Wednesday, 13 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Jornais destacam disputa
entre TV Record e Globo


Leia abaixo os textos de quarta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 15 de março de 2006


ELEIÇÕES 2006
Editorial


O candidato alckmin


‘Poucas vezes se viu um processo de escolha de candidato presidencial tão atabalhoado e incerto quanto o que redundou na definição do nome de Geraldo Alckmin pelo PSDB. Acabou premiada a perseverança do governador, assentada no argumento de que a sua candidatura -embora menos cotada nas pesquisas de intenção de voto- seria mais natural e menos arriscada politicamente que a de José Serra.


O prefeito de São Paulo, sem ter obtido apoio unânime da legenda para lançar-se ao Planalto, recuou sob o temor de que a deflagração de uma disputa interna, a essa altura dos acontecimentos, agravaria agudamente as tensões no partido -o que provavelmente ocorreria. Ganhará a capital paulista, vendo afastado o risco de descontinuidade e incerteza administrativa, com a presumível permanência de Serra até o fim do mandato.


Apesar de seu discreto desempenho nas pesquisas, Alckmin levará trunfos para a campanha. Após 11 anos no governo do Estado mais rico do país -quatro na chefia do Executivo-, ostenta aprovação popular recorde para alguém em seu posto: 62% dos paulistas consideram sua gestão ótima ou boa. No rol das realizações de sua administração estão o rebaixamento da calha do rio Tietê, a aceleração das obras do metrô na capital e a construção da primeira fase do Rodoanel metropolitano.


Além de explorar o flanco ético -calcanhar-de-aquiles do petista Luiz Inácio Lula da Silva na tentativa de reeleger-se-, o governador paulista estará empenhado em promover-se como um administrador competente. Vai tentar convencer o eleitor de que é o postulante mais apto a gerenciar os negócios públicos.


A administração federal carece de um choque de gestão; é imperativo cortar gastos correntes, o que abrirá oportunidade para ampliar o investimento público e diminuir a carga tributária. Mas seria amesquinhar a disputa pelo cargo mais importante da República reduzir os problemas nacionais a uma questão gerencial.


A partir de agora, vão-se cobrar de Alckmin -e dos outros pleiteantes que forem confirmados- os planos concretos da plataforma de ‘mudança’ que o governador mencionou no discurso de ontem. O que o presidenciável do PSDB pretende fazer para combater a violência nas grandes cidades? Que alterações quer imprimir na economia? Como pensa reduzir a miséria e a desigualdade social? Que plano vislumbra para a educação? Com a palavra, o candidato tucano ao Planalto.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Não apareceu


‘Fim de tarde, entra Fátima Bernardes para divulgar que afinal ‘o PSDB anunciou Geraldo Alckmin como candidato à Presidência’. E o repórter:


– Serra não apareceu no encontro em que se fez o anúncio.


Pouco depois, também na Globo, ‘em seguida ao anúncio, Alckmin foi à prefeitura demonstrar que estão unidos’. Mas a primeira manchete do ‘SBT Brasil’ voltou ao assunto:


– A aclamação de Alckmin não foi a festa de unidade que desejava a cúpula tucana. Serra não estava lá, gesto que pode dar o tom de toda a campanha.


Serra não foi à cerimônia e FHC se manteve de cara amarrada a maior parte do tempo, ao vivo nos canais de notícias.


Da Santíssima Trindade, Tasso Jereissati e Aécio Neves ainda falaram burocraticamente, mas, como sublinhou o blog de Ricardo Noblat, ‘embora presente, o ex-presidente Fernando Henrique não discursou’.


Nas primeiras reações, nos sites e blogs, também não era outro o foco. Jorge Moreno, na submanchete no Globo Online, avaliou que ‘Alckmin vai ter que costurar as fissuras abertas com Serra’ e até parte do PFL.


Segundo o blogueiro, o líder pefelista Rodrigo Maia disse que ‘o partido ainda vai decidir se fará coligação com o PSDB’.


Gilberto Dimenstein, na Folha Online, e Alon Feuerwerker, em seu blog, se concentraram em explicar os motivos ‘por que Serra desistiu’. Uma razão lembrada por ambos foi o eventual ‘dano’ que seria causado ao prefeito pelo abandono de São Paulo. Mas Feuerwerker citou outras, entre elas, registre-se, ‘FHC acha que são grandes as chances de derrota para Lula’.


Em destaque no portal UOL, o blog de Fernando Rodrigues arriscou o que vem por aí:


– Com Alckmin, sucessão deve ter só primeiro turno.


Nos despachos das agências para o exterior, saudações ao perfil conservador do candidato do PSDB. Da Reuters:


– Um político que está em casa com a comunidade empresarial e financeira do Estado mais rico do Brasil… É popular com os investidores porque se espera que ele mantenha as políticas econômicas conservadoras… Católico devoto, ele é um conservador em questões sociais.


E da agência Dow Jones:


– Alckmin afirmou endossar as austeras políticas fiscal e monetária do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que esteve no cargo até 2002, e mantidas por Lula. São políticas populares entre os investidores.


A TV Globo cobre ao vivo o anúncio do PSDB; atrás, passa rindo e dançando o personagem de Lula no ‘Pânico’, da Rede TV!


Enfim, o poder


O ‘SPTV’, da Globo, quase só falou do futuro governador. E deixou escapar sua contrariedade ao perfilar o pefelista:


– Cláudio Lembro fez carreira à sombra do ex-presidente Jânio Quadros. Em 86, assumiu secretaria na administração Jânio e foi interino. Agora que Alckmin deixa o governo, Lembro e seu PFL enfim chegam ao poder no Estado de São Paulo.


Jeito humano


E já está no ar a campanha de Aloizio Mercadante no Estado. Concentrado na redução da desigualdade, o comercial traz o petista sorrindo e prometendo:


– A pobreza diminuindo, a oferta de empregos crescendo, o mínimo é o maior em 25 anos… É este governo que eu me orgulho de defender. É este jeito humano de governar que a gente quer trazer para São Paulo.


A MANCHETE


A coluna de blindados, ao vivo na Globo News


A imagem surgiu ao vivo na Globo News, tirada das câmeras de tráfego do Rio, ainda no final da manhã. Era uma coluna de carros militares pelas ruas da zona sul. Depois a mesma imagem abriu o ‘Jornal Nacional’, que não conteve o entusiasmo e deu a primeira manchete de William Bonner para a operação tão controversa -e seu inesperado resultado:


– Terça-feira no Rio de Janeiro. Um comboio militar se dirige à favela da Rocinha para procurar os fuzis roubados. No fim do dia, o Exército anuncia que as armas foram encontradas.


Já o lançamento da candidatura de Geraldo Alckmin foi sexta e última manchete, na escalada.’


