Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Jornais buscam novo
modelo de negócios


Leia abaixo os textos de quinta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Quinta-feira, 31 de agosto de 2006


CONGRESSO DE JORNAIS
Patrícia Cançado, Marili Ribeiro


Jornais buscam um novo modelo


‘Os jornais estão em busca de um novo modelo de negócios. Em todo o mundo, as empresas vivem uma fase de experiências, testando formatos, linguagens e fórmulas comerciais. O forte crescimento dos periódicos gratuitos na Europa e a mudança no tamanho de jornais em todo o mundo são exemplos das transformações em curso na mídia. Essas mudanças foram o tema central dos debates de ontem no 6º Congresso Brasileiro de Jornais, realizado pela Associação Nacional de Jornais (ANJ) em São Paulo.


Na busca pela sobrevivência na nova era da informação, há uma forte tendência, em especial na Europa, de mudança de formato. Segundo Timothy Balding, presidente da Associação Mundial de Jornais (WAN, na sigla em inglês), 28 publicações alteraram seu tamanho no último ano. Quase todas deixaram o formato tradicional, usado nas grandes publicações brasileiras, e adotaram o modelo tablóide. Foram 85 mudanças desde 2001. ‘Mas os dados disponíveis não permitem avaliar o reflexo dessas mudanças no aumento de circulação’, disse Balding. Entre os exemplos citados estão o Le Figaro, da França, o The Guardian, da Inglaterra, e o Wall Street Journal (nas versões européia e asiática).


Outro grande fenômeno são os jornais gratuitos. No mundo todo, já são 168 títulos segundo a WAN. Na Espanha, por exemplo, as versões gratuitas somam mais da metade dos jornais publicados no país. Balding vê o movimento com otimismo. ‘Na Dinamarca, por exemplo, há sete jornais gratuitos, sendo dois deles distribuídos na casa dos leitores. São diários de qualidade, feitos por profissionais sérios. Pode-se imaginar o impacto disso. Essa guerra se intensificou e é possível ganhar dinheiro com isso’, disse.


Para o vice-presidente da Man Roland, empresa alemã de equipamentos gráficos, Peter Küisle, os jornais gratuitos são produtos que não canibalizam o mercado pago. ‘Esse é um meio de conquistar novos leitores. As pesquisas mostram que a maioria deles não tem o hábito de ler’, disse Küisle. ‘Só acho que esses jornais devem ser simples, dar um produto de qualidade é um erro.’ Como se trata de um fenômeno novo, ainda há mais perguntas do que respostas.


INTERNET


Os jornais também estão testando novas maneiras de se adaptar às mudanças tecnológicas. O brasileiro Eduardo Tessler, consultor da Innovation, empresa espanhola especializada em inovação para jornais, mostrou exemplos bem sucedidos de mudanças de linguagem e integração entre internet e papel.


O consultor citou o caso do El Correo, de Bilbao, que convidou uma jovem para tocar o projeto de interatividade do jornal, chamado Enlace. São duas páginas fixas diárias produzidas pelos próprios leitores. ‘É um jeito inteligente de reinventar o jornal tradicional’, disse. ‘As grandes empresas não podem deixar que outros façam isso e matem seus jornais. Elas mesmas têm de pensar em produtos interativos.’


O Jornal 20 Minutos, de Madri, é atualmente o jornal mais lido da Espanha. Tem 5,5 milhões de leitores, muitos deles das classes A e B. O jornal é feito para ser lido em vinte minutos, como sugere o nome. É um jornal de notícias rápidas, com versões atualizadas a cada vinte minutos na internet. Na Ucrânia, foi criado um diário mais audacioso, chamado 15 Minutos. ‘Os americanos já dizem que os jornais são lidos em dez minutos’, diz Tessler. A Argentina foi além. Criou um jornal online chamado 7 Minutos, atualizado de hora em hora.


O tempo de leitura é um dado crucial para os jornais. No Brasil, de acordo com dados da ANJ, o tempo de leitura está diminuindo. Nos últimos cinco anos, a audiência foi reduzida em 18 minutos. Em 2001, o brasileiro gastava 64 minutos na leitura do jornal. Agora, são 46.’


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Mudança na lei de dano moral


‘Jornais querem detalhar melhor o direito de resposta


A proposta de alteração na lei de danos morais, que está em discussão no Congresso Nacional, monopolizou as atenções dos empresários durante a reunião do Comitê de Relações Governamentais e Jurídico, no 6º Congresso Brasileiro de Jornais. Embora não haja estatísticas sobre o volume de ações por danos morais sofridas por jornais nos últimos anos, o advogado e diretor da ANJ, Paulo Tonet Camargo, alega que são crescentes.


‘Hoje em dia, antes mesmo de se acertar o direito de resposta, já se aciona juridicamente o jornal’, diz. ‘Queremos evitar isso através de uma lei que detalhe melhor os mecanismos de direito de resposta para evitar todo o desgaste da ação jurídica.


O relator da proposta na comissão de Justiça do Congresso, deputado Ney Lopes (PFL-RN), compareceu ao evento e ouviu as reivindicações dos empresários. ‘O deputado demonstrou sensibilidade em entender a necessidade de se criar mecanismos que incrementem a retratação, assim como o direito de resposta’, avalia Camargo.


O maior problemas das ações por dano moral, além dos custos em si, é o tempo gasto com os processos. ‘Do ponto de vista moral, acredito também que seja melhor para quem se sente ofendido ter o direto à retratação logo depois do fato ocorrido, em vez de discutir na Justiça esse direito e então requerer uma indenização’, diz.


O debate sobre a mudança na lei de danos morais acontece há anos. Segundo Camargo. desde a promulgação da Constituição de 1988. A lei atualmente em vigor não é específica para a imprensa, mas trata do problema de forma geral. Daí o empenho dos empresários em especificar bem a lei para evitar problemas muitos característicos do funcionamento do setor.


