‘Uma imprensa forte, investigativa e consciente de seu papel na sociedade derruba até ministro. Foi o que se viu na França nestes últimos dias.
A demissão do ministro da Economia, Hervé Gaymard, 44 anos, na sexta-feira, foi a sequência lógica de uma série de denúncias trazidas a público por diferentes jornais. Aliás, durante dez dias, não se falou de outra coisa por aqui.
O escândalo começou no último dia 16, quando o semanário satírico, Le Canard Enchaîné, revelou que o ministro havia alugado um apartamento duplex de 600 m2, num bairro chique de Paris, para onde se mudou com a mulher e os oito filhos. Pequeno detalhe: o aluguel de 14 mil euros por mês seriam pagos pelo Estado!
O ministro acorre à imprensa e explica que não se ocupou pessoalmente da procura do apartamento e que não sabia o valor do aluguel quando visitou o imóvel.
À revista Paris Match, Gaymard teria dito que ‘se não fosse de origem modesta, filho de um sapateiro, mas, sim, um grande burguês, teria seu próprio apartamento e não estaria sujeito aos problemas de moradia’.
O Canard Enchaîné volta à carga e anuncia que os Gaymard são proprietários de um apartamento de 200 m2 no charmosíssimo bairro de Saint Germain, que se encontra alugado por 2300 euros mensais.
O caldo engrossou ainda mais com as revelações de que o ministro teria gasto cerca de 150 mil euros na reforma do apartamento antes de se mudar e que os serviços domésticos eram assegurados por cinco funcionários do ministério, todos pagos pelo erário público, claro.
Nos dias que se seguiram, a imprensa não parou mais de repercutir o escândalo. Depois do Canard Enchâiné e de Paris Match, foi o Le Monde e o Le Parisien. O cheque-mate foi dado pelo Libération. O cotidiano informou que além do apartamento parisiense, Hervé Gaymard possuía outros dois apartamentos e duas casas no interior da França. As denúncias foram confirmadas pelo próprio gabinete do ministro que também não teve como negar que os Gaymard são sujeitos ao imposto sobre grandes fortunas (ISF), aplicável aos patrimônios avaliados a partir de 720 mil euros.
No mesmo dia, Hervé Gaymard apresenta sua demissão, menos de três meses após ter assumido o cargo anunciando que uma de suas principais missões seria diminuir o déficit público.
Há quem diga que a imprensa foi muito longe neste caso, que praticou um verdadeiro linchamento. Pode ser, mas de que outra forma todo este abuso teria vindo à tona? Quem teria suspeitado que um ministro com cara de seminarista, um fervoroso católico praticante e defensor aguerrido de uma política de corte de gastos seria capaz de mamar nas tetas da República e de mentir de maneira tão indecente?!
Uma imprensa combativa como essa não só derruba ministro, como ainda provoca mudanças. Imediatamente após as primeiras denúncias sobre o aluguel do apartamento, o primeiro-ministro, Jean-Pierre Raffarin, baixou novas normas sobre as dimensões dos apartamentos de função: 80 m2 para o casal e 20 m2 suplementares por filho. Tem gente que será obrigada a pagar a diferença.
De quebra, o trabalho da imprensa nesta história toda trouxe à tona outros elementos de reflexão. Ficou claro que há uma crise de confiança e que os responsáveis públicos franceses ainda não entenderam que os tempos mudaram.
A imprensa européia de um modo geral também foi bastante severa com Hervé Gaymard colocando em evidência um sistema considerado tipicamente francês: o de aceitar subvencionar o alto padrão de vida de seus homens públicos. Veio tiro até do outro lado do Atlântico. O jornal New York Times considerou que ‘houve pouca sensibilidade pública com relação à maneira como os franceses ressentiram a extravagância e a hipocrisia de um ministro que deveria ser o campeão da redução de déficits’.
Enfim, os franceses tinham o direito de saber. E esses homens que nos governam, a anos luz da realidade, também… há sempre um jornalista com boas fontes de plantão.
(*) Jornalista’
IRAQUE OCUPADO
‘Em vídeo, jornalista francesa implora ajuda após dois meses’, copyright Folha de S. Paulo, 2/03/05
‘Um vídeo com menos de um minuto de duração divulgado ontem quebrou o silêncio de quase dois meses. A jornalista francesa Florence Aubenas, 43, seqüestrada dia 5 de janeiro no Iraque junto com seu guia iraquiano, Hussein Hanoun, aparece viva, ainda que muito abatida.
A fita contendo a mensagem de Aubenas -a primeira desde seu desaparecimento- ainda não teve autenticidade confirmada. Tampouco é possível dizer quando as imagens foram gravadas.
