Leia abaixo a seleção de quinta-feira para a seção Entre Aspas.
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Folha de S. Paulo
Quinta-feira, 14 de maio de 2009
CONCESSÃO
Lula concede TVs e rádios a sindicato do ABC
‘O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez sua carreira sindical e se projetou para o mundo político, recebeu do governo federal duas concessões de TV educativa e duas de rádios educativas no Estado de São Paulo. É o único sindicato, até agora, favorecido com concessão de radiodifusão.
O próprio presidente anunciou a autorização de uma TV de São Caetano do Sul, anteontem, na comemoração dos 50 anos do sindicato, sendo aplaudido por 500 pessoas.
As concessões foram dadas em nome da Fundação Sociedade Comunicação, Cultura e Trabalho, cujo principal mantenedor é justamente o sindicato. A legislação não permite a obtenção de outorgas por sindicatos. As concessões de educativas são gratuitas e distribuídas sem processo de licitação.
As emissoras de TV são para Mogi das Cruzes e São Caetano. As outorgas de rádios FM educativas são para as cidades de São Vicente, no litoral paulista, e Mogi das Cruzes. O presidente do sindicato, Sérgio Nobre, disse que o presidente Lula ‘fez justiça ao movimento sindical’, já que universidades e igrejas têm meios de comunicação.
A primeira concessão recebida pelo sindicato foi a TV de Mogi das Cruzes. O presidente Lula a concedeu (por 15 anos, renováveis) por meio de decreto, em 2005. O processo passou pela Câmara e pelo Senado. Foi aprovado em agosto de 2007.
Em seguida, veio a autorização da rádio educativa de São Vicente. No caso das emissoras de rádio, a autorização (por dez anos, renováveis) foi dada por portaria do ministro das Comunicações, Hélio Costa, em julho de 2007. O processo ainda tramita na Câmara e terá que passar pelo Senado.
A terceira outorga foi da rádio de Mogi das Cruzes, autorizada por portaria do ministro Hélio Costa em 27 de abril último. Por fim, Lula assinou o decreto publicado ontem, autorizando a concessão da TV em São Caetano. A tramitação dos processos no Congresso Nacional pode demorar vários anos.
Indagado sobre a razão de ter duas emissoras geradoras (que podem produzir sua própria programação) de TV na Grande São Paulo, Nobre disse que o sinal da emissora de Mogi das Cruzes não chegaria ao ABC paulista, que é a área de interesse do sindicato. Por isso, segundo ele, o sindicato pleiteou uma segunda emissora.
Parcerias
Nobre não soube informar qual será o investimento necessário para manter duas rádios e duas televisões. ‘Sei que é um projeto muito caro’, afirmou. O sindicalista disse que os cálculos estão sendo feitos por uma equipe técnica e que tem intenção de propor parceria a outros sindicatos para partilhar os investimentos e a programação.
Apesar de a concessão de Mogi estar aprovada há quase dois anos pelo Senado, a emissora ainda não está no ar. Sérgio Nobre queixou-se do excesso de procedimentos técnicos.
A iniciativa do governo de conceder emissoras educativas a fundações ligadas ao sindicato dos metalúrgicos surpreendeu o setor de radiodifusão. O presidente da Abepec (Associação Brasileira das Emissoras Públicas Educativas), Antônio Achillis, disse que não tinha conhecimento da iniciativa.
‘Recebi com surpresa, porque o próprio presidente Lula convocou a realização da Conferência Nacional de Comunicação, para o final do ano, que vai rediscutir os critérios das concessões’, afirmou Achillis.’
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Sindicato diz que rádio e TV são direitos
‘‘Achamos que o movimento sindical, pela contribuição que dá à democracia, merece ter emissoras de televisão. A grande imprensa ignora o mundo do trabalho, por isso, reivindicamos ter nosso próprio meio de comunicação’, disse Sérgio Nobre, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Já o presidente da Fundação Sociedade Comunicação, Cultura e Trabalho não quis se manifestar.
O sindicato diz que vem pleiteando concessão de rádio e de TV desde que Antônio Carlos Magalhães era ministro das Comunicações do governo José Sarney (1985-1990).
O Ministério das Comunicações defendeu a aprovação das concessões, mas afirmou que as outorgas ainda precisam ser analisadas e aprovadas pelo Congresso Nacional.
Um executivo do ministério, que examinou os processos, disse que a fundação preenche os requisitos determinados pela legislação e que o exame foi ‘demorado e criterioso’.
Indagado sobre a razão de o governo conceder duas concessões para emissoras geradoras a uma mesma fundação, o executivo, que não quis ser identificado, disse que elas estão dentro do limite permitido pela legislação.’
TECNOLOGIA
Queda na pirataria
‘O USO DE software pirata diminuiu no Brasil, em contraste com aumento no mundo, segundo estudo de associação dos fabricantes. O índice de programas usados sem licença, que foi de 64% em 2004 para 58% em 2008, é alvissareiro não apenas por denotar maior cumprimento da lei mas também por indicar que mais brasileiros têm tido acesso a produtos originais.
A queda é explicada em parte pela maior repressão policial. O principal fator, porém, foi a percepção das próprias empresas de que, com redução de preços e maior facilidade de pagamento, poderiam atrair o consumidor.
O resultado também reflete mudanças no mercado, com maior presença de softwares livres -sobre os quais não recaem direitos autorais-, o que aplaca o apelo das cópias piratas, assim como a venda de programas na internet, que possibilita a oferta de pacotes mais próximos da necessidade do consumidor.
Fabricantes nacionais, porém, viram crescimento, ainda que modesto, nas perdas decorrentes da pirataria entre 2007 e 2008.
A diminuição da carga tributária, assim como ocorreu com parte dos computadores, seria um passo crucial do governo para um combate mais agudo à pirataria. Para fabricantes e revendedores, buscar mais justeza nos preços não seria má ideia.
Diante de um produto que lhe ofereça garantia e preço adequado, o consumidor dificilmente procurará uma cópia ilegal de procedência duvidosa.
Cresce o entendimento de que o cerne da pirataria está na necessidade de acesso dos brasileiros a ferramentas essenciais. Os dados da pesquisa mostram isso. Sem prescindir da repressão, é preciso facilitar ainda mais a aquisição legal de programas, cuja disseminação aumenta a produtividade e a capacidade de empresas e trabalhadores de competirem no mundo globalizado.’
TODA MÍDIA
‘O corte continua’
‘Por toda parte, não faltaram enunciados com a expressão ‘Entenda’, mas em sua maioria as manchetes dos sites e depois dos telejornais brasileiros destacaram, com variações, ‘Poupança com saldo acima de R$ 50 mil pode ser tributada’. Só na estatal Agência Brasil, por outro lado, ‘Aplicações em poupança até R$ 50 mil continuam isentas’.
