Leia abaixo os textos de segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas. ************ O Estado de S. Paulo
Segunda-feira, 20 de março de 2006
INTERNET
Google é intimado por crimes no Orkut
‘O Google, enfim, se posicionou a respeito dos crimes que são cometidos em sua comunidade virtual, o Orkut. Intimado pelo Ministério Público Federal (MPF) de São Paulo, o diretor da filial brasileira da empresa, Alexandre Hohagen, prestou, no último dia 10, esclarecimentos sobre as medidas que estão sendo tomadas pelo site para coibir práticas ilegais.
A intimação foi feita com base em um dossiê de 150 páginas elaborado pela ONG Safernet, que luta contra crimes de direitos humanos na web. O documento continha relatos de práticas de pedofilia, racismo, xenofobia, homofobia, venda ilegal de remédios controlados e violência contra animais. Todos esses crimes estariam sendo realizados em comunidades e perfis do Orkut.
‘Quando tomou conhecimento do conteúdo do dossiê, Hohagen se disse surpreso’, relata o procurador federal Sérgio Suiama, responsável pela intimação. ‘Mas eu disse que não tinha condições de resolver o problema de imediato’, disse Hohagen ao Estado no dia de seu depoimento. ‘O escritório do Google está no País apenas para vender, fazer o negócio crescer. Não temos gerência sobre o Orkut. Tenho que consultar a matriz nos EUA’, disse o executivo.
O procurador, então, fez uma proposta a Hohagen. Suiama apresentou ao executivo um termo de cooperação que, caso fosse assinado pela empresa, tornaria mais fácil o intercâmbio de informações entre o Google e o MPF.
‘Com esse termo, que já foi assinado no Brasil pelos provedores IG, Terra, Click 21 e AOL, o Google se comprometeria a, sob ordem judicial, fornecer dados que ajudem a descobrir os culpados pelos crimes’, diz Suiama.
Isso resolveria um dos grandes problemas atuais das investigações no Orkut: a falta de dados dos supostos criminosos. As autoridades, muitas vezes, precisam contar com a sorte de o suspeito ter deixado informações verdadeiras em seu perfil.
Assim, o termo auxiliaria o MPF a investigar crimes de direitos humanos, como pedofilia e racismo. Outros delitos, entretanto, como venda de drogas e comércio ilegal de medicamentos controlados, não seriam contemplados. (veja texto ao lado.)
Feita a proposta, o executivo do Google alegou ‘não ter poderes de decisão sobre o assunto’.’Preciso ver com a matriz o que pode e o que não pode ser feito.’
Na ocasião, o executivo também disse ao Estado que, em uma semana, já teria uma posição inicial do caso. No entanto, procurado pelo Link na semana passada, o Google Brasil, por meio de sua Assessoria de Imprensa, disse que não falaria sobre o assunto, já que não tinha nenhuma informação nova a acrescentar.
Entretanto, segundo o procurador Suiama, mesmo que o Google não assine o termo, há formas legais de forçar a empresa a colaborar com as investigações. ‘O Google possui representação no País. Então, é responsável pelos serviços que oferece aqui. Eles têm que respeitar as leis brasileiras.’
Suiama, pelo menos, já festeja o canal de comunicação que criou com a empresa norte-americana. Sua peregrinação para falar com a companhia começou em outubro do ano passado, três meses depois da instalação do escritório do Google no País.
‘Na primeira vez, liguei para lá e me pediram para mandar um e-mail. Um mês depois, me passaram um endereço virtual para encaminhar as denúncias. Eu não queria isso. Queria era falar com o Google.’
Em janeiro deste ano, Suiama mandou uma carta. ‘Eles não responderam.’ Então, em março, o procurador decidiu apelar. ‘Perdi a paciência e mandei uma intimação.’ Aí sim o Google atendeu o procurador. ‘O diretor do Google Brasil me disse que, das outras vezes que tentei falar com ele, ninguém o tinha avisado.’
Sufoco igual passam a imprensa e as ONGs para conseguirem explicações a respeito do assunto com a empresa norte-americana. ‘Só quando foram intimados é que eles resolveram falar’, diz o presidente da Safernet, Thiago Tavares. ‘Foi a primeira vez que eles deram explicações sobre os crimes no Orkut.’
Tavares, inclusive, depois de participar da reunião entre o procurador Suiama e o diretor Hohagen, também abriu um canal de conversas com o Google. ‘Desde dezembro, estamos articulando com provedores de serviços virtuais uma parceria para tirar do ar páginas que desrespeitem os direitos humanos. Estamos em conversa com UOL, Terra, Yahoo e MSN. E, agora, o Google também se mostrou interessado.’
‘Acho que a empresa vai colaborar com a gente e com o MPF. A companhia é muito grande. Não gostaria de ser conhecida por permitir que o racismo e a pedofilia rolem soltos’, diz Tavares.
É isso o que espera a família do jovem C.B.A., hoje com 14 anos. Em 2004, seu perfil no Orkut foi atacado por uma avalanche de mensagens racistas, que o discriminavam por ser negro.
Por causa da morosidade das investigações e pela falta de provas, o crime ainda não foi solucionado.
‘Nem esperamos mais que os culpados sejam punidos. Já passou muito tempo’, diz o irmão do garoto, de 20 anos.
‘Mas, se o Google passar a cooperar, espero que, a partir de agora, crimes como o que o meu irmão sofreu não fiquem mais impunes’, diz.
Entretanto, ele acha que a prevenção seria o melhor caminho. ‘Se o Orkut tivesse ferramentas que inibissem os crimes, nenhuma discussão sobre o site liberar ou não informações de suspeitos seria necessária.’’
