Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jornais publicam editoriais
sobre classificação indicativa


Leia abaixo os textos de segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


************


Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007


CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA
Editorial


Coerção moral


‘Classificação indicativa, e não impositiva, por horário e faixa etária é o melhor forma de regular programação da TV


CAMINHA PARA uma definição, ao menos parcial, a polêmica acerca das classificações de programas na TV. O governo federal deve publicar hoje uma nova portaria regulando o assunto.


Pelas novas regras, cujo conteúdo foi antecipado pela Folha, as emissoras ficarão obrigadas a divulgar a classificação indicativa -a faixa etária e de horário recomendada- para cada programa que puserem no ar. Para tanto, a portaria estabelece uma simbologia a fim de tornar mais simples a compreensão das recomendações pelo telespectador.


Ainda não ficará resolvida, no entanto, a questão mais polêmica: saber se as TVs serão obrigadas a transmitir os programas na faixa horária recomendada pelo Ministério da Justiça. Isso porque a nova regulamentação transfere a regência desse tema para uma outra portaria, a 796 (de 2000), que torna impositivo o cumprimento das faixas de horário, mas que está na pauta do Supremo Tribunal Federal.


A Ordem dos Advogados do Brasil, por meio de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) de 2001, questiona esse último diploma, o qual considera uma intervenção indevida na liberdade de expressão. Um voto de minerva da presidente do STF, Ellen Gracie Northfleet, está para decidir -espera-se que em breve- se a matéria será ou não julgada pela corte máxima.


A atuação do poder público nesse tema deveria circunscrever-se à coerção moral. A exposição obrigatória da classificação indicativa -de forma facilmente assimilável pelo grande público- instigará entre os pais reflexões acerca da conveniência de deixar que seus filhos assistam àquele programa específico.


É melhor que as emissoras permaneçam livres para transmitir o conteúdo que bem entenderem e no horário que decidirem -e reforcem os mecanismos de auto-regulamentação. A rede que porventura desrespeitar as classificações indicativas do Ministério da Justiça ou os preceitos da auto-regulação estará sujeita ao questionamento de seus telespectadores e a sanções do conjunto de seus pares.


A atuação do governo, portanto, não deve ser tão branda a ponto de deixar o telespectador sem nenhuma informação qualitativa para julgar a adequação dos programas à sua família. Por outro lado, o poder público tampouco deveria tutelar decisões que só cabem aos pais nem imiscuir-se na liberdade de programação das emissoras.


Nessa trilha da classificação indicativa, será preciso aumentar a credibilidade da equipe de especialistas que sugere aos cidadãos os horários e as faixas etárias adequadas. O modelo atual -um departamento vinculado ao Ministério da Justiça- não é a melhor resposta a tal necessidade. Se sempre haverá subjetividade nesse tipo de arbitragem, tanto pior se ela ficar à mercê do governo de turno (e das constantes mudanças a que um ministério está sujeito).


Uma burocracia federal autônoma -nos moldes de uma agência reguladora- teria mais chances de conquistar a confiança do público telespectador.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Globo devasta e mobiliza


‘Record e Band carregam em manchetes tipo ‘pai de ladrão que matou menino tem casa apedrejada’.


Mas a Globo está em campanha. Começou no ‘JN’ de quinta, ‘o bandido menor de idade pode ficar internado na instituição por no máximo três anos’.


Depois, manchetes tipo ‘um assunto domina os brasileiros: a morte do menino João devasta a família e mobiliza cidadãos à discussão: é justa a punição?’. Por fim, no ‘Fantástico’, ‘JN’ e até ‘Domingão do Faustão’ editorializado, Fátima Bernardes e a mãe:


– [É] uma dor que não dá para calcular, mesmo que a gente tenha filho… Vocês se vêem lutando para que a morte dele não seja mais um número na estatística?


– Tem que mudar, tem que rever a legislação… O menor de 18 tem, sim, que ser punido. Não pode ficar só três anos para daqui a três anos matar outro João.


E não, nada de sublinhar que o ‘menor de 18’ é um em meio a quatro adultos acusados. Ou que o homem que se entregou ontem tem ‘outro lado’. Ele nega.


‘A GLOBO JÁ ERA’


A frase ficou o dia inteiro nos ‘+ lidos’ da Folha Online: ‘A Globo já era’, declaração do autor de ‘Vidas Opostas’, violenta novela da Record que vence no horário nobre, às quartas, por alguns minutos.


O fato inusitado vem sendo destacado há semanas por colunas e blogs tipo Blue Bus.


SEM ENGANO


O blog de Marcelo Coelho, em reação à campanha contra o manual de classificação, diz que as emissoras de TV e seus porta-vozes ‘não enganam’ com o raciocínio de que são ‘a mesma coisa proibir um livro e dizer que um seriado com cenas de tortura não deve aparecer no horário da tarde’.


CONCORRÊNCIA 1


O site Tela Viva dá que os executivos da Record estão nos EUA, em fábricas e na CNN, atrás de equipamentos da Record News. A adversária da Globo News, para driblar o oligopólio de cabo, vai estrear com o sinal aberto, em UHF.


CONCORRÊNCIA 2


A americana ‘Variety’ dá que o ‘cabo ganhou impulso’ no país em 2006. A alta de 11% foi liderada pela mexicana Net/Telmex com seu pacote de cabo, telefone e acesso. O ‘impulso’ vai prosseguir com a espanhola TVA/Telefônica.


E vem mais. O site Teletime dá que o serviço de satélite Sky+DirecTV fez acordo com Brasil Telecom+Telemar.


700 SOLDADOS


O Haiti voltou afinal aos telejornais brasileiros no fim de semana, ‘JN’ à frente, e chegou também ontem ao ‘Washington Post’, com a operação das tropas da ONU para ocupar Cite Soleil, a maior ‘slum’ ou favela de Porto Príncipe, a capital.


Diz a longa reportagem do ‘WP’ que são ‘combates quadra a quadra’. O quadro é semelhante ao do Rio, com os 700 soldados, sob liderança brasileira, em luta com a ‘gangue’ comandada por ‘Little Knife’ ou faca pequena; mas não, nada de milícias. Avalia o jornal que é ‘a maior operação das Nações Unidas’ desde que chegou ao país.


