Friday, 15 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Janaína Figueiredo

‘Diante do escândalo, a imprensa argentina optou pela ironia. Os principais jornais e canais de TV do país deram grande destaque à polêmica provocada pelas declarações do ex-técnico da seleção argentina Carlos Salvador Bilardo sobre a garrafa d’água com tranqüilizantes dada ao ex-lateral Branco durante a Copa da Itália, em 1990. O caso foi motivo de piada nos noticiários de TV, que chegaram a transmitir as imagens da fatídica partida entre Brasil e Argentina ao som de ‘Água doce, água salgada’, um dos sucessos do cantor espanhol Julio Iglesias.

O canal ‘Todo Notícias’, de Buenos Aires, voltou a mostrar a entrevista concedida, em dezembro de 2004, pelo ex-craque Diego Maradona ao programa ‘Mar de Fondo’. Durante a conversa com o jornalista Alejandro Fantino, Maradona conta, com detalhes, a história sobre a já famosa ‘garrafa de Branco’.

— Depois do jogo, Branco encontrou Galíndez (apelido do ex-massagista de seleção argentina) e disse: foi ele, foi ele que colocou a droga na água — lembrou o ex-jogador argentino, quase chorando de tanto rir.

Jornalista diz que Bilardo segurou o riso na entrevista

Maradona confirmou as acusações de Branco, colocando Bilardo numa situação delicada. No entanto, o ex-técnico argentino insiste em dizer que nada sabe sobre o caso. Mas até mesmo os jornais esportivos argentinos admitem que o caso é verídico.

‘Se na entrevista Bilardo disse, não disse ou disse que não era é quase uma questão menor. Alguma coisa houve, isso ninguém pode negar’, afirmou ontem o ‘Olé’. O jornal publicou um artigo do jornalista Ricardo Gotta, autor da entrevista publicada pela ‘Ventitres’, que revela detalhes de seu encontro com o treinador que dirigiu a seleção argentina nas Copas de 1986 e 1990.

‘Bilardo não admitiu sua responsabilidade. Tampouco negou o fato. Fiel a seu estilo, procurou se distanciar. Mesmo que essa distância seja reduzida pela própria impossibilidade do personagem de negar um episódio no qual está envolvido, no mínimo, como líder do grupo. E que foi confirmado por Diego Maradona’, assegurou o jornalista argentino. Segundo ele, durante a entrevista, Bilardo teve que se segurar para não rir. O treinador sabia que o repórter sabia que ele estava escondendo alguma coisa, que não seria revelada’.

Em declarações à imprensa local, Bilardo admitiu que até mesmo sua mulher tem dúvidas sobre seu passado.

— Até ela me perguntou se eu realmente alfinetava meus adversários — brincou o ex-técnico argentino.’



RÁDIO PIRATA
Agência Câmara de Notícias

‘Projeto criminaliza rádios piratas’, copyright Agência Câmara de Notícias, 20/1/05

‘A Câmara vai analisar o Projeto de Lei 4540/04, do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que altera o Código Penal para penalizar com um a três anos de detenção os responsáveis por rádio pirata que interromperem ou perturbarem serviços telegráficos, radiotelegráficos, telefônicos ou de radiodifusão. Pelo texto, a pena será dobrada se o crime for cometido por ocasião de calamidade pública.

Eduardo Cunha considera que o setor de radiodifusão tem sido prejudicado pelo aumento progressivo de rádios clandestinas. ‘A criminalização dessa modalidade possibilitará a esse setor, que gera emprego, investe em tecnologia e exerce a relevante função de informar e integrar a Nação, o desenvolvimento de forma plena e sem ameaças’, conclui o autor.

Tramitação

Sujeito à apreciação pelo Plenário, o projeto foi apensado (tramita em conjunto) ao PL 4549/98, do deputado Carlos Nader (PTB-SP), que pune com a pena de detenção de um a dois anos a instalação ou utilização de telecomunicações, incluindo a implantação de rádio comunitária. A matéria está na Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática, aguardando parecer do relator. Depois, deverá ser votada ainda pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania.’



