Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Hamish McRae

‘Skype ou hype? Uma coisa é certa: a revolução das comunicações continua a acontecer. O fato de que a Skype -empresa que prevê receita de apenas US$ 60 milhões neste ano- seja vendida à eBay por até US$ 4,1 bilhões é algo que revela duas coisas importantes. Uma delas é a rapidez com a qual podem surgir e desenvolver-se novas áreas no ramo das comunicações. Outra é a escala das transformações sociais e econômicas mais amplas que estão acontecendo em decorrência das comunicações virtualmente gratuitas.

Se você não é um dos 150 mil usuários por dia que vêm descarregando o software da Skype, saiba que ele simplesmente possibilita às pessoas que o fazem comunicar-se gratuitamente pelo protocolo de voz pela Internet (VoIP). Os telefonemas feitos por VoIP (Voice Over Internet Protocol, em inglês) para telefones comuns são cobrados, mas a tarifa é mais baixa do que a que cobra a maioria das empresas telefônicas -que, de qualquer maneira, já estão fazendo uma parte cada vez maior de suas ligações passar pela internet. Para isso, basta ter o programa, um microfone e fones de ouvido ou caixas de som ligados ao computador.

Apesar de não ter sido o primeiro programa a oferecer esse tipo de serviço, o Skype se tornou popular pela qualidade das ligações e pela facilidade de uso. O programa Skype já acumula quase 165 milhões de downloads e tem 53 milhões de usuários registrados.

A compra da Skype vai permitir que o eBay integre a seu sistema a comunicação por voz entre vendedores e compradores nos leilões on-line, criando ‘um mecanismo de comunicação e comércio on-line sem paralelo’, segundo o próprio eBay.

Entretanto, se a atração fosse apenas telefonemas gratuitos ou quase, o negócio não valeria US$ 4 bilhões. O que convenceu a eBay de que a Skype possui tanto valor é o fato de a empresa ter criado um novo clube. Sob certo aspecto, a própria eBay também é um clube -o clube das pessoas que adquiriram a mania de usar o eBay. Mas o clube Skype é mais explícito: são 54 milhões de pessoas que podem conversar entre si de graça. Enquanto o eBay vem se esforçando para se expandir para fora dos EUA, o clube Skype é sobretudo europeu. E a aquisição da Skype aumenta tremendamente a presença da eBay na Europa.

A história comercial é espantosa, mas suas implicações sociais e econômicas com certeza são mais importantes. O Skype, como o Google, constitui mais um exemplo de como as novas tecnologias estão transformando as relações sociais e econômicas humanas. Elas aumentam não apenas a eficiência, mas também a confiança.

Comecemos pelo Google, que existe há mais tempo, de modo que já houve mais tempo para suas conseqüências sociais se manifestarem. Qualquer pessoa que seja razoavelmente hábil em fazer buscas consegue descobrir uma quantidade enorme de informações sobre qualquer assunto. Boa parte do que se descobre é bobagem que não foi filtrada, mas o processo de filtragem está se aperfeiçoando mais e mais. Tente fazer uma busca por Skype no Google. Você vira especialista instantâneo no assunto -assim como poderia sê-lo em qualquer outro tema, desde as canções de ‘Dublinenses’ até tratamentos médicos alternativos da asma. O profissionalismo ainda é importante, já que as pessoas precisam de informações especializadas. Mas essas informações são muito mais amplamente disponíveis.

Com o Google, também ficou muito mais difícil desaparecer. Qualquer pessoa que já teve seu nome num jornal ou já fez matrícula em algum clube pode ser rastreada. Isso está mudando os relacionamentos humanos. Outro dia estávamos batendo papo com um jovem casal americano sobre a maneira como o Google vem mudando os namoros: hoje as pessoas procuram no Google informações sobre os candidatos a namorado(a) antes de mergulharem a fundo na relação. O rapaz achou ridícula a idéia -até que sua namorada lhe disse: ‘Eu procurei você no Google’.

Se o Google aumenta a confiança entre as pessoas, ou, pelo menos, as obriga à franqueza, também encoraja a confiança das pessoas em sua capacidade de fazer o que se propõem a fazer.

Ao proporcionar a qualquer pessoa familiarizada com computadores acesso imediato às idéias e informações do mundo, ele aumenta o poder dos indivíduos com relação ao Estado e ao mundo empresarial. É a contestação da abordagem tradicional dos governos, segundo a qual são eles que sempre sabem melhor o que deve ser feito.

Os profissionais liberais precisam ter grande cuidado para respeitar padrões éticos, e as empresas que abusarem da posição que ocupam no mercado serão alvo de denúncias e serão punidas.

Estamos apenas na etapa muito inicial da revolução do Google, mas já existem indícios de quais serão as conseqüências dela. Existem menos indícios quanto às conseqüências do Skype, deixando de lado a mais evidente: a de que as telecomunicações estão se tornando virtualmente gratuitas. Mesmo assim, vale a pena assinalar algumas idéias.