TV DIGITAL
Elvira Lobato


Europeus pedem encontro com Lula sobre TV digital


‘Os presidentes das subsidiárias de seis indústrias européias fabricantes de equipamentos de telecomunicações enviaram carta ao presidente Lula em que pedem uma audiência para a discussão da TV digital. Lula, segundo a Folha informou na semana passada, já se decidiu pelo padrão japonês ISDB, defendido pelas empresas de radiodifusão, especialmente pela Globo.


Esperava-se que a escolha fosse anunciada oficialmente na sexta-feira passada, mas o comitê formado por nove ministérios envolvidos nas negociações pediu mais tempo para examinar as contrapartidas de japoneses e europeus, que têm polarizado a disputa.


Os presidentes das empresas Siemens (alemã), Nokia (finlandesa), Philips (holandesa), Rohde & Schwarz (alemã), Thomson (francesa) e ST Microeletronics (franco-italiana) assinam a carta enviada a Lula. Eles integram a ‘Coalizão DVB’, criada no final do ano passado em reação ao lobby dos radiodifusores em favor do sistema japonês.


Segundo a Folha apurou, a carta diz que a escolha do ISDB transformará o Brasil em reserva de mercado para as indústrias japonesas, já que nenhum outro país adotou esse padrão até agora, além do Japão, ao passo que 78 países já teriam optado pelo DVB.


Os executivos dizem que a reserva de mercado significará preços maiores para o consumidor brasileiro por falta de competição.


Outro ponto assinalado é o impacto da escolha do padrão japonês sobre os investimentos das indústrias européias de telecomunicações aqui instaladas. Esse argumento passou a ser publicamente colocado a partir do momento em que os ministros pediram mais prazo para analisar as propostas.


Os europeus receberam o adiamento como uma vitória parcial e dedicaram-se a criar fatos que justifiquem um novo adiamento. Em conversas informais, os executivos afirmam que o melhor cenário para o DVB seria o adiamento para depois das eleições, pois dificilmente o governo tomaria uma decisão contrária ao interesse das emissoras de TV em ano eleitoral.


Dentro dessa linha, a Siemens declarou que fará investimentos de R$ 100 milhões e empregará cerca de 300 pessoas, em Manaus, se o governo optar pelo DVB.


A ST Microelectronics anunciou a disposição de implantar uma fábrica de semicondutores no Brasil para transferência de tecnologia e fabricação de semicondutores ou displays de cristal líquido. Com isso, os europeus se equipararam aos japoneses, que já haviam manifestado, em carta, a intenção de examinar a implantação de uma fábrica semelhante. Até agora, nenhuma das partes se comprometeu, efetivamente, com a produção de semicondutores no Brasil. Os dois lados ainda estão no campo das intenções.


O presidente da ST Microelectronics, Ricardo Tortorella, tem audiência hoje com a ministra Dilma Rousseff,da Casa Civil, para detalhar a posição da empresa em relação à fábrica.


Na carta a Lula, os executivos apontam resultados positivos nos testes de funcionamento do DVB realizados no campus da Universidade de São Paulo na semana passada. É uma resposta a críticas feitas publicamente por engenheiros da Globo de que os testes teriam mostrado que o DVB seria inviável para São Paulo.


Japoneses


O empresário Yasutoshi Miyoshi, presidente da Primotec e um dos representantes do grupo japonês, qualificou de ‘uma grata surpresa’ o anúncio sobre a disposição da ST Microelectronics de vir a instalar uma fábrica no país. Segundo ele, os chips fabricados pela ST podem ser combinados com o sistema ISDB, o que permitiria a produção dos decodificadores (para que as TVs analógicas captem o sinal digital) no Brasil.


Miyoshi é presidente da Primotec, que representa indústrias japonesas, e participou dos encontros dos executivos japoneses com as autoridades locais.


Segundo ele, os japoneses aguardam o pronunciamento oficial e não se posicionam sobre a decisão a ser tomada pelo Brasil, ‘em respeito à sua soberania’.’


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Para Costa, proposta européia é ‘cópia’


‘O ministro Hélio Costa (Comunicações) afirmou ontem que os governos precisam dar suporte às propostas feitas por empresários nas negociações sobre a escolha do padrão de TV digital que será adotado no Brasil. Segundo Costa, os europeus (padrão DVB) fizeram na última quarta-feira uma ‘cópia’ da proposta que já havia sido feita pelos japoneses (padrão ISDB) há mais tempo.


Japoneses e europeus disputam a escolha do Brasil pelo padrão de TV digital e oferecem, em troca, a instalação no país de uma fábrica de semicondutores. Segundo a Folha informou na semana passada, o governo já optou pelo padrão japonês, preferido das emissoras de TV. A opinião das redes de TV é considerada importante pelo governo em ano eleitoral.


Ainda de acordo com a avaliação de Costa, os norte-americanos (padrão ATSC, já praticamente descartado) foram mais ‘honestos’ quando trataram das limitações do seu padrão. ‘Eu estou mais para acreditar nos honestos do que naqueles que fazem propostas mirabolantes de última hora’, disse o ministro.


A proposta de última hora é a dos europeus, que, na semana passada, encaminharam à ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) carta propondo discussão sobre a instalação de uma fábrica de semicondutores no país.’


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Japão quer tempo sobre fazer fábrica


‘A decisão de investir em fábrica de semicondutores (chips) no Brasil pode levar de seis meses a um ano, segundo estimativa do representante da indústria japonesa, Yasutoshi Miyoshi, que negocia com o governo contrapartidas para a escolha do sistema japonês de TV digital (ISDB).


Ele reafirmou ontem a proposta japonesa de estudar a viabilidade de implantação de uma fábrica no país, mas reconheceu que só após estudos será possível dimensionar a viabilidade do investimento.


‘Ninguém é capaz hoje de prometer alguma coisa sem que se faça uma análise profunda’, disse outro representante dos japoneses, Murilo Pederneiras, ao comentar que o investimento necessário seria da ordem de bilhões.


Em comunicado à imprensa distribuído ontem, Miyoshi considerou ‘oportuno’ o interesse da empresa européia ST Microeletronics de estabelecer uma unidade industrial no país.


A disposição da empresa franco-italiana, porém, estaria condicionada à escolha da tecnologia européia para a TV digital (DVB), uma estratégia da Coalizão DVB para manter seu padrão na disputa da preferência brasileira.


Miyoshi destacou que produtos da ST poderiam ser combinados com tecnologia japonesa para produção de receptores para o sistema ISDB.’


FRANÇA
João Pereira Coutinho


Televisão em preto-e-branco


‘Confesso: se a minha pele fosse ligeiramente mais escura, eu não gostaria de ter sobre mim o paternalismo das patrulhas. Discriminação positiva? Discriminação negativa? Não distingo. A cor da pele é a cor da pele. Elevar um fato natural a programa ideológico é tratar diferentemente quem se reconhece como diferente. É o princípio do racismo. Invertido.


