‘Se uma imagem vale mais que mil palavras, cinco dezenas de imagens valem um ano inteiro. O Senac São Paulo abre hoje a exposição que reúne o conjunto de 52 peças fotojornalísticas que ‘traduzem’ o ano de 2004. Fazem parte de ‘Fotojornalismo – São Paulo, Retrospectiva 2004’ cenas comuns, pontuais ou diárias, da vida paulistana.
Na mostra, há desde a Parada do Orgulho GLBT, na avenida Paulista, por Eduardo Knapp, até um retrato do contraste de São Paulo, na zona sul, por Tuca Vieira; ambos fotógrafos da Folha. As duas fotografias são destacadas por João Kulcsár, professor da faculdade de Fotografia do Senac e curador da exposição.
‘Selecionei alguns exemplos que poderiam mostrar a cidade: a Fórmula 1, o Carnaval, a parada GLS, o próprio futebol. Esse é um capítulo da exposição. O outro é o que não se resolve, a violência contra a população -as enchentes, a violência na periferia e na classe média’, afirma Kulcsár, que também ressalta ‘as cores, os traços e as formas’ da cidade.
Entram no calendário da fotografia paulistana a praça da Sé dias antes do aniversário de 450 anos da cidade; o carnaval paulista, com um carro da Mocidade Alegre, que exaltou a história dos imigrantes; o confronto entre policiais da Guarda Civil Metropolitana e ambulantes; o alagamento da avenida Aricanduva (zona leste da cidade) depois de 75 minutos de chuva; a São Paulo Fashion Week e a campanha política pela prefeitura da cidade.
Kulcsár escolheu as fotografias entre toda a produção anual da Folha, de ‘O Estado de S.Paulo’, do ‘Diário de S.Paulo’ e da Agência Fotosite. ‘Foi muito difícil, realmente. Quantas imagens os fotógrafos tiram diariamente? Há cerca de 400 imagens por dia em cada jornal. Muita coisa para reduzir a uma exposição de 52 imagens’, justifica. O resultado? ‘Temos uma idéia do que foi o ano passado para podermos refletir.’
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FOTOJORNALISMO – SÃO PAULO, RETROSPECTIVA 2004. Onde: Senac (r. Scipião, 67, Lapa, São Paulo, tel.0/xx/11/ 3866-2500). Quando: seg. a sex., das 9h às 21h, sáb., das 9h às 15h; até 26/2. Quanto: entrada franca.’
Adriana Del Ré
‘A São Paulo vista da janela do ônibus’, copyright O Estado de S. Paulo, 20/1/05
‘Na rotina de percorrer a cidade, o cobrador Antônio Silva fez imagens que serão expostas no Sesc Ipiranga
Há três anos, o cearense Antonio Erivaldo Silva, de 44 anos, tornou-se cobrador. Antes de assumir a função, para ele – que já havia trabalhado como metalúrgico e na área administrativa – a rotina de cobrador parecia entediante. Não foi bem isso que ele comprovou. ‘Você começa a conhecer a cidade. Mesmo passando pelos mesmos locais todos os dias, você vê coisas diferentes’, diz ele. Silva passou a observar cenas e monumentos de São Paulo e, na sua retina, fixá-los como uma fotografia.
Decidiu ir além: comprou uma câmera digital, sem grandes recursos, em 10 parcelas de R$ 40, e, nos últimos 2 anos, passou a registrar imagens da cidade a partir das janelas dos ônibus. Sua história tomou tamanha projeção que Silva ganhou sua própria exposição fotográfica, Fotógrafo, Profissão Cobrador, em cartaz a partir de hoje no Sesc Ipiranga. A mostra reúne 50 imagens, entre tantas registradas durante suas viagens entre na linha Gentil de Moura-Praça da República. A exposição faz parte da programação comemorativa pelos 451 anos de São Paulo.