No exterior, nem isentas nem tributadas. No topo das buscas de Brasil pelo Yahoo News, os despachos da Bloomberg anunciaram que o ‘Brasil toma medidas para permitir que as taxas de juros caiam’ e depois que os ‘Títulos brasileiros caem após medidas que abrem caminho para cortes nas taxas’. Agora o ‘Banco Central pode continuar cortando’.
PETROBRAS SE ABRE À CHINA
Ontem no ‘Wall Street Journal’ de papel, ‘Petrobras aberta a uma fatia da China nos campos de petróleo’. Reportagem de Cingapura relatou que ‘uma pessoa familiar à situação’ disse que a estatal está ‘pronta para o investimento de companhias chinesas de petróleo em seus projetos de exploração e produção no Brasil’. As negociações envolvem quatro empresas, PetroChina, Sinopec, Sinochem e Zhuhai Zhenrong. O anúncio seria na visita de Lula a Pequim, a partir de segunda.
EUROPA QUER
Na home do ‘El País’, em despacho de Bruxelas, a União Europeia propôs ‘novo mecanismo financeiro para ajudar a América Latina’. Melhor dizendo, para ‘facilitar o financiamento de projetos de energia’.
E em conferência na Califórnia o presidente da ‘segunda maior companhia de petróleo da Europa’, a BP, disse querer ‘um papel no desenvolvimento dos chamados depósitos pré-sal’.
64 BILHÕES DE BARRIS
Nas buscas de Brasil, ontem, o destaque de Petrobras foi um despacho sobre o depoimento do presidente da Agência Nacional de Petróleo no Congresso. Relatou que o pré-sal ‘pode ter 50 bilhões de barris’, o que elevaria as reservas para 64 bilhões, deixando o país entre as dez maiores no mundo.
E no site do ‘WSJ’ um diretor da estatal avaliou que a produção deve cumprir as metas deste ano.
RÚSSIA, ENERGIA E OS BRICS
De Moscou, a Reuters destacou relatório do Kremlin avaliando que ‘a concorrência por recursos de energia vai concentrar a atenção da política internacional’ no futuro -e pode ‘envolver o uso de força militar nas fronteiras da Rússia e de seus aliados’, o que foi entendido como uma referência a EUA e Europa.
Em outra passagem, o documento diz que a Rússia vai buscar ampliar os laços com ‘potências emergentes como Brasil, Índia e China’.
‘BUSHISMO’
Talking Points Memo, Daily kos, HuffPost e outras referências liberais reagiram à decisão de Obama de vetar a divulgação de fotos de ‘abuso’. Foi acusado de ceder à campanha de mídia do vice de Bush, Dick Cheney
‘BLACK FASHION WEEK’
No topo das buscas de notícias do Brasil desde anteontem, mas sem maior repercussão por aqui, a France Presse noticiou que a ‘Falta de negros nas passarelas do Brasil leva a protesto’. Se o ‘viés racial em favor dos brancos não for abandonado’, os manifestantes prometem ‘um São Paulo Fashion Week negro na rua em frente ao São Paulo Fashion Week’, no mês que vem.
Também em destaque, mas na busca de notícias em espanhol, a Efe ecoou a ‘denúncia da situação dos negros depois de 121 anos de liberdade’, feita pela CNBB, também sem repercussão por aqui.
NOVA VELHA IMAGEM
O ‘SPTV’ deu algumas cenas noturnas, também ‘JN’. Mas ‘Brasil Urgente’ e sobretudo ‘SP Record’ seguiram longamente a ‘onda de ataques’ -como descreveu o segundo, com ‘pessoas encapuzadas’ que queimaram dois ônibus, caminhão, carro. Não faltou ‘tiro’’
VENEZUELA
Chávez critica texto da Folha sobre celular
‘O presidente venezuelano, Hugo Chávez, criticou ontem reportagem da Folha publicada na terça-feira sobre o lançamento de um aparelho de celular estatal que provocou filas e listas de espera no país.
Em cadeia nacional de rádio e TV, Chávez leu e criticou o seguinte trecho: ‘Defensor do socialismo do século 21, o presidente Hugo Chávez provocou uma febre de consumo digna do capitalismo mais selvagem ao se transformar em garoto-propaganda do primeiro celular fabricado na Venezuela’.
‘Claro, eles estão preocupados que a Venezuela comece a produzir. Isso é o que está por trás’, disse. ‘Uma coisa é o voraz e selvagem consumismo do capitalismo e outra coisa muito diferente é o ‘vergatário’ [apelido do celular] para o uso do nosso povo.’’
EUA
Obama tenta proibir acesso a fotos de abusos
‘O presidente Barack Obama quer bloquear a divulgação de fotos que mostram militares americanos maltratando prisioneiros no Iraque e Afeganistão, por temer que as imagens possam desencadear uma reação hostil a tropas dos EUA. A decisão representa uma inversão em relação à decisão tomada no mês passado pelo Pentágono, que concordou em processo movido pela União Americana pelas Liberdades Civis (Aclu) em divulgar fotos que mostram incidentes em Abu Ghraib e outras prisões.
Na época, o presidente subscreveu a decisão, dizendo que concordava com a divulgação -que tinha até data prevista para acontecer: 28 deste mês.
Obama informou seus altos comandantes militares sobre sua decisão em reunião na Casa Branca anteontem. Várias autoridades militares haviam se posicionado contra a divulgação imediata das fotos, dizendo que isso poderia prejudicar soldados americanos em campo.
Ontem, em pronunciamento convocado para tratar da crise no Sri Lanka (leia à pág. A15), o presidente repetiu essa tese. Ele disse também que as fotos são menos dramáticas ‘especialmente quando comparadas às dolorosas imagens de Abu Ghraib’, em alusão às fotografias divulgadas em 2004, que registram militares americanos torturando detentos na prisão iraquiana.
O presidente fez questão de enfatizar que os casos retratados nas imagens estavam sob investigação ‘bem antes de eu assumir o cargo’ (em janeiro). E que foram aplicadas punições ‘quando apropriado’. Obama encerrou suas declarações acrescentando que deixou ‘bem claro a todos na cadeia de comando das Forças Armadas dos EUA que o abuso de detentos mantidos sob custódia americana é proibido e não será tolerado’.
No mês passado, o governo Obama divulgou memorandos da gestão George W. Bush autorizando o uso de técnicas de tortura em interrogatórios de suspeitos de terrorismo. Desde então, cresceu a pressão para que funcionários do último governo sejam responsabilizados na Justiça pelas práticas.