Roteiro

O ponto de partida é que as pessoas parecem estar novamente gostando de entrar em clubes. Isso seria muito compreensível para nossos antepassados vitorianos, que viveram na época da criação de uma multidão de clubes, sociedades, grupos sociais, etc. Os clubes estiveram em baixa durante boa parte do século passado, quando o foco passou a ser voltado ao indivíduo, a família nuclear e o grupo de amigos. O mundo dos negócios é muito atento a essa nova tendência -haja visto os esforços feitos por companhias aéreas, lojas e cadeias de hotéis para fazer as pessoas participar de ‘grupos de afinidade’. Mas são grupos bastante artificiais, já que não existe afinidade natural entre as pessoas apenas pelo fato de viajarem pela mesma companhia aérea.

Já o Skype ou a eBay constituem grupos de afinidade naturais, já que seus participantes procuram a mesma experiência: conversar de graça ou comprar e vender em leilões. Eles não são clubes no sentido de serem excludentes, mas a eBay prevê uma medida disciplinar que é crucial para os clubes: o poder de isolar os participantes que não se comportam adequadamente. Basta receber uma ‘nota’ baixa em termos de confiabilidade e você está fora. O Google, por outro lado, não é clube, embora possa ajudar os clubes a funcionar com mais eficácia.

Desde um ponto de vista econômico, o que as três tecnologias fazem é reduzir os atritos. Todos os relacionamentos econômicos implicam em custos de transação. Existe o custo de pesquisar o produto ou serviço, o custo de promover ou anunciá-lo, o custo do pagamento, e, com pessoas, o custo de contratar e despedir, etc.

À medida que as relações econômicas vêm se especializando, a tendência vem sendo de os custos de transação aumentarem. Hoje em dia, contratar um profissional para fazer um serviço pode custar o equivalente a meio ano de salário, porque os headhunters investiram muito trabalho em encontrar a pessoa apropriada para fazer o serviço -e, apesar de todo esse investimento, ainda existe o risco de terem encontrado a pessoa errada. O custo promocional de se lançar um carro novo é enorme em relação ao que era há uma geração. Como existem tantos automóveis no mercado, custa mais garantir que qualquer um deles seja notado.

Quanto mais se puder reduzir isso, permitindo às pessoas que falem diretamente umas com as outras sobre um novo produto, por exemplo um novo software, menor será o custo de cada transação, e menor será o atrito.

Não sabemos como o clube Skype vai se desenvolver, que novas maneiras seus membros vão encontrar para interagir entre eles. O que sabemos, sim, é que o que está em jogo não é apenas a possibilidade de conversar sem pagar. Os seres humanos são intensamente criativos. As mensagens de texto foram acrescentados à telefonia móvel porque, segundo uma versão que ouvi, as empresas acharam que seria útil existir uma maneira para que seus engenheiros pudessem se comunicar entre eles. Meu palpite é que os membros do clube Skype vão desenvolver novas funções de comunicação que serão tão significativas quanto as mensagens de texto -mas ninguém pode prever quais serão essas novidades.

Exclusão

Tudo isso naturalmente nos conduz a um fator de preocupação: a exclusão. Todos os novos avanços tecnológicos excluem pessoas: os trens, automóveis, telefones, televisão e assim por diante, todos criaram novos grupos de pessoas que não os possuíam. O Skype é apenas mais um elemento da revolução das comunicações, um elemento que poderemos rejeitar ou não, conforme quisermos; logo, acho que não precisamos nos preocupar com ele como tal. Mas a preocupação geral continua presente: as pessoas que têm acesso às novas tecnologias e possuem os conhecimentos necessários para usá-las se beneficiam delas, enquanto as que não têm esse acesso ficam de fora. Devemos saudar o ganho que tudo isso traz para o bem-estar humano, com certeza, mas também tentar descobrir como incluir aqueles que ainda não fazem parte desta revolução.’



George Monbiot

‘Nem a internet escapa da censura’, copyright O Estado de S. Paulo / The Guardian, 18/09/05

‘‘Várias dessas amaldiçoadas criaturas, agarrando os galhos por trás, pularam na árvore, quando começaram a descarregar excrementos na minha cabeça.’ Assim Gulliver descreve seu primeiro encontro com os yahoos. Algo semelhante parece ter acontecido com a democracia.

Em abril, Shi Tao, jornalista chinês, foi sentenciado a dez anos de prisão por ‘fornecer segredos de Estado a entidades estrangeiras’. Ele passou detalhes de uma ordem de censura ao Fórum Democrático da Ásia e ao site Democracy News.

Ele mandou a mensagem por uma conta de e-mail anônima do Yahoo!. Mas a polícia foi direto para seu escritório e o pegou. Como sabiam quem ele era? O grupo Repórteres Sem Fronteiras obteve o veredito e lá encontrou a resposta. A informação sobre a conta de Tao foi ‘fornecida pela holding Yahoo!’.

