Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Jornais debatem TV digital

Nos jornais desta quinta-feira, cresce o debate sobre o modelo de televisão digital a ser adotado pelo Brasil. Enquanto o ministro das Comunicações, Hélio Costa, afirma que o padrão será escolhido pelo governo até fevereiro, a imprensa questiona – e especula – qual o modelo mais adequado para o país.


Ainda no tema TV, a Folha de S. Paulo noticia que a Rede Record pretende exibir mais programas produzidos com verba pública. No domingo passado, o jornalão havia revelado que a emissora utilizou recursos deste tipo na produção da série Avassaladoras – o que não poderia fazer, já que funciona como uma concessão pública.


A Folha também noticia que a novela Prova de Amor, da Record, ultrapassou o Jornal Nacional, da Rede Globo, no Ibope. Já o Estado de S. Paulo traz uma entrevista com a atriz Fernanda Montenegro, cujo personagem deverá morrer no capítulo desta quinta-feira da novela Belíssima.


Leia abaixo os textos desta quinta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 19 de janeiro de 2006


TV DIGITAL
Folha de S. Paulo


TVs pressionam por padrão digital japonês


‘Os representantes das emissoras de televisão encaminharam ontem à ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) documento no qual detalham as características técnicas do modelo de televisão digital que julgam mais adequado para o Brasil. Se a decisão do governo considerasse somente essas características, o modelo japonês seria o escolhido.


O ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB-MG), que participou da reunião, disse que o governo brasileiro continua aberto aos três modelos de televisão digital: americano (ATSC), europeu (DVB) e japonês (ISDB). Segundo ele, a escolha será feita até a primeira quinzena de fevereiro.


Questionado por jornalistas se o governo não estaria retrocedendo, uma vez que o padrão norte-americano já havia sido dado como descartado, o ministro negou. ‘A declaração de descartar A ou B não foi feita pelo governo brasileiro, foi apenas durante uma reunião ontem [terça-feira] com os técnicos da CPqD [Fundação Centro de Pesquisa e Desenvolvimento]. Nós vamos considerar sempre os três modelos até tomarmos uma decisão, até porque estamos em um processo de negociação direta com os japoneses, os europeus e os americanos.’


‘Se nós decidirmos o que está descartado e o que não está, prejudica as negociações’, afirmou o ministro. A escolha do padrão de televisão digital envolverá a negociação de contrapartidas comerciais e políticas com Estados Unidos, Japão e países europeus. Na semana que vem, representantes do padrão norte-americano farão demonstrações do seu modelo de TV digital em Brasília.


O ministro evitou afirmar que as redes de televisão sugeriram o japonês, mas confirmou que esse padrão é o que melhor se enquadra nas características pedidas pelas emissoras. ‘Se você perguntar a um técnico, um engenheiro, e eu não sou engenheiro, é possível que ele lhe diga que o padrão japonês, neste momento, atende a todas essas especificidades.’


‘Nada impede que os europeus, amanhã, digam para nós que podem também preencher essas lacunas, e até os americanos’, afirmou. ‘Só que, da maneira que estamos vendo a televisão digital aberta, lamentavelmente, neste momento, existem limitações para alguns sistemas’, disse Costa.


O modelo americano privilegia a TV de alta definição, o japonês permite alta definição e também transmissão para receptores em movimento e o europeu privilegia a múltipla programação. Os três modelos de televisão digital permitem a interatividade.


Características


Segundo Costa, o modelo escolhido pelo Brasil deverá ter as seguintes características: ser uma televisão aberta, que comporte alta definição e também definição ‘standard’ (de menor qualidade, mas que permite múltipla programação) e a mobilidade (que possa continuar transmitindo com qualidade dentro de um ônibus, por exemplo).


Ele reafirmou que até meados de fevereiro o padrão será escolhido. ‘Não tem que ser necessariamente no dia 10, mas, para fazermos a implantação da TV digital neste ano, nós precisamos decidir, no mínimo, na primeira quinzena de fevereiro, qual é o sistema de modulação. Você precisa de seis a oito meses para fazer os conversores de TV digital.’


O conversor, parte importante das negociações comerciais, é o aparelho que será acoplado à televisão para que aparelhos fabricados para receber transmissões analógicas (como as atuais) possam captar a transmissão digital.


Segundo Costa, esse aparelho custaria, hoje, aproximadamente R$ 220. ‘Esse valor deverá cair dramaticamente nos próximos seis meses’, disse o ministro. Ele informou que o governo poderá financiar a compra do conversor por meio de bancos federais.


Instalação comercial


O ministro confirmou para junho, na região metropolitana de São Paulo, a transmissão experimental da TV digital e que, em 7 de setembro, o país já estará em condições de fazer a instalação da TV comercial digital.


A tecnologia japonesa, de acordo com técnicos, permite que telefones celulares captem a programação diretamente das antenas da TV, sem passar pela rede das operadoras de telefonia celular. Por isso, seria a preferida das redes de televisão, que ganham mais poder na disputa de mercado com as teles. Ontem, Costa disse que no modelo de TV digital aberta, a transmissão normal para uma televisão móvel -como a que poderá ser usada em celulares- não seria paga.’


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Entidade não descarta sistema norte-americano


‘O Fórum ATSC acredita que é cedo para desistir de defender o modelo americano para a TV digital brasileira. ‘Não fomos informados e não acreditamos que o governo tenha tomado decisão final’, afirmou ontem o presidente do Fórum, Robert Graves. Estudo entregue ao governo anteontem apontava desvantagens do padrão americano em relação ao europeu e ao japonês.


O Fórum ATSC conta com empresas como a LG e a Aircode e fechou parceria com o FITec, centro de pesquisa brasileiro, para criar uma plataforma convergente com os dados americanos.


As primeiras demonstrações do serviço interativo desenvolvido pela FITec acontecerão em Brasília e em São Paulo, respectivamente, nos dias 23 e 27 deste mês.’


Daniel Castro


TVs e teles travam batalha por celular


‘Representantes das grandes redes abertas de TV entregaram ontem aos ministros Dilma Roussef (Casa Civil) e Hélio Costa (Comunicações) uma carta endereçada ao presidente Lula em que não pedem que o governo escolha o padrão de TV digital A ou B, mas, sim, um sistema que tenha ‘robustez’ para transmitir em alta definição (HDTV) e que tenha ‘mobilidade’ e ‘portabilidade’.