Se uma agência de notícias, por exemplo, despacha uma matéria que tenha seu teor moral questionado por alguém, todos os veículos que publicaram essa noticia podem ser acionados juridicamente e ainda serão punidos de forma diferente. ‘Não há critério para isso’, diz Camargo. ‘Uma ação dessa ordem pode inclusive provocar diferentes condenações, com valores distintos.’’


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A receita do ‘The Guardian’


‘Periódico inglês faz reformulação e ganha leitores


Daqui a duas semanas, o jornal inglês The Guardian comemora um ano de mudança no seu projeto gráfico. Em setembro do ano passado, o jornal passou a usar cores em todas as páginas e abandonou o tamanho convencional, usado pela maioria dos grandes títulos no Brasil, para adotar o formato berliner, do francês Le Monde. A mudança, vital para a sobrevivência do diário inglês, é hoje considerada um caso de sucesso na imprensa mundial. A reforma foi tema de uma das palestras de ontem do congresso da ANJ.


Um mês antes da mudança, o The Guardian vendia 341.698 exemplares, o menor desempenho desde 1978. Hoje a circulação do jornal está em 400 mil. ‘Não é um aumento absurdo. Mas nós não acreditamos que a circulação vá crescer muito na Inglaterra. O grande desafio agora é cuidar para que a circulação não caia’, disse ao Estado Mark Porter, diretor criativo do jornal inglês. A reforma gráfica consumiu # 80 milhões, dinheiro gasto basicamente na compra de novas máquinas.


O projeto de reformulação durou dois anos. Nos seis primeiros meses, a direção do jornal estava convencida de que a melhor opção era o formato tablóide, caminho seguido pelos concorrentes The Times e The Independent. O jornal, no entanto, abortou o projeto antes que ele saísse do papel. O The Guardian temia perder a credibilidade e a austeridade com essa mudança. ‘Queríamos fazer algo moderno, mas não queríamos entrar nessa briga de quem grita mais alto’, diz Porter. ‘O tablóide iria nos levar a isso. Queríamos ser diferentes dos outros.’


Por isso, acabaram optando pelo berliner, um meio termo entre o formato standard e o tablóide. ‘As pessoas estão cansadas do formato convencional, especialmente nas grandes cidades’, diz Porter. ‘É um formato difícil de ler no trem, no metrô. É um formato fora de moda também.’


Porter e sua equipe passaram os outros dezoito meses reformando as dezesseis seções diárias do Guardian. O jornal ganhou colunas mais largas, uma tipografia mais contemporânea e mais espaço para boas histórias e imagens impressionantes. O periódico também começou a abrir fotos inteiras em duas páginas, como fazem as revistas.


APOSTA


A grande aposta do jornal foi no design. Há dez anos, o jornal não tinha nenhum profissional desse na sua equipe – eram os próprios jornalistas que desenhavam as páginas. Hoje, segundo Porter, são 15, todos vindos de revistas. A primeira página foi a última parte do processo. A grande novidade apareceu no título – the guardian agora vem assim, com letras minúsculas. Segundo Porter, a tipografia anterior soava autoritária demais, o que já não combina com o mundo de hoje. ‘A recepção foi hostil no começo. Depois de três meses, a opinião mudou. O jornal não perdeu credibilidade ao ficar mais moderno e leve’, diz. P.C.’


ELEIÇÕES 2006
Editorial


Lula e a mídia


‘Sem dúvida beneficiado por ter feito um discurso lido, sem acréscimos improvisados, o pronunciamento do presidente Lula na abertura do 6º Congresso Brasileiro de Jornais, terça-feira, em São Paulo, teve uma precisão conceitual irretocável, ao estabelecer o valor da liberdade de expressão e a conexão profunda entre a livre imprensa e a democracia. Mas, como quase sempre acontece, as palavras do presidente não corresponderam – infelizmente – à realidade dos fatos, no que diz respeito a seu próprio governo.


Disse o presidente: ‘O Estado democrático só existe, se consolida e se fortalece com uma imprensa livre (…) A liberdade de expressão foi uma das maiores conquistas históricas da sociedade humana. E é um dos bens mais preciosos da vida social (…) Nossa legislação impede qualquer forma de censura. O Estado tem se pautado por não causar qualquer tipo de interferência nos meios de comunicação social.’ E o presidente disse mais, que ‘o único juiz da atuação da imprensa é a própria população’, que ‘ela, sim, consegue ver se os problemas do seu cotidiano estão ou não representados nas notícias e nos debates que são veiculados pelos meios de comunicação, e sabe reconhecer quando o jornalismo é, de fato, a grande praça pública onde sua voz pode ser ouvida’.


Sob o ponto de vista institucional, até pelo fato de a sociedade brasileira já ter sofrido severas censuras de ditaduras, nossa legislação é muito mais anticensória do que a de muitas democracias que nunca passaram por períodos de cerceamento à liberdade de expressão. Mas, suspensa a censura do regime militar, foi somente no governo Lula que se tentou, por duas vezes (e mais uma terceira, como veremos), criar-se limitações à plena liberdade de expressão, sob diferentes roupagens ou disfarces. A primeira tentativa foi a de criação do famigerado Conselho Federal de Jornalismo (CFJ), projeto enviado pelo governo Lula à Câmara dos Deputados, destinado a ‘orientar, disciplinar e fiscalizar’ o exercício da profissão e a atividade de jornalismo, inclusive com poderes de punir jornalistas. O governo recuou nesse propósito, graças ao firme repúdio da opinião pública, que repercutiu no Congresso.


A segunda tentativa foi a da criação da também famigerada Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual (Ancinav) – entidade com poderes discricionários sobre a regulamentação e controle do cinema, televisão, TV por assinatura, rádio e demais empresas de modalidade audiovisual, em qualquer formato. O espírito autoritário – para não dizer totalitário – de tal projeto foi prontamente detectado e, mais uma vez, foi rechaçada a imposição de cerceamento à liberdade de expressão no País. Agora, no assim intitulado ‘Programa de Governo’, divulgado na campanha reeleitoral, se afirma que num novo mandato presidencial Lula ‘incentivará a criação de sistema democrático de comunicação, favorecendo a democratização da produção, da circulação e do acesso aos conteúdos pela população’.


