Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Globo produz reality show em HD


Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas.


 


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 11 de janeiro de 2010


 


TELEVISÃO


Sílvia Corrêa


Globo produz reality show de surfe em HD


‘O ‘Esporte Espetacular’ (Globo) faz neste mês sua estreia na alta definição. No dia 24, o programa exibirá uma espécie de reality batizado de ‘Nas Ondas de Noronha’, totalmente captado em HD.


Até então, as transmissões de futebol eram os únicos eventos esportivos produzidos pela emissora em alta definição.


Durante oito dias, divididos em quatro equipes, surfistas (Danillo Grillo, Marcelo Trekinho, Binho Nunes e Marcos ‘Sifu’ Menezes), artistas (Paulo Vilhena, Gabriel, O Pensador, Kayky Brito e Omar Docena) e telespectadores selecionados via internet encararam uma disputa de surfe, culinária e conhecimentos gerais.


A produção envolveu 42 pessoas e 150 horas de gravação.


Ator é o 9º em ‘Solitários’


É um homem o ocupante da última cabine de ‘Solitários’, que estreia hoje no SBT (22h). O mistério da cabine 9 é um dos principais atrativos do primeiro episódio do reality.


O participante, um ator, venceu uma surfista numa prova de resistência que durou cinco horas. A competição será exibida pela emissora hoje à noite.


O ator disputará o prêmio de R$ 50 mil em barras de ouro com outros oito participantes. Devem ser 14 episódios, até meados de fevereiro.


MUDA TUDO


‘Superpop’ e ‘Pânico’ (RedeTV!) terão cenários novos na volta das férias. Luciana Gimenez, já em 18 de janeiro. O ‘Pânico’, só em fevereiro.


ENLATADOS


Na eleição promovida pelo SBT na internet, a série ‘Gossip Girl’ foi a vencedora. Vai substituir ‘Sobrenatural’.


TIMÃO, Ê, Ô


A Globo vai transmitir na quarta o primeiro jogo do Corinthians em 2010. É o amistoso contra o Huracán, no Pacaembu, em comemoração ao centenário do clube. O SBT tentou, mas perdeu o páreo.


‘1 CONTRA 100’


São esportistas os convidados de Roberto Justus (SBT) nesta semana. Estarão lá as meninas do nado sincronizado.


JACK BAUER


Ele está de volta. De 1º de fevereiro a 5 de março, a Globo vai exibir a 7ª temporada da série ‘24 Horas’. Entrará no ar no horário do ‘Programa do Jô’, nas férias do apresentador.


MODA NA TV


No clima das semanas de moda, o GNT vai exibir a minissérie inédita ‘Coco Chanel’, que teve duas indicações ao Emmy. São dois capítulos, nos dias 17 e 24. Chanel é interpretada, em duas fases, por Barbara Bobulova e por Shirley McLaine.


JAPÃO URBANO


O programa ‘Urbano’ (Multishow), que sempre foi gravado em São Paulo, planeja filmar parte da 4ª temporada no Japão, a partir de abril.


com CLARICE CARDOSO’


 


 


Lúcia Valentim Rodrigues


‘Cocoricó’ leva ingenuidade da fazenda para a cidade grande


‘Nada de galinha botando ovo, de colher milho ou de tirar leite da vaca. A nova temporada de ‘Cocoricó’, exibida a partir de hoje na Cultura, investe em temas urbanos ao levar boa parte dos personagens da série para a cidade grande.


A trama é que, durante as férias, o garoto Júlio vai visitar o primo, João, e fica morando no apartamento dele. Leva o cavalo Alípio e a galinha veterana Zazá com ele, além de receber visitas do papagaio Caco, da galinha Lilica e dos avós.


A turma fica espantada com o elevador e com o ritmo frenético da cidade, logo que chegam de trem à Estação da Luz. O criador, Fernando Gomes, foi feliz na escolha dos temas, abordando de um jeito educativo o congestionamento, a reciclagem do lixo e as diferenças entre a vida rural e a urbana.


Mas não tem juízo de valor. Pode-se gostar dos dois estilos de vida. E vemos o Júlio, da sabedoria de seus oito anos, sentir falta da tranquilidade da fazenda e da goiabada da avó, mas aproveitar um jogo no estádio e um sorvete colorido.


Finalmente, chegam à TV aberta os cinco episódios exibidos nos cinemas como um longa, mas que era apenas uma colagem de capítulos. Agora, eles voltam ao seu formato independente um do outro. A nova temporada também traz alguns personagens novos, como o porteiro palpiteiro Dorivaldo, o vira-lata Esfarrapado e o mal-humorado rato Roto.’