‘SLUM TOURISM’


Ontem no blog da ‘Foreign Policy’, Christine Bowers, também consultadora do Banco Mundial, defendeu a onda nas agências de viagem de levar turistas às favelas do mundo -de Soweto, na África do Sul, passando por Índia e Quênia, até ‘as mais famosas favelas do mundo, as do Rio’. É ‘slum tourism’, turismo de favela, ou ‘pro poor tourism’, turismo em favor dos pobres.


Às portas do Carnaval, sites e jornais, como o ‘Los Angeles Times’, estão carregados de indicações para turismo no país -e no Rio em especial.


BRAZIL, BRASYL


Só no ‘Financial Times’ de sábado, foram quatro longos textos sobre o Brasil. Um descrevia como desfilar nas escolas de samba, saudava a Mangueira etc. Outro, de um colunista regular, narrava um dia de jogo no Maracanã. Um terceiro fazia a resenha elogiosa do relançamento de ‘Brazilian Adventure’, ‘um dos melhores livros de viagem já escritos’, de Peter Fleming, o irmão do criador de 007.


Por fim, destacou-se até um certo ‘Brasyl’, livro de ficção científica à ‘Blade Runner’ que se passa em São Paulo.’


CRÔNICA
Moacyr Scliar


Deus, censurado


‘Acharam que certas palavras poderiam criar problemas. Em certos filmes, o nome de [BIP] é substituído por um [BIP]


‘A Rainha’, de Stephen Frears, tem nada menos do que seis indicações ao Oscar -incluindo as categorias de melhor filme, diretor e atriz.


Mas a notoriedade da produção britânica nos Estados Unidos não o salvou de uma trapalhada que resultou em uma ‘censura culposa’ (sem intenção). Na versão que é exibida durante os vôos de algumas companhias aéreas, o longa que traz Helen Mirren no papel de Elizabeth 2ª não tem a palavra ‘Deus’ uma única vez sequer.


O termo foi cortado durante a edição realizada por um funcionário da distribuidora que seleciona os filmes para a Delta Airlines, a Air New Zealand e outras companhias. De acordo com a agência de notícias Associated Press, tudo não passou de um mal-entendido.


O funcionário da distribuidora tinha ordens de excluir do longa tudo o que pudesse ser considerado blasfêmia. Em vez de cortar as declarações contra Deus, ele cortou a palavra ‘Deus’. Quem assiste à produção escuta um longo BIP no lugar de ‘Deus’, mesmo em expressões inofensivas como ‘Deus te abençoe’.


Folha Online


NO PRINCÍPIO [BIP] criou o céu e a Terra. A Terra estava deserta e vazia, as trevas cobriam o oceano e um vento impetuoso soprava sobre as águas. [BIP] disse: ‘Faça-se a luz!’ E a luz se fez. [BIP] viu que a luz era boa. [BIP] separou a luz das trevas. E à luz [BIP] chamou dia, e às trevas [BIP] chamou noite. Fez-se tarde e veio a manhã: o primeiro dia.


[BIP] disse: ‘Faça-se um firmamento, entre as águas, separando umas das outras’. E [BIP] fez o firmamento. [BIP] separou as águas que estavam por baixo do firmamento das águas que estavam por cima do firmamento. Ao firmamento [BIP] chamou céu. Fez-se tarde e veio a manhã: o segundo dia.


[BIP] disse: ‘Juntem-se as águas que estão aqui debaixo do céu e apareça o solo firme’. E assim se fez. Ao solo [BIP] chamou ‘terra’; ao ajuntamento das águas, [BIP] chamou ‘mar’. E [BIP] viu que era bom.


E assim [BIP] criou plantas, e estrelas, e pássaros, e peixes, e animais terrestres. [BIP] viu que era bom.


Mas aí [BIP] resolveu criar o homem à sua imagem e semelhança. [BIP] fez o homem e a mulher. Eles cresceram e se multiplicaram e encheram a Terra de descendentes. E estes descendentes, sob o olhar benévolo de [BIP], se espalharam pelos cinco continentes, trabalharam, criaram máquinas e inventaram coisas. Uma destas coisas era o cinema.


Os humanos gostavam muito dos filmes, mas alguns humanos não gostavam do que era dito nos filmes.


Acharam que certas palavras poderiam criar problemas. Uma destas palavras era o nome de [BIP]. Os religiosos talvez vissem no uso desse nome um desrespeito, os não-religiosos quem sabe se ofenderiam. Então alguém determinou que, em certos filmes, o nome de [BIP] fosse substituído por um [BIP].


Muitos estranharam, e a notícia correu mundo. Mas [BIP] não estranhou. Em primeiro lugar porque [BIP] não anda de avião, nem mesmo na primeira classe: [BIP] não precisa voar, está em qualquer lugar a qualquer hora, sem temer atrasos em aeroportos. Segundo porque [BIP] não assiste a filmes. Melhor dizendo: em matéria de invenção e de criação, [BIP] já viu tudo o que pode ser visto. [BIP] é o único que já sabe o resultado do Oscar.


MOACYR SCLIAR escreve, às segundas-feiras, um texto de ficção baseado em notícias publicadas na Folha’


TELEVISÃO
Daniel Castro


BNDES vai financiar TV digital e novelas


‘Está pronto no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) estudo que cria linha de financiamento, a juros baixos, para empresas de radiodifusão comprarem equipamentos de TV digital, construírem novos prédios e produzirem novelas, minisséries, filmes e documentários.


O projeto já está sendo apresentado a executivos das TVs. Para a linha de crédito entrar em operação oficialmente, só falta o ‘Ok’ final do Palácio do Planalto e a conseqüente aprovação da diretoria do BNDES, o que deve ocorrer em breve. O uso de recursos do banco por empresas de mídia é polêmico porque pode acarretar eventual comprometimento dessas instituições com governos.


A linha só financiará a compra de transmissores nacionais de TV digital, mas as emissoras pedem também a liberação para irradiadores importados de altas potências. Para equipamentos de captação, edição e exibição, não haverá restrições a importados.


O projeto prevê financiamento de até 90% do orçamento de novelas, minisséries, filmes e documentários quando houver parceria da rede com uma produtora independente. Quando o conteúdo for 100% produção própria da TV, o financiamento se limitará a 60%.


O financiamento oficial de teledramaturgia é inédito no país. O limite será determinado pela capacidade de endividamento de cada emissora.


