Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Intelectuais saem em defesa de Emir Sader


Leia abaixo os textos de sexta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 03 de novembro de 2006


PAINEL DO LEITOR
Folha de S. Paulo


Imprensa


‘‘Como assinante desta Folha desde muito jovem, manifesto minha total solidariedade ao jornal e a toda a imprensa brasileira, que tem sido violentamente atacada pelo governo federal e por partidários do PT, atitudes estas que lembram o fascismo de regimes passados e nos mostram que os ideais da ‘ditadura do proletariado’ continuam vivos nestes que se intitulam defensores da democracia. Não concordo com muitas das posições expressas nesta Folha, mas vou lutar até o fim pelo direito inalienável de que tais idéias e pensamentos sejam expressados sem a menor censura à liberdade de informação.’


FABIANO ANDREATTA (São Paulo, SP)


‘Mostrando todo o vigor de sua ira patriótica, uma seleção de notáveis do jornalismo brasileiro, associados ao meu jornal preferido, a Folha, desencadeou, com um esforço sobre-humano, um inusitado processo para impedir a vitória de Lula. Foi um trabalho diário, persistente e orquestrado, merecedor de elogios pela tarefa quase divina de derrotar Lula a qualquer preço. Congratulações a Clóvis Rossi, Eliane Cantanhêde, Fernando Rodrigues, Fernando de Barros e Silva, Renata Lo Prete, Marta Salomon, Otavio Frias Filho e outros. As manchetes panfletárias e as reportagens e artigos irados e demolidores não conseguiram demover o eleitorado, que não atendeu aos apelos desses formadores de opinião.’


ELIO FISZBEJN (São Paulo, SP)


Emir Sader


‘A condenação de um dos mais expressivos intelectuais do país é mais um sinal do alcance de nosso liberalismo excludente (‘Sociólogo é condenado por acusar Bornhausen’, Brasil, 2/11). Repugnante, ultrajante, para dizer o mínimo. Um senador do ‘partido da ordem’, que pertenceu às hostes da ditadura militar, usa expressões como ‘se ver livre dessa raça’ e sobre ele nada pesa. Já o professor Emir Sader -um intelectual que sempre prestou serviços aos trabalhadores, camponeses, estudantes e excluídos, pois jamais separou a produção teórica da práxis crítico-revolucionária- é condenado a prestar ‘serviços à comunidade’ e impedido de lecionar na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Há que se indignar, mas, mais ainda, abandonar a retórica da defesa dos ‘valores autênticos’ da democracia e não se deixar prostrar diante de decisões aviltantes como esta.’


ANTONIO RAGO FILHO, professor-doutor do Departamento de História da PUC-SP (São Paulo, SP)’



VIOLÊNCIA NO MÉXICO
Folha de S. Paulo


Confronto em Oaxaca deixa ao menos 21 feridos


‘Um confronto entre a Polícia Federal mexicana e estudantes que cercavam a Universidade Autônoma Benito Juárez deixou 21 feridos em Oaxaca -12 jovens, 7 policiais e dois jornalistas. Os manifestantes ocuparam o campus após terem sido retirados da praça principal da cidade, domingo. A polícia tentou invadir o local e foi recebida a pedradas e coquetéis molotov.


A crise começou em maio com uma greve de professores, mas se transformou numa revolta social que exige a renúncia do governador Ulisses Ruiz. A pedido de movimentos sociais, o arcebispo José Luis Chávez participará da mediação do conflito. O movimento lançou um ‘SOS aos povos do mundo’ para pressionar o governo mexicano a retirar a PF da cidade.


O secretário de Governo, Carlos Abascal, disse ontem que levará meses para a cidade se recuperar.’


 


CINEMA
Folha de S. Paulo


Tom Cruise e sua sócia vão dirigir a United Artists


‘DA ASSOCIATED PRESS – Tom Cruise e sua sócia Paula Wagner vão dirigir a United Artists (UA), estúdio fundado em 1919 por astros de Hollywood como Charlie Chaplin e Mary Pickford.


Wagner será a principal executiva da companhia, que hoje pertence à Metro-Goldwyn-Mayer. Cruise participará de filmes da UA, mas também poderá trabalhar em obras de estúdios concorrentes, anunciou ontem a MGM.


