Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Janaína Leite


‘O presidente do Banco do Brasil, Rossano Maranhão, disse ontem que ‘houve um certo exagero’ nas reações à entrevista que Fernanda Karina Somaggio, ex-secretária do publicitário Marcos Valério, concedeu à última edição da revista ‘IstoÉ Dinheiro’.


Em evento do banco na Costa do Sauípe (BA), ele disse não temer que o episódio deixe a instituição em maus lençóis. ‘Estamos extremamente tranqüilos. Está muito claro o que aconteceu e isso não nos preocupa em nada.’


Em nota distribuída ontem, o Banco do Brasil disse que investiga as declarações de Somaggio, de que o publicitário teria promovido festas para a ‘alta cúpula e para a área de marketing’ do banco.


O banco também nega que os maços de dinheiro que teriam circulado no suposto esquema de mesada do PT tenham obrigatoriamente saído das agências do Banco do Brasil.


A nota é uma resposta a Roberto Jefferson, que disse que recebera R$ 4 milhões das mãos de Valério e que o dinheiro estaria em malas e com cintas do Banco do Brasil e do Banco Rural.’



Rubens Valente


‘Mulher de diretor da Secom atua com Valério ‘, copyright Folha de S. Paulo, 16/06/05


‘A mulher do diretor de Eventos da Secom (Secretaria de Comunicação de Governo, capitaneada por Luiz Gushiken), Telma dos Reis Menezes Silva, defende em Brasília interesses do publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza em contratos com órgãos públicos e empresas privadas. Ela trabalha na Multi Action, empresa que realiza eventos.


Segundo a denúncia do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), as empresas de Valério são a fonte do dinheiro para o pagamento do ‘mensalão’ a deputados.


A publicitária Telma Silva, mulher de Marco Antônio da Silva, trabalha há cerca de um ano como ‘contato’ da empresa Multi Action Entretenimentos Ltda., pertencente a Valério.


O diretor da Secom disse que, no órgão, não desempenha função de supervisionar contratos de empresas como as de Valério. Afirmou que se encontrou com ele na Secom apenas ‘uma ou duas vezes’, mas em ‘relacionamento institucional’.


Sediada em Belo Horizonte (MG) e com escritório em Brasília, a Multi Action é a empresa do grupo de Valério voltada para a organização de eventos. Teve faturamento estimado em R$ 2 milhões no ano passado.


O papel da empresa consiste em executar eventos contratados pelas outras empresas de Valério que assinam os contratos.


A Multi Action realiza eventos para o Banco do Brasil, por exemplo, sendo remunerada pela conta mantida pela DNA Propaganda, empresa registrada em nome da mulher de Valério, Renilda Maria Santiago Fernandes de Souza.


Marco Antônio ocupa um dos quatro cargos mais importantes na Secom abaixo do ministro Gushiken (são os da secretaria adjunta e diretorias de Eventos, Imprensa e Publicações).


A Secom tem poderes de opinar e mesmo determinar mudanças em editais de concorrência pública na área de comunicação em outros órgãos públicos e estatais.


Segundo o site da Secom, suas atribuições incluem ‘coordenação, normatização, supervisão e controle da publicidade e de patrocínios dos órgãos e das entidades da administração pública federal, direta e indireta, e de sociedades sob controle da União’.


As empresas de Valério mantêm ao menos seis contratos com órgãos públicos do governo. Na entrevista divulgada anteontem pela revista ‘IstoÉ Dinheiro’, a ex-secretária de Marcos Valério, Fernanda Karina Somaggio, disse que a Multi Action atua na área de esportes do Banco do Brasil.


Empresa


A publicitária Telma, procurada na sede da empresa Multi Action, em Brasília, não foi localizada ontem. No escritório da empresa em Brasília, seu nome consta da relação de funcionários da empresa. Um colega de Telma disse que ela costuma trabalhar no contato com órgãos públicos e empresas.


Por sua assessoria em Belo Horizonte, a Multi Action informou, sobre Telma, que ‘não há qualquer irregularidade no fato’. ‘A Multi Action nunca teve e jamais terá qualquer benefício decorrente dessa relação’. Segundo a assessoria, ela é contratada da empresa há ao menos um ano.’