Críticas
A Aclu, autora do pedido de acesso às fotos, criticou a medida do presidente. ‘A decisão de suprimir as fotos é profundamente incoerente com a promessa de transparência que o presidente Obama fez inúmeras vezes’, disse um advogado da organização, Jameel Jaffer.
À Justiça a entidade argumentara que revelar as imagens seria ‘crucial para ajudar o público a compreender a amplitude e escala dos abusos cometidos contra prisioneiros e também para responsabilizar altos funcionários por autorizarem ou permitirem tais abusos’, disse Amrit Singh, que advogou pela Aclu no caso. Um alto funcionário do governo revelou que o presidente se reuniu com sua equipe jurídica na semana passada e concluiu que os interesses dos militares e do governo americanos não seriam atendidos com a divulgação das fotos.
Ele relatou que, como Obama seria o último a se desculpar pelas ações retratadas nas fotos, o Departamento da Defesa investigou os casos para apurar se os indivíduos foram punidos com prisão, expulsão das Forças Armadas ou outras penas. Funcionários da Casa Branca disseram que ontem seriam entregues documentos ao tribunal onde tramita o processo, apresentando a abordagem legal anunciada por Obama.
Em juízo, funcionários da Defesa se manifestaram contra a divulgação das imagens, ligadas a investigações feitas entre 2003 e 2006. Alegaram que a divulgação colocaria em perigo militares americanos no exterior e que a privacidade dos prisioneiros seria violada. Mas, ao confirmar a decisão de um tribunal inferior, a instância superior disse que o interesse público envolvido na divulgação das imagens pesava mais que um receio vago e especulativo de perigo para militares americanos ou violação de privacidade de detentos.
Um funcionário do Pentágono envolvido na discussão disse que as fotos mostram detentos em posições humilhantes, mas -a exemplo do que afirmou Obama- ressaltou que não são tão chocantes quanto fotos de abuso em Abu Ghraib.
Tradução de CLARA ALLAIN’
INTERNET
Senado francês aprova lei de combate à pirataria
‘Por 189 votos a 14, os senadores franceses aprovaram o projeto que permite que seja bloqueado o acesso à internet de usuários que baixarem músicas e filmes piratas. Pelo projeto, que tem o apoio do presidente Nicolas Sarkozy e já havia sido aprovado anteontem pelos deputados, se o internauta receber três avisos em um período de um ano de que está baixando material pirata, ele terá suspenso o acesso à rede por um período de até um ano.’
Folha de S. Paulo
Reportagem sobre crime de pedofilia on-line é premiada
‘Dois jornalistas da Folha venceram ontem, em São Paulo, uma das categorias da 2ª edição do Prêmio Internet Segura de Jornalismo.
Pela reportagem ‘Proteja seu filho’, publicada em 30 de abril de 2008 no caderno Informática, os repórteres Daniela Arrais e Gustavo Villas Boas conquistaram a categoria especial proteção da infância e adolescência.
Sobre crimes de pedofilia e pornografia infantil on-line, a reportagem da Folha trazia dicas para aumentar a segurança na navegação de crianças e adolescentes.
Os outros dois trabalhos premiados foram de Walace Lara, do ‘Bom Dia Brasil’ (TV Globo), na categoria veículos de cobertura generalizada, e de Sandra Cunha, da revista ‘Security Brasil’, em veículos especializados em tecnologia.
Ao todo, concorreram 57 autores de 74 trabalhos produzidos entre janeiro de 2008 e março de 2009.
A entrega do prêmio, uma iniciativa do MIS (Movimento Internet Segura) e da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico, foi na sede da Microsoft. O objetivo do concurso é estimular imprensa e estudantes de jornalismo a divulgar informações de segurança na rede.’
SELO
União quer classificar programas de TV com conteúdo homofóbico
‘O governo federal quer classificar como impróprios para crianças e adolescentes programas de TV com conteúdo homofóbico. A medida consta de um plano de promoção da cidadania de LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) que será lançado hoje à tarde pela Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência.
O plano tem propostas feitas na última Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais, em junho do ano passado. As ideias foram analisadas por 18 ministérios, que descartaram algumas e chancelaram outras.
Há ações previstas nas áreas de educação, saúde, segurança pública e cultura, entre outras.
O documento estabelece que a classificação etária dos programas com conteúdo homofóbico se dará de acordo com as regras de classificação indicativa do Ministério da Justiça.. Elas são ditadas pela portaria número 1.220 de 2007 -embora o plano faça menção à de número 264, já revogada. A reclassificação pode abranger desde programas de humor até outros em que religiosos atacam a homossexualidade, mas não se aplicam a programas jornalísticos, esportivos e à publicidade.
Como inapropriadas para crianças e adolescentes, as atrações terão que exibir selo com a mensagem ‘não recomendado para menores de 18 anos’ -portanto, ‘inadequados’ para exibição entre 6h e 23h, segundo o secretário Nacional de Justiça, Romeu Tuma Jr. ‘O ideal é que não fossem exibidas em horário nenhum.’
A classificação indicativa é feita pelas emissoras, mas o Ministério da Justiça faz um acompanhamento dos programas e pode mudá-la mediante procedimento administrativo.
O plano prevê que comissão ‘intersetorial’ a ser constituída pelo Ministério da Justiça analise programas de auditório e de humor. Ela não terá poder de veto, mas fará recomendações, diz Eduardo Santarelo, coordenador do programa Brasil Sem Homofobia da Secretaria dos Direitos Humanos.
Segundo ele, o plano é o primeiro marco normativo do governo especificamente para essa área, já que o Legislativo pouco avançou no que diz respeito a temas como união civil e adoção por homossexuais.
Parte das ações está voltada à igualdade de direitos de LGBT nas próprias ações do governo.
Uma delas é permitir que quem mora com o companheiro do mesmo sexo possa declarar o parceiro como seu dependente no Imposto de Renda.
Outras medidas do mesmo caráter já aconteceram, mas por iniciativas isoladas de ministérios ou decisões judiciais. É o caso do aluno gay que teve permissão para incluir o parceiro como dependente para atingir o cálculo da renda máxima para ingresso no ProUni.’
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Para ator, ser correto demais atrapalha humor
‘O humorista Evandro Santo, 34, que há cerca de dois anos interpreta o personagem gay Christian Pior, no Pânico na TV, da Rede TV!, afirma que é preciso haver respeito sem exagerar no politicamente correto, para não deixar chato o que deveria ser engraçado.
FOLHA – Você apoia esse tipo de medida?