O anúncio é uma grande virada para Cruise e Wagner. Eles foram dispensados em agosto de seu contrato de produção de 14 anos com a Paramount, depois que Sumner Redstone, presidente da controladora do estúdio, a Viacom, acusou o comportamento público irreverente de Cruise de prejudicar a bilheteria de ‘Missão Impossível 3’. Após o rompimento, a produtora Cruise/Wagner disse na época que havia conseguido financiamento de dois fundos ‘hedge’ (alto risco) para apoiar projetos.


A MGM disse ontem que Cruise e Wagner adquiriram uma participação na UA, mas não especificaram os termos financeiros. A dupla terá controle da grade de produção, que deve ter quatro filmes por ano.


‘Há um completo alinhamento de interesses. Acreditamos que Tom é uma grande força criativa’, disse Rick Sands, presidente da MGM. ‘Se você olha para o histórico dele, gerou grandes bilheterias.’ A última participação de Cruise em um filme da UA foi em ‘Rain Man’, de 1988, que ganhou quatro Oscars.


A United Artists foi fundada por Chaplin, Pickford, Douglas Fairbanks e D.W. Griffith, com viés menos comercial que os outros estúdios. Em 1967, foi vendida à Transamerica, que o vendeu à MGM em 1981.


Em 2004, a MGM foi comprada por consórcio que inclui Sony, Comcast, Providence Equity Partners, Texas Pacific Group e DLJ Merchant Banking Partners.


Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES’



WWW
Folha de S. Paulo


Rio vai abrigar fórum da ONU sobre internet


‘A primeira cúpula sobre a internet organizada pelas Nações Unidas preparou o terreno para discutir os principais temas da web no Fórum de Governança da Internet, que acontece em 2007 no Rio de Janeiro, segundo participantes.


O encontro, que terminou ontem, na Grécia, discutiu o uso de tecnologias para acelerar o acesso da população de países em desenvolvimento à internet e os problemas da interferência de governos nas páginas da web.’




TV
Daniel Castro


Record trama rebelião da bola contra Globo


‘A Record não pretende deixar barato para a Globo a exclusividade dos direitos dos torneios brasileiros de futebol.


A rede, que na semana passada rompeu parceria com a Globo por não poder transmitir jogos alternativos competitivos no Ibope, iniciou um trabalho de bastidores para, no mínimo, encarecer os campeonatos para a principal concorrente.


Diretores da Record terão na semana que vem reunião com Eurico Miranda, presidente do Vasco e rival da Globo. Esperam que Miranda lidere uma conspiração de cartolas contra a exclusividade da Globo.


Nos bastidores, executivos da Record têm dito que a emissora está disposta a pagar multa devida pelos clubes caso eles rompam imediatamente o contrato com a Globo, que só vence em 2009. Afirmam também que poderão pagar às agremiações mais do que a Globo paga (R$ 300 milhões por ano).


Essa disposição de gastar, no entanto, é vista como blefe até na Record. No fundo, o que a rede quer agora é que os clubes, sempre insatisfeitos com o que recebem, exijam da Globo uma compensação por sua proposta.


Na Globo, a ameaça da Record sobre o Campeonato Brasileiro não é levada a sério, porque, acredita a emissora, os clubes vão honrar o contrato que têm com ela até 2009. Já a ameaça da Record sobre a Copa de 2010, negócio que deve envolver no mínimo US$ 83 milhões, de fato preocupa a Globo.


DISNEYLÂNDIA 1 O SBT contratou a roteirista Letícia Dornelles para o projeto ‘Minha Vida É uma Novela’, série que substituirá o ‘Charme’, de Adriane Galisteu, no início de 2007. Letícia concluiu ‘Metamorphoses’ (Record) e teve uma passagem pela Band.


DISNEYLÂNDIA 2 No encontro que teve com Silvio Santos, a novelista contou a ele que, na infância, era fã do ‘Boa Noite, Ciderela’, apresentado pelo hoje dono do SBT.


DISNEYLÂNDIA 3 ‘Silvio para mim era tipo um ser encantado, a Fada Madrinha. Eu me imaginava no palco com ele, com a tiara de princesa. Hoje, posso dizer que sou a própria Cinderela em noite de baile. E trabalhando não com um príncipe, mas com o Rei da TV’, divulgou Letícia.


