Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

João Domingos


‘A morte da Velhinha de Taubaté levou tristeza aos políticos que ainda têm esperança de que o Brasil viva dias melhores. ‘Agora, nem ela. Era a última a acreditar’, lamentou o senador Cristovam Buarque (PT-DF). ‘Prefiro a velhinha chocada e chorosa a um governo morto. É preciso ter alguém que acredite nas coisas, o último sopro da esperança. Por isso, ela é imortal’, afirmou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio Neto (AM).


A morte da Velhinha de Taubaté, aos 90 anos, foi anunciada ontem pelo escritor Luis Fernando Verissimo. Ela havia se tornado uma celebridade nacional por ser a última que ainda acreditava no governo.


Na crônica publicada ontem Verissimo lembrou que o fenômeno tornou-se conhecido no governo do general João Baptista Figueiredo (1979/1985). Sua crença ingênua levou multidões a Taubaté e transformou a Velhinha numa das maiores atrações turísticas da cidade.


‘Como ensinou São Francisco de Assis, a melhor maneira de homenagear os mortos que a gente admira é fazer o que eles fizeram. Então, a lição da Velhinha é a esperança de acreditar no que as pessoas dizem e prometem’, disse o deputado Chico Alencar (PT-RJ), um dos 21 parlamentares petistas que se declararam independentes do governo.


CINZAS NO CONGRESSO


‘Ela era de Taubaté, a terra de Monteiro Lobato e sua magia; em homenagem a ela devemos continuar a ter um lado infantil e ingênuo. Mas como há suspeita de que ela tenha se suicidado, que nossa pureza de alma não seja tão inocente assim’, insistiu. ‘Ela era uma teimosa, mas durante 90 anos, botou fé. Sugiro que seja cremada, quem sabe a gente levando um pouquinho das cinzas dela ao Congresso não começa a converter alguns à franqueza’, disse ainda Chico Alencar.


‘Para mim, ela não resistiu a tanta decepção. Acreditou no PT por mais de 25 anos e torceu pelo presidente Lula’, disse o senador Heráclito Fortes (PFL-PI). Heráclito tem a sua velhinha conselheira. É dona Maria do Carmo, que acompanha todas as notícias do Senado pelo rádio e pela TV. Quando vê alguma coisa com a qual não concorda, liga para o gabinete de Heráclito e diz para fulano ou sicrano parar de falar besteira.’



JORNAL NACIONAL


Ali Kamel


‘TV Globo’, in Painel do Leitor, copyright Folha de S. Paulo, 26/08/05


‘‘Como inexistem técnicas de hipnose coletiva atingindo milhões de indivíduos durante 36 anos, deduzi, legitimamente, que Wanderley Guilherme dos Santos se referia à enorme audiência do ‘Jornal Nacional’ quando afirmou, em entrevista à Folha, que o ‘JN’ tinha ‘a emoção da opinião pública brasileira sob controle’. A carta de ontem de Wanderley, esclarecendo-se, foi reveladora. Se não era a audiência a razão da crítica, a declaração do cientista político era apenas uma tolice que não merecia ser comentada. Como já disse, respeito o grande público e sei que ele é incontrolável: só aceita qualidade. Ainda bem. Há nove anos, Wanderley tem participado de programas ancorados por colunistas da Globonews, a quem acusou ontem de mentirosos. A primeira vez, em 1996, ano da inauguração da emissora, e a última, em março passado, sempre agradecendo pela acolhida. Diante dessa afirmação, os leitores da Folha saberão quem é o mentiroso. Acrescento que encerro aqui minha participação nesse debate. Recuso-me a prosseguir num diálogo com quem foge da discussão recorrendo a xingamentos.’ Ali Kamel, diretor-executivo de jornalismo da Central Globo de Jornalismo (Rio de Janeiro, RJ)’



FSP SEM PALOMINO


Erika Palomino


‘Oi, tchau! Colunista se despede com flashback’, copyright Folha de S. Paulo, 26/08/05


‘Como se diz na noite, quando você encontra alguém na hora de sair da festa, oi, tchau. Explico: volto hoje, depois de um mês de férias, para me despedir deste espaço. Depois de 13 anos de coluna semanal, sempre às sextas-feiras, depois de 17 anos de casa, deixo os quadros desta empresa. O clichê de quem sai cabe aqui: vou me dedicar a projetos pessoais, como meu site e minhas consultorias, entre outras atividades como empresária. Parece chique, mas é muito trabalho, e o tempo estava sempre escorrendo entre minhas mãos. Por isso, preferi continuar nestas páginas como colaboradora eventual -sempre que convidada for.


