Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jornal Libération
enfrenta crise


Leia abaixo os textos de quinta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Globo


Quinta-feira, 15 de junho de 2006


LIBÉ EM CRISE
O Globo


Capitalista abala jornal de esquerda


‘Do Independent, PARIS – Um capitalista está provocando uma revolução esquerdista num marco do jornalismo de esquerda francês, o ‘Libération’. O principal acionista do jornal, Edouard Rothschild – da tradicional família de banqueiros – pediu a saída de Serge July, presidente e fundador do ‘Libération’, junto com o filósofo Jean-Paul Sartre.


Na primeira página da edição de terça-feira, os jornalistas publicaram uma nota avisando a Rothschild para não interferir com o ‘contrato moral’ para defender a liberdade editorial e ‘sua própria visão da sociedade’.


July deve deixar o jornal, fundado em 1973 para preservar o espírito de Maio de 68, nos próximos dias, encerrando uma sólida carreira. Desde aquela época, July aproximou-se do centro e tornou-se uma das principais figuras da mídia francesa. O ‘Libération’ hoje é um dos jornais mais respeitados da França, ainda voltado para os jovens mas cada vez mais ignorado por eles devido à internet e aos tablóides gratuitos e anticapitalistas.


Acionista quer que diário tenha postura antiglobalização


A venda de exemplares e a publicidade caíram de maneira alarmante desde que Rothschild – com o apoio de July – tornou-se o principal acionista do jornal, ano passado. Em entrevista a outro diário, o ‘Le Parisien’, na terça-feira, Rothschild disse que o ‘Libération’ está ‘perto da falência’.


Ele investiu 20 milhões e se disse preparado para investir mais 15 milhões – mas sob a condição de que July e Louis Dreyfus, o diretor-geral, deixassem o jornal.


Para Rothschild, o ‘Libération’ precisa de um novo começo, sob uma nova direção, a fim de reconquistar seu apelo junto aos jovens. Isso, para ele, significa ficar mais voltado para a esquerda, a fim de refletir as opiniões antiglobalização da maioria dos jovens franceses.


Segundo um ex-executivo do jornal, Rothschild não quer influenciar as decisões editoriais do jornal, mas quer mais voz nas questões financeiras e na estratégia de longo prazo:


– Até agora, ele viu seus 20 milhões virarem fumaça.’


INTERNET
Hackers apagam lista de torturadores de site do grupo Tortura Nunca Mais


Chico Otavio


‘O grupo Tortura Nunca Mais denunciou ontem a violação da página de seu site que exibia a lista de pessoas acusadas de tortura durante o regime militar. A presidente da entidade, Elizabeth Silveira, disse que hackers entraram no site e apagaram a lista que mostrava nomes de militares brasileiros que cursaram a Escola das Américas, nos Estados Unidos, onde teriam aprendido técnicas de interrogatório, e agentes da repressão citados no projeto Brasil Nunca Mais. Em seu lugar, deixaram o seguinte texto: ‘Bios. D3UX was here. Brasil is the best and fuck the others’ (Brasil é o melhor e fodam-se os outros).


Grupo é atuante na área dos direitos humanos


Elizabeth protestou:


– É muito estranho que os hackers tenham invadido exatamente esta página, na qual divulgávamos as denúncias contra os torturadores.


Criado em 1985 por iniciativa de ex-presos políticos que foram torturados durante o regime militar e por parentes de mortos e desaparecidos políticos, o Tortura Nunca Mais é um dos grupos mais atuantes no país na luta em defesa dos direitos humanos. Com as suas campanhas, já conseguiu afastar torturadores de cargos públicos e cassar o registro de médicos que emitiram laudos falsos.


Até ontem, a página de denúncias do site (http://www.torturanuncamais-rj.org.br) estava fora do ar. A lista, diz a dirigente, voltará a ser divulgada.’


