Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Guerra de liminares
na reta final da eleição


Leia abaixo os textos de quarta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 27 de setembro de 2006


ELEIÇÕES 2006
Francisco Figueiredo


Em liminar, juiz ordena que TV cumpra grade de inserções


‘O juiz Zacarias Leonardo, do TRE do Tocantins, concedeu anteontem liminar, a pedido da coligação que apóia o candidato ao governo José Wilson Siqueira Campos (PSDB), para que a TV Anhangüera -afiliada da Rede Globo- cumpra a grade de inserções na TV a que os candidatos têm direito.


Segundo a representação dos aliados de Siqueira Campos, a emissora deixou de exibir 14 inserções a que coligação tinha direito. A decisão parcial do juiz não confirma se houve o suposto ‘tratamento privilegiado’ aos demais candidatos.


A TV Anhangüera nega que tenha havido erro e diz que a suposta diferença calculada está relacionada a decisões da Justiça, que desde o dia 10 notifica as emissoras sobre as inserções que devem ser tiradas do ar.


A representação ainda pede que a emissora exiba as inserções ‘devidas’, seja multada e suspensa por 24 horas, o que ainda não foi julgado. Pelos mesmos motivos, a coligação questionou a Redesat, TV estatal. Não houve liminar até o fechamento da edição.’



Editorial


O direito de saber


‘A MUOS CONTRA a imprensa são comuns em época de eleição. Luiz Inácio Lula da Silva, após um flagrante policial ter derrubado a cúpula de sua campanha, se diz prejudicado pela cobertura jornalística. Na crônica universal da democracia, o evento é rotineiro e tolerado: o candidato reclama, a mídia registra, o jogo prossegue.


O que não é rotineiro nem tolerável são ataques contra a liberdade de imprensa -ataques como o patrocinado pela chapa do governador licenciado do Paraná, Roberto Requião (PMDB), que postula o segundo mandato. Sua assessoria requereu na Justiça Eleitoral censura prévia contra reportagem da Folha ainda em apuração e pressiona o Ministério Público paranaense a quebrar o sigilo telefônico de quatro jornalistas, entre os quais uma profissional deste jornal.


O tema da investigação jornalística eram os indícios de que um ex-funcionário da Casa Civil do governo Requião, que está preso, chefiaria um esquema ilegal de interceptações telefônicas dentro da administração estadual. A tentativa de obter liminar impedindo a publicação -sob alegação de que se basearia em evidências obtidas ilicitamente- foi negada pelo juiz Munir Abbage, do TRE do Paraná.


‘A Constituição Federal estabelece o direito à liberdade da imprensa sem censura de qualquer natureza’, escreveu o magistrado. Resta, no entanto, um pedido formal da candidatura Requião à Corregedoria do Ministério Público do Paraná para que solicite à Justiça a quebra os sigilos telefônicos de três repórteres do jornal ‘Gazeta do Povo’, bem como da correspondente desta Folha em Curitiba.


Fica patente a tentativa do candidato do PMDB, acuado por suspeitas que rondam a sua administração, de constranger o livre exercício do jornalismo. Que a ação intimidatória não prospere, pois o alvo do ataque de Requião é o direito da sociedade de ter acesso a informações, instituição sagrada da democracia.’


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Pergunta sobre negociação com PCC irrita Alckmin na TV


‘O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, se irritou ontem à noite ao ser entrevistado pelo ‘Jornal da Record’ (TV Record).


Questionado sobre uma suposta negociação do governo paulista, comandado por ele até março, com a facção criminosa PCC, o tucano não se conteve e disse: ‘Cuidado com as palavras (…) Não tem negociação nenhuma’.


A primeira pergunta dos entrevistadores foi sobre os vestidos que quando primeira-dama, Maria Lucia Alckmin recebeu de um estilista, conforme revelou a Folha. Alckmin afirmou que não há irregularidade no caso, já que, segundo ele, as peças foram doadas a uma instituição e sua mulher não é funcionária do Estado.


Apesar de ter sido obrigado a se manter na defensiva, Alckmin criticou a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva e disse que, se eleito, irá ‘despetizar’ o governo federal.


‘Eu vou despetizar a máquina do governo. O aparelhamento do Estado leva à ineficiência. O governo não funciona, mal faz tapa-buracos e, de outro lado, leva à corrupção’, afirmou.


No final da entrevista, que durou aproximadamente 12 minutos, os apresentadores do telejornal citaram alguns nomes de políticos e pediram definição rápida do candidato.


Sobre Hugo Chávez, presidente da Venezuela, ele respondeu: ‘É amigo do Lula’. Em seguida, os apresentadores emendaram o nome de Evo Morales, presidente da Bolívia: ‘Esse manda no Lula, o Lula é submisso a ele, posição dúbia, submissa, vergonhosa’.


Após a entrevista, Alckmin foi questionado pelos repórteres que o acompanhavam se havia achado o tom ‘áspero’. ‘Tive a firmeza necessária, é a indignação necessária’, disse apenas o tucano.


Hoje, o ‘Jornal da Record’ tem agendada entrevista ao vivo com o presidente Lula.


Debate e pesquisas


Também após a participação no telejornal, Alckmin voltou a ressaltar a importância do debate que a TV Globo promove amanhã. ‘Debate não é para o candidato, é para o eleitor’.


Ele não quis comentar a possibilidade de Lula se ausentar. ‘O que eu posso dizer é que o Geraldo Alckmin vai estar lá.’


Sobre as pesquisas de intenção de voto, o tucano, com base em levantamentos diários de seu partido, disse que está tirando votos de Lula e que tem certeza de que já está no segundo turno. ‘No segundo turno, os temas são aprofundados, o que dá mais segurança para o eleitor’, afirmou.’


Elio Gaspari


Dr. Ulysses, velai por ‘nosso guia’


‘FALTAM POUCO mais de 24 horas para que Lula tome uma decisão que poderá marcar sua vida pública: vai ou não ao debate da TV Globo? ‘Nosso guia’ está numa situação parecida com a que Ulysses Guimarães viveu na noite de 13 de maio de 1978, numa calçada do Campo Grande, em Salvador, quando viu-se diante de uma tropa de soldados e cães da PMs. Ulysses teve que tomar sua decisão num átimo. Lula ainda tem o dia de hoje e a tarde de amanhã para pensar.


É razoável que um presidente se recuse a ir a um debate com três adversários? Em 1998, FFHH recusou-se, mas o formato do encontro era outro, exigindo a presença de dez candidatos zumbis. Na ocasião, Lula e Ciro Gomes lançaram um manifesto pedindo aos eleitores que provocassem o segundo turno, para permitir o debate da crise econômica. Boa idéia.