Infelizmente, o presidente francês Jacques Chirac não concorda. Em novembro passado centenas de carros foram queimados na França por jovens ‘excluídos’ e com problemas de ‘auto-estima’? Chirac encontrou a solução: oferecer às massas revoltosas um jornalista negro no principal noticiário do país. Na cabeça de Chirac, quando as massas revoltosas assistirem à aparição de um âncora mais escuro na TV, elas irão imediatamente sossegar os neurônios e apagar os isqueiros. E ficarão, em adoração mística, perante um exemplar da espécie. Será preciso comentar?


Preciso é: a fantasia da ‘affirmative action’, que começou nos Estados Unidos na década de 1970 e se espalhou como um vírus por todo o mundo ‘civilizado’, apresenta dois problemas óbvios. Existe um problema moral, que se resume na pergunta simples: será legítimo discriminar positivamente grupos inteiros quando, evidentemente, não existem duas pessoas iguais? As patrulhas acreditam que sim. Elas não estão dispostas a tratar uma pessoa como pessoa, avaliando os seus méritos e punindo os seus deméritos. Elas preferem ignorar a individualidade de cada um, misturando tudo no mesmo saco ideológico. Não existe mais o Antônio, o Pedro, o Luís. Existem os ‘negros’. Os ‘latinos’. Os ‘índios’. Os ‘marcianos’.


Trata-se de um pensamento totalitário. E totalitário no sentido preciso do termo: olhamos para as experiências utópicas que sacudiram o século 20 e encontramos essa mesma abolição do indivíduo pela exaltação da coletividade. Pela exaltação do partido, da nação, da classe ou da raça. As conseqüências são imediatas: apagar a individualidade de um ser humano é, no fundo, apagar um ser humano. Isso já está acontecendo nos Estados Unidos: a discriminação positiva em escolas ou universidades acaba por alimentar no ‘discriminado’ a sensação de que a vida, e os seus feitos, não lhe pertence por inteiro. Pertence a um Estado invisível que põe e dispõe da sua existência. Aliás, não apenas o ‘discriminado’ se olha como um ‘inferior’. A sociedade tende a olhá-lo de igual maneira: como alguém que subiu a montanha com as pernas de terceiros.


Não admira que um problema moral se converta num problema prático: a ‘affirmative action’, valorizando a pele e desvalorizando a competência, acaba por ser um contributo adicional para mais pobreza e exclusão. Nenhum espanto: quando as universidades prescindem da excelência e optam pela cor, elas estão a atraiçoar gerações sucessivas de estudantes que abandonam qualquer esforço individual porque sabem que o esforço vale pouco quando a pigmentação da pele vale muito mais. Despreparadas e ignaras, o mundo profissional que as espera será implacável. A menos, claro, que novos mecanismos de ‘discriminação positiva’ continuem a perpetuar es sa proteção artificial.


Um erro, claro. Ao contrário do que se pensa, a melhoria substancial das condições dos negros nos Estados Unidos não começou com a ‘affirmative action’ na década de 1970. Começou com o fim da Segunda Guerra, ou seja, três décadas antes. Existe aqui uma lição? Existe: só uma economia competitiva e vibrante, como a economia americana pós-1945, permite uma melhoria generalizada das condições de vida.


Exatamente o contrário do que sucede hoje em França: com um Estado burocrático e irreformável, que afasta o investimento e paralisa a economia, Chirac pode pintar os jornalistas de azul, verde ou amarelo. Mas o futuro da França, e até da Europa, será mais negro que o novo âncora.’


RECORD vs. GLOBO
Daniel Castro


Record assusta Globo, que torce pelo SBT


‘A nova novela da Record roubou alguns telespectadores de ‘Belíssima’: os principais executivos da Globo assistiram atentamente a ‘Cidadão Brasileiro’ anteontem. Ao final, suspiraram aliviados, porque acharam a produção nada excepcional.


Gente do primeiro time da Globo reagiu a ‘Cidadão Brasileiro’ com desdém. Para alguns, a novela é chata e não tem a menor chance contra ‘Belíssima’ (da qual só tirou uns três pontos). Para outros, a Record foi incoerente ao sacrificar o ‘Jornal da Record’ _exibido só depois da novela.


Essas reações mostram que a Record assusta a Globo, sim, pelo menos a longo prazo.


A Globo está preocupada com a Record como nunca esteve com o SBT. As perguntas que ecoam pela Globo atualmente são: até onde o projeto da Record é sério? A Record resistiria a uma novela que fracassasse? Vai ser tão profissional na relação com anunciante e telespectador como a Globo é?


A Record já causa desconforto à Globo não pela audiência e pelo faturamento, mas porque copia parte de sua programação e vem ‘roubando’ seus profissionais. E tem uma fonte de financiamento ‘desleal’: cerca de R$ 240 milhões por ano saem da Igreja Universal.


A Globo, quem diria, torce agora para o SBT reagir. O problema é que, no SBT, só consegue enxergar um departamento comercial cada vez mais fraco. E a Telesena e o Baú já não são mais os mesmos.


OUTRO CANAL


Ringtone Virou objeto de desejo na cúpula da Globo uma campainha de celular com a vinheta do plantão de jornalismo _aquela que interrompe a programação para noticiar tragédias, morte de papa, guerras. O ringtone, no entanto, é pirata. E a Globo avisa que não vai licenciá-lo, para não vulgarizar seu produto.


Espeto 1 A Globo voltou a divulgar para a imprensa audiências prévias de suas produções. Em janeiro, a rede suspendeu a divulgação desses números depois que a Record anunciou ter batido o ‘Jornal Nacional’ numa prévia, que acabou não sendo confirmada pelo Ibope. Na época, a Globo disse que prévias são ‘irreais’.


Espeto 2 Um dos argumentos da Globo para ‘desmoralizar’ os 15 pontos do primeiro capítulo de ‘Cidadão Brasileiro’ é que a novela foi ao ar (e deve ser assim até hoje) sem intervalos. Mas ‘Bang Bang’, na segunda, ‘surfou’ durante 40 minutos sem comerciais.


Interrogação Novo diretor de teledramaturgia do SBT, Herval Rossano mandou anteontem parar as gravações de ‘Cristal’ por tempo indeterminado. Vai trocar vários profissionais da equipe técnica, principalmente os diretores de gravações.


Belíssima Ao sortear um carro em promoção de ‘Cidadão Brasileiro’, Ana Hickmann disse três vezes que a carta vinha da cidade Anópolis. Pois Anópolis realmente existe. Fica na Grécia.’