EVANDRO SANTO – Acho que a televisão é um complemento. O primeiro problema da homofobia é em casa, relacionado a como se educa um filho. Não é nem só a homofobia. É o racismo, o machismo… Não adianta nada a mulher reclamar que o marido bate nela se deixa o filho chegar às 5h e a filha a 1h. Mas a televisão também pode colaborar. É preciso respeito. Mas se você fica muito pisando em ovos e com muitos dedos, fica chato. O excesso do politicamente correto prejudica o humor.
FOLHA – O seu trabalho tem algum aspecto homofóbico
SANTO – Não. Porque é um personagem gay que brinca com héteros, com gays. Se excluísse os gays das brincadeiras, seria homofobia.
FOLHA – Um personagem humorístico gay não significa um trabalho homofóbico?
SANTO – Se eu fizesse aquele personagem vítima, que os héteros usassem de escada e sempre o colocassem de maneira muito fragilizada, aí seria homofobia.
FOLHA – Como você vê os personagens gays em geral na TV brasileira?
SANTO – Essa coisa é antiga. Nos anos 80, ele era vítima. Nos anos 90, era aquela coisa mais Vera Verão. Hoje se tornou uma coisa mais politizada. A homofobia diminuiu e isso se reflete no humor.’
TELEVISÃO
Garota da web desbanca Hannah Montana
‘Uma menina que faz 14 anos hoje é o mais novo ídolo de crianças e adolescentes brasileiros (e de outros países também, como EUA, México e Argentina). ‘iCarly’, série sobre uma garota que faz transmissões pela internet a partir de um estúdio no porão de sua casa, desbancou ‘Hannah Montana’ e lidera, desde abril, o ranking dos seriados infanto-juvenis da TV paga nacional.
Estrelado por Miranda Cosgrove, ‘iCarly’ é exibido no Brasil desde abril de 2008, pelo canal Nickeolodeon, do grupo Viacom. ‘Hannah Montana’, sobre uma adolescente pop-star, levou o Disney Channel à liderança na TV paga brasileira no ano passado.
As exibições das 20h30 de ‘iCarly’ foram vistas em abril por 12,5 mil telespectadores de 4 a 11 anos, em todo o país, na média por episódio, de acordo com projeção a partir de números do Ibope. Outra exibição, a das 18h30, aparece em segundo lugar, ao lado de ‘Hannah Montana’ também das 18h30, com 9.200 telespectadores.
‘iCarly’ das 20h30 também é o seriado de TV paga mais visto por pessoas de 12 a 17 anos, com uma média de 7.700 telespectadores. Nessa faixa etária, o programa da Nick tem grande vantagem sobre o da Disney.
No ranking geral, considerando os programas de TV aberta vistos via TV paga, ‘A Grande Família’ lidera entre pessoas de até 11 anos e ‘Malhação’, entre as de 12 a 17.
PROJETO SECRETO
Pedro Bial está trabalhando em um novo programa para a Globo. O projeto, mantido em sigilo, ainda será apresentado à direção da emissora.
PROTAGONISTAS
Marcos Palmeira foi convidado para ser o protagonista da próxima novela das seis da Globo. O ator, que acabou de fazer ‘Três Irmãs’, havia combinado com a TV de ficar um tempo longe das novelas, mas está seduzido pelo personagem. Camila Pitanga será a mocinha.
PRESSÃO
Depois de assustar o SBT no horário nobre, a Band está encostando na Record no Ibope vespertino da Grande SP. Anteontem, marcou 3,6 pontos na média das 14h às 19h, contra 4,2 da Record. No arredondamento, ambas ficam com quatro.
VESTIBULAR 1
No episódio de anteontem de ‘O Aprendiz – Universitário’, os participantes não souberam dizer qual é a capital do Iraque, colocaram a Venezuela no lugar da Colômbia no mapa e informaram que Caminho de Santiago fica no Chile.
VESTIBULAR 2
‘O Aprendiz’ se gaba de ser o vestibular mais concorrido do país -100 mil candidatos para 18 vagas- e tem a ‘missão inovadora’ de descobrir ‘o universitário mais talentoso do país’.
FRUSTRAÇÃO
O ministro Hélio Costa não foi à inauguração do canal digital da Globo de Fortaleza. Mandou só um assessor. Nos bastidores, o comentário era que Costa não gostou de ver o ‘JN’ noticiar que teve passagens e motorista pagos pelo Senado.’
Fernanda Ezabella
Bolsa de valores é centro de intrigas
‘Assim como médicos de verdade encaram com certa ironia seriados ambientados em hospitais, o mesmo deve acontecer com operadores de bolsas de valores ao assistir à série ‘Scalp’, cujo cenário é o centro financeiro de Paris.
O programa francês, que tem oito episódios, chega com cara de atrasado ao Eurochannel.
Além de ter estreado há mais de um ano, o seriado passa ao largo da crise atual, já que aborda os anos 90. Tem um clima meio vintage, com ênfase na gritaria selvagem do tradicional pregão viva voz, e não nas movimentações eletrônicas.
Seja como for, como série francesa, o importante são as relações humanas. Estamos em 1990, com o Iraque prestes a invadir o Kuait. Num grupo de amigos, um deles recebe a informação privilegiada e opera para lucrar antes de todos. Enquanto isso, seu colega Pierre, o bonitão do pedaço, afunda em dívidas, negócios escusos e cocaína. Quando a guerra estoura e o pânico se alastra nas bolsas do mundo, Pierre percebe a traição do amigo e atinge 20 milhões de francos em dívidas.
Nos capítulos seguintes, acompanhamos a penúria da mulher de Pierre, Alex (Laure Marsac), que resolve aprender as manhas da profissão do marido para encarar a ‘Bourse de Paris’ e tentar fazer dinheiro.
SCALP
Quando: hoje, às 21h
Onde: Eurochannel
Classificação: 14 anos’
FOTOGRAFIA
Cidades pelo avesso
‘‘Mauro Restiffe não é um fotógrafo de arquitetura ou de paisagens.’ A avaliação do crítico de arte e curador Rodrigo Moura pode causar um estranhamento inicial a respeito da obra do artista paulista, conhecido por retratar cidades diversas como Istambul, Nova York, Brasília e São Paulo, mas vai ao encontro do que Restiffe pretende: inverter expectativas.
Moura assina a curadoria e o texto do catálogo da exposição ‘Mirante’, uma das principais dentro do Photoespaña 2009, um dos mais importantes eventos fotográficos do mundo, que começa em junho em Madri (no dia 3) e outras três cidades.
Reunindo 40 imagens, é a primeira mostra de fôlego sobre a obra de Restiffe, 39, que teve importantes passagens em exposições de prestígio -a Bienal de São Paulo, em 2006, e a Bienal de Taipé, em Taiwan, no mesmo ano-, mas nunca havia ganhado uma individual de grande porte.