A decisão de ir ao estúdio ou deixar a cadeira vazia parece depender de um cálculo político. Entrar numa arena onde estarão três adversários pode parecer suicídio. Admita-se que, não indo, ‘nosso guia’ arrisque perder dois pontos percentuais. Indo, poderia perder quatro. Nesse caso, seria melhor não ir. Se os números forem trocados, melhor ir. Uma coisa é certa: ninguém votará em Lula porque ele não foi. Para seus apóstolos de pouca fé, trata-se de escolher o caminho do menor prejuízo.


Enfrentar Geraldo Alckmin, Heloísa Helena e Cristovam Buarque não é tão difícil quanto parece pois, se eles se unirem contra Lula, ficará exposta a demasia do três-contra-um. Uma pessoa que está sendo linchada pode esperar alguma solidariedade da platéia. (Num caso real, ocorrido na sua juventude, Lula negou-a, mas essa é outra história: ‘Eu achava que o pessoal estava fazendo justiça’.) No caminho inverso, a cadeira vazia estimula o massacre do ausente soberbo.


O absenteísmo despreza a possibilidade de ‘nosso guia’ prevalecer, e isso não é pouca coisa. Lula ainda tem tempo para receber a centelha que, em 1978, fulgurou em Ulysses Guimarães. Era uma época na qual sempre que a PM vinha com seus cães, a oposição parava, conversava e recuava. Ulysses continuou caminhando, pediu respeito e foi em frente. Só no dia seguinte, diante da fotografia da cena nos jornais é que ele e Tancredo Neves (que ficou um pouco atrás), deram-se conta de que haviam vivido um instante ilustrativo do declínio da ditadura.


Com mais de 30 anos de vida pública, Lula tornou-se um exemplo de líder político audaz, instintivo. Em duas ocasiões, contudo, no lugar da faísca veio-lhe o branco. Talvez tenha sido o cansaço, mas ‘nosso guia’ apagou durante o debate com Fernando Collor em 1989. É dele o registro, passado a Ricardo Kotscho: ‘Perdemos a eleição. Eu me senti como um lutador sonado’. O outro apagão deu-se durante a greve de 1979, no dia seguinte à intervenção no Sindicato dos Metalúrgicos. Lula não apareceu na assembléia de 30 mil trabalhadores realizada no Paço de São Bernardo. Só voltou à tona à noite, no Sindicato dos Jornalistas. Segundo uma narrativa de Osvaldo Bargas -ele mesmo- e Luís Flávio Rainho (‘As Lutas Operárias e Sindicais dos Metalúrgicos de São Bernardo’, página 140), nesse dia a atriz Lélia Abramo diz a Lula que ele ‘estava se omitindo num momento em que a classe operária estava escrevendo sua história’.


Se doutor Ulysses puder, bem que poderia mandar um sinal para Lula. Gostava dele.’


Frederico Vasconcelos


TRE nega direito de resposta a Aécio sobre maquiagem de gasto com saúde


‘O Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais rejeitou quatro pedidos da coligação ‘Minas não pode parar’, que pretendia obter direito de resposta e a suspensão de propaganda eleitoral do petista Nilmário Miranda sobre a maquiagem dos gastos com saúde pública no governo Aécio Neves.


A coligação ‘A força do povo’ reproduziu em seu horário eleitoral reportagem da Folha que revelou artifícios contábeis para esconder a não-aplicação de recursos em saúde pública, em 2003 e 2004, nos percentuais fixados pela Constituição.


Com 73% das intenções de votos, Aécio Neves está com 61 pontos de vantagem sobre Nilmário Miranda (12%).


Liminar concedida anteriormente pelo juiz Gutemberg da Mota e Silva, para suprimir trecho da propaganda petista, foi cassada pelo mesmo magistrado, porque a coligação do candidato à reeleição não conseguiu provar que era ‘sabidamente inverídica’ a propaganda do opositor por afirmar que o governo Aécio Neves só aplica no setor de saúde metade do percentual de 12% determinado pela Constituição.


‘Houve um maquiamento escandaloso do dinheiro que deveria ter ido para a saúde e não foi’, sustentou o procurador eleitoral José Jairo Gomes, no julgamento em que o TRE rejeitou, por três votos a dois, recurso do candidato tucano.


Gomes afirmou que todos os auditores do Tribunal de Contas ‘repudiaram esse maquiamento de recursos, porque, na prestação de contas do governo, foram incluídos como gastos de saúde até aqueles feitos por um órgão que cuida de animais, despesas com ambiente e saneamento básico’.


O juiz Antônio Romanelli disse que o relatório do governo foi ‘mascarado’ e que a decisão do Tribunal de Contas ‘foi tomada ao arrepio da opinião técnica, unânime, de todos os auditores do tribunal’. ‘Foi uma decisão política.’


O advogado José Sad Júnior, que representou o candidato tucano, disse que vai recorrer no Tribunal Superior Eleitoral.’


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TSE concede direito de resposta a Lula contra a Folha; cabe recurso


‘O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) concedeu ontem direito de resposta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra a Folha por causa de uma coluna do jornalista Clóvis Rossi. Publicada em 22 de setembro à página A2, a coluna tinha o título ‘Como se faz uma quadrilha’.


Por quatro votos a dois, o tribunal acolheu o pedido da coligação de Lula e do PT contra o jornal. A maioria dos ministros considerou o texto de Rossi ofensivo a Lula e aos filiados do partido, principalmente em razão do trecho final, no qual ele afirmou: ‘Foi uma cultura que gerou a ‘quadrilha’ antigamente chamada de Partido dos Trabalhadores’.


Em outro julgamento, também ontem à noite, por cinco votos contra um, o TSE concedeu a Lula direito de resposta de quatro minutos que deverá ser veiculado na rádio CBN por causa de ataques do presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin, em entrevista à emissora.


Nos dois casos decididos ontem, a resposta deverá ser veiculada no prazo de 36 horas. A Folha e a CBN ainda podem recorrer.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Quinze, oito, três


‘No dizer de Josias de Souza, é o ‘samba da pesquisa doida’. No Sensus, Lula está 15,5 pontos à frente da soma dos demais. No Datafolha, 8. No Ibope, 3. ‘Tem instituto que vai sair com credibilidade carbonizada’, diz o blogueiro, acrescentando que ‘essa disputa está bem mais interessante que a dos presidenciáveis’.


O blog de Ricardo Noblat adiantou-se ao Sensus e cravou diferença de 10 pontos. Desculpou-se depois e cravou 9. Eram 15,5 pontos, mas não faltaram portais reproduzindo os tais 9 pontos de Lula sobre os outros.