O problema é que, ao achar, corretamente, que ‘o único juiz da atuação da imprensa é a própria população’, um presidente eleito por essa população dá a impressão de que se sente no direito de decidir ele próprio ‘se os problemas do seu cotidiano estão ou não representados nas notícias e nos debates que são veiculados pelos meios de comunicação’.


Ante esse sinal de perigo, não dá para deixar de relacionar a idéia de setores do PT, de construir uma cadeia de jornais regionais que apóie as ‘idéias populares’ do governo, e o plano de apoio publicitário (da Casa Civil e da Secretaria de Comunicação Institucional, há dois anos) a jornais de periferia afinados com o Planalto, com a incisiva acusação do coordenador do programa de governo do presidente Lula, Marco Aurélio Garcia, contra ‘alguns’ formadores de opinião do País – que chamou de ‘golpistas’ e ‘deformadores de opinião’. Para deixar por menos, já conhecemos bem esse filme.


Em sua fala na ANJ, Lula reconheceu que ‘sua história política deve muito à imprensa’, referindo-se ao apoio que teve da mídia como líder sindical. Esqueceu, no entanto, do apoio que tem obtido da mídia em toda a sua carreira, posto que jamais, ‘neste país’, homem público algum ocupou tamanho espaço nos veículos de comunicação, principalmente como presidente.’


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ANJ critica proibição de divulgação de conversa de Roriz


‘O veto da Justiça à divulgação de conversa telefônica entre Joaquim Roriz (PMDB-DF) e Eri Varela (PMDB-DF) provocou protesto da Associação Nacional de Jornais (ANJ), que ontem distribuiu a seguinte nota, assinada por seu presidente, Nelson P. Sirotsky:


‘A Associação Nacional de Jornais protesta com veemência contra a decisão do juiz auxiliar Roberval Casemiro Belinati, do Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal, de proibir a divulgação de gravação de conversa telefônica entre o ex-governador Joaquim Roriz e o candidato a deputado federal Eri Varela. Na conversa, os dois políticos criticam o candidato ao governo do Distrito Federal José Roberto Arruda.


A liminar do juiz, concedida a partir de ação movida pelo ex-governador e o candidato a deputado, afirma que a divulgação da gravação acarretaria prejuízos político-eleitorais para os dois políticos.


A decisão do juiz impõe absurda censura aos meios de comunicação, em clara violação à Constituição, que expressamente veta qualquer tipo de proibição à divulgação de informações. A ANJ lamenta que a Justiça brasileira, com freqüência preocupante, venha exercendo a função de censora dos meios de comunicação e espera que instâncias superiores anulem a liminar concedida pelo juiz, restabelecendo o princípio maior da liberdade de imprensa.’’


VIAGENS COM O PRESIDENTE
Gabriel Manzano Filho


O desafio de viajar com Lula


‘Numa tarde de calor infernal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava todo suado, abraçando e beijando admiradores em uma cidadezinha da Bahia, e pediu uma toalha, com urgência. O segurança ouviu e saiu meio desajeitado, lento – e Lula, irritado com o calor e com ele, comentou: ‘Olha o bundão, lá vai o bundão pegar a minha toalha.’


À sua volta, ninguém estranhou. O governo mal começava, mas o descaso com as boas maneiras já era rotina no Planalto. Broncas com diplomatas, do tipo ‘pô, você acha que eu sou babaca de ler tudo isso?’, ou com auxiliares num palanque – ‘Cadê as cartilhas, porra! Como não trouxe as cartilhas, seu incompetente!’ – sinalizavam o novo ritual do governo.


Esses episódios, e outros bem mais pesados, sucedem-se, aos montes, nas 272 páginas de Viagens com o Presidente, dos jornalistas Leonencio Nossa, do Estado, e Eduardo Scolese, da Folha de S. Paulo, que acaba de ser lançado pela Editora Record. É um relato dos melhores (ou piores?) momentos das 423 viagens de Lula desde sua posse, em janeiro de 2003, até abril passado, 91 das quais para o exterior.


Não é uma análise política nem revela furos imperdíveis. Seu forte é a banalidade do dia-a-dia – as conversinhas no avião ou nos jantares, depois do terceiro uísque, a enxurrada de palavrões para todo lado, a impaciência do presidente com ajudantes, com outros líderes, com fazendeiros, com a moça do café. Relatados por Nossa e Scolese, esses episódios mostram como funciona, longe dos eleitores, o seu presidente. Lula, resumem eles, ‘não é dessas pessoas com chance de morrer de enfarte por engolir sapos’.


Por exemplo, numa festa na embaixada em Tóquio, em 2005: ‘Tem horas, meus caros, que eu tenho vontade de mandar o Kirchner para a p.q.p.’ E mais tarde: ‘A verdade é que nós temos de ter saco para agüentar a Argentina (…), ter muito saco.’ Ou então, sobre o Chile: ‘O Chile é uma merda, uma piada. Eles fazem os acordos lá deles com os americanos. Querem mais é que a gente se f… por aqui. Eles estão c…. para nós.’


O livro traz também amenidades – os ciúmes de Marisa, que não quer ajudantes bonitonas por perto, os apelidos que a segurança dá ao presidente (Eclipse, Saturno), as broncas contra o Sucatão. E até uma brincadeira dele, na janela do Hotel Glória, no Rio. Foi quando um grupo criticava, na rua, o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu. ‘Ei, José Dirceu / Devolve o dinheiro aí / O dinheiro não é seu.’ O presidente gostou e saiu pelo quarto repetindo o refrão, ‘com os dedos indicadores para o alto, como se estivesse num baile de carnaval’.’


TV DIGITAL
O Estado de S. Paulo


Juiz de Minas rejeita ação contra TV digital


‘O juiz da 20ª Vara da Justiça Federal em Belo Horizonte, Itelmar Raydan Evangelista, indeferiu ontem a petição inicial da ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Federal contra o decreto presidencial que implantou a TV digital. O magistrado considerou a ação inepta por impossibilidade jurídica do pedido. Para a Procuradoria da República, há ilegalidades na implantação da TV digital.’


