Thursday, 14 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

João Batista Natali

‘O editor de política internacional do jornal francês ‘Le Figaro’, Pierre Rousselin, afirma que o seqüestro dos dois jornalistas franceses surpreendeu a mídia de seu país, que acreditava que a França, ao se opor à Guerra do Iraque, tivesse garantias quanto à segurança de seus enviados especiais.

Apesar de o jornalista Georges Malbrunot estar em poder dos seqüestradores, o ‘Figaro’ não desativou seu posto em Bagdá. Um outro jornalista o substitui desde a quinta-feira passada.

Leia a entrevista.

Folha – Em razão do seqüestro de Georges Malbrunot, o ‘Figaro’ pensa em se retirar do Iraque?

Pierre Rousselin – Não há ainda nenhuma decisão tomada. O assunto será examinado cuidadosamente. Depois do seqüestro de Malbrunot um outro repórter nosso foi enviado a Bagdá. Ele está por lá desde quinta-feira, com instruções de seguir certos procedimentos que não ponham em risco sua segurança.

Folha – A França se opôs à Guerra do Iraque. Os dois seqüestros não teriam demonstrado que isso de nada adiantou?

Rousselin – Nós nos conscientizamos de que os jornalistas franceses não estão protegidos de ameaças. Acreditamos durante certo tempo que a política da França era um fator de proteção que beneficiava nossos enviados especiais. Mas percebemos agora não ser esse o caso.

Folha – Há relatos de que os seqüestradores não estavam corretamente informados sobre a ‘Lei do Véu’, contra a qual dizem ter feito o seqüestro. Acreditam que a França proíbe que o véu seja usado por toda e qualquer muçulmana.

Rousselin – Uma das informações que precisamos nos esforçar para transmitir ao mundo árabe consiste em dizer a verdade. A saber: a lei sobre a qual se polemiza não tem o conteúdo draconiano que os boatos atribuem a ela. A lei em questão se aplica única e exclusivamente às escolas públicas e durante um determinado horário. A França continua a ser um país em que as pessoas têm a liberdade de praticar a religião que queiram. Elas podem se vestir da maneira que desejam.

Folha – O governo francês reagiu corretamente enviando o ministro das Relações Exteriores ao Cairo, para eventualmente até negociar com os seqüestradores?

Rousselin – É algo que saberemos apenas no momento em que Christian Chesnot e Georges Malbrunot forem libertados.’



O Estado de S. Paulo

‘Libertação dos jornalistas pode demorar dias’, copyright O Estado de S. Paulo, 5/09/04

‘O governo francês manifestou ontem confiança numa solução favorável para o caso dos dois jornalistas franceses seqüestrados há 15 dias por um grupo islâmico ligado à Al-Qaeda, mas sem o otimismo revelado no dia anterior. ‘Dispomos de dados positivos, mas há ainda obstáculos a serem suplantados’, disse o primeiro-ministro Jean-Pierre Raffarin. Ele acrescentou que Christian Chesnot, de 37 anos, e Georges Malbrunot, 41, estão bem.

A mulher de Malbrunot, Sylvie Cherpin, expressou preocupação. Disse que a libertação deles não é iminente, como se tem dito. ‘Não é uma questão de horas, pode demorar dias’, disse ela, citando informações recebidas do Ministério das Relações Exteriores francês. ‘Georges e Christian estão vivos e bem, mas não fora de perigo.’

Na quinta-feira, o governo, a imprensa e líderes da comunidade muçulmana francesa davam a entender que os jornalistas já não estavam em poder de seus captores. Tinham sido entregues em Faluja (sul do Iraque) a um grupo islâmico moderado e favorável à libertação deles. Mas o Exército Islâmico do Iraque, autor do seqüestro, desmentiu essa informação. Num site árabe da internet, informou que seu ‘conselho de justiça’ ainda vai deliberar sobre o futuro dos reféns. Os detalhes são poucos e contraditórios. Fontes diplomáticas consideram o quadro complexo.