PIRATARIA
José Meirelles Passos


Pelé: ‘gol de placa contra pirataria’


‘WASHINGTON. Os estúdios de Hollywood vão aproveitar os imensos índices de audiência de televisão da Copa do Mundo para utilizar uma nova arma na guerra contra a pirataria: Pelé. A partir de hoje, quatro redes de TV a cabo dos EUA e canais de países ao redor do mundo exibirão um anúncio com o rei do futebol convidando: ‘Vamos fazer um gol de placa contra a pirataria’.


O comercial da Motion Picture Association of America (MPAA), que reúne os maiores estúdios, é falado em português e tem duas versões: uma com legendas em espanhol e outra em inglês. Enquanto são exibidas cenas com jogadas de Pelé, com a camisa da seleção brasileira, um locutor lembra que ele marcou mais de mil gols, ganhou três mundiais e uma reputação de honestidade e de jogo limpo. O narrador completa: ‘Agora Pelé se uniu a uma nova equipe’. Surge, então, o ex-jogador:


– Há muitas pessoas decentes trabalhando na indústria cinematográfica. É por isso que devemos lutar contra a pirataria – diz Pelé.


O locutor sugere que os filmes sejam sempre vistos nos meios legais. E Pelé arremata com o convite para o gol de placa.


Ao falar da honra de ter o ícone do futebol na campanha, Dan Glickman, presidente e executivo-chefe da MPAA, lembrou que o próprio Pelé tem sido vítima da pirataria. Cópias ilegais do documentário ‘Pelé eterno’, de 2004, têm sido vendidas em cidades da América Latina. A indústria de filmes teve perdas de US$ 18,2 bilhões em 2005 com a pirataria. Só os estúdios tiveram prejuízo de US$ 6,1 bilhões (80% no exterior e 20% nos EUA). Do total, US$ 2,3 bilhões foram perdidos com pirataria via internet, principalmente na China, Rússia e Tailândia.’


VENEZUELA
O Globo


Chávez ameaça suspender licenças de emissoras de televisão privadas


‘CARACAS. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciou ontem que ordenou uma revisão de todas as concessões de canais de televisão privados que vencerão no ano que vem, acusando as emissoras de fazerem um ‘guerra psicológica’ contra o governo e indicando que as licenças poderão ser suspensas.


– Não podemos ser tão irresponsáveis e continuar dando concessões a um pequeno grupo de pessoas – disse.


Desde que chegou ao poder, há sete anos, Chávez vive em pé de guerra com os principais jornais e estações de TV, que em 2002 apoiaram um movimento para forçá-lo a renunciar.


O anúncio foi feito numa cerimônia em que o presidente, de uniforme militar, entregou a militares novos fuzis russos Kalashnikov prometendo que os EUA não vão derrotá-lo. No início do mês, a Venezuela recebeu 30 mil fuzis, semanas depois de Washington proibir a venda de armas ao país.


– O império dos EUA faz uma campanha no mundo tentando isolar a Venezuela para que ninguém possa nos vender sequer uma bala – disse.


Depois de passar tropas em revista e mirar um alvo com um dos fuzis, ele afirmou:


– Continuamos avisando ao governo dos EUA que eles não vão nos derrotar.’


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O Estado de S. Paulo


Quinta-feira, 15 de junho de 2006


LIBÉ EM CRISE
Gilles Lapouge


A crise no jornal ‘Libération’


‘Um jornal em crise. Mais um. Mas esse jornal não é qualquer um. É o Libération, o jornal fundado em 1973 depois das revoltas de maio de 1968 pelo velho Jean-Paul Sartre e o jovem ‘esquerdista’ Serge July. Trinta anos se passaram.O Libération milagrosamente sobreviveu. Jovem, inventivo, culto, insolente, ele faz parte dos grandes diários ao lado de Le Monde, Le Figaro e Le Parisien.


Mas se o Libération sobreviveu foi porque seu fundador, Serge July, aceitou as leis da sociedade liberal. E essas leis são cruéis. Hoje, um jornal, mesmo brilhante, não consegue respirar se não tiver um financiador ‘na manga’. July, portanto, colocou água no seu próprio vinho quando aceitou a entrada de um capitalista no capital da empresa em janeiro de 2005.