ATÉ QUE DEMOROU Anteontem, no meio das gravações do episódio de amanhã de ‘Bailando por um Sonho’, Silvio Santos resolveu mudar as regras do ‘reality show’. Agora, o artista só dançará com o ‘sonhador’ (anônimo que concorre a prêmio). Antes, ele dançava também com o coreógrafo.


TROCA-TROCA O ‘Show do Tom’, que chegou a bater o ‘Bailando’ no Ibope exibindo nos sábados reprises das terças, inverterá a ordem. A partir de amanhã, o programa inédito entrará no sábado e a reprise, na terça.


NOVA MÍDIA O portal Terra, do grupo Telefônica, começa sexta-feira a transmitir ao vivo jogos dos campeonatos Alemão e Português de futebol, como se fosse TV. Isso é inédito no Brasil.’




IMPLICÂNCIA
Lucas Neves


Santoro critica cobertura de sua atuação em ‘Lost’


‘Novato no time de sobreviventes da queda de um avião em uma longínqua ilha do Pacífico Sul, o ator Rodrigo Santoro, 31, só tem conseguido manter total distância das frivolidades da civilização na ficção. Do Havaí, onde grava participação na terceira temporada da série-sensação ‘Lost’, ele acompanha atentamente a cobertura que a mídia brasileira faz do passo mais recente de sua carreira internacional. ‘Tem gente contando cada ‘frame’ em que apareço, cada palavra que eu pronuncio’, queixou-se Santoro, em entrevista concedida em Los Angeles, no último sábado.


Na primeira conversa com a imprensa brasileira após a sua estréia na série, ele mostrou desprendimento em relação aos comentários de que, mais uma vez, ‘entra mudo e sai calado’. ‘Falam isso desde que fiz minha primeira participação fora [em ‘As Panteras: Detonando’, de 2003]. Não vou ficar me explicando. Nunca me preocupei com isso [quantidade de falas]. As pessoas estão acostumadas comigo, no Brasil, no papel de protagonista. Não conseguem entender porque aqui não tenho o mesmo papel.


Mas é outra história!’


Uma história em que, na opinião de Santoro, a protagonista é a ilha. ‘Me vejo como uma pequena peça em um quebra-cabeça enorme. Uma pequena peça que ajuda a contar a história, independentemente do número de falas ou do tempo de tela.’ Se suas aparições são rápidas, é porque é essa a natureza da série, disse o ator. ‘Para quem não conhece ‘Lost’, é assim que muitos personagens foram e são apresentados.’


Apesar de desconhecido do público até então, Paulo, o personagem de Santoro, sempre integrou o grupo de sobreviventes do acidente aéreo. ‘Nós estávamos lá desde o início’, afirmou o ator, usando o plural para incluir a também neófita Nikki (Kiele Sanchez), que pode vir a ser seu par romântico. ‘Só que vivíamos do outro lado da ilha. Não socializávamos tanto quanto deveríamos’, especulou, em tom jocoso.


E haja especulação para construir um personagem a respeito do qual os roteiristas entregaram pouquíssimos detalhes. Santoro afirmou nem sequer saber se Paulo mantém algum vínculo com a dupla que, recolhida a uma espécie de estação polar, dialogou em português no último episódio da segunda temporada. Mas o produtor executivo Carlton Cuse deu uma pista. Em entrevista paralela, disse que ‘não seria errado pensar que isso é mais do que mera coincidência’.


Personagem aberto


Escolado em obras abertas (como as novelas, cujas tramas podem mudar a qualquer momento), o ator encara pela primeira vez um ‘personagem aberto’, com índole, história pregressa e motivações indefinidas. ‘Nunca tinha aceitado uma proposta de trabalho sem saber o que ia fazer. Fui descobrir o nome do personagem dias antes de começar a gravar. Aceitei porque vi uma oportunidade interessante: filmar no Havaí e estar num programa muito bem escrito e dirigido.’


As particularidades de Paulo obrigaram Santoro a repensar o método de trabalho. ‘Quando vi que não tinha onde pesquisar, decidi trabalhar com a não-construção. Faço o personagem existir a cada cena.


