamente negociado na Convenção de Armas Biológicas. O protocolo teria reforçado o tratado, fazendo com que os países membros, que negam sob juramento a posse de armas biológicas, abrissem seu território aos inspetores.
Será que o 11 de Setembro e os ataques de antraz que se seguiram suavizaram a oposição do governo? Ou, uma vez que o protocolo era indubitavelmente imperfeito, será que o governo ao menos pode sugerir um regime de inspeções internacional alternativo? Dois meses após o 11/9, Bolton disse numa reunião de Estados membros que as respostas eram não e não. (Quem precisa de inspeções? Bolton disse à assembléia que a existência do programa de armas biológicas do Iraque era ‘indiscutível’).
A proeza no controle de armas com a assinatura de Bolton é a ‘iniciativa de segurança de proliferação’, que incentiva a interdição de navios suspeitos transportar munições ilícitas. Bolton diz que têm havido interdições segundo o acordo. O que ele não diz é que elas poderiam ter ocorrido sem o pacto porque ele não concede poderes de interdição. Tais poderes teriam de ser aplicados não só a navios estrangeiros mas também a navios navegando sob a bandeira dos EUA, o que, é claro, seria uma corrosão inaceitável da soberania americana.
Se o mundo de daqui a 20 anos quiser ser seguro em relação à tecnologia dessa época, teremos de tratar não apenas do suprimento de armas ilícitas mas da demanda por elas. O resultado das tendências tecnológicas que deram poderes a McVeigh e a Bin Laden é que, com o decorrer do tempo, o ódio se transformará em poder letal com crescente eficiência. Abafar o ódio é um desafio desconcertantemente vago, mas há coisas que podemos fazer em casa e no exterior.
Em âmbito doméstico, esta é uma discussão para o discurso civil, uma vez que nunca se sabe quando existe um garoto irritável, um McVeigh em potencial. No exterior, é uma discussão para exercer o poder com boa disposição. Às vezes você tem que antagonizar o mundo para fazer a coisa certa, porém, mais do nunca, devemos evitar antagonizar o mundo gratuitamente.
Por que será que a perspectiva de ter John Bolton representando os EUA na ONU me vem à mente de novo? (Robert Wright é membro da New America Foundation e do Center for Human Values (Centro de Valores Humanos) da Princeton University e autor do livro ‘Nonzero’. Escreveu este artigo para o ‘New York Times’)’
CHINA
‘Jornalista chinês proibido de viajar para receber prêmio’, copyright Último Segundo (www.ultimosegundo.com.br) / Agência EFE, 2/05/05
‘As autoridades chinesas proibiram o jornalista Cheng Yizhong de se deslocar a Dacar para receber o prêmio UNESCO-Guillermo Cano de liberdade de imprensa 2005, informou nesta segunda-feira o jornal independente South China Morning Post (SCMP).
Leia abaixo o texto
‘Lamento muito não poder ir a Dacar e me desculpo’, disse o jornalista, ex-redator chefe do jornal Southern Metropolis News e premiado pela Unesco por abrir ‘novos espaços’ ao jornalismo em seu país e sua ‘valente liberdade de palavra’ que se ‘ecoa os fracos e vigia os poderosos’.
Uma fonte citada pelo SCMP assegurou que as autoridades proibiram o jornalista de assistir a entrega do prêmio, que acontece nesta terça-feira na capital senegalesa por causa do Dia Internacional da Liberdade de Imprensa.
‘A tarefa mais importante agora é abordar o direito do público a saber e conseguir a transparência política. Como jornalista podes evitar dizer algo mas não tens direito a mentir. Dizer a verdade não é o ideal mas o mínimo’, disse o Cheng.
Ele denunciou que ‘há medo e mentiras por toda parte’ e que ‘nos estamos afastando cada vez mais da verdade. Se nos permitimos nos acostumarmos a esta situação, estaremos prejudicando a nós mesmos’.
No ano passado, o repórter foi detido cinco meses e libertado sem acusações mas com a proibição de exercer o jornalismo, em um polêmico caso que começou quando revelou, junto com outros dois jornalistas também detidos, a morte de um civil em uma delegacia pelas mãos da Polícia.
A Unesco destacou ainda seus artigos dedicados à Síndrome Respiratória Aguda Severa.’
MÉXICO
‘Jornalista Assassinada Pelos Cartéis Mexicanos’, copyright IBGF/WFM, 29/04/05
‘A jornalista GUADALUPE GARCIA, de 39 anos de idade, morreu hoje, domingo 17 de abril de 2005, por não suportar os ferimentos com projéteis disparados por narcotraficantes.
No dia 5 de abril passado (2005) GUADALUPE GARCIA foi alvejada com tiros de metralhadora quando deixava a sede da Rádio Nuevo Laredo. Ela vinha denunciado o tráfico de drogas em Laredo e para ingresso nos EUA.
Só neste mês de abril o México presenciou o assassinado de dois (2) jornalistas. Na semana passada, 11 de abril (2005) foi eliminado RAUL RIBB GUERRERO
O jornalista mexicano RAUL RIBB GUERRERO trabalhava no jornal ‘LA OPINION’ e fazia uma série de denúncias sobre corrupção e infiltrações na administração pública do Cartel do Golfo. Ele tentava, ainda, desvendar o desaparecimento de um seu colega jornalista em 2004, também encontrado morto.
Nuevo Laredo, no Estado de Tamaulipas
Acabou baleado por matadores contratados pelo Cartel do Golfo, como informou o magistrado Santiago Vasconcelos. Na fronteira com os EUA atuam três potentes cartéis de drogas:
1)Cartel Tijuana (Golfo da Califórnia- cidades de Tijuana e San Diego);
2)Cartel do Golfo (Golfo do México-Nuevo Laredo);
3)Cartel Juarez (cidade mexina de Juarez e norte-americana de El Passo).
Por Nuevo Laredo, onde trabalhava a jornalista Guadalupe Garcia, transita a droga que vai a Houston e Nova Orleans.’