‘FRENTE A FRENTE’


Não, a TV Globo não fez debate em 98, na reeleição de FHC, mas as chamadas para o debate de amanhã batem estaca, com Lula -e com William Bonner, desta vez, prometendo ‘ajudar você [eleitor] na hora de fazer sua escolha’.


ESCUTA OU NÃO ESCUTA


Bob Fernandes, de manhã no Terra Magazine, deu que ‘o presidente do TSE, Marco Aurélio Mello, errou: não existiram os grampos telefônicos por ele denunciados’.


O ‘Jornal Nacional’ correu atrás e, mais à noite, trouxe declarações de Mello e da empresa contratada pelo TSE que achou os tais grampos -ambos dizendo que devem ter sido tirados antes da investigação da PF.


MONTANHA


Blogs e colunas vêm anunciando que Lula poderia comparecer ao debate de amanhã na Globo, afinal.


Se for, vai encontrar uma Heloísa Helena disposta ao confronto, a fazer afirmações como ‘O PT se transformou numa organização criminosa no poder’, que foi o título da entrevista de ontem para o jornal espanhol ‘El País’.


Por outro lado, na mesma entrevista, não fez qualquer distinção entre Lula e seu adversário Geraldo Alckmin. Teriam cometido ambos, declarou ela, a mesma ‘montanha de maldades’.


CHUTAR LULA


O ‘Financial Times’ foi até o Rio Grande do Sul e, a cinco dias da eleição, produziu para a edição de hoje o enunciado ‘Calçadistas brasileiros em crise miram chutar Lula’. De uma entrevistada:


– Não sei em quem votarei. Certamente, não em Lula.


E do correspondente, ele próprio, ‘a maioria em Novo Hamburgo vai votar com a oposição no domingo’.


LARRY E LULA


Larry Rohter, o célebre correspondente do ‘New York Times’, está por todo lado -da seção de erros, por trocar a data do segundo turno, ao podcast do NYT.com.


No áudio, ele questiona a resistência dos brasileiros em admitir o racismo, elogia Lula por nomear ministros negros e propor o estatuto da igualdade racial. Vai além:


– Os grandes jornais, revistas e redes de televisão se pronunciaram contra o estatuto e contra qualquer idéia de ação afirmativa… Mas por trás disso há pessoas que têm gozado de privilégios por causa da cor de sua pele.


‘FIRST COMMAND’


Mais um dia e mais um despacho da agência Reuters, no site do ‘Washington Post’ e outros, sai dizendo que a violência no Brasil é ‘similar a zonas de guerra’, com ‘milhões de pobres vivendo em favelas urbanas’ etc.


É novamente lembrado, mas desta vez só no final do texto, o ‘First Command of the Capital’.


DE MERCEDES


No alto da home page do ‘Washington Post’, o ex-presidente da gigante norte-americana de telecomunicações WorldCom, Bernard Ebbers, ‘chega à prisão federal de Oakdale, para cumprir uma sentença de 25 anos por fraude contábil, ao volante de um Mercedes-Benz’’


SP SEM PUBLICIDADE
Evandro Spinelli e José Ernesto Credendio


Câmara proíbe outdoors em São Paulo


‘A Câmara de São Paulo aprovou ontem uma lei que acaba com a propaganda externa na cidade. A partir de 1º de janeiro ficam proibidos painéis eletrônicos, outdoors, faixas e banners. Todo comércio e serviços, incluindo bancos, terá que reduzir as placas nas fachadas.


O prefeito Gilberto Kassab (PFL) sancionou ontem mesmo o projeto. ‘A lei foi aprovada para valer, e a fiscalização será mais rigorosa ainda’, disse. Segundo ele, serão criadas equipes especiais para retirar anúncios irregulares. A multa mínima para quem descumprir a lei será de R$ 10 mil.


Mesmo sob protestos e contra o lobby das empresas de publicidade exterior, setor que movimenta R$ 200 milhões ao ano na cidade, Kassab obteve uma vitória expressiva -foram 45 votos a 1. ‘Em pouco tempo, poderemos sonhar com uma diminuição radical da poluição visual’, declarou o prefeito.


Além da propaganda em placas, também estarão proibidas a publicidade em táxis, a distribuição de panfletos em vias públicas e até a veiculação de anúncios em dirigíveis e aviões.


O que continuará valendo provisoriamente em 2007, mas apenas até o vencimento dos contratos, serão as propagandas em ônibus e no mobiliário urbano (bancas, pontos de ônibus, lixeiras, relógios etc.).


O mercado publicitário reagiu, fala em ameaça a cerca de 20 mil empregos e já preparou pareceres jurídicos para entrar na Justiça contra a prefeitura. A Associação Comercial de São Paulo considera a lei de difícil aplicação e também prevê uma corrida à Justiça.


O texto original, de autoria do prefeito, foi alterado por um acordo entre os líderes dos partidos e ficou ainda mais restritivo. Diminuiu, por exemplo, o tamanho máximo de placas em fachadas de até 10 m -que passou de 4 m2 para 1,5 m2.


Por outro lado, o projeto de Kassab previa somente 30 dias para a lei entrar em vigor, prazo estendido para até o fim do ano, e ainda permite que a prefeitura conceda mais 90 dias, caso o proprietário do anúncio prove que não conseguiu retirá-lo por algum motivo.


Na mesma sessão, os vereadores revogaram uma outra lei que permitia à prefeitura licitar a propaganda no mobiliário urbano. Kassab terá que enviar novo projeto e negociar para conseguir privatizar a exploração do espaço público.


O único voto contrário ao projeto foi do vereador Dalton Silvano (PSDB), ligado à área de publicidade. ‘Quem perdeu foi a cidade de São Paulo. Uma cidade sem publicidade é uma cidade fria’, disse.’


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Empresas de mídia externa vão à Justiça contra nova lei


‘O Sepex, sindicato das empresas de mídia externa, já reuniu pareceres jurídicos e prepara ações para tentar barrar a lei que será sancionada hoje pelo prefeito Gilberto Kassab (PFL) para praticamente extinguir a publicidade exterior.


O setor já tem pareceres jurídicos de dois advogados renomados, Adilson Dallari e Lucia Vale Figueiredo. Segundo o presidente do sindicato, Julio Albieri, a lei fere o princípio de livre iniciativa e afeta uma atividade econômica, cuja regulamentação deveria ficar a cargo somente do governo federal.


Segundo Albieri, a lei significa um desmantelamento do setor, já que somente os outdoors representariam cerca de 60% do faturamento das empresas de mídia exterior. O empresário afirma ainda que 20 mil empregos estão ameaçados.


