Leia abaixo os textos de quinta-feira selecionados para a seção Entre Aspas. ************ Folha de S. Paulo
Quinta-feira, 26 de outubro de 2006
ELEIÇÕES 2006
A ascensão de Lula
‘ALÉM DA diferença expressiva entre os candidatos, estável em torno dos 20 pontos, salta à vista no último Datafolha a ascensão do presidente Luís Inácio Lula da Silva entre os segmentos de maior renda. Tomando-se como base o primeiro levantamento do segundo turno, divulgado há três semanas, o presidenciável petista ganhou 14 pontos percentuais na fatia de eleitores com renda familiar superior a dez salários mínimos mensais.
O dado contribui para embaçar os contornos da corrida eleitoral estampados em 1º de outubro. Até a primeira etapa do pleito, a preferência dos brasileiros caminhou num sentido claro: Lula detinha larga vantagem no Nordeste e em Minas Gerais e entre a população com renda até dois salários mínimos. Entre os eleitores situados na zona intermediária, de dois a cinco salários, a disputa era acirrada. Alckmin, em contrapartida, era o preferido do eleitorado com rendimento familiar entre cinco e dez salários e abria larga vantagem entre os situados acima dessa faixa.
A forte ressonância do conjunto de políticas sociais do governo Lula foi amiúde apontada como responsável pela popularidade do presidente. Não há dúvida de que iniciativas como o Bolsa Família são um catalisador eleitoral poderoso. Mas a crescente aceitação do candidato petista nas esferas de maior renda sugere uma fissura nesse quadro interpretativo. A tentativa tucana de galvanizar a rejeição a Lula parece ter fracassado.
A passagem para o segundo turno deu fôlego a Geraldo Alckmin. Sua atuação combativa no primeiro debate da etapa final era indicativa da disposição em cristalizar a imagem de antípoda do PT. Mas na seqüência o tom se abrandou -e a candidatura assumiu uma conduta hesitante, que enfraqueceu a polarização.
No meio tempo, tornaram-se escassas as novidades sobre o dossiegate. O caráter inconclusivo das investigações aos poucos esvaziou uma arma eleitoral valiosa para o PSDB. O escândalo do dossiê, as fotos do dinheiro, a ausência de Lula nos debates do primeiro turno -as notícias esfriaram e perderam impacto.
Se à véspera do primeiro turno Lula viu seus eleitores migrarem para o oponente, agora deve ter parte deles de volta. Segundo o Datafolha, se fosse hoje o pleito, o petista receberia 12% dos votos destinados a Alckmin em 1º de outubro. A migração no sentido contrário é bem menor (4%).
Em eleições passadas, as preferências dos integrantes da base da pirâmide de renda tendiam a aproximar-se das inclinações dos que estão acima. Agora parece em curso o inverso: as faixas de maior renda e escolaridade apresentam tendência a ecoar as preferências eleitorais das fatias com menor poder aquisitivo.
Se o processo for ratificado neste fim de semana, haverá no panorama eleitoral brasileiro um novo fenômeno a decifrar.’
Clóvis Rossi
‘Golpismo’, falso e verdadeiro
‘É emblemática, do ponto de vista do baixo respeito às regras no Brasil, a aceitação da tese de ‘golpismo’, esgrimida pelo PT em relação à investigação do escândalo do dossiê, em curso no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
‘Golpismo’ seria o inverso, ou seja, aceitar a idéia de que algumas pessoas (no caso, o presidente da República) estão acima da lei. Louve-se, a propósito, o presidente Lula, que, na sabatina com a Folha, não encampou a tese do ‘golpismo’ ao dizer que, se crime houve, ele tem de pagar.
Prosseguir na investigação e fazê-la com rigor, seja qual for o resultado de domingo, é a única chance de o Brasil demonstrar que não é uma republiqueta, ao contrário do que indica a catarata de escândalos sem punições que escorre dos cumes do poder desde tempos imemoriais e que o lulo-petismo manteve nas alturas.
Que a decisão do TSE será política não há a menor dúvida. Sempre é assim em casos que envolvem a disputa política, com perdão pela obviedade, infelizmente necessária em um país em que até o óbvio é objeto de caixa dois.
Posso até apostar que a decisão do TSE será favorável a Lula, mesmo que se comprove que o dinheiro para a operação dossiê saiu do comitê de campanha, do PT ou até de empresas públicas. Nesse caso, a lei eleitoral determina a impugnação da candidatura.
Mas o TSE não pode desconhecer um argumento, que não é juridicamente perfeito, mas é factualmente correto: a vitória de Lula não será devida ao caso do dossiê. Portanto, impugnar a candidatura seria desconhecer a vontade do eleitorado, manifestada mesmo depois de dada toda a devida e necessária divulgação ao escândalo.