O artista vai levar para a Casa das Américas, em Madri, duas séries inéditas de fotografias. Uma retrata a multidão que tomou conta da arborizada e organizada Washington, durante a posse do novo presidente dos EUA, Barack Obama, em janeiro passado. A outra foi feita em Portugal no ano passado.
Junto dos registros inéditos, serão expostas séries sobre outras cidades percorridas pela lente da Leica do artista, já vistas por aqui em outras mostras.
‘Embora tenha uma gama de assuntos bastante ampla, a sua obra voltou seu interesse nesta última década para a cidade. Trata-se de um tema bastante comum à história da fotografia e que o artista consegue renovar de maneira única e pessoal’, avalia Moura, 34, curador do Instituto Inhotim (MG) e da última ‘Paralela’, no ano passado, em São Paulo.
‘Acho que a reunião dos trabalhos têm duas linhas. Uma delas é a reflexão sobre a própria fotografia, uma investigação formal’, afirma Restiffe. ‘A outra é a captação das massas, das multidões, no que podemos chamar de arenas.’
No entanto, Restiffe não segue a linha fotojornalista ou documental. A posse de Obama, por exemplo, tem diversas fotografias imperfeitas, com borrões produzidos pela entrada de luz quando fotografava. A multidão muitas vezes é observada de costas e não há retratos expressivos nem detalhes de personagens. E o próprio Obama não é visto.
‘Assim como na série feita na posse de Lula [‘Empossamento’, em 2003], essas figuras mais emblemáticas não me interessam. O que enfoco é o anônimo e sua inserção nessas grandes manifestações’, conta o artista. ‘Também não busco a perfeição técnica, incorporo o acidente. É um erro assumido.’
Restiffe levará à Espanha imagens paulistanas que podem ser vistas na mostra ‘À Procura de um Olhar’, em cartaz na Pinacoteca do Estado, em São Paulo (pça. da Luz, 2, tel. 0/xx/11/3324-1000).
É uma cidade de tom pouco turístico, vista por meio de imagens que trazem viadutos e praças em estado de abandono, figuras andando a ermo e um estado geral de degradação.
‘O fato de eu morar aqui poderia modificar meu trabalho. Mas acho que as imagens de São Paulo dialogam com a desolação presente em outras séries. É o retrato de um projeto de modernidade que não deu certo’, afirma ele.
Mais brasileiros
Além de Restiffe, o Photoespaña 2009 terá uma mostra individual da hispano-brasileira Sara Ramo (que também estará na Bienal de Veneza, no mês que vem). A artista Rosângela Rennó e o galerista Eduardo Brandão, da Vermelho, também são convidados do evento, cujo tema é o cotidiano.
‘Mauro e Sara são dois artistas muito diferentes, mas com trabalhos de muita qualidade, que sigo há alguns anos. Mauro está mais vinculado ao campo específico da fotografia. Já Sara tem uma forma sensível e espontânea do fazer artístico’, diz à Folha o curador do Photoespaña, Sergio Mah, 39.’
Silas Martí
SP recebe erotismo de homens e orquídeas
‘Robert Mapplethorpe era do tipo que não esquecia aniversários. Descrito como doce e simpático pelos amigos, era ótimo na mesa de jantar, alguém que não pensariam duas vezes antes de apresentar para a mãe. Também foi quem mais chocou a sociedade norte-americana com imagens de sado-masoquismo, sexo e nudez. Mapplethorpe, que tem mais de 30 fotografias expostas na galeria Fortes Vilaça, em São Paulo, assumiu a homossexualidade na arte contemporânea com mais veemência do que qualquer outro artista de sua geração.
Antes de morrer de Aids em 1989, o filho de operários católicos do Queens fotografou a roqueira Patti Smith, namorou o colecionador Sam Wagstaff, escalou modelos negros e um albino para um enlace erótico PB e iluminou flores como Josef von Sternberg filmou Marlene Dietrich em ‘O Anjo Azul’. Tudo em nome da forma.
‘Ele se interessava por beleza, basicamente’, lembra seu amigo e advogado Michael Scout, 65, hoje diretor da Mapplethorpe Foundation, que cuida do espólio do artista, em Nova York. Foi ele quem defendeu as obras do fotógrafo de censura numa exposição em Cincinnati, nos anos 90, que acabou com a prisão -e pouco depois a soltura- do diretor do museu.
Flores túrgidas
‘Mas o escândalo é o que menos importa no trabalho dele’, defende o curador italiano Germano Celant, 69, que costumava se hospedar no estúdio de Mapplethorpe. ‘As pessoas se chocavam com o tamanho dos pênis, mas sua obra é clássica.’
Mapplethorpe tratou mesmo a pele como mármore e bronze. Sua obsessão por modelos negros, quase sem pelos, refletia o pensamento de Michelangelo, que tentava ‘libertar a forma da matéria’, e Rodin, com suas peças de metal lisas, sem arestas.
Numa sessão de fotos, Mapplethorpe chegou a se irritar com uma modelo por causa de uma ruga no seio. ‘Queria que ela fosse lisa, perfeita, como uma escultura de [Antonio] Canova’, lembra Celant, denunciando o flerte do artista com pulsões neoclássicas que, por pouco, não esbarram no cafona..
Na mostra paulistana, imagens de homens e da body-builder Lisa Lyon, com feições quase masculinas, estão expostas junto de fotografias que fez de copos-de-leite, orquídeas e tulipas. ‘Mais do que o masoquismo, as flores são a parte mais erótica de sua obra’, afirma Celant. ‘Ele dizia que elas tinham de ser colhidas ainda túrgidas.’
Isso porque gostava de aproximar caules e pétalas de pernas, braços e outras partes do corpo. ‘Era um formalista’, resume Richard Flood, 65, curador do New Museum, que prepara um livro sobre o artista.
‘Ele pensava só nos tons de preto, de cinza, de branco.’
ROBERT MAPPLETHORPE
Quando: abertura hoje, às 19h; ter. a sex., 10h às 19h; sáb., 10h às 17h
Onde: Fortes Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, tel. 0/xx/11/ 3032-7066; classificação: livre)
Quanto: entrada franca’
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O Estado de S. Paulo
Quinta-feira, 14 de maio de 2009
OPINIÃO PÚBLICA
Deputado que se ‘lixa’ é destituído
‘Apesar dos apelos por uma solução negociada, ‘sem vencedores e vencidos’, e da tropa de choque de petebistas escalada para defender o companheiro de partido, o presidente do Conselho de Ética, José Carlos Araújo (PR-BA), destituiu ontem o deputado Sérgio Moraes (PTB-RS) da relatoria do processo contra o ex-corregedor da Câmara Edmar Moreira (sem partido-MG). Moraes, que disse se ‘lixar’ para a opinião pública e não vê motivos para condenar Moreira, será substituído por Nazareno Fonteles (PT-PI). A substituição foi anunciada ao fim de quase três horas de uma tensa reunião marcada por ataques à imprensa.