GLOBO DE OURO 1


A cúpula da Globo decidiu abrir mais espaço para música na programação deste ano da emissora. Já está certo que haverá um programa fixo, cujo formato ainda está sendo desenhado, sobre MPB.


GLOBO DE OURO 2


Outra iniciativa será a produção de cinco edições de ‘Por Toda a Minha Vida’, mistura de musical com dramatização da carreira de determinado artista, que foi testado no final do ano com Elis Regina.


MUSICAL 3


Já estão previstos especiais sobre Cássia Eller, Leandro (da dupla com Leonardo), Tim Maia e Clara Nunes. As exibições serão às sextas, entre o final da temporada de uma série (tipo ‘Carga Pesada’) e início de outra (como ‘Antônia’).


PERDIÇÃO


A segunda temporada de ‘Lost’ na Globo não está repetindo o sucesso da primeira. Os primeiros quatro episódios de 2007 deram 12 pontos na Grande SP, contra 15 do mesmo período em 2006. Ainda assim, a audiência é superior à que a emissora registra no horário.


PIRATARIA É CRIME


Principal articulador institucional da Globo, Evandro Guimarães cometeu uma gafe na semana passada, em um seminário em Brasília, quando defendia o ‘conteúdo nacional’. ‘Adoro a série ‘Lost’. Inclusive, peço para meu filho gravar para mim da internet’, disse Guimarães, segundo o noticiário especializado em TV paga ‘Pay-TV News’. Se alguém copiasse da internet um capítulo da novela das oito, a Globo certamente diria que isso é pirataria.’


************


O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007


CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA
O Estado de S. Paulo


A imposição de horários na TV


‘Embora os programas exibidos na televisão aberta já sejam classificados por horário, por determinação da Portaria 796, baixada há sete anos com o objetivo de desestimular as emissoras de transmitirem cenas de violência e sexo no período em que crianças e adolescentes assistem à tevê, o Ministério da Justiça decidiu adotar regras mais rigorosas para evitar os abusos que têm sido cometidos. Como a Portaria 796 é meramente ‘indicativa’ e não prevê punições, não produziu os resultados esperados.


A idéia do governo é definir horários para a exibição de programas adequados a cada faixa etária e impor sanções às emissoras que desrespeitarem as novas regras. A medida é adotada em muitos países democráticos de alto nível cultural, como Suécia, Holanda, Inglaterra, Canadá e Estados Unidos. Além disso, foi submetida a consulta pública e discutida em seminários com a participação de vários setores da sociedade civil, tendo sido reivindicada por ONGs que defendem os direitos da infância. E é prevista pela Constituição, cujos artigos 220 e 221 obrigam os meios de comunicação a respeitar os ‘valores éticos e sociais da pessoa e da família’ e dão ao Executivo competência para exigir que as emissoras informem a ‘natureza de seus programas’, ‘as faixas etárias a que não se recomendam’ e os ‘locais e horários em que sua apresentação se mostre inadequada’.


Nos debates com os setores interessados, os técnicos do Ministério da Justiça foram enfáticos ao afirmar que os critérios a serem adotados não configuram qualquer tipo de censura. Mesmo assim, as emissoras reagiram à iniciativa do governo, atuando em dois campos. Um é a esfera judicial. Segundo as televisões, tanto a Portaria 796 quanto a que irá substituí-la seriam inconstitucionais, pois a matéria teria de ser objeto de lei aprovada pelo Congresso. A discussão foi levada ao STF em 2001 e, coincidência ou não, o processo foi votado na semana passada, tendo havido empate.


Cinco ministros votaram a favor dessa tese e cinco votaram contra. Um dos ministros que votou a favor das emissoras já advogou para a Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão, tendo elaborado um mandado de segurança contra a Portaria 796. O desfecho do caso depende do voto da presidente da corte, ministra Ellen Gracie.


O outro campo em que as televisões estão agindo é o da opinião pública. Para se contrapor às entidades da sociedade civil que apóiam a iniciativa do governo, as emissoras mobilizaram artistas, diretores e roteiristas. A idéia é tentar deslocar o eixo do debate, classificando como cerceamento da liberdade de criação e informação qualquer tentativa do governo de proibir a exibição de determinados tipos de cenas em qualquer horário.


‘Queria saber quem são essas pessoas que se arvoram no direito de censurar a criação artística’, diz o diretor Antônio Calmon. ‘A arte lida com elementos subjetivos. Tentar colocar regras é limitar a liberdade de expressão’, afirma o roteirista Walcyr Carrasco. ‘Sem vilões, maldades e maus exemplos não há dramaturgia’, endossa o autor Carlos Lombardi. ‘O horário de exibição dos programas é função das emissoras. Não cabe a um governo determinar escolhas’, protesta Ricardo Linhares. Os quatro trabalham para a Globo, a rede que mais vem se empenhando contra os novos critérios. Recentemente, a emissora passou a veicular uma propaganda na qual uma menina tem os olhos cobertos por várias mãos e um locutor afirma que ‘ninguém melhor do que os pais para saber o que os filhos devem assistir’.


Mas a questão não é tão simples quanto parece. Muitos pais não têm condições de impedir os filhos de ligarem a tevê em determinados horários, quando estão trabalhando. E certos programas e novelas transmitidos em horário livre confundem dramaturgia com apelações rasteiras, envolvendo adultério, incesto, cenas de sexo e linguagem chula, que são tratados como se fossem comportamentos corriqueiros nas famílias brasileiras.


Evidentemente, é necessário conhecer o texto definitivo da portaria que o governo pretende baixar, para se chegar a uma conclusão definitiva. Mas uma coisa é certa: diante da vulgaridade e da baixaria da programação das televisões abertas, era necessário que o poder público agisse.’


DIRETÓRIO ACADÊMICO
Carlos Alberto Di Franco


A aposta na qualidade


‘Os jornais perdem leitores em todo o mundo. Consultorias, seminários e relatórios, aqui e lá fora, procuram, obstinadamente, explicações para o fenômeno. Televisão e internet são, freqüentemente, os bodes expiatórios. Os jovens estão ‘plugados’ horas sem-fim. Já nascem de costas para a palavra impressa. Será? É evidente que a juventude de hoje lê muito menos. Mas não é só a moçada que foge dos jornais. Os representantes das classes A e B também têm aumentado a fileira dos navegantes do espaço virtual. A perplexidade do setor é gigantesca. Mas os equívocos estratégicos são ainda maiores.


