Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Janaína Leite

‘O governo está a um passo de comprar uma grande luta com as grandes empresas de radiodifusão. O motivo é o apoio declarado à convergência das mídias e a preferência velada pelo padrão digital europeu para a TV digital.

O Futurecom, maior evento de telecomunicações da América Latina, ocorrido na semana passada em Florianópolis, deu o tom da disputa. Técnicos do governo ouvidos pela Folha durante a feira defenderam que o debate seja dividido para evitar as pressões das radiodifusoras. A idéia é separar as discussões sobre o conteúdo das conversas acerca da transmissão e da distribuição.

A estratégia permitiria enfraquecer a posição das rádios e TVs na escolha do padrão das TVs digitais. Existem três modelos na mesa de negociação: DVB (Digital Vídeo Broadcasting), europeu; ISDB (Integrated System Digital Broadcasting), japonês, e ATSC (Advanced Television System Comitee), norte-americano.

O imbróglio é grande porque o primeiro detém a simpatia das teles. O japonês é considerado o melhor para as televisões, que não precisariam trocar a rede e ganhariam passe certo para as transmissões móveis. Por fim, grupos de rádio já fizeram investimentos no sistema digital americano.

A escolha de um padrão vai desembocar nas regras para convergência de mídias, história de interesses comerciais gigantes. As empresas de radiodifusão temem que as regras sejam apressadas pelas teles porque o governo estaria fazendo gestões nos bastidores com operadoras internacionais.

Atualmente, grupos estrangeiros só podem deter 30% do capital das radiodifusoras. A tendência é que esse percentual seja aumentado. De acordo com o raciocínio de representantes das rádios e TVs, as operadoras internacionais estão interessadas em impedir que as rádios e TVs brasileiras -hoje endividadas e dependentes dos anunciantes- aumentem seu valor de venda futura. Ou seja, querem comprar empresas com grande potencial e credibilidade a preços baixíssimos.

As teles vêem o problema sob outro prisma. Para elas, rádios e TVs brasileiras querem garantir uma reserva de mercado e equilibrar o caixa arrebentado valendo-se da valorização de produtos já existentes. E sem investir nada.

Dentro do governo, a crença é que, pelo menos nos próximos dez anos, a TV aberta continuará sendo o único veículo de comunicação de massas que chegará às classes D e E -portanto, o único verdadeiramente popular. Por isso, querem o padrão que permita aparelhos mais baratos. Os técnicos governistas apostam que o europeu serviria mais ao propósito.

Estudos sobre o assunto, porém, serão finalizados apenas em dezembro. Além do custo, outras variáveis estão sendo levadas em conta por especialistas da tecnológica Fitec e do CpQD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações) ouvidos pela Folha, como mobilidade e definição. Um dos aspectos considerados mais relevantes é a capacidade de suportar produtos interativos (que, no futuro, deverão ser desenvolvidos pelas televisões brasileiras).

A compensação pela escolha de um padrão que não é desejado pelas radiodifusoras seria a manutenção da obrigatoriedade de um percentual alto de conteúdo brasileiro na distribuição via celular. O argumento é que os programas nacionais têm grande qualidade e é importante mantê-los nas mãos de brasileiros.

Para as teles não reclamarem, a transmissão pelas operadoras de telefonia acabaria sem restrições -o que não é consenso no governo. A distribuição para os consumidores finais aparecerá como o terceiro ponto da polêmica, o que arrasta para a discussão fabricantes de aparelhos, além de rádios, TVs e concessionárias.

Futuro das teles

Enquanto o clima da discussão em torno da convergência esquenta, os jogadores vão tomando posição.

O presidente da Telefônica, Fernando Xavier, afirmou no Futurecom que, para que o setor de telecomunicações consolide as conquistas feitas desde 1998, é possível supor necessários investimentos acima de R$ 100 bilhões nos próximos anos.

De acordo com Xavier, para viabilizar esses investimentos, será preciso reunir condições políticas e econômicas. Mas, sobretudo, perseguir duas metas: atualizar a legislação e criar marcos regulatórios transparentes e previsíveis.

À Folha, Xavier mostrou-se satisfeito com o novo discurso do ministro das Comunicações, Hélio Costa, que defendeu a regulamentação da convergência. ‘O que ele disse foi extremamente pertinente para este momento e está alinhado com aprimoramentos que o modelo regulatório precisa’, afirmou.

Uma legislação moderna, disse o presidente da Telefônica, poderá estimular ‘a prestação de serviços integrados na área de telecomunicações pelas operadoras existentes, à semelhança da realidade observada no cenário internacional’.