Na véspera da reunião, confiante, Araújo anunciou que poria em votação requerimentos do DEM e do PSOL pela substituição de Moraes. Ontem, porém, o resultado era incerto, com muitos conselheiros pedindo o adiamento da decisão. Araújo anunciou então que não cabia votação dos requerimentos, pois o pedido era direto ao presidente, que tinha a prerrogativa de decidir sozinho. ‘Eu já tinha meu juízo formado. A maioria concorda comigo. Ele (Moraes) perdeu a capacidade de ser relator’, disse ao deixar a sala do conselho. O entendimento dos defensores da saída do relator é de que ele emitiu um prejulgamento e antecipou o parecer pela absolvição de Moreira.
‘Você me sacaneou’, protestou Moraes, ao cruzar com o presidente do conselho na saída. ‘Foi para te poupar’, respondeu Araújo. Ao apresentar os argumentos para não aceitar abrir mão da relatoria, Moraes chegou a pedir desculpas por ter dito que estava se ‘lixando para a opinião pública’, mas disse que não voltou atrás na declaração. ‘A frase não foi boa, foi acalorada, infeliz. Peço desculpa porque não disse para a população nem para os deputados. Agora, não a retiro e volto a falar se for necessário’, afirmou o petebista gaúcho. Pouco antes, ele tinha usado a mesma expressão para atacar a imprensa, a quem acusa de deturpar suas palavras. ‘Tô me lixando para aquilo que estão escrevendo ou vão escrever’, afirmou. Logo depois de ser anunciado novo relator, Fonteles seguiu no caminho oposto ao do antecessor. ‘Só sou deputado graças à opinião pública’, declarou. E prometeu atuar ‘mais com o silêncio que com a palavra’.
Conhecido por ser dono de um castelo de R$ 25 milhões, registrado em nome dos dois filhos, Edmar Moreira é suspeito de ter se apropriado indevidamente de recursos da verba indenizatória a que cada deputado tem direito.
No mês passado, Fonteles foi citado no escândalo das passagens aéreas por causa da emissão de bilhetes para Paris e Miami em nome de pessoas que o deputado disse não conhecer. Ele demitiu uma assessora que confessou ter passado os créditos das companhias aéreas a pessoas não autorizadas e a participação de um mercado clandestino de venda de passagens. ‘Exonerei a assessora, ela revelou a máfia que tem aqui dentro. Quero que o Ministério Público e a Polícia Federal investiguem a fundo. Eu estou limpo’, afirmou o deputado.
CRONOLOGIA
2/2/2009
O deputado mineiro Edmar Moreira, então no DEM, é eleito segundo-vice-presidente e corregedor da Câmara. Ele invoca o ‘vício da amizade’ e defende o fim dos julgamentos na Casa dos pedidos de cassação
3/2
Moreira não teria declarado à Receita um castelo em Minas, de R$ 25 milhões. Ele diz que imóvel está em nome dos filhos
7/2
É revelado que, entre 2007 e 2008, Moreira gastou R$ 230,6 mil da verba indenizatória com segurança
9/2
Sob pressão, Moreira renuncia à corregedoria
12/2
ACM Neto (DEM-BA), que assumiu o cargo de corregedor no lugar de Moreira, recebe pedido do PSOL para apurar se houve irregularidades no uso da verba indenizatória. O deputado é desfiliado do DEM
22/2
Caso de Moreira leva a Câmara a abrir dados de gastos com verba indenizatória na internet
11/3
Corregedor cria comissão de sindicância para investigar o deputado do castelo
12/3
Para receber a verba indenizatória, Moreira apresentou notas fiscais eletrônicas das empresas Itatiaia Ltda. e Ronda Ltda., de sua propriedade. Ele diz que serviço era sigiloso e pagamentos eram em dinheiro, sem comprovante
31/3
Mesa Diretora encaminha ao Conselho de Ética parecer da comissão de sindicância que aponta indícios de uso irregular da verba indenizatória por Moreira, que passa, então, a responder a processo por quebra de decoro
29/4
STF indefere pedido de extinção do inquérito contra Moreira por apropriação indébita de contribuições previdenciárias entre 1997 e 1998. Ele não teria repassado ao INSS o desconto salarial de funcionários de uma de suas empresas de segurança
5/5
Presidente do Conselho de Ética da Câmara, José Carlos Araújo (PR-BA), convida Moreira para depor
6/5
O deputado Sérgio Moraes (PTB-RS), relator no Conselho de Ética do processo de quebra de decoro parlamentar contra Edmar Moreira, diz não ver razões para condenar o colega. E afirma: ‘Estou me lixando para a opinião pública’
7/5
Após declaração, deputados e técnicos do Conselho de Ética iniciam movimento para tirar de Moraes a relatoria do processo contra Moreira. O deputado gaúcho, que recebeu da indústria do tabaco a maior parte das doações (59%) para sua campanha, responde a duas ações no Supremo. Nos processos, ele foi acusado pelo Ministério Público de ter cometido crimes de responsabilidade na época em que era prefeito da cidade de Santa Cruz do Sul (RS)
Deputado do castelo vira réu de ação no Supremo, que aceita denúncia feita pelo Ministério Público Federal contra ele por suspeita de apropriação indébita de contribuições previdenciárias e crime contra a ordem tributária
Ontem
Sérgio Moraes é destituído da relatoria do processo de Moreira no Conselho de Ética. Antes, pede desculpas aos colegas pelo ‘exagero’ da declaração. ‘A frase não foi boa, foi acalorada, infeliz.’ O novo titular é o deputado Nazareno Fonteles (PT-PI), que promete agir ‘mais com o silêncio que com a palavra’’
ACESSO A INFORMAÇÃO
Lei obrigará governo a abrir dados
‘Pacote anunciado ontem pelo governo pretende tornar públicos os documentos oficiais da época da ditadura militar e garantir que todas as informações produzidas pela União, pelos Estados e pelos municípios estejam abertas a qualquer cidadão.
A Lei de Acesso à Informação, o portal Memórias Reveladas e o lançamento de um edital para recolher documentos públicos – produzidos entre 1964 e 1985 – tentam resgatar informações ainda ocultas da época da ditadura e acabar, daqui para frente, com a cultura do segredo na administração pública.