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‘Para subordinado de Gushiken, não há irregularidade ‘, copyright Folha de S. Paulo, 16/06/05


‘O diretor de Eventos da Secom, Marco Antônio da Silva, negou haver irregularidades por conta do fato de sua mulher trabalhar para o braço das empresas de Marcos Valério que cuida de promoção de eventos.


Folha – Do ponto de vista da ética, o sr. vê algum impedimento para que a situação se mantenha?


Marco Antônio da Silva – Não, pelo contrário. Minha mulher é do mercado, sempre trabalhou com atendimento e eu nunca me meti no trabalho dela, da mesma forma que ela não se meteu no meu. Não a indiquei, é uma caminhada própria.


Folha – O sr. conhece Marcos Valério?


Silva – Conheço.


Folha – Essa relação se dá em torno de que contratos?


Silva – Não, não é em relação a contratos. O que ocorre é que, em razão da grande demanda da agenda do ministro [Luiz Gushiken]… Ele é muito solicitado e acaba dividindo os atendimentos. Não só no caso dele, como de outros, o atendimento é feito dessa forma. Normalmente pedindo avaliações conjunturais, sugestões, campanhas.


Folha – A Secom atua nos contratos em andamento no Banco do Brasil, Correios…


Silva – Eu não tenho condições de responder. A gestão do contrato é de cada órgão.


Folha – Mas a Secom não tem que autorizar os trabalhos, isso não passa por ela?


Silva – Sim, passa.


Folha – O sr., como diretor de Eventos, autoriza a realização de eventos?


Silva – Não, de forma alguma. A minha atuação é com eventos da Presidência, só. Me limito a isso. Um cuidado que eu sempre tomei, e ela também, e a empresa também, é que a Multi Action não prestou nenhum serviço para as três agências que atendem a Presidência.


Folha – Para quem ela trabalha?


Silva – Não sei. Deve trabalhar para vários eventos.


Folha – Sua mulher nunca lhe disse para quem trabalha?


Silva – Eu evito. Minha mulher não é da política, não é militante, não é filiada.


Folha – Como ela conheceu Marcos Valério?


Silva – Não sei.


Folha – O ministro sabe dessa situação?


Silva – Acho que não. É uma questão de foro pessoal. Eu relativizei de forma primária, por ela já ser do mercado. Ela é uma pessoa ingênua em relação a essas coisas. Problemas políticos daqui eu não comento em casa.’



Eduardo Kattah


‘Na PF, ex-secretária nega tudo o que disse contra Marcos Valério ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 16/06/05


‘Apesar da contundência das declarações contidas na entrevista que concedeu à revista IstoÉ Dinheiro, Fernanda Karina Ramos Somaggio, ex-secretária do sócio das agências de publicidade SMP&B e DNA, Marcos Valério, negou ontem, em depoimento à Polícia Federal, a maior parte das acusações que aparecem na revista. De acordo com o delegado Ricardo Amaro, chefe da comunicação da PF em Belo Horizonte, Karina não confirmou a informação de que teria visto saírem ‘malas de dinheiro’ da sala do ex-patrão, além de qualquer tipo de negociata dele com integrantes do PT e do governo.


‘Ela nega qualquer tipo de envolvimento, ter visto qualquer tipo de mala, qualquer tipo de transação envolvendo dinheiro saindo da empresa onde ela foi secretária durante algum tempo’, afirmou Amaro.


A ex-secretária, que passou três horas na sede da Superintendência da PF, decidiu prestar espontaneamente o depoimento. Ela falou e foi questionada a portas fechadas pelo delegado da PF, Hélbio Dias Leite.


Na noite de anteontem, Leite recebeu do advogado de Karina, Leonardo Macedo Poli, a agenda, na qual ela afirmou, na entrevista à revista, que estariam anotados os encontros e compromissos de Marcos Valério – apontado por Roberto Jefferson como principal operador de um suposto esquema montado pelo tesoureiro do PT, Delúbio Soares, para pagar o mensalão.


Segundo os delegados, pelo depoimento e análise da agenda não há elementos, ‘em princípio’, para a abertura de um procedimento investigativo. Leite disse que a agenda e a cópia do depoimento serão enviados para a direção da PF, em Brasília, e ficarão à disposição da CPI que investigará as denúncias.


Segundo Amaro, Karina confirmou encontros descritos na agenda, ‘envolvendo o nome de alguns políticos’. ‘Porém, ela desconhece o conteúdo (dos encontros), principalmente relacionados a remessas de dinheiro por parte empresa onde ela foi secretária’.