Os jornais, erradamente, pensam que são meio de comunicação de massa. E não são. Daí derivam providências fatais: a absurda imitação da televisão, a incapacidade para dialogar com a geração dos blogs e dos videogames e o alinhamento acrítico com os modismos politicamente corretos. Esqueceram que os diários de sucesso são aqueles que sabem que o seu público, independentemente da faixa etária, é constituído por uma elite numerosa, mas cada vez mais órfã de produtos de qualidade. Num momento de ênfase no didatismo, na infografia e na prestação de serviços – estratégias convenientes e necessárias -, defendo a urgente necessidade de complicar as pautas. O leitor que devemos conquistar não quer, como é lógico, o que pode conseguir na TV ou na internet. Ele quer informação de qualidade: a matéria aprofundada, a reportagem interessante, a análise que o ajude, de fato, a tomar decisões.


O noticiário de política, por exemplo, tradicionalmente forte nos segmentos qualificados do leitorado, perdeu encanto. Está, freqüentemente, dominado pela fofoca e pelo espetáculo. Não tem notícia, mas sobra suposição sem fundamento e documentação. O marketing político avançou além da conta. Estamos assistindo à morte da política e ao advento da era do declaratório e da inconsistência. Políticos e partidos vendem uma bela embalagem, mas fogem da discussão das idéias. Nós, jornalistas, somos (ou deveríamos ser) o contraponto a essa tendência. Cabe-nos a missão de rasgar a embalagem e mostrar a realidade. Só nós, estou certo, podemos minorar os efeitos perniciosos do espetáculo audiovisual que, certamente, não contribui para o fortalecimento de uma democracia sólida e amadurecida.


Por isso, uma cobertura de qualidade é, antes de mais nada, uma questão de foco. É preciso declarar guerra ao jornalismo declaratório e assumir, efetivamente, a agenda do cidadão. O nosso papel é ouvir as pessoas, conhecer suas queixas, identificar suas carências e cobrar soluções dos governantes. Não se pode permitir que políticos e suas assessorias de comunicação definam a agenda das coberturas jornalísticas. O centro do debate tem de ser o cidadão, as políticas públicas, não mais o político, tampouco a própria imprensa. Na prática, não obstante a teoria da agenda-setting (Maxwell McCombs e Donald Shaw, formuladores da hipótese, afirmam que o debate público é determinado pelas pautas dos jornalistas) atribuir à imprensa uma influência decisiva na determinação da agenda do público, tal poder, de fato, passou a ser exercido pelos políticos. O jornalismo de registro, pobre e simplificador, repercute o Brasil oficial, mas oculta a verdadeira dimensão do País real. Precisamos fugir do espetáculo e fazer a opção pela informação. Só assim, com equilíbrio e didatismo, conseguiremos separar a notícia do lixo declaratório.


Outros riscos ameaçam a qualidade da cobertura jornalística. Sobressai, entre eles, o perigo da instrumentalização da imprensa. Os protagonistas do teatro político não medem esforços para fazer com que a mídia, à sua revelia, destile veneno nos seus adversários. Por isso, é preciso revalorizar, e muito, as clássicas perguntas que devem ser feitas a qualquer repórter que cumpre pauta investigativa: checou? Tem provas? A quem interessa essa informação?


O esforço de isenção, no entanto, não se confunde com a omissão. O leitor espera uma imprensa combativa, disposta a exercer o seu intransferível dever de denúncia. A sociedade quer um quadro claro, talvez um bom infográfico, que lhe permita formar um perfil dos homens públicos: seus antecedentes, sua evolução patrimonial, seu desempenho em cargos atuais e anteriores, etc. Impõe-se, também, um bom levantamento das promessas de campanha. É preciso mostrar os eventuais descompassos entre o discurso e a realidade. Trata-se, no fundo, de levar adiante um bom jornalismo de serviço.


Os políticos, pródigos em soluções de palanque, não costumam perder o sono com o rotineiro descumprimento da palavra empenhada. Afinal, para muitos deles, infelizmente, a política é a arte do engodo. Além disso, contam com a amnésia coletiva. O jornalismo de qualidade deve assumir o papel de memória da cidadania. Precisamos falar do futuro, dos projetos e dos planos de governo. Mas precisamos também falar do passado, das coerências e das ambigüidades.


A imprensa, sem precipitação e injustos prejulgamentos, tem o dever de desempenhar importante papel na recuperação da ética na vida pública. Transparência nos negócios públicos, ética e competência são importantes demandas da sociedade. Nosso compromisso não é com as celebridades, mas com a verdade, com a informação bem apurada e com os leitores. E nada mais.


Só uma séria retomada na qualidade informativa garantirá a fidelidade dos antigos leitores e a conquista de novos. Precisamos mostrar que o jornal continua sendo útil, importante, um aliado na aventura da vida.


Carlos Alberto Di Franco, diretor do Master em Jornalismo, professor de Ética e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, é diretor da Di Franco – Consultoria em Estratégia de Mídia. E-mail: difranco@ceu.org.br


PT & MÍDIA
O Estado de S. Paulo


Sistema digital é aposta para ‘democratizar’ TV


‘Para Diretório Nacional petista, atual modelo envolve ‘monopólio privado’


No segundo governo Lula, o PT quer acelerar seus planos para uma ampla reforma da comunicação de massa, exposta na resolução aprovada pelo Diretório Nacional sábado. A idéia é aproveitar a revolução tecnológica, especialmente a TV digital, para introduzir concorrência no que considera monopólio privado, conservador e prejudicial ao País. O debate ganhou força após a crise do mensalão, na qual o partido se considerou alvo de uma campanha injusta da mídia para desmoralizá-lo e derrotar Lula na eleição.


‘A TV digital seria uma forma de quebrar o poder do monopólio, sem medidas administrativas’, disse um articulador petista. Segundo ele, o tema une o PT desde o Campo Majoritário, moderado, até a ‘extrema canhota’. Para o deputado Jilmar Tatto (SP), terceiro vice-presidente do partido e do moderado PT de Lutas e de Massas, ‘a TV digital permite um debate com outra configuração.’