Para Xavier, os investimentos servirão ao estímulo da ampliação e modernização das redes e dos serviços em um ambiente competitivo, forte e saudável, com neutralidade tecnológica. Isso resultaria, disse, em rentabilidade dos negócios.

O presidente da Telefônica reconheceu que novas tecnologias, como as ligações pela internet, podem significar uma ameaça às operadoras no curto prazo. A saída, diz, são os investimentos para a propagação e o desenvolvimento da banda larga ADSL e dos serviços a ela associados.

Fixo e celular

Sete anos depois da privatização da Telebrás, o cenário das telecomunicações brasileiras mudou muito.

Houve uma explosão na venda de telefones celulares, desburocratização na oferta de linhas, e a internet, antes restrita às universidades e centros de pesquisa, tornou-se parte do dia-a-dia da classe média.

Com isso, as operadoras de telefonia resultantes da cisão da estatal ampliaram o número de produtos oferecidos aos clientes.

A despeito de tantas alterações de cenário, as ligações telefônicas continuam como a principal base de receitas das operadoras. Na América Latina, região que teve maior crescimento do mercado de voz em telefonia fixa, a tendência de esse tipo de ligação ser substituída é algo que deve ficar claro apenas no futuro.

No resto do mundo, porém, a situação é outra. Segundo a International Data Center, o mercado de telefonia fixa movimentou US$ 444 bilhões em 2003. Caiu para US$ 437 bilhões em 2004 e deve encolher para US$ 431 bilhões. Daqui a três anos, a estimativa é que o valor não passe de US$ 411 bilhões.’



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‘Ministro afirma que ‘apanha’ do setor’, copyright Folha de S. Paulo, 30/10/05

‘Na guerra entre telefônicas e empresas de radiodifusão, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, tem sido alvo de críticas nos bastidores como um aliado de TVs e rádios. Na última segunda, porém, surpreendeu positivamente o empresariado das teles. Afirmou que o governo está empenhado em regulamentar a convergência de mídias em 2006 -o que é do interesse das teles.

‘Ainda bem. Minhas costas estavam doendo de tanto apanhar’, disse à Folha, ao comentar a mudança de humor dos executivos.

A seguir, leia trechos da entrevista.

Folha – O paulistano poderá assistir aos jogos da Copa de 2006 em TV digital ou isso é apenas uma promessa para obter simpatia política?

Hélio Costa – Estamos trabalhando contra o tempo para que possamos, no ano que vem, fazer o teste da TV digital. Já há canal disponível e condições técnicas. Não adianta provar para nós mesmos que estamos em condições de transmitir digitalmente, temos de fazer experiência pública. Foi decidido que haverá em São Paulo.

Folha – O teste ficará restrito a São Paulo?

Costa – Teremos alguns pontos em Brasília e no Rio, mas onde haverá uma transmissão pública é em São Paulo.

Folha – O que falta para colocar o teste na rua?

Costa – Estamos apenas aguardando o relatório do grupo liderado pelo CPqD [Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações]. Ele deverá ser apresentado em 10 de dezembro. O CPqD terá espaço de algumas semanas para apresentar sua opinião. Em cima das decisões, o governo decidirá sobre o sistema de modulação principalmente, que é o que vai definir os outros instrumentos. A pirâmide da TV digital é composta de aparelhos eletrônicos e ferramentas de informática. O CPqD, durante dois anos, organizou estudos em busca de soluções no Brasil para alguns problemas que vimos nos modelos japonês, europeu e americano.

Folha – Quais são os problemas?

Costa – O principal é a dificuldade de recepção. Isso pode passar pelo aumento da potência. Se não houver um sistema robusto de transmissão, não adianta, porque não dá para pegar [o sinal].

Folha – E a rádio digital? Como está andando?

Costa – Assinaremos, possivelmente na próxima semana, um convênio do Ministério das Comunicações, por meio da Funtel, com o Instituto Inatel de Santa Rita do Sapucaí. Prevê, já para o ano que vem, a conversão do rádio para a rádio digital. Na verdade, isso é feito por um aparelho que funciona como um excitador de rádio digital. Ele custa hoje US$ 30 mil. Minha proposta é que uma empresa brasileira desenvolva esse produto para nós. O preço vai cair, quem sabe, até para R$ 10 mil. É isso que o país precisa: pesquisa para desenvolver produtos.

Folha – A condução desse processo relativo a rádio digital está gerando críticas sobre a falta de licitações. São justas?

Costa – Não estamos implantando sistemas, nem vendendo ou comprando produtos. Estamos financiando uma pesquisa que trará resultado prático: dotará empresas brasileiras de capacidade tecnológica para fazer um produto que, agora, só existe fora. Ou fazemos isso ou teremos comprar para sempre dos americanos e dos europeus. Isso vai ao encontro da política industrial.