Sentada no chão, com os joelhos junto ao peito e cabelos no rosto, muito mais magra e bastante abatida, a jornalista fez seu dramático apelo: ‘Meu nome é Florence Aubenas. Sou francesa. Sou jornalista do [diário francês] ‘Libération’. Por favor, me ajudem. Minha saúde está muito ruim. Meu estado psicológico também é muito ruim. Por favor, agora é urgente. Ajudem-me. Peço especialmente ao senhor Didier Julia, deputado francês. Por favor, senhor Julia, me ajude, é urgente.’ A fita termina com um zoom em seu rosto.
O texto, falado em inglês, parece ter sido ditado e não faz referência a Hussein Hanoun. Não se fala em reivindicações ou autores da ação.
Em 2004, o deputado Didier Julia, do partido UMP, o mesmo do presidente Jacques Chirac, realizou uma missão solitária para tentar libertar dois jornalistas -Christian Chesnot e Georges Malbrunot-, soltos em dezembro após quatro meses no cativeiro. Jornalistas e políticos o acusam de ter colocado em risco a vida dos dois. Aconselhado a não interferir desta vez, ele apenas se colocou à disposição.
O governo informou que, na quinta-feira passada, recebera uma outra fita da jornalista. Esse vídeo, no qual ela dizia nome, data de nascimento e pedia ajuda, foi mostrado apenas a familiares. ‘É um sinal de que eles estão vivos, claro, mas também temos medo porque os reféns são mantidos em tais condições que as imagens são horríveis de ver’, disse o editor de notícias internacionais do jornal, François Sergent
Além de Aubenas, outra jornalista é refém no país: a italiana Giuliana Sgrena, do jornal de esquerda ‘Il Manifesto’, foi levada no mês passado em Bagdá. O engenheiro brasileiro João José de Vasconcellos Jr. está desaparecido desde o dia 19 de janeiro.
Ontem, um grupo ligado à Al Qaeda assumiu o atentado suicida com carro-bomba que ocorreu anteontem em Hilla, deixando mais de 125 mortos. Segundo mensagem divulgada na internet, o ataque mais mortífero desde a queda de Saddam Hussein, em abril de 2003, foi feito pela Organização Al Qaeda pela Guerra Santa no Iraque, grupo do terrorista jordaniano Abu Musab al Zarqawi. Anteontem, um funcionário do governo dos EUA disse que Osama bin Laden, o líder da Al Qaeda, pedira a Al Zarqawi que atacasse alvos situados nos EUA.
O premiê Iyad Allawi determinou hoje dia de luto nacional e prometeu dar US$ 1.000 às famílias das vítimas, que ainda tentam identificar os corpos de parentes.
Em Bagdá, um major da Guarda Nacional Iraquiana foi morto na explosão de uma bomba. Dois corpos foram achados boiando no rio Tigre, na Província de Wasit, e dois marines morreram em um acidente de carro em Beiji.
A Ucrânia decidiu retirar seus 1.650 soldados do Iraque a partir de 15 de março, até outubro. Ao tomar posse em janeiro, o presidente Viktor Yushchenko anunciara a intenção deixar o Iraque.
Assassinato
Citando fontes do Ministério do Interior iraquiano, o ‘New York Times’ afirmou que um juiz do tribunal especial que julgará Saddam Hussein, Parwiz Muhammad Mahmoud al Merani, foi assassinado por homens armados diante de sua casa, em Bagdá. Seu filho, Ayran Mahmoud al Merani, que trabalhou no tribunal como advogado, também foi morto.
Com agências internacionais’
CASO MARTHA STEWART
‘Martha Stewart vai a prisão domiciliar’, copyright Folha de S. Paulo, 5/03/05
‘A apresentadora de televisão e empresária americana Martha Stewart, 63, saiu da penitenciária federal de Virgínia Ocidental ontem pela manhã. Ela cumpriu pena de cinco meses por mentir sobre uma venda de ações feita com informação privilegiada.
Stewart saiu da prisão de carro e foi até o aeroporto local, onde acenou para os cerca de 25 fãs que a aguardavam. Ela voltou em seu jato particular para sua casa em Bedford, no Estado de Nova York, onde cumprirá cinco meses de prisão domiciliar.
A apresentadora terá que usar um dispositivo eletrônico de localização no tornozelo e poderá sair de casa por 48 horas por semana para ir a seu escritório.
Em seu site, Martha Stewart declarou que ‘a experiência dos últimos cinco meses em Alderson mudou e reafirmou minha vida. Com certeza nunca esquecerei os amigos que fiz lá e o que eles fizeram para me ajudar’.
O julgamento e a condenação de Stewart, em 2004, tiveram ampla cobertura da mídia americana devido à popularidade da apresentadora. Stewart apresenta programas sobre culinária e decoração e tem um salário anual de US$ 900 mil (R$ 2,4 milhões). Sua empresa Martha Stewart Living Omnimedia, da qual detém 60% das ações, tem valor de mercado de US$ 1,54 bilhão.