Nas prioridades, destaca-se a idéia de criar uma rede pública de TV no modelo da BBC britânica, caracterizada pela gestão pública, mas com independência editorial em relação a governos. A comissão política do PT já discutiu o assunto com Lula. A proposta integra o pacote de um ‘plano nacional de comunicação’, ainda em preparação.


A resolução petista esboça um programa para o setor. ‘A democratização do País supõe a democratização da comunicação. Estruturas públicas democráticas de comunicação são fundamentais para superar o monopólio privado.’ O texto pede uma ‘conferência nacional de comunicação’, com todos os setores envolvidos, e inclui ‘a construção de um sistema público de rádio e TV’ entre as propostas de curto e médio prazo.


‘Uma TV pública precisa ter espaço para movimentos sociais e manifestações culturais. Ninguém quer fazer proselitismo’, disse o deputado estadual gaúcho Raul Pont, da tendência de esquerda Democracia Socialista. ‘Não queremos que essa TV dê notícia a favor do governo nem faça propaganda do PT, mas achamos que atualmente a cobertura é muito parcial e unilateral. O País precisa ter canais de comunicação de massa que sejam públicos.’


Tatto foi irônico. ‘Em vez de pôr ‘Paquitas’ na programação, vamos discutir a cultura brasileira. Isso não é debate ideológico.’’


***


Petistas negam que modelo possa ser o de Chávez


‘Os petistas deixaram claro que não aceitam qualquer tentativa de ligar suas propostas para a comunicação com as ações do presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Recentemente, Chávez anunciou que não vai renovar a concessão da RCTV, emissora que acusa de ter apoiado a oposição na tentativa de golpe que sofreu.


Jilmar Tatto (PT-SP) disse que citou a BBC como modelo, para que não digam que quer copiar Chávez. Raul Pont garantiu que o PT não defende um modelo chavista. ‘Se tem uma coisa difícil de acontecer é ter um Chávez no PT. Essas coisas verticalizadas não são nossa tradição.’


Apesar disso, após visitar a Venezuela e participar de um programa de TV com o presidente, ele elogiou a programação. ‘Não vi nenhum noticiário flagrantemente a favor do Chávez. Achei que lá exploravam os temas de maneira mais analítica.’’


VENEZUELA
O Estado de S. Paulo


Programa de rádio e TV de Chávez será mudado


‘O Ministério das Comunicações da Venezuela anunciou a suspensão do programa dominical de rádio e televisão ‘Alô, Presidente’, apresentado por Hugo Chávez em canais estatais. Segundo o comunicado emitido pelo Ministério, ‘o cancelamento é temporário e visa a repensar seu formato. Precisamos reformular o programa tendo em vista as necessidades da revolução socialista’.’


MÍDIA & RELIGIÃO
Angélica Santa Cruz


Dissidente da Renascer acusa líderes de se apropriar de doações


‘Integrante do grupo que fundou a Renascer em Cristo, membro da cúpula da igreja por 25 anos e eleita em São Paulo com 45.295 votos, a vereadora Lenice Lemos São Bernardo (PFL) – conhecida como Bispa Lenice – foi expulsa da denominação no ano passado em meio a um barraco apocalíptico. Acusada por Estevam e Sônia Hernandes de desviar dinheiro de doações, ela foi denunciada na 1 ª Delegacia Seccional de Polícia, mas revidou atacando. A troca de insultos resultou na abertura de um inquérito policial que começa a ouvir testemunhas nesta semana – e que mostra a versão de Lenice de como a segunda maior igreja neopentecostal do País exaure uma máquina financeira mantida por fiéis.


Formalmente acusada de embolsar R$ 15 mil em contribuições de freqüentadores da igreja e usá-los para pagar contas pessoais e diárias de um apart-hotel, a vereadora diz que foi expulsa da denominação porque se recusou a continuar loteando seu gabinete na Câmara dos Vereadores com indicações de Estevam Hernandes Filho – uma maneira de pagar com dinheiro público o salário de pessoas ligadas à Renascer por vínculo trabalhista ou parentesco.


Ao avisar Hernandes de que queria montar sua própria equipe, teria ouvido: ‘Se a senhora insistir em ter controle do seu gabinete, vou acabar com a sua carreira política’. Ela exonerou os funcionários e, como retaliação, teve documentos de seu escritório residencial roubados e foi expelida da igreja sob a explicação pública de que se recusara a participar de um ‘tratamento anticorrupção’.


Em um relatório de 12 páginas, a vereadora anexa o depoimento de uma ex-secretária dos Hernandes, que trabalhava para 13 empresas do grupo Renascer. A ex-funcionária conta que as empresas maquiavam saldos negativos por meio de operações de factoring feitas com cheques emitidos em nome do filho mais velho do casal, Felippe Daniel Hernandes, o Bispo Tid. Diz ainda que era orientada a falsificar a assinatura de Felippe Hernandes em cheques para comprar cavalos, pagar despesas de um helicóptero e de um haras e cobrir mensalidades de financiamentos imobiliários.


Dissidente da Renascer com maior poder de fogo para enriquecer o saco de denúncias contra os Hernandes – que aguarda julgamento nos EUA -, a vereadora ainda conta que o casal lança campanhas de arrecadação chamadas de ‘desafios’. Em cada uma, Estevam Hernandes pede aos fiéis que entreguem cheques preenchidos e assinados. Os cheques seriam usados para pagar despesas da igreja, mas também para serem negociados com bancos e factoring. Pressionados para atingir as metas, líderes dos templos assinam cheques como garantia de que cumprirão os desafios.


‘Os oficiais e bispos ficaram desesperados ao constatar que seus cheques não seriam cobertos, pois os desafios impostos pelo apóstolo eram impossíveis de serem cumpridos’, diz a acusação da vereadora. Bispa Lenice, dizem pessoas próximas, pretende agora entrar em outra igreja.’


PUBLICIDADE
Marili Ribeiro


Marketing entra na nova era do rádio


‘Com o firme propósito de destacar-se na lembrança do consumidor paulistano na hora da opção pelo seguro do carro – o maior mercado da categoria no País, responsável por 45% do faturamento das seguradoras, algo em torno de R$ 5 bilhões ao ano -, o Grupo SulAmérica partiu para uma ação de marketing incomum: criou uma rádio, que entra no ar hoje, com programação das 5 às 21horas totalmente dedicada ao trânsito.