Laura Mattos


Briga Record x Globo é melhor novela


‘Melhor do que ‘Sinhá Moça’ e ‘Cidadão Brasileiro’, as novelas de época que estrearam anteontem, é a contemporânea história da disputa entre Globo e Record por audiência. É esse thriller que explica cada tomada de Débora Falabella, a sinhazinha, e de Lucélia Santos, a sinhazona.


Teoricamente, as duas não são concorrentes (‘Sinhá’ é das seis, ‘Cidadão’, das oito). Mas na ‘supersegunda’ representaram o arsenal da guerra do Ibope. A Globo virou cinema: câmeras de alta definição foram o grande trunfo da estréia de ‘Sinhá’. E a Record virou Globo, ou quase: texto, direção e elenco de ex-globais eram as armas do primeiro capítulo de ‘Cidadão’, que ainda precisa superar alguns problemas técnicos.


Ibope


Ao menos no primeiro dia, o resultado foi bom a ambas. ‘Sinhá’ marcou 36 pontos, um acima da estréia da antecessora, a recordista ‘Alma Gêmea’. ‘Cidadão’ obteve 15, no horário do ‘Jornal Nacional’ e de ‘Belíssima’, em que a Record não costuma passar dos dez (cada ponto equivale a 52,3 mil domicílios na Grande SP).


‘Sinhá’, remake da novela de Benedito Ruy Barbosa (1986), quis mostrar superioridade técnica com as câmeras que aproximam as imagens à película cinematográfica. Foi um capítulo bem cuidado, com iluminação acima da média noveleira. Resta saber se a Globo manterá o investimento.


Ricardo Waddington, que tanto enquadrou o Leblon de Manoel Carlos, cumpriu a missão das cenas barboseanas de cafezais. O close de grãos lembrou ‘Renascer’, uma das mais bem-sucedidas novelas de Barbosa. Débora Falabella certamente será uma sinhá melhor que Lucélia Santos, apesar do mito. Osmar Prado e Patrícia Pillar são escalações garantidas para pais da mocinha.


Danton Mello, o herói, não leva Oscar, mas dificilmente ficará aquém de Marcos Paulo na primeira versão. O capítulo mostrou a morte de Pai José (Milton Gonçalves). Não havia poeira no cenário. Senzala, tronco e roupa dos escravos brilhavam. Pai José trajava bata quase fashion, que, após chicotadas e no leito da morte quase sem sangue, mantinha o branco de comerciais de sabão em pó. Foi uma cena teatral, diriam defensores. Mas o fato é que a Globo não arriscaria ‘sujar’ um ambiente que aparece na TV com a nitidez da alta definição. Ainda mais após o telespectador, em sua avaliação, ter rejeitado a poeira do Velho Oeste de ‘Bang Bang’.


De resto, o texto de Barbosa é uma trincheira nesse época de mexicanização da teledramaturgia brasileira, e a Globo não deverá romper tão cedo a lua-de-mel com o espectador das seis.


Já a Record não terá vida tão fácil. ‘Cidadão’ fez boas tomadas iniciais (também de cafezais), mas apresentou luz foi falha, especialmente quando o protagonista Antônio Maciel (Gabriel Braga Nunes) e a vigarista Fausta (Lucélia Santos) se agarravam na praça. Na TV da Universal, aliás, o casal protagonizou cenas de apelo sexual acima da média da TV antiuniversal (e, até por isso, Lucélia, a balzaca, tem urgentemente de abandonar aquela voz infantil).


Lauro César Muniz tem tudo para dar um passo à frente na nova fase da Record. Ousa ao criar um personagem central, o tal cidadão brasileiro, distante do clichê do mocinho. Maciel ameaça denunciar a corrupção, mas envolve-se nela (seria um Roberto Jefferson, na observação de Nelson de Sá, colunista da Folha).


Não é o caminho fácil de ‘Prova de Amor’. Mas, se der certo, a vitória terá sabor mais autêntico.’


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O Globo


Quarta-feira, 15 de março de 2006


TELEVISÃO
Artur Xexéo


A jurada e o colunista


‘Eu sei que você nem quer ouvir mais falar em carnaval. Já deve estar pensando na Páscoa. Ou comentando os dois primeiros episódios da segunda temporada de ‘Lost’… Por falar nisso, deixa eu ver se entendi: a Globo só vai exibir a segunda temporada do seriado no ano que vem? O espectador vai ter que esperar as próximas férias do Jô Soares para saber o que tem dentro da escotilha? Eu, hein, Rosa! Mas, enfim, como o troca-troca de carnavalescos ainda é noticia de jornal, é bem capaz de o leitor se interessar por algum rescaldo do tríduo momesco. Então, voltemos a ele.


Primeiro chegou um e-mail. No assunto, vinha a explicação: ‘Direito de defesa de minhas notas’. Era a jurada de alegorias retrucando a avaliação deste colunista de que o júri foi incompetente no desfile deste ano. Arquivei. Aí chegou o segundo e-mail. Este era um tantinho mais desaforado. Reproduzo-o:


‘Continuo aguardando resposta ao meu e-mail enviado no dia 8 de março deste ano de algum responsável, em virtude do referido comentário feito pelo colunista deste jornal Arthur Xexeo, particularmente a minha pessoa em sua coluna na mesma data, sua maneira incoerente de me qualificar como ‘incompetente’. Me admira muito um intelectual que tem em mãos um dos maiores meios de comunicação deste país se referir um outro profissional de maneira tão ofensiva sem base nenhuma para tanto, pois nem ao menos conhece alguns dos meus trabalhos para que pudesse avaliá-los e assim poder criticá-los. Aceitaria com maior prazer sua opnião, pois como disse no outro e-mail: ‘críticas são sempre bem vindas’, mesmo porque sou daquelas que não costumo me acomodar quando entrego um trabalho, por mais que meus clientes o admirem e se engrandeçam com ele, quero ser mais no próximo, mais criativa, mais detalhista, mais perfeccionista. O que não aconteceu com as notas dadas às escolas, está, talvez, ocorrendo neste momento, estou sendo ‘garfada’ no meu direito de defesa.’


Mantive o estilo da jurada para não correr o risco de deixar passar alguma intenção escondida. Confesso que não havia publicado a defesa de ‘Cris Moura, arquiteta e urbanista’ porque não havia entendido que ela o queria. Ela se queixa de não ter obtido resposta. Mas, ora, ela não perguntou nada, por que eu teria que responder alguma coisa? Cris Moura quer a palavra? Então, a palavra é de Cris Moura. Qualquer problema no entendimento da missiva deve ser creditado ao estilo da missivista, que continuará sendo mantido:


‘É fácil criticar o trabalho alheio sem ter embasamento para tal. (…) Todos estão ali por mérito de seus trabalhos, não há nenhum incompetente, é que damos as notas. Lembro ainda que o desfile é comparativo, ganha o que melhor interpretar as regras e o que menos apresentar defeitos na Avenida. O que todos queremos é: inovação, criatividade, acabamento, riqueza de informações visuais e detalhes, ousadia, e acima de tudo, que tudo isto funcione de forma sincronisada e perfeita, para que possamos fazer o nosso carnaval ser um grande espetáculo.


