Saturday, 02 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Gilson Caroni Filho

‘O envio ao Congresso de um projeto de lei criando o Conselho Federal de Jornalismo provocou reações que pouco contribuíram para o debate visando ao aperfeiçoamento democrático de nossas instituições. Do puro corporativismo de setores da mídia ao alarido udenista de seus intelectuais orgânicos, a proposta da Fenaj foi combatida por assertivas sofismáticas: estaria em curso um processo autoritário que, buscando ‘fiscalizar o exercício da profissão de jornalista e da atividade de jornalismo’, objetivava ameaçar a liberdade de imprensa e o direito do cidadão à livre informação. Até mesmo o procurador nacional antimáfia da Itália, Piero Luigi Vigna, que veio ao Brasil participar do Encontro Internacional de Combate à Lavagem de Dinheiro e Recuperação de Ativos se manifestou contrariamente, vendo na medida uma forma de controle eleitoral.

Estamos diante de uma constatação enganosa. Não se ameaça o que não existe. Quem quiser travar a boa luta deve ir à questão central: a estrutura oligopolizada e a propriedade cruzada dos meios de comunicação. Tangenciar esse ponto é trocar a substância pelo adjetivo fácil.

É evidente que o projeto deve ser aperfeiçoado, o que não significa demonizá-lo. Mas há de se remover premissas falsas da discussão. Historicamente, a imprensa brasileira nunca foi fiadora de qualquer processo democrático. Seu papel de intermediação entre Estado e sociedade civil, como destacou, em artigo memorável, o jornalista Ivson Alves, existe apenas no campo do imaginário jornalístico. A inserção na política se dá em aliança com setores do universo conservador, quando não do reacionarismo mais deslavado, e grupos empresariais preocupados exclusivamente com uma lei: a do valor.

Essa coalizão de interesses sempre combateu movimentos sociais que tentaram ampliar a institucionalidade estabelecida em sucessivas transições por alto . O surgimento de um regime que ultrapassasse os mecanismos representativos do sistema político excludente e do ordenamento jurídico aparelhado sempre foi o pesadelo das elites. Sempre exorcizado em contundentes editoriais. Podemos correlacionar o funcionamento da imprensa com democracia no Brasil. Mas será um exercício projetivo de imaginação. Calcada na história recente, tal correlação não tem qualquer fundamentação empírica.

Se remontarmos ao movimento político que, temendo as conseqüências da inserção de massas urbanas no jogo institucional, levou Getúlio ao suicídio, onde, com raríssimas exceções, encontraremos os grandes jornais da época? Aboletados na farsa que ficou conhecida como República do Galeão. Dez anos depois, mais que cúmplice, a mídia é protagonista do golpe militar. Primeiro como articuladora junto à opinião pública do arrazoado golpista. Posteriormente como legitimadora do regime que matou e torturou para zelar pelos interesses do grande capital. Esgotado o ciclo dos generais, a grande imprensa em geral, e a Rede Globo de forma particularíssima, se dedicaria a abortar a campanha das diretas-já. As demandas, saídas da panela de pressão do autoritarismo, davam um tom de imprevisibilidade ao processo político. Como lidar com o imponderável da práxis democrática?

Mais uma vez, era necessário conspirar, trair e sair com alguma legitimação política. Excetuando poucos veículos, o baronato da grande imprensa não se furtou, em nome dos próprios negócios, a prestar um último favor ao estamento que tanto o beneficiou em duas décadas.

Ao associarmos a grande imprensa ao que há de mais reacionário na história republicana do Brasil, não ignoramos o papel de vários profissionais que, em muitos casos, pagaram com a própria vida o preço de ter ido contra regimes que tinham sustentação simbólica da empresa em que trabalhavam. Nosso objetivo é tão-somente mostrar que não há estupradores autoritários à espreita de uma senhora virtuosa e democrática. Talvez o maior mérito da discussão envolvendo a proposta de criação de um Conselho Federal de Jornalismo seja o de repensar a prática jornalística sem ilusionismo. No presente ano, celebramos o cinqüentenário do ‘tiro que mudou a história’. O golpe militar completou 40 anos e exatas duas décadas nos separam do movimento pela restauração da eleição direta para a Presidência da República. A imprensa dedicou suplementos aos episódios. Só não fez, seguindo exemplo recente dos grandes jornais americanos, mea-culpa por sua participação decisiva em movimentos antidemocráticos. A mídia não manda flores. Ordena o esquecimento.’