Os esquerdistas se horrorizaram, mas July respondia que esse capitalista era especial. Espanto geral: tratava-se de Edouard de Rothschild, filho de Guy de Rothschild e meio irmão de David, fundador do Banque Rothschild et Cie. Esse Guy era ‘atípico’, um desses rapazes extravagantes que as grandes famílias costumam produzir, e que tinha o mérito de ser considerado, entre os Rothschild, o ‘esquerdista da família’.


Um ano e meio depois, a canção está cheia de ‘notas falsas.’ Guy de Rotschild acaba de pedir a saída de Serge July, sem o que o dinheiro que mantém o Libération funcionando não chegará mais e será a morte. July, após uma luta prolongada, se curvou. ‘Se a minha saída pode favorecer o refinanciamento do jornal, eu sairei,’ disse ele.


A triste aventura do Libération é eloqüente. Os jornais procuram um salvador financeiro. O casamento é muito bonito. Alguns meses depois, o financiador, que havia jurado não mexer na redação, tenta juntar sua própria cor à do jornal.


Isso aconteceu no ano passado no jornal de direita Le Figaro. Este jornal havia sido comprado por um grande industrial, Serge Dassault (da indústria aeronáutica). No começo, Dassault segurou a língua. Depois ele descobriu que seu próprio jornal estava um pouco a esquerda demais. Então exigiu a publicação em seu próprio jornal de um editorial de direita. Recusa glacial do diretor. Risco de choque. Dassault recuou para sua casca. Por enquanto.


A anemia do Libération acompanha a da cultura de esquerda. Ao longo dos anos, novos leitores procuraram o jornal por causa do talento de seus redatores, mas eles partilhavam cada vez menos sua cultura ‘rebelde’ de antes da globalização, antes de Tony Blair. Daí o esgotamento dos leitores.


De maneira mais geral, o drama do Libération ilustra o da impressa diária na França. É uma derrota. Em 10 anos, a circulação dos diários caiu 18%. O tempo consagrado à leitura desmoronou: 30 minutos por dia hoje, enquanto a televisão mobiliza a atenção dos franceses por 3 horas e 23 minutos.


Enquanto isso, os jornais gratuitos devoram os tradicionais. O Le Monde vende 320 mil exemplares diários. O Le Figaro, 320 mil. O Libération, 136 mil. Mas os dois diários gratuitos superam todos os outros: o 20 Minutes distribui 660 mil exemplares por dia e o Métro, 458 mil.


O que pensam desse drama os antigos amigos do Libération ‘esquerdista’? É um caso de feitiço contra o feiticeiro. Serge July contribuiu para veicular as idéias da nova ortodoxia liberal e agora é vítima dos financistas que ele próprio introduziu no capital do Libération.


* Gilles Lapouge é correspondente em Paris’


VENEZUELA
O Estado de S. Paulo


Chávez promete tirar concessão de TVs que o criticam


‘E presidente venezuelano avisa: ‘Não dou nenhuma importância ao que dirão os oligarcas do mundo’


As emissoras de televisão privadas venezuelanas que criticam o governo não terão suas concessões de funcionamento renovadas, anunciou ontem o presidente Hugo Chávez.


‘Não podemos ser tão irresponsáveis ao ponto de continuar dando concessões a um pequeno grupo de pessoas para que usem emissoras de televisão, num espaço de transmissão que é do Estado, contra nós e em nossos próprios narizes, como quinta coluna’, ressaltou Chávez durante uma solenidade no Ministério da Defesa. ‘Ordenei uma revisão dessas concessões, que vencem em 2007’, insistiu ele. ‘Não dou nenhuma importância ao que dirão os oligarcas do mundo. O que me importa mesmo é a sorte de minha pátria e a unidade da Venezuela.’


Usando farda do Exército e boina vermelha, o presidente venezuelano afirmou que a campanha das televisões contra seu governo é paga ‘pelo império’ – uma alusão aos Estados Unidos.


Alberto Federico Ravel, diretor da emissora de TV Globovisión, reagiu afirmando que se trata de ‘mais uma ameaça de um presidente autoritário que não crê na liberdade de expressão’.