Mas, para as redes e até para o Ministério das Comunicações, o único sistema robusto, com recepção móvel (em celulares) e portátil (em carros) é o japonês.


O padrão europeu, segundo pesquisadores de TV digital, é semelhante ao japonês. Para as redes, no entanto, o europeu não interessa, porque foi desenvolvido para um continente que, por ter muitos países territorialmente pequenos, sofre escassez de freqüências e, portanto, privilegia o modelo ‘multicanal’ -uma mesma freqüência pode ser usada para até quatro canais de TV.


O padrão americano não serve às redes porque ainda não oferece portabilidade e mobilidade, por ter sido desenvolvido para um país em que se vê TV pelo cabo.


Já faz seis anos que as TVs brasileiras se definiram pelos japoneses. Hoje, a confiança das redes na escolha, pelo governo, do padrão nipônico é tanta que um alto executivo de uma delas disse ontem à Folha que ‘o que vai valer é a posição dos radiodifusores’, os ‘players’ básicos do negócio, ‘e as relações comerciais externas’.


Para as companhias telefônicas, ‘rivais’ das TVs, os radiodifusores estão tendo espaço privilegiado nas negociações com o governo. As redes já tiveram várias reuniões com ministros envolvidos na decisão. Ao final de uma delas, em dezembro, foram convidadas para um café com o presidente.


O ministro Hélio Costa, ex-repórter da Globo, é visto como um grande aliado das TVs e defensor do sistema japonês (ele afirmou que os japoneses foram os únicos que se comprometem a abrir mão de royalties). Mas Costa teria a resistência de Dilma Roussef.


Por trás da decisão do padrão a ser adotado pelo Brasil estão lobbies poderosos. Além dos sistemas e governos americano, europeu e japonês, há pressões das redes de TV, dos fabricantes de televisores e das telefônicas.


Há bilhões em jogo (fala-se que a TV digital movimentará até US$ 100 bilhões no Brasil) e novas tecnologias que devem mudar o jeito de ver TV e o uso do televisor. Com isso, as redes temem a entrada das teles no negócio delas.


A disputa das TVs com as teles promete. As redes querem que o governo determine que o telefone celular seja um receptor de TV digital sem que o usuário pague por isso, o que aumenta o poder publicitário delas. Mas as operadoras de telefonia móvel, que investem cerca de R$ 1 bilhão por ano em subsídios à fabricação de celulares, também querem ganhar.


O governo diz que sua decisão levará em conta não só as preferências das TVs, mas também contrapartidas, como a adoção, pelos donos do padrão, de aplicações de interatividade desenvolvidas no Brasil. Pesarão ainda o tamanho do mercado internacional de cada padrão e garantias.


Para o consumidor, ou telespectador, a decisão faz muita diferença. A escolha do padrão poderá pesar diretamente em seu bolso e terminar em uma televisão digital de melhor ou pior qualidade.’


Reinaldo José Lopes


Padrão nacional pode se tornar opção final


‘O fato de que o sistema brasileiro de TV digital tenha praticamente descartado seguir o padrão tecnológico americano na área não significa necessariamente que ele vá seguir um dos outros dois padrões atualmente disponíveis, o europeu e o japonês.


Segundo especialistas ouvidos pela Folha, o considerável grau de pesquisa realizado sobre o tema no Brasil pode significar que se opte por uma versão nacional, que consiga incorporar o melhor dos dois (ou três) mundos.


‘Existe uma série de evoluções históricas e tecnológicas’, afirma Gunnar Bedicks, do Laboratório de TV Digital da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. ‘Tecnicamente, está claro que o padrão mais robusto é o japonês, mas isso porque eles puderam examinar o padrão americano, que foi o primeiro, e o europeu, que veio depois, e aprender com as deficiências deles’, afirma Bedicks, que integra um dos grupos de pesquisa responsáveis pelos estudos técnicos ligados à implantação da tecnologia no país e enviados ao CPqD (Fundação Centro de Pesquisa e Desenvolvimento), órgão privado que coordena esses esforços.


‘Isso significa que, se viermos a optar por um padrão brasileiro, ele provavelmente será o melhor do mundo’, completa Bedicks.


‘Os americanos realmente pagam o preço do pioneirismo’, concorda Marcelo Zuffo, da Escola Politécnica da USP, também envolvido nos estudos. Para ambos os pesquisadores, a vantagem de seguir em parte os modelos japonês e europeu é a capacidade de trabalhar com uma gama de tecnologias móveis -conteúdo de TV para celular, por exemplo, ou mesmo a capacidade de captar o sinal numa TV convencional em movimento.


‘Temos de estar preocupados com como vai ser quando tudo isso estiver integrado num único chip’, diz Zuffo, cujo grupo já propôs que o uso do celular como controle remoto poderá ser viabilizado no futuro. ‘O sistema americano, por sua vez, foi desenvolvido para ser usado de forma fixa’, explica Bedicks, citando as desvantagens de adotar o padrão.


Segundo Zuffo, o interessante seria manter alto grau de compatibilidade com os sistemas europeu e japonês, com a adição de inovações destinadas especificamente à realidade brasileira. Uma vez que o projeto de implantar a TV digital no Brasil também mira a inclusão digital, o pesquisador da USP diz já considerar possível a colocação de um IP (protocolo de internet, na sigla inglesa) em cada aparelho de TV.


‘Isso prepararia o caminho para a integração entre a internet e a TV’, uma vez que o IP é o ‘RG’ de todos os aparelhos hoje conectados à rede mundial de computadores. A interatividade entre a audiência e os canais também foi contemplada de forma satisfatória nos testes feitos até agora, afirma Marcelo Zuffo.’


CENSURA
Painel do Leitor


Regra e exceção


‘‘Um dos pilares do regime democrático é a liberdade de informação. Por isso a imprensa exerce um papel fundamental, assim como o Ministério Público, que tem como função institucional a defesa desse regime. Há governos que temem essa liberdade e os questionamentos acerca dos seus atos: daí a censura como instrumento de autoproteção. Diante do baixo nível ético de alguns setores do governo e da política, a utilização desse instrumento imoral será uma constante. É de esperar que jornalistas e promotores sejam alvo de tentativas de amordaçamento. Há abusos, mas existem leis para punir os faltosos. A regra é o direito à informação jornalística, sendo vedada expressamente a edição de leis que venham a restringi-la. O sigilo é exceção. Que se cumpra a Constituição!’