Folha – Fala-se muito em inclusão digital como prioridade do governo, mas há medidas efetivas que garantam isso na prática?

Costa – Faremos uma licitação no final do ano para chamar as empresas que vão suprir a proposta do Ministério das Comunicações de se tornar o ‘ministério da conectividade’. Chegaremos a um local -pode ser escola, posto de saúde, hospital- e diremos: ‘Onde vamos ligar a internet para você?’. Se tiver telefone digital, será por telefone. Se tiver TV a cabo, usaremos o cabo. Nas cidades onde não há telefone, colocaremos via satélite. Nós, do governo, garantiremos a conectividade.

Folha – E a inclusão digital das pequenas empresas?

Costa – Do ponto de vista empresarial, se a empresa não tem R$ 34, custo da banda larga mais comum no interior do Brasil, fica a questão. De 40 mil habitantes para cima, diria que pelo menos nas regiões leste, sul e principais cidades do Norte e do Nordeste há o serviço. Lá o governo entra e pode até resolver.

Folha – O governo estuda mudar a Lei Geral de Telecomunicações?

Costa – Garanto que não haverá modificação. Conversei isso com o presidente da República e com o ministro da Fazenda. Ambos também pensam que mudanças não são razoáveis.

Folha – Mas alguns pontos da Lei Geral não podem ser mudados por meio da Lei Geral de Comunicação de Massas?

Costa – A Lei Geral de Comunicação de Massas é outra coisa. Será discutida a partir de janeiro com o Congresso Nacional. A primeira vez que chegou ao Legislativo veio carregada de problemas, notadamente os impostos. A idéia do governo é criar uma ampla frente de discussão, inclusive com todos os parlamentares afeitos à área de comunicação, para garantir uma tramitação rápida, respeitando o debate sobre o modelo, as audiências públicas.

Folha – Uma de suas principais bandeiras tem sido o telefone social, mas a proposta é bastante criticada pelas teles. O governo vai mesmo levá-la adiante?

Costa – Está em fase final um procedimento realizado pelo governo para equacionar a proposta da Anatel e a do Ministério das Comunicações. Segundo as operadoras, do jeito que o texto foi escrito pela Anatel, o telefone social implicaria R$ 7 bilhões de prejuízos num prazo de cinco anos. Pedi que fosse feita uma análise porque, se houver desequilíbrio, quem paga a conta é o governo.

Folha – O projeto continua de pé?

Costa – Sim, continua. E vai ser um sucesso.

Folha – O governo já escolheu um nome para ficar à frente da Anatel?

Costa – Não. Tenho um encontro marcado com a ministra Dilma [Rousseff, Casa Civil] para definir isso. Mas tenho certeza de que não precisaremos mostrar ao presidente uma lista tríplice. Vamos chegar a um nome de consenso.’



PÁGINAS DA VIDA
Daniel Castro

‘Portador de Aids se apaixona por freira’, copyright Folha de S. Paulo, 30/10/05

‘O autor da Globo Manoel Carlos vai comprar uma boa briga com a Igreja Católica em sua próxima novela, ‘Páginas da Vida’, que substituirá ‘Belíssima’, em 2006.

A história mais polêmica da trama será o envolvimento amoroso de um portador de Aids e uma freira que trabalha como enfermeira em um hospital. A freira, que usará o hábito, será vivida por Letícia Sabatella. No cinema, Pedro Almodóvar fez algo parecido em ‘Tudo sobre Minha Mãe’.

O portador de Aids será um homem de 30 anos que contraiu a doença em relação heterossexual. A novela explorará todo o seu drama. No final, ele aparecerá terminal, internado em um hospital, apaixonado pela freira. A sinopse de ‘Páginas da Vida’ não deixa claro se ele será correspondido pela personagem de Sabatella.

Com o portador do vírus HIV, Manoel Carlos quer alertar os jovens sobre os riscos de relações sem preservativo e mostrar que a doença hoje afeta principalmente heterossexuais. Em 1988, o autor perdeu um filho, vítima de Aids.

A freira de Letícia Sabatella trabalhará no mesmo hospital de Ana Paula Arósio, que será uma médica. A heroína, Helena, será interpretada por Regina Duarte.

Manoel Carlos já teve problemas com a igreja em 2000 com ‘Laços de Família’. A Cúria do Rio não permitiu a gravação de um casamento em uma capela, porque a noiva, Camila (Carolina Dieckmann), estava grávida.