 


 


Lira Neto


Série traduz casal tumultuoso


‘No último capítulo da microssérie ‘Dalva e Herivelto’, levada ao ar pela Globo na semana passada, o rancoroso Herivelto Martins, na praia, sozinho, chora em silêncio a morte de Dalva de Oliveira, depois de ter se recusado a visitá-la em seus últimos momentos de vida no hospital.


Pois é. Os canalhas também choram, alerta-nos Maria Adelaide Amaral. A trajetória tumultuosa do mais importante casal da história da música popular brasileira foi narrada em ritmo vertiginoso, dada a exiguidade do tempo. Cinco capítulos foi pouco. A vida de Dalva e Herivelto -que renderia pelo menos o dobro de capítulos, como no caso de Maysa, também retratada em minissérie da Globo no ano passado- foi um folhetim de verdade, com todos os ingredientes típicos de um drama rodrigueano, recheado de lágrimas, intrigas e traições conjugais. Um roteiro frouxo e uma direção vacilante poderiam ter transformado isso tudo em descabelado dramalhão mexicano. Não foi o que se viu.


Maria Adelaide e Dennis Carvalho souberam conduzir a trama e transformar o tempo curto a seu favor. A narrativa ágil -pontuada por elipses, com variações cromáticas para situar épocas distintas e com a música da Era de Ouro do rádio ajudando a costurar a história- não se preocupou em ser excessivamente didática.


O contexto de época estava lá, sutil e bem amarrado: o governo de Getúlio, a eclosão da Segunda Guerra, o presidente Dutra e o fechamento dos cassinos, o surgimento da televisão. Mas nem por um minuto caiu-se na tentação de dar aulas de história ao telespectador. Os personagens paralelos -Francisco Alves, Emilinha Borba, Ataulfo Alves, David Nasser, Dercy Gonçalves, entre tantos outros-, do mesmo modo, foram aparecendo, cena após cena, sem necessidade de apresentações prévias.


Em vez de buscar caracterizações minuciosas dos atores -em ‘Maysa’, por exemplo, era por vezes assombrosa a semelhança da atriz Larissa Maciel com a cantora que ela encarnava-, a microssérie optou por privilegiar as interpretações. Até Grande Otelo aparece alguns bons palmos mais alto, sem que com isso o ator Nando Cunha o fizesse menos verossímil. E Dalva -chamada de ‘Pretinha’ por Herivelto- tinha pele bem mais escura do que Adriana Esteves, mesmo bem bronzeada.


Adriana, aliás, ainda que aqui e ali pareça ter revivido por instantes a Celinha de ‘Toma Lá, Dá Cá’, fez uma Dalva competente, inclusive na dublagem dos números musicais, o ponto alto do programa, com reconstituições impecáveis de cenários e figurinos, marca registrada da emissora. Certas licenças poéticas, contudo, incomodaram. Por que, afinal de contas, na microssérie, o segundo marido de Dalva -o empresário argentino Tito Clement- transformou-se em um cantor mexicano de boleros?


E como não poderia deixar de ser, foram salientadas as inegáveis e notórias escapadas e traições de Herivelto, vivido por um convincente Fábio Assunção. Mas os pecadilhos íntimos de Dalva permaneceram encobertos pela sutileza e pelo confortável benefício da dúvida. Especialmente no último capítulo, a trama se focou demais em Dalva, com Herivelto relegado a segundo plano. Uma pena. Perdeu-se a oportunidade de se mergulhar ali no abismo insondável do coração do canalha, nas dores do macho arquetípico, nas agonias do traidor compulsivo e profissional.


O jornalista LIRA NETO é autor das biografias ‘Maysa’ (Globo, 2007) e ‘Padre Cícero’ (Companhia das Letras, 2009)’


 


 


Lúcia Valentim Rodrigues


‘Solitários’ não tomam banho em reality do SBT


‘Não vai dar namoro. Nem vai ter conversas à beira da piscina. Nem festa. A escolha do SBT para combater ‘Big Brother Brasil’ e ‘A Fazenda’ é outro reality show, chamado ‘Solitários’. ‘Estamos com uma expectativa boa, porque a nossa opção é bem diferente.’


Franquia americana, confina nove pessoas em um quarto-cela de 7 m2. ‘O pior limite é não poder tomar banho’, opina o diretor, Denis Salles, 32. O espaço é formado por um banheiro químico e uma mesa com dois botões: um vermelho, que sinaliza a desistência, e um verde, para falar com o computador que define as provas.