Saio feliz, olhando para trás com alegria. Nesta casa entrei aos 20 anos de idade e já mãe de dois meninos, o mais novo com apenas quatro meses. Ele se tornou uma imagem bastante palpável do meu tempo aqui na Folha: hoje Lucas é um homem de 1,87 m e faz vestibular ano que vem. Leitor, difícil evitar o viés excessivamente emotivo e pessoal da coluna de hoje. Como é a última, espero ser desculpada.


Fiz tudo o que quis aqui. Mesmo. Entrei (sob concurso) como redatora da Ilustrada. Neste caderno, que idolatro, fui também repórter e editora-assistente; editora-adjunta em alguns períodos. Fui editora-assistente do Folhateen, projeto que ajudei a implementar. Fui editora-assistente do ‘RedeFolha’ (o programete de TV do jornal); editora de cadernos especiais de moda e editora da revista trimestral Moda, projetos que orgulhosamente lancei, e desde o ano passado atuava também como editora de moda da Revista da Folha. Ganhei dois prêmios Folha de edição e mais três como jornalista de moda.


Trabalhei com muita gente talentosa e criativa. Alguns deles, brilhantes. Aprendi tudo o que sei aqui, onde sempre transitei com total liberdade -mesmo quando vinha de minissaia, plataforma e os cabelos mais malucos- e escrevia coisas literalmente ininteligíveis pela maioria dos mortais.


Como se acostumaram meus leitores e colegas, minha vida profissional e pessoal há tempos andam juntas. Talvez porque eu trabalhe muito. Ou porque possa ter sido ‘a Madonna da Redação’, como já ouvi aqui, de brincadeira, claro.


Nunca fiz colunismo social. Faço jornalismo de comportamento. Sou maluca por novidades, onde quer que elas estejam. Fui buscá-las na noite, na moda, na música, depois nas artes, na tecnologia. O que tentei fazer aqui era tirar uma polaroid do mundo ao meu redor, tentando causar uma surpresa por dia.


Ao longo do tempo, conquistei o prêmio maior: a silenciosa cumplicidade que conseguem os colunistas. O leitor reclama um dia, concorda com a gente em outro, mas segue lendo. Tenho companheiros de anos, pessoas as mais inusitadas que se lembram de momentos ou colunas específicas, que guardam recortes, imprimem textos. Gente que me aborda do nada e fala: acompanho seu trabalho. É para eles esta coluna.


Tomando uma sopa gelada…


Vingança é um prato que se serve frio. É assim o ditado? Pois é tomando sopa gelada que me sinto diante de alguns personagens que apareceram aqui em minhas páginas. Quantas e quantas vezes ouvi que ‘eu só falo de meus amigos’? Pois em tantos anos, era para eu ter 1 milhão deles, como o Rei. Nesta despedida, como prato principal, tomo a liberdade então de fazer isso: vejo fotos de amigos, de pessoas importantes para mim, momentos pessoais e profissionais. Tive razão.


Johnny Luxo, por exemplo, passou de freak do cursinho a celebridade nacional. Alexandre Herchcovitch, que eu descobri costurando roupa para a drag-queen Marcia Pantera e sempre fui criticada por ‘promover’, tornou-se (mérito dele) o mais importante estilista brasileiro dos novos tempos, com recorde de produtos licenciados. Será que toda essa gente é amiga dele também?


Escrevendo sobre moda desde 89, tive o enorme prazer de cobrir, aqui, todas as temporadas de desfiles da recente história brasileira, desde o primeiríssimo Phytoervas Fashion. E a oportunidade de assistir a momentos fundamentais também para a moda internacional, que cubro desde 93, como o desfile hippie da Gucci; a coleção das noivas de Yohji Yamamoto; o carrossel do terror de Alexander McQueen; as mergulhadoras da Balenciaga de Nicolas Ghesquière. E a despedida de Tom Ford, a estréia de Stella, a de Phoebe Philo, a de Stefano Pilatti. A da Marni. Muitos de Marc Jacobs, que amo. Muitos de Helmut Lang, que adoro. E os históricos da Prada, claro.


Sem falar nas supermodels inacreditáveis que vi desfilar e que entrevistei ao vivo: Linda, Cindy, Claudia, Kate, Naomi… E Gisele, claro, inesquecível para mim num desfile da Versace, uma das mais incríveis imagens femininas que já vi. Nas páginas de ‘Atitude’ (quem lembra?), trazíamos a moda que mudava no planeta, com novos fotógrafos, modelos e estilos, quando a rua virou o jogo e ficou mais importante que as passarelas. Saber moda é ter tempo de janela: olhar o que se passa e refletir. Só agora começo a entender. Por sorte ainda é cedo.’