Federico Ravel garantiu que a Globovisión não vai se intimidar. ‘Vamos continuar informando aos cidadãos venezuelanos as coisas boas e más que ocorrem neste país, sob qualquer risco, incluindo o risco de perder nossa concessão’, ressaltou.


Chávez também confirmou ontem a compra de caças russos Sukhoi ainda este ano, para substituir a frota de F-16 americanos. A Venezuela está tendo problemas com a manutenção dos F-16 porque o governo americano tem se recusado a vender peças de reposição ao país. Chávez não disse quantos caças serão comprados. A Venezuela já encomendou também à Rússia 15 helicópteros militares (num total de US$ 200 milhões) e de 100 mil fuzis de assalto AK-103, dos quais 30 mil já chegaram ao país.


ASSOCIATED PRESS, FRANCE PRESSE, EFE E REUTERS’


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Galvão inspira web


‘Há algo mais engraçado do que criticar Galvão Bueno durante as transmissões da Copa? Pois o narrador mais odiado e assistido da TV – é fato, as pessoas reclamam, mas são dependentes químicas dele nos jogos do Brasil – virou motivo de deboche na internet. São vários os games com a proposta de fazer o torcedor descontar toda a raiva de Galvão ou apenas se divertir com o pretexto de acertar o narrador.


No link Fliperama, da UOL, há o Cala a Boca Galvão!. Ganha quem conseguir colocar o maior número esparadrapos na boca dos Galvões Bueno que pululam na tela.


Entre os jogos do site www.euheim.com.br, o destaque fica por conta do Bolada no Galvão. O telespectador tem de acertar boladas em Galvão, que fica pulando na tela. Mais elaborado que o primeiro, o Bolada no Galvão mostra o narrador detonado após levar várias boladas. As que acertam na cara do personagem valem mais pontos. Se todos os Galvões Bueno que aparecem forem acertados, o jogo está ganho.


Os games não deixam de ser uma boa alternativa para quem quer extravasar a ira por Galvão ou pela seleção.


Hackers apagam lista de torturadores de site do grupo Tortura Nunca Mais’


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Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 15 de junho de 2006


COPA 2006
Demétrio Magnoli


Ronaldinho na passarela alemã


‘HÁ EXATAS quatro décadas, na Copa da Inglaterra, o Brasil apresentou-se como favorito absoluto e amargou uma eliminação precoce. A derrota decisiva entrou para os anais como o dia em que Pelé mancou durante 45 minutos trágicos depois da bárbara caçada feita pelo zagueiro português Vicente na etapa inicial. Naquela época, em que substituições não eram permitidas, o negócio do futebol ainda engatinhava. Hoje, ao lado do audiovisual e do turismo, o futebol está no centro da indústria do entretenimento, que é um dos motores da economia mundial. A Europa, com seus clubes bilionários, domina o único campo empresarial significativo no qual os EUA são periféricos. Fracassou a tentativa de incorporar o mercado americano ao negócio do futebol, via Copa de 94. Nos EUA, a Copa da Alemanha é um atrativo secundário, e os torneios de ‘soccer’ não se interrompem durante a feira global da bola. Depois de 94, analistas profetizaram o declínio da Copa do Mundo e a sua eventual substituição por um campeonato mundial de clubes. O raciocínio sustentava-se na noção de que aos clubes-empresas interessa a difusão das suas marcas corporativas, não a dos símbolos nacionais identificados às seleções. A profecia naufragou. A Copa da Alemanha é o maior fenômeno audiovisual da história. O G14, cartel dos grandes clubes europeus, acaba de pronunciar-se por um novo modelo no qual a Copa se tornaria bienal. Como entender o aparente paradoxo? A fidelidade emotiva aos clubes é um fenômeno histórico e cultural de escala local. Milan, Barcelona, Liverpool, Bayern, Lyon, Real Madrid são vetores de comunidade imaginárias circunscritas a uma cidade e seu entorno. Eles não podem se transformar, por si mesmos, em marcas globais. Para empreender o salto mágico, precisam associar a sua camisa a ‘marcas emprestadas’, que são os jogadores-ídolos. Essas celebridades funcionam como mediação indispensável entre os clubes e a ‘torcida mundial’. A Copa do Mundo é crucial para o negócio do futebol. O sistema da Copa não só desbrava mercados consumidores (Japão, Coréia do Sul) mas, sobretudo, promove a reciclagem de jogadores-ídolos na arena global. Mobilizando as emoções nacionais e as fidelidades patrióticas, que são elementos estranhos à lógica do mercado, as ‘guerras pacíficas’ organizadas pela Fifa fornecem aos clubes-empresas as ‘marcas emprestadas’ que os catapultam da esfera cultural local à esfera econômica mundial. O Brasil pode perder a Copa. Mas Ronaldinho não corre o risco de repetir, na passarela alemã, a triste saga inglesa de Pelé. Agora, o nome do jogo é dinheiro.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Outros lados


