Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Gina de Azevedo Marques

‘Apesar das ameaças dos aliados de romper a coalizão, o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, garantiu ontem no Parlamento que seu governo de centro-direita vai sobreviver até o fim da atual legislatura, em 2006. O racha entre os partidos de maioria culminou com a votação sobre a comissão de vigilância RAI, a cadeia pública de rádio e TV. A União Democrática de Centro (UDC), que integra o governo, aprovou uma moção junto com a oposição para que o atual conselho administração da televisão estatal se demita até o fim de setembro.

A tensa jornada política começou com o debate no Senado sobre a situação do governo. Berlusconi tinha que responder aos diversos pedidos dos aliados insatisfeitos. As maiores críticas dentro da coalizão vinham dos membros da União Democrática de Centro. Eles pediam também uma resposta sobre a a substituição do ministro da Economia, Giulio Tremonti, demitido no início do mês, e reivindicavam um retorno ao sistema de voto proporcional, em vez do atual, majoritário.

Berlusconi admite reformas para superar diferenças

O partido da Liga Norte, na ausência do líder Umberto Bossi, hospitalizado desde 11 de abril devido a um derrame cerebral, pedia uma reforma federalista. Berlusconi tentou contentar os aliados, indicando estar pronto para modificar seu programa de reformas para manter o governo unido.

– Não podemos voltar atrás no sistema bipolar, mas pode-se pensar numa lei eleitoral que inclua uma alternativa. Em relação à reforma federalista, nos empenhamos a votá-la até setembro, melhorando as propostas que já fazem parte do nosso programa de governo – disse.

Sem fazer menção ao substituto de Tremonti, Berlusconi explicou que continuará ocupando a pasta da Economia pelo tempo que for necessário. As palavras do primeiro-ministro pareceram acalmar os aliados, mas a votação sobre a RAI voltou a sacudir a coalizão. O ministro do Trabalho, Roberto Maroni, atual líder da Liga Norte, ameaçou sair do governo e declarou, fora do Parlamento:

– Berlusconi deve entender que a maioria não existe mais – disse Maroni.

Em seguida, na Câmara dos Deputados, Berlusconi, ignorando a declaração do ministro do Trabalho, continuou a oferecer garantias de união, pedindo para que seus parceiros superassem as diferenças que paralisaram o Gabinete.

Os aliados demonstraram uma moderada satisfação, confirmando a permanência no governo. Os partidos da oposição protestaram. Segundo eles, as feridas continuam abertas.

– Berlusconi deve assumir que esta coalizão se rompeu e oficializar a crise de governo – disse Piero Fassino, secretário do Democráticos de Esquerda (DS), o maior partido da oposição.

Os resultados das eleições européias e regionais na Itália demonstraram a queda de popularidade do partido de Berlusconi. Em contrapartida, seus aliados ganharam força a ponto de reivindicar mais voz dentro do governo. O primeiro-ministro teve que atender a estas reivindicações, admitindo que se as eleições fossem antecipadas, a oposição de centro-esquerda seria vitoriosa.’



Folha de S. Paulo

‘Ameaçado, Berlusconi perde votação’, copyright Folha de S. Paulo, 15/07/04

Premiê não acalma aliados e sofre derrota em voto sobre a Rai no Parlamento

O premiê da Itália, Silvio Berlusconi, buscou ontem pôr fim às divisões que ameaçam a estabilidade da coalizão que apóia seu governo, oferecendo concessões aos democrata-cristãos, e disse esperar permanecer no poder até o final de seu mandato de cinco anos, em 2006.

Mas sua tentativa de acalmar seus aliados foi minada pela União Democrática do Centro (UDC, partido democrata-cristão), que desafiou seus parceiros do governo e apoiou a oposição em seu esforço para depor o conselho de administração da influente rede de rádio e TV RAI.

Na Câmara Baixa do Parlamento, Berlusconi, visivelmente preocupado, prometeu modificar seus planos de cortar impostos, reformar o sistema eleitoral e buscar um novo ministro da Economia. Tudo isso para reconquistar o apoio dos democrata-cristãos.

‘Tenho certeza de que saberemos reencontrar o ímpeto necessário para cumprir a promessa que fizemos aos italianos’, disse.

Partidos oposicionistas de centro-esquerda criticaram a intervenção do premiê, que ocorreu pouco mais de uma hora depois da votação para remover o conselho de administração da RAI. Com os votos da UDC, a oposição conseguiu vencer o governo.

A UDC tem dito que os diretores da RAI são favoráveis demais ao governo Berlusconi e que uma recente reforma das leis que regulam as telecomunicações fez com que uma mudança no conselho de administração da rede fosse necessária. Desde que assumiu o poder, em 2001, Berlusconi é acusado de buscar controlar a mídia italiana, já que possui as maiores redes de TV privadas e, como premiê, controla a estatal RAI.

Outro partido de sua coalizão, a populista Liga Norte, disse que a votação sobre o conselho de administração da RAI significava que Berlusconi não tinha mais maioria no Parlamento para sustentar seu governo.

‘A maioria parlamentar não existe mais. Berlusconi deveria fazer algo a respeito disso’, disse o ministro do Trabalho, Roberto Maroni, que é da Liga Norte.

A UDC insistiu em que a questão da remoção do conselho de administração da RAI não tem nada a ver com seus problemas com Berlusconi, argumentando que, com ela, não pretendia derrubar o governo.

Suas exigências atingem o coração do governo, já que incluem uma ameaça à Liga Norte, que quer uma maior descentralização administrativa. Esta daria bem mais força à regiões em detrimento do poder central. Os democrata-cristãos, que são mais centralizadores, exigem que esse projeto seja abandonado.’