Os participantes divulgados incluem quatro homens e quatro mulheres, entre uma dançarina que apanhava do marido, uma ex-moradora de rua e uma modelo homossexual. O nono será decidido hoje. O último a desistir leva R$ 50 mil em barras de ouro. ‘É proporcional ao curto tempo que eles vão dedicar ao programa. ‘Qual É o Seu Talento?’ dá R$ 200 mil, mas dura meses.’ O ‘BBB’ dá R$ 1,5 milhão.


As ‘cobaias’ já estão isoladas ‘há alguns dias’, afirmou o diretor, o que proporcionou uma dianteira de episódios. Há dois tipos de provas principais. A de imunização libera a pessoa da seguinte e dá alguma recompensa. Já a de eliminação só termina depois que todos desistem e ‘expande o desespero pela derrota’. ‘Cada programa chega a ter 200 horas gravadas. É intenso. É uma sessão de psicanálise.’


Enquanto isso, ‘A Fazenda’ chega à reta final na Record, com término previsto para 7 de fevereiro. O diretor Rodrigo Carelli não prevê mudanças, mas vai ficar atento à concorrência. Para ele, vai ter espaço para todos. ‘Só vamos concorrer diretamente com o ‘BBB’ aos domingos. Mas acho que o público vai preferir ver o final de nosso programa antes de passar para um novo’, acredita.’


 


 


ACORDO ORTOGRÁFICO


Ricardo Westin


Governo ainda se perde na nova ortografia


‘O ministérios ‘apoiam’ ou ‘apóiam’ as atividades? Os quartéis vão abrir licitação para comprar ‘linguiça’ ou ‘lingüiça’? Subiram as alíquotas de importação de rádios de ‘micro-ondas’ ou ‘microondas’?


Um ano após o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa entrar em vigor no Brasil, o ‘Diário Oficial’ da União -o jornal que publica todas as políticas, leis, contratos e editais do governo federal- ainda se confunde com a grafia das palavras.


Ao folhear edições recentes do ‘Diário Oficial’, a Folha constatou uma bagunça ortográfica. Palavras como as do primeiro parágrafo desta reportagem ora se grafam pela maneira antiga, ora se escrevem segundo a nova regra.


O Acordo Ortográfico está em vigência no país desde o dia 1º de janeiro de 2009. Certos acentos caíram, o trema foi praticamente extinto e o hífen ganhou novas regras.


Assim, diz o Acordo Ortográfico, ministérios ‘apoiam’, quartéis compram ‘linguiça’ e rádios são de ‘micro-ondas’.


A Imprensa Nacional, órgão que publica o ‘Diário Oficial’, diz que não pode fazer alterações porque o conteúdo é de responsabilidade da Presidência, dos ministérios e de outras entidades públicas. ‘Quando vemos algo berrante, tentamos alterar. Mas não é nossa incumbência. Temos de manter o texto como nos foi encaminhado’, explica um funcionário.


Ao pé da letra, porém, o governo federal não está cometendo erros, porque há um período de adaptação. Até 2012, tanto a grafia nova como a antiga são aceitas.


De qualquer forma, o governo que redige leis com uma certa instabilidade ortográfica é o mesmo que não permite que as editoras enviem para as escolas públicas livros e dicionários com a grafia antiga.


Em 2008, o governo disse que recomendaria que os documentos oficiais fossem todos redigidos na nova maneira a partir do ano seguinte.


‘É natural que alguns errinhos ainda passem. Ainda estamos no período de transição’, afirma Godofredo de Oliveira Neto, presidente da Comissão de Língua Portuguesa do Ministério da Educação.


Para Oliveira Neto, os erros no ‘Diário Oficial’ não passam de exceção. ‘No Brasil, a adoção foi absolutamente avassaladora. Os jornais todos, de norte a sul, adotaram as novas regras. Não há nenhuma aula de gramática em que se ensinem as regras antigas. Foi uma coisa muito tranquila, sem trauma. Acho que nem precisávamos do prazo de adaptação.’


O objetivo do Acordo Ortográfico, firmado em 1990, é tornar praticamente nulas as diferenças de escrita existentes entre os países que têm o português como idioma oficial.’


 


 


TECNOLOGIA


Ronaldo Lemos


Eu, jornal


‘O Google acaba de lançar o seu próprio celular, chamado Nexus One. A Apple deve anunciar em breve o seu ‘tablet’ (uma mistura de computador com celular). Ambos estão apostando no surgimento de uma nova mídia portátil, que vai ‘revolucionar’, por exemplo, a maneira como lemos notícias.