MP vs. DANIEL DANTAS
Fernando Rodrigues

‘Luiz Francisco propõe ação contra Dantas’, copyright Folha de S. Paulo, 5/09/04

‘O procurador da República Luiz Francisco de Souza apresentou na última quarta-feira uma ação de improbidade administrativa, combinada com ação civil pública, contra o grupo Opportunity e seu dono, o banqueiro Daniel Dantas, e outras pessoas.

A novidade dessa ação do mais famoso integrante do Ministério Público é a forma como foi preparada a peça acusatória.

O arquivo de computador usado por Luiz Francisco tem como autor Marcelo Elias, que vem a ser advogado e sócio de Luís Roberto Demarco, o maior inimigo público do Grupo Opportunity.

Com 64 páginas, a ação de Luiz Francisco foi redigida em programa de edição de textos ‘Word’, da multinacional Microsoft. Quando um novo arquivo é criado dentro do ‘Word’, a máquina atribui ao documento dados do proprietário do programa ou do microcomputador que está sendo usado. Essa identificação só não ocorre se o autor decide apagá-la deliberadamente.

No caso da ação de Luiz Francisco contra o Opportunity, o arquivo apresenta para o campo ‘empresa’ a Nexxy Capital Brasil Ltda., que é de propriedade de Luís Roberto Demarco.

Um outro procurador, Lauro Pinto Cardoso Neto, assina a ação, mas é Luiz Francisco quem investiga esse caso há alguns anos e sempre assume publicamente a autoria das acusações.

Há, pelo menos, duas hipóteses para o que ocorreu no que diz respeito à autoria da peça acusatória apresentada contra o Opportunity: 1) a ação foi redigida pelo advogado de Demarco e enviada a Luiz Francisco para que o procurador a assinasse; 2) Luiz Francisco recebeu informações em meio eletrônico e começou a redigir a ação sobre um desses arquivos, sem ter o cuidado de alterar os registros de propriedade (nome do autor, empresa etc.).

‘Infâmia’

A Folha procurou Luiz Francisco, Demarco e Marcelo Elias. A reação do procurador foi no sentido de diminuir o problema. ‘Isso é uma infâmia. Querem tentar desqualificar a ação por causa de um detalhe irrelevante’, disse.

O procurador reconheceu que o arquivo de computador ao qual a Folha teve acesso saiu de seu gabinete. Para ele, entretanto, não há problema no fato de o autor aparecer como sendo Marcelo Elias, advogado de Demarco.

‘[É] uma tentativa de desqualificar a acusação. O Marcelo Elias também é advogado da Previ. Mandou material para mim porque requisitei. Recebi dezenas de informações de várias fontes. Aproveitei alguns dados, posso ter colado uma coisa sobre a outra, mas sou eu o autor. Ninguém fez para mim’, declarou.

Quando é feita uma operação de ‘colagem’ do trecho de um documento sobre o outro, não há modificação do nome do autor no registro digital. Tomando como fato o que diz o procurador, ele deve ter redigido sua ação sobre um arquivo recebido de terceiros -no caso, o advogado Marcelo Elias.

Indagado se não foi uma imprudência redigir 64 páginas sobre um arquivo cuja autoria inicial era de outra pessoa, sem ter o cuidado de alterar esse registro, Luiz Francisco respondeu: ‘É mais uma mostra da minha inocência. Não sou vilão. Não fiz nada de errado’. Já Demarco confirma ser dono da Nexxy e que Marcelo Elias é seu sócio e advogado. Elias tem uma participação na empresa Internet Co., de Demarco. É comum ele usar os computadores da empresa para enviar e-mails.

Ao comentar o caso, Demarco disse: ‘Esse episódio é gente que trabalha para o Daniel Dantas querendo desqualificar a ação’.

No arquivo usado por Luiz Francisco, Elias aparece identificado como ‘marceloe’. Consultado pela Folha, ele não quis se manifestar. Só confirmou que ‘marceloe’ é uma das formas de se identificar e que enviou vários e-mails para Luiz Francisco, sempre ‘dentro da legalidade’ para ajudar nas investigações.’