OUTRO CANAL

Desfalque 1 A Globo não poderá contar com o cineasta Fernando Meirelles na comitiva que levará a Nova York, em novembro, para a premiação do Emmy Internacional (o Oscar da TV mundial, menos EUA), em que concorre em três categorias (duas com ‘Hoje É Dia de Maria’ e uma com ‘Cidade dos Homens’, projeto de Meirelles).

Desfalque 2 Meirelles não poderá ir porque tem compromissos assumidos anteriormente para divulgar o longa ‘O Jardineiro Fiel’. Para a Globo, será uma grande perda. O cineasta chamaria a atenção de toda a imprensa _e daria maior visibilidade à emissora.

Menos O anunciado beijo gay de Bruno Gagliasso e Erom Cordeiro, no final de ‘América’, não está causando nenhuma polêmica. Segundo a Globo, o beijo responde por apenas 1% do total de ligações de telespectadores comentando a novela. E mais da metade dos telespectadores se manifesta a favor.

Repeteco Se depender do diretor Guel Arraes, o quadro ‘Retrato Falado’ será mantido em 2006 no ‘Fantástico’, que deverá ter novidades em suas atrações de teledramaturgia.

Aventura Luciano Huck viaja nesta semana para a África. Vai gravar com gorilas em floresta de Ruanda, onde colherá material inédito na TV brasileira. Depois, vai mergulhar entre tubarões-brancos na costa da África do Sul _o que ele já fez na Austrália.’



BANG BANG
Daniel Castro

‘Globo corta faroeste e aposta em romance’, copyright Folha de S. Paulo, 29/10/05

‘Era uma vez uma novela inovadora que se passava no Oeste. A partir da semana que vem, ‘Bang Bang’, da Globo, será menos faroeste e mais folhetim, centrada no romance shakespeareano do mocinho Ben Silver (Bruno Garcia) com a mocinha Diana Bullock (Fernanda Lima).

A mudança é uma reação da Globo à falta de empatia de parte do público com a trama idealizada pelo escritor Mário Prata, que abandonou a novela já em sua segunda semana de exibição, para cuidar de uma tendinite.

Os problemas de ‘Bang Bang’ (falta de romance, ritmo lento, elenco mal escalado, cenário cinzento, nonsense) ganharam um componente extra nesta semana: a novela da Record ‘Prova de Amor’, que vem dando 11 pontos e tirou um pouco de seu ibope, que não conseguiu passar dos 29.

‘A gente está seguindo a estrutura desenhada pelo Mário Prata, mantendo o humor, o molho. Mas estou dando uma roupagem mais folhetinesca. A coisa agora fica mais definida, a história será toda focada nos protagonistas’, revela Márcia Prates, que assumiu o texto de ‘Bang Bang’.

A novela também ganhará mais ritmo. ‘As cenas ficarão mais curtas e mais ágeis. Haverá um clima de novela das sete mesmo’, diz.

Ex-colaboradora de Aguinaldo Silva e Gilberto Braga, Márcia deverá responder por ‘Bang Bang’ até o final. Mário Prata avisou à cúpula da Globo que não volta.

OUTRO CANAL

Usina O canal pago Eurochannel, que já foi brasileiro (da TVA) e hoje pertence a um grupo francês, contratou a produtora Grifa Mixer para gravar no Brasil um documentário de quatro episódios, com recursos vinculados à Ancine (Agência Nacional do Cinema). ‘Europa Brasileira’ mostrará como vivem em São Paulo comunidades originárias de Espanha, Itália, Portugal e Alemanha.

Crua A direção da Record anda tendo muita paciência com a modelo Ana Hickmann, apresentadora do ‘Hoje Em Dia’. Dia desses, no ar, ela perguntou como se fazia para ‘incorporar’ uma musse.

Dia de Tião ‘Hoje É Dia de Maria’ já está sendo ‘plagiada’. Há algo da microssérie nas oníricas cenas de ‘experiência de quase morte’ de Tião (Murilo Benício) em ‘América’ _que anteontem voltou a dar 61 pontos de média, alavancando ‘A Grande Família’ (44).

Mídia Anunciado no início do ano, o DVD de ‘O Tempo e o Vento’, minissérie exibida pela Globo em 1985, chega às lojas em novembro. A obra, baseada em clássico de Érico Veríssimo e dirigida por Paulo José, foi reduzida a sete horas e meia de duração.

Reverso O SBT desistiu de encurtar a novela ‘Os Ricos Também Choram’, que acabaria em dezembro para dar lugar a uma ‘nova grade’ em janeiro. A novela vai agora até março, porque o SBT descobriu que janeiro não é um bom mês para lançar programação.’