Desta forma não acredito que o carnaval carioca não esteja preparado para inovações, pelo contrário, estamos todos receptivos a ela, e muito menos acredito que a Tijuca tenha sido ‘garfada’.


(…) Começarei pelo caso do elemento Fuscão Preto. Chamarei desta forma porque este não é uma alegoria, pela própria definição do carnavalesco é ‘uma instalação gigante composta por automóveis reais, recolhidos em ferro velho, uma escultura de arte contemporânea’, esta, talvez, já não pudesse ser avaliada, pois não somos críticos de arte, mas sim, julgadores de alegorias de carnaval. O carnavalesco pode cedê-la a um museu, é lá que se encontram as esculturas e obras de arte.


No carro ‘Mamãe eu quero’, o tal da chupeta, digo que aquilo era um gigantesco brinquedo. Simpático, cumpria seu papel de andar pela avenida, mas não houve exploração do tema, ficou na básico, por isto sugeri a iluminação, mas cabe a criatividade do carnavalesco adornar sua alegoria.


Já o carro dos ETs era um grando carrossel, ao invés de cavalinhos tínhamos bicicletas e cujos ciclitas usavam um vestuário sem criatividade, sem detalhes, faltou a fantasia, algo que nossa imaginação traz para a realidade sem obrigação de sermos fiel ao real. Seus ETs pulando poderiam ser crianças devidamente fantasiadas e que colocadas em braços mecânicos teriam movimento.


(…) Está aí a justificativa para a perda do título da Tijuca. Talvez tenha faltado ao nosso carnavalesco Paulo Barros, que realmente inovou o carnaval há 2 anos atrás, a delicadeza de ler e absorver as críticas feitas anteriormente a ele. Toda e qualquer crítica só vem para o bem, é sinal que podemos crescer, melhorar, que podemos ser mais do que acreditamos ser. Mas para isto precisamos ser humildes para aceitar nossos erros e reavaliar nosas certezas. A Tijuca perdeu para ela mesma, esta é a pior dor.’


Não sei, não, mas agora tenho certeza de que a Unidos da Tijuca foi injustiçada! E, pensando bem, acho que até as escolas mais bem classificadas do que a Unidos da Tijuca também foram injustiçadas. A Justiça é cega!’


TV DIGITAL
Mônica Tavares


TV digital: Japão promete estudo sobre fábrica


‘Apesar da negociação intensa com o governo, os representantes do padrão japonês de TV digital não garantem a construção de uma fábrica de semicondutores (componentes eletrônicos) no país. A oferta posta na mesa do conselho interministerial montado para escolher o padrão é a elaboração de um estudo de viabilidade de instalação, que seria entregue entre seis meses e um ano.


O representante no Brasil do chamado Grupo Japonês, Yasutoshi Miyoshi, disse que diversos aspectos serão considerados, como infra-estrutura, mão-de-obra e tipo de semicondutor:


– A proposta é estabelecer um estudo conjunto Brasil-Japão. Até o momento a proposta está nestes termos.


O ministro das Comunicações, Hélio Costa, afirmou que o Brasil continua negociando com europeus e japoneses. Ele confirmou que recebeu uma carta da fabricante européia de semicondutores ST Microeletronics (STM) acenando com a possibilidade de instalar uma fábrica no Brasil. Isto serviria de contrapartida à escolha do padrão europeu. Por isso, possivelmente é que foi aberta a discussão com os europeus, disse.


Na ausência de Costa, os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil), Antonio Palocci (Fazenda) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) se reuniram segunda-feira com um representante da Comunidade Européia e cinco embaixadores (França, Áustria, Itália, Alemanha e Finlândia). Hoje foi a vez de o embaixador do Japão, Takahiko Horimura, reunir-se com Costa. Os japoneses confirmaram a linha de crédito para os radiodifusores de US$ 500 milhões.


O ministro disse que o governo está tentando fazer com americanos, europeus e japoneses uma negociação governo a governo. Segundo ele, a preocupação é atender à situação da televisão no Brasil, que é aberta e precisa de um sistema robusto de transmissão. E qualquer dos modelos que atenda a essa situação técnica é bom para ele.


Costa espera que ainda este mês possa ser escolhido o padrão – a decisão deveria ter sido tomada na sexta-feira, mas os ministros pediram mais tempo para discutir a questão industrial. Hoje, o conselho interministerial recebe a STM novamente e depois analisa as propostas.’


TELEVISÃO
Amelia Gonzalez


Para ligar a televisão e se desligar do mundo


‘Para continuar agradando ao público seduzido pela luta do bem contra o mal e por questões relacionadas à existência de vida após a morte, eixo de ‘Alma gêmea’, só mesmo com uma trama e cenas bem fortes. Pois Milton Gonçalves, o pai José do primeiro capítulo de ‘Sinhá Moça’, levou 50 chibatadas do feitor vivido por Humberto Martins e penou muito no tronco. A cena, embalada por cânticos originais dos escravos, demorou demais, ficou além do suportável. E terminou de maneira forte, com a morte do negro nos braços de duas crianças brancas que o adoravam. A estréia de ‘Sinhá Moça’, pelo que se viu, veio com tudo para fazer o público chorar e se indignar.


Não há como contestar os clássicos, e ‘Sinhá Moça’ é um deles. O texto original de Maria Dezonne Pacheco Fernandes, adaptado para a televisão por Benedito Ruy Barbosa em 1986, está recebendo poucos retoques das filhas do autor, Edmara e Edilene Barbosa, para esta versão. Não precisa mesmo mexer muito.


A história do amor proibido entre jovens no fim do século XIX tem o tom ideal para quem quer ligar a televisão e se desligar do mundo. E dá uma dose de otimismo porque, afinal, estamos mesmo em tempos muito mais razoáveis sob este aspecto. Trata-se de uma época que ainda nem considerava crime torturar até a morte um homem só porque ele era negro. Um passado horrível. Melhor seria podermos desistir dele de vez. Mas especialistas acreditam que só mexendo na ferida será possível espanar dos nossos dias o ranço daquela época. Que seja.


Elenco bem escolhido, luz na medida certa


Sob o ponto de vista sociocultural, portanto, o remakeé muito bem-vindo. Sobretudo por ter escolhido um elenco irrepreensível. Osmar Prado como Barão de Araruna e Patricia Pilar como Cândida estão em mais um de seus melhores papéis. Não poderia haver feitor melhor do que Bruno, vivido por Humberto Martins. E a interpretação de Milton Gonçalves foi na medida.