Consultor Jurídico

‘O DNA da ação’, copyright Revista Consultor Jurídico (http://conjur.uol.com.br), 3/09/04

‘O segredo de um bom procurador da República está em suas fontes e na rapidez com que produz suas denúncias. O procurador Luiz Francisco de Souza reúne essas qualidades.

Mas na última quinta-feira (2/9), surgiu uma dúvida a respeito da alta produtividade do mais famoso integrante do Ministério Público no país. Uma Ação de Improbidade Administrativa combinada com Ação Civil Pública apresentada por ele um dia antes, apresentou uma esquisitice.

O arquivo em que foi digitada a ação não tem origem na Procuradoria, onde Luiz Francisco trabalha, mas no computador de um empresário que é parte interessada na causa em questão. O autor do arquivo seria o advogado do empresário, Marcelo Ellias.

O procurador rechaça com veemência que tenha apresentado uma ação que não seja de sua autoria. Mas não explicou porque ao se checar a origem do arquivo, verificando suas propriedades, o computador registrado é da Nexxy Capital Ltda., empresa de propriedade de Luiz Roberto Demarco.

A ação é contra 18 pessoas e empresas, mas o alvo principal é o administrador de fundos de investimentos Daniel Dantas. Demarco é seu desafeto, adversário e inimigo.

‘Eu e só eu sou o autor intelectual desta ação em que trabalho há mais de três anos’, garante Luiz Francisco. ‘Tenho aqui todos os documentos, todas as minutas que comprovam que o autor da representação sou eu’.

O arquivo da petição foi enviado pela secretária do procurador ao site Consultor Jurídico. O nome do arquivo chamou a atenção por conter a expressão ‘Ufa Ufa Ufa’. O inusitado provocou a curiosidade. Todo arquivo do editor de textos Word contém os dados básicos de sua criação, como a empresa em que está registrado o computador, o usuário da máquina, a data de criação do arquivo e até mesmo quando se deu a última impressão do arquivo. Uma rápida checagem mostrou que a data de criação do arquivo ou o dia em que fora gravado no computador da Procuradoria foi a última terça-feira (31/8). A petição tem data de 1º de setembro.

A primeira hipótese apresentada pelo site a Luiz Francisco foi a de que ele poderia ter recebido um arquivo da Nexxy, apagado o conteúdo anterior e redigido nela sua petição. O procurador repeliu a possibilidade. Mais adiante, suscitou o fato de os computadores da Procuradoria serem máquinas apreendidas pela Receita, como a sugerir que o equipamento de seu uso pudesse ter sido antes da empresa. Luiz Francisco fez outras considerações. ‘Parte de meu trabalho é digitada no computador de minha secretaria e costumo usar o computador de minha casa também’. Mas ele mesmo descartou a hipótese de um desses computadores pertencer ou ter pertencido a outrem.

Em outros telefonemas feitos para a redação da Consultor Jurídico, o procurador cogitaria de outras possibilidades, como a de ter usado um disquete que lhe foi emprestado há tempos por Marcelo Ellias, quando este advogava para a Caixa de Previdência do Banco do Brasil (Previ). Essa possibilidade, contudo, não parece combinar com a data de criação do arquivo, 31 de agosto último.

Em pelo menos três vezes, Luiz Francisco invocou como prova da sua absoluta correção, o fato de ser socialista e de ser sua tarefa ‘destruir o capital, como escrevi em meu livro’. O Opportunity seria a incorporação do que há de mais nocivo na humanidade. E revelou que para livrar o país desse problema tem lançado mão de todos os recursos. ‘Já fui à CVM, à CPI do Banestado, à Advocacia-Geral da União, ao Senado, à Controladoria-Geral da União e vou onde puder ir para cumprir a minha missão’.

Depois de mandar a ação, Luiz Francisco afirmou que a publicação da mesma não estava autorizada e que o envio serviu apenas para que se produzisse uma notícia a respeito. ‘Vou tirar até o último tostão de vocês se o site publicar essa história’, avisou ele. ‘Não pra mim, que não quero dinheiro, mas para um asilo de cegos’, acrescentou, completando que a ‘a partir de agora as portas do Ministério Público estarão fechadas para vocês’.