Geraldo Rangel de França Neto, promotor de Justiça (São Paulo, SP)’


CINEMA BRASILEIRO
Luís Nassif


A troca de guarda no cinema


‘Um dos pontos centrais na discussão sobre os novos modelos de difusão -o pano de fundo em que entra, também, a questão da TV digital- é o desenvolvimento da indústria do audiovisual no país.


Na recente polêmica sobre as verbas da cultura -em que se envolveram Ferreira Gullar e Caetano Veloso e, depois, os cineastas tradicionais-, passou despercebido um ponto fundamental: está ocorrendo uma troca de guarda no cinema. A discussão ocorrida parece ter sido o último vagido de uma geração que está sendo superada pelos novos ventos.


Hoje em dia, há dois grupos bem definidos de cineastas brasileiros. Há a nova geração, que surge no rastro da diversificação e da modernização da economia e trabalha a economia do audiovisual. São pequenas ou médias empresas que atuam no mercado, que fazem filmes, mas, nos intervalos, produzem clips e comerciais, sabem tratar com fundos de investimento nacionais e internacionais e entendem a nova economia do cinema.


É a geração de Fernando Meirelles, Walter Salles, da empresa Conspiração (de Andrucha Waddington e outros). Esses produtores conseguem levantar recursos com fundos de capital de risco, tanto aqui como no exterior. Desde o início, pensam o filme como um projeto integrado. Hoje em dia, 50% do faturamento de um filme já vem da venda de DVDs. Há filmes que conseguem faturamento maior com a trilha sonora do que com a própria bilheteria. Se a legislação obrigasse as redes abertas e as pagas a adquirir parte da produção regionalmente ou de produtores independentes, esse mercado se ampliaria sensivelmente. Há pelo menos cinco mercados estaduais, com condições econômicas de emissoras afiliadas gerarem produção local -Bahia, Pernambuco, Brasília, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.


A relação com os fundos de investimento exige total profissionalismo por parte dessas produtoras. Esses fundos exigem estudo de viabilidade, colocam um produtor associado, incumbido de acompanhar a aplicação do dinheiro, analisam o retrospecto do diretor ou da produtora.


Na outra ponta, há a velha guarda, pessoal que sempre contou com apoio oficial e, por isso mesmo, descuidou-se de aprender os novos modelos de negócios -pessoas respeitáveis, mas desatualizadas, como Luiz Carlos Barreto, Zelito Vianna, Daniel Filho, que só fazem cinema e, em seus filmes, exploram uma única forma de faturamento, além de verbas oficiais: os ingressos.


Há claramente uma troca de guarda na área, que passou a ficar mais explícita nesse bate-boca das últimas semanas. A velha guarda não tem diálogo com o capital de risco, porque não conhece a sua língua. Por isso ficou excessivamente dependente de verbas oficiais, de patrocínios oficiais e de incentivos fiscais.


O modelo adequado de desenvolvimento da indústria do audiovisual está no fortalecimento das produtoras, como centros de negócio e de crescimento sustentado. Ou seja, um choque de capitalismo para o setor. É curioso que, antenado com a contemporaneidade, Caetano Veloso não tenha se dado conta desse novo quadro.’


REDE RECORD
Laura Mattos


Record planeja mais programas com verba pública


‘Além da série ‘Avassaladoras’, a Record planeja exibir mais programas produzidos com verba pública. A cúpula da emissora estuda parceria com entidades que recebem verba diretamente de governos e ainda podem captar recursos em empresas por meio de leis de incentivo, as Oscips (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público).


No Brasil, há atualmente 3.510 entidades autorizadas pelo Ministério da Justiça a funcionar como Oscips. Vão desde pequenas associações de assistência médica em cidades do interior até instituições famosas, como o Museu de Arte Moderna de São Paulo.


Por lei, as Oscips podem firmar acordos com governos municipais, estaduais ou o federal e receber recursos para tocar projetos em parceria com o poder público.


A estratégia da Record é se associar a Oscips cuja finalidade seja a ‘promoção da cultura’. Vago, o termo é previsto no decreto de 1999 que criou esse tipo de organização e poderia, em tese, incluir a produção de um programa de televisão. Há no país 268 Oscips registradas como culturais, 89 delas no Estado de SP. A Record não fala oficialmente sobre o assunto.


‘Avassaladoras’


No último domingo, a Folha revelou que a série ‘Avassaladoras’, cuja estréia na emissora será no dia 27, utilizou recursos públicos na produção. A Record, uma concessão pública, não poderia receber esse benefício. A operação, no entanto, foi legal, pois o projeto é da produtora independente Total Entertainment, em parceria com o canal pago Fox, que exibirá a série no Brasil e na América Latina.


‘Avassaladoras’ custou R$ 3,2 milhões. Desse valor, R$ 1,8 milhão foi obtido pelo artigo 39 da medida provisória que criou a Ancine (Agência Nacional do Cinema), cujo objetivo é fazer com que canais internacionais fomentem audiovisuais brasileiros. Isso significa que o canal Fox destinou 3% da receita bruta obtida no Brasil para a produção nacional.


Além disso, R$ 1,2 milhão advém do artigo 3º da Lei do Audiovisual, que autoriza a destinação de 70% do imposto de renda de produtores estrangeiros para audiovisuais brasileiros. Os R$ 200 mil restantes são da Lei Rouanet, pela qual empresas podem repassar de 1% a 2% do seu Imposto de Renda a projetos culturais.


A operação ‘Avassaladoras’ gerou polêmica. Especialistas ouvidos pela Folha elogiaram a abertura da Record à produção independente, mas avaliaram que o financiamento das TVs, que já são concessões públicas, deve ser debatido. As redes, disseram, teriam de oferecer ‘contrapartidas’.


Após a publicação da reportagem, a Ancine enviou mensagem à Folha reforçando que ‘a autorização para captação de recursos para o projeto ‘Avassaladoras’ se deu dentro de todos os preceitos legais’. ‘Ressaltamos que a Ancine não está distribuindo verba pública para a produção, mas autorizando a captação de recursos através de renúncia fiscal de empresas privadas’, diz o texto.