A aposta dessas duas empresas é que cada vez mais gente vai optar por ler jornais, revistas e livros por meio desses aparelhinhos. O que, por sua vez, vai gerar novos modelos de negócio, tanto com conteúdo gratuito quanto com pago.


Enquanto isso não acontece, uma empresa da Alemanha chamada Niiu acaba de lançar um produto no mínimo curioso. A ideia é permitir a cada pessoa montar o seu próprio jornal. Para isso, a empresa licenciou o conteúdo de várias publicações (incluindo o ‘New York Times’ e o ‘Washington Post’).


A partir daí, o leitor monta os cadernos da maneira como bem entender. É possível fazer um jornal falando só de moda e de beleza ou só de economia. Dá também para misturar reportagens de vários jornais diferentes.


O mais interessante é que o jornal montado pelo leitor é entregue pela manhã, em papel, na casa dele. Dá até para colocar a sua própria foto na capa, criando literalmente um ‘eu-jornal’.


A empresa alega que essa aposta no papel, na contramão dos gigantes Apple e Google, não foi por acaso. Foi feita uma pesquisa com o público em potencial do produto na Alemanha, que apontou uma forte preferência pelo papel como meio para leitura de notícias.


Se vai dar certo ou não, ainda é cedo para saber. Mas não deixa de ser uma ideia interessante para ser avaliada até mesmo pelos jornais tradicionais.


A aposta da Niiu é que, com esse modelo, vai conseguir atrair os jovens de volta ao hábito de ler jornais. Então você já sabe. Assim que algum produto parecido chegar ao Brasil, você vai lá e pede um jornal inteiro só com reportagens da editoria Folhateen.’


 


 


RÚSSIA


Ellen Barry, NYT


Líderes em Moscou são alvo de (algum) humor


‘MOSCOU – De um ponto de vista puramente técnico, não é impossível fazer humor às custas de Vladimir Putin. O formato de sua cabeça lembra o de uma lâmpada, e suas pálpebras são pesadas, dando a impressão de que ele acaba de ler o dossiê de seu interlocutor. Ele tem nariz pontudo, um andar confiante e levemente arrogante e um pendor por posar sem camisa.


Mas caricaturas do premiê russo são algo que desapareceu há muito tempo da TV, que é controlada pelo Estado. Dez anos atrás, os criadores do programa ‘Kukly’ foram submetidos a pressões tão fortes do Kremlin para aposentar seu fantoche grotesco de Putin que reagiram, com certa ironia, retratando-o como arbusto em chamas.


O programa acabou sendo cancelado, e desde então reina a cautela. Um programa de entrevistas, ‘Política Real’, incluiu Putin em charges, mas ele era visto apenas do pescoço para baixo.


Assim, as reações foram de surpresa quando, recentemente, pouco depois da meia-noite, animações tridimensionais de Putin e do presidente Dmitri Medvedev apareceram num especial de Ano-Novo do Canal Um, o mais importante da TV russa.


As duas figuras animadas sapatearam e cantaram uma canção ligeiramente ousada sobre gasodutos e a dívida da Ucrânia. Não chegou a ser chocante, exceto pelo seguinte: segundo Konstantin Ernst, diretor do canal, as figuras representando Putin e Medvedev serão acrescentadas ao elenco regular do programa ‘Mult Lichnosti’, que satiriza figuras públicas.


O consultor político Gleb Pavlovski, que assessora o Kremlin, disse que ‘a capacidade de fazer humor está reaparecendo’ após um longo hiato que ele atribuiu principalmente ao medo. ‘O que se vê por enquanto é uma seleção muito cuidadosa dos alvos’, disse Pavlovski, ex-apresentador do programa ‘Política Real’.


‘Mas acho que não vai acontecer nada de assustador se a seleção foi ampliada. É claro que isso não pode acontecer da noite para o dia, porque ainda existe a visão de que o presidente deve estar acima das disputas, em um nível mais alto, onde não corra o risco de ser atingido por uma maçã podre.’


Mas críticos do governo dizem que não há sinais de que a sátira política será autorizada a voltar para a TV russa, que é abertamente favorável aos líderes nacionais.


Os primeiros três episódios de ‘Mult Lichnosti’ lançam suas farpas contra alvos que não trazem riscos: astros pop e políticos que não têm a aprovação do Kremlin. Líderes americanos também estão presentes: Barack Obama, fazendo dribles com uma bola de basquete, e a secretária de Estado, Hillary Clinton, derretendo-se para o chanceler russo como se fosse uma colegial apaixonada.