A reportagem procurou o empresário Luiz Roberto Demarco e seu advogado, Marcelo Ellias, mas nenhum dos dois respondeu aos pedidos e recados deixados pela revista. Ao primeiro por meio de sua secretária, Magna. Ao segundo, pelo celular.

Cenas insólitas

Em um primeiro momento, Luiz Francisco convidou a reportagem para verificar se, em seu computador, haveria algum vestígio de arquivo produzido fora da Procuradoria.

Ao ser procurado, em Brasília, pelo correspondente da revista Consultor Jurídico, Vicente Dianezi, o procurador adotou uma atitude incomum e inédita em sua história. Não permitiu a entrada em sua sala.

Pela primeira vez, recusou-se a receber um jornalista em seu gabinete. Afinal, os anais da imprensa registram atos do procurador como o de ter pegado emprestado o gravador do jornalista Andrei Meirelles para gravar, através da divisória do gabinete contíguo sua rumorosa conversa com o senador Antonio Carlos Magalhães, quatro anos atrás.

‘Só converso com jornalistas investigativos e não sei quem são vocês’, disse pelo telefone ao ramal da portaria. Acrescentou que poderia nos receber na quarta-feira, dia 8, quando apresentaria toda a documentação de três anos para cá do caso Previ/Opportunitty. Foi-lhe solicitado então que apenas enviasse para o saguão a cópia de qualquer outra petição gravada na fonte estrangelo edessa, a mesma da ação civil. Essa fonte, pouco usada, costuma ser encontrada em empresas de informática, como a Nexxy.

Como não tinha a fonte em seu computador, mandou por intermédio de sua assistente, a cópia de um ofício, datado de 1999, mas a fonte era arial. Dirigiu-se então ao saguão. Recusou-se a estender a mão ao jornalista. Muito alterado, foi dizendo que sua luta era pelos direitos humanos, pelos pobres e contra o capital. O procurador falava alto, borrifava saliva e envolvendo toda essa emoção cuspiu a obturação que passou procurar no chão, do alto de seus cerca de 1m80 de altura.

‘Ninguém vai macular a minha imagem.Se tentarem isso, vou à Justiça buscar tostão por tostão e darei para o hospital da hanseníase’. De pouco adiantou explicar que a única intenção era a de encontrar uma explicação para aquela fonte de texto incomum nas petições oficiais. ‘Talvez seja coisa do Marcelo Ellias que sempre vem aqui. Ele pode ter trazido um disquete’. Indagado sobre a freqüencia com que se avista com Marcelo Ellias, recusou-se a responder. Ele esteve aqui este ano? ‘Sim, esteve’. Quando foi a última vez? Nada respoudeu. Disse apenas que Ellias era advogado da Previ.

Mais raivoso ainda disse que recebeu a informação ‘na semana passada’ de que o Consultor Jurídico era ‘patrocinado pelo Grupo Opportunity’. ‘Estou investigando’, acrescentou.’Não são vocês que vão macular a minha imagem… Eu vivo do minguado salário que recebo aqui…’. E dirigiu-se ao elevador, retirando-se, falando alto: ‘Não tenho nada com a Nexxy Capital. Eu sou contra o capital’.’



MARINHO NO CCS
Maurício Hashizume e Nelson Breve

‘Executivo do JB pode ocupar cadeira da sociedade no CCS’, copyright Agência Carta Maior (www.agenciacartamaior.com.br), 2/09/04

‘Mais uma vez, o Conselho de Comunicação Social (CCS) pode ter um empresário do setor como representante da sociedade civil. Paulo Marinho, vice-presidente comercial e ‘braço direito’ do principal acionista (Nelson Tanure) do Jornal do Brasil (JB), foi indicado pelos líderes do PSDB e do PFL no Senado, Arthur Virgílio (AM) e José Agripino (RN), respectivamente, para uma das cadeiras do concorrido Conselho. Atualmente, Jayme Sirotsky, do grupo Rede Brasil Sul (RBS), ocupa uma das cinco vagas reservadas ao segmento que, pelo menos teoricamente, deveria garantir o interesse público nas discussões do CCS, espaço institucional ligado ao Senado.

De acordo com fontes consultadas pela reportagem da Agência Carta Maior, as indicações do ‘número dois’ do JB teriam sido ‘recomendadas’ pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). O ex-presidente da República chegou até a realizar reuniões informais com o objetivo de fortalecer a ‘campanha’ do executivo do tradicional diário com sede no Rio de Janeiro. Vale ressaltar que a dupla Marinho/Tanure esteve garimpando apoio até em gabinetes do Palácio do Planalto.