O itinerário do circular contribui, e muito, para os cliques experimentais do cobrador. Todos os dias, ele tem à disposição símbolos paulistanos, como Praça da Sé, Pátio do Colégio, Viaduto do Chá, Teatro Municipal, Praça da República, Shopping Light, Ponto Chic, entre tantos outros. Pode fazer e refazer uma foto, buscar novos ângulos sempre que quiser. Muita dessa sua paixão pelas coisas de São Paulo vem do grande interesse que ele tem pela história da cidade. ‘Pesquiso muito na internet e em livros.’ Ele já pensou até em publicar um livro que combinasse fotos e textos. ‘Mas como ficaria caro, a solução foi fazer um fotolog (www.fotolog.terra.com.br/toninho). Além disso, mais pessoas podem vê-lo.’
Silva é uma alegria só: nos últimos 8 meses, o site contabilizou 370 mil acessos, recebeu cerca 2 mil mensagens de internautas de outros países, como Portugal, Inglaterra, EUA. Além disso, consta como link em 156 homepages.
FLAGRANTES
Além do aspecto histórico de São Paulo, ele também desenvolveu, sem querer, gosto pelo fotojornalismo. ‘Uma vez, fotografei um acidente na Rua Libero Badaró. Foi um atropelamento, mas fotografei de um jeito que o rosto da vítima apareceu encoberto.’ Pela sua simples câmera, chegou a registrar uma movimentação na frente do Fórum João Mendes, no centro, durante a greve do Judiciário. As cenas do cotidiano também o fascinam, confessa.
Apesar de ser uma prática freqüente, muitos dos passageiros da linha Gentil de Moura-Praça da República passaram tempos sem perceber sua vocação. Descobriram em reportagens em TVs e jornais. É que Silva é discreto: ele acomoda sua pequena digital numa pochete e fica à espera de uma breve parada do ônibus ou do pouco movimento de passageiros para entrar em ação.
E quando lhe perguntam se ele tem uma técnica especial para fotografar, a resposta é sincera. ‘Minha técnica é de apertar o botão’, brinca. Autodidata, adquiriu, por si só, noções de enquadramento e linguagem fotográfica. E também a autocrítica que é peculiar aos fotógrafos. ‘Quero me aperfeiçoar’, planeja. ‘Quem sabe em não passa a viver só com a fotografia.’’
O Estado de S. Paulo
‘Mascaro produz `making of´ da Fashion Week’, copyright O Estado de S. Paulo, 23/1/05
‘O organizador da São Paulo Fashion Week, Paulo Borges, convidou o fotógrafo Cristiano Mascaro para produzir um ensaio fotográfico para ser aproveitado em livro comemorativo dos dez anos do evento. Mascaro fez um ‘making of’ do SPFW e também está retratando alguns dos desfiles, que terminam na terça-feira. São essas fotos que, com exclusividade, o Estado adianta nestas páginas. Mascaro, que já fotografou o evento em duas outras ocasiões, também planeja registrar a edição de junho, com os desfiles das coleções de verão. Aos 60 anos, Mascaro é um dos maiores fotógrafos do país, autor de livros como São Paulo, Patrimônio Construído e Luzes da Cidade.’
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‘O processo fotográfico pelas lentes da Magnum’, copyright O Estado de S. Paulo, 23/1/05
‘Magnum Stories revela como alguns dos maiores fotógrafos do mundo clicam, editam e expõem suas imagens. O livro reúne o trabalho de 61 fotógrafos de uma das mais prestigiadas agências de fotografia do mundo. Não poderiam faltar os fundadores da Magnum e também ícones da fotografia e do fotojornalismo: Robert Capa, George Rodger, David `Chim´ Seymour e Henri Cartier-Bresson. A gerações seguintes da Magnum também estão presentes com nomes como Eve Arnold, René Burri, Raymond Depardon e Martin Parr. Cada um dos fotógrafos está representado por uma seqüência de fotos à sua escolha, editadas segundo suas instruções e acompanhadas de um texto em primeira pessoa, que oferece um raro mergulho no pensar e no fazer do processo fotográfico.’