Demais para a promessa de que a internet libertaria os oprimidos. Essa teoria foi formulada de forma mais clara em 1999 pelo colunista do New York Times Thomas Friedman. Ele argumenta que duas grandes forças democratizadoras – comunicações e finanças mundiais – varreriam qualquer regime que não fosse transparente e democrático. ‘Graças às antenas parabólicas, à internet e à TV, agora podemos ver, ouvir e observar através de qualquer muro físico. Ninguém é dono da internet, que é totalmente descentralizada, ninguém pode desligá-la… A China vai ter uma imprensa livre.’ A mesma coisa, afirma, acontece no mundo todo. No Irã, ele viu pessoas assistindo a SOS Malibu em parabólicas ilegais. Como resultado, ‘dentro de alguns anos, todos os cidadãos do mundo poderão comparar seu próprio… governo e o do vizinho’.

Ele está parcialmente certo.

Pelo menos, a internet ajudou a promover revoluções com vários graus de autenticidade na Sérvia, Ucrânia, Geórgia, Quirguistão, Líbano, Argentina e Bolívia. Mas a falha de Friedman está no fato de que ele se esquece dos intermediários. A tecnologia que roda a internet não aparece do nada. É fornecida por pessoas com interesse comercial. O interesse delas vai favorecer a liberdade em alguns lugares e controle em outros. Eles podem – e vão – desligá-la.

Em 2002, a Yahoo! assinou uma promessa de ‘auto-regulamentação’ do governo chinês: prometia não permitir que fossem postadas ‘informações perniciosas que pudessem colocar em perigo a segurança do Estado’. No ano passado, o Google publicou uma declaração admitindo que poderia não mostrar links para material proibido pelas autoridades em computadores estacionados na China. Se os usuários do MSN da Microsoft tentarem mandar uma mensagem contendo ‘democracia’ ou ‘liberdade’, eles são avisados de que ‘esta mensagem contém linguagem proibida; por favor, elimine as expressões proibidas’.

COM A AJUDA OCIDENTAL

Um estudo do OpenNet Initiative revelou que o governo chinês está conseguindo censurar a internet. Sua ferramenta mais poderosa é o controle dos roteadores – os aparelhos através dos quais os dados são transportados de um lugar para o outro. Esses roteadores podem bloquear mensagens contendo palavras proibidas. Grupos de direitos humanos alegam que corporações ocidentais forneceram a tecnologia e os especialistas para isso. ‘Tivemos o sonho de que a internet libertaria o mundo, de que todas as ditaduras cairiam’, disse Julien Pain, do Repórteres Sem Fronteiras. ‘Vemos isso apenas como um sonho.’ Friedman não foi a única pessoa a promover esses sonhos. Em 1993, o megaempresário de comunicação Rupert Murdoch disse que a TV por satélite era ‘uma ameaça sólida aos regimes totalitaristas’. Os chineses ficaram transtornados e Murdoch, em resposta, garantiu que a ameaça não se materializasse.

Em 1994, ele tirou as notícias do serviço mundial da BBC da programação da rede Star depois de colocar no ar um perfil nada lisonjeiro de Mao Tsé-tung.

Em 1997, ordenou que a editora HarperCollins abandonasse a publicação de um livro de Chris Patten, ex-governador de Hong Kong. Ele criticou o Dalai Lama e seu filho James atacou o dissidente Falun Gong. Essa adulação deu certo e, em 2002, ele começou a transmitir para o Cantão. ‘Não fazemos programas que são ofensivos na China’, admitiu seu porta-voz. ‘Se você chama isso de autocensura, então, claro, estamos fazendo autocensura.’ Por mais indispensável que tenha se tornado a internet, o debate político ainda é dominado pela mídia dominante: uma reportagem na internet não muda nada até ser publicada nos jornais ou exibida na TV. Isso significa que, enquanto a melhor transmissão que Friedman celebra pode ajudar uma transição democrática, a democracia que nos impõe é filtrada e controlada. Alguém mais é dono dos roteadores?’



Jamil Chade

‘Pelo controle da internet, País se afasta da China’, copyright O Estado de S. Paulo, 19/09/05

‘Nem sempre uma aliança com a China pode dar resultados no cenário international. Por isso, o Itamaraty adota nova estratégia a partir de hoje nas negociações para a internacionalização do controle da internet e tenta se afastar, pelo menos publicamente, de uma aliança com países com governos autoritários como China, Cuba ou onde a democracia é colocada em dúvida, como o Irã.

A negociação para a democratização da internet começou há dois anos na ONU e agora entra na fase decisiva. O objetivo dos governos é chegar com um acordo na Cúpula Mundial da Informação, em novembro, na Tunísia. Os Estados Unidos são os principais opositores da proposta liderada pelo Brasil, de ampliar o controle sobre a rede de computadores.

Pela proposta do País, a gestão da internet deveria ocorrer de forma transparente, democrática e internacional. Isso, na prática, significa retirar dos Estados Unidos o controle sobre a rede mundial. Hoje, quem faz esse trabalho de gestão é a Icann, empresa com sede na Califórnia, que garante ser independente, apesar de acusações de estar ligada ao Departamento de Comércio americano.

Até hoje, os principais aliados brasileiros eram países como a China, Cuba e Irã. O contra-ataque da oposição, portanto, encontrava um argumento fácil para desacreditar a proposta e acusava o grupo de querer controlar o fluxo de informações na internet.