‘Alta madrugada e Galvão Bueno chamou imagens que saudavam Kaká como o melhor do jogo.


Ontem o dia todo, ele virou febre. No destaque na home page do portal Globo.com, um ‘vídeo livre’ com uma cena de marcação e o título ‘Mão-boba: croata tenta ‘segurar’ Kaká de forma suspeita…’.


No Terra, outro enunciado, ‘Revista gay elege Kaká um dos mais belos da Copa’. No alto, com uma foto, a legenda ‘Mulher de Kaká acalma craque’.


Mal Galvão Bueno cedia, ainda na madrugada, e a BBC Brasil entrava no ar com uma entrevista com Tostão, para o outro lado.


Não que o comentarista, a referência da cobertura entre os ‘pundits’ da Copa, discorde da maioria.


Avaliou que a dupla Ronaldo e Adriano foi ‘muito mal’ e disse mais -que Ronaldinho decepcionou com um ‘futebol comum’. Mas foi ao extremo ao tocar na estrela que subia naquele instante:


– Se não fosse o gol, Kaká também teria tido atuação discreta.


Enquanto Kaká ganhava ares de ídolo sexual, ontem, Ronaldo era ridicularizado até na Globo. Da emissora, início da tarde:


– O tablóide alemão ‘Bild’ diz na manchete, ‘O problema gordo do Brasil’, alusão ao peso de Ronaldo.


Já o blog de Eduardo Vieira da Costa postou, sob o título ‘Seu Barriga’:


– De um taxista turco, em Berlim, ao saber que eu era do Brasil, ‘O Ronaldo está esperando um filho?’.


Então volta Lula e, na Folha Online, compara Ronaldo à Petrobras.


O presidente candidato diz que a estatal ‘é um filho que todo mundo gostaria de ter, espécie de Ronaldo da indústria brasileira’.


Pouco depois, pelo que anunciou o SporTV, Ronaldo saiu para uma clínica, com tonturas. Os exames nada constataram.


Kaká ainda tem muito a aprender com as celebridades Ronaldo e Lula.


E o ‘Jornal Nacional’ abriu ontem, até ele, seu primeiro blog, com posts de repórteres e editores_e foto de Fátima Bernardes passando manteiga no pão


BATER, BATER E BATER


O blog de Helena Severo adiantou que, na propaganda gratuita de hoje à noite, o PFL vai ‘explorar a denúncia do procurador-geral Antônio Fernando de Souza, que acusa 40 pessoas’.


É ‘mão pesada’, mas a blogueira avalia que, de novo, ‘provavelmente não vai colar no teflon’. E justifica:


– Nos bastidores, o PFL acha que o próprio PSDB não está suando a camisa por seu candidato. O que resta ao PFL? Bater, bater e bater. Não porque ache que vai derrubar, mas para manter coerência, eleger bancada e começar a pensar em 2010.


CHEGOU A VEZ


Por outro lado, no blog de Claudio Humberto:


– Antônio Fernando de Souza concluiu a denúncia contra os tucanos por envolvimento com os recursos originários das empresas de Marcos Valério. Vai surpreender: o Ministério Público Federal aposta na veracidade da ‘lista de Furnas’.