Em 2001, uma conversa telefônica grampeada entre Marinho e o então colunista do concorrente O Globo, Ricardo Boechat, foi parar nas páginas de uma revista semanal de grande circulação. As transcrições revelaram os detalhes da negociação para que Boechat publicasse, como publicou, matéria para ser usada como prova de defesa de Tanure numa ação cautelar contra o Banco Opportunity de Daniel Dantas. Na ocasião, o dono do JB se unira ao grupo canadense TIW em uma disputa ferrenha com Dantas pelo comando das empresas de telefonia Telemig Celular e Tele Norte Celular. Por causa da conversa gravada e publicada, Boechat foi demitido do jornal da família Marinho.

A comunicação social é o assunto do momento. O generoso espaço dado pela própria mídia para o debate sobre a criação do Conselho Federal de Jornalismo (CFJ) contrasta, no entanto, com a pouca atenção dada pelos veículos eletrônicos e impressos à renovação dos integrantes do CCS, constituído há dois anos justamente para avaliar as questões relativas à matéria. O Conselho está previsto desde a Constituição de 1988, mas foi instalado de fato apenas em 2002, como resultado de uma negociação política para a aprovação da emenda constitucional que ampliou a possibilidade de participação de empresas estrangeiras em até 30% do controle acionário dos empreendimentos nacionais do setor de comunicação social.

A composição definida para o Conselho é a seguinte: três representantes do empresariado, um membro da área técnica, quatro integrantes das categorias profissionais envolvidas (artistas, jornalistas, radialistas e técnicos de cinema) e cinco conselheiros da sociedade civil em geral. O que dá um total de 13 conselheiros titulares. E cada um tem o seu suplente. Para todos os conselheiros, o mandato vale por dois anos. O prazo estabelecido para o término de vigência da primeira e atual formação do CCS terminou em junho passado. Foi quando se esgotaram os dois anos que se seguiram desde a inauguração da instância consultiva.

A escolha dos novos conselheiros só poderá ocorrer em uma sessão conjunta do Congresso Nacional, o que provavelmente deve ocorrer só depois das eleições municipais de outubro. Novas indicações ainda podem ser protocoladas no Congresso por qualquer entidade ou parlamentar. Antes de efetivar e dar posse aos novos conselheiros e conselheiras, os presidentes do Senado e da Câmara devem promover um acordo político sobre os nomes e apresentar uma nominata com os novos membros do CCS que precisa ser ratificada pelo Plenário.

Além do executivo do Jornal do Brasil, outras duas pessoas já receberam indicação de parlamentares para compor o grupo que representará a sociedade civil em debates sobre temas importantes como a iminente convergência tecnológica que promete revolucionar toda comunicação social e, por conseqüência, a própria sociedade.

O deputado federal José Carlos Aleluia (BA), líder do PFL na Câmara, recomendou o engenheiro Sávio Pinheiro para fazer parte do CCS. O indicado é nada menos que o representante no Brasil do fórum que promove pelo mundo todo o padrão norte-americano (Advanced Television System Comitee-ATSC) de TV Digital. Ex-diretor para o cone sul da multinacional Motorola e ex-presidente do Conselho Consultivo da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Pinheiro trabalha atualmente como consultor e é vice-presidente do comitê de estudos gerais da Associação Brasileira de Direito pela Informática e Telecomunicações (ABDI) desde 2001.

O campeão de indicações de políticos, entretanto, foi o empresário Marcílio Novaes, presidente da Associação Nacional de Empresas de Televisão e Tecnologia (Anertt). Novaes é filho do ex-deputado federal Manoel Novaes, dono do recorde de permanência no Câmara Federal com 12 mandatos. Próximo ao Partido Progressista (PP), ele recebeu indicações de 11 parlamentares. Intercederam pelo empresário junto à Presidência do Congresso o vice-presidente da Casa Inocêncio de Oliveira (PFL-PP), os senadores Teotônio Vilela Filho (PSDB-AL), Gilberto Mestrinho (PMDB/AM), Alberto Silva (PMDB-PI), Edison Lobão (PFL-MA), Efraim Morais (PFL-PB) e Sérgio Guerra (PSDB-PE), além dos deputados federais Severino Cavalcanti (PP-PE), José Borba (PMDB-PR), José Múcio Monteiro (PTB-PE) e o deputado e presidente de partido Pedro Corrêa (PP-PE).