Apenas os líderes russos, ao que tudo indica, estão imunes à ironia. Enquanto eles não puderem ser alvos de ridículo igual, isso não será sátira, disse Viktor Shenderovich, que escreveu roteiros para o ‘Kukly’ e, desde então, virou ativista da oposição. ‘Um satirista é alguém que critica as autoridades’, disse Shenderovich, dando um humorista americano como exemplo.


‘Jon Stewart criticava Bush e hoje critica Obama. Mas [no ‘Mult Lichnosti’] não se veem [Ramzan] Kadyrov [presidente da república russa da Tchetchênia], Putin ou Medvedev.’


‘É uma simulação’, disse Shenderovich. ‘E uma simulação de sátira pode ser pior que uma ausência de sátira.’’


 


 


MERCADO EDITORIAL


Larry Rohter, NYT


Editora leva o mundo a leitor dos EUA


‘ROCHESTER, Nova York – A indústria editorial está em dificuldades; as obras traduzidas representam no máximo 3% do mercado americano de livros; e as verbas para o ensino superior estão encolhendo.


Mas nada disso parece deter a Open Letter, uma pequena editora com apenas um ano de vida, afiliada à Universidade de Rochester, que só publica literatura traduzida.


‘Existe um conjunto de leitores muito interessado em traduções e em literatura internacional que não está conseguindo o que quer’, disse Chad W. Post, diretor da Open Letter. ‘Por isso, acreditamos que nosso modelo empresarial pode funcionar.


A literatura americana tem muitas obras excelentes. Mas os leitores de língua inglesa não têm pleno acesso às vozes e opiniões de todo o mundo, e tentamos reparar isso.’ Apesar de nenhum dos 16 títulos da Open Letter ter vendido mais de 3.000 cópias até hoje, seus esforços rapidamente atraíram atenção e elogios da crítica.


Os livros da Open Letter, incluindo o recém-publicado ‘Season of Ash’, do mexicano Jorge Volpi, apareceram em listas de melhores de 2009, e a Amazon.com, que iniciou um esforço para apresentar mais autores internacionais ao público americano, recentemente deu à editora uma verba de US$ 20 mil para ajudar na publicação de ‘The Wall in My Head’, uma antologia de autores do Leste Europeu sobre o colapso do comunismo.


A Open Letter publicou seu primeiro título, uma coletânea de ensaios da croata Dubravka Ugresic chamada ‘Nobody’s Home’, em 2008. Porém, mais de um ano antes, para anunciar a chegada do livro e atrair leitores, a editora havia lançado um blog chamado Three Percent (rochester.edu/threepercent), referência mordaz ao gueto literário ao qual a tradução se destina.


Inicialmente, talvez não tenha sido concebido como um dispositivo de marketing, mas o Three Percent se transformou em uma animada câmara de compensação para tudo o que se relaciona à literatura traduzida e recebe mais de 2 milhões de page views por ano. Os leitores podem publicar resenhas e saber o que as editoras estrangeiras planejam.


Uma comissão de sete membros, que inclui professores da Universidade de Rochester, escolhe os títulos que a Open Letter publica. Enquanto membros desse grupo dizem que não teriam problemas em escolher um potencial best-seller -os romances policiais do sueco Stieg Larsson demonstraram mais uma vez que o público americano aprecia alguns livros escritos em outras línguas-, eles dizem que não é seu principal objetivo.


‘Procuramos trabalhos excelentes, em qualquer língua, ficção moderna e eclética que é desprezada’, disse Joanna Scott, professora de inglês e autora de nove romances. ‘O comércio não entra nas discussões; eu não saberia distinguir um livro comercial.’


Os livros da Open Letter têm o mesmo design enxuto, comparável ao de selos de jazz especiais que construíram um quadro de clientes fiéis graças a uma combinação particular de visual e som.


‘Seus livros realmente se destacam’, disse Paul Yamazaki, o principal comprador da City Lights Books em San Francisco. ‘Eles estão criando uma identidade com pistas visuais, e, com todas as opções que os leitores têm hoje, isso ajuda, especialmente quando sua principal atividade é apresentar novos autores para os americanos.’


De acordo com esse conceito, a Open Letter também oferece um serviço de assinaturas. Por US$ 100 ao ano, um leitor pode receber todos os livros publicados pela editora no período.