NO TAPETÃO


Da Folha Online, na home, meio da tarde, ‘PSDB pede que TSE tire condição para Lula ser reeleito’.


Da reportagem, em tom quase incrédulo:


– A legenda pede que o presidente seja considerado inelegível nas eleições. Nas últimas pesquisas, Lula tem recebido intenção de voto de quase 50% dos eleitores, enquanto Geraldo Alckmin oscila em torno dos 20%.


No enunciado do blog de Ricardo Noblat, ‘PSDB quer ganhar no tapetão’.


Mas veio a noite e Lula pode ser votado, ‘TSE nega pedido do PSDB’.


SEM INVADIR


Ontem, também no blog de Claudio Humberto:


– A Globo instalou telão nos corredores do Senado para exibir jogos da Copa com padrão digital japonês. Com direito a sofá.


Para registro, faltam cinco dias para Lula se decidir pelo japonês -ao menos na data dada nas Globos.’


CENSURA NO IRÃ
Folha de S. Paulo


País proíbe circulação da ‘Economist’


‘O Irã proibiu a importação e a distribuição da revista britânica ‘The Economist’ após a publicação ter indicado num mapa o golfo Pérsico como ‘o golfo’, em sua última edição.


É a segunda vez em dois anos que o Irã proíbe uma publicação conhecida internacionalmente por não usar o termo ‘golfo Pérsico’. Em novembro de 2004, um atlas da revista ‘National Geographic’ também foi banido por trazer ‘golfo Árabe’ entre parênteses ao lado do nome ‘golfo Pérsico’.


Teerã defende agressivamente o termo contra ‘golfo Árabe’, que vê como um nome idealizado por nacionalistas árabes. O Irã domina a parte leste da costa, enquanto países árabes se encontram na margem oposta.’


TELEVISÃZO
Daniel Castro


Copa digital da Globo tem baixo público


‘Foi um fiasco de público a transmissão em altíssima definição (HDTV) do primeiro jogo do Brasil, promovida pela Globo como demonstração de TV digital. A emissora, que investiu em sinal de satélite, não conseguiu atrair anteontem mais de 60 pessoas para o teatro do hotel Maksoud Plaza, em São Paulo, que tem 400 lugares.


Tanto Globo quanto hotel culpam o pouco tempo para fazer convites. A emissora acredita que no próximo domingo reunirá muito mais gente.


O fato é que a Globo vem enfrentando ‘barreiras culturais’: as pessoas sondadas preferem assistir aos jogos do Brasil em casa ou em bares.


A Globo pretendia fazer demonstrações em mais de 150 pontos no país, alguns só para convidados (como o Maksoud), outros abertos ao público (shoppings). Até ontem, só fazia demonstrações em 53 locais. Em São Paulo, chegou a anunciar parceria com três shoppings, mas a restrição à exploração comercial as inviabilizou. Na cidade, além do Maksoud, faz exibições em HDTV em seus dois prédios, no Ponto Frio da marginal Tietê e na universidade Mackenzie.


Quem viu o jogo no Maksoud aprovou. ‘A imagem é nítida e dá para perceber as nuances de tons de cores’, disse a auxiliar administrativa Cássia Kobayashi. O pedreiro Raildes Santos de Deus, que trabalha no hotel, não notou as diferenças. ‘Está muito bom’, constatou.’