Apesar dessas iniciativas, um problema permanece em aberto. Até hoje, o governo não conseguiu recolher os arquivos secretos que estariam nas mãos de militares. As Forças Armadas afirmam, oficialmente, que esses papeis foram destruídos e que nem sequer haveria registro dessa destruição. A Casa Civil, no entanto, pediu a instauração de uma sindicância, ainda em curso, para confirmar essa alegação.
O Ministério Público de São Paulo, por sua vez, exigiu a entrega dos papeis em ação recente que tratava da Lei de Anistia. Em resposta, os militares reafirmam que já entregaram ao Arquivo Nacional todos os documentos de que dispunham.
Para tentar buscar esses e outros documentos perdidos, o Arquivo Nacional abrirá um prazo de um ano para que pessoas que tenham dados públicos do regime militar entreguem essas informações, que serão digitalizadas, publicadas na internet e devolvidas. Quem se dispuser a ajudar terá a garantia do anonimato. Quem se recusar poderá ser obrigado pela Justiça a entregar os documentos.
Todo o acervo já disponível no Arquivo Nacional, em universidades e em órgãos policiais dos Estados, além dos documentos que forem obtidos, será disponibilizado no portal Memórias Reveladas (http://www.memoriasreveladas.arquivonacional.gov.br). Somente serão mantidos sob reserva dados que violem a honra e a intimidade de pessoas.
Fecha esse pacote o projeto da Lei de Acesso à Informação, que tem por objetivo permitir que todo cidadão disponha de dados sobre programas de governo, licitações, obras, metas, indicadores e prestações de contas. O texto reduz também os prazos de sigilo de documentos considerados sensíveis, mantendo a possibilidade de que alguns permaneçam resguardados eternamente.
Inicialmente, o governo aventava a possibilidade de acabar com o sigilo eterno dos documentos. A ideia era estabelecer um prazo a partir do qual os papéis ultrassecretos seriam divulgados. Os ministérios da Defesa e das Relações Exteriores reagiram. No final, o governo chegou a um meio termo que, segundo Lula, não deve ser visto ‘como se fosse revanchismo’ contra o regime militar.
A primeira proposta de lei de acesso à informação que chegou ao governo partiu da ONG Transparência Brasil, em 2005. Quatro anos depois, o diretor executivo da organização, Cláudio Weber Abramo, elogiou o envio do projeto ao Congresso. ‘A importância dessa iniciativa não deve ser minimizada. O fato de não haver no Brasil uma regulamentação (do acesso à informação) é causa de muito escamoteamento de informação’, disse.’
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Direito já está na Constituição
‘Todo cidadão, em qualquer lugar do País, tem direito a receber da administração pública informações de seu interesse. E os governos – Executivo, Legislativo e Judiciário – têm a obrigação de entregá-las o mais rápido possível. Para regulamentar esse direito e esse dever, já previstos na Constituição, o projeto da Lei de Acesso à Informação foi anunciado ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e encaminhado ao Congresso Nacional.
Depois que a Legislação for aprovada pela Câmara e pelo Senado, a União, os Estados e os municípios terão 120 dias para se adaptar a ela. A partir daí, cada órgão dos três Poderes nas três esferas de governo terá de criar um serviço específico para atender aos pedidos de acesso a documentos. Quem tiver interesse em determinada informação e não encontrá-la na internet, por exemplo, deverá pedi-la a esse setor.
Um funcionário responsável deverá, no prazo máximo de 30 dias, entregar as informações solicitadas, desde que não estejam classificadas como sigilosas. Caso não as receba ou se estiverem alteradas ou incompletas, o interessado poderá recorrer ao superior hierárquico desse servidor, que terá o mesmo prazo máximo de 30 dias.
Se novamente o cidadão não receber o que pediu, poderá apelar à Controladoria-Geral da União (CGU). O órgão será a última instância administrativa nesse processo e tem poder de obrigar que o servidor entregue a informação. Se, ao final desse trâmite ou a qualquer momento, o cidadão preferir, poderá recorrer à Justiça. A lei estabelece que os funcionários – civis e militares – que descumprirem a lei poderão ser multados, advertidos ou, em casos mais graves, exonerados.
Para garantir a efetividade da lei, o ministro da CGU, Jorge Hage, adianta que é necessário trabalhar para mudar a cultura da administração pública de impor restrições à divulgação de dados, treinar funcionários e explicar à população que qualquer informação pública deve estar nas mãos de todo cidadão.
‘É bom, então, que estejamos todos cientes de que, depois da esperada aprovação pelo Congresso, terá de haver um esforço coordenado do comando central de cada esfera de governo, no sentido de conscientizar os agentes públicos para superar a cultura do segredo.’’
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Prorrogações podem eternizar sigilo de papéis
‘Se for aprovada a legislação proposta pelo governo, alguns documentos poderão ficar para sempre fora do alcance dos cidadãos comuns.
Os chamados documentos ultrassecretos não poderão ser divulgados por um período inicial de 25 anos, mas uma comissão de ministros terá poder para prorrogar esse prazo, se julgar necessário. Já os documentos classificados apenas como ‘secretos’ ficarão por 15 anos longe dos olhos do público, e o prazo não poderá ser prorrogado. Papéis ‘reservados’ terão de ser abertos a consulta após cinco anos.
Só poderão ser tratados como sigilosos dados que, na avaliação das autoridades, representarem risco para a segurança nacional ou para a estabilidade da economia, por exemplo. Se um cidadão discordar da imposição do sigilo, poderá recorrer a uma comissão de ministros e pedir a revisão dos critérios.
Outra inovação do projeto é a proibição do sigilo de documentos referentes a violações de direitos humanos.’
MEMÓRIA
Gabriel Manzano Filho
Uma casa para Vlado vivo
‘A tarefa dos homens, a cada tempo, não é só preservar o passado, mas realizar as suas esperanças. Foi nesse famoso pilar, plantado pelo filósofo Walter Benjamin, que se inspiraram a família e os amigos de Vladimir Herzog para dar uma virada em três décadas de homenagens rotineiras e anunciar, para o dia 25 de junho, a criação do Instituto Vladimir Herzog.
A data diz tudo. ‘No dia 27, meu pai estaria completando 72 anos’, lembra o engenheiro Ivo Herzog, 42 anos, filho mais velho do jornalista. ‘O que queremos é que ele e o instituto sejam identificados com a vida, com o hoje. Com a figura do Vlado ativo, jornalista, fotógrafo, cineasta, ligado a rádio e TV, professor da ECA. Um homem multimídia, como tantos de hoje, mas bem à frente de seu tempo. E também ligado à defesa dos direitos humanos’, diz ele.