Como a temporada havaiana não deve se estender indefinidamente -o ator disse já saber quando deixará a série-, cada minuto livre é pretexto para diversão. ‘Levo uma prancha no carro. Se dá tempo, dou uma surfada antes do trabalho ou no intervalo. Também jogo bola com o Ian [Cusick, que interpreta Desmond]. Para mim, é como estar na Disneylândia.’


O repórter LUCAS NEVES viajou a convite da Sony Pictures Television International’


 


AQUECIMENTO GLOBAL
Silvana Arantes


Gore ‘estrela’ documentário político


‘Um ano antes de se tornar vice-presidente dos EUA (na administração Bill Clinton), o senador Al Gore esteve no Rio. Na Eco-92, Gore discutia as perspectivas do futuro do planeta do ponto de vista ambiental.


Este continua sendo o seu assunto em ‘Uma Verdade Inconveniente’, documentário de Davis Guggenheim que estreou ontem no Brasil, já com o rótulo de filme-fenômeno.


Desde ‘Fahrenheit 11 de Setembro’ (2004), de Michael Moore, um documentário não atraía tanta atenção. A diferença, a favor de ‘Uma Verdade Inconveniente’, é que o filme teve acolhida unânime entre os críticos de cinema mais importantes dos EUA e dos demais países onde já foi exibido.


O curioso é que nem Gore nem Guggenheim planejaram fazer esse filme. Depois de perder a eleição presidencial para George W. Bush, Gore voltou às suas atividades extra política partidária -como professor universitário, conselheiro da Apple e do Google e, sobretudo, presidente da Generation Investment Management, empresa dedicada à causa do desenvolvimento sustentável.


Ao assistir a uma das mil apresentações da palestra de Gore sobre o aquecimento global -e a necessidade de adotar medidas políticas para detê-lo-, um grupo de produtores viu a chance de um bom filme.


Entre esses produtores está Jeff Skoll, da Participant Productions, o amigo-sócio de George Clooney em ‘Boa Noite e Boa Sorte’. Para a tarefa de transformar novamente um assunto espinhoso em sucesso, Skoll e cia convidaram Guggenheim, diretor de séries de TV (‘24 Horas’, ‘Alias’) com passado, aparentemente enterrado, de documentarista. Guggenheim começou tratando Gore por ‘senhor vice-presidente’ e se sentia intimidado de olhar ‘o cara que vai estar no livro de história de seus netos’, como conta em texto distribuído à imprensa.


Mas a aproximação entre os dois evoluiu o bastante para o diretor tocar em assuntos da vida privada do ‘personagem’, que Guggenheim usa no filme como contraponto emocional à racionalidade da palestra, que ocupa o centro da ‘ação’.


Sim, ‘Uma Verdade Inconveniente’ é basicamente uma palestra filmada. Mas não qualquer palestra. Na forma, Gore e Guggenheim lançam mão da multimídia, como a animação, e de ‘efeitos’ para, por exemplo, fazer Gore elevar-se junto de um índice de um gráfico.


Mas o que interessa no documentário é mesmo o seu discurso verbal. Com a apresentação de estudos, Gore primeiro define o aquecimento global e sustenta que não há, no universo científico, um único trabalho sério que coloque em dúvida a existência do fenômeno.


A partir daí, ele usa exemplos para demonstrar como a situação vem se agravando exponencialmente e aponta o nó da questão ou a inconveniente verdade: encaradas como entrave ao desenvolvimento econômico-industrial, medidas essenciais para conter o aquecimento global são recusadas por países e governos e países, EUA à frente. Mas, se esse processo não for revertido, o planeta caminha para a destruição. Porém ‘Uma Verdade…’ não é um filme-catástrofe. Gore deixa claro que não quer tirar os cidadãos do estado de negação do problema diretamente para o pânico do fim iminente.


O que ele pede é engajamento civil para forçar mudanças. Enfim, política no dia-a-dia.’



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O Estado de S. Paulo


Sexta-feira, 03 de novembro de 2006 


DEFESA
Clarissa Oliveira


Intelectuais lançam manifesto de apoio a Emir Sader


‘Um grupo de intelectuais e acadêmicos lançou um manifesto em apoio ao sociólogo e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Emir Sader, contestando sua condenação em um processo por injúria movido pelo presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen. Sader, que em um artigo chamou Bornhausen de ‘racista’, atacava uma declaração feita pelo senador em referência ao Partido dos Trabalhadores, quando eclodiu o escândalo do mensalão. Na época, Bornhausen disse que, em função das denúncias, se veria ‘livre dessa raça por, pelo menos, 30 anos’.