Os tradutores estão deliciados com a Open Letter. ‘As editoras comerciais se infectaram com a mentalidade do lucro’, disse Clifford Landers, que traduziu a coletânea do brasileiro Rubem Fonseca -em inglês, ‘The Taker and Other Stories’- para a editora. ‘A Open Letter cria um canal para obras que não devem ter um grande apelo popular, mas que são importantes por seu valor literário.’’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 11 de janeiro de 2010


 


AFEGANISTÃO


Jornalista britânico morre em atentado


‘Rupert Hamer, jornalista britânico que trabalhava para o jornal Sunday Mirror e acompanhava uma missão do Exército americano no Afeganistão, foi morto no sábado após uma explosão em Nawa, no sul do país. A morte de Hamer foi divulgada ontem em um comunicado do Ministério da Defesa da Grã-Bretanha. O fotógrafo Philip Coburn, do mesmo jornal, ficou ferido no ataque e está em estado grave.’


 


 


TELEVISÃO


Patrícia Villalba


Lear reina no centrão da nova novela das 7


‘Um Rei Lear charmoso, ético e de notável veia cômica passeia pelo centro de São Paulo como se fosse um homem comum. Não é. É Leal, personagem de Antônio Fagundes em Tempos Modernos, novela das 7 que estreia hoje na Globo, para substituir o sucesso Caras & Bocas, de Walcyr Carrasco.


A ligação da novela com o teatro é mais do que evidente, a começar pela própria referência à tragédia de Shakespeare e a um elenco repleto de nomes conhecidos dos palcos paulistanos, encabeçado por Fagundes e que traz ainda Jairo Mattos, Fernando Medeiros e Guilherme Weber, entre outros. Nada disso é coincidência, considerando que a trama marca a estreia do dramaturgo Bosco Brasil como autor titular em novelas, depois de mais de 18 anos atuando como colaborador de Walter Jorge Durst, Silvio de Abreu e Maria Adelaide Amaral. ‘Sinto como se tivesse cursado o colegial com o Durst, a faculdade com Silvio de Abreu e, agora, o mestrado com o Aguinaldo Silva’, brinca ele, em entrevista ao Estado, citando o autor que supervisiona seu texto em Tempos Modernos. ‘Eu mesmo pedi um supervisor para a Globo, não queria embarcar nessa aventura sozinho. E foi bom, porque o Aguinaldo é um grande incentivador do projeto da novela.’


Autor premiado, Bosco chamou a atenção do público e da crítica desde a estreia como autor, em 1994, com a peça Budro, pela qual recebeu os prêmios Shell e Molière. Mas foi em 2001 que ele levou aos palcos seu maior sucesso, Novas Diretrizes em Tempos de Paz, com Dan Stulbach e Jairo Mattos, que depois seria substituído por Tony Ramos. O autor ganhou projeção também na cena paulistana quando fundou com um grupo de atores o Teatro de Câmara de São Paulo, na Praça Roosevelt, no final dos anos 90, uma tentativa de revitalizar, por meio da arte, o espaço público degradado.


Da experiência, ele tenta disseminar na novela a ideia de que o centro paulistano precisa de revitalização e que a arte é o melhor caminho – por isso, o telespectador vai ver na TV uma região colorida, alegre e fervilhante. E também dos tempos de administrador de teatro acredita ter conseguido a casca necessária para lidar com a pressão do ibope, que vai sofrer pela primeira vez a partir de hoje. ‘Você não faz ideia o que é ficar na porta do teatro esperando o público. Você sabe que a peça é boa, mas vai chegando as 21 horas e ninguém aparece. A frustração é enorme’, compara.


Você é conhecido como autor de teatro, especialmente em São Paulo. Como está fazendo a transição dessa linguagem para a televisão, agora que assina uma novela?


Essa transição na verdade foi feita lentamente, porque estou completando 18 anos como colaborador de outros autores. Foi um trabalho que acompanhou grande parte da minha carreira no teatro. Mas não vou parar de escrever para o palco, continua sendo minha paixão e meu interesse. Só estou dando um tempinho. Quando estava como colaborador, me obrigava a escrever uma peça para não me afastar. Agora, acho que será mais difícil escrever alguma coisa paralela, mas é uma reflexão constante. Estou tentando incorporar elementos do teatro que eu acho que podem ser desenvolvidos na TV. Não sinto como se estivesse falando para um público diferente, mas como se estivesse aumentando meu público. Estou potencializando aquilo que gosto de fazer.


A novela tem uma base em Rei Lear e ainda traz Antônio Fagundes, um nome forte dos palcos, como protagonista. Quais outros elementos de teatro aparecem na novela?