O ministro Paulo Vanucchi e autoridades ligadas à causa devem comparecer à cerimônia de fundação, na Cinemateca. O programa incluirá homenagens a dom Paulo Evaristo Arns, ao rabino Henri Sobel e, in memoriam, ao pastor James Wright – as figuras que deram apoio à família e enfrentaram a ditadura quando Vlado foi morto.
A ideia, que já existe como site, surgiu há um ano. Ivo, sua mãe Clarice, o irmão André e muitos amigos estavam insatisfeitos com a imagem que ia ficando de Vlado – morto, pendurado numa janela, numa montagem grosseira para simular seu suicídio. Queriam, além disso, retomar uma participação mais direta no prêmio Vladimir Herzog.
Além disso, antecipa Clarice, o plano é criar um espaço físico em que se reúna a documentação – textos, fotos, filmes – para que seja usada por estudantes, principalmente. ‘Somos sempre procurados para falar dele, contar como tudo aconteceu naquele ano, reviver a história. Isso tem de ser organizado’, avisa a empresária. Daí a missão do instituto: ‘Contribuir para a reflexão e produção de informação voltada ao direito, à justiça e ao direito à vida.’
Mas há um longo caminho pela frente. Com apoio de várias instituições, como OAB, ABI, Sindicato de Jornalistas e Comissão de Justiça e Paz, o grupo tem de correr atrás de recursos. Uma das saídas é aLei Rouanet. Fisicamente, ficarão de início em um prédio da Bela Vista. E a nova entidade chega com mudanças no prêmio: agora estudantes poderão inscrever seus projetos de matérias e as melhores ideias serão patrocinadas.
O jornalista Sérgio Gomes, velho amigo dos Herzog, é um dos entusiastas da causa. ‘O Vlado era um multimídia já naquela época. Mas por que lembrar só dele? E os outros, suas esperanças e lições? E como viver na prática, hoje, o que todos eles sonhavam?’
Outra das ideias é valorizar o que chamam de ‘direitos humanos intangíveis’ – temas como corrupção ou atentados ao meio ambiente, cujo estudo vão valorizar.
E para sua luta Ivo traz à memória um episódio recente com dom Paulo. ‘Foi ele quem primeiro nos acendeu a chama, em um encontro no qual me passou um pequeno pedaço de papel. Pedia que, pela memória de meu pai, fizéssemos alguma coisa na direção de paz, solidariedade e vida’, recorda. Ele espera que o instituto seja a resposta.’
EUA
Obama recua em liberação de fotos de tortura
‘O presidente dos EUA, Barack Obama, mudou de ideia ontem e ordenou que seu governo conteste a ordem judicial que obriga o Pentágono a divulgar fotos de suspeitos de terrorismo sendo torturados por soldados americanos em prisões no Iraque e no Afeganistão durante o governo do ex-presidente George W. Bush.
‘A consequência mais direta da divulgação dessas imagens seria inflamar o antiamericanismo, o que colocaria em perigo nossas tropas’, disse Obama. No mês passado, o presidente havia anunciado que respeitaria a decisão judicial e divulgaria pouco mais de 40 fotos comprometedoras no dia 28. ‘Acredito que a divulgação destas fotos não acrescentaria em nada em nossa compreensão do que um pequeno número de indivíduos fez no passado.’
De acordo com um funcionário do Departamento de Defesa, que não quis se identificar, o presidente mudou de opinião na semana passada após uma reunião com assessores jurídicos. Obama teria dito na ocasião que não se sentia confortável com a divulgação das fotos.
A liberação das imagens foi conseguida na Justiça pela União Pelas Liberdades Civis Americanas (ACLU, na sigla em inglês), um grupo de defesa dos direitos humanos. As fotos conteriam cenas de 60 investigações criminais.
‘A divulgação mostraria que a tortura de detentos em prisões administradas por americanos é sistêmica’, disse Jameel Jaffer, diretor da ACLU. ‘Muitos desses casos ocorreram porque funcionários do governo vivem em uma cultura de impunidade.’
PRESSÃO CONSERVADORA
A súbita mudança de política surpreendeu alguns aliados de Obama e pareceu fortalecer aqueles que acusam o presidente de não manter a promessa de romper com os métodos utilizados durante a administração de seu antecessor.
O presidente, de acordo com analistas, parece ter cedido à pressão de setores conservadores. O secretário de Defesa, Robert Gates, o senador independente Joe Lieberman e o republicano Lindsey Graham expressaram publicamente preocupação com a divulgação das imagens. Segundo eles, as fotos poderiam ser exploradas pela Al-Qaeda para recrutar novos militantes.
‘Sabemos que muitos terroristas capturados no Iraque nos contaram que a decisão de entrar para o movimento jihadista foi tomada por causa das fotos e dos vídeos de Abu Ghraib’, disse Graham, citando a prisão de Bagdá onde os americanos foram flagrados praticando abusos contra detentos.’
TELEVISÃO
‘Falar em boicote é sacanagem’
‘Profissional que integrou a equipe de direção de mais de 20 novelas no SBT, Henrique Martins enumera uma série de argumentos para contestar a tese de que a novela Revelação, de Íris Abravanel, sofreu boicote de sua equipe de produção.
Segundo o que um alto executivo do SBT disse ao Estado, uma pesquisa interna teria eximido a mulher do patrão de responsabilidade sobre o fracasso de audiência da trama. Por esse raciocínio, a culpa seria da equipe de produção, que teria ‘boicotado’ a novela, o que motivou a demissão de cerca de 70 funcionários do núcleo de teledramaturgia – e não 20, como foi dito neste espaço no dia 24/04.
‘Dizer que houve boicote da produção é uma grossa safadeza’, defende Martins, que fala como porta-voz de boa parte dos profissionais dispensados desde a chegada de Del Rangel à direção da teledramaturgia do SBT. ‘Ninguém aqui é louco, não faria sentido boicotar justamente a novela do patrão. Ao contrário: como era dela, todos nos empenhamos mais que o normal para apresentar uma boa qualidade’, completa.
‘Ela esteve na cidade cenográfica, acompanhou as gravações e, na época, disse que estava muito satisfeita’, argumenta a produtora Carmen Bussana, ao lado de Martins, dos também diretores Jacques Lagoa, Annamaria Dias, do cenógrafo João Nascimento e da diretora de arte Denise Dourado.
‘É normal que um novo diretor queira formar sua equipe, o que não se pode admitir é que esse grupo, que fez várias novelas na emissora, algumas até com ibope inferior a Revelação, seja agora acusado de boicote’, defendem Lagoa e Dias.
Além disso, argumentam, foi opção da emissora gravar a novela inteira antes de levá-la ao ar. Isso tornou qualquer pesquisa de público sem efeito: não havia como ajustar eventuais defeitos com o folhetim todo gravado.’
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