‘Esgotamos nossos argumentos. A partir de agora, a saída é a Justiça. Houve investimentos de empresas sérias, muita coisa que está sendo jogada pela janela’, afirmou.


Para o prefeito Kassab, porém, o fim da mídia externa não trará um desemprego tão significativo quanto o alardeado pelo setor. ‘Há outros tipos de publicidade para os quais esses trabalhadores poderão migrar’, disse o prefeito.


A posição do Sepex é referendada pelo presidente da federação nacional do setor, Rubens Damato, que critica o que chama de insegurança jurídica criada pelas mudanças nas leis. ‘Acho que, na Justiça, teremos êxito’, disse Damato.


A via jurídica é o caminho vislumbrado pelo economista-chefe da Associação Comercial de São Paulo, Marcel Solimeo. ‘É uma lei extremamente radical e que pode inviabilizar alguns setores da economia’, disse. ‘Em dois anos, vem outro prefeito e muda tudo, vai querer só anúncio redondo. Como fica quem investiu legalmente com base na lei anterior?’


Indagado sobre a possibilidade de ter de enfrentar ações, Kassab declarou estar tranqüilo. ‘Podem questionar [na Justiça], não acredito que sejam bem-sucedidos.’


Na opinião do advogado Antonio Carlos de Freitas, especialista em processo civil, há chance de vitória jurídica do setor privado, mas as ações demandariam longo tempo. ‘O melhor é tentar um acordo.’’


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Anúncio em bem público dependerá de novo projeto


‘Ao aprovar a lei que extingue a publicidade exterior, os vereadores também revogaram a lei que permitia que o prefeito Gilberto Kassab (PFL) transferisse à iniciativa privada a exploração da propaganda no mobiliário urbano. A licitação, no entanto, só poderia ser realizada no final de 2007, com o fim de contratos em vigor.


A lei revogada, sancionada em janeiro de 2003 por Marta Suplicy (PT), autorizava a prefeitura a licitar a publicidade em locais como pontos e totens de paradas de ônibus, painéis publicitários, quiosques, relógios e cabines de segurança.


Pela lei revogada, nenhuma empresa poderia vencer a licitação em todos os lotes em que estaria dividida a cidade, além de estabelecer prazo máximo de 20 anos de concessão.


Ontem, tanto Kassab como o presidente da Câmara, Roberto Tripoli (sem partido), declararam que a revogação da lei foi uma forma de retirar possíveis pontos conflitantes da legislação municipal em torno da propaganda externa. ‘Com o fim da publicidade externa, há uma nova situação, a lei precisava ser revogada’, disse Tripoli.


‘Foi de comum acordo entre o secretário Aloysio [Nunes Ferreira, de Governo] e os vereadores’, disse o prefeito.


Porém, entre vereadores circula uma outra versão, a de que a Câmara, para conceder a Kassab uma vitória tão contundente em um assunto delicado, quer participar da elaboração das novas regras para a licitação do mobiliário urbano.


Os vereadores podem, por exemplo, reduzir o tempo de vigor dos contratos ou impedir a participação de empresas estrangeiras na licitação. Podem ainda abrir a possibilidade de outdoors em espaços públicos.


Trata-se de um negócio milionário que, com a aprovação do fim da concorrência dos outdoors e painéis eletrônicos, tende a se valorizar ainda mais, de acordo com o secretário de Governo.


O Sepex, sindicato das empresas de publicidade exterior, estima que o investimento para explorar o mobiliário urbano alcance de US$ 50 milhões a US$ 70 milhões (R$ 107,5 milhões a R$ 150,5 milhões).


Quando privatizar a exploração desse mercado, a prefeitura terá direito a cobrar uma contrapartida pela concessão.


‘A Câmara não pode ficar fora de uma questão importante como a do mobiliário’, diz o líder do PT, principal partido de oposição, Arselino Tatto.


Kassab, indagado sobre quando vai enviar a lei para licitar o mobiliário urbano, evitou falar em prazos, dizendo que a decisão ainda depende de discussões com seu secretariado.


O prefeito afirmou que, pessoalmente, defende a privatização do mobiliário, para poder financiar outro projeto que considera prioritário, que é a retirada dos fios e cabos aéreos. O prefeito quer aterrar a fiação para dar continuidade aos programas contra poluição visual.


‘Se o secretariado apontar outra fonte de recursos [para o aterramento dos fios], posso nem mandar o projeto’, diz.’


Afra Balazina


Morador de ‘prédio-outdoor’ prevê prejuízo


‘Não são apenas as empresas do setor que criticaram a proibição de outdoors e painéis de publicidade na cidade. Vários moradores de prédios condenaram a medida, já que o aluguel do espaço nesses locais ajuda a abater o valor do condomínio.


Segundo a estudante de administração Tassia de Lima Neves, 22, com a instalação do painel no prédio em que mora, na rua da Consolação, ela tem um desconto de, em média, quase R$ 500 no condomínio.


‘Acho que a prefeitura deveria ir atrás de pichadores, que realmente enfeiam a cidade, em vez de impedir a publicidade. Em qualquer grande cidade do mundo existem outdoors, eles podem até embelezar’, afirma.


A opinião é a mesma da do síndico Rubens Vieira, que vive num prédio no largo do Arouche. ‘Não gostei da aprovação, vai fazer falta [o desconto].’


O enfermeiro Antônio Damasceno, que mora em Santa Cecília, na região central, diz que o dinheiro arrecadado com os painéis ajuda a realizar obras de manutenção em seu prédio. ‘Essa publicidade não muda em nada a situação de São Paulo. E, para os moradores, as propagandas são uma forma de pagar menos pelas reformas ou consertos necessários ao prédio’, afirma.’


Lúcio Gomes Machado


São Paulo merece a sua atenção


‘Confira com seus avós: São Paulo no IV Centenário era uma cidade extremamente agradável e acolhedora. Não queria mais ser uma versão tropical de Paris, mas procurava fazer jus à fama de ‘cidade que mais cresce no mundo’. Edifícios altos, arquitetura moderna, procura de certa vanguarda.


Também é verdade que os diversos ‘projetos de melhorias’ nunca foram implantados em sua totalidade: a fama de eldorado levou a cidade a ser tratada, com lamentável freqüência, como um assentamento provisório, onde o que importa é o mais rápido e o mais barato.


Qualidade fica para depois e a conta quem paga é o próximo. De fato, o que se tem é uma discussão de surdos. Todos gritam e ninguém se entende. E como não se busca entendimento, cada um por si, porque o que é de todos, não tem dono.