A direção, sob responsabilidade de Rogério Gomes no núcleo de Ricardo Waddington, jogou certo com a luz no primeiro capítulo. O público percebeu a passagem de uma luz densa e forte na senzala para uma outra mais leve, primaveril, solar, no trem, quando os jovens Rodolfo (Danton Mello) e Sinhá Moça (Debora Falabella) se encontraram e viveram um momento que marcará a vida dos dois para sempre.


‘Sinhá Moça’, enfim, é um produto de primeira, como a Rede Globo sabe fazer muito bem. No entanto, também é bom lembrar que é um gol certeiro. Autores e diretores vêm alertando para a necessidade de se criar novos times na emissora, talvez justamente para que seja possível ousar mais, mesmo arriscando não cair no gosto dos noveleiros conservadores. Pode valer a pena. Enquanto isso não acontece, porém, que venha ‘Sinhá Moça’. O público agradece a produção tão esmerada.’


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 15 de março de 2006


TV DIGITAL
Gerusa Marques


Costa ataca oferta européia para TV


‘O ministro das Comunicações, Hélio Costa, disse ontem que governo brasileiro quer que o compromisso de produzir semicondutores no Brasil seja assumido pelos governos detentores do padrão de TV digital, e não apenas pela iniciativa privada daqueles países. Na semana passada, a empresa franco-italiana ST Microeletronics entregou ao governo brasileiro uma carta demonstrando interesse de instalar no Brasil uma fábrica de chips, usados em televisores digitais. Para o ministro, defensor do padrão japonês, a proposta dos europeus é ‘mirabolante’ e ‘de última hora’.


‘Os empresários dizem uma coisa, mas queremos saber se o governo dá suporte a isso.’ Com a oferta da STM, o padrão europeu voltou a concorrer com o japonês, que já havia sinalizado a possibilidade de instalar uma indústria desse tipo no Brasil. ‘Na sexta-feira, quando fizemos aquela grande reunião, apareceu lá uma carta da STM, fazendo mais ou menos uma cópia daquilo que os japoneses tinham feito’, afirmou Costa.


Na segunda-feira, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, recebeu embaixadores da Finlândia, Alemanha, Áustria, França, Itália e União Européia para discutir o assunto. Hoje, haverá nova reunião entre europeus e os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, Dilma e o próprio Costa. ‘Acho que eles (europeus), na verdade, acordaram para esse procedimento’, disse o ministro referindo-se às negociações com os governos. ‘Nós tentamos fazer isso e não conseguimos. Com os japoneses conseguimos.’


Ao comentar a proposta dos europeus, Costa disse que os detentores do padrão americano ‘foram muito mais honestos e sinceros’ porque disseram que não poderiam atender a todas as exigências técnicas do governo brasileiro neste momento. ‘Eu estou mais para acreditar nos honestos do que naqueles que fazem propostas mirabolantes de última hora.’ Costa continua insistindo na idéia de que o padrão europeu precisa de adaptações técnicas para atender às exigências, mesmo que venha a ser confirmada a instalação da fábrica por indústrias européias.


Segundo o ministro, o sistema europeu não está preparado para oferecer televisão digital em alta definição, com mobilidade e portabilidade, no canal de 6 megahertz, como quer o Brasil, precisando de um canal adicional. ‘Nossa preocupação é que o Brasil possa ter televisão aberta, com um sistema de modulação (transmissão) que atenda a essa dificuldade que nós temos. Qualquer dos modelos que atender a essa situação técnica, para mim está bom.’


Ele ressalta, no entanto, que a instalação da fábrica é uma possibilidade que tem de ser explorada. Costa disse que ainda não se falou em valores para a instalação da fábrica, mas uma indústria dessas exige um investimento de US$ 2 bilhões a US$ 3 bilhões. Ontem, o ministro recebeu em seu gabinete o embaixador do Japão, Takahiko Horimura. Nenhum dos dois quis dar detalhes do que foi tratado no encontro.


No dia 10 vencia o prazo para escolha do padrão de TV digital que será adotado no Brasil, mas foi adiado por tempo indeterminado a pedido dos nove ministros que compõem o Comitê de Desenvolvimento do Sistema Brasileiro de TV Digital. Costa espera que a decisão saia ainda neste mês. ‘Os entendimentos estão indo tão bem que já despertaram até o interesse dos europeus.’ Fazem parte da coalizão que defende o modelo europeu as empresas Nokia, Philips, Siemens, Rohde Schwarz, STM e Thales. Do lado japonês, estão a Panasonic, Sony, Semp Toshiba e NEC.’


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Japão quer 6 meses para definir fábrica


‘Os japoneses só saberão se a instalação de uma fábrica de semicondutores no Brasil é viável num prazo de seis meses a um ano. Esse prazo, previsto ontem pelo representante do consórcio do padrão japonês de TV Digital (ISDB), Yasutoshi Miyoshi, pode atrasar o processo de escolha do padrão de TV digital que será adotado no País. A produção, no Brasil, desse tipo de componente usado em televisores mais modernos é vista como condição fundamental pelo governo brasileiro para tomar a decisão.


Os japoneses, segundo Miyoshi, somente se comprometeram, até o momento, a realizar esse estudo de viabilidade em conjunto com o governo brasileiro. Qualquer posição mais concreta sobre a fábrica, segundo Murilo Pederneiras, que também representa o consórcio japonês, está condicionada ao resultado desse estudo. ‘É impossível se comprometer com um investimento que está na ordem de US$ 1 bilhão sem fazer um estudo aprofundado. Ninguém é capaz, hoje, de prometer alguma coisa sem que se faça essa análise profunda da questão’, afirmou.


Segundo Miyoshi, há diversos aspectos que têm de ser avaliados nesses estudos, como infra-estrutura, logística, mão-de-obra e o tipo de semicondutores que se quer produzir – se servirão só para televisores ou também para celulares e computadores. ‘A intenção desse estudo é encontrar um nicho de mercado onde o Brasil poderia se inserir como fabricante de semicondutores para as necessidades internas e para exportação’, afirmou.


Em comunicado, o consórcio ISDB reafirmou a intenção de abrir uma linha de crédito de US$ 500 milhões para as emissoras de TV implantarem a transmissão digital. Os japoneses disseram estar satisfeitos com a manifestação da empresa franco-italiana ST Microelectronics, ligada ao padrão europeu, de estudar a montagem de uma fábrica de semicondutores, pois seus chips são compatíveis com os televisores digitais do modelo japonês.’