Tem esses aspectos que você citou que são bastante importantes. Mas o meu Lear vai passar por outras situações, não é exatamente o de Shakespeare. A peça fala muito da relação entre pai e filha, que é uma coisa que toca muito todas as pessoas. O aspecto dos colegas que trabalham no teatro também é importante, porque eu me sinto entre amigos. Outro aspecto é que quero manter a estrutura essencial da novela, que é o melodrama, mas fazer isso com uma certa confluência de linguagens. Não só o teatro será citado, mas a história em quadrinhos, o universo musical, alguma coisa operística e a tecnologia. Sem perder o fio da meada, que é o que o público realmente quer: a história, a emoção, o riso. Nisso, o teatro entra como uma linguagem específica e também um conceito, porque a vida é um grande teatro, uma grande cena e as pessoas estão incorporando seus papéis. Personagens como os vilões, por exemplo, têm bastante consciência da sua condição, têm prazer no ato de ser vilão. Pelo menos na TV a gente pode rir dos vilões.


Um elenco com tantos nomes do teatro tem a ver com a sua origem ou é coincidência? Você participou ativamente da escalação dos atores?


Sem dúvida. Mas foi por que o diretor, o (José Luiz) Villamarim é um grande parceiro. Por isso pude palpitar tanto. E era esperado que eu puxasse a sardinha para os atores de teatro, já que eu vim de lá e muitos de meus amigos estão lá. Mas a primeira intenção era trabalhar com bons atores.


E como você adapta Rei Lear, que é uma tragédia, para uma novela das 7, que é essencialmente leve?


Aí há duas vertentes. Gosto de perceber que a relação entre pai e filha rende bastante. Tem aquelas coisas que você se interessa sem motivo, não é? E eu estou empenhado em mudar os polos, alternar entre tragédia e comédia. É que às vezes, se a gente bobear, a tragédia fica cômica. O Lear é um cara meio inexplicável, porque ele faz aquela bobagem (decide dividir seu reino entre as três filhas, mediante o amor que cada uma sente por ele), e entra naquela bagunça. Fica meio cômico se você pensar naquele monte de besteiras que ele sai fazendo. Vou pegar essa comicidade, mas sem dúvida é uma comédia leve, que não foge da abordagem da finitude do ser humano e da potência do amor. Gosto de misturar drama e comédia, meu estilo em teatro também é esse. O desafio vai ser contar a história nesse fio de navalha. E só um ator como o Fagundes pode fazer isso.’


 


 


Keila Jimenez


Só se for mais cedo


‘Se for mais cedo, ele fica. Aguinaldo Silva responderá esta semana para a Globo se fará ou não uma nova temporada de Cinquentinha. Com encomenda da segunda fornada da minissérie feita e reforçada pela emissora, o autor quer, desta vez, que a trama vá ao ar mais cedo que na primeira temporada: na faixa das 22h, assim como Dalva e Herivelto. Em sua exibição em dezembro passado, Cinquentinha chegou a ter episódios indo ao ar à meia-noite.


O mais difícil, o autor já tem: a trama central dos novos capítulos. As protagonistas em questão, turma encabeçada por Suzana Vieira, vai cuidar de suas respectivas vidas, mas têm de voltar à cena depois que os filhos fazem bobagem na empresa. E dá-lhe confusão.


Segundo Aguinaldo Silva, o elenco estelar permanece o mesmo e com contrato com a Globo. ‘A história de Leonor (Maria Padilha) e do filho Carlo (Pierre Baitelli) é que será mais desenvolvida, pois tiveram menos chance na primeira temporada’, promete o autor.


Se topar continuar com a minissérie, Aguinaldo terá um outro desafio: o tempo. A Globo quer Cinquentinha já para abril.’


 


 


Entre-linhas


‘Já rendeu processos o comentário do âncora Boris Casoy sobre lixeiros, que vazou no dia 31, no Jornal da Band. Entidades ligadas aos profissionais da limpeza urbana querem ressarcimento por danos morais, e pretendem levar ações para a esfera criminal, por preconceito.


Adriana Esteves não era unanimidade na Globo para protagonizar Dalva e surpreendeu muita gente. A minissérie elevou a atriz a outro patamar na emissora, assim com foi o melhor ‘boas-vindas’ que Fábio Assunção poderia ter na TV.


O Big Brother Brasil estreia amanhã na Globo sua décima temporada já batendo recorde de merchandisings: 15 ações do gênero vendidas. Brastemp, Chilli Beans, Claro, Embratel e Fiat estão entre as marcas já confinadas no reality.


Cássia Ávila, Luiza Brunet, Ticiane Pinheiro e Mariana Weickert são alguns dos nomes cotados para dividir o comando do A Noite É Uma Criança, que agora se chamará só A Noite, com Otávio Mesquita, na Band.


Otávio Mesquita pode integrar o time de celebridades mundiais que jogam pôquer on-line, em campeonato transmitido pelo canal pago ESPN.