O manifesto foi idealizado por um grupo de intelectuais integrado pela editora Ivana Jinkings. ‘Esta decisão é absurda e totalmente despropositada’, disse ela, acrescentando que Sader recorrerá da decisão e deverá obter uma revisão de sua sentença, que além de ordenar a prestação de serviços comunitários pede também a perda do cargo de professor na Uerj . ‘Não tenho a menor dúvida de que isso não resiste a um recurso’, completou Ivana.


No texto divulgado junto com o pedido de assinaturas, os intelectuais afirmaram que a decisão judicial ‘transforma o agressor em vítima e o defensor dos agredidos em réu’. ‘Numa total inversão de valores, o que se quer com uma condenação como essa é impedir o direito de livre expressão, numa ação que visa a intimidar e criminalizar o pensamento crítico. É também uma ameaça à autonomia universitária que assegura que essa instituição é um espaço público de livre pensamento’, afirma o documento.


O primeiro nome na lista dos que assinaram o manifesto é o do escritor, crítico literário e professor Antonio Candido. Apesar de não integrar o grupo de idealizadores do protesto, Candido repudiou a decisão judicial, que, segundo ele, condena de forma injustificada um quadro intelectual importante do País. ‘A impressão que eu tenho é de que esta é uma decisão extremamente arbitrária’, afirmou Candido, que é também um dos fundadores do PT.


Até o final da tarde de ontem, segundo Ivana, aproximadamente 3 mil pessoas já tinham assinado o manifesto. Desde que a decisão da Justiça foi anunciada, nesta semana, o PT também endossou a petição, ao postar uma cópia do texto em sua página na Internet. No mesmo dia, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) também emitiu uma nota em apoio ao sociólogo. ‘A sentença – que, acreditamos, não passará em nova análise – é um atentado às liberdades individuais e absolutamente injusta’, afirmou a entidade.


No artigo que escreveu contra Bornhausen, Sader chamou o senador pefelista sucessivamente de ‘racista’, ‘banqueiro’ e ‘direitista’, afirmando se tratar também de uma ‘das pessoas mais repulsivas da burguesia brasileira’.


Contestando duramente as declarações do senador, o sociólogo também disse que Bornhausen merecia ser alvo de um processo por discriminação. Ao encerrar o texto, ele agradeceu o presidente do PFL por ‘realimentar no povo e na esquerda o ódio pela burguesia’.


RECLUSÃO


Sader foi condenado pelo juiz Rodrigo César Muller Valente, da 11ª Vara Criminal de São Paulo. Inicialmente, a sentença determinava reclusão de um ano, mas a pena acabou sendo alterada diante do fato de Sader ser réu primário.’



ACESSO
Washington Novaes


Sigilo prevalece no meio ambiente?


‘Dois episódios recentes no Brasil puseram em foco um tema pouco habitual na comunicação, mas nem por isso menos importante: a relação entre informação e meio ambiente. No primeiro deles, concedeu-se no Sul do País licença para implantar uma hidrelétrica, quando o respectivo estudo de impacto ambiental ocultava que o reservatório inundaria milhares de hectares de floresta de araucárias que deveriam ser protegidos. No segundo, um respeitado cientista, depois de anos de negociação, conseguiu fechar um acordo com 13 aldeias de um mesmo grupo indígena, para ali pesquisar conhecimentos a respeito de determinada planta, que poderiam levar à produção de um medicamento novo e importante; quando tudo parecia acertado, três outras aldeias vetaram o acordo, que se inviabilizou. No primeiro caso, discutiu-se muito o que fazer, dado o fato consumado do fechamento das comportas da barragem e da inundação da área de araucárias. No segundo, pesquisadores inconformados não aceitavam que grupos minoritários de uma etnia pudessem impedir o ‘avanço da ciência’, contrapondo ao desejo da pesquisa seu direito – numa sociedade em que ninguém pode dar ordens a ninguém – de não concordar com essa atividade, que se basearia num conhecimento social, de todos.