Para tentar se desvencilhar desse argumento, o Brasil decidiu se aproximar de países como Índia e África do Sul, que co-patrocinarão uma proposta de internacionalização e afastam o argumento americano de controle sobre o fluxo de informação.

Outra estratégia brasileira é trazer os europeus para apoiar a proposta de internacionalização da gestão. Nos últimos dias, negociadores brasileiros foram a Bruxelas entender a proposta da União Européia e concluíram que existe espaço para uma aliança. ‘Brasil e Europa estão alinhados nessa questão. O que precisamos agora é convencer os americanos a negociar, o que está sendo uma tarefa difícil’, afirmou um diplomata. ‘Parece inacreditável que tenha havido um acordo sobre telefonia no passado e que não haja um acordo sobre a Internet hoje’, afirmou o embaixador do Brasil em Genebra, Luiz Felipe de Seixas Correa.

A partir de hoje, todas essas alianças e negociações vão ser retomadas em Genebra. Por duas semanas, os 191 países da ONU se reúnem para uma última tentativa de fechar um acordo antes da Cúpula na Tunísia.

O País, admite, porém, que os votos de China, Cuba e Irã serão importantes no final do debate. Assim, o afastamento seria apenas uma questão de fachada.’



Elio Gaspari

‘O telecapitalismo do atraso’, copyright Folha de S. Paulo, 18/09/05

‘O que falta ao Brasil é capitalismo, regime que enriquece o virtuoso e destrói o incapaz. Na semana passada a empresa americana Skype foi vendida à casa de leilões eletrônicos eBay por US 2,6 bilhões. Em 2003, quando foi criada, parecia uma aventura. Seu negócio era oferecer conexões telefônicas de baixo custo ou mesmo gratuitas para quem tinha computadores conectados à internet. Deu certo. Seu programinha (grátis) transforma computadores em telefones e já foi baixado em 166,6 milhões de máquinas. A qualquer momento, há mais de 2 milhões de pessoas conectadas pelo Skype. O Brasil é o seu quinto mercado, com dois milhões de programas baixados.

A história do Skype é mais um caso de sucesso do cruzamento da iniciativa, do lucro e do progresso. Coisa como a lâmpada elétrica, o Ford Bigode ou a caneta Bic. A tecnologia que fez essa fortuna chama-se VOIP, ou Voz sobre IP. Nos Estados Unidos, logo que a novidade mostrou-se competitiva, grandes operadoras como a ATT e a Verizon foram à luta, oferecendo-a à patuléia. Hoje há 1,1 mil companhias oferecendo esse serviço. Trata-se de oferecer ligações telefônicas grátis ou, pelo menos, 60% mais baratas. Uma nova empresa, a Vonage, já permite a ligação de telefones ao cabo da internet, dispensando o computador.

Nenhuma das grandes empresas de telefonia brasileiras (Telefônica, Embratel, Telemar ou Brasil Telecom) oferece acesso a planos de Voz sobre IP aos seus clientes residenciais. Beneficiam-se do avanço tecnológico nas suas operações rotineiras e vendem-no às grandes empresas, mas moitam em relação à patuléia. Algo como se os fabricantes de carruagens fizessem de conta que não surgiu o motor a explosão. Felizmente, já existem empresas oferecendo esse serviço. Cinco, além da Skype, vão listadas abaixo.

A Telemar e a Embratel representaram junto ao Conar contra a maior dessas companhias, o UOL Fone. Ele faz em português algumas coisas que a Skype faz em inglês. (Atenção: o UOL pertence à mesma empresa que edita a Folha de S. Paulo, onde esta coluna está publicada.) As teles sustentaram que a propaganda do UOL enganava o público omitindo custos indiretos nas tarifas que anunciava. Por unanimidade, a queixa foi mandada ao arquivo.

Briga boa. Pelo UOL Fone, os assinantes do serviço de banda larga do provedor pagam R$ 0,31 por minuto numa ligação de São Paulo para Brasília e 0,16 para os Estados Unidos. Pela Embratel e pelas grandes operadoras as mesmas chamadas custam entre 33% e 90% mais caro. Pela Skype, que não carrega a cruz tributária brasileira, essas ligações custam entre coisa nenhuma e R$ 0,14.

A idéia de proteger o mercado retardando a inovação é coisa do capitalismo de ‘mensalão’. Não foi o acaso que levou duas teles a buscar conforto nas grandes famílias petistas. É possível que até o fim deste ano uma grande operadora lance o seu pacote de serviços de Voz sobre IP para consumidores residenciais. Aleluia. Será divertido comparar as tarifas e ouvir as justificativas de quem prefere blindar seus micos, deixando a patuléia ao sol.