‘Dentro das atribuições de estímulo e regulação do mercado, consideramos louvável que uma série de uma produtora independente tenha sua veiculação em TV aberta e por assinatura. A emissora cumpre o seu papel de difusão, e a produtora independente é que é a beneficiária dos recursos incentivados’, completa a agência.


Marcos Bitelli, advogado das programadoras de televisão por assinatura, também se manifestou. Ele afirma que ‘a destinação do artigo 39 não é exatamente dinheiro público, mas sim verba que sai da receita das programadoras internacionais para investimento no produto nacional.’


Para Bitelli, a operação ‘Avassaladoras’ não é diferente do modelo de negócio já utilizado por longas-metragens nacionais, cuja produção, que utiliza recursos públicos, resulta da associação de produtores independentes com uma emissora de televisão aberta.


O diretor-geral da Associação Brasileira de Programação de Televisão por Assinatura (ABPTA), Carlos Alkimin, diz que o artigo 39 da Ancine, ‘além de fomentar a produção brasileira, amplia a sua veiculação em outros países por canais estrangeiros’.’


Folha de S. Paulo


Novela da Record supera ibope do ‘Jornal Nacional’


‘A novela ‘Prova de Amor’, da Record, ficou pela primeira vez à frente do ‘Jornal Nacional’ no ibope, ontem, por oito minutos. O pico, às 20h30, foi de 25 pontos, contra 21,6 do ‘JN’. Na média, a novela teve 20 pontos contra 25 da Globo.’


O DEMÔNIO
Carlos Heitor Cony


Ele está entre nós


‘RIO DE JANEIRO – Sempre me preocupei com o Demônio. Mais com ele do que com Deus. Afinal, se Deus é bom, justo e misericordioso, de uma forma ou de outra ele sempre dará um jeito de me ajudar, de me compreender ou de me perdoar. Consegue mais do que eu próprio, que nem sempre me compreendo e geralmente não me perdôo.


O Demônio é o oposto, sacaneia a humanidade inteira e a mim em particular. Como todo mundo, além do Demônio coletivo, que é um genérico de alta eficiência, tenho os demônios interiores, que são específicos, como os sapatos feitos sob medida. Mas, sinceramente, não precisava de tantos.


Passei o último fim de semana de molho, sem sair da cama. Li jornais e revistas que iam ficando numa pilha para leitura posterior e sempre adiada. Por Júpiter! Minha mãe tinha razão quando dizia que o Diabo estava solto.


A vida pública, que é aparentada com aquele tipo de mulher que a opinião politicamente incorreta classificava de ‘pública’, está cheia de demônios, com origens, feitios e propósitos diversos, mas conservando em cada um o eixo da malignidade, da astúcia e da safadeza.


Em outros tempos, cada jornal ou revista tinha os seus heróis, suas deusas, com amplo séquito de sacerdotes e coroinhas a proclamar honra e glória aos eleitos. Com o Demônio instalado entre nós, todos temos contas secretas nos paraísos fiscais, todos usamos e abusamos do caixa dois (embora muita gente nem tenha o caixa um), formamos quadrilhas, somos devedores relapsos dos impostos federais, estaduais e municipais, subornamos e somos subornados por todos os lados, não escapa ninguém, a não ser aqueles que investigam e preservam o sigilo das fontes.


Num Carnaval do passado, durante um baile então badalado, um pierrô de rosto pálido e olheiras profundas esfaqueou uma colombina cheia de pompons grená que se esfregou num Mefistófeles com roupas medievais. Um jornal deu razão a minha mãe: ‘O diabo está solto!’.’


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O Globo


Quinta-feira, 19 de janeiro de 2006


PROPAGANDA POLÊMICA
Fábio Vasconcellos


Liberada publicidade onde ‘outdoor’ foi proibido


‘Menos de uma semana após determinar que um outdoor fosse retirado do Forte de Copacabana, a prefeitura autorizou a instalação no local de uma garrafa inflável de aproximadamente 15 metros de altura. Assim como na semana passada, a peça publicitária divulga a marca de um refrigerante patrocinador da exposição da taça da Copa do Mundo de futebol, que acontece sexta-feira em Copacabana.


Para o prefeito Cesar Maia, não há problema em uma empresa de refrigerantes usar o Forte de Copacabana, que é tombado, para divulgar sua marca. Segundo o prefeito, a garrafa gigante é um artefato publicitário como outros usados em eventos na praia, diferentemente do outdoor instalado na semana passada.


— Nenhum problema. Num caso é propaganda permanente ( outdoor ). Neste, é apenas para dar cobertura a um evento, como ocorre com todos os eventos — disse Cesar Maia.


Chefe da fiscalização diz que evento não tinha autorização


Na semana passada, o chefe da Coordenadoria de Licenciamento e Fiscalização da prefeitura, Luiz Felipe Gomes, explicou que notificou a empresa responsável pelo outdoor porque o Forte de Copacabana é tombado e não poderia ter aquele tipo de publicidade. Ontem, ele afirmou que a notificação era apenas em relação à exposição da taça da Copa.


— Na semana passada, o evento não tinha autorização para usar o Forte de Copacabana e, por isso, não poderia ser instalado qualquer tipo de publicidade. Agora, posso garantir que o evento recebeu autorização da prefeitura — disse ele.


A assessoria da Coca-Cola informou ontem que toda a publicidade do evento no forte foi autorizada pelo prefeito. Lugar de importantes acontecimentos da História — como o movimento Dezoito do Forte, quando militares que faziam oposição ao presidente Epitácio Pessoa foram massacrados por tropas legalistas — o Forte de Copacabana fica numa área de 115 mil metros quadrados e está aberto à visitação desde 1987, quando passou a abrigar o Museu Histórico do Exército.’


DESENHO DE HUMOR
O Globo


Inscrições para o Salão de Humor encerram segunda


‘As inscrições para o XVII Salão Carioca de Humor, que será realizado em março na Casa de Cultura Laura Alvim, serão encerradas na próxima segunda-feira. O Concurso Nacional de Desenho de Humor continua sendo a grande vitrine para os novos talentos e o tema é livre. Para o primeiro lugar nas categorias caricatura, charge, cartum e quadrinhos serão distribuídos prêmios no valor de R$ 6 mil. O segundo lugar receberá R$ 4 mil e o terceiro, R$ 2 mil. O homenageado do Salão este ano será o cartunista Claudius, que comemora 50 anos de carreira.