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Acordo não abrange todos os crimes ocorridos no site
‘Mesmo que assine o termo proposto pelo MPF, o Google, ainda assim, não se comprometeria a colaborar com todas as investigações de crimes no Orkut. Denunciados pelo ‘Link’ em fevereiro, a venda de drogas, de receitas médicas falsas e o agendamento de rachas automobilísticos não entram no pacote. ‘Esses crimes não são da atribuição do MPF’, diz o procurador Sérgio Suiama. Para garantir que o Google coopere com esses crimes, diz o promotor Augusto Rossini, do Ministério Público de São Paulo, as polícias Federal e Civil deveriam fechar acordo semelhante com a empresa. R.M.’
Pedro Doria
Pensando uma nova internet
‘Se não existisse uma internet e os engenheiros tivessem que criá-la do zero, em que a rede seria diferente?
Esta é a pergunta que a Fundação Nacional de Ciência dos EUA está propondo gente que trabalha na infra-estrutura da rede desde os anos 70, assim como à nova geração de sábios.
Ninguém vai reconstruir a internet do zero, não seria prático. Mas cogitar como seria se não existisse tem a vantagem de permitir que as idéias fluam à toa, livre de empecilhos. Idéias ousadas, depois, só precisam ser implementadas – o que, muitas vezes, não é um problema nada trivial.
Não é que a internet atual seja ruim ou mal-feita: é bem o contrário. Trata-se de um projeto digital desenvolvido em 1969. Como escreveu Tom Standage, editor de Tecnologia da revista britânica The Economist, ‘que esse sistema tenha crescido em escala bem o bastante para integrar quase um bilhão de pessoas por fios ultra-rápidos de fibra ótica é nada menos do que espetacular’.
A receita de sucesso da internet é sua burrice pura e simplesmente. No princípio dos anos 70, quando boa parte dos protocolos que gerem a rede estava sendo criada, não era possível imaginar que tipo de dados seriam transferidos, nem como. Videofonia em notebooks que se movimentam era cenário de ficção-científica. Ninguém imaginava vídeo pela rede, muito menos conversas em vídeo ao vivo, tampouco rede sem fio e móvel.
Nem precisa ir tão longe: não podiam imaginar sequer a web.
Mas, justamente porque não poderiam prever o que a rede seria, construíram uma infra-estrutura que se preocupa apenas em transferir dados com competência de um ponto ao outro. Tudo o que podemos botar num computador a internet pode quebrar em pequenos pacotes e enviar para qualquer canto da rede.
A rede cresceu e agüentou o tranco, é verdade, só que não da melhor forma possível. A segurança é um problema, talvez o maior deles. Como a rede não tem a mais vaga idéia de o que é que corre em suas entranhas, além do e-mail urgente, também vem spam; além do retrato da moça nua, vem software espião; além do jornal, vírus. Cavalo de tróia, ataques de hackers – um dia, sem brincadeira, a rede pode entrar em colapso.
Já aconteceu. Quem estava online no tempo do ‘I love you’, um vírus filipino que tomou de assalto a internet em 2000, lembra da lentidão em que ficou o acesso durante alguns dias. Quem estava online na Terça-feira Negra, em 3 de novembro de 1988, lembra de quando o ‘Morris Worm’ tirou do ar dois terços da internet. Literalmente. (Também, não era tão grande assim naquele tempo.)
Uma das propostas da turma é dar alguma inteligência aos roteadores da rede. Um roteador é a máquina que recebe cada pacote de dados vindos de um lugar e o reencaminha para o nó seguinte do caminho. Ele recebe, olha o endereço para o qual vai, descobre qual a melhor rota a partir dali, manda para o roteador seguinte – só.
Seja uma operadora de celular ou administradora de cartões de crédito ou loja virtual de grande porte, grandes negócios hoje estabelecem padrões de uso. Se o indivíduo costuma comprar em tais e tais lojas e gasta R$ 1.000 por mês, a operadora do cartão intervém quando ele gasta R$ 5.000 numa loja pouco habitual. Liga, checa se é isso mesmo, pronto.
Os roteadores poderiam gastar um pouco mais de tempo com cada pacote. Descobrir de onde veio, que roteiro seguiu até ali, para onde vai. Sempre que um pacote saísse do padrão, poderia ser marcado. Se vários roteadores no caminho o achassem esquisito, ele já chegaria a seu destino com uma bandeira vermelha de é melhor checar antes de abrir.
É uma solução, talvez, para o grande problema de segurança da internet. No fundo, esse tipo de solução poderia ajudar no combate de pirataria digital – e as gravadoras querem muito isso. Assim como poderia ajudar o governo chinês a descobrir quem anda falando demais.
Há muitas maneiras de trazer segurança à rede, quase todas passam por tirar de alguma forma o anonimato. Mas mesmo os militantes sabem que a iniciativa da Fundação Nacional de Ciência é importante. Está todo mundo esperando para ver quais as propostas exatamente: melhor deixar qualquer polêmica para depois.’
Diego Assis
‘Eu sou o desorganizador-geral’
‘Silvio Meira diz que tem ‘o pomposo cargo de cientista-chefe do C.E.S.A.R.’, Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife. Mas numa conversa com ele, que é também professor de computação na Universidade Federal de Pernambuco, remissões para Denis, o Pimentinha, Chico Science e Gilberto Freire são coisa corriqueira.
Isso porque, para Meira, ‘tecnologia é meio, e não o fim’. Primeiro você tem que detectar o problema e só depois vai atrás da tecnologia para resolvê-lo, explica, ecoando outro de seus mantras, o de que ‘as perguntas são sempre mais importantes do que as respostas’.