Não é argumento juridicamente válido, porque as urnas só registram o voto, não o motivo dele. Mas é bom senso, sem ‘golpismo’ de um lado ou do outro.’
Otavio Frias Filho
As batatas
‘SALVO SE as muralhas de Jericó se reerguerem, se o Mar Vermelho voltar a se partir em dois ou se algum outro cataclismo de inspiração sobrenatural desabar sobre a Terra, Lula deverá ser reeleito daqui a três dias. Terá sido uma campanha eleitoral atípica. Morna até as vésperas do primeiro turno, quando o chamado dossiegate irrompeu e obrigou Lula, que já cantava vitória, ao segundo turno. E de novo morna nestas últimas quatro semanas em que o presidente retomou, com folga, nítida vantagem sobre Alckmin.
Fala-se no carisma de Lula, em sua identificação com as camadas populares, para explicar o porquê de sua recandidatura ser impermeável a escândalos e imune à corrupção. Mas essa identificação não ajudou Lula nas três eleições presidenciais que ele perdeu (89, 94 e 98).
O próprio ‘povo’ parecia nutrir, então, preconceito contra um candidato de origem e feitio popular. A base popular do eleitorado certamente mudou de opinião depois de experimentar Collor e FHC. Mas foi o próprio Lula quem mudou muito mais.
Foi somente depois de mudar de discurso, abrandar o tom e aderir à pasteurização publicitária que Lula obteve o respaldo da maioria. O ‘Lulinha paz e amor’ foi a conversão do líder sindical à ‘cordialidade’ brasileira -aquele componente enigmático na formação nacional que explica tanto a ausência de guerras civis como a lentidão homeopática de qualquer mudança. A conversão foi facilitada pela derrocada mundial do ideário de esquerda, mas também pela personalidade em questão.
Lula nunca foi ideológico (é conhecida sua desavença com o irmão comunista). Como todo político bem sucedido, ele é um camaleão pragmático que dança conforme a música. Outra meia-verdade é que Lula tenha sido vítima de preconceito. Foi alvo de preconceito, sim, mas também de discriminação positiva. O que antigamente se chamava de ‘aparelhos ideológicos do Estado’ -universidade, imprensa, igreja, intelectuais, artistas- sempre o viram como messias social, líder puro e autêntico a ser poupado de qualquer cobrança ou crítica.
Foi esse manto de impunidade com que os intelectuais cobriram sua imagem que o tornou presunçoso, irritadiço diante da menor interpelação, mal acostumado a só ouvir bajuladores. O mesmo manto, agora rasgado pelo exercício desabrido do poder, explica que parte dos intelectuais esteja desiludida e outra parte esteja como o avestruz que enfia a cabeça na areia.
Talvez, no futuro, os períodos FHC e Lula sejam vistos como um só -o momento em que a social-democracia brasileira fez o que a matriz havia feito décadas antes: aderir à economia de mercado e praticar transferências de renda como forma de mitigar a miséria e vencer eleições. Ao vencedor, as batatas.
OTAVIO FRIAS FILHO é diretor de Redação da Folha’
TODA MÍDIA
De Chávez para Bush
‘O ‘Le Monde’ diz que ‘pela primeira vez a política externa está no coração da campanha’. É um exagero, mas é certo que o tema vem surgindo em debate e, no dizer de Rubens Barbosa, ‘próximo de M. Alckmin’, ‘é a principal diferença’ dos dois. O ‘Monde’ ouve o ex-chanceler Celso Lafer, que questiona o terceiro-mundismo de Lula. O chanceler Celso Amorim reage criticando o ‘unilateralismo num mundo que marcha para a multipolaridade’. E diz, ‘somos pragmáticos, mas não abdicamos da defesa de nossos interesses’.
De todo modo, o ‘Valor’ noticiou ontem que Lula, ‘sem modificar o discurso, prepara-se para fazer uma inflexão na política externa’. Seria ‘provavelmente a maior mudança em estudos para o futuro governo’. A relação com os EUA voltaria a ser ‘preferencial’.
Distante do debate, o venezuelano Hugo Chávez se dizia ontem, segundo a Reuters, ‘muito contente’ com o Datafolha, porque ‘tudo indica que teremos Lula como presidente para avançar na integração’.
Lula x Alckmin: Quem vai promover o pior engarrafamento de São Paulo?
Do post ‘QUE VENÇA O PIOR’, de Tutty Vasques, ontem no Nomínimo, sobre os comícios de encerramento de campanha na cidade.