O Salão abrirá espaço ainda para os esquetes teatrais, quando serão selecionados, entre os inscritos, os 32 melhores textos inéditos e de própria autoria que serão encenados durante o decorrer do evento. Serão distribuídos prêmios para os vencedores nas categorias de autor (R$ 6mil); esquete (R$ 6mil); diretor (R$ 3mil); ator (R$ 2mil) e atriz (R$2mil) . Os finalistas ainda terão direito a uma mini-temporada no Teatro Laura Alvim.


Maiores informações pelo telefone 2299 5583) ou no site da Funarj www.funarj.rj.gov.br.’


TV DIGITAL
Mônica Tavares


TV digital: modelo americano ainda no páreo


‘BRASÍLIA. O governo decidiu reabrir as negociações comerciais com representantes dos três padrões de TV digital — japonês (ISDB), europeu (DVB) e americano (ATSC) — um dia depois de técnicos terem descartado o sistema dos Estados Unidos e indicado que o melhor era o do Japão. O ministro das Comunicações, Hélio Costa, disse que o governo retomou as negociações, para verificar quais são as contrapartidas que poderão ser oferecidas.


Costa admitiu, contudo, que existem limitações para alguns sistemas. Ele disse que o governo brasileiro não descartou qualquer dos padrões de TV digital e que o momento é de negociação direta com japoneses, europeus e americanos:


— Se nós decidirmos o que está descartado e o que não está, prejudicamos a negociação. Foi uma posição que nós assumimos hoje (ontem), de voltar com todas as opções, para que todos possam oferecer uma contrapartida.


O ministro disse que o padrão de TV digital que será escolhido é aquele que estiver contido em 6 megahertz (MHz, faixa de freqüência), que possa fornecer a imagem com alta definição e, ao mesmo tempo, fornecer definição standard (vários canais na mesma faixa), portabilidade e mobilidade.


— O padrão que oferecer isso em 6 MHz pode ser considerado e aceito por todas as redes de televisão. Se você perguntar a um técnico, a um engenheiro, e eu não sou engenheiro, é possível que ele lhe diga que o padrão japonês neste momento atende a todas essas especificidades — afirmou Costa.


Emissoras pedem uma TV aberta a todos


Os representantes das emissoras de TV entregaram ontem à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, uma carta destinada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O documento, segundo Costa, especifica que é importante que a TV digital seja uma TV aberta, destinada a todos os brasileiros, que comporte a alta definição, permita o sistema standard , a portabilidade e a mobilidade. Ele contou que todos os radiodifusores estão unidos nesse posicionamento e que todas as redes brasileiras assinaram o documento.


Entre os modelos em discussão, uma das vantagens apontadas no sistema japonês de TV digital é que ele permite fazer interatividade por meio do canal de radiodifusão. Nos outros padrões, a interatividade é feita somente por meio da linha telefônica. O modelo de negócios brasileiro considera fundamental a interatividade por meio da TV aberta, por ela estar presente em mais de 90% dos lares brasileiros, o que permite a universalização do serviço.


O conversor que será usado para que os aparelhos de TV analógicos recebam as transmissões digitais ( set-up box ) está custando atualmente R$ 220. Mas o ministro acredita que, nos próximos seis meses, o preço possa cair significativamente. Ele defendeu ainda a criação de linhas de crédito do Banco Popular, para que o produto seja parcelado em 30, 40 ou 50 vezes.


Prazo para definição é 10 de fevereiro


O fim do prazo previsto para a escolha do padrão de TV digital a ser implantado no país é o próximo dia 10 de fevereiro. Embora o ministro reconheça que poderá haver algum atraso na conclusão do trabalho, ele disse que é importante que na primeira quinzena de fevereiro o sistema de modulação da TV digital seja decidido, porque são necessários de seis a oito meses para fazer um transmissor de TV digital.


As primeiras transmissões experimentais serão feitas em junho, na Região Metropolitana de São Paulo. Já as operações comerciais devem começar em 7 de setembro de 2006.


O ministro acrescentou ter apresentado aos técnicos do governo argentino, que estão acompanhando o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, em sua visita ao Brasil, as propostas brasileiras.


— Eles querem saber como estamos agindo e temos interesse em saber o que eles estão pensando — disse Costa.’


BOA NOTÍCIA
O Globo


‘Financial Times’ tem lucro após 4 anos no vermelho


‘Pela primeira vez desde 2002, o jornal britânico de negócios ‘Financial Times’ (‘FT’), uma das principais publicações sobre finanças da Europa, vai fechar seu balanço financeiro no azul. A informação foi dada ontem pelo grupo Pearson, proprietário do ‘FT’, informou o site do jornal ‘Guardian’.


De acordo com o ‘Guardian’, o grupo Pearson antecipou que a melhora nos ganhos com publicidade vai tirar o ‘FT’ do vermelho pela primeira vez em mais de quatro anos. O resultado, no entanto, só será anunciado oficialmente no próximo mês. O grupo acrescentou que a expectativa é que o jornal britânico tenha desempenho semelhante este ano.


Segundo o ‘Guardian’, a melhora nas receitas do ‘FT’ com anúncios ocorreu após um declínio de cinco anos para o ex-todo poderoso da mídia impressa britânica. As perdas vieram depois que o jornal adotou uma estratégia ambiciosa de crescimento global, levada a cabo pelo ex-editor Andrew Gowers.’


SUNDANCE FESTIVAL
Rodrigo Fonseca


Menu vai de Andrucha a Bruce Willis


‘Bruce Willis, ícone de popularidade na indústria audiovisual, será referência recorrente a qualquer um que vasculhe o Sundance.Org, site oficial do festival do cinema independente internacional, em busca de informações sobre sua edição 2006, que começa hoje em Park City, Utah, nos EUA. Sem dúvida, interessa mais aos brasileiros saber que o longa-metragem ‘Casa de areia’, de Andrucha Waddington, está entre os selecionados da World Dramatic Competition, e que os curtas nativos ‘Quimera’, de Eryk Rocha, ‘Desejo’, de Anne Pinheiro Guimarães, e ‘Início do fim’, de Gustavo Spolidoro, estão na seleção Shorts Programs.