Dois livros também recentes – Direito à Informação e Meio Ambiente, do professor Paulo Affonso Leme Machado (Malheiros Editora, 2006), e Socioambientalismo e Novos Direitos – proteção jurídica à diversidade biológica e cultural, da promotora de Justiça Juliana Santilli (Editora Peirópolis, Instituto SocioAmbiental e Instituto Internacional de Educação do Brasil, 2005) – suscitam importantes discussões em torno dos dois temas.


Respeitado no País e fora, com vários livros publicados na área do Direito Ambiental, o professor Leme Machado vem agora discutir, entre vários temas, uma hipótese jurídica: se o interesse social pela informação sobre meio ambiente pode prevalecer sobre o segredo empresarial. E em que circunstâncias. Isso significa discutir se a informação deve ser ou não mantida secreta; se deve ser comunicada a todos, e não a um só grupo; e que normas devem ser observadas na divulgação, para respeitar determinados valores.


Tema difícil e complexo, que exigiu do autor longa viagem pela legislação constitucional e ambiental de muitos países, às convenções e aos tratados internacionais, aos princípios constitucionais e ao acervo legislativo brasileiros. Porque ‘a democracia’, diz ele, ‘nasce e vive na possibilidade de informar-se. O desinformado é um mutilado cívico. Haverá uma falha no sistema democrático se uns cidadãos puderem dispor de mais informação que outros sobre um assunto que todos têm o mesmo interesse de conhecer, debater e deliberar’.


É um terreno vital, porque exatamente do sigilo indevido podem nascer os privilégios (econômicos, políticos), como pode ser favorecida a corrupção. Nos negócios públicos, principalmente, tudo deveria vir à luz, para que a sociedade possa informar-se, exigir, cobrar, não aceitar. Mas também nos negócios privados há limites para o sigilo.


No fundo, sempre a mesma pergunta: a quem pertence a informação?


‘A possibilidade de livre acesso a qualquer dado ou fato ocorrido em espaço público não permite que a informação possa ser propriedade somente dos que já estão informados, quaisquer que sejam eles’, diz o jurista. ‘Os comunicadores sociais não podem reter em seu poder as informações de interesse geral. Os profissionais da comunicação fazem a ligação entre a fonte da notícia e seus destinatários, mas ninguém pode transformar-se em proprietário dessa informação.’ O sigilo, portanto, ‘só se pode conceder quando ele não contrarie o interesse social e nem possa prejudicar a saúde humana e o meio ambiente’.


Já o livro da promotora Juliana Santilli examina ‘a influência do socioambientalismo sobre o sistema jurídico constitucional e infraconstitucional – nos terrenos da cultura, do meio ambiente, dos povos indígenas e quilombolas’, assim como a função social da propriedade. E, com sua experiência no Núcleo de Direitos Indígenas e no Instituto Socioambiental, aliada agora à vivência na área do Direito, a autora se detém na aguda questão dos direitos dos povos indígenas e quilombolas na área da conservação e utilização da biodiversidade – terreno complexo, que vem levando a discussões acirradas entre cientistas, ambientalistas e representantes dos povos tradicionais. Não apenas no Brasil. Tanto que na reunião da Convenção da Biodiversidade este ano, em Curitiba, não se conseguiu avançar nessa área. Essencialmente porque não se chega a acordo entre cientistas, que se julgam prejudicados em seu direito de pesquisar, e povos tradicionais, que temem a apropriação de seus conhecimentos e a biopirataria. Às vezes, dizem esses povos, bastam três ou quatro palavras para abrir as portas a um conhecimento muito valioso; basta dizer ‘tal planta serve para tratar tal doença’. Essa informação pode ser valiosa não apenas em termos científicos, mas também comerciais.


‘Um dos pilares fundamentais do regime jurídico sui generis a ser construído’, pensa Juliana Santilli, ‘deve ser o reconhecimento da titularidade coletiva dos povos indígenas, quilombolas e populações tradicionais sobre os direitos intelectuais associados aos seus conhecimentos tradicionais, por se reportarem a uma identidade cultural coletiva e a usos, costumes e tradições coletivamente desenvolvidos, reproduzidos e compartilhados.’


Levados ao centro do debate, os dois livros poderão dar contribuição decisiva para o avanço de temas muito pouco discutidos.’