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Procuram-se gêmeas


‘A dois meses do início das gravações, Paraíso Tropical, próxima novela das 9 da Globo, perdeu sua protagonista. Cláudia Abreu, escalada para viver a personagem central da trama, comunicou esta semana à Globo que está grávida do seu segundo filho, portanto, não poderá participar da produção. Cláudia faria gêmeas no folhetim, ao estilo Ruth e Raquel de Mulheres de Areia, uma boa e outra má. As personagens se envolveriam com o mocinho da história, vivido por Fábio Assunção.


As gravações estão previstas para começar entre fim de outubro e início de novembro na Bahia. O diretor Dennis Carvalho e o autor Gilberto Braga correm contra o tempo para encontrar outra protagonista. Débora Falabella e Camila Morgado, ambas já escaladas nesse elenco, são opções bem cotadas para a vaga.


Gilberto garante que o papel não foi escrito especialmente para Cláudia, e que a chegada de uma criança sempre é uma notícia boa.


Além de Assunção, o elenco de Paraíso Tropical, que estréia no início de 2007, conta com Wagner Moura, Tony Ramos, Débora Bloch, Hugo Carvana, Isabela Garcia, Cleo Pires e Reginaldo Faria.


entre-linhas


Ratinho pode até voltar ao ar com um novo programa no SBT, mas não será com a mesma produção de antes. Mais de 20 pessoas da equipe do apresentador foram dispensadas pela emissora esta semana.


Se depender do investimento da Globo, a minissérie Amazônia será uma das maiores produções da emissora dos últimos anos. Cada capítulo do enredo de Glória Perez está orçado em R$ 500 mil.


Além de Roberto Carlos, outra certeza entre os especiais de fim de ano da Globo é Ivete Sangalo. A cantora deve novamente comandar um programa musical na rede, recebendo vários artistas.


Marcos Palmeira fará uma participação especial na terceira temporada do programa Cilada, no episódio que retrata as roubadas no dia-a-dia no Supermercado. A atração, escrita e estrelada por Bruno Mazzeo, volta à grade do Multishow em 5 de outubro com seis episódios inéditos.


A TV Cultura exibirá entrevistas individuais com os candidatos ao governo do Estado de São Paulo. Será apresentada uma entrevista por dia, de 4 a 8 de setembro, nos programas De Olho no Voto, às 20 horas, e no Opinião Nacional, à 0h40. A ordem de entrevistados é esta: Orestes Quércia (PMDB) na segunda-feira, seguido por Aloísio Mercadante (PT), José Serra (PSDB), Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) e Carlos Apolinário (PDT), que encerra a rodada na sexta-feira.’


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Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 31 de agosto de 2006


ELEIÇÕES 2006
Otavio Frias Filho


Picolé de direita


‘NUMA ÚLTIMA cartada, a campanha de Geraldo Alckmin passou a adotar tom mais contundente na tentativa de atingir a imagem de Lula pelo flanco da corrupção. Logo se verá se a estratégia, um tanto desesperada e talvez tardia, vai ou não reverter o quadro favorável ao presidente.


Se a reversão não acontecer, o que parece mais provável, restará aos especialistas discutir as razões do fracasso eleitoral de Alckmin. Ao contrário da imagem agora corrente, poucas vezes um candidato presidencial pareceu tão talhado para atender as demandas que as próprias pesquisas identificam no eleitorado.


O eleitor é pós-ideológico, se é que foi ideológico alguma vez. Quase metade, segundo o Datafolha, prefere a ‘direita’ em vez do ‘centro’ ou da ‘esquerda’ -e revela razoável consciência, mesmo que intuitiva, do que esses rótulos traduzem.


No figurino extraído das pesquisas qualitativas, o modelo de político tem virtudes de feitio publicitário. É honesto, trabalhador, experiente, religioso e preparado. É equilibrado, evita extremos, não insulta seus adversários, conhece dados e números. Ora, Geraldo Alckmin, para o bem e para o mal, cabe exatamente nesse figurino. Parece, aliás, ter moldado sua personalidade pública com vistas a preenchê-lo. Foi prejudicado pela imagem de político insosso que lhe valeu o famoso apelido de ‘picolé de chuchu’.


Mesmo essa imagem de indefinição mal sobreviveu, porém, a duas manobras realizadas pelo então governador paulista. A primeira foi a adoção de uma política duríssima, chamada de neomalufista, na área da segurança pública em São Paulo. Os motins do crime organizado são evidente reação a essa dureza.


A outra manobra foi o vigor com que ele enfrentou a postulação do então prefeito José Serra dentro do PSDB. Enquanto Serra ficava numa posição hamletiana, à espera de que o partido o ungisse candidato, Alckmin mostrou capacidade de confronto e levou a indicação. Fala-se que nada disso adianta diante do ‘carisma’ de Lula. Estranha explicação, pois ela implica admitir que Lula tem ‘carisma’ agora, mas não tinha nas três eleições presidenciais que perdeu antes de finalmente conseguir se eleger em 2002.


O mais provável é que o amplo favoritismo de Lula se deva mesmo a um panorama econômico entre razoável e bom, somado ao pacote de bondades eleitorais que seu governo, conforme a praxe reeleitoral, vem desovando nos últimos meses.


A experiência internacional mostra também que reeleição de presidente no cargo é a regra, não a exceção. Neste momento em que Lula volta a acumular muito poder, é saudável que conheça limites, seja interpelado e submetido à crítica. Para que depois não se venha reclamar, mais uma vez, de estelionato eleitoral.


OTAVIO FRIAS FILHO é diretor de Redação da Folha’


Contardo Calligaris


O voto radical chique


‘NA ÚLTIMA pesquisa de opinião, Heloísa Helena é a candidata preferida por 20% dos eleitores com ensino superior (na população em geral, ela é escolhida por 10% dos entrevistados).