INTERNET
Renato Cruz


Terra quer crescer com voz sobre IP e vídeo


‘O provedor Terra, do Grupo Telefônica, considera os serviços de voz sobre protocolo de internet (IP, na sigla em inglês) e de televisão via rede essenciais para o seu crescimento. ‘Temos apostas importantes este ano, como o VoIP’, afirmou o diretor-geral do Terra Brasil, Paulo Castro, que assumiu o posto recentemente. Ele se referiu à sigla de voz sobre IP, que começou experimentalmente em novembro e teve lançamento oficial em janeiro. A expectativa da empresa é que, até o fim do ano, 30% dos seus clientes de banda larga usem o serviço.


O Terra fechou 2005 com 2 milhões de clientes, sendo 1,3 milhão de banda larga e o restante discado. ‘Temos 50% do mercado residencial de banda larga’, disse Castro. O executivo prevê um crescimento de 30% a 40% ao ano para o mercado total: ‘Vamos promovê-lo mais agressivamente.’


A receita bruta do Terra chegou a R$ 694 milhões no ano passado, o que representou um avanço de 10% sobre 2004. Para este ano, a expectativa de alta é de 20%. Da receita total, o acesso corresponde a 50%, a publicidade a 20%, os serviços a pequenas e médias empresas a 15% e os serviços de valor adicionado – como VoIP, disco virtual e fotolog – aos 15% restantes. ‘Há três anos, 80% vinham do acesso’, afirmou Castro.


O diretor-geral do Terra identifica uma retomada do mercado de publicidade na internet, nos últimos dois anos. Para o Terra, a receita com publicidade cresceu 35% em 2005. ‘É bem diferente do boom de 1999 e 2000’, comparou o executivo. ‘Antes do estouro da bolha, o mercado se auto-alimentava. Eram as próprias empresas pontocom os principais anunciantes.’


Hoje, são empresas tradicionais os principais anunciantes. Para a cobertura da Copa do Mundo, o Terra vendeu cotas de publicidade para anunciantes como AmBev, Fedex, Vivo, Ford e Samsung. ‘Vendemos todas as cotas quase um ano antes, em dois meses’, afirmou Castro. O provedor licenciou com a Fifa os direitos de transmissão para internet e celular para toda a América Latina. O parceiro na telefonia móvel é a Vivo, empresa em que a Telefônica tem 50% de participação.


OPORTUNIDADES


O Terra é hoje o maior provedor do País. O UOL, que está em segundo lugar, registrou em 2005 receita bruta de R$ 525 milhões, com 1,45 milhão de clientes pagantes, sendo 586 mil de banda larga. Semana passada, na divulgação de resultados, o UOL informou que analisa possibilidades de aquisição.


Castro, do Terra, disse que o provedor também está de olho em oportunidades. ‘Recentemente, fechamos a compra da carteira de clientes da AOL Brasil’, disse. ‘Olhamos o mercado de acesso e serviços de valor adicionado, de nicho.’


O Terra olha para voz e vídeo ao mesmo tempo em que a Telefônica se prepara para lançar telefonia IP e IPTV, que liga a linha telefônica na televisão. Não existe sobreposição de esforços? ‘Nossos serviços são bem diferentes’, afirmou Castro. ‘Queremos reforçar a interatividade.’’


FUTURO DA MÍDIA
Owen Gibson


Para Murdoch, consumidor cria seu próprio veículo


‘THE GUARDIAN, LONDRES – Rupert Murdoch parecia um arauto da morte da era dos barões da mídia, ao comparar os pioneiros da internet a exploradores como Cristóvão Colombo e John Cabot e festejar a chegada de uma ‘segunda Era dos Descobrimentos’. O magnata da mídia da News Corp. nutre desprezo pelo ‘establishment’, mas confidenciou , num dos poucos clubes a que pertence – The Worshipful Company of Stationers and Newspaper Makers -, que ele pode estar entre os últimos de uma linhagem em vias de extinção.


‘O poder está se afastando da velha elite na nossa indústria – os editores, os executivos-chefes e, vamos ser honestos, os proprietários’, disse Murdoch, que foi para Nova York depois de comemorar seu 75º aniversário, sábado. Em vez de lamentar a perda, ele discursou sobre o futuro digital que colocaria esse poder nas mãos daqueles que lançam um blog a cada segundo, dividindo fotos e músicas online e baixando programas de televisão.


‘Uma nova geração de consumidores aumentou a exigência de conteúdo quando quer, como quer e do jeito que quer’, disse. Ao indicar que não tinha intenção de parar, apesar da idade, ele disse à organização que ele estava olhando para a frente, e não para trás.


‘É difícil, na verdade perigoso, subestimar as grandes mudanças que esta revolução vai trazer ou o poder das tecnologias em desenvolvimento para construir e destruir – não só empresas, mas países inteiros’, afirmou. ‘Nunca o fluxo de informações e idéias, de notícias e comentários foi tão importante. A força de nossas crenças democráticas é uma arma importante na guerra contra o fanatismo religioso e o terrorismo que alimenta.’


Ao se recusar a fazer reminiscências sobre uma carreira que o viu desenvolver um império mundial, que vai da DirecTV ao jornal Sun, na Grã-Bretanha, ele declarou: ‘Acredito que estamos no amanhecer de uma era de ouro da informação, um império de novo conhecimento.’ Mas Murdoch combinou seu recém-descoberto entusiasmo pelo futuro digital com uma mensagem do tipo ‘mude ou morra’ para os monolíticos impérios da mídia: ‘As sociedades ou empresas que esperam que um passado glorioso as proteja das forças de mudança movidas pela tecnologia vão fracassar e cair. Isso também se aplica a mim, à indústria da mídia e a todo tipo de negócio no planeta.’


Ele disse palavras de esperança para seus colegas de indústria afetados por circulações em queda, títulos grátis e a internet: ‘Acredito que os jornais tradicionais têm muitos anos de vida, mas também penso que no futuro as notícias impressas serão apenas um dos muitos canais até nossos leitores.’ Ele previu um futuro no qual a ‘mídia se transformará numa espécie de fast-food’, com os consumidores assistindo a notícias, esportes e clipes enquanto viajam, nos telefones celulares ou nos aparelhos sem fio. ‘O grande jornalismo sempre vai atrair leitores. Os textos, fotografias e gráficos que são a matéria do jornalismo têm de ser brilhantemente empacotados; eles devem alimentar a mente e tocar o coração’, disse.’


TELEVISÃO
Taíssa Stivanin


Crítica: Lauro César Muniz corta e costura


‘Na estréia de Cidadão Brasileiro, que abre o segundo horário de novelas na Record, mostrou que o investimento feito na área da teledramaturgia coloca a emissora próxima do nível da Globo. Tão perto que está passando de aprendiz a concorrente, daqueles que incomodam, roubam audiência. A média consolidada da nova trama chegou a 15 pontos, com picos de 23.