Não há nada mais infernal na vida do habitante da cidade de São Paulo do que os intermináveis congestionamentos que, nos últimos anos, acontecem em qualquer horário do dia. A cidade enfrenta, em média, 92 quilômetros de engarrafamento pela manhã e recordes de até 155 quilômetros. Receber informações sobre a melhor alternativa para fugir desse massacre diário pode ser uma bênção na arte de driblar os 6 milhões de veículos que circulam por São Paulo.


A Rádio Sul América Trânsito 92,1 FM é o resultado de uma parceria com o Grupo Bandeirantes de Comunicação, que se responsabilizará pelo conteúdo. Envolve investimentos da ordem de R$ 30 milhões para os três anos de projeto, que serão prorrogáveis por maior prazo a depender do sucesso da iniciativa. Promete manter ao todo 22 profissionais e especialistas atentos a tudo que se refere ao tema.


‘Queríamos fazer algo pioneiro’, diz o presidente do grupo, Patrick Larragoiti Lucas. ‘Uma rádio exclusiva sobre trânsito nos moldes da que vamos oferecer, pelo que pesquisamos, existe somente em Londres e Xangai’. A ambição subliminar da iniciativa é abalar a liderança de mercado pertencente à concorrente Porto Seguro Seguros, que detém 28,5% de participação de mercado no Estado de São Paulo, segundo a Superintendência de Seguros Privados (Susep).


‘Temos planos de ampliar nossa fatia desse disputado e importante mercado para seguros de automóvel’, reconhece Larragoiti Lucas. A SulAmérica detém 10% do mercado no Estado de São Paulo.


O uso de projetos de conteúdo nas estratégias de comunicação é hoje uma tendência mundial. Basta citar que a megacervejaria americana Anheuser Busch acaba de lançar um canal de televisão batizado de TV Bud, apelido de sua principal marca, a Budweiser.


‘Não seria eficaz para os atuais objetivos da SulAmérica recorrer a uma campanha tradicional pelas análises e aferições que fizemos dos últimos anúncios’, explica o sócio e diretor de mídia da agência MPM, Daniel Chalfon. ‘Propusemos uma ação inédita capaz de promover uma virada e os dirigentes da empresa foram sensíveis à proposta’. Para formatar o projeto foram necessários nove meses em negociações com órgãos como a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e o Departamento de Operação do Sistema Viário, da prefeitura, entre outros.


O lançamento da rádio envolve também investimentos em campanha publicitária convencional. Haverá desde comerciais nas maiores emissoras de televisão, que vão ficar no ar até março, até anúncios impressos em revistas semanais e nos grandes jornais do País. Para completar a programação, serão usados recursos de mídia exterior, com propaganda em relógios de rua e outdoors nas estradas que dão acesso a São Paulo.’


INTERNET
Pedro Doria


O iPod será o novo CD?


‘Há exatamente uma semana, a Apple anunciou que chegou ao fim sua disputa judicial com a Apple. Entenda-se: a primeira é a fábrica de computadores e iPods; a segunda, a gravadora dos Beatles. A briga pela marca vem desde finais dos anos 1970, quando o primeiro computador Apple veio ao mercado.


Agora, a Apple da Califórnia detém direitos sobre o nome Apple e ninguém entendeu muito bem o que a Apple de Londres ganhou nisso.


Leander Kahney, colunista e blogueiro da Wired.com, tem umas pistas interessantes a respeito de quais as conseqüências do novo acordo. À sua conclusão: o iPod virou o novo CD. Então, seguimos ao argumento.


O que a Apple da Califórnia não podia fazer por conta das disputas judiciais era entrar no ramo de venda de música ‘em mídia física’. Quer dizer, entrar no site iTunes, digitar o número do cartão e baixar um arquivo, tudo bem; era ‘transferência de dados pela internet’. Vender CD, não pode.


Agora pode.


Não que a Apple da Califórnia queira vender CDs. Mas pode vender o iPod já carregado. A edição especial iPod U2, que saiu em novembro de 2004, vinha com um vale para o cliente baixar da rede umas músicas da banda irlandesa. Sim, seria mais simples já ter tudo pré-instalado. Só que não podia.


Um iPod é caro, diriam logo muitos. O caro é a grife, fazer o iPod sai uns trocados. Nos EUA, um iPod Shuffle sai por US$ 75. Cabe pouco lá dentro, uns 20 discos, mas já é alguma coisa. Como a memória flash é cada vez mais barata, o preço dos shuffles pode cair.


Kahney imagina um mundo em que, ali no saguão principal do aeroporto ou da estação de trem, entre a máquina que vende chocolates e a de refrigerantes estará uma enfurnada de iPods customizados. Um tem os Beatles completos, outro o último da Madonna, um terceiro o rap do momento. Cada qual tem seu preço, pode ser os 75 dólares, quem sabe só 15 dólares.


É um CD que você compra e ouve na hora.


Coincidiu – e nada é à toa – que o presidente da Apple, Steve Jobs, divulgou esta semana uma carta aberta às gravadoras, cobrando que a venda online de músicas passe a ser feita sem esquemas de proteção de cópia. Segundo o New York Times, isto já está para acontecer de qualquer jeito. É evidente: a proteção de cópias não fez qualquer diferença na luta contra o esquema de pirataria. Então Jobs sai à frente falando do assunto, se acaba lá na frente ele parece um dos responsáveis.


Além do quê – Guilherme Werneck já contou isto em seu blog Discofonia, no Portal do Estadão -, depois da loja online de músicas da Apple a número dois em venda é a eMusic, que vende música independente sem proteção. Pagou, baixou, faz quantas cópias quiser, depende apenas da consciência do freguês.


Vendo a ineficiência da política de impedir a cópia, o crescimento dos independentes e preocupadas demais com o futuro, talvez as grandes topem o desafio de Jobs.


Talvez, até, ouçam o canto da sereia e toquem para a frente a idéia de que o iPod é o novo CD. Soa qual música, mesmo, dependendo do ouvido de quem ouve. O controle que as gravadoras tinham na distribuição física dos CDs volta a ser possível. Ora, pois.


Quem sabe, até dá certo. Vai que, de fato, maquininhas vendendo iPods com músicas carregadas que podem ser copiadas para o computador do cliente, quiçá até para CDs, façam sucesso.