Talvez a decepção com os escândalos do governo seja maior entre os sujeitos supostamente mais informados. Além disso, os eleitores que apostam em modelos centralizados (taxa de juros e de câmbio decididas politicamente, questionamento das privatizações etc.) são provavelmente mais numerosos entre os ‘cultos’ e ‘pensantes’, que sempre tendem a confiar firme no poder das idéias que eles acham certas (doa a quem doer). Mas há uma parte (pequena, imagino) desses 20% que parece preferir Heloísa Helena por uma razão mais pitoresca.


Encontrei vários paulistanos, de classe A para cima (com graduação completa), que anunciam seu voto em Heloísa Helena sem conhecer o programa político e econômico da senadora e, certamente, sem simpatizar nem um pouco com seu moralismo em matéria de costumes.


Saindo de um jantar em que duas comensais declararam seu voto pela senadora, um amigo comentou: ‘É a esquerda-caviar’.


A expressão ‘esquerda-caviar’ foi lançada na França, na época de Mitterand, para estigmatizar os gostos luxuosos de intelectuais, altos funcionários e simpatizantes do governo socialista: ‘São socialistas e comem caviar?’.


Ora, contam que, um dia, um jornalista perguntou a Léon Blum (primeiro-ministro socialista francês nos anos 30): ‘Como o senhor pode ser socialista, visto que, por sua origem e cultura, seus gostos são afastados dos gostos do povo?’. Blum teria respondido: ‘Sou socialista porque não gosto do povo’. Antídoto contra o populismo: não somos socialistas por acharmos que a comida a quilo seja a melhor do mundo, mas por querermos que todos possam degustar a cozinha de Alex Atala.


Mas o fenômeno ‘HH xodó dos Jardins’ não evoca apenas a esquerda-caviar. Em 1970, em ‘Radical Chique’ (um dos ensaios fundadores do ‘novo jornalismo’), Tom Wolfe descreveu uma festa organizada por Leonard Bernstein (o compositor e diretor de orquestra) para levantar fundos em favor dos revolucionários das Panteras Negras. Convidar Stokely Carmichael ou Angela Davis e manifestar-lhes apoio era, para a ‘inteligentsia’ nova-iorquina da época, uma excentricidade elegante.


Na festa radical chique, revolucionários e extremistas têm uma vantagem sobre capas Prada, bolsas Louis Vuitton ou vestidos Armani: eles odeiam seus anfitriões. É óbvio que é radicalmente chique usar, como cachecol, um bicho vivo e venenoso.


A turma radical chique:


1) evita pensar em soluções efetivas para os problemas do país (nada de discursos, que são chatos e estragam a festa);


2) curte as experiências exclusivas (‘Sabe quem estava na minha festa?’) e cultiva uma imagem aventureira de si mesma (a presença do convidado revolucionário afirma que o anfitrião, contra todas as aparências, não é um integrado);


3) cultiva o autodesprezo para absolver-se de sua culpa social (no caso, nem preciso me odiar por ser integrado, pois meu convidado se encarrega disso). Na falta de Panteras Negras, a turma radical chique pode escolher candidatos intelectuais da pesada (melhor se forem ex-exilados). Fernando Henrique e José Serra, em outras épocas, poderiam ter sido xodós do radical chique brasileiro; ninguém leria seus livros, mas seria elegante tê-los numa festa, também porque, supostamente, eles desprezariam a futilidade de seus anfitriões. Sem dúvida, a turma radical chique gostava do Lula barbudo e escabelado do começo. Hoje, perdida a aparência de metalúrgico antiburguês, Lula não é mais chique.


Quanto a Alckmin, médio, invisível, animado por lugares comuns religiosos, ele é tudo o que o radical chique não quer ser ou avizinhar na vida.


Heloísa Helena é, hoje, a escolha perfeita. Ela odiaria servir de decoração na festa radical chique, mas, por isso mesmo, é a convidada ideal.


A turma radical chique deve ser eleitoralmente pouco significativa, mas ela nos lembra que, numa sociedade narcisista, a escolha do candidato é também uma questão de imagem. De imagem, quero dizer, do eleitor: alguns decidem seu voto como escolhem sua roupa.


PS. A edição mais recente do ensaio de Tom Wolfe está em ‘Radical Chique e o Novo Jornalismo’, livro lançado em 2005, pela Cia. das Letras. O leitor também pode se divertir (bastante) com os quadrinhos de Miguel Paiva (‘Livro do Pensamento da Radical Chic’, Record).’


José Alberto Bombig


Intelectuais cobram de Alckmin mais ataques contra Lula


‘O candidato do PSDB a presidente, Geraldo Alckmin, passou ontem à noite por uma ‘saia justa’ quando, em encontro com artistas e intelectuais, a platéia, de aproximadamente cem pessoas, entoou um coro de ‘tem que dizer, tem que falar’, pedindo ao tucano críticas mais ásperas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no campo da ética.


A ‘deixa’ foi dada pelo deputado federal Roberto Freire (PPS-PE). Em discurso, ele disse: ‘Nós estamos tão indignados que nós gostaríamos de ver na televisão alguém dizendo tudo isso que nós estamos dizendo em relação ao governo [do presidente Lula]’.


Freire discursava após o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra, que já haviam criticado Lula no plano da ética.


A platéia interrompeu o deputado e presidente do PPS com aplausos entusiasmados. Em seguida, um grupo à frente do palco puxou o coro: ‘Tem que dizer, tem que falar’.


Ao notar o constrangimento de Alckmin, também no palco, ao lado de Serra e FHC, Freire tentou remediar. ‘Calma, me permitam concluir. Minha conclusão não é essa’, disse ele.


Alckmin, atrás de Lula 23 pontos na última pesquisa Datafolha, resistiu até anteontem à idéia de citar escândalos de corrupção envolvendo membros do PT e do governo em seus programas do horário eleitoral gratuito de rádio e televisão. Ainda assim o fez por meio de um apresentador.


‘Tem que ser mais crítico, mais agressivo com tudo isso, essa corrupção que nós estamos vendo’, disse a psicanalista Maria Cecília Parasmo, que puxou o coro ontem.