Endereços úteis:

Skype: http://www.skype.com/

UOL Fone: http:// fone.uol.com.br/

CMSW.Telecom: http:// www.erme.com.br

InterCall: http:// golda.intercall.com.br/portal/br/ athomevoip.aspx

VoxFone: http: www.voxfone.com.br/index.htm

TVA Voz: http:// www.tvavoz.com.br’



Sandra Balbi

‘Após resistir, teles aderem às chamadas via internet’, copyright Folha de S. Paulo, 18/09/05

‘Depois de torcer o nariz e tentar ignorar, no primeiro momento, a tecnologia de transmissão de voz via internet, ou VoIP (Voicer over Internet Protocol), as operadoras de telefonia fixa brasileiras buscam, agora, recuperar o tempo perdido. Elas se preparam para oferecer a nova tecnologia aos clientes residenciais e conquistar posições num mercado que vem sendo ocupado por pequenas operadoras, provedores de internet e empresas de TV a cabo.

As ligações telefônicas via internet são a última fronteira da tecnologia da comunicação e tornaram o Skype -comprado na última segunda-feira pelo eBay, por US$ 2,6 bilhões- o programa mais usado para ligações via computador.

As quatro grandes concessionárias dos serviços de telecomunicações -Telefônica, Telemar, Brasil Telecom e Embratel- reconhecem que a nova tecnologia VoIP é um caminho sem volta. E pelo menos duas delas -Telefônica e Brasil Telecom- têm prontos novos produtos que permitirão ao cidadão comum falar de casa com o resto do mundo, via internet. E a um custo muito inferior ao das ligações interurbanas e internacionais.

‘Já temos um produto pronto para o mercado residencial, testado desde o final de maio. Estamos aguardando o momento adequado para disponibilizá-lo’, diz Ricardo Couto, diretor de marketing da Brasil Telecom.

Já a Telefônica informou que está desenvolvendo tecnologia para atender o usuário residencial, mas com a mesma qualidade da telefonia fixa. A solução estudada pela operadora é oferecer acesso à rede de voz por protocolo de internet privada da companhia. Segundo a empresa, essa é uma tecnologia que poderá estar disponível no ano que vem.

O usuário não vai perceber a mudança: ele levantará o fone do gancho, discará os oito dígitos e sua ligação cairá na rede IP da Telefônica. Atualmente, a empresa já usa essa rede para completar as ligações internacionais feitas por seus clientes.

A condição para as operadoras entrarem nesse segmento, entretanto, é expandir suas redes de internet rápida, por banda larga, por onde deverão trafegar as ligações telefônicas de longa e média distância (DDD e DDI). ‘Nossa estratégia para o VoIP residencial é totalmente atrelada à expansão do nosso serviço de banda larga’, diz Couto.

O Turbo, serviço de banda larga da Brasil Telecom, tem hoje 800 mil clientes, segundo ele. ‘O VoIP virá complementar nossa estrutura de banda larga’, acrescenta. Já o Speedy, da Telefônica, completou em julho 1 milhão de assinantes. A meta da empresa é fechar o ano com 1,25 milhão de assinantes na banda larga.

‘Todas as operadoras estão correndo para conseguir o máximo de adesão de clientes de internet banda larga’, diz Valder Nogueira, analista de telecomunicações do Santander Banespa. Segundo ele, hoje só 8% das linhas das companhias telefônicas possuem conexão em banda larga. ‘A penetração no mercado residencial é muito baixa; esse é o calcanhar do VoIP’, diz Nogueira.

Estagnação

Depois de viverem um surto de crescimento pós-privatização, quando tiveram de cumprir metas de universalização dos serviços de telefonia fixa, há três anos as operadoras vêm enfrentando um decréscimo de sua base de usuários e uma estagnação dos serviços tradicionais de transmissão de voz, segundo Petrônio Nogueira, sócio da área de Communications, Media e High Tecnology da Accenture.

Elas perderam receitas com a redução de 90% dos preços das tarifas de interurbano, desde a privatização, em 1998, até hoje. Além disso, ‘houve uma transferência do volume do tráfego de voz da telefonia fixa para a móvel e para outros meios via banda larga, como o messenger. Mais recentemente, perderam tráfego para as operadoras virtuais que oferecem o VoIP’, diz Nogueira.

Os balanços dos primeiros semestres das quatro grandes operadoras mostram que suas receitas cresceram desde 1999 até 2002. A partir de 2003, todas tiveram queda de receita (veja quadro).

Para fazer frente à estagnação e à queda do faturamento, as operadoras de telefonia fixa passaram a ampliar sua base de serviços, provendo os clientes com a transmissão de dados e vídeo, além de voz, diz Nogueira.

Nos últimos dois anos, essas empresas começaram a oferecer aos clientes corporativos pacotes de serviços que incluem a transmissão de voz com a tecnologia VoIP. A Telemar, por exemplo, oferece desde o início deste ano algumas soluções de telefonia IP (Internet Protocolo) aos seus clientes corporativos. A companhia compra equipamentos de PABX com tecnologia IP e os aluga a grandes empresas.

‘Com isso, o cliente economiza no cabeamento para fazer ligações ramal a ramal e reduz suas despesas nas chamadas de longa distância’, diz Franz Braga, gerente de marketing corporativo da Telemar. Dentro de 60 dias, ela vai disponibilizar o telefone IP aos clientes corporativos que sejam assinantes do Velox, seu serviço de banda larga.