A MTV já começou a gravar chamadas pelo Brasil do novo Quinta Categoria, ex-programa de Marcos Mion, que foi para a Record. A nova trupe de humor da atração, os Deznecessários, entra em estúdio em fevereiro.’


 


 


TWITTER


Lúcia Guimarães


Vivendo em público


‘A mãe blogueira de uma criança que sofreu um acidente comunicou a morte do menino à sua audiência no Twitter da sala de um hospital americano.


Tila Tequila, a namorada da herdeira da fortuna Johnson & Johnson, Casey, que foi encontrada morta em casa no começo do ano, avisou pelo tweeter que sua amada estava em coma e depois corrigiu para ‘morta’ em menos de 144 caracteres. Continua ‘tweetando’ sobre a falecida enquanto parentes e amigos não virtuais tratavam do enterro.


Na semana passada, um filósofo e cientista de computação, participando de uma conferência de cultura e novas mídias na Inglaterra, disse que é hora de membros de redes sociais (networking) assumirem a responsabilidade pelo grau de exposição pública que procuram. Quando as pessoas querem revelar sua vida online, disse Kieron O’Hara, devem saber que arriscam ser cúmplices das violações de sua privacidade. Ele estava se referindo a pessoas que perderam o emprego por causa de algo que revelaram em sites como Twitter ou Facebook. É de se esperar a punição de empregados que tweetam sobre desafetos profissionais ou tornam pública informação privilegiada. Mas não deve mais surpreender ninguém o fato de que profissionais encarregados de recrutamento pesquisam as páginas de contratados potenciais. Entramos na zona cinzenta que separa a diligência razoável da liberdade de expressão? Claro.


Vou, por um momento, me colocar no lugar de quem precisa entrevistar candidatos a enfermeiro plantonista de uma UTI. Os cinco candidatos têm páginas em diversos sites de social networking e um deles se esqueceu de ajustar os controles para filtrar quem acessa sua página e nela aparece regularmente com fotos em situações que sugerem estar bêbado ou doidão.


Eu escolheria, para ficar junto a pacientes em estado grave, o candidato que, além de competente, aparentasse passar mais tempo sóbrio. Mas se eu admitir oficialmente que estou me baseando em informações sobre a vida privada do candidato bebum, ele pode me processar por discriminação.


Em dezembro, o Facebook, com 350 milhões de membros, alterou os controles de privacidade depois de críticas ao sistema que confundia os usuários, a mais detalhada delas publicada num relatório do governo canadense.


Um argumento responsável pelo sucesso inicial do Facebook era o fato de que o usuário estaria mais protegido de spammers e abelhudos. Pois as mudanças do Facebook, testadas pela Electronic Fronteer Foundation, receberam o seguinte diagnóstico:


O novo arranjo é claramente destinado a empurrar os usuários para a arena pública e compartilhar muito mais informação do que antes. E, como conclui Kevin Bankston, da fundação Electronic Fronteer, as mudanças reduzem o controle que podemos ter sobre o acesso de outros aos nossos dados pessoais.


Agrupados sob a abreviação ‘PAI’ (informação pública disponível), o nome, a foto no perfil, a cidade, sexo, redes e páginas que acessamos estão prontas para cair no colo de marqueteiros e personagens mais sinistros. E a mina de ouro corporativa, naturalmente, é a sua lista de amigos, o dispositivo para escondê-la do restante do mundo sumiu da lista de controles de privacidade.


Bankston recomenda enfaticamente que os usuários do Facebook não caiam na esparrela do controle oferecido automaticamente pelo serviço. Mas sabemos que a maioria das pessoas intimidadas por tecnologia faz exatamente isso. Ele dá uma lista detalhada do que considera desfaçatez com a informação alheia. E lembra que a Constituição americana protege o direito de expressão no anonimato.


Quando o social networking cresce e passa a ter apetite por novas receitas, o exibicionismo sem consequências vira uma quimera.


A palavra do ano 2009, escolhida pela equipe do Dicionário Oxford foi unfriend – retirar alguém da sua listas de ‘amigos’ de sua página. Decidi tentar uma saída mais radical e aceito sugestões para um neologismo. Apaguei a luz, desativei a página. Em cinco segundos recebi o e-mail muy amigo: ‘Quando quiser voltar, use o mesmo nome e a mesma senha.’


O que será que vão fazer com essa informação dormente?


Se a tecnologia redistribuiu o poder de expressão e permitiu novas formas de individualismo, não há mais justificativa para delegar a integridade da vida privada a corporações, sem questionar as regras do jogo. Afinal, não esperamos que estranhos se encarreguem de trancar a porta da nossa casa.’


 


 


 


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