Vida após a prisão
Ao sair da prisão, Stewart parece pronta para igualar ou superar sua carreira pré-presidiária. A guru da decoração assinou contratos para estrelar dois programas de TV – um é derivado de ‘The Apprentice’ [O Aprendiz], pelo qual vai ganhar US$ 100 mil por episódio.
Ela recuperou a confiança de Wall Street, como mostra o aumento no preço das ações de sua companhia, Martha Stewart Living Omnimedia. As ações subiram de cerca de US$ 16 em outubro para mais de US$ 25.
Esse resultado parecia quase inimaginável durante seu julgamento no ano passado. Especialistas em marketing e investidores em geral tinham previsto o fim de uma companhia de mídia e produtos de consumo cuja marca estava intimamente ligada à figura pública de Stewart.
Seth Siegel, da consultoria de marcas Beanstalk Group, diz que a marca de Stewart não foi prejudicada. A condenação de Stewart por mentir sobre a venda de ações, na opinião dele, não prejudicou sua posição como mulher singularmente dedicada a levar soluções domésticas às massas. Por outro lado, se ela tivesse sido apanhada mentindo sobre corantes tóxicos em sua linha de toalhas e lençóis, teria sido um desastre.
Seja qual for o caso, a equipe da Martha Stewart Living Omnimedia parece ter conseguido o delicado equilíbrio de distanciar a companhia de sua fundadora e ao mesmo tempo melhorar a reputação de Stewart.
Por exemplo, foi dito recentemente na principal revista de Stewart que ela procurava cebolas silvestres entre as rachaduras do pátio da prisão para temperar as refeições. Stewart também deu aulas de ioga, leu a autobiografia de Bob Dylan e fez um presépio de cerâmica para sua mãe e gambás de crochê para seus cachorros na penitenciária.
Apesar da alegria da companhia de Stewart, porém, a estrada não será fácil. Na semana passada a Martha Stewart Living Omnimedia divulgou prejuízos de US$ 60 milhões em 2004. Pode ser especialmente difícil recuperar as vendas de publicidade das revistas, que caíram dois terços desde 2002.
Principalmente, muitos analistas acreditam que a sorte a longo prazo da Martha Stewart Living Omnimedia vai depender de sua capacidade de lançar marcas de sucesso que não tenham nada a ver com sua fundadora. Com o ‘Financial Times’’
TURQUIA / CENSURA
‘Governo turco é acusado de censurar mídia’, copyright O Estado de S. Paulo, 5/03/05
‘O primeiro-ministro muçulmano da Turquia, Recep Erdogan, foi acusado pela oposição laica de violar a liberdade de imprensa. O último caso de censura ocorreu com o jornal laico Cumhuriyet, que saiu ontem com a manchete: ‘Interromperam nossa publicação’. O diário vinha divulgando uma série de entrevistas sobre Fethullah Gulen, líder de uma das principais correntes do islamismo turco que hoje vive nos EUA. Uma corte turca, influenciada pelo governo, considerou as publicações ofensivas ao islamismo.’
NYT
SUBSTITUI SAFIREO Estado de S. Paulo / The New York Times
‘Repórter contestador é novo colunista do ‘NY Times’’, copyright O Estado de S. Paulo / The Washington Post, 3/03/05
‘Quando John Tierney escreveu uma reportagem de capa para a New York Times Magazine intitulada Reciclagem é Lixo, as reações foram violentas, a ponto de um crítico lhe enviar uma caixa cheia de lixo.
O repórter de 51 anos terá uma oportunidade primorosa para manter as coisas agitadas após ser nomeado, na terça-feira, para a página de editorial do The New York Times, sucedendo William Safire como colunista. Alguém que se descreve como libertário, Tierney fez uma análise sobre a privatização do Central Park e atacou a empresa ferroviária com o título A Amtrak tem de morrer.
‘Não gosto de enfurecer as pessoas só pelo prazer de enfurecê-las, mas quero desafiar a aceitação que elas fazem dos fatos’, diz. Quanto às suas opiniões políticas: ‘Meu sentimento mais profundo é que a maioria das pessoas fora do círculo de Washington consegue resolver seus problemas sem a nossa orientação’.
O New York Times vem preparando Tierney há anos. Veterano do antigo Washington Star, ele começou escrevendo a coluna Big City em 1994 até voltar ao Washington Post em 2002. No ano passado, foi entregue a Tierney a coluna de síntese da campanha do jornal chamada Political Points.
A editora da página editorial, Gail Collins, diz que gosta de sua atitude ‘contestadora’. ‘Ele pensa fora do convencional, tem uma visão peculiar do mundo. Será muito divertido.’’