O Exército Islâmico ameaçava executar os reféns se o governo francês não revogasse a revogação da chamada lei do véu. Mas, aparentemente, acabou cedendo às pressões do mundo árabe e islâmico. Sabe-se, contudo, que nem todos os grupos muçulmanos iraquianos são favoráveis à libertação, o que tornaria o transporte deles pelos 60 quilômetros entre Faluja e o aeroporto de Bagdá potencialmente perigoso. ‘Nesse tipo de cenário ocorrem muitas coisas que acabam distorcendo os planos iniciais’, disse Alain Menarques, diretor da Rádio França, para a qual trabalha Chesnot. Malbrunot é correspondente do Le Figaro. (AP, France Presse, EFE, DPA e Reuters)’



Folha de S. Paulo

‘França apela a árabes por jornalistas reféns’, copyright Folha de S. Paulo, 2/09/04

‘A França fez ontem um apelo aos líderes árabes e muçulmanos do mundo para que intercedessem em favor dos dois jornalistas franceses seqüestrados no Iraque.

Os terroristas exigem que a França anule a lei que veta o uso do véu por muçulmanas nas escolas públicas do país. A norma passa a vigorar hoje, primeiro dia de aula na França após as férias.

Segundo a TV árabe Al Jazira, o prazo dado pelos seqüestradores acaba hoje -a data já foi prorrogada várias vezes.

O secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, e o ditador líbio, Muammar Gaddafi, pediram que os seqüestradores libertassem os jornalistas. A França não tem soldados no Iraque e sempre se opôs à guerra no país.

Protestos no Nepal

Uma violenta manifestação contra muçulmanos, ontem, em Katmandu (capital do Nepal), provocou a morte de pelo menos duas pessoas e o incêndio de uma mesquita. O protesto era contra o assassinato de 12 nepaleses no Iraque, cometido pelo grupo terrorista Exército Ansar al Sunna.

Na mesquita atacada, foram queimados carpetes, a mobília e um exemplar do Alcorão. Gritos de ‘abaixo o islã’ eram entoados.

Autoridades decretaram toque de recolher por tempo indeterminado. Um grupo que não respeitou a ordem foi alvejado no centro de Katmandu. Uma pessoa morreu.

Outro homem foi morto e três ficaram feridos quando a polícia disparou para dispersar uma multidão que tentava atacar a Embaixada do Egito, antes de o toque de recolher ser imposto.

A calma foi restaurada após a entrada em vigor do toque do recolher, ao redor das 14h locais. As ruas ficaram vazias. Antes disso, os escritórios de companhias aéreas de países árabes também foram apedrejados pela população.

O rei Gyanendra pediu que as pessoas das diferentes religiões não se envolvessem em atos violentos. O país já vive uma revolta maoísta.

Os 12 nepaleses mortos trabalhavam como cozinheiros e faxineiros de uma empresa jordaniana. Um deles foi degolado, e os demais levaram tiros na nuca.

Pagamento de resgate

Em outro episódio, sete caminhoneiros que estavam seqüestrados foram soltos após a companhia para a qual eles trabalham ter pago US$ 500 mil aos seqüestradores. Os caminhoneiros são um egípcio, três indianos e três quenianos, que trabalhavam para uma empresa kuaitiana.

Inicialmente falou-se que essa empresa havia concordado em sair do país, conforme exigiam os seqüestradores iraquianos. Porém, após negociações, os seqüestradores concordaram em libertar os estrangeiros mediante o pagamento do resgate.

O diretor-executivo da companhia, Said Dashti, disse que o grupo era criminoso e não tinha nenhuma ideologia política. O seqüestro de estrangeiros se tornou uma das principais armas dos insurgentes no Iraque.

Assembléia é aberta

A Assembléia Nacional Iraquiana, primeiro órgão legislativo do país após a queda do ex-ditador Saddam Hussein, se reuniu ontem pela primeira vez e foi alvo de um morteiro lançado por militantes iraquianos. A Assembléia terá de organizar as eleições nacionais previstas para janeiro de 2005, além de fiscalizar o governo.

Mais tarde, os EUA lançaram um ataque aéreo em Fallujah. Nove pessoas morreram na ação -três delas eram crianças.’