Há ainda a co-produção entre México e Brasil ‘Sólo Dios sabe’, que traz Alice Braga no elenco. Mas a direção é do mexicano Carlos Bolado, e o filme é falado em espanhol.


— O Sundance talvez seja a principal janela de um filme estrangeiro para o mercado americano depois do Oscar — elogia Waddington, cujo filme, estrelado por Fernanda Montenegro, Fernanda Torres e Seu Jorge, passa amanhã na mostra.


Mas a curiosidade belisca quando se nota a presença de uma estrela de blockbusters como Willis em dois dos mais badalados filmes — ‘Luck number Slevin’, do escocês Paul McGuigan, e ‘Alpha Dog’, do americano Nick Cassavetes — na programação. Sabe-se que, há tempos, Willis é chegado a pequenas produções — vide ‘O indomado’ (1994) e ‘Ã beira da loucura’ (1999) — e que sua carreira não anda nos melhores dias. Robin Williams, outro que também está em Sundance, com ‘The night listener’, também não vive, profissionalmente, tempos de vacas gordas.


Experimentação estética à americana e à brasileira


Será então que Sundance virou o lugar de redimir trajetórias cinematográficas baleadas e perdeu o foco original que seus idealizadores, entre eles o astro Robert Redford, queriam: dar vez a profissionais que estão na periferia da indústria hollywoodiana? No últimos anos, cada vez mais astros passaram a ocupar o espaço antes reservado a rostos desconhecidos. Até filmes produzidos por Tom Cruise — caso do aclamado ‘Narc’, com Ray Liotta e Jason Patrick, lançado lá em 2002 — já passaram pelas telas de Utah.


— Acho que isso não é um problema do festival — diz Gustavo Spolidoro, diretor de ‘Início do fim’. — Pela importância que Sundance adquiriu, ele ficou muito visado. Há, nos EUA, outros festivais para independentes. Mas o Sundance, pelo crescimento que teve, atrai outros segmentos do cinema. Foi mais ou menos o mesmo que aconteceu no Brasil com Gramado, festival que hoje todo mundo critica por valorizar a badalação. Mas lá só lota de famosos e de revistas de fofocas porque o festival cresceu.


Mais preocupado com discussões formais do que em entender os meandros de Sundance, Eryk Rocha diz que não esperava ver seu experimental ‘Quimera’ na mostra americana.


— Não poderei ir porque estou ocupado com o lançamento de meu novo longa (‘Intervalo clandestino’) , mas seria uma chance de ver o cinema experimental americano.’


OLHARES DO MORRO
O Globo


O morro fotografa a si próprio


‘Uma instalação multimídia com 150 imagens de 16 fotógrafos é exibida no Centro Cultural Telemar até 5 de fevereiro. A exposição ‘Olhares do morro’ foi criada por jovens da agência de mesmo nome, que desde 2002 reúne gente da Rocinha, do Vidigal e da favela Santa Marta. Fugindo das molduras tradicionais, os fotógrafos criaram uma cenografia a partir do intercâmbio com designers da Escola Nacional Superior de Criação Industrial de Paris (ENSCI).


Criada e coordenada pelo fotógrafo francês Vincent Rosenblatt, a agência levou a mostra, em julho de 2005, para os Encontros Internacionais da Fotografia de Arles, como parte do Ano do Brasil na França. Ao lado da instalação, o Centro Cultural Telemar exibe trabalhos de Daniel Martins, de 19 anos, Ricardo de Jesus, de 20, e Ricardo de Sousa, de 24. Os três participam do Núcleo de Expressão Visual, trabalho paralelo ao da agência. Fechando a coletiva, o ensaio ‘Sente a pressão!’, de Vincent Rosenblatt, mostra o universo funkeiro de bailes da cidade.’


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O Estado de S. Paulo


Quinta-feira, 19 de janeiro de 2006


TECNOLOGIA
O Estado de S. Paulo


Intel e Yahoo derrubam as Bolsas


‘DOW JONES NEWSWIRES, REUTERS, AP – As empresas de tecnologia voltaram a prejudicar as bolsas de valores no mundo todo. Na noite de terça-feira, após o fechamento do mercado americano, o Yahoo e a Intel divulgaram seus balanços, considerados negativos por muitos analistas. Horas depois, a maré de baixas começou no Japão.


A Bolsa de Tóquio teve de encerrar o pregão 20 minutos mais cedo para evitar perdas maiores. A administração do mercado japonês tinha alertado que que as transações seriam suspensas se as ordens de compra e venda atingissem o limite e esse aviso aterrorizou os investidores, que correram para vender ações, derrubando mais de 700 pontos do índice. O Nikkei fechou em baixa de 464,77 pontos 2,94%), a maior a maior queda em pontos desde maio de 2004.


O presidente da Bolsa, Taizo Nishimuro, atribuiu os problemas ao aumento do volume de negócios na esteira da investigação que a Promotoria Pública de Tóquio realiza na companhia de serviços de internet Livedoor. A investigação desencadeou um derretimento nas ações do Nikkei, que acumular uma perda de 5,7% nos dois últimos dias. Mas nesta quinta-feira, a Bosa de Tóquio abriu em alta.


Influenciadas pelo Japão, a Bolsa de Frankfurt recuou 1,18% e a de Milão, 0,90%. ‘As quedas provocadas por Tóquio devem durar pouco e alguns investidores podem usar isso como uma oportunidade de compra’, disse um operador alemão.


No mercado londrino, o recuou chegou a 0,62%. E na Bolsa de Paris, 0,73%. Em Nova York, as empresas de tecnologia desabaram. As ações da Intel caíram 11,45% e as do Yahoo, 12,29%. Esses recuos levaram o índice Nasdaq, com as principais empresas desse setor, a recuar 1%. Já o índice Dow Jones teve uma baixa de 0,38%.


Os analistas, porém, não estão alarmados. Segundo eles, esses recuos são principalmente realizações de lucro, quando os investidores vendem os papéis para aproveitar os preços em alta.


‘As pessoas não estão em pânico por causa do Japão ou algo assim’, garantiu Russ Koesterich, gerente de portfólio da Barclays Global Investments.’