Marcílio Novaes tem negócios no ramo da aviação, das comunicações e de comércio eletrônico. A Agência Carta Maior tentou entrar em contato com o presidente da Anertt, mas o telefone indicado no site da entidade (http://www.anertt.com.br/) não está em funcionamento. A reportagem foi, na tarde desta quarta-feira (1º), até o endereço da sede da entidade divulgado também pelo site. A sala não tem nenhuma identificação da entidade e abriga uma empresa de assessoria jurídica. O funcionário que atendeu a Agência Carta Maior confirmou que o espaço funcionava também como sede da Anertt. Ele disse ainda que os porta-vozes da entidade estavam ausentes por problemas de ordem pessoal e pediu para que a reportagem retornasse ao local no dia seguinte.

Em entrevista ao Portal Brasil (www.portalbrasil.net), ligado à Anertt, Novaes aponta como missão institucional da entidade a coordenação das empresas associadas ‘em defesa da democracia e do Estado de direito, da integração nacional, da livre iniciativa e dos legítimos interesses das empresas e emissoras do setor de radiodifusão, televisão, telecomunicações e novas tecnologias aprovadas; sustentar a livre expressão do pensamento, da informação e da propaganda’.

Os três – Paulo Marinho, Sávio Pinheiro e Marcílio Novaes – são os únicos que mereceram, até agora, a indicação direta de parlamentares. Os outros 12 concorrentes às vagas reservadas aos representantes da sociedade civil foram indicados por suas respectivas organizações. Só para citar três entidades de envergadura nacional, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) (veja quadro abaixo) fizeram indicações.

As lideranças do governo nas duas Casas (Senado e Câmara) ainda não fizeram nenhuma indicação. Bem como o PT, partido do presidente Lula.

Parlamentares que fizeram as indicações dos três aspirantes destacados nesta matéria – e somados a eles o presidente do Senado José Sarney – foram procurados pela Agência Carta Maior. Muitos não foram encontrados e aqueles que responderam preferiram não justificar publicamente as recomendações.

Demais indicados para representar a sociedade civil no CCS (até agosto de 2005)

CONSELHEIRO TITULAR ENTIDADE

Dom Orani João Tempesta

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

Luiz Flávio Borges D´Urso

Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)

Edson Ribeiro Baeta

Conselho Nacional dos Procuradores-Gerais de Justiça (CNPGJ)

João Batista Costa Saraiva

Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) / Associação Brasileira de Magistrados e Promotores de Justiça da Infância e da Juventude (ABMP)

Ricardo Figueiredo Moretzsohn

Conselho Federal de Psicologia (CFP) / Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC)

Petrônio Cunha Corrêa

Associação Brasileira de Agências de Publicidade (Abap)

Arnaldo Niskier

Associação Brasileira de Difusão do Livro (ABDL)

Guilherme Canela

Agência de Notícias do Direito à Infância (Andi)

Jorge da Cunha Lima

Associação Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais (Abepec)

Luiz Carlos Bernardes – Comitê pela Democratização da Comunicação de Minas Gerais

Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC)

Gabriel Priolli – Associação Brasileira de Televisão Universitária (ABTU)

Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC)

Elisa Monteiro Andrade da Silva – Executiva Nacional de Estudantes de Comunicação Social (Enecos)

Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC)’



Milton Coelho da Graça

‘Paulo Marinho quer vaga no CCS’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 1/09/04

‘Uma fonte superconfiável do Senado me informa que Paulo Marinho,vice-presidente comercial do Jornal do Brasil, diretor da sucursal de Brasília e o executivo de maior confiança de Nelson Tanure, proprietário do jornal está agindo junto aos senadores para ser nomeado membro do Conselho de Comunicação Social. Legalmente, os mandatos do primeiro Conselho já estão vencidos há meses, mas só agora o Senado está cuidando de indicar os novos membros.

Infelizmente, Fenaj e entidades sindicais não estão promovendo para os jornalistas e a sociedade em geral a importância de discutir e compor um novo CCS realmente representativo e democrático.’