Nascido em 1955, em Itaperoá, interior da Paraíba, Silvio Meira mudou-se para Recife quando tinha cerca de 15 anos. Em meados da década de 70, veio a São José dos Campos estudar no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), voltou ao Recife para fazer mestrado e, nos anos 80, foi ao Reino Unido buscar o diploma de doutor.
Hoje, está de volta à capital pernambucana, de onde, garante, não pretende sair tão cedo. ‘Eu tenho muito forte, para mim, essa história de periferia. Que envolve o porquê de eu estar aqui. Por que eu não estou em uma instituição central? Por que não estou em ‘n’ lugares do mundo onde poderia estar?’, pergunta.
‘Acho que a gente tem um papel aqui. E esse papel é olhar para o mundo a partir daqui e interferir no mundo a partir daqui. O Porto Digital, o Porto Musical, o C.E.S.A.R. têm uma característica guerrilheira quase. A gente não quer ser grande e estar em São Paulo, Rio ou Brasília. Nós sabemos que somos periferia, cumprimos esse papel e entendemos que é na periferia onde está a temperatura.’
A posição ‘periférica’, no entanto, não impediu o C.E.S.A.R., criado há dez anos, de chegar a ser reconhecido com um dos principais pólos de tecnologia da informação e da comunicação no Brasil, tendo como clientes empresas como Motorola, Siemens, IBM, Itautec, entre outras.
Além de atender a seus clientes e e promover iniciativas voltadas ao desenvolvimento regional, a instituição tem como outra de suas atividades-chave a incubação de empresas.
Determinados projetos demandam a criação de núcleos de pesquisa e desenvolvimento dentro do C.E.S.A.R. que, a médio prazo, tornam-se empresas independentes e deixam a instituição. Entre as 18 empresas direta ou indiretamente nascidas dali, destacam-se a Qualiti, focada em qualidade de software; a Keeper, voltada para soluções de web service para a Microsoft; e a Meantime, especializada em criação de games.
E qual tem sido o papel de Silvio Meira nisso tudo?
‘Eu sou o encarregado da inquietude e desorganização geral. Sou responsável por fazer perguntas difíceis de responder. Por exemplo, as perguntas básicas que uma instituição têm que fazer a si própria: O que é? O que faz? Por que existe? Para fazer inovação, é preciso de uma instituição que se redesenhe à medida que o tempo passa’, diz Meira, que se orgulha de ostentar em seu cartão de visitas o título ambíguo de ‘(mis)chief-scientist’, a tal referência ao Pimentinha.
‘Eu sou o ‘desmontador-chefe’. Tenho como função principal provocar pessoas, tentar destruir pedaços inteiros da instituição. No momento, estou tentando destruir uns três e provocando umas 40 ou 50 pessoas simultaneamente. Ou seja, meu carma é legal. Eu consigo provocar pessoas e dormir todo dia em paz’, brinca.
Mas não é só. Sentado em sua sala no C.E.S.A.R., diante de uma parede forrada de papéis com anotações que certamente só a sua cabeça é capaz de decodificar, Meira tem entre suas outras atribuições especular sobre ‘cenários de futuro’.
Em um deles, relativo a um projeto de sistemas embarcados que está desenvolvendo em conjunto com a fabricante de jipes Troller, fala sobre como será o automóvel do futuro.
‘Você tem um Troller e, ao invés de o jipe ter relógio, tem uma tela de laptop. Você escolhe os instrumentos que quer ver na tela – o manômetro, o odômetro, o que quiser -, e esse carro, vez por outra, ‘diz’ para a rede o que ele sente. Se a temperatura do motor estiver alta demais, eu, o fabricante, posso dizer: ‘Pare onde está, que a gente vai mandar um reboque!’
‘A gente já está construindo cenários onde as ruas vão ser informatizadas. Chegaremos num ponto onde a rua vai ‘dizer’ para o carro: ‘A velocidade máxima aqui é 60 km/h’. E você pode botar o pé que quiser no acelerador, mas quem está controlando o carro é a rua.’
Outra das visões futuristas de Meira diz respeito ao destino da internet. Segundo ele, a rede do futuro deverá chegar à casa das pessoas como hoje chega a energia elétrica, sem que tenhamos de nos preocupar com questões técnicas como largura de banda, estabilidade da rede, etc. ‘Na hora em que você joga tudo para trás e conecta tudo, resta o problema de que serviços vai prover para frente.’
Pois uma ‘aplicação idiota’ não demora a pipocar da cabeça do professor: ‘Vamos assumir que o seu refrigerador tenha um endereço IP. Com um celular, você entra dentro dele, liga a luz e, com uma câmera que gira, vê o que tem lá dentro e vai fazer compras no supermercado. E vai ter! Para que uma geladeira com tela para navegar na internet? Só um idiota completo compraria um refrigerador desses, por R$ 30 mil! Muito mais interessante é a outra idéia, que é coisa de US$ 20 a mais no preço – US$ 5 da câmera e US$ 15 dólares do conjunto de mecanismos de controle incluindo a conexão dela na rede…. ‘Opa, está faltando maçã!’, empolga-se.
Apesar do entusiasmo, quem apostar que Silvio Meira tenha a mais digital das vidas estará redondamente enganado. Apesar de conviver diariamente com computadores, o ‘desorganizador-geral’ do C.ES.A.R. acredita que nenhuma revolução tecnológica até hoje superou a invenção do… papel.
‘As fotos que as pessoas estão guardando nas suas casas em CD, daqui a 10 anos, vão estar comidas por fungos. No entanto os manuscritos do Mar Morto estão aí. Papel de baixa acidez, guardado com o mínimo de cuidado, dura até 500 anos. Papel é uma idéia do c…!’’