Mas o problema é que será apenas um suspiro. A música estará online de qualquer jeito, pessoas vão trocar suas favoritas, provavelmente comprarão faixas avulsas ou álbuns inteiros. O controle que a distribuição física permitia não mais será possível.’


O Estado de S. Paulo


Google alerta sobre riscos de TV na web


‘Engenheiros do Google disseram, na última quarta-feira (7), que a internet não tem a infra-estrutura necessária para virar TV. Segundo eles, a web não foi planejada para oferecer programação em alta definição e que ainda não conta com a largura de banda e a tecnologia necessárias. A declaração ocorre uma semana depois do lançamento da versão de testes do Joost, um site que promete fornecer conteúdo de TV em alta definição.’


TELEVISÃO
Patrícia Villalba


A evolução natural do super-herói


‘Não foi pouca a água que rolou debaixo das histórias em quadrinhos, mas os questionamentos dos super-heróis parecem não ter evoluído nada – ‘quem eu sou?’, ‘para onde vou?’, ‘será Deus uma barata?’, ainda são perguntas freqüentes dos personagens, tanto os escritos quanto os filmados e animados. As dúvidas filosóficas não mudaram, mas os efeitos especiais e as técnicas de roteiro dão baile na nova série Heroes, coqueluche da TV americana que passará a ser exibida no Brasil pelo canal pago Universal Channel (NET, Sky e Vivax) no dia 2 de março, às 21 horas. Na TV aberta, a Record está com os direitos de exibição, mas não marcou data de estréia.


O sucesso do épico da NBC é tão grande, que há quem diga que já se desinteressou em saber quais forças estranhas estão por trás dos mistérios da ilha de Lost, a menina dos olhos da concorrente ABC. Tanto é que, coincidência?, ao mesmo tempo em que Heroes estreou com estardalhaço, em setembro do ano passado, Lost tem visto sua audiência cair na terceira temporada (que chega ao Brasil em março, pela AXN). Heroes, por sua vez, alcançou a marca dos 15 milhões de expectadores nos EUA – fora aqueles que conseguem os episódios pela internet, no mundo todo – e antes mesmo de estrear já representava 26% das buscas na rede sobre programas de TV.


Mas a relação entre as duas superséries não se refere apenas a disputas de audiência. Heroes parece até mesmo ter aprimorado os pontos mais instigantes de Lost, em especial a estrutura narrativa. São muitos personagens, e o roteiro enfoca cada um por vez, enquanto a gente fica imaginando qual a relação entre eles. É óbvio que vão se encontrar, mas não sabemos como e, pior, por quê. É mais ou menos a mesma ferramenta dos flashbacks que Lost vai inserindo naquele miserê da ilha para amarrar a história.


No caso de Heroes, os personagens não estão confinados, mas espalhados por várias partes dos Estados Unidos, além do Japão. São seres humanos que sofreram alterações genéticas – à moda da evolução natural da espécie, digamos – e apresentam hoje algum poder maravilhoso. Niki Sanders (Ali Larter), uma stripper de webcam que batalha fazendo poses para criar o filho, revela uma fúria assassina quando está em perigo. O adorável Hiro Nakamura, vivido pelo divertido Masi Oka, ex-técnico dos estúdios de George Lucas (leia entrevista ao lado) é um funcionário de escritório japonês que consegue alterar o tempo e o espaço. Matt Parkman (Greg Grunberg), um policial semifracassado, lê o pensamento alheio. Peter Petrelli (Milo Ventimiglia) é um enfermeiro que descobre que pode voar. Claire Bennet (Hayden Panettiere), uma cheerleader, parece indestrutível – leva facada, quebra o pescoço e o corpo volta ao normal em instantes. Como o leitor pôde perceber, não só os questionamentos filosóficos mas também os poderes continuam os mesmos, e ainda são baseados em nossos sonhos de criança, como voar, ler a mente, não se machucar nas brincadeiras. O roteiro joga de maneira especial com a idéia que muita gente acalentou: ‘Será que sou especial? Estou predestinado a algo grandioso?’


Em Heroes, o algo grandioso é o velho ‘salvar o mundo’, expressão que socorre todo tipo de roteirista de histórias de heróis. A ligação entre os personagens é feita por um cientista indiano – impossível não lembrar do Professor Xavier, de X-Men – que monta a teoria da existência de novos heróis a partir de mutações genéticas. São o ‘próximo degrau evolutivo’ da raça. Pouco antes de um eclipse solar, entretanto, o geneticista é morto. Seu filho, o professor de genética Mohinder Suresh (vivido pelo belo Sendhil Ramamurthy), claro, assume a pesquisa do pai e passa a ser perseguido.


Logo, ele descobrirá que uma tragédia de grandes proporções poderá levar ao fim do mundo. Ao mesmo tempo em que as pesquisas de Suresh avançam, os novos super-heróis vão desvendando os próprios mistérios. Hiro é o primeiro a se dar conta que está prestes a servir à Humanidade, digamos assim. Ele parte – via teletransporte – para Nova York com uma carteirinha de membro honorário do fã-clube da Marvel como único ‘documento’ legível em inglês e rende boas risadas. Hiro se tornou tão popular que foi indicado para o Globo de Ouro e receberá na série a ‘visita’ do pai de boa parte dos mais famosos heróis dos quadrinhos, Stan Lee. O episódio, Unexpected, vai ao ar nos Estados Unidos no dia 19. Vale lembrar que o famoso criador de HQs tem agora seu reality show, o inacreditável Who Wants To Be A Superhero?, que recruta novos heróis à moda de American Idol e com muito escracho. No Brasil, é exibido às terças-feiras, às 22 horas, pelo canal Sony.


Heroes tem efeitos especiais de primeira, roteiro eletrizante, humor. Não poderia faltar um bandido: Mr. Bennet (Jack Coleman) é padrasto de Claire, mas, misteriosamente, tem planos de seqüestrar todos as ‘maravilhas’ – sim, eles são chamados como os personagens da série de HQ Marvels, que já tinha explorado há mais de dez anos o tema ‘como é duro ser super-herói no mundo de hoje’. Ao menos nos primeiros episódios não fica claro qual é a ligação entre eclipse, genética, superpoderes e fim do mundo. Calma, teremos pelo menos cinco temporadas para descobrir.