O delegado disse ainda que não há valores descritos nem extratos bancários na agenda entregue. ‘Essa agenda não tem nada. É uma agenda de secretária de empresa’. Aos delegados, a ex-secretária disse que as entrevistas – classificadas por ela como ‘conversas’ – concedidas à revista foram distorcidas. ‘No conceito dela, houve uma distorção’, comentou Amaro.


A despeito da repercussão de suas declarações, Karina demonstrou tranqüilidade durante o depoimento. Segundo Amaro, ela negou que tivesse sido ameaçada de morte. Na entrevista, tinha relatado uma ligação telefônica, na qual foi orientada a ‘abrir o olho’. Karina está sendo processada pelo sócio da DNA e SMP&B por tentativa de extorsão.


NO STF


O ministro Sepúlveda Pertence será é o relator da interpelação judicial apresentada, no Supremo Tribunal Federal (STF), pelo publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza contra o presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ). Marcos Valério pede que Jefferson responda se são verdadeiras as informações dadas à Folha de S. Paulo no último 12 de junho.’



O Globo


‘A vez da CPI’, copyright O Globo, 14/06/05


‘Só uma CPI instalada para investigar livre e profundamente todas as denúncias formuladas nas últimas semanas é, não há dúvida, o único caminho capaz de separar o que, nas entrevistas oferecidas pelo deputado Roberto Jefferson, é fato do que é manipulação. Há bem mais do que indícios, fortíssimas evidências da montagem de um grande esquema de assalto aos cofres públicos. Mas não é crível que dele participassem apenas o PL e o PP, tendo o PTB – conhecida legenda de aluguel desde que o ex-governador Leonel Brizola foi impedido de reassumir o seu comando, ainda no regime militar – adotado os princípios éticos que Roberto Jefferson procura deixar transparecer em suas entrevistas. É de se esperar que esse questionamento lhe seja feito por perguntadores mais interessados.


Só a CPI pode permitir, por meio de seus instrumentos próprios de inquérito – a quebra de sigilos fiscais, telefônicos e bancários, por exemplo – que o país passe a uma nova etapa de conhecimento dos fatos, que não fique restrita apenas à palavra de um dos envolvidos no esquema – embora queira fazer crer que estava tentando denunciá-lo.


O presidente nacional do PTB não esconde ser movido, nas denúncias que faz, pelo desejo de vingar-se do que considera um ataque de autoridades do governo contra ele. Sintomaticamente, Jefferson resolveu falar depois do vazamento de um vídeo em que um alto funcionário dos Correios, Maurício Marinho, cobra propina e embolsa um maço de dinheiro vivo, enquanto se apresenta como representante do dirigente petebista. Também não pode cair no esquecimento que o deputado fluminense, na primeira entrevista, confessou candidamente que pedira ao presidente do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), da sua cota de protegidos no governo, que coletasse dinheiro para o partido. Até uma mensalidade foi estipulada por Jefferson: R$400 mil, segundo gravação divulgada pela revista ‘Veja’.


A afirmação do presidente do PTB de que não tem provas do que diz é preocupante. Pode ser uma tática ardilosa do advogado criminalista, ou não. Mas não se deve desmerecer o testemunho de quem há vários governos adestrou-se no trânsito em gabinetes do poder, participando de todo tipo de negociação. Jefferson carrega na biografia ter sido testemunha e participante dos bastidores do governo Collor, em cuja tropa de choque atuou no Congresso. Ali deve ter-se especializado em conseguir acesso privilegiado ao dinheiro do contribuinte.


Quebras de sigilo, diligências, novos depoimentos e acareações podem desvendar a amplitude desse esquema e suas ramificações na Esplanada dos Ministérios e no Palácio do Planalto. A extensão do poder de Jefferson e de seu partido dentro da máquina pública – fato revelado pelo GLOBO e que motivou toda a ira do deputado contra o jornal – precisa ser conhecida. Não pode deixar de ser considerado, por óbvio, o verdadeiro latifúndio concedido ao PTB no segundo escalão do governo, em troca do apoio do partido. Apadrinhados de Roberto Jefferson passaram a ter acesso a orçamentos bilionários.