Ricardo Anderáos
Morrendo como moscas
‘Quinta-feira e eu atolado no crônico congestionamento matinal paulistano. Liguei o rádio para me distrair. A Eldorado transmitia uma entrevista com o dirigente de uma associação de donos de empresas de motoboys.
Desviei para uma rua lateral na tentativa de fugir do trânsito. Um pouco adiante um motoboy avança o sinal vermelho e me obriga a frear bruscamente. Enquanto me recupero do susto ele me xinga e faz um gesto de significado impublicável nas páginas deste respeitável diário.
Cenas como essa não são novidade para ninguém. Dei sorte. Dessa vez o sujeito não resolveu chutar meu espelhinho…
A entrevista continua rolando na rádio. E as informações que ouço são mais assustadoras do que a situação que acabo de viver. Segundo o Corpo de Bombeiros, todo ano acontecem 16 mil acidentes com motos na cidade de São Paulo. O número de motoqueiros mortos chega a 360 por ano. Quase um por dia.
Fico mais assustado porque eu também ando de moto. Ganhei minha primeira mobilete quando tinha 13 anos de idade, em 1975. Isso depois de uma campanha de um ano, na qual pressionei meu falecido pai de todas as maneiras possíveis e imagináveis.
Naquela época não existia sequer a palavra motoqueiro, o que dizer de motoboy. Nós nos chamávamos motociclistas. Éramos raros e bem educados. Tanto que, toda vez que a gente cruzava outra moto no trânsito, dava uma buzinada de saudação. Felizmente esse hábito foi abandonado. Do contrário, nossas ruas e avenidas seriam hoje uma barulheira insuportável.
Afinal, calcula-se que existam quase 200 mil motoboys somente na cidade de São Paulo. Cerca de 1.800 empresas prestam esse tipo de serviço. Um decreto baixado pelo prefeito José Serra em agosto pretende regulamentar a atividade de ‘motofrete’. Não surpreende que ele venha encontrando enorme resistência da categoria.
Até agora, apenas 350 empresas que atuam nesse ramo têm situação regularizada na Prefeitura. Os motoboys, que às vezes se comportam como verdadeiros piratas no trânsito, agindo em gangues e praticando todo tipo de violência contra motoristas, já pararam a cidade em protesto contra essa tentativa do governo de pôr ordem nas ruas. Uma saída para fazer a lei ‘pegar’ seria um convênio entre a Prefeitura e a Polícia Militar, que passaria a impor seu cumprimento sem medo das gangues instantâneas de motoboys, que cercam os carros e ameaçam os motoristas toda vez que um deles é atingido.
Como também ando por aí em duas rodas, consigo entender um pouco a psicologia desses garotos. Quando a gente está em cima da moto é revoltante ver motoristas dirigindo como se as motos não existissem, mudando de faixa sem olhar no espelho e fazendo conversões sem ligar o pisca-pisca.
Por outro lado, quando a gente guia um automóvel, vê que as motos vêm muito rápido, no meio das faixas, em excesso de velocidade. Creio que uma das causas dessa pequena guerra é que muitos jovens ganham a primeira moto aos 18 anos sem ter enfrentado o trânsito num automóvel. Eles não entendem o outro lado. Só querem saber de sua pressa em finalizar o serviço e pegar mais um frete.
Eu rodo de moto há 30 anos, e passei por todo tipo de experiência. A pior foi um acidente num raro dia em que eu havia deixado o capacete em casa. Uma mulher saiu da feira com as crianças zoando no banco de trás, e atravessou a Avenida Pompéia sem olhar. Tive afundamento do malar e acabei ganhando uns pedaços de metal no rosto.
Mais recentemente arrumei uma hérnia de disco numa viagem de Ilhabela para São Paulo. Apesar disso, não largo minha Vulcan nem a pau. Amo andar de moto. Mas nunca vou dar uma para meus filhos. Contradição? Assumo numa boa. Moto é perigoso demais.
Não sei se o Serra vai se candidatar a governador ou ficar até o final de seu mandato como prefeito. Seja como for, espero que vá até o fim na cruzada para botar os motoboys na linha. Essa não é uma guerra contra ninguém. É a favor da vida dessa garotada e da nossa tranqüilidade no trânsito. Não quero mais ver motoboys morrendo como moscas nas ruas de São Paulo.’
TV DIGITAL
Agências já se preparam para as mudanças com a TV digital
‘A implantação da TV digital no País, com o governo prestes a anunciar o sistema a ser adotado – japonês, europeu ou americano (uma possibilidade remota) -, leva as agências de publicidade a começarem a estudar as mudanças que devem mexer no principal canal de sedução dos consumidores: a televisão.
Alexandre Gama, da Neogama/BBH, agência que criou para a Mitsubishi, em julho de 2004, uma das primeiras ações de propaganda interativa para televisão na América Latina, só vê vantagem com a implantação da TV digital. A interatividade, diz, é a principal delas. Já a possibilidade que esse sistema abre para o usuário descartar comerciais nos intervalos de programações não o assusta.
‘Hoje, o telespectador já pode, com o controle remoto, pular comerciais e ir para o outro canal. É aí que entra a criatividade das campanhas, que têm de ser capazes de prender a atenção do público, e a TV digital oferece a possibilidade da interatividade, que deve criar um ambiente de relacionamento muito mais próximo entre marca e comprador’, diz Gama.
O publicitário também se mostra animado com as possibilidades que um sistema de alta definição abre, sobretudo, para anúncios de alimentos. ‘Se a propaganda é para fazer com que produtos dêem água na boca do consumidor, essa realidade está muito mais próxima.’