Já a Embratel leva a nova tecnologia aos clientes corporativos desde 2001. Atualmente, ela oferece soluções ‘triple play’ -pacotes multiserviços. Exemplo disso é a rede que está implantando para o Boticário, que cobrirá 2.300 franqueados da empresa. ‘Serão fornecidos serviços de transmissão de dados, voz e imagem’, diz Maurício Vergani, diretor da área corporativa da Embratel.



Paula Leite

‘Empresas usam serviço para redução de custos’, copyright Folha de S. Paulo, 18/09/05

‘Enquanto o consumidor brasileiro começa a descobrir o VoIP, o país já tem várias empresas que levam essa tecnologia a outras empresas. As companhias de todos os tamanhos geralmente procuram os sistemas VoIP por causa da redução de custos, tanto na comunicação entre filiais como na com clientes e fornecedores.

As linhas da GVT, operadora de telefonia que oferece serviços VoIP, por exemplo, permitem que o cliente tenha um número de telefone ‘local’ em uma cidade, mesmo que a empresa esteja fisicamente localizada em outro município ou até mesmo outro país. Por enquanto, só é possível ter as linhas locais em oito capitais.

‘Isso tem duas vantagens: a presença telefônica em uma cidade na qual a empresa não está fisicamente e a mobilidade, já que sua linha pode ser acessada de qualquer lugar’, diz Paulo Humberto Gouvêa, vice-presidente corporativo da GVT.

Já a multinacional canadense Nortel instala um serviço de comunicação interna para empresas, que pode ter de quatro a 15 mil ramais e pode ser integrado ao PABX já existente. O sistema pode conectar filiais em diferentes cidades, reduzindo os gastos com ligações interurbanas.

‘As empresas procuram a redução de custos, mas o VoIP não é só isso. Uma companhia também pode aumentar sua produtividade com o sistema. Um exemplo é um executivo que pode acessar seu ramal da empresa com o notebook conectado a uma rede Wi-Fi [internet de banda larga sem fio] para fazer ligações ou pegar suas mensagens’, diz Inácio Freitas, gerente da Nortel.

A brasileira BestCom opera o serviço iVoz, que também permite que as diversas filiais de uma empresa falem entre si gratuitamente. As ligações para outras empresas que têm o iVoz também são gratuitas.

‘Temos um cliente com três filiais e diversos clientes. Ele divulgou o iVoz para os clientes e vários adotaram o serviço, o que gerou redução de custos para todos’, diz Rodrigo Smith, diretor de negócios do iVoz.

As empresas que prestam serviços de VoIP no mercado corporativo dizem que o segmento ainda é pulverizado, com muitas empresas pequenas aproveitando o baixo investimento inicial da tecnologia para entrar no mercado.

‘Mas o mercado vai se consolidar e elas vão acabar sendo compradas ou saindo dele’, diz Gouvêa, da GVT.

Na Nortel, que também instala sistemas de telefonia convencional, o segmento VoIP já cresce mais rápido que as outras áreas, diz Freitas.

Já Gouvêa vê, no futuro, a convergência dos serviços de dados (internet), voz e vídeo (televisão ou download de programas) usando a conexão de banda larga.

‘Além disso, com a chegada do Wi-Max [conexão de banda larga sem fio que cobre uma grande área], o acesso à banda larga não vai mais depender da rede das telefônicas e operadoras de TV a cabo’, afirma Gouvêa.’



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‘Provedoras de VoIP criticam atitude de concessionárias’, copyright Folha de S. Paulo, 18/09/05

‘Empresas provedoras de serviços VoIP, que concorrem com as concessionárias de telefonia fixa, criticam a posição destas em relação à nova tecnologia.

‘O VoIP afeta o modelo econômico da telefonia e acaba com a chamada de longa distância. Qualquer empresa poderia entrar no mercado de VoIP, mas as concessionárias não entram’, diz Paulo Humberto Gouvêa, vice-presidente corporativo da GVT.

O problema, diz ele, é que elas obtêm um volume grande de receitas com DDD e DDI e não existe demanda suficiente por VoIP para compensar a perda causada pela expansão da tecnologia.

A popularização do VoIP é inevitável, mas, como, as concessionárias têm monopólio, podem tentar retardar a entrada da tecnologia, diz.

Para o diretor de produtos e estratégia do UOL, Victor Ribeiro, ‘as operadoras de telefonia fixa levam a tecnologia VoIP aos seus clientes corporativos, mas evitam estendê-la ao grande público porque a margem de lucro é baixíssima’.

O UOL Fone, lançado em maio, é um serviço pré-pago de voz sobre IP que permite fazer ligações para os EUA com economia de 85% sobre a telefonia fixa.’



Humberto Medina

‘Governo defende telefonia via internet’, copyright Folha de S. Paulo, 18/09/05

‘O governo federal é a favor do uso da internet para ligações telefônicas -sistema conhecido com VoIP (voz sobre protocolo de internet, na sigla em inglês). De acordo com o ministro Hélio Costa (Comunicações), as teles devem procurar mais clientes nas classes de consumo C, D e E, porque a classe média, com acesso à internet, deve usar cada vez mais o VoIP, movimento que ele acha inevitável.