SOFTWARE
O Estado de São Paulo


Microsoft se aproxima do sistema Linux


‘A Microsoft, maior empresa de software do mundo, anunciou ontem um acordo histórico com a Novell, uma das companhias líderes em software livre. A parceria prevê que as equipes de vendas da Microsoft vão oferecer licenças do sistema operacional Windows como parte de um pacote de manutenção e suporte à plataforma Suse Linux, da Novell. Antes, se o cliente quisesse rodar Windows e Linux em seus sistemas internos, não tinha suporte da Microsoft. Com o acordo, a empresa passa a garantir que os dois sistemas irão funcionar bem juntos.


‘Disseram que isso não poderia ser feito’, afirmou o presidente da Microsoft, Steve Ballmer em comunicado. ‘Este é um modelo novo e uma evolução verdadeira no nosso relacionamento, que acreditamos que nossos clientes irão considerar estimulante, porque oferece valor prático ao aproximar duas de suas mais importantes plataformas de investimento.’


O software livre, também chamado de código aberto, pode ser modificado, copiado e utilizado sem pagamento de licenças. O Linux, um software de código aberto, é o principal concorrente do Windows, da Microsoft. O Windows é um software proprietário, que não dá aos seus usuários o acesso ao código fonte, que são as linhas de comando que formam o programa. Antes do anúncio de ontem, a Microsoft já havia iniciado uma aproximação ao participar de eventos de software livre, até como patrocinadora.


O Linux é desenvolvido por uma comunidade global de programadores que não estão ligados a uma empresa específica, e que compartilham o código de programação livremente. A principal fonte de receita da Novell são os contratos de suporte ao Suse Linux. ‘O acordo constrói uma ponte muito importante de propriedade intelectual entre os lados proprietário e de código aberto’, afirmou o conselheiro geral da Microsoft, Brad Smith.


Depois de a notícia ter vazado, as ações da Novel subiram 15,7% ontem na bolsa eletrônica Nasdaq, fechando a US$ 6,79, enquanto as da Microsoft ficaram estáveis, a US$ 28,77. O acordo colocou pressão sobre a Red Hat, maior empresa do mercado de Linux hoje. Ao trabalharem juntas, a Microsoft e a Novell esperam conseguir que mais empresas rodem juntos o Windows e o Linux, sem problemas de queda de sistema.


As duas empresas também planejam melhorar a interação entre o pacote Office, da Microsoft, e a alternativa gratuita em software livre, chamada OpenOffice. Para encorajar que mais empresas usem a plataforma aberta da Novell, a Microsoft concordou em não reclamar nenhum direito de patente sobre qualquer tecnologia que possa estar integrada ao Suse Linux. A concessão serve para tranqüilizar muitos usuários corporativos que têm mostrado relutância em usar o Linux, por temer que a Microsoft possa retaliar com ações de quebra de patentes.


O relacionamento entre as duas empresas não tem sido fácil. Em 2004, a Novell fechou um acordo de US$ 536 milhões com a Microsoft, referente a reclamações antitruste que havia apresentado na Europa. Depois disso, a Novell processou a rival novamente nos Estados Unidos. A empresa acusava a Microsoft de reter informações técnicas sobre o Windows necessárias para os programas de processador de textos e planilhas da Novell.


A decisão da Microsoft de trabalhar com a Novell reflete o papel cada vez mais importante do Linux no ambiente corporativo. Por estar disponível gratuitamente, o Linux tem sido, há muito tempo, fonte de preocupação para a Microsoft, que tem como principal fonte de receita a venda de software proprietário. Os concorrentes Google e a Oracle vêm se aproximando do software livre.’



WILLIAM STYRON
Luiz Carlos Merten


Morre o autor premiado de A Escolha de Sofia


‘Há uma preocupação pelo tema do mal, sua origem, sua banalização, que percorre a obra do escritor americano William Styron. Aparece em suas obras mais famosas – A Escolha de Sofia, que virou filme com Meryl Streep, e As Confissões de Nat Turner, mas também em Perto das Trevas, quando ele desmontou o mito da depressão criativa, descrevendo, como uma estação no inferno, a própria dependência de antidepressivos e tranqüilizantes, que quase o levou ao suicídio. Styron sobreviveu para contar essa história e alimentar uma polêmica que sacudiu o mundo das letras, no começo dos anos 90. Anteontem, aos 81 anos, ele morreu de pneumonia em Martha’s Vineyard, no Estado de Massachusetts.