Gama fala com empolgação do projeto que tocou para a Mitsubishi, que envolveu parceria com a Sky e o canal Fox, em que o telespectador, com seu controle remoto, podia entrar no anúncio do modelo Pajero Sport HPE, para saber detalhes do produto. ‘O volume de conteúdo aumenta consideravelmente com a TV digital. Então, a propaganda deixa de ser superficial e pode resultar até em venda direta, caso este seja o interesse do anunciante.’ As assinaturas digitais abrirão as fronteiras para o negócio.
Já Celso Loducca, da agência Loducca, ressalta como principal atrativo da TV digital a sua mobilidade. ‘Assim, a propaganda vai chegar, via aparelho celular, a todos os lugares, literalmente aonde o consumidor está. Só que disputará espaço com uma grande oferta de conteúdo, o que não deixa de ser estimulante para a criação publicitária.’ Loducca pondera, porém, que a implantação da TV digital deverá ser lenta, exatamente como quando os brasileiros trocaram a televisão preto-e-branco pela colorida. ‘Temos todo um parque industrial instalado e outro deverá ser criado, então não será uma evolução imediata. A exceção é a veiculação em aparelhos celulares, que, por meio dos pré-pagos, permitiram uma rápida inclusão digital.’ É essa base instalada de aparelhos celulares que, ele acredita, permitirá a difusão do sistema de TV digital de forma mais rápida que os aparelhos de televisão.
Nessa corrida, fabricantes de celulares como Samsung e Gradiente já começaram a mostrar suas armas. A primeira, na linha consagrada pelo projeto BMW Films, que veiculou peças de grandes diretores de cinema na internet, criou peças audiovisuais que podem ser assistidas nas telas dos seus aparelhos, com grande definição.
Já a Gradiente, por meio da agência de publicidade Africa, pretende usar o MSN, da Microsoft, para, junto com o público, criar microsséries para a pequena tela dos celulares da marca.
A interatividade também neste caso é o grande desafio da agência de publicidade. Nenhuma agência parece ter dúvidas quanto a isso e todas correm para oferecer novas soluções num mercado em constante mutação.’
TELEVISÃO
Trupe pega leve em ano eleitoral
‘Os cassetas voltaram de férias e já estão de malas prontas para a Copa do Mundo na Alemanha. As gravações da trupe, que começam hoje, prevêem uma série de novidades na atração . Entre elas está o lançamento do quadro Figuraças da Copa, uma espécie de álbum de figurinhas na TV em que cada semana será apresentado um jogador – fictício, claro – de uma das seleções que estarão no mundial de futebol.
‘Escolheremos uns craques diferentes para apresentar para o público. Um deles é o atacante Nacatimba, da seleção africana’, explica o casseta Reynaldo. ‘Também vamos brincar muito com os costumes do local que sediará o mundial, este é o ano das piadas de alemão’, fala ele.
Reynaldo conta que quatro cassetas devem ir para Alemanha acompanhar a Copa e gravar o programa. ‘Vão os nossos Ronaldinhos: Bussunda, que faz o fenômeno, o Hélio, que faz o gaúcho, Cláudio que faz o Parreira e o Beto, que é jogador do Tabajara’, fala ele. ‘Eles devem viajar pouco antes do Mundial.’
Além de Copa, a trupe se prepara para as eleições. ‘Não vamos poder falar nome de ninguém, mas agora vou ter de trabalhar mais’, brinca Reynaldo, que dá vida à paródia do mais novo candidato à presidência da República, Geraldo Alckmin (PSDB), o Geraldo Walkman.
Os desenhos animados continuam no programa, entre eles, a saga do pequeno Pintinho Pinto Little, um pintinho que tem problemas de crescimento. ‘Os Ministros Superpoderosos devem sair, já que não são mais poderosos’, brinca Reynaldo.
Seu Creysson, o Grupo Capivara e as Organizações Tabajara entram na era digital.
‘Seu Creysson será o primeiro fabricante no Brasil da TV digitálica’, conta o casseta.’
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Folha de S. Paulo
Segunda-feira, 20 de março de 2006
CRÍTICA & JORNALISMO
Crítica (não só) literária
‘Já caminharam sobre a Terra, gravando caracteres em algum tipo de material, pelo menos 150 gerações de escritores. Dizem que tudo começou 5.000 ou 6.000 anos atrás no sul do Iraque atual, a antiga terra dos sumérios. Foi lá que se teria inventado pela primeira vez um modo de, às emissões sonoras chamadas de linguagem verbal, fazer corresponder sinais visíveis, transmissíveis sem o auxílio de memórias individuais e, conseqüentemente, duráveis.
Os mortos se tornaram, desde então, capazes de falar com os vivos. ‘Escucho com mis ojos a los muertos’, constatou o poeta espanhol Quevedo. E, com o passar do tempo, multiplica-se o total de mortos falantes (Quevedo entre eles) que competem com os vivos que, por seu turno, competem entre si pela atenção de um número limitado de olhos ouvintes.
Por isso existe a crítica literária: porque nem mesmo a vida de um leitor voraz, dedicado e longevo bastaria para dar conta sequer dos romances publicados ano passado no mundo. Talvez uma existência inteira não seja mesmo suficiente para ler quanto há para ser lido em, digamos, ‘A Montanha Mágica’. E, no entanto, o desejo de ler tudo é, para os verdadeiros leitores, tão natural como o da imortalidade para quem, após compreender os tempos verbais, não ignore mais a ameaça presente no futuro da primeira pessoa do singular.