O resultado está aí: espaços desordenados, edifícios sem expressão ou, ao contrário, querendo sobressair sobre vizinhos, destruição de grande parte do patrimônio construído e da ambiência elogiada décadas atrás, poluição e desperdício.


A solução para a desordem foi, normalmente, gritar mais alto: o edifício comercial foi mal construído ou precisa de obras de conservação? O vizinho está vendendo bem? Vamos pendurar uma placa gigantesca, de cores berrantes! A vista é bonita e todos gostam de apreciá-la? Por que não um enorme ‘back-light’ visível a centenas de metros?


Uma rota equivocada adotada sem muita resistência, parte do conjunto de incríveis realidades urbanas que nos acostumamos a fingir que não vemos: miséria, fome, crianças desamparadas, sujeira, entre outras.


O projeto do Executivo aprovado na Câmara nada mais faz do que retroceder para retomar o rumo. Sem dúvida, é uma pequena parcela para que a cidade, pretendente a pólo da economia globalizada, deixe de buscar a aparência de uma feira medieval. Trata-se de uma ação típica de gestão municipal, visando à melhoria da qualidade ambiental e viável com os parcos recursos disponíveis.


O estranhamento de alguns se deve à longa ausência de medidas nesse sentido. Ao contrário do Rio, Paris ou Nova York, não temos o hábito de buscar o bairro mais agradável, a cidade mais bonita e acolhedora.


Outros alegam que a cidade, com menos anúncios, ficará mais triste e que a profusão de mensagens serve para camuflar uma cidade feia. Alguém classificaria as cidades acima citadas como mais tristes que São Paulo? Ao contrário, têm atividade comercial equivalente, a qual nunca foi prejudicada por inexistir poluição visual sequer comparável à nossa.


Atrás da publicidade exterior há várias cidades em São Paulo: a projetada e a não projetada; a legal e a ilegal; a rica e a pobre. Num primeiro momento, será possível constatar esses contrastes, mas, logo depois, poderemos construir espaços públicos e privados que não necessitem de camuflagem e dos quais poderemos nos orgulhar.


No entanto, de imediato, veremos valorizado um admirável patrimônio arquitetônico preservado a duras penas, muitas vezes em confronto com os mesmos interessados em desmerecer o público para valorizar o privado.


Evidentemente, esse projeto não resolverá todos os problemas da cidade, mas é um começo. A seqüência imediata é a proposição de padrões para os demais elementos que compõem a paisagem urbana.


O Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento de São Paulo, tem defendido, ao longo de sua história, a necessidade de elevação dos padrões dos projetos e das obras públicas.


Para o mobiliário urbano, defende a organização de concurso para a escolha dos projetos que deverão passar à propriedade do município. Dessa forma, empresas exploradoras de mobiliário urbano seguirão os mesmos padrões.


Num futuro próximo, deveremos iniciar um novo capítulo. A instituição da prática continuada de ações de desenho urbano, atividade quase desconhecida entre nós. Projetos integrados para áreas da cidade, compreendendo planos de massa, diretrizes visuais e paisagem local, para construir e reconstruir a nossa cidade de maneira digna. Exemplos não faltam em cidades admiradas pela sua qualidade de vida, em todo o mundo.


LÚCIO GOMES MACHADO é professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e vice-presidente Instituto de Arquitetos do Brasil -Departamento de São Paulo’


TELEVISÃO
Daniel Castro


‘Páginas da Vida’ perde ‘gás’ e cai no Ibope


‘Apesar da resistência inicial, ‘Páginas da Vida’ não passará incólume aos efeitos do horário eleitoral, que tirou da frente do televisor no horário nobre, só na Grande São Paulo, cerca de 3,2 milhões de telespectadores.


A novela das oito da Globo fechará setembro com o segundo pior desempenho mensal no horário neste ano, só à frente de janeiro. Até anteontem, registrava 46,8 pontos no mês, contra 50,2 em agosto e 47,4 em julho. A queda, de 3,4 pontos, acompanha a do total de televisores ligados, de 3,3 pontos percentuais de agosto (72,3%) para setembro (69%).


Como metade do mês de agosto teve horário eleitoral, e a audiência da novela foi maior naquele mês do que em setembro, não se pode culpar apenas a campanha política por sua queda. Aparentemente, também houve perda de interesse na trama. ‘Páginas da Vida’ manteve um interesse impactante nos primeiros 40 capítulos, com o violento conflito entre mãe (Marta/Lília Cabral) e filha (Nanda/Fernanda Vasconcelos)’, analisa Manoel Carlos, autor da novela.


‘Agora surgem novas emoções, pois a volta à trama de Léo [Thiago Rodrigues], pai dos gêmeos, deflagra a disputa pelas crianças e a descoberta de que Clara está viva. Pela [alta] audiência dos primeiros dias da semana [53 pontos anteontem, contra 41 no sábado] e pela repercussão, acredito que essa queda seja passageira’, aposta.


SEGREDO DO BAÚ 1 O SBT tem um projeto de final de ano que vem sendo mantido em sigilo absoluto. Só Silvio Santos e pouquíssimos assessores sabem do que se trata. O ‘clima’ nos bastidores lembra o de 2001, quando o SBT lançou ‘Casa dos Artistas’ sem anúncio prévio.


SEGREDO DO BAÚ 2 Pode ser mera coincidência, mas o estúdio onde foram gravadas as últimas edições de ‘Casa dos Artistas’ está passando por uma reforma.


NOVA VEDETE Segundo estudo da associação das telefônicas, o número de assinantes de serviços de acesso à internet de banda larga (4,63 milhões) ultrapassou no primeiro semestre deste ano o total de assinantes de TV paga (4,36 milhões).


BOLA DOURADA A Coca-Cola não será mais patrocinadora das transmissões de futebol da Globo. A empresa não entregou pedido de reserva de cota até as 16h de anteontem, quando vencia o prazo. Será substituída em 2007 pelas Casas Bahia. Os demais patrocinadores (Itaú, Vivo, Ambev e Volks) renovaram e pagarão quase R$ 100 milhões.


ATRASO DIGITAL Prometido para o final de agosto, o cronograma de implantação da TV digital no Brasil só deve ser divulgado, em portaria do Ministério das Comunicações, na semana que vem. O ministério perdeu tempo discutindo questões jurídicas delicadas, como o empréstimo de um canal de TV a todos os concessionários durante a transição do analógico para o digital, que deve levar dez anos.’