Natural de Newport News, Virginia, onde nasceu em 11 de junho de 1925, Styron era filho de um engenheiro naval. A mãe morreu quando ele tinha 13 anos e a infância do pequeno William foi atormentada pelas dificuldades próprias do período, quando os EUA atravessavam a depressão econômica que se seguiu ao crack da Bolsa de Nova York, de 1929. Na 2ª Guerra, ele lutou como tenente da Marinha. Ao ser desmobilizado, iniciou uma fase de militância política que o levou tanto a defender os direitos dos judeus na antiga União Soviética quanto um professor americano perseguido pelo macarthismo.


William Styron virou um grande nome das letras quando As Confissões de Nat Turner ganhou o Prêmio Pulitzer, em 1967. Foi uma época de profundas transformações na sociedade americana. O mundo todo estava mudando, mas, nos EUA, o movimento dos negros por direitos civis e os primeiros protestos contra a Guerra do Vietnã já varriam o país quando Styron lançou seu romance que começava de forma tão sugestiva. ‘O ano de 1831 foi, simultaneamente, há muito tempo e ontem mesmo.’ Foi o ano em que Nat Turner iniciou seu movimento em Southampton, na Virgínia. Turner era um escravo educado na sociedade branca. Transformou-se num messias selvagem, um salvador de negros oprimidos a quem liderou numa revolta sangrenta.


Norman Jewison, que fez naquele mesmo ano No Calor da Noite, ganhando o Oscar de melhor filme, mas não o de direção, imediatamente se interessou pelo livro, mas o projeto foi considerado forte demais, num ano já tão marcado pela tensão racial. Doze anos mais tarde, ele escreveu A Escolha de Sofia e, aí sim, a transformação em filme foi imediata. Três depois, Meryl Streep já ganhava o Oscar por sua interpretação como a judia polonesa forçada a uma escolha brutal pelos nazistas – entre os dois filhos, um menino e uma menina, ela terá de escolher qual viverá. Alan J. Pakula era o diretor, que usou o livro para falar do seu tema favorito, a quebra da confiança, nas relações pessoais ou políticas. Sempre interessado em discutir o mal que os homens fazem a outros homens – a necessidade de dominar é uma das maldições da raça humana, Styron dizia -, ele não era o liberal típico. Styron era mais radical. Amigo do ex-presidente Bill Clinton, também defendia Fidel Castro, a quem visitou, em companhia de Gabriel García Márquez, em 2000.’



NOVATOS
Keila Jimenez


Band abre testes


‘Enquanto a Record faz plantão nas portas de Globo e SBT assediando nomes de destaque para compor seu casting, a Band quer promover um banco de novos talentos.


Na contramão dessa iniciativa da concorrência, que acaba inflacionando salários, a Band já está programando para este mês a abertura de testes no Rio e em São Paulo para captação de novos profissionais para as jornalísticos, programas de entretenimento e esportivos.


A produção de elenco da emissora realizará dois dias de testes recebendo candidatos – homens, mulheres e crianças – interessados em atuar em seus programas.


Detalhe: o teste não será aberto ao grande público. Para participar é necessário enviar antes à rede um currículo para o e-mail testeband@macica.com.br, que servirá como uma espécie de pré-seleção dos candidatos.


Somente os selecionados participarão dos testes práticos, que serão realizados nos dias 13 e 14 em São Paulo e 27 e 28 no Rio.


A intenção da Band é descobrir talentos para suas novelas, jornalísticos , programas esportivos e de humor que estrearão na programação de 2007.’



MONEY, MONEY, MONEY
O Estado de S. Paulo


Merchandising milionário, em Páginas


‘Quem assistiu à novela Páginas da Vida na segunda-feira se assustou com um enorme merchandising que tomou conta de 2 minutos de cena. Estima-se que a ação, da Todeschinni, tenha sido uma das mais caras do folhetim até agora, algo em torno de R$ 700 mil. Isso sem contar os cachês dos atores participantes, no caso três: Regina Duarte, Jorge de Sá e Angelo Antônio. Cada um levou em média 5% do valor do investimento total da ação de cachê. Na cena, Helena (Regina Duarte) resolvia do dia para noite trocar todos os móveis de sua casa.’


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