A crítica literária existe, sobretudo, para triar obras recentes, apontando quais merecem atenção, e para retriar, a cada geração, aquelas previamente avaliadas, de modo a questionar juízos passados. Chamar a atenção para certa obra, uma atividade generosa, envolve a crueldade necessária de pôr outras de lado. A vida é curta, a paciência dos leitores, mais ainda -e ‘triagem’ é um galicismo de origem sinistra. Durante a Primeira Guerra, a escala industrial da sangueira (decorrente da fartura combinada de soldados e metralhadoras) sobrecarregou os serviços médicos nas frentes de batalha. O Exército francês se viu então forçado a ‘triar’, ou seja, repartir seus feridos em três categorias: os que podiam ser medicados no local, os que valia a pena levar aos hospitais na retaguarda e os que estariam tirando o lugar de gente com chances melhores. Estes eram entregues aos sedativos e sacerdotes.
Se a atividade crítica parece impiedosa, talvez seja o caso de lembrar que, diferentemente dos seres humanos, obras literárias não têm direito automático nem sequer à vida (ao de serem lidas). Nenhum livro é obrigatório, exceto para estudantes, professores e críticos profissionais que, geralmente, são os que não os lêem. O público não tem deveres para com escritores vivos, mortos ou mortos-vivos e, quando lê, está lhes fazendo um favor, uma gentileza. É aos autores que cabe estar à altura de tal deferência, pois toda obra é culpada até prova em contrário. O crítico, assim, também pode ser considerado seu advogado. Mesmo que esteja disposto a mentir ou trapacear, o processo é tão aberto que alguma verdade acaba se estabelecendo. Daí a dificuldade, em qualquer arte, de alterar os cânones vigentes e colocar, por exemplo, Salieri no lugar de Mozart.
Um advogado é tanto melhor quanto mais a fundo conhecer seu caso, e, como a literatura diz respeito a tudo, não resta ao crítico outra opção que a de buscar se familiarizar com tudo, algo impossível. Bom, existe outra opção, que esteve em moda por anos e anos. Trata-se, no sentido tacanho do termo, da abordagem estritamente ‘literária’ para a qual um poema, um conto, um romance se reduzem a um amontoado organizado de palavras. Discorrer sobre ‘Guerra e Paz’ ou ‘A Cartuxa de Parma’ ignorando os detalhes das guerras napoleônicas e os tipos de armamentos à disposição dos contendores, examinar ‘Os Lusíadas’ sem pensar na expansão do império português ou na arte da navegação ou analisar ‘Ulisses’ sem refletir sobre as relações entre Irlanda e Inglaterra equivalem a perder de vista muito da razão de ser desses livros -se bem que julgá-los somente através de um desses prismas tampouco seja inteligente.
Em outras palavras, quem escrevesse algo intitulado ‘Auschwitz: Uma Abordagem Contábil’ e concluísse que o comandante Rudolf Höss era inocente, pois administrou direito seu campo, ou (o que dá na mesma) culpado, porque revendeu, sem registrar a transação, várias latas de Zyklon B a seu colega Franz Stangl, de Treblinka, quem chegasse a tais conclusões sem se perguntar para que serviam as latas seria antes parte do problema do que da solução. Mas quem quer que ostente indignação moral sem dominar os dados e fatos relevantes nada acrescenta à discussão, pois, caso queira que seus sentimentos prevaleçam, convém-lhe saber tudo o que o contador acima sabe e mais.
O interesse pela literatura ou é onívoro ou não é. O leitor autêntico deseja saber de tudo, truísmo que se aplica dupla ou triplamente aos críticos de verdade. Autores de best-sellers, atentos à curiosidade da audiência, estão cientes disso e, coerentemente, recheiam seus calhamaços com informações variadas sobre como se desmonta uma bomba, o que é que socialites comem, bebem ou cheiram, como se pilota um Spitfire, quais as posições sexuais favoritas de um samurai do século 16.
Quando Mallarmé observou que o mundo existe para acabar num livro, ele não estava aviltando o primeiro, mas, sim, afirmando quão abrangente e ambicioso era seu programa para o segundo. Seu discípulo, Paul Valéry, disse que um homem que nunca quis ser um deus é menos do que um homem. Um crítico que seja apenas literário é, portanto, menos do que um crítico literário. E não há meio termo.’
TODA MÍDIA
Vão aturar
‘Foi domingo de PMDB nos canais de notícias e rádios -com muitas piadas sobre o costumeiro ‘vaivém’, no dizer da rádio Bandeirantes.
No ‘Fatos e Versões’, o programa semanal de bastidores na Globo News, reações como:
– O partido é regional, está na cara o que vai acontecer. A gente já viu este filme.
O fim da novela pode ser previsível, mas os capítulos não mudam. Ao longo do dia e entrando pela noite, o enunciado da Band News insistia, depois de três dias no assunto:
– Ala do PMDB perde dois recursos, mas ainda promete recorrer à Justiça.
Na manchete do portal UOL, no meio da tarde:
– Em meio a impasse jurídico, prévias viram consulta informal no PMDB.
De volta à Globo News, fim da tarde, sempre com entrevistas com os opostos Michel Temer e José Sarney. E a locução:
– A direção sugeriu ao partido que faça consulta aos filiados, mas pelo menos em seis Estados, Pará, Alagoas, Piauí, Amapá, Bahia, Maranhão e aqui no Distrito Federal, a consulta não está sendo realizada.
As rádios acrescentavam ainda um sétimo, o Acre. E vêm aí os próximos capítulos:
– Segundo Temer, se a decisão da Justiça for mantida, mesmo assim o PMDB considerará o resultado como um indicativo para o candidato do partido… Ele volta a Brasília no final do dia para definir os próximos passos da ala que é favorável à candidatura própria.
Àquela altura, Garotinho já declarava aos mesmos canais de notícias, rádios e sites:
– Com prévia ou sem prévia, eu irei à convenção do partido, eles vão ter que me aturar.