Conheça alguns heróis


POLÍTICO: Nathan Petrelli (Adrian Pasdar) está no meio de uma campanha eleitoral quando descobre que ele e seu irmão Peter podem voar. Sua maior preocupação? Que o poder recém-descoberto atrapalhe a eleição.


DROGADO: Isaac Mendez (Santiago Cabrera) é um pintor viciado em heroína que, em transe por causa da droga, faz quadros que retratam o futuro, cenas sempre ligadas aos outros personagens com poderes especiais.


STRIPPER: Niki Sanders (Ali Larter) é mãe de um garoto considerado gênio. Ganha a vida tirando a roupa em frente do computador. Tem lapsos de memória, ouve vozes e está sempre cercada de cadáveres.


GATINHA: Claire Bennet (Hayden Pannetière) é uma cheerleader invencível, nunca se machuca. É a protagonista de cenas incríveis quando, toda alquebrada, costuma se regenerar na frente do telespectador.’


Etienne Jacintho


‘Queria ter o poder de Hiro e parar o tempo agora’


‘Entrevista – Masi Oka: Ator


Como é sair em público após o sucesso de Heroes?


É bacana encontrar fãs e sentir a paixão deles pelo programa, assim como nós, atores, somos apaixonados por Heroes. Uma vez, um cara estava no celular e passou por mim. Ele me viu, virou a cabeça, abriu a boca e deixou cair o telefone – o que achei legal porque provei o mesmo poder de uma mulher gostosa. E também já houve casos de garotas que me reconheceram, me abraçaram, me beijaram e disseram: ‘Nós te amamos!’ E foram embora. Pensei: ‘Ei, esperem, voltem. Não vão embora!’ Sabe, tem sido tudo surreal.


Quando você leu o roteiro, o que te deixou mais entusiasmado em relação a seu personagem?


Toda a vez que abro o roteiro é incrível, porque começo a pensar no futuro e quero saber o que vai acontecer. O maior mistério da série é como os roteiristas continuam trazendo novidades e se superando semana após semana. Recebi dicas do que vai acontecer na segunda temporada e pensei: ‘Isso é inacreditável!’ Parecia criança em uma loja de doces.


Qual foi o momento em que você percebeu que está em uma grande série? Foi quando você recebeu indicação para o Globo de Ouro?


Não sei. Todo dia descubro algo novo. Mesmo esta entrevista. É um sonho se transformando em realidade, em vários sentidos, porque nunca imaginei fazer algo assim. Esses dias tive a oportunidade de conhecer Mr. Spielberg (o cineasta Steven Spielberg) e ele comentou a série. Queria ter o poder de Hiro (seu personagem), parar o tempo agora e aproveitá-lo para o resto da minha vida. Mas, não tenho esse poder…


Qual foi a primeira coisa que você fez quando soube de sua indicação para o Globo de Ouro?


Quando recebi o recado, cobri meu rosto com lágrimas. Liguei para minha mãe e, como ela está no Japão, não consegui falar. Lá, eram duas horas da manhã ou algo assim… Deixei recado na secretária e, cinco minutos depois, ela me ligou chorando. Estávamos completamente emocionados.


Em sua opinião, por que super-heróis são tão populares?


Acredito que o super-herói simboliza a esperança humana por um mundo melhor.


Você acredita na possibilidade de viagem no tempo?


Na minha cabeça, isso é coisa de sexta dimensão. Vivemos em um mundo tridimensional. Acredito que, na verdade, há uma quarta dimensão, que é o tempo, e em uma quinta dimensão, que é uma realidade alternativa. Tem de haver um modo de passar para a sexta dimensão e se mover para outra realidade e outro tempo. Mas não vou chateá-la com esses detalhes. Só precisamos de um capacitador de fluxo (como no filme ‘De Volta para o Futuro’) e estaremos bem.’


Cristina Padiglione


Produtora faz jornal


‘Produtora que figura entre as mais bem equipadas do País, a Casablanca está cuidando do novo telejornal de Boris Casoy para a TV JB (ou CNT). Os estudos para cenário estão em andamento e uma equipe enxutíssima, de 15 pessoas, vem sendo montada no bairro da Bela Vista, em São Paulo.


Entre as repórteres já contratadas, estão Silvia Corrêa e Maria Antonia Demasi.


Com estréia prevista para março (ainda sem data certa), o novo noticiário vai ao ar às 22 horas e foi batizado como Telejornal do Brasil. ‘Quando fizemos o TJ Brasil, no SBT, a idéia de nome era justamente Telejornal do Brasil. E, na época, não deu certo porque o título já pertencia ao JB’, explicou Casoy.


Embora a Casablanca disponha de equipamentos com recursos bem avançados, a empresa nunca produziu um telejornal diário. Faltam equipamentos para reportagens externas, o que já vem sendo providenciado.


A Casablanca é referência como produtora de filmes comerciais, campanha política e programas de variedades. Só no ramo das novelas é que sua experiência (Metamorphoses, na Record) não deixa saudade.’


Júlia Contier


Donas de Casa em Buenos Aires


‘Os diretores da RedeTV!, Fábio Barreto e Mônica Pimentel, estão conhecendo os estúdios em Buenos Aires onde será gravada a série Donas de Casa Desesperadas – versão brasileira da série Desperate Housewives. O mesmo local abrigará as gravações das vertentes chilena, argentina e mexicana do mesmo enredo. Aqui, a estréia é esperada para abril.


Enquanto a adaptação brasileira não vem, a RedeTV! continua passando a primeira temporada americana aos domingos e registra de 2 a 3 pontos no ibope. A segunda temporada americana deve estrear no dia 25 deste mês.


entre-linhas


A MTV discordou da classificação livre dada pelo Ministério da Justiça ao reality show As Quebradeiras. ‘Acho que eles não entenderam; informamos então que o programa não deveria ser exibido antes das 10 da noite’, disse o diretor Zico Góes.


O teor etílico de As Quebradeiras é de fazer inveja às festas do BBB7. No site da MTV, o perfil de uma delas, de 18 anos, diz: ‘Gosta de beber e de zoar.’


Por falar em BBB7, os assinantes do pay-per-view da GloboSat não têm acesso 24 horas à casa: não raramente, a imagem fica congelada por vários minutos.’


************