Último a falar, Alckmin minimizou a importância dos ataques. ‘Não se ganha eleição com agenda negativa. Eleição é esperança. Mas estou fazendo tudo que um brasileiro deve fazer, contestando a corrupção.’


O evento de ontem à noite, em São Paulo, foi resposta ao encontro de Lula com a classe artística e intelectual, também na capital paulista, na segunda.


Além dos programas de rádio e TV da coligação PSDB-PFL, as declaração do ator Paulo Betti, apoiador de Lula, de que é ‘difícil fazer política sem sujar as mãos’ monopolizou as discussões entre os presentes.


Serra discursou que o PT e seus simpatizantes têm deixado claro que os fins ‘justificam os meios’. Segundo ele, o Brasil sob Lula tem ‘um projeto de subdesenvolvimento’.


‘Quando, em função de um grupo político, você abdica de seus princípios, como moral e ética, fica complicado e libera você para muitas outras coisas. Quando dizem que roubar pode, daqui a pouco vão dizer que matar e estuprar também’, disse o ator Juca de Oliveira.


Também estiveram presentes a atriz Irene Ravache, o cientista político Leôncio Martins, a escritora Patrícia Mello, entre outros. A maior ausência foi a atriz Regina Duarte, historicamente ligada ao PSDB.’


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Horário eleitoral só mudou o voto de 6%


‘A última pesquisa Datafolha revela que 6% dos eleitores do país dizem ter mudado o voto por causa do horário eleitoral. Dos 43% dos votantes que assistiram os programas na TV e têm um candidato, a maioria (37%) não mudou o voto.


Dos atuais eleitores de Geraldo Alckmin (PSDB), 11% declararam ter mudado o voto com o horário eleitoral. Como Alckmin tem 27% de intenções de voto, esses 11% correspondem a três pontos percentuais. Desde o início da campanha na TV, em 15 de agosto, Alckmin ganhou precisamente três pontos percentuais: tinha 24% na pesquisa realizada nos dias 7 e 8 de agosto, e passou para 27% no levantamento do dia 29.


Em contraste com o desempenho do tucano, apenas 2% dos eleitores que declaram voto em Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dizem ter mudado o voto em razão do horário eleitoral. Como Lula tem 50% das intenções de voto, esses 2% correspondem a um ganho de um ponto percentual. Como Lula conquistou três pontos percentuais após o início do horário eleitoral (ele passou de 47% para 50%), constata-se que este lhe acrescentou menos votos que outras modalidades de convencimento do eleitor.


No caso de Heloísa Helena (PSOL), 14% de seus atuais eleitores afirmam ter mudado o voto em razão do horário eleitoral. Contudo, como a candidata oscilou negativamente de 12% para 10% nesse período, nota-se que o ganho eleitoral da candidata (1,4 ponto) não compensou os votos que ela perdeu com a campanha na televisão.


De forma geral, a influência do horário eleitoral tem sido pequena porque a maioria do eleitorado (55%) não acompanha os programas, nem mesmo em parte, os candidatos na TV. A audiência do horário tende a cair nesta fase da campanha e só deve se recuperar na semana final de exibição. Na eleição de 2002, um rastreamento do Datafolha feito por telefone mostrou que, após três semanas de exibição, a audiência do horário eleitoral tinha caído pela metade, de 40% para 20%.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Conforto


‘A Globo chegou a dar os ‘ataques na madrugada’ a agências bancárias e base policial, no ‘SPTV’, sites também destacaram. Mas veio o fim do dia e ‘Cláudio Lembo minimizou’, segundo Fátima Bernardes. Ele também não viu relação com uma transferência: _ Os próprios presos tinham interesse. Foi uma transferência normal, até para conforto dos presos.


No portal iG, ele acrescentou que ‘foram ataques superficiais, a mesma pessoa jogou álcool nos dois caixas eletrônicos e na base nem foi tiro, foi pedrada’.


‘GUERRA CIVIL’


O francês ‘Le Figaro’, com bastante atraso, escreveu ontem sobre a polícia ‘impotente’ diante das demonstrações de força do PCC, na ‘cidade à beira de uma guerra civil’. Na tradução da BBC Brasil: _ Em São Paulo, a violência faz parte do cotidiano. Os ricos se entrincheiram atrás de muros com cercas elétricas ou em condomínios de luxo bem patrulhados. A segurança se tornou um negócio bilionário.


‘FHC ATRAPALHA’


Em dia frio, é só falar com o governador. De Lembo ao iG, o que rendeu até manchete: _ Ele [FHC] atrapalha o Alckmin. Democracia não se faz com agressividade… Não precisa pôr fogo em nada.


Lembro disse que Lula ‘deve ser reeleito dia 1º’, bem como José Serra, que ‘tem os traços do paulistano médio’. Já Aloizio Mercadante ‘herdou traços autoritários da educação militar da família’.


NOVELEIRO


Além de crítico de TV (‘hum, Alckmin já melhorou muito’), o prefeito do Rio, o pefelista Cesar Maia, há dias vem propondo roteiros e até diálogos para os programas de ‘qualquer candidato da oposição’. Por exemplo:


_ Locutor: Todo mundo se lembra desta cena. (Aparece o vídeo de Waldomiro pedindo dinheiro ao contraventor.)


_ Candidato da oposição: Claro, você se lembra. Ele era o principal assessor do poderoso ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. O gabinete ficava bem ao lado do Lula.


IRONIA


Um dia depois das pressões da campanha de Geraldo Alckmin, o tucano José Serra foi ao ataque, ontem à tarde, na manchete de eleições da Folha Online e na submanchete do UOL. Declarou, em referência à greve no ABC: _ A dificuldade da Volkswagen e da indústria automobilística em geral é a política econômica do governo, é a política de juros e de câmbio, que encarece as exportações.


Arrematou, em menção mais direta, que ‘é uma ironia que o presidente seja de São Bernardo’.


E parou por aí.