PALANQUE No ‘Jornal Nacional’, José Jorge, FHC e Geraldo Alckmin, em cena rápida do comício do PSDB, ontem à noite no centro de São Paulo
REVOADA PARA O SUL
Se a campanha federal só causa aversão, até aos últimos comícios, no Rio Grande do Sul anda grande a revoada -ou a atenção- de petistas e tucanos. Lula falou ontem à RBS; Alckmin, na segunda. No programa petista, ontem, cenas gaúchas por todo lado; no tucano, Yeda Crusius.
Blogs gaúchos independentes tipo A Nova Corja relatam que ‘baixou o Lula na Yeda’, que vem faltando a debates e entrevistas seguidamente, um deles na rádio Gaúcha. O ‘Zero Hora’ notou que, no dia, ela discursou a militantes ‘durante 15 minutos’ apesar da alegada ‘afonia’.
As pesquisas, a começar do ‘Correio do Povo’, apontam avanço de Olívio Dutra. E blogs lulistas tipo RS Urgente postam expressões como ‘virada’, com base no Datafolha.
ESTADOS FAZENDEIROS
A agência AP ainda crê, no título de seu despacho ontem nos sites de ‘Washington Post’ e ‘New York Times’, que os ‘Fazendeiros podem decidir a eleição no Brasil’.
O texto relata a rejeição dos agricultores a Lula, atingidos pelo real valorizado, mas diz que ‘ele não controla a seca e os mercados externos’. Do Paraná, a agência escreve que os ‘Estados fazendeiros’ são a maior base de Alckmin.
ESQUERDA CATÓLICA
A Reuters, por outro lado, noticia nos mesmos sites que ‘Lula retoma ligação com a esquerda católica’. Relata o apoio ‘bispos políticos’ como d. Mauro Morelli e entrevista Frei Betto -que reclama que ‘os conservadores querem demonizar o presidente, mas as comunidades são a base da igreja e vão apoiar Lula’.
MAIS TERCEIRO TURNO
O blog de Jorge Moreno diz que ‘vem aí o terceiro turno’, mas não é nada de ‘golpe’:
– Vai começar a disputa da Presidência da Câmara.
No ringue, ‘coordenadores das candidaturas de Jaques Wagner e de Ana Júlia’, os peemedebistas Geddel Vieira Lima e Jáder Barbalho, mais o atual presidente, Aldo Rebelo.
Na oposição, arrisca o blog, ‘o PFL deve apoiar Rebelo’, assim como os ‘liderados por Aécio Neves e José Serra, amigos pessoais de Aldo’.
NA RETA DE CHEGADA
Mas o ambiente não anda bom na Câmara, neste final de campanha. Depois de ter sido chamado pelo petista Antonio Carlos Biscaia de ‘assessor parlamentar’ de Alckmin, o tucano Carlos Sampaio tratou o colega de CPI por ‘capacho’ de Lula, ontem na Jovem Pan.’
INTERNET
Pressionado, Google aumenta controle no Orkut
‘Pressionado pelas ações movidas pelo Ministério Público Federal, o Google Inc. anunciou a criação de um conjunto de ferramentas que, segundo a empresa, aumentará o controle do conteúdo do site de relacionamento Orkut.
Em entrevista coletiva ontem, o porta-voz da empresa para o Brasil, Luiz Barroso, negou que as iniciativas ocorreram por causa das decisões da Justiça brasileira contra o Google. Porém, na página inicial do Orkut, a empresa cita os problemas jurídicos e diz que as medidas foram tomadas para tornar o site mais ‘bonito e saudável’. Barroso diz que as ferramentas permitirão aos usuários do Orkut comunicar ao Google as páginas com conteúdo ilegal.’
TELEVISÃO
Record ameaça disputar Copa com a Globo
‘As negociações entre Globo e Record pela renovação de acordo de compartilhamento dos principais torneios de futebol do país em 2007 voltaram a ficar tensas anteontem à tarde.
Ambas as emissoras já tinham acertado valores e caminhavam para um acordo. A Record, no entanto, insistia em ter o direito de escolher quais jogos irá transmitir às quartas-feiras (e não aquele que a Globo determina, como é hoje).
Anteontem, a Record cobrou uma resposta da Globo. No final do dia, a Globo disse não. A Record devolveu com uma ameaça: já que não consegue dividir os direitos com a Globo em condições menos ‘leoninas’, ela irá buscar o futebol do mesmo jeito que a Globo faz. Ou seja, tentará comprá-lo diretamente dos clubes ou associações. Sua primeira disputa, advertiu, será pelos direitos exclusivos da Copa de 2010.
A cúpula da Globo recebeu a mensagem como uma declaração de guerra e concluiu que a Record está fora da parceria pelos torneios nacionais.
Mas as negociações não foram formalmente encerradas na terça-feira. Até às 14h de ontem, o cenário na Record era de indefinição e de insegurança por parte dos profissionais cujos empregos dependem da parceria com a Globo.
A direção da Record ainda trabalhava com a hipótese de renovar o acordo, desde que a Globo recuasse e liberasse os jogos das quartas.
VAI COMEÇAR 1 O diretor Dennis Carvalho marcou para 20 de novembro o início das gravações de ‘Paraíso Tropical’, próxima novela das oito da Globo, de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, com estréia marcada para março.
VAI COMEÇAR 2 A produção de ‘Paraíso’ vai passar um mês gravando em praias e resorts do Nordeste, principalmente nas regiões de Recife e Salvador. É que na novela tudo girará em torno de uma rede hoteleira, cujas instalações servirão de abrigo para uma trama de turismo sexual e tráfico de mulheres.
VAI COMEÇAR 3 Wagner Moura, Alessandra Negrini, Fábio Assunção, Camila Pitanga e Marcelo Antony estão entre os que gravam ‘Paraíso Tropical’ no Nordeste.
ATAQUE DA WARNER O SBT revelará hoje o segredo das misteriosas chamadas que dizem apenas que ‘vem aí o ataque’. Trata-se de uma nova faixa de programação, que terá sitcoms novas das Warner, todos os dias, por volta das 22h.
NA CORRERIA A Record agendou para 21 de novembro a estréia de ‘Vidas Opostas’, substituta de ‘Cidadão Brasileiro’, que, assim, será esticada em duas semanas. Mas a data ainda não é certa. As gravações estão atrasadas.
DISTRITO FEDERAL Brasília é a cidade que, proporcionalmente, mais assiste a debates. O da Record, na última segunda, foi visto em 19% dos domicílios da cidade e liderou no Ibope durante cinco minutos. Em SP, a audiência foi de 16% dos domicílios.’
Teté Ribeiro
‘Weeds’ estréia segunda temporada de sucesso
‘‘Weeds’, seriado que começa a ter sua segunda temporada exibida nesta noite pelo GNT, é a prova de que grande parte do que há de melhor na indústria do entretenimento norte-americano hoje não está no cinema, mas na TV. A começar pela história, original, de uma típica ‘soccer-mom’, a dona-de-casa contemporânea norte-americana, com a vida ganha, marido e filhos e um casarão no subúrbio, com empregada latina, piscina e todos os estereótipos.
Até que o marido morre, e ela descobre que eles estavam a um salário da miséria. E o salário não vem mais. Para manter o estilo de vida, as aparências e os filhos na escola, ela resolve vender maconha. Logo, descobre que há uma clientela reprimida em Agrestic, o subúrbio fictício em que eles vivem, que só esperava um vendedor ‘confiável’ para se liberar.
Assim é ‘Weeds’, a série que ajudou a recuperar a imagem do patinho-feio dos canais de TV paga ‘premium’ norte-americanos, o Showtime, sempre atrás em audiência da imbatível HBO -claro que o fato de ‘Sex and The City’ e ‘Six Feet Under’ terem acabado, de ‘The Sopranos’ estar no hiato da última temporada e de ‘Curb Your Enthusiasm’ estar em férias também ajudou a primeira emissora a ganhar público da segunda.
Seja como for, as pessoas passaram a assistir mais ao Showtime, chamados pela ousadia de ‘Weeds’, mas também de ‘The L Word’, o seriado lésbico-chique, e do inacreditável ‘Dexter’, este ainda inédito no Brasil, em que o herói é um serial-killer ‘do bem’, um policial de laboratório especializado em sangue que só mata outros serial-killers que conseguiram burlar a Justiça, interpretado por Michael C. Hall, o reprimido Dave de ‘Six Feet Under’.
O carro-chefe, porém, é mesmo ‘Weeds’, que atrai dois milhões de fãs, em média, todas as semanas, e cujo nome quer dizer literalmente ‘erva-daninha’ -além de ser gíria para maconha. Nessa segunda temporada, Nancy (Mary-Louise Parker), tem de conviver com o fato de que seu novo namorado é um agente da força antidrogas dos EUA, e sabe como ela ganha a vida. E ela, pensando em expandir o negócio, começa a plantar a maconha que vende.
Um de seus novos clientes será o rapper Snoop Dogg, que, embalado pelo efeito da maconha poderosa que ela produz, fará uma musica em sua homenagem. Mary-Louise, aliás, é da turma do ‘legalize já’: ‘A maconha é muito mais nociva para a sociedade sendo ilegal’, defendeu a atriz quando do lançamento da segunda temporada da série, em Los Angeles. ‘O número de homicídios relacionados ao tráfico de drogas simplesmente acabaria se a maconha fosse legalizada.’
WEEDS
Onde: GNT
Quando: Quintas às 23h45′
************