CÓDIGO DA VINCI
Contardo Calligaris


Um Deus para nossos desejos


‘OS EX-VOTOS são objetos oferecidos e expostos em igrejas e capelas para comemorar um favor que foi pedido a Deus ou a um santo e que Deus ou o santo, generosamente, concederam. Em geral, são de três tipos. Há quadros que representam uma situação penosa em que alguém apelou para a divindade, fez uma promessa e foi salvo: uma criança doente, marinheiros num naufrágio, um incêndio. Quase sempre, comportam a data, a inscrição ‘V.F.G.A.’ (‘votum feci, gratiam accepi’, fiz um voto e recebi uma graça) e o nome do beneficiado. Há pequenas figuras de prata que representam uma parte do corpo que foi curada (perna, olhos, rosto, barriga etc.), um militar que voltou vivo da guerra ou uma casa. E há corações prateados, que expressam uma gratidão menos específica. Os ex-votos mais velhos são removidos das igrejas para dar espaço aos novos. Alguns chegam às lojas dos antiquários e, enfim, às mãos de colecionadores enternecidos não pela qualidade artística dos objetos (que é mínima), mas por seu valor humano: eles são concentrados de medo, sofrimento, esperança e fé, metáforas poéticas das festas, das penas e das incertezas da existência. Voltei das férias com uma pequena coleção de ex-votos. O que me surpreende é que o pedido que produziu a promessa é sempre uma necessidade básica: salvar a vida, estancar a doença, garantir um teto. Claro, santo Antônio deve receber votos e promessas de muitos que buscam namoros e casamentos. E conheço alguém que, há tempo (embora sem sucesso), pede a Deus os números certos para ganhar na loteria. No entanto, esses pedidos mais frívolos não aparecem nos ex-votos. Suponho que, nesses casos, os agradecimentos se escondam nos corações ‘genéricos’ e discretos que mencionei antes. Seja como for, na nossa relação com santos e deuses, pedir socorro é permitido na necessidade, mas é duvidoso e envergonhado quando se trata de satisfazer desejos. Não é bem-visto atarefar os santos com vontades fúteis, atrás das quais talvez estejam sentimentos pouco nobres (vaidade, cobiça, sede de poder e por aí vai). Pede-se a Deus e aos santos a vida, a saúde e o bem (sobretudo o dos outros), ao passo que, para conseguir o relógio de Brad Pitt naquela propaganda, um pacto com o Diabo parece obviamente mais apropriado. Essa divisão de tarefas tem um custo considerável. Ela se alimenta na idéia de que o cristianismo (se não o monoteísmo, em geral) seria sisudo, necessariamente anti-hedonista: religião não rima com prazer, e os prazeres seriam sempre culpados. É como se as disciplinas clássicas do controle de si e da moderação (a própria filosofia de Epicuro) tivessem sido substituídas por uma moral que atribui pontos só ao sofrimento e ao sacrifício ou aos júbilos da contemplação e da celebração de Deus e da obra divina. As alegrias da experiência humana (a começar pelos prazeres do corpo) parecem ser ninharias, perdas de tempo. Especialmente no mundo contemporâneo, essa divisão de tarefas deixa ao Diabo um espaço considerável, se não prioritário. Deus perde terreno nas sociedades urbanas desenvolvidas, regradas pela variedade dos desejos de coisas supérfluas: se ele é nosso interlocutor para as coisas ‘sérias’, a competência em matéria de desejo e prazeres fica com o demônio. Ora, hoje, em Milão, visitar o cenáculo de Leonardo é impossível sem reservas feitas com um mês de antecedência: os turistas escrutam a figura de João e o espaço em forma de ‘V’ que separa Cristo do apóstolo, constatam a ausência do cálice na mesa etc. Em suma, eles querem saber se é verdade, como diz ‘O Código Da Vinci’, que Cristo se casou com Madalena. Desde o Concílio de Nicéia (em 325), a igreja tenta conciliar a divindade com a humanidade de Cristo. Para os docetistas, o corpo de Cristo era uma ilusão ótica. Para os arianos, a união de homem e Deus era impossível. Para Luciano de Samósata, Cristo era homem, portanto não podia ser Deus. Todos condenados. Será que os turistas de Milão, leitores do ‘Código Da Vinci’, são novos heréticos? Pode ser. No entanto, talvez eles procurem apenas uma religião para nossos tempos: se eles imaginam um Cristo mais humano do que manda a ortodoxia, se eles levantam a hipótese de que ele tenha amado uma mulher e conhecido os prazeres da carne, é porque gosta riam que não apenas a necessidade mas também o desejo pudesse pertencer a Deus. Não ao Diabo.’


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