ORKUT
Lulie Macedo

‘Orkut reúne ‘amigos’ e vira panelinha virtual’, copyright Folha de S. Paulo, 18/07/04

‘Nada como a tecnologia para fazer a gente se sentir obsoleto. As novidades chegam de repente e se instalam com tudo, tornando inevitável aquela sensação de ter perdido o bonde. No caso do Orkut, isso é ainda é mais forte: com 800 mil usuários no mundo -quase metade deles no Brasil-, não ser atingido pela ciranda é praticamente impossível.

Não é preciso entrar na onda. Assim como desperta paixões, o Orkut também gera muita rejeição, normalmente de gente que não vê nenhuma utilidade ou diversão na brincadeira. Mas até para decidir entrar ou não, é bom saber o que está por trás dessa palavra esquisita de pronúncia duvidosa (em inglês, diz-se órkãt, mas o nome é turco).

O site funciona como um clube privé, só entra quem é convidado. Ao aderir à comunidade, cada um constrói uma página pessoal e cria sua lista de amigos, também membros do site. Como o sistema coloca o usuário sob constante avaliação dos demais, o cadastrado é praticamente impelido a dizer a verdade (ou parte dela), do contrário não conseguirá ser identificado pelos outros e receber boas ‘notas’ dos colegas.

Com alguma boa vontade, é possível entender o funcionamento do clubinho. Depois de passar um tempo experimentando, a Revista fez um á-bê-cê dos conceitos mais comuns e de extravagâncias divertidas do site.’



Folha de S. Paulo

‘Se você já foi contagiado’, copyright Folha de S. Paulo, 18/07/04

‘Desde que aceitou aquele convite, suas amizades nunca mais foram as mesmas. Em vez de telefonemas ou e-mails, as conversas com amigos acontecem pelo ‘scrapbook’. Aquela pessoa com quem você só cruzava no elevador de repente figura na sua lista de mais chegados. E os colegas mais tímidos dão calorosos ‘testemunhos’ sobre a sua pessoa.

Ser um dos cerca de 800 mil usuários da rede de relacionamentos mais popular do mundo tem vantagens, mas você já parou para pensar nas esquisitices que o site filhote do Google criou?

Um sujeito com quem você não vai muito com a cara -mas que é amigo do seu chefe- de repente aparece na ‘home’ pedindo para ser seu amigo. Saia justa das boas.

Você tem lá uma lista de 30 bons amigos. Seus confrades, no entanto, ostentam centenas de pessoas em sua relação. Vai bancar o mal-amado ou tratar de expandir o círculo de amizades? Mas e o risco de ser considerado uma Darlene virtual, que faz qualquer coisa por fama e popularidade?

Essas e outras idiossincrasias são resultado do próprio sistema do Orkut. Baseados no princípio de que um afago na auto-estima não faz mal a ninguém, seus criadores inventaram um círculo vicioso e viciante: quanto mais popular o usuário quiser ser, mais terá de usar o site. Ou seja, quanto mais sucesso você quiser fazer, mais bem-sucedido o Orkut será. Pois é, não existe almoço grátis.’



OLIMPÍADAS 2004
Fábio Seixas

‘Mídia americana corre à caça de heróis’, copyright Folha de S. Paulo, 18/07/04

‘Uma vitrine enorme, cheia de produtos de gosto duvidoso. A solução, substituí-los por novas marcas, algumas desconhecidas, mas com potencial para agradar.

Essa é a situação da mídia americana a menos de um mês dos Jogos de Atenas -a festa de abertura acontece no dia 13 de agosto.

Nunca um evento esportivo recebeu tanta atenção da TV americana. Nunca, também, um evento desse porte perdeu tantas estrelas a tão pouco tempo do seu início.

Foram dois movimentos, quase simultâneos. No dia 10 de junho, a NBC, que detém os direitos de transmissão para os EUA, anunciou a maior cobertura da história olímpica: 1.210 horas, o equivalente a 50 dias ininterruptos de esportes no ar. É quase o triplo do que a rede fez em Sydney-2000. Para isso, utilizará seis canais.

Logo em seguida, o caso Balco, que vinha se arrastando desde o ano passado, explodiu. E, no dia 23, após acusar cinco atletas de uso de substâncias proibidas, a Usada, agência antidoping dos EUA, fez o mesmo com Tim Montgomery, recordista dos 100 m -coincidência ou não, ele não passou na seletiva para Atenas.

Não parou por aí. A história do Balco, laboratório que produzia o esteróide THG, respingou em todo o atletismo americano. E em Marion Jones, heroína americana em Sydney, com cinco medalhas.

Para piorar, os EUA perderam, entre outros, Kelli White, campeã mundial dos 100 m e dos 200 m, e podem ficar sem Torri Edwards, segunda nos 100 m na seletiva. Ambas caíram no antidoping.

Com tantos desfalques, com Marion Jones em baixa e com 1.210 horas para preencher, a NBC teve que redecorar a vitrine. ‘Vamos mudar nosso foco. Mostraremos outras coisas, em vez de acompanhar todas as baterias dos 100 m e dos 200 m, por exemplo’, declarou Dick Ebersol, presidente da rede, em uma teleconferência.

O grosso de suas fichas, agora, vai para Michael Phelps, que tentará oito ouros na natação. A NBC também vai desviar suas câmeras do atletismo para a ginástica, a luta livre e os saltos ornamentais.

O mesmo acontecerá na mídia impressa. ‘Estamos acompanhando de perto as seletivas do atletismo para tentar descobrir uma nova estrela. Mas acho que a natação vai tomar o lugar de destaque em Atenas’, explicou à Folha Brian Cazeneuve, editor da ‘Sports Illustrated’, principal revista de esportes dos EUA.

‘O que esperamos, agora, é um novo herói. Só não sabemos de onde vai surgir’, completou.’