CINEMATECA
‘Cinemateca inicia a festa de 50 anos’, copyright O Globo, 20/1/05
‘A data precisa do aniversário da cinemateca do Museu de Arte Moderna é dia 4 de julho. O presente de 50 anos já está a caminho: quase R$ 500 mil do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a recuperação de dois depósitos. E as comemorações têm início amanhã, com a abertura de uma mostra de 11 filmes do seu acervo, começando, às 18h30m, por ‘Roma’, de Federico Fellini.
A esta seleção se juntarão, ao longo do ano, outras programações especiais, como uma mostra dedicada à cinematografia japonesa, marcada para fevereiro, outra de filmes latino-americanos, e uma em homenagem ao cineasta Nelson Pereira dos Santos, diretor de ‘Vidas secas’.
Santeiro destaca o polêmico ‘Desejo da carne’ na mostra
— O acervo tem uma grande variedade de cinematografias que gostaríamos de exibir mais uma vez — diz Gilberto Santeiro, curador da cinemateca há cerca de cinco anos e trabalhando na casa desde 1994, quando se iniciou na programação. — Vamos mostrar clássicos e filmes polêmicos, como ‘Desejo da carne’, do diretor argentino Armando Bo. A última vez que ele foi exibido, um espectador levantou da platéia e gritou: ‘Imagina, um filme desse na cinemateca!’
Ainda para as comemorações do seu cinqüentenário, a cinemateca do MAM tem um projeto, ainda em busca de apoio — leia-se verba — para a realização de sessões ao ar livre no Passeio Público e nos Arcos da Lapa, começando com alguns dos filmes sobre arte que abriram oficialmente a cinemateca em 1955 no auditório da Associação Brasileira de Imprensa.
No momento, a casa está à espera da liberação do presente de aniversário — R$ 481 mil — para reformar dois de seus três depósitos de negativos e cópias, com mudanças no piso, no teto, nos revestimentos e nas estantes e trocas das latas por estojos plásticos e instalação de portas corta-fogo.
— Queremos fazer as reformas ainda nas comemorações dos 50 anos — torce Santeiro, que prevê sete meses de obras para melhor abrigar o acervo de sete mil títulos. — Não pensamos em reaver os negativos que já saíram. O nosso objetivo são os novos filmes, os novos depositantes.
Um outro projeto, para a copiagem dos filmes cujas matrizes foram transferidas para a Cinemateca Brasileira em São Paulo, na crise que ocorreu entre 2000 e 2002, ainda está em busca de patrocínio: são necessários quase R$ 800 mil para fazer cópias para o MAM de títulos como ‘Ilha das Flores’, de Jorge Furtado, ‘Câncer’, de Glauber Rocha, e ‘O império do desejo’, de Carlos Reichenbach.
— É um projeto que nos é caro e é caro — brinca Santeiro.
A cinemateca do MAM tem um quê de Fênix, a mitológica ave que renasce das cinzas: a casa, responsável pela formação de cineastas como Cacá Diegues e Paulo Thiago, foi perseguida pela ditadura militar e passou por dois incêndios: em 8 de julho de 1978, cujo prejuízo foi de US$ 10 milhões; e outro, em 1982, que afetou a sala de máquinas de ar-refrigerado, destruindo triplicatas de revistas. A mais recente crise é a da retirada de matrizes, de 2002:
— Foi superada pela nova direção do museu, que passou a entender a importância da cinemateca no MAM — avalia Santeiro.
Seleção tem mais Fellini, Michael Curtiz e Godard
A mostra da cinemateca, que fica em cartaz até o dia 30, terá ainda ‘Nanook, o esquimó’ (Robert Flaherty, 1922), ‘Anjos de cara suja’ (Michael Curtiz, 1938), ‘Vento e areia’ (Victor Sjostrom, 1928), ‘O diabo no corpo’ (Marco Bellocchio, 1986), ‘Roberto Carlos em ritmo de aventura (Roberto Farias, 1968), ‘A festa de São Jorge’ (Iacov Protazanov, 1930), ‘Gêmeas’ (Andrucha Waddington, 2000), ‘Detetive’ (Jean-Luc Godard, 1985) e ‘Os boas vidas’ (Federico Fellini, 1953).’