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Televisão: Rodrigo Santoro aparece no 2º capítulo de ‘Lost’


‘Ao contrário do esperado, Rodrigo Santoro passa a integrar o elenco de ‘Lost’ nos primeiros capítulos da terceira temporada, que vai ao ar nos EUA ainda neste ano. A rede americana ABC divulgou apenas que, no segundo episódio, o personagem Paulo (Santoro) aparecerá com Jack (Matthew Fox). Os produtores justificaram a escolha do ator brasileiro dizendo se tratar de um profissional ‘inacreditavelmente talentoso’.’


Ricardo Feltrin


STJ condena autor da Globo a indenizar SBT em R$ 15 mi


‘Em votação na noite de anteontem, a 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça condenou por unanimidade o autor Walter Negrão a pagar R$ 15 milhões ao SBT. O motivo: Negrão rompeu contrato assinado com o SBT em 1996 e voltou para a Globo.


Não foi só ele que rompeu, mas também Benedito Ruy Barbosa e Gloria Perez. O resultado do processo contra Negrão -ao qual não cabe mais recurso- indica que o SBT também obterá vitória na ação semelhante que move contra Ruy Barbosa e Gloria Perez. O total da multa da rescisão dos três ultrapassará os R$ 50 milhões.


Em 1995, os três novelistas deixaram a Globo. Após semanas de negociação, os três assinaram contrato com o SBT, que estava investindo em dramaturgia. Após contratar os novelistas, Silvio Santos iniciou a construção de uma cidade cenográfica no Complexo Anhangüera.


A Globo reagiu. Para impedir o sucesso da concorrente em sua principal área artística e de faturamento -novelas-, a emissora correu atrás dos autores e conseguiu convencê-los a voltar e a romper o contrato com o SBT. No acordo, a Globo se prontificou a assumir todos os ônus em caso de uma eventual derrota judicial.


A batalha nos tribunais já dura dez anos. O SBT venceu em praticamente todas as instâncias. As votações que ocorrem agora no STJ são o fim da linha para os recursos jurídicos que a Globo interpôs durante uma década.


Procurada pela reportagem, a Globo informou que não vai se pronunciar sobre o caso. Segundo a Central Globo de Comunicação, a emissora não fez nenhum acordo para assumir o ônus em caso de uma derrota judicial.’


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 27 de setembro de 2006


ELEIÇÕES 2006
Dora Kramer


Vexame internacional


‘Na montanha diária de informações, denúncias, investigações, ataques, defesas e declarações as mais estapafúrdias, a justificativa do ministro da Cultura, Gilberto Gil, para a popularidade do presidente Luiz Inácio da Silva – ‘a corrupção é percebida como prática comum’ – havia transitado discretamente nos jornais de ontem.


Agora, com as novas manifestações, segundo as quais ‘corrupção não impede cidadania’ e é inerente à ‘dimensão humana’, o ministro da Cultura entra para a galeria dos notórios defensores da imoralidade e da falta de ética. E faz isso da Suíça, para platéia mundial.


Mostra-se também alienado, pois a corrupção interdita sim o exercício da cidadania, à medida que solapa princípios e desvia verbas originalmente destinadas ao cumprimento das tarefas do Estado para com o cidadão.


Gil até agora tinha conseguido manter razoável distância dos colegas adeptos da tese de que corrupção, quando popularmente tolerada, pode até ser condenável na teoria, mas na prática é perfeitamente aceitável.


Na segunda-feira, falando de Genebra, onde representa o Brasil numa conferência sobre propriedade intelectual, o ministro da Cultura juntou-se ao grupo ao apresentar sua opinião sobre a dianteira do presidente Lula nas pesquisas.


Para Gilberto Gil, isso ocorre em função de uma percepção generalizada de que a corrupção é prática tolerada, comum. Para ele, as pessoas não relacionam as denúncias diretamente à pessoa do presidente, embora percebam que possa haver relação ‘com membros de seu governo’.


Na visão do ministro, ‘há uma relativização do problema’ que afeta ‘os princípios e o sentido da verdade e da justiça’ e configura-se uma questão ‘muito complexa’. Concluiu o raciocínio apontando a necessidade de uma condenação à corrupção por parte dos cidadãos ‘comprometidos com o processo civilizatório e o império da lei’.


Ato contínuo, fez nova referência aos altos índices de aprovação do presidente, diz que sua permanência ou não no cargo num possível segundo mandato depende de um convite de Lula e resume seu estado de espírito: ‘Estou contente com o governo.’


Contente, ainda que os escândalos ‘possam estar relacionados a membros do governo’. Satisfeito o bastante para abster-se de qualquer senso crítico ao ponto de não perceber que ao longo de toda a sua argumentação em nenhum momento rebateu as suspeitas que pesam sobre o presidente, amigos e assessores, nem afirmou sua crença na lisura moral do chefe da Nação, cuja equipe integra.


Por essa ótica, o importante não são as convicções nem os atos das pessoas, mas a forma como são percebidas suas atitudes. Se as malfeitorias são toleradas pela maioria e praticadas à larga sem o caráter de ‘particularidades do momento’ (palavras do ministro), um cidadão com a responsabilidade cultural e social de Gilberto Gil constata a ‘relativização’ geral do ‘problema’, passa ao largo da essência do assunto em pauta e tira o corpo fora, invocando associação ao ‘processo civilizatório’ que, para todos os efeitos, o deixaria na condição de mero espectador dos acontecimentos.


Como suas declarações não repercutiram negativamente num primeiro momento, o ministro ontem sentiu-se seguro para avançar. Ironizou as razões da popularidade de Lula – ‘um mistério da vida’ – e atribuiu à corrupção o status de ‘fenômeno universal’.


Ficou assim patenteada a imagem do Brasil na palavra de um jornalista suíço ao colega brasileiro: ‘Impressionante.’


É realmente de boquiabrir o mais cínico dos semblantes.


Os artistas e intelectuais que, como Gilberto Gil e outros já notórios, confundem suas posições políticas, perfeitamente defensáveis, de apoio ao governo, com a necessidade de justificar a deformação da moralidade para não abrir a guarda ao adversário eleitoral esquecem-se de que governos passam e o País permanece.


Amanhã ou depois, quando partidos com os quais não se identifiquem assumirem o poder, ver-se-ão prisioneiros do silêncio, da aceitação da continuidade das ‘práticas comuns’ ou da incoerência de condenar, nos outros, o que consideravam natural para os seus.


Itororó


O presidente do Câmara, Aldo Rebelo, brinca com o discernimento alheio quando aponta ‘brincadeira’ com a democracia nas críticas generalizadas à operação dossiê montada pelo PT para tentar um segundo turno na eleição de São Paulo e ‘jogar uma pá de cal’ nas chances do adversário presidencial.


Se brincadeira há é de mocinho e bandido. Cabendo o papel deste a quem brinca com coisa séria como golpe de Estado.