A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) entende que não deve interferir nesse serviço, por enquanto. Na avaliação da agência, no futuro, com a disseminação da banda larga no acesso à internet, o VoIP pode aumentar a competição no setor de telefonia fixa.

‘É inevitável [o uso do VoIP]. É o passo mais importante da telefonia nesses últimos dois anos’, disse Costa à Folha. ‘Já é um fenômeno. Todas as pessoas que têm computador, que lidam com computador, sabem da existência dos diversos programas que fazem voz sobre IP [Protocolo de Internet] e os utilizam’, disse.

‘Isso reforça a teoria de que as empresas de telefonia fixa precisam começar a encontrar novos clientes, possivelmente nas classes C, D e E, porque as classes A e B dispõem do computador. E, se dispõem do computador, evidentemente estão migrando para voz sobre IP’, afirmou. Para ter maior penetração nessas classes mais baixas de renda, segundo o ministro, as teles teriam que reduzir o valor da assinatura básica ou até mesmo acabar com a cobrança.

Ainda segundo Costa, o governo deve seguir o que é feito no resto do mundo com a internet e não interferir. ‘O governo tem que seguir o padrão internacional, da mesma forma que faz com a internet, que não é um serviço de comunicações’, disse. ‘Eu sempre alerto as empresas [de telefonia] de que elas têm que começar a conviver com essa situação e encontrar novos produtos. A telefonia fixa tem que começar a desenvolver novos serviços’, disse.

A Anatel optou por esclarecer, por escrito, seu posicionamento em relação ao VoIP. A agência ressaltou que ‘não existe um marco regulatório para VoIP no Brasil, assim como na maior parte dos países’. Ainda de acordo com a agência, ‘o cenário regulatório vigente ainda é carente de normas específicas para disciplinar de maneira eficiente os serviços de voz sobre IP no Brasil’.

Três cenários

Segundo a Anatel, há três cenários possíveis para a utilização de serviços VoIP. O que ela chama de ‘classe 1’ ou ‘VoIP puro’ é a ligação entre um computador e outro para transmissão de voz por meio de internet. Esse serviço é considerado pela agência reguladora como sendo de ‘valor adicionado à internet’ e, portanto, não é regulado.

As outras duas classes envolvem o uso da rede pública. São casos como o uso de um computador para completar uma ligação para um telefone fixo, por exemplo. Nesse caso, é necessária autorização da agência.

Questionada sobre se a disseminação do VoIP teria levado as teles a fazer algum tipo de reclamação na agência, a Anatel informou que não. De acordo com a agência, ‘no futuro, a voz sobre IP com o uso de banda larga poderá constituir um mecanismo para aumentar a competição na telefonia fixa local’. Nessa circunstância, a agência vai avaliar ‘como essa tecnologia afeta ou não o equilíbrio financeiro das concessionárias’ de telefonia fixa.

A agência ressaltou que, ‘no Brasil, de um lado, a rede pública de telecomunicações sempre foi altamente regulada, e, de outro a internet sempre foi deixada livre do processo de regulamentação’. Na análise da Anatel, o VoIP ‘faz esses dois mundos interagirem e é preciso cautela na análise e tratamento da matéria’.’



Bruno Parodi

‘Internet Brasil: 10 anos de ontem’, copyright No Mínimo (www.nominimo.com.br), 13/09/05

‘Lá se vão 10 anos de internet comercial no Brasil. E justamente em função do surgimento dessa tal rede de computadores comecei a trabalhar. Meu primeiro e único emprego – à exceção da firma que montei e já desmontei – só existe e perdura porque ela resolveu aparecer e crescer tanto. Aquele papo do ‘parece que foi ontem’ tem adequação aqui. Parece mesmo. E dentre tantos episódios vividos nessa última década, há o que questionar acerca do que mudou e de como mudamos com esse mundão digital que se abriu.

No jurássico ano de 1995, a internet era para poucos (e endinheirados). Podíamos contar nos dedos o número de provedores de acesso. Seus planos eram pífios e seus preços, salgados. Os próprios domínios ‘.com.br’ não existiam, só os ‘.com’. Ter uma página pessoal também exigia um belo trocado. Por sinal, poucos eram aqueles que conheciam a tal linguagem HTML, coluna da web.

Não havia pressa. O mundo sabia que a internet estava ali mas não apostava as suas fichas nela. As empresas construíam seus sites meramente para marcar terreno, dizer que ‘estavam na rede’. Pura questão de status. Serviços online eram escassos. No máximo alguns buscadores, como o AltaVista ou o HotBot no exterior, ou o Cadê? e o Yahi?, no Brasil. A Amazon era uma promessa. Eram nítidos os resquícios da fase anterior, a da internet acadêmica, moldada para fins educativos.

Impossível negar que naquele tempo os sites eram feios, mal feitos e sem grandes utilidades. Todos carregados de GIFs animadas bregas, arquivos sonoros MIDIs executando as músicas mais cafonas do mundo, contadores de visitas, além dos bons e velhos livros de visitas (guestbooks), para quem quisesse deixar aquele recadinho na página que acessou. Assim já foi a web com seu amadorismo.