RASGANDO SEDA


Na Folha Online, Delfim Netto criticou o programa lançado por Lula, dizendo que ‘é do PT e não de Lula’. Pedro Malan acresceu que ‘traduz claramente o desejo de expectativas adicionais de gastos’. Já no blog da BBC Brasil, Malan e Antônio Palocci surgiam ontem ‘rasgando seda um para o outro’. ‘O Brasil deve muito ao ministro Palocci’, disse um. E devolveu o outro que, se o país ‘tem a melhor combinação de fundamentos em 30 anos, é resultado não só do atual governo, mas dos que vieram antes’.


AFP – lemonde.fr/Reprodução IRMÃOS O francês ‘Le Monde’, traduzido no UOL, voltou aos exotismos do Brasil _e de Lula. Com uma foto idílica e sob o título ‘Nas aldeias do Amazonas, os estudantes brasileiros acham desenvolvimento sustentável’, seguiu voluntários do Projeto Rondon até Caapiranga: _ ‘Uma região onde seus irmãos, que vocês não conhecem, também falam português’, lembrou-lhes Lula, no dia da partida.


‘UNA MIERDA’


Ecoava ontem no site do chileno ‘El Mercurio’, em despacho da DPA, a informação da Folha de que, no livro ‘Viagens com o Presidente’, o presidente diz, a certa altura, na versão: _ Chile es una mierda. Também são citadas as ‘palavras ofensivas’ sobre o argentino Néstor Kirchner.’


INTERNET
Elvira Lobato e Humberto Medina


Anatel mantém leilão de internet sem fio


‘A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) negou o pedido das concessionárias de telefonia fixa local para mudar as regras do edital para licitação de faixas de freqüência para fornecimento de acesso à internet em banda larga sem fio. A princípio, o leilão acontece na segunda-feira.


Diante da decisão da agência, as teles entraram na Justiça para tentar impedir a realização do leilão (leia texto abaixo).


O edital da Anatel abriu uma guerra entre as gigantes da telefonia fixa local (originárias das estatais, privatizadas em 1998) e centenas de empresas provedoras de acesso à internet, de TV por assinatura e de outros serviços de telecomunicações que pressionam por mais competição no mercado.


Para evitar maior concentração, o edital da Anatel proibiu as teles de comprarem freqüências para o serviço sem fio dentro de suas áreas de concessão de telefonia fixa. Com isso, a Telefônica, por exemplo, está impedida de comprar licenças no Estado de São Paulo, mas está livre para atuar em outros Estados.


O leilão desperta grande interesse porque se acredita que o futuro das telecomunicações esteja nas transmissões sem fio -mais rápidas e mais baratas.


‘Depois de oito anos de privatização da telefonia fixa, as ex-estatais continuam com monopólio de mercado’, afirma o presidente da Telcomp (Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas), Luiz Cuza.


Anteontem, a Anatel divulgou números que corroboram essa visão: a Telemar tem 93,54% do mercado de telefonia fixa local dentro dos 16 Estados que compõem sua área de concessão, a Telefônica domina 94,64% do mercado no Estado de São Paulo e a Brasil Telecom tem 93,1% das ligações locais em sua área.


As teles, dentro de suas áreas de concessão, também dominam a oferta de acesso fixo à internet em banda larga, usando sua infra-estrutura de linhas fixas. Segundo a diretora da TVA (empresa de TV por assinatura do grupo Abril), Leila Lória, a participação das concessionárias nesse mercado é de 80%. ‘Se elas forem autorizadas a ter licenças para os serviços sem fio dentro de suas áreas de concessão, o monopólio será replicado’, afirma a executiva.


A Anatel faz a mesma análise. ‘Essa tecnologia [sem fio] é excelente para gerar competição. Se a concessionária quiser comprar faixas de freqüência na área de outras, está permitido. Agora, na sua área, ela teria exclusividade no fio e no ar. É óbvio que a agência tem que propor uma outra solução’, diz Pedro Jaime Ziller, diretor da Anatel que analisou o pedido das teles. ‘Queremos competição imediatamente. Não temos ainda competição eficaz no acesso [a internet em banda larga]’, complementa.


Cidades pequenas


Pelo menos três entidades que representam os provedores de acesso à internet se manifestaram a favor da restrição à entrada das teles nos serviços sem fio: Abranet, Associação Internet Brasil e Global Info. As três sustentam que a entrada das teles nesse mercado, dentro de suas áreas de concessão, inviabilizará a participação de novos competidores e a sobrevivência de pequenas empresas que já prestam o serviço aproveitando faixas de freqüências de uso livre.


Segundo o vice-presidente da Global Info, André Rodrigues, estima-se que existam cerca de 4.000 pequenos provedores de acesso à internet sem fio no país. Eles fazem a conexão usando as faixas de 2,4 GHz e 5,8 GHz, que são de uso livre. Grande parte desses pequenos operadores não tem a licença de serviço de comunicação multimídia para operar.


O ministro Hélio Costa tem dito que sua preocupação é com o fornecimento do serviço de acesso à internet em banda larga em pequenas cidades. Para ele, é importante evitar que aconteça o que ocorreu com os celulares, que não pegam em muitas cidades do interior.


André Rodrigues, vice-presidente da Global Info, diz que existem provedores de acesso em banda larga, sem fio, em cidades de até 20 mil habitantes. Sua empresa, Piernet, com sede em Carpina (70 mil habitantes), no interior de Pernambuco, tem mil clientes. Segundo ele, os empresários locais podem fazer a inclusão digital pretendida pelo ministro.


Para os provedores de acesso à internet, Costa demonstra desconhecimento do mercado brasileiro, quando diz que apenas cerca de 80 cidades possuem acesso à internet em banda larga.


Segundo o empresário Basílio Perez, da Bignet, empresa da Baixada Santista, existem catalogadas pelo menos 1.606 cidades com atendimento de banda larga. Perez diz que o temor das empresas de internet é que as teles queiram entrar no leilão para engavetar as licenças e impedir a concorrência.