Gênero e grau


Está certo, consagrou-se visão de que os erros de português do presidente Lula compõem um estilo e, sendo popular, tudo é permitido. Qualquer reparo é catalogado no rol dos preconceitos.


Então, digamos que a ‘pseuda-inteligência’ apontada por Lula como motivação dos arquitetos do dossiê seja uma inovação nas regras gramaticais nunca antes vista neste país.’


Luiz Weis


Por que se grita ‘pega ladrão’


‘Domingo que vem é dia de acordar com um gosto amargo na boca. Nesse primeiro turno que já se pode chamar de segundo, porque disputado por apenas duas forças políticas reais, ambas puxam o eleitor pelo braço, mas é como se não conseguissem olhá-lo nos olhos: no íntimo, sabem que muito do que se acusam uma à outra é pura verdade.


Se o PT de Lula, promotor do espetáculo do crescimento da delinqüência política no Brasil, também leva a palma pelo conjunto da obra de subordinar a si o Estado nacional, pagador de suas faturas, o PSDB de Alckmin, degradado em clone do PFL, lembra o sujeito que se põe a gritar ‘pega ladrão’ para parecer o mais decente da praça.


Tomados de udenismo tardio, dizem os tucanos que faltam ao presidente – o ‘demônio’ em pessoa – condições morais para exercer o cargo. É fato que por ação ou omissão, primeiro; por sua complacência com os seus operadores, depois; e, afinal, por sua tosca tentativa de culpar ‘o sistema’ pelo mensalão, Lula deu um banho de lama na esperança de que – ele, sim – iria governar de mãos dadas com a ética.


Mas o maior ato singular de corrupção institucional desde o fim da ditadura data de 1997, quando o Planalto fez aprovar a emenda que instituiu a reeleição-já, numa clamorosa ruptura das regras do jogo para dobrar o mandato de Fernando Henrique. Só para comparar, imagine-se Lula, reeleito, levando o Congresso a dar aos presidentes o direito de disputar um terceiro mandato – a contar de 2010.


Perto disso, a compra de votos no episódio é detalhe. Assim como a inauguração, no ano seguinte, do valerioduto, que o PT saberia usar com formidável desenvoltura. O amargor desta eleição, portanto, vem de ter ela se estiolado numa competição moralista entre blocos políticos desprovidos de legitimidade para atirar a primeira pedra nos desafetos.


Ironicamente, a terceira força em cena, o PSOL de Heloísa Helena, com sua santa ira e modos grosseiros, sugere que para ser ético é preciso ser encardido e voltar cem anos no tempo. Não é à toa, porém, que o tema da corrupção se alojou no centro da sucessão, emparedando o debate público sobre questões de muito maior importância política – e muito menor apelo emocional.


Elas se condensam nos dilemas da gestão do Estado, tendo em vista a promoção do sonhado ciclo asiático de crescimento, a melhora dos medonhos padrões do ensino brasileiro e a consolidação dos ganhos sociais do governo Lula. O problema é que, para petistas e tucano-pefelistas, não há como falar de nada disso sem admitir o que talvez mais abominem de parte a parte.


Trata-se da ampla convergência entre eles em relação àquelas prioridades e às linhas gerais de ação em cada caso. Lula proclama que o seu governo bate o de Fernando Henrique em todos os quesitos. Se isso é verdade, pelo menos em parte, não é porque o atual governo tenha jogado fora a ‘herança maldita’ que disse ter recebido e adotado o seu oposto.


Essa conversa serviu para apaziguar as patrulhas companheiras que não tinham atinado com o espírito da coisa. Ao governo do PT, essa a embromação, só restaria a alternativa de rezar pela mesma cartilha da ortodoxia monetária, fiscal e cambial do segundo mandato de FHC para extirpar os males que ela causou. Algo como o proverbial uso de veneno de cobra para curar picada de cobra.


Depois de um começo em que não se sabia o que era maior – a soberba de querer reinventar a roda ou a incompetência para fazer girá-la -, o governo petista foi acertando o prumo. A competência operacional desde logo demonstrada pelo pessoal da área econômica – reconhecida até pelos inimigos da política de juros altos, superávit opulento e real forte – aos poucos se propagou.


Neste território, não é trivial, por exemplo, fazer o Bolsa-Família chegar a 11 milhões de famílias com essa rapidez. Mesmo que nem todas as que o recebem devessem e nem todas as que deveriam o recebam, o saldo é amplamente positivo para a administração lulista, e o reconhecimento internacional que cerca o programa é apenas merecido. O governo foi bem em outras frentes ainda.


Beneficiado, já se disse, por uma conjuntura externa excepcional, soube fazer as coisas certas para aumentar o emprego, desonerar a cesta básica, expandir o crédito, baixar os custos da construção civil, pagar vagas em faculdades – e completar a obra antiinflacionária do Plano Real. O contingente de pobres na população caiu a níveis inéditos e a renda associada ao trabalho é a mais alta desde 1996.


A retórica alckmista do ‘choque de gestão’ tem pouco a contrapor a esses êxitos. E assim como Lula escondeu a verdade de que a sua política econômica era mais do mesmo da que a antecedeu, o tucano-pefelista ficou à míngua de um discurso consistente de oposição – menos por incapacidade pessoal do que por escassez de alternativas radicais no plano das grandes formulações.


E assim, à falta de melhor, se espalhou – no país da ‘corrupção endêmica’, como diz bem o presidente do Banco Mundial, Paul Wolfowitz – a falácia de que, mais do que nunca, a ética na política deve ser a referência fundamental para orientar a decisão do eleitor neste outubro. Pior: sem que haja uma grande facção política capaz de levantar, sem enrubescer, a bandeira da incorruptibilidade.


Quando o combate à corrupção vira a meta das metas, como se devesse dominar a agenda nacional, o resultado é perverso. Primeiro, não se vai a parte alguma se a sociedade – por um misto de má formação histórica, descaso cívico, cultura gersoniana e estratégia de sobrevivência – é tolerante com a maracutaia. Segundo, ergue-se uma barreira ao diálogo futuro entre o governo e a oposição.


Pode-se não gostar da palavra concertação, que o ministro Tarso Genro deu de dizer. Mas é imperativo baixar os teores do conflito político. E arrepia pensar que, se reeleito Lula, o programa da oposição tucano-pefelista possa ser a sua destituição.