Não adianta agora o deputado destilar, em entrevistas cujo momento ele próprio escolhe para dar, pequenas intrigas contra este jornal. O GLOBO há muito tempo optou por não privilegiar o ‘jornalismo-fiteiro’ – tomando emprestada a feliz expressão criada pelo jornalista Alberto Dines – preferindo a este o valor do trabalho de reportagem. Mais cansativo, sem dúvida; mas bem mais efetivo.


A edição do GLOBO no último domingo é prova disso: com reportagens e não com fitas o jornal apresentou um quadro tenebroso das relações entre o governo, seus aliados políticos, seu partido e agências de publicidade. A resposta à tentativa de intriga do deputado, acolhida sem reservas pela ‘Folha de S. Paulo’, já estava dada, antes da circulação da entrevista, pela força da própria edição dominical do GLOBO. É este caminho de isenção em relação a governos e partidos políticos, mas com o necessário espírito crítico, que deve pautar o jornalismo de qualidade. É esta a linha que O GLOBO adota no seu noticiário e que o levou à condição de jornal de maior circulação do país aos domingos. Crises exigem maturidade.


A palavra de Roberto Jefferson é apenas um começo de investigação. Por ser o PTB elemento da quadrilha partidária que tomou conta do Congresso Nacional, as suas relações com o governo são excelente ponto de partida. Mas aguarda-se agora uma palavra maior, a da CPI, que tem de estar inteiramente livre de pressões outras que não sejam as da opinião pública, interessada em uma apuração rigorosa de todos os fatos.’



O Estado de S. Paulo


‘Revista diz que declarações foram dadas duas vezes ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 16/06/05


‘ENTREVISTAS: A revista IstoÉ Dinheiro informou que foi procurada pela ex-secretária de Marcos Valério de Souza em agosto de 2004 e, portanto, ela tinha consciência e deu a entrevista, feita por telefone, espontaneamente. Na ocasião, também foram feitas as fotos, mas a reportagem não foi publicada por falta de provas. Após as acusações de Roberto Jefferson, a revista voltou a entrevistá-la. Ela reafirmou as acusações e acrescentou detalhes envolvendo o ex-patrão e dirigentes petistas. A revista informou que pôr as fitas à disposição das autoridades. A seguir os principais trechos da entrevista que está disponível no site da IstoÉ Dinheiro: ‘Já vi boy sair com motorista para tirar R$ 1 milhão do Banco Rural para dividir o dinheiro. Tem o Banco Rural que faz essa parte e o Banco do Brasil que faz a parte mais lícita da história.’ ‘Para ele (Marcos Valério), o dinheiro pode tudo. Ele é assim, não quer saber, não existe regra para ele.’ ‘Ah, muitos (quando indagada sobre quantos encontros agendou entre Marcos Valério e Delúbio Soares). Tem tudo na agenda. Alguns foram feitos de última hora. Por exemplo, ‘liga na sede do PT em Brasília e avisa fulano pra falar pro Delúbio encontrar em tal lugar’. Tudo na surdina.’ Além de Delúbio e Silvio Pereira, ela diz que Marcos Valério se encontrava com José Mentor, relator da CPI do Banestado. ‘Acredito que seja por causa do Banco Rural, né (diz, quando perguntada por que os dois se encontravam).’ E afirma que o motivo seria para blindar o banco nas investigações da CPI. ‘É tudo negociata. Eu sei que eles passam dinheiro pro pessoal do Banco do Brasil, passam dinheiro pro pessoal do governo. O Marcos manda e tem um pessoal de financeiro que só faz isso.’ ‘Na verdade todo mundo sabe que tem mutreta nesse negócio de a empresa ter um bom dinheiro do Banco do Brasil.’


ENTREVISTAS: A revista IstoÉ Dinheiro informou que foi procurada pela ex-secretária de Marcos Valério de Souza em agosto de 2004, e que portanto ela tinha consciência e deu a entrevista, feita por telefone, espontaneamente. Na ocasião, também foram feitas as fotos, mas a matéria não foi publicada por falta de provas. Após as acusações de Roberto Jefferson, a revista voltou a entrevistá-la. Ela reafirmou as acusações e acrescentou detalhes envolvendo o ex-patrão e dirigentes petistas. A revista credita as negativas de Fernanda à Polícia Federal a uma estratégia dos advogados e ao fato de estar sob forte pressão. A revista disse que vai disponibilizar as fitas às autoridades.’