A Global Info, uma das entidades representativas dos provedores de internet, entrou com mandado de segurança no STJ (Superior Tribunal de Justiça), contra Hélio Costa, sob a alegação de que ele não tem poder legal para intervir no órgão regulador, como ameaçou na semana passada.’


TV DIGITAL
Paulo Peixoto


Liminar contra decreto da TV digital é negada


‘A Justiça Federal em Belo Horizonte rejeitou ontem o pedido de liminar na ação civil pública contra o decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que implanta no país a TV digital com o padrão japonês. A ação havia sido apresentada pela Procuradoria da República e distribuída à 20ª Vara da Justiça Federal no dia 21. Na noite de ontem, a secretaria da vara confirmou à Folha o indeferimento.


‘A petição inicial foi indeferida’, informou a secretaria da 20ª Vara, que não apresentou a fundamentação para o indeferimento. Segundo a secretaria, a fundamentação do juiz substituto da 20ª Vara, Lincoln Pinheiro Costa, será publicada amanhã no ‘Diário Oficial’.


Na ação, o Ministério Público Federal pediu à Justiça que suspendesse liminarmente todos os efeitos do regulamento ou pelo menos seis artigos do decreto. Após o julgamento do mérito, pediu fosse declarada a ‘nulidade absoluta’ do decreto 5.820.


O MPF diz que o decreto tem ‘cinco violações a diferentes leis e à Constituição’, como ausência de motivação para a implantação do modelo japonês e ausência de ‘consulta’ ao conselho criado para propor ações e diretrizes para a definição do padrão.


A Folha não conseguiu entrar em contato com o procurador Fernando de Almeida Martins, principal responsável pela ação. Na assessoria do MPF, ninguém foi localizado.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Juíza proíbe Record de imitar Silvio Santos


‘Uma das personalidades mais imitadas no país, Silvio Santos conseguiu na Justiça impedir que o humorista Tom Cavalcante continue o imitando e que a Record, sua rival, transmita essas imitações.


A sentença, da juíza Maria Isabel Caponero Cogan, da 40ª Vara Cível de São Paulo, é detalhada. Obriga Record e Cavalcante a se ‘absterem da utilização e exploração das imagens, semelhança visual, as características e os traços, a postura, a proximidade vocal e o nome artístico’ do dono do SBT.


Record e o humorista foram condenados também a pagarem R$ 100 mil como indenização pela ‘violação do direito de imagem’ do empresário, por terem exibido, em 2005, sem autorização dele, quadros que satirizavam Silvio Santos e seus programas, como ‘Qual É a Música’ e ‘Show de Calouros’.


A ação corre desde abril do ano passado. O SBT queria ainda que a Record fosse condenada pelo uso do formato do ‘Qual É a Música’ e outros programas. A Justiça negou.


A Record se recusou a comentar e informou que vai recorrer da sentença. Já Tom Cavalcante ficou indignado. ‘É uma coisa nova na história do país. Há 30 anos imito Silvio Santos e nunca tive problema. Sempre admirei Silvio Santos e não sei qual foi o critério usado para cercear o direito de imitação. Só sei que essa reação ocorreu quando começamos a incomodar no Ibope’, disse.


PASSA RÁPIDO 1O jornalista Ricardo Valladares pediu ontem demissão do cargo de conselheiro do SBT, que ocupava desde março. Valladares, assim, deixa de ter funções executivas na emissora (ele vinha intervindo em programas, como o de Hebe Camargo), mas continuará como consultor de Silvio Santos, opinando sobre formatos.


PASSA RÁPIDO 2 Valladares tomou a decisão porque não conseguiu implantar mudanças com a rapidez e a profundidade que queria.


BABILÔNIAA apresentadora e atriz Ana Bárbara Xavier, a Babi, fechou com a Record. Será uma mulher moderninha que inferniza o ex-marido, um promotor público, em ‘Vidas Opostas’, próxima novela das oito da rede.


FOTOFOBIAA assessoria de Geraldo Alckmin avisou fotógrafos que cobriam evento do PSDB anteontem no Jockey de SP que a atriz Regina Duarte ‘era esperada’. Alarme falso. Regina passou o dia gravando ‘Páginas da Vida’. E a Globo determina a artistas que estejam no ar que evitem fotos e declarações de apoio.


CONCERTOS POPAutor de ‘Páginas da Vida’, Manoel Carlos festejou os 53 pontos de sua novela anteontem, em capítulo em que a música clássica e uma exposição predominaram: ‘Isso deveria servir de alerta a todas as emissoras, por mostrar que coisa boa também dá bons índices’.


RATOEIRA O novo programa de Carlos Massa, o Ratinho, no SBT, foi adiado para outubro.’


Folha de S. Paulo


Âncora comete gafe, e CNN se desculpa


‘O áudio de uma conversa no banheiro feminino sobre assuntos pessoais sobrepôs por mais de um minuto a transmissão pela CNN, para os EUA, do discurso do presidente George W. Bush anteontem em Nova Orleans, para marcar um ano da passagem do furacão Katrina.


Kyra Phillips, âncora do programa ‘Live From…’, não percebeu que, durante uma pausa no seu trabalho, continuava com o microfone ligado. Assim, foi ao ar sua conversa com outra mulher, não identificada, num banheiro da sede da emissora em Atlanta.


Kyra começou desqualificando a maioria dos homens, para, a seguir, se dizer uma pessoa de sorte. ‘Meu marido é lindo e verdadeiramente um amor, sem ego, você sabe o que quero dizer? Realmente apaixonado, bondoso, grande ser humano. E eles existem. Eles existem, sim. São difíceis de achar, claro, mas estão por aí.’


Depois, foi a vez do irmão e da cunhada. ‘Irmãos têm de ser protetores. Menos o meu. Eu é que tenho de ser a protetora dele. Sua mulher é controladora.’


Foi nesse momento que alguém a avisou. Então, outro âncora entrou no ar, resumindo o que Bush havia dito. Mais tarde, Kyra pediu desculpas. A CNN alegou ‘dificuldades de áudio’ e se desculpou com o público e o presidente.


Com agências internacionais’


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