TV DIGITAL
Gerusa Marques


Emissoras preferem o padrão japonês para a TV digital


‘BRASÍLIA – As emissoras de televisão entregaram ontem ao governo brasileiro um documento no qual descrevem os critérios que consideram fundamentais para o padrão de TV digital brasileiro. As indicações das emissoras reforçam o padrão japonês, em detrimento do americano e do europeu. A decisão do governo, segundo o ministro das Comunicações, Hélio Costa, ‘está na reta final’. Apesar de o padrão americano ter sido tecnicamente descartado, o governo não excluiu a possibilidade de negociar as contrapartidas comerciais com os detentores das três tecnologias.


O documento foi apresentado ontem à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Os dirigentes das emissoras, entre elas a Rede Globo, SBT e Bandeirantes, pedem que a TV digital continue sendo aberta e destinada a todos os brasileiros, segundo relato de Costa.


‘A TV digital deve comportar a alta definição, a definição standard (com qualidade de imagem inferior), a portabilidade e a mobilidade (o sinal poder ser recebido por aparelhos em movimento). Cumpridas essas exigências, qualquer dos sistemas que forem apresentados será aceito pelos radiodifusores’, afirmou.


Costa não descartou nenhum dos concorrentes, mas disse que o japonês, neste momento, é o que atende a todas as exigências das empresas. ‘Se perguntar a um técnico, a um engenheiro, e eu não sou engenheiro, é possível que ele diga que o padrão japonês, neste momento, atende a todas estas especificidades. Nada impede que os europeus, amanhã, digam para nós que podem também preencher essas lacunas. E até os americanos’, afirmou.


De acordo com estudos técnicos, o padrão japonês permite, além da mobilidade, a possibilidade de oferecer serviços interativos sem precisar das redes de telefonia. O sistema europeu, por sua vez, foi pensado para fazer a interatividade pela linha telefônica, o que não agrada muito às empresas de televisão. Essa interatividade permitirá, por exemplo, a compra de produtos e a repetição de gols escolhidos pelo telespectador. Já o padrão americano não permite a mobilidade, por isso foi descartado pelos técnicos.


O governo, no entanto, decidiu manter os três sistemas no páreo até que seja tomada a decisão política. ‘Até porque estamos em um processo de negociação direta com os japoneses, europeus e americanos para saber quais são as contrapartidas’, disse o ministro, referindo-se a benefícios comerciais que o Brasil pode vir a ter com a escolha de determinado padrão. Segundo ele, uma das principais negociações em torno da escolha do padrão de TV digital é sobre o aparelho conversor de sinais digitais em analógicos. ‘Essa caixinha será o principal investimento que será feito pelo cidadão comum para receber os sinais’, afirmou.’


BELÍSSIMA
Patrícia Villalba


Megera morta e enterrada


‘RIO – Apesar dos protestos de parte da audiência, Bia Falcão ‘morre’ hoje em Belíssima. Morre entre aspas, porque pode reaparecer a qualquer momento, quem sabe no fim da novela, para apontar ela mesma quem tentou matá-la. A megera sofrerá um acidente de carro e, com o corpo teoricamente carbonizado, será reconhecida apenas pelas jóias – um anelzão de ouro com uma pedra de citrino. ‘Tudo acontece em novela, é uma obra aberta, como dizem’, observa Fernanda Montenegro, que interpreta a vilã na trama de Silvio de Abreu.


Há dois meses no ar com um elenco de primeiro time, entre jovens e veteranos atores, Belíssima é um grande sucesso. E se mantém com 45 pontos no Ibope, faça chuva ou faça sol, muito graças às frases cortantes ditas à queima-roupa por Bia – numa reedição da parceria notável Montenegro-Abreu. Tão elegante e sagaz quanto a megera da tela, e infinitamente mais amável do que ela, Fernanda recebeu o Estado entre as gravações de sua última cena, na garagem de um shopping na Barra da Tijuca, na sexta-feira passada.’


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‘Tenho de ser leão, mas sou só leoa’


‘RIO – Um grande ator nem sempre é um bom entrevistado. Fernanda Montenegro é. Em uma hora de gravação, dá ao entrevistador mais de 200 linhas de texto, precisas e bem pontuadas. Mesmo quando se recusa a comentar determinado assunto – no nosso caso, as crises de Brasília –, não lhe deixa sem resposta, e se faz interessante mesmo no silêncio. ‘Só quero dizer que o Brasil, visto do Rio de Janeiro, está uma tragédia’, diz. Nesta entrevista ao Estado, Fernanda fala sobre sua relação com a televisão, meio que não é a sua ‘sustentação artística e emocional’, mas com o qual gosta de flertar de vez em quando.


Como se despede da Bia Falcão, se é que se despede?


É, nunca se sabe. Novela é uma obra aberta, como eles dizem, tudo acontece. Eu fui, na verdade, contratada para fazer o que eu estou fazendo agora. O Silvio pensou a novela desse jeito. Os primeiros capítulos foram uma espécie de prólogo. Agora é que ela vai começar.


Silvio de Abreu, numa entrevista ao ‘Estado’, chegou à conclusão de que a Bia é uma vilã com razão, porque não age assim, loucamente. Como você vê a personagem?


Ela é uma assassina em potencial, sem dúvida. As razões são pragmáticas, e o poder mata, seduz, compra e se vende também. E eu acho que por este ângulo, a Bia tem muito da hora em que a gente está vivendo neste país. É um país que diz que não mata, e mata; que diz que não rouba, e rouba; que diz que vai salvar o pobre, e não salva.


Você não quer, não pode, não agüenta mais levar uma novela inteira?


Vou dizer a você: hoje em dia, eu preciso ser um leão, e só sou uma leoa. Não sou um leão para agüentar uma novela que dura um ano. E quanto mais se estica a novela, quanto mais a produção se estimula no melhor, mais trabalho se tem.


Houve mesmo uma tentativa da Globo de mantê-la no ar?


Não houve nada disso. A sinopse está sendo seguida rigorosamente. Eu fui contratada para estes capítulos e não estou fazendo leilão da minha permanência na novela. Acho que se a Bia continuasse, a trama ficaria castrada, porque muita coisa depende da morte dela.


Silvio, ele de novo, citou você – uma atriz indicada para o Oscar e está na novela das oito – para exemplificar o funcionamento do show biz brasileiro. Quais são as vantagens e desvantagens desse modelo?