Curiosamente, não era trivial interagir com os demais internautas. Não somente por questões funcionais, como, principalmente, pelo fato de que a grande maioria dos seres humanos não estava conectada. Assim, bem no comecinho, ter um endereço de correio eletrônico, por exemplo, servia quase que de enfeite. Você tinha o seu mas dificilmente recebia mensagens alheias. Pois quem estava online? Ah, o lado bom é que não havia spam! Coisas de cidade pequena.

Nessa linha do tempo, chegávamos à época da consistência, com a internet provando que iria além das características acadêmicas, podendo ser realmente relevante no dia-a-dia moderno. Começava a oferecer novidades capazes de arregalar os olhos do mundo, que passou a deixar de lado cartas escritas à mão, aparelhos de fax, pagers. Virou moda usá-la.

Logo estávamos na fase da histeria geral, com a pregação de que só a internet resolveria nossos problemas e de que dela viria a salvação. Só dava ela em todas as mídias. Todo e qualquer negócio nela passou a ser avaliado de forma inflada. Vender qualquer empresa ‘.com’ poderia tirar qualquer país da miséria. Companhias tradicionais gigantescas eram avaliadas por frações de outras ‘digitais’ com alguns meses e poucos funcionários de vida.

O capítulo seguinte teve o caos como personagem principal. Quem trabalhava com a internet e não tinha uma forma consistente de ganhar dinheiro foi para o espaço. Aquela seleção natural que tantos pregavam veio à tona e varreu o que encontrou pela frente. Poucos foram os remanescentes. Ficou a lição de que há males que vêm para recobrar-nos a consciência. Aquele bug do milênio, em 2000, não quebrou os computadores, quebrou a internet. Foi, ao pé da letra, o ‘boom’.

Nunca houve uma reviravolta única, nem revolução que tenha nascido da noite para o dia. Ela veio aos poucos, gradativa e constantemente; sem parar. Tudo foi sendo mudado diante dos olhos de todos, em todas as frentes. Mas enxergar tanta mudança junta, por completo, nunca foi simples.

Aquela musiquinha MIDI primitiva deu lugar à MP3 e sua qualidade de alta definição. As GIFs animadas continuam vivas, mas agora são usadas com mais parcimônia, e ganharam o reforço de uma batelada de novas tecnologias próprias para a arte dos movimentos e da interação. Contadores ainda existem, mas o mundo preferiu adotar recursos que dizem quem está naquele site agora. Enfim, tudo continuou a andar, e teve a sua importância nessa cadeia evolutiva.

O pontapé inicial, que começou, quem sabe, com os antigos livros de visitas, está por toda a parte. A capacidade de interação é um dos grandes alicerces da internet e não há qualquer previsão para iniciar sua estagnação. O usuário quer falar, quer ser ouvido, quer ter retorno. A evolução dos comunicadores instantâneos é reflexo disso. Desde o ICQ, nos idos de 96 ou 97, chegando ao tão falado Skype e a outros tantos que permitem intercâmbio de texto, áudio, vídeo, navegação coletiva, compartilhamento de arquivos, de contatos entre tantos outros recursos. Os jogos multiplayers são prova disso e gerariam dissertações imensas. Sem falar no VoIP, integração de dispositivos móveis e toda essa fantástica tralha.

Somemos aí a popularização da informática e a facilidade de acesso aos provedores discados e de banda larga. Isto implica em volume de usuários e demanda de produtos e serviços, acelerando a inovação e o desenvolvimento geral. E a informação, que antes não circulava com tanta fluidez, passou a ser realmente em tempo real. Sites e usuários tornaram-se provedores de conteúdo, fazendo a o fluxo correr. Uma coisa foi puxando a outra.

Compras online? Pouco a pouco aquela neurose quanto à segurança deu lugar ao incontestável: conveniência, praticidade e segurança. Considerando ainda a consolidação do internet banking e do home broker para operações nas bolsas do planeta. Falar da declaração remota do Imposto de Renda é ressaltar o óbvio. Há serviços para todos os gostos e para todas as necessidades. Basta procurar. E neste cenário não há mais empresas que venham à rede para marcar presença; a briga entre elas está cada vez mais dura e mais profissional.

O pacote que temos atualmente é este e, por mais que escrevamos, ele é indefinível, infindável e imprevisível. Nem o maior filósofo-vidente poderia imaginar onde chegaríamos, nem acertar o que haverá pela frente. De qualquer forma, lá se vão 10 anos, e parece que foi ontem.

Relembrar o que passou não é prova de saudosismo – ainda que algumas recordações sejam deveras agradáveis – mas uma evidente constatação de que a internet tornou-se parte integrante do nosso organismo. Seriam necessárias centenas de artigos como este para contar com fidelidade parte de sua história. Mas, de todo o modo, voltamos à consistência. A rede tornou a valer quanto pesa.

Quem arrisca dizer como será o texto desta próxima década?’