DA BLOGOSFERA
TRÊS A UM O tucano Geraldo Alckmin virou capa, com enunciados como ‘ele quer ser um novo Juscelino’ ou ‘Alckmin derrota os caciques’; o também tucano FHC também reagiu com capa, em que ele ‘explica o Brasil’, além de si mesmo
Sexta-feira foi um dia especial na blogosfera brasileira. Um blog foi lançado e repercutiu em outros -e passou a existir, mesmo sem eco em rádios, canais de notícias, telejornais. É o Blog Brasil, ligado à ‘Época’. O que levou à repercussão foi o ‘furo’ de que ‘Nildo, que ganhou fama na CPI dos Bingos, está longe de passar por dificuldades financeiras’.
Curiosamente, a versão em papel da revista sumiu com o ‘furo’. E os telejornais e outros reagiram ao blog, abraçando o ataque lançado pelo caseiro, em coletiva. A defesa partiu, sintomaticamente, de outro blog, de Alon Feuerwerker:
– O mundo ameaçou desabar porque Gustavo Krieger e Andrei Meirelles contaram no blog que o caseiro Francenildo tem movimentação bancária incompatível com sua renda… Quando resolveu falar, tornou-se um homem público. Neste aspecto, não há diferença entre ele e Antônio Palocci -ou a vida privada de ambos é relevante como assunto jornalístico ou não. De ambos, bem ententido. Jornalismo não é torcida.
Um sonho
Quando se pensava que a novela havia acabado, vem Geraldo Alckmin e diz, das rádios aos canais de notícias, que José Serra como candidato ao governo de São Paulo é ‘uma boa solução’, mais até, ‘um sonho’.
Como adiantou o blog de Josias de Souza, foi o que o candidato tucano levou a Jorge Bornhausen, do PFL, para as negociações que prosseguem hoje, segundo a Globo News.
De novo, oferece a cidade.
Juntos
Alckmin já tem marqueteiro: Luiz González, que atuou com Serra, dois anos atrás. Segundo Kennedy Alencar, na Folha Online, ‘Duda Mendonça diz que González é o mais competente hoje em atividade’.
O terror
O ‘Jornal Nacional’ nem deu, no sábado, a pesquisa que trazia o crescimento de Alckmin. Pior, abriu a escalada de manchetes com a violência paulista:
– O terror contado em horas. Vítimas de seqüestro narram o desespero sob a mira de armas.
A Record, que deu a pesquisa sem maior destaque, também explorou a insegurança:
– Comoção e revolta em São Paulo. Família do empresário morto em tiroteio entre PMs e bandidos exige segurança.
Por outro lado, o ‘SBT Brasil’ nem esperou e, ainda no sábado, mandou nas manchetes:
– O renascimento do Tietê. Mais largo e fundo, um dos principais rios está de cara nova.’
TELEVISÃO
SBT vai provocar Globo e Galvão em estádio
‘‘Kajuru, filma eu.’ Centenas de cartazes com esses dizeres, que remetem ao já tradicional ‘Galvão, filma eu’, devem invadir os estádios do país a partir de abril. Será uma provocação do SBT à Globo e a Galvão Bueno e uma promoção para levantar ‘Jogo Duro’, programa esportivo que tem estréia prevista para o dia 2.
O SBT dará prêmios, ainda não definidos, a telespectadores que levarem essas faixas aos estádios. Para concorrer, os torcedores terão de ser flagrados pelas câmeras do SBT -e não pelas da Globo.
Apresentado por Jorge Kajuru, ex-Band, ‘Jogo Duro’ será exibido aos domingos, a partir das 12h30. Terá uma hora de duração.
O programa, que marca o retorno (ainda que tímido) do SBT aos esportes, mostrará gols dos jogos de sábado no Brasil e na Europa. Para tanto, o SBT entrou em um ‘pool’ de emissoras (Band, Rede TV!, Gazeta) que não têm os direitos dos principais torneios de futebol. O SBT enviará equipes aos estádios e trocará imagens com as outras TVs (que também mandarão câmeras a outros jogos).
A atração terá pelo menos uma entrevista, feita durante a semana, a cada edição. A primeira deverá ser com Romário e Edmundo. No palco, dois convidados comentarão as reportagens exibidas.
Haverá uma platéia jovem -metade de cada sexo. Segundo Jorge Kajuru, será um ‘auditório interativo’, que fará perguntas e votará em enquetes.
OUTRO CANAL
Beleza 1 No ar em ‘Prova de Amor’, a bela Renata Dominguez terá de deixar a novela da Record antes de seu final. A atriz foi escalada para ser a protagonista feminina de ‘Bicho do Mato’, que substituirá, em junho, justamente ‘Prova de Amor’.
Beleza 2 Renata, que atualmente está loira e de olhos castanhos, vai mudar o visual para compor a Cecília de ‘Bicho do Mato’. Ficará morena de olhos claros.
Sotaque 1 Em seu esforço para ficar parecida com a Globo, a Record está copiando até os defeitos da concorrente. A novela ‘Cidadão Brasileiro’ se passa na região de Ribeirão Preto (SP), mas quase ninguém tem sotaque caipira. Já o carioca corre solto.
Sotaque 2 Na minissérie ‘JK’, da Globo, personagens mineiros interpretados por artistas há muito tempo fixados no Rio de Janeiro não têm nada, ou quase nada, do jeito que se fala em Minas Gerais.
Piada A nova temporada do ‘Casseta & Planeta’ terá uma sátira de ‘JK’. Será a minissérie ‘LM’. O nome é uma brincadeira com o alfabeto. São as letras que vêm depois de J e K.