Só temos vantagens. Temos uma frente de atores de altíssima qualidade, e o teatro e o cinema não absorvem essa mão-de-obra. E nada impede que você se multiplique para realizar a sua vida. Não tenho nenhum preconceito com relação à TV. Ela não é o meu chão, mas eu tenho muito prazer em levar para a TV a experiência que o palco me deu e me dá.


O Lima Duarte disse que o Silvio o convenceu a participar da novela dizendo que ele seria ‘marido da Irene Ravache e amante da Fernanda Montenegro’. O que foi que ele disse para convencê-la?


(risos) Olha, eu sonho em trabalhar com o Lima desde o Teatro de Arena, nos anos 60, mas a vida não nos juntou. Eu conheço a Irene desde que ela tinha 17 anos e apareceu num concurso do Teatro dos Sete, para freqüentar o curso do Gianni Ratto. Trabalhamos numa novela da Excelsior, mas acho que nem chegamos a contracenar. E o reencontro com o (Gianfrancesco) Guarnieri? O Pedro Paulo Rangel, a Ivone Hoffmann, que faz a Matilde e é uma atriz maravilhosa de teatro. Eu conheço a Carmen Verônica desde o teatro de revista. É um encontro de ‘n’ companheiros de vida, com as mesmas memórias.


E é quarta novela com o Silvio, não?


Sim, e eu acho que essa novela tem algo realmente novo, como Guerra dos Sexos teve. Ela é roteirizada quase como se fosse cinema. Só falamos o essencial, nossos diálogos não sobram. A minha personagem vai à casa da Katina (Irene) e do Murat (Lima) e em poucas falas curtas desencadeia o problema: ‘Não é seu filho. Ela estava grávida. Agora vocês se virem. Tenham um bom dia.’ E tem também uma coisa – Deus proteja o Silvio – que são esses ganchos dentro do capítulo. Cada break parece o final de um capítulo, e ele está agüentando isso até agora.


Está gostando de fazer uma personagem tão chique?


Estou fazendo cinema há quatro anos. Só no Casa de Areia (2005), eu fiz cinco velhas, uma delas velhíssima. Em O Outro Lado da Rua (2003), sou uma coroa perdida, uma senhorinha já entrada em idade, também pé-de-chinelo. Fiz a mãe do Prestes, em Olga, outra senhora. Fiz também Redentor (2004) e minha personagem também começa pé-de-chinelo. De modo que carrego as roupas da Bia com muita alegria. Me penteiam bem, me maquiam bem. Tem gente que comenta ‘nossa, você tem uma pele boa’ e eu digo ‘os anos estão aqui, é só olhar com cuidado’.


Bia Falcão foi inspirada na consultora de moda Constanza Pascolato?


Não. Eu acho que a Bia é mais conservadora na roupa. Constanza tem uma elegância tradicional, mas com um toque irreverente. Ela é a mulher mais elegante que eu vejo neste mundo da moda. Ao mesmo tempo, é audaciosa, sem nunca perder a medida. Já a Bia não é audaciosa, é enquadrada.


Quer falar de política?


Ah, não. Isso é outra enfermaria, e está muito calor no Rio de Janeiro. Só quero dizer que o Brasil, visto do Rio de Janeiro, está uma tragédia. Não sei como é visto do Piauí, de São Paulo, da Bahia. Do Rio de Janeiro, é de correr.


Você vê TV?


Na hora que posso. Vejo jornais, a TV fechada. Às vezes, dou uma olhada no que os colegas estão fazendo. Mas não sou assídua. Gosto muito da TV Senado.


O que acha do deputado cassado Roberto Jefferson ser apontado como excelente ator?


Lamento que toda a vez em que as pessoas, fora da nossa profissão, interpretam bem um mau caráter, se diz que merecem o Oscar, que deveriam estar no palco. Acho uma ofensa tão grande para a nossa profissão… É como se nosso meio de comunicação fosse algo ligado ao farsesco, à empulhação.


O Gigi (Pedro Paulo Rangel) disse à Bia que ela é digna de um Oscar, um dia desses.


Então, está vendo como essa coisa pega?


Tem gente que diz que não vai continuar acompanhando a novela depois que a Bia Falcão sair.


Vai sim. Ninguém pode imaginar o que vem de horror por aí. Confio no taco do Silvio de Abreu, porque é a quarta novela que faço dele. É uma cabeça de uma inventiva… Pode ter igual, mas melhor não tem.’


BIG BROTHER
Keila Jimenez


Ex-BBB pode processar Globo


‘Ele fez uma série de entrevistas e exames médicos. Foi convocado, assinou contrato, chegou a ser confinado no hotel com os outros participantes do Big Brother Brasil 6. Quando a chamada da atração entrava no ar, foi avisado, horas antes de entrar na casa do programa, que estava fora do reality da Globo. Leandro Moraes, participante eliminado do BBB antes da estréia do programa, deve processar a Globo.


‘Estamos analisando o contrato que ele assinou com a Globo e as medidas que vamos tomar. Pelo que entendemos, o contrato de participante do BBB ainda está em vigência e ele ainda tem o status de participante do atração’, fala o advogado de Leandro, César Marcos Klouri. ‘Vamos tomar algum tipo de providência, seja extra-judicial ou judicial. Caso não haja conversa com a Globo, poderemos entrar com um processo por quebra de contrato’, continua. ‘Meu cliente pediu demissão do serviço dele, pois iria participar do programa. Fora a situação delicada a que foi exposto por não entrar na atração. Está claro que ele teve um prejuízo.’


A alegação da Globo para a expulsão de Leandro um dia antes de o programa estrear foi a relação do participante com funcionários do canal, fato que ele teria omitido. O advogado do rapaz nega. ‘Leandro não tem amizade nem relação com ninguém lá da Globo. Ele conhece um filho de um diretor, mas a própria Globo já afirmou outras vezes que isso não é fator determinante para escolher ou para excluir alguém do processo de seleção do programa’, defende o advogado. ‘Ele não sabe por que foi excluído. Apenas o avisaram, já no quarto do hotel, que ele estava fora.’


A Globo, por meio de sua assessoria de imprensa, alega não ter nada mais a dizer sobre o caso.’


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