CHORO EM BERLIM
Carlos Helí de Almeida

‘Choro do Brasil’, copyright Jornal do Brasil, 22/1/05

‘Documentário sobre chorinho dirigido por cineasta finlandês ganha première no Festival de Berlim

Aos ouvidos da comunidade estrangeira, a música brasileira se resume ao samba e à bossa nova. Mas é justamente um forasteiro apaixonado pelo país que se prepara para difundir outro gênero musical genuinamente brasileiro, mas de menor projeção internacional: o chorinho. E é a platéia alemã que terá a honra de ver e ouvir em primeira mão o documentário Brasileirinho, do diretor finlandês radicado no Rio de Janeiro Mika Kaurismaki. O filme, que conta com um elenco musical encabeçado pelo Trio Madeira Brasil, Elza Soares, Guinga, Zezé Gonzaga e Paulo Moura, ganhará première mundial no dia 12, como atração no Fórum Internacional do Novo Cinema, uma das mostras paralelas do Festival de Berlim.

– O filme não fala do choro apenas como gênero, mas também sobre as pessoas que a fazem e a tocam. Embora o choro muitas vezes seja considerado uma música da classe média, tem o dom de unir gente de raças, classes, sexos e idades diferentes. Esse tipo de música me dá a oportunidade de observar a sociedade brasileira e seu povo de perto – explica Kaurismaki, que reside no Rio desde o início dos anos 90.

Os temas e cenários ligados ao país têm inspirado a filmografia do cineasta desde então. Em Amazon (1990), fez uma aventura ambientada na Floresta Amazônica, com propostas ecológicas e humanitárias. Tigrero (1994) é um documentário que acompanha Samuel Fuller em uma viagem ao interior do Mato Grosso, onde o cineasta americano pesquisou locações para um filme nos anos 50. As investigações musicais de Kaurismaki começaram com Moro no Brasil (2002), documentário sobre a música brasileira com performances e depoimentos de artistas como Margareth Menezes, a Velha Guarda da Mangueira, Walter Alfaiate, Seu Jorge, Ivo Meirelles, Caju e Castanha e Antonio Nobrega, entre outros.

– Moro no Brasil era uma visão social. Mostrei o papel da música como uma espécie de ritual de sobrevivência do povo. Em Brasileirinho uso o chorinho para estabelecer comparações entre a forma como a música reflete o que o povo, como entidade social, faz do seu cotidiano, e como este mesmo povo é refletido através da sua expressão e interpretação musical. É interessante observar como elementos diferentes reagem uns com os outros dentro dos seus respectivos habitats – diz o diretor, que levará um grupo de músicos para Berlim.

– Após a projeção oficial, no dia 12 (a primeira das cinco sessões previstas), vai haver uma festa para 120 pessoas, organizada pelo festival, no qual se apresentarão Paulo Moura, Yamandú Costa, Marcelo Gonçalves, do Trio Madeira Brasil, e a cantora Tereza Cristina – informa Bruno Stroppiana, produtor do filme.

Brasileirinho é a peça central do projeto mais amplo, batizado como Sarau, idealizado pelo produtor suíço Marco Forster, e que prevê shows internacionais e distribuição de uma série de CDs nos principais mercados estrangeiros. O empreendimento foi montado a partir de parcerias entre o governo e redes de TV suíças, TVs alemãs (ZDF e Arte) e a fundação Finlandesa de Cinema. No Brasil, ganhou o aporte do BNDES, através da Lei do Audiovisual. Os produtores pretendem exibir o filme no circuito de festivais nacionais. Já o inscreveram no É Tudo Verdade (entre março e abril), em São Paulo e no Rio, e no Cine-PE (abril), em Recife.

O documentário de Kaurismaki parte da observação da redescoberta do chorinho pelas novas gerações, um estilo musical genuinamente brasileiro que já vem ganhando concertos na Europa, nos Estados Unidos e no Japão. O filme combina pesquisa história (a influência européia do século 19 e a popularização pelo rádio), depoimentos e performances de artistas e conjuntos que representam o gênero, culminando com o registro de um concerto no Teatro Municipal de Niterói. O conjunto Trio Madeira Brasil, formado por Marcello Gonçalves (violão de 7 cordas), Zé Paulo Becker (violão) e Rolando do Bandolim, bambas no gênero, funciona como guia por essa viagem pela memória do choro.

O filme é dividido em dois grandes blocos. O primeiro flagra rodas de choro em vários ambientes, exemplificando os diversos estilos e configurações instrumentais que o gênero pode abrigar. O segundo acompanha a realização do show especialmente criado para a produção, gravado em Niterói em maio do ano passado. Aqui, o Trio Madeira Brasil toca ao lado de músicos e convidados especiais, como Elza Soares, Guinga, e Zezé Gonzaga.

– Minha meta é capturar a ‘alma’ do choro, a sensação mágica e elo emocional único, a irmandade musical entre todos os envolvidos, músicos e platéia, característica de qualquer evento de choro de sucesso – resume o diretor.’