Tour Responsável pelos canais e serviços da CNN fora dos EUA, Chris Cramer virá ao Brasil dias 4 e 5 para lançar a segunda edição do concurso ‘CNN – Jornalista do Amanhã’, dirigido a estudantes.’
Folha de S. Paulo
‘Fantástico’ exibe especial sobre tráfico
‘O ‘Fantástico’ foi ao ar ontem às 20h35. Uma hora depois, o apresentador Zeca Camargo anunciava a exibição de ‘Falcão -°Meninos do Tráfico’: ‘É o retrato de uma geração perdida’.
Em seguida, o rapper MV Bill, um dos autores do documentário, foi entrevistado por Glória Maria nos estúdios da TV Globo. ‘Vivo no meio dessa realidade. Sempre vi o problema sendo analisado por antropólogos, sociólogos, gente que não vive essa realidade. Essa é a visão dos jovens, que sempre são considerados os culpados de toda essa tragédia.’
Por pouco mais de uma hora, o ‘Fantástico’ exibiu o documentário, interrompido apenas por intervalos comerciais. Crianças e jovens de diversas favelas do país, em imagens captadas por MV Bill e seu empresário, Celso Athayde, contaram como, sem perspectiva de vida, acabam trabalhando para traficantes. Vários apareceram com armas e embalando drogas.
‘Falcão’ deve chegar aos cinemas do país em outubro. Um livro com os bastidores das filmagens será lançado hoje.’
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O Globo
Segunda-feira, 20 de março de 2006
MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA
Língua portuguesa ganha a sua casa própria
‘O Museu da Língua Portuguesa, primeira instituição no mundo dedicada exclusivamente ao idioma natal de um país, será inaugurado hoje em São Paulo. Projeto de R$ 37 milhões, o museu tem um vasto conteúdo e novas formas de interação com o público. Em vez de caminhar entre objetos presos às paredes, o visitante participa de uma viagem pela língua por meio de filmes, audição de leituras e diversos módulos interativos com conteúdo sobre a linguagem, a história da língua, os idiomas que colaboraram na sua formação, as formas que assume no dia-a-dia e a criação da literatura.
Não foi à toa que o museu foi instalado na Estação da Luz, no coração do centro histórico de São Paulo. A Luz foi o ponto de encontro, a partir de 1901, quando foi inaugurada, de brasileiros e imigrantes. A estação era o primeiro contato de famílias estrangeiras que vinham do Porto de Santos com o português falado pelos brasileiros.
Prédio foi parcialmente destruído em 1946
O Museu da Língua Portuguesa foi criado com a parceria entre o Ministério da Cultura, o governo de São Paulo/Secretaria de Estado da Cultura, IBM do Brasil, Petrobras, Correios, Rede Globo, Instituto Vivo, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Votorantim e AES Eletropaulo, com o apoio da Fundação Calouste Gulben-kian. A realização do projeto é da Fundação Roberto Marinho e da Secretaria da Cultura paulista, com o estímulo da Lei de Incentivo à Cultura. O prédio da Estação da Luz, que foi parcialmente destruído por um incêndio em 1946 e reconstruído na década de 50, passou por um delicado processo de revitalização e restauração. O projeto arquitetônico é de Paulo e Pedro Mendes da Rocha, pai e filho. A museografia é de Ralph Appelbaum, que tem em seu currículo o Museu do Holocausto, em Washington, e a Sala de Fósseis do Museu de História Natural em Nova York.
A elaboração da exposição permanente, que trata a língua como um patrimônio dinâmico, em transformação constante, não se fixou nos conceitos de língua culta e de erro ou acerto. Escritores e acadêmicos ficarão lado a lado com falantes do português com sotaques e gírias diferentes, que dão novos sentidos às palavras.
A socióloga Isa Grinspun Ferraz, futura diretora de conteúdo do museu, coordenou uma equipe com 30 dos maiores especialistas em língua portuguesa do país, entre os quais Alfredo Bosi, Antonio Risério, Ataliba de Castilho, Yeda Pessoa de Castro (línguas africanas) e Aryon Rodrigues (línguas indígenas) e José Miguel Wisnik. A exposição permanente tem a direção artística de Marcello Dantas.
‘O principal objetivo do Museu da Língua Portuguesa é mostrar que a língua é elemento fundamental e fundador da nossa cultura. Ele será o lugar de celebração e valorização da língua portuguesa, um espaço dinâmico, lúdico, interativo, onde os falantes do português terão uma vivência de identificação cultural com sua língua materna’, diz o texto que define o projeto.
Uma das atrações mais chamativas do museu é a Praça da Língua. Depois de uma aula sobre a linguagem no auditório, a visita à praça dura 20 minutos. É um mergulho na literatura elaborada em português. São textos em prosa e verso reunidos por temas como ‘amor’, ‘exílio’ e ‘pessoas’, entre outros. A seleção, feita por José Miguel Wisnik e Arthur Nestrovski, reúne poemas de Carlos Drummond de Andrade, Gregório de Matos, Fernando Pessoa e Camões; textos de Guimarães Rosa, Euclides da Cunha e Machado de Assis; e músicas de Noel Rosa e Vinicius de Moraes.
Museu também tem espaço para palestras e projeções
O amplo salão da praça aproveita o telhado inclinado para criar um vão de 13 metros de altura. Nesse ambiente foram montadas arquibancadas em forma de anfiteatro para que o visitante acompanhe os efeitos visuais: imagens projetadas tanto no forro do teto, quanto em um grande círculo de vidro que toma o centro do espaço. Uma das arquibancadas também pode ser usada como palco para encenação de peças e apresentação de palestras.’
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