Para a tão esperada estréia, a Record deixou para o último minuto a estratégia de programação. Emendou Prova de Amor, que alcança sólidos índices de 16 pontos, e exibiu o Jornal da Record na seqüência.


Ainda é cedo para concluir sobre o desempenho da novela, mas ela estreou com histórias e conflitos bem amarrados pelo autor Lauro César Muniz. Sincronismo difícil de se ver. Mantê-lo em quatro fases diferentes, com passagens de tempo, será um desafio. A Record também fez bom uso da tecnologia e dos orçamentos livres disponíveis. Cidadão Brasileiro não mostrou shows pirotécnicos e locações caríssimas, apesar das cenas todas serem feitas com recursos tecnológicos de ponta – ainda que uma falha na iluminação tenha deixado a pele de alguns atores um pouco amarelada, ou alguns cortes de edição tenham sido meio bruscos. Mesmo assim, há sofisticação, o que faz lembrar as boas minisséries da Globo. Antônio, vivido por Gabriel Braga Nunes, é um personagem e tanto. Ao estilo de Muniz, um protagonista-antagonista, que age entre o certo e o errado. Vale a pena esperar as cenas dos próximos capítulos.’


Cristina Padiglione


Crítica: Globo inova estética do tronco


‘Quando a Record remexeu em abolição com A Escrava Isaura, causou espanto a clonagem da versão original, produzida pela Globo 28 anos antes. Agora, quando a Globo põe no ar o mesmo tema, fruto de uma produção de 20 anos atrás, não há nem sinal do odor de mofo. É escandalosa a diferença estética que separa um tronco do outro. Impressiona, nesse paralelo, o bom proveito que se faz da experiência e da tecnologia.


É a arte de criar na reciclagem. A evolução que salta aos olhos. Como a câmera em plano contínuo que flagra o pequeno Rafael (Lucas Rocha), ‘Isauro’ do enredo – branco nascido de escrava – enfiando a cabeça para fora da janela do trem. E a câmera vai do close às alturas, sem corte, até captar o trem inteiro.


O texto de Benedito Ruy Barbosa é primoroso, a ponto de permitir (quase) um monólogo, feito excepcional em TV, na voz de Milton Gonçalves. Um interminável suspiro do negro que está para morrer mantém o telespectador estático diante da tela. Não é para qualquer um.


Danton Mello e Débora Falabella, que alívio, dão liga desde a primeira cena. Nada é pior do que assistir ao empenho autoral muitas vezes lançado para forçar a tal química entre pares românticos.


Humberto Martins continua a falar sem abrir bem a boca, vá lá, mas não é que isso cai bem para o feitor, um clássico da vilania? À mesa da fazenda vizinha, Lu Grimaldi, Reginaldo Faria e Bruno Gagliasso são outro indício de química feliz. E tem Osmar Prado, Patrícia Pillar, Zezé Motta e Elias Gleiser (de novo celibatário), todos à altura do texto ali proferido.’


Keila Jimenez


Record consolida 2º


‘O SBT que se cuide. A Record, que tanto alardeia que segue rumo à liderança em audiência, está consolidando o segundo lugar em ibope em alguns horário. Claro que há uma dose de confete extra nisso, mas é fato que a faixa noturna da rede já ultrapassa o SBT.


No horário nobre de segunda-feira, por exemplo, a Record registrou média de 11 pontos das 18h à meia-noite, ante 8 do SBT e 36 da Globo. Se olharmos essa audiência um ano atrás encontraremos um panorama diferente. A Record mal conseguia bater os 5 pontos de audiência média na faixa nobre.


Na média do restante da programação a Record também encostou no SBT. Na segunda-feira, o canal registrou, das 6h às 18h , média de 7 pontos, ante 8 do SBT e 21 da Globo. O share de SBT e da Record no horário foi igual, 16%.


Além da estréia de Cidadão Brasileiro, entre as novidades da rede está o fim do Tudo a Ver – que saiu do ar na segunda – e a contratação de Gugu Liberato. O contrato do apresentador com o SBT vence dia 30, mas a mudança de emissora só deve se dar após o dia 27, último programa do apresentador na rede de Silvio Santos.’


POLÍTICA CULTURAL
Flávia Guerra


Doctv ganha versão internacional e adesão de 15 países


‘Em três anos de projeto, foram dois mil inscritos, 150 documentários produzidos em parceria com a TV pública, três mil horas de programação exibida pela TV Cultura e outras TVs públicas do Brasil. Estes são alguns números do Doctv , um dos programas mais bem-sucedidos do setor audiovisual nacional, pioneiro no incentivo e produção de documentários. Nesta sexta, serão encerradas as inscrições da terceira edição do Doctv Brasil. Os 35 selecionados para a edição nacional serão divulgados em um mês.


A repercussão do projeto foi tamanha que o Doctv ganha nesta semana sua edição internacional, o Doctv Ibero-América. ‘Não se trata apenas de um programa de co-produção. É muito mais amplo. Tem o mesmo perfil do programa brasileiro, de teledifusão de documentários. Esta é sua marca mais forte’, declarou Orlando Senna, secretário do Audiovisual, durante o lançamento do programa, segunda, em São Paulo.


Ao todo, 15 países participam desta primeira edição: Brasil, Argentina, Chile, Uruguai, Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela, Panamá, Costa Rica, Porto Rico, Cuba, México, Portugal e Espanha. Cada país fará sua seleção nacional e vai premiar um projeto com US$ 100mil (US$ 80 mil vindo do Fundo Doctv IB e US$ 20mil da TV Cultura) para a produção de um documentário que será veiculado automaticamente nas TVs de todos os países participantes. ‘Esperamos que na próxima edição, possamos contar com todos os países da América Latina. Todos os outros que não participam desta primeira edição já demonstraram interesse em participar da edição 2007’, continuou Senna. ‘Em todos estes países, a televisão tem um papel extremamente importante para a difusão da cultura. Pela primeira vez, consegue-se fazer com que essas emissoras possam transmitir produtos feitos em todos os outros’, acrescentou Marcos Mendonça, presidente da TV Cultura.


Para Guido Araújo, da Associação Brasileira de Documentaristas, ‘mais que um concurso de realização de documentários, o Doctv IB aproxima as TVs e os produtores independentes de todos os países que participam. ‘Esta integração pode gerar uma série de trabalhos em conjunto e criar uma rede de difusão da imagem da América Latina’, aposta.


Após a exibição na TV, em 2007, todos os filmes serão lançados em DVD e também devem ser vendidos para emissoras de outros países. O vencedor nacional será divulgado em julho. Mais informações no site www.cultura.gov.br.’


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