Luiz Weis é jornalista’


O Estado de S. Paulo


Na TV Record, irritação


‘O presidenciável Geraldo Alckmin perdeu ontem sua quase inabalável paciência, durante uma entrevista de 12 minutos ao Jornal da Record. Logo na primeira pergunta, feita pelo jornalista Celso Freitas – sobre os vestidos que a mulher de Alckmin, Lu, recebera do estilista Rogério Figueiredo -, foi ríspido. Ao ouvir que a mulher só devolveu os vestidos após denúncia, avisou que a informação estava errada.


Em seguida, o candidato foi duro com a apresentadora Adriana Araújo, que pediu para que Alckmin comentasse o escândalo da privatização das teles, durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, também tucano. ‘Não houve nenhum escândalo. Qual foi o das teles? Conta para mim’, rebateu. ‘Houve denúncias e nenhuma comprovada’, prosseguiu o candidato.


A jornalista advertiu que o escândalo da compra do dossiê Vedoin também são denúncias ainda não comprovadas. Alckmin disparou: ‘Não comprovadas! Pegaram R$ 1,7 milhão. Se isso não for prova de crime não tem mais crime no Brasil.’


Alckmin também foi duro quando o suposto envolvimento do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) no esquema do mensalão foi mencionado pelos jornalistas. ‘Está cometendo outro equívoco’, garantiu. ‘Azeredo não tem nada com o mensalão.’


E ainda advertiu a jornalista, pedindo-lhe ‘cuidado com as palavras’, quando ela mencionou negociação do governo de São Paulo com o PCC.


Ao final da entrevista, Alckmin classificou de ‘amigo de Lula’ o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Sobre Evo Morales, da Bolívia, ironizou: ‘Esse manda no Lula.’’


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Tucano ganha direito de resposta na ‘IstoÉ’


‘O Tribunal Regional Eleitoral no Estado de São Paulo (TRE-SP) concedeu ontem direito de resposta a José Serra (PSDB) na revista IstoÉ. De acordo com a decisão, as matérias da edição de 20 de setembro da publicação ‘eram inverídicas e ofenderam a honra do candidato’.


A capa da revista trazia a manchete ‘Os Vedoin acusam Serra’ e depoimento dos donos da Planam, Darci Vedoin e seu filho Luiz Antônio, em que acusavam o empresário Abel Pereira de ser intermediário de Barjas Negri – sucessor de Serra no Ministério da Saúde – e facilitar a liberação de verbas à máfia dos sanguessugas, esquema de venda de ambulância superfaturadas a prefeituras.


A revista começou a circular em 15 de setembro, dia em que a Polícia Federal prendeu Luiz Antônio e Paulo Roberto Trevisan em Cuiabá e os petistas Valdebran Padilha e Gedimar Passos em São Paulo. Valdebran e Gedimar foram detidos com R$ 1,75 milhão, dinheiro que compraria dossiê dos Vedoin que comprometeria Serra.


Procurada ontem, a direção da IstoÉ informou que se pronunciaria logo que consultasse seu departamento jurídico. A revista pode recorrer da decisão no Tribunal Superior Eleitoral.


Orestes Quércia (PMDB) também foi penalizado pelo TRE paulista por associar Serra ao esquema dos sanguessugas em sua propaganda de TV, no dia 15. O tribunal suspendeu a propaganda de hoje do candidato no horário eleitoral gratuito. Serra obteve do TRE direito de resposta no horário da coligação PMDB/PP. A assessoria de Quércia não sabia da decisão, divulgada na noite de ontem.’


PRÊMIO ESTADO
O Estado de S. Paulo


Estudantes recebem prêmio no ‘Estado’


‘Classificados para o 1º Prêmio Banco Real Jovem Jornalista, os estudantes Adriano José de Oliveira (da Umesp), Romulo Santana Osthues (Unesp), Lilian Juliana Martins (Unesp) e Camila Rodrigues Vasconcellos (PUC-SP) receberam ontem, no auditório do Estado, em São Paulo, os computadores entregues por Hugo Penteado, do Banco Real. Ao lado de outros estudantes de cerca de 40 faculdades, eles concorrem a uma bolsa de estudos na Faculdade de Comunicação da Universidade de Navarra, na Espanha. Todos eles participam da Semana Estado de Jornalismo.’


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Globo domina Angola


‘Nem Estados Unidos, muito menos Europa. O maior mercado da Globo Internacional, canal da Globo em português em outros países, está em Angola. Com quase 100 mil assinantes atualmente, a Globo Internacional em Angola superou a dos Estados Unidos, que tem atualmente 90 mil assinaturas e é distribuída por operadoras como a Dish (DTH) e a Comcast (cabo).


Quem não deve gostar nada da notícia é a Record Internacional. No ar em Angola desde 2003, o canal briga por espaço no mercado local. A emissora até inaugurou estúdios para produção de conteúdo lá.


Atualmente, a TV Globo Internacional está presente em 20 países, entre eles: Japão, Austrália, Angola, Moçambique, África do Sul, Argentina, Bolívia, Equador, Paraguai, Panamá, Timor e Nova Zelândia.


A partir de novembro, o serviço será distribuído para toda a Europa. A própria emissora assumiu a distribuição do canal pago via satélite para o mercado europeu e os assinantes estão em fase de migração para a nova plataforma de assinatura.


A rede pretende arrebanhar cerca de 45 mil assinantes novos na Europa.


entre- linhas


A RedeTV! estréia no dia 2 dois novos desenhos animados: Backyadigans, uma das frebres do Discovery Kids, e Hunter X Hunter, mangá direcionado ao público infanto-juvenil.


Os cassetas seguiram em frente com o programa, é fato, e bem de audiência. Mas quem conhece a trupe garante que os humoristas ainda vivem o luto por Bussunda. Ainda circulam sem ânimo pelo Projac, o complexo de estúdios da Globo no Rio.


Se você acha a personagem Sandra (Danielle Winits) interesseira em Páginas da Vida, não imagina o que sua irmã Telma (Grazielli Massafera) irá aprontar. A inocente moça vai se revelar um monstrinho.


E por falar em Páginas, o público quer Marta (Lília Cabral) má, muito má. Nos dias em que a vilã teve crise de consciência a audiência da novela caiu.


O National Geographic confunde o telespectador com idiomas e sotaques diversos. Algumas chamadas de seus programas são narradas com sotaque lusitano e suas atrações são dubladas em espanhol, como o National Geographic Apresenta, uma das mais importantes faixas do canal. Quem tem TV digital pode optar em ver a atração em inglês.


Domingo, a Band pára tudo às 5 da tarde e cumpre a tradição de dedicar a cena, em dia de eleição, a análises, informações sobre apuração e entrevistas. Cultura e Gazeta seguem a receita. A Globo terá boletins e plantão extra e o SBT promete boletins e flashes do saldo do dia.’


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