Wednesday, 13 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Jornal Libération
está morrendo


Leia abaixo os textos de quinta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Quinta-feira, 21 de setembro de 2006


LIBÉ EM CRISE


Thomas Crampton


‘Libération’ chega ao limite da crise financeira


‘O fim pode estar próximo para o Libération, o jornal francês fundado pelo filósofo Jean-Paul Sartre e membros da extrema esquerda francesa.


Após anos de quedas nas vendas e nos anúncios, o maior acionista do jornal, Edouard de Rothschild, parou de pagar os custos operacionais da publicação e, segundo o editor Pierre Haski, os salários de outubro foram suspensos por tempo indeterminado. ‘Em 28 de setembro chegaremos ao limite’, disse Haski. ‘É triste, mas é verdade.’


Desesperados em busca de uma solução e fiéis às suas raízes políticas, na semana passada os jornalistas sugeriram aos leitores que ajudassem a financiar a publicação por meio da aquisição de ações.


Em junho, Rothschild demitiu Serge July, publisher do jornal por um longo período, e o substituiu. Quatro dos mais renomados jornalistas do Libération, inclusive Florence Aubenas (que foi mantida como refém no Iraque por cinco meses), se opuseram à substituição e deixaram o jornal.


Na quinta-feira passada, os funcionários publicaram um apelo aos leitores e a Rothschild ao longo de duas páginas, e organizaram um bate-papo pela internet. O artigo de 1,7 mil palavras descrevia a situação sem precedentes e pedia que o acionista investisse na publicação.


‘Pela primeira vez em nossa história, temos um acionista que se envolveu com o jornal para fazer dinheiro’, disse Haski. ‘Nossos outros investidores estavam felizes por conseguirmos manter as perdas no mínimo.’


Rothschild investiu no Libération no início de 2005 para construir um grupo de mídia. Em julho, reagiu agressivamente a um texto de opinião do Le Monde que citava uma frase de Sartre: ‘Dinheiro não tem idéias.’ O acionista respondeu, também no Le Monde, que ‘o Libération precisa de apoio moral, intelectual e financeiro, mas não precisa de um réquiem.’ A circulação diária em 2005 do Libération foi de 144,4 mil exemplares, menos da metade dos outros jornais de interesse geral da França, o Le Monde e o Le Figaro.


Analistas dizem que nenhum investidor se manifestou porque temem que a publicação não tenha evoluído muito financeiramente depois dos anos 70, quando os anúncios foram suspensos e todos os funcionários – de jornalistas a seguranças – ganhavam o mesmo salário.


‘Investidores estrangeiros ainda vêem o Libération como um anacronismo de extrema esquerda’, diz Bertrand Pecquerie, diretor do Fórum Mundial de Editores, uma organização que reúne editores-chefe de publicações ao redor do mundo. ‘A liderança do jornal envelheceu de 1960 para cá e agora está literalmente morrendo.’’


ELEIÇÕES 2006
Roberto Macedo


Lula e o jabá eleitoreiro


‘A eleição presidencial deste ano tem uma escandalosa, enorme e custosa novidade em matéria de vícios do processo eleitoral, pois nunca ‘neste país’ um candidato usou tanto dinheiro público para cooptar eleitores a votar nele. Refiro-me às práticas do presidente-candidato Lula, ao distribuir benesses claramente programadas e agendadas com esse objetivo.


A mais importante e custosa foi a elevação, este ano, do salário mínimo – também piso do INSS – de R$ 300 para R$ 350, um reajuste de 16,7% para uma inflação de cerca de 5% desde o reajuste anterior, caracterizando, assim, um aumento real acima de 10%. Custo estimado para o bolso do contribuinte: R$ 7,8 bilhões. Desde seu início o governo Lula vinha adotando expressivos reajustes reais do mínimo, mas o último foi particularmente acentuado.


Também de enorme custo foram vários reajustes concedidos a servidores públicos e aprovados pelo Congresso no seu último ‘esforço’ concentrado antes do período eleitoral. Segundo matéria publicada ontem neste jornal, alcançaram mais de 110 mil servidores, a um custo de R$ 5,2 bilhões até 2008, quando a última parcela da farra entrar em vigor. Digo farra porque no processo foram atropelados critérios que deveriam pautar esses reajustes, como o da equivalência salarial com o setor privado.


Neste caso também há um histórico que vem do início do governo, que recorreu ainda a forte ampliação do número de funcionários, inclusive por meio de mais cargos sem concursos para a turma da ‘boquinha’, como a desse Freud que acaba de sair. A mesma reportagem informa que a folha de pagamentos do Executivo se ampliou de R$ 75 bilhões, em 2003, para R$ 112 bilhões, neste ano.


Como o forte reajuste do salário mínimo, outra medida mais claramente eleitoreira no seu tempo e no seu alcance foi a ampliação do programa Bolsa-Família, cujo número de beneficiárias passou de 8,3 milhões para 11,1 milhões este ano, ainda segundo a mesma notícia. A medida ampliará em mais R$ 2 bilhões por ano as despesas com o programa.


Tais benesses de cunho marcadamente eleitoreiro me lembram o jabaculê, ou simplesmente jabá, nome dado ao esquema pelo qual empresas fonográficas fazem pagamentos a rádios para que incluam determinadas gravações na sua programação usual. É claro que benesses eleitoreiras como as apontadas não têm o voto como condicionante do recebimento, mas a falta de ética é a mesma. Em particular, dadas as carências de aposentados que ganham o salário mínimo e das beneficiárias do Bolsa-Família, é muito alta a probabilidade de sucesso desse é-dando-que-se-recebe.


Outro aspecto comum aos dois jabás é que vêm de forma disfarçada. Nas gravadoras e rádios se fala de ‘verba de divulgação’, no jabá eleitoreiro há sempre o pretexto do ‘tudo pelo social’. Não há razões legítimas para que a preocupação com o social esteja ligada ao ciclo eleitoral. Assim, é claro o interesse em buscar votos. Como no jabá radiofônico, há uma programação a executar.


Quando, em 2003, o deputado Fernando Ferro (PT-PE) apresentou projeto de criminalização deste último jabá, declarou que os ouvintes ‘consomem uma operação financeira, e não uma opção de programação’. Hoje, o que há é a distribuição de dinheiro público para que seu tilintar torne os ouvidos mais abertos ao canto de um candidato, influenciando preferências por sua música eleitoral. Nos dois casos, em troca também se aperta um botão: o da execução da música e o do voto na urna.


Tal perniciosa prática eleitoreira precisa ser proibida e criminalizada, para o que há duas alternativas, isoladas ou complementares. A primeira seria acabar com a o instituto da reeleição, o que diminuiria o interesse presidencial pela prática. A segunda seria proibir, nos dois anos finais de mandato, reajustes acima da inflação tanto para o salário mínimo como para salários de servidores, aposentadorias pagas pelo governo e verbas de programas sociais pagos em dinheiro.


Alguém poderia argumentar que propostas como essas são de economistas distantes da realidade política nacional. Ora, nosso papel é sugerir soluções econômico-financeiras, e sabemos que as chances de adoção são bem maiores quando o problema se torna mais grave, como nesse caso, e como ocorreu com a inflação e com a crise das dívidas estaduais.


É essa crise que deve servir de exemplo, pois foi na esteira dela que se consolidaram limites para o endividamento e para gastos (como os de pessoal) relativamente às receