Friday, 15 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Jornais tentam explicar crise nuclear sem criar pânico

BBC Brasil, 1/04

Ewerthon Tobace

Jornais para crianças tentam explicar crise nuclear sem criar pânico

Passadas três semanas, o terremoto, o tsunami e a crise nuclear ainda ocupam grande espaço na mídia japonesa. As crianças também acompanham as notícias, só que através de sites, programas de tevê e jornais exclusivos para essa faixa etária.

Os dois maiores e mais populares diários do segmento infantil, o Asahi Shougakusei e o Mainichi Shougakusei, nas duas primeiras semanas após o terremoto, dedicaram boa parte das oito páginas para falar da tragédia.

Mas segundo Hiroshi Oki, 55 anos, editor-chefe do Asahi Shougakusei, editado desde abril de 1967, a maior dificuldade nesta cobertura tem sido explicar a complicada crise nuclear, sem causar desespero nas crianças.

Assim como os adultos, os pequenos ainda têm muitas dúvidas em relação à contaminação de alimentos e da água. ‘Tentamos mostrar que não há necessidade de entrar em pânico, mas que é preciso tomar alguns cuidados’, explicou à BBC Brasil.

‘As crianças são sensitivas, por isso tomei muito cuidado para que não ficassem inseguras’, acrescentou a jornalista Maki Nakajima, 28 anos, do Mainichi Shougakusei, o mais antigo do segmento, publicado desde 1936.

A equipe do Asahi também procurou deixar claro aos leitores mirins os prejuízos causados pelo terremoto e pelo tsunami. ‘Mas explicamos que, no caso da contaminação nuclear, ainda não se sabe quais serão os danos reais’, completou Oki.

O jornal utilizou também muitos quadros para explicar o significado de palavras que apareceram constantemente nos noticiários, como césio, millisievert etc.

O funcionamento de uma usina nuclear e a necessidade da energia produzida por ela também foram abordados pelo diário.

Explicação em detalhes

‘Nas primeiras edições após a tragédia publicamos matérias sobre como aconteceu o terremoto, a magnitude do abalo, a existência das placas tectônicas e como se forma o tsunami’, contou Oki.

Para não se tornar um jornal somente com notícias tristes, Maki diz que investiu em temas mais ‘alegres’ com o passar dos dias. ‘Falamos da ajuda de pessoas de outros países, evitamos colocar imagens muito chocantes e publicamos fotos de crianças sorrindo nos abrigos.’

Numa segunda etapa, o foco foram as crianças que vivenciaram a tragédia e que agora vivem nos abrigos, campanhas de ajuda, explicações sobre como proceder em caso de outro terremoto forte e o porquê da falta de energia elétrica.

Os jornais têm publicado ainda muitas mensagens positivas e de apoio às vítimas. ‘Tenho juntado todos os jornais com essas mensagens e envio para os abrigos’, contou Maki.

O Asahi Shougakusei também tem dado dicas para os pais de como lidar com crianças abaladas emocionalmente.

‘Muitas crianças estão estressadas e com medo, depois de ver tantas imagens de destruição na tevê, então passamos a publicar dicas de especialistas para ajudá-las’, conta o editor-chefe.

Formação de leitores

No país com um dos maiores índices de leitura do mundo, não é de se estranhar que a garotada ambém tenha uma versão diária de jornal.

O Asahi Shougakusei e o Mainichi Shougakusei têm tiragem diária de 120 mil e 100 mil exemplares (só para assinantes), respectivamente. Só para comparar, a versão adulta do Asahi tem duas edições diárias: a matutina tem 8 milhões de cópias e a vespertina, 3,3 milhões.

Hiroshi Oki explicou que o jornal publica as principais notícias do dia, assim como a versão para adultos.

‘Ele tem a cara de um jornal normal, mas usamos uma linguagem fácil e direta para falar com as crianças. Além disso, colocamos muitas ilustrações, fotos e infográficos’, contou.

Outro diferencial das versões infantis é o uso de um alfabeto simplificado ao lado dos complicados caracteres japoneses, o que facilita a leitura. ‘Também contamos com o suporte de uma rede de professores para tirar dúvidas’, contou Maki.

Tanto o Asahi Shougakusei quanto o Mainichi Shougakusei são voltados para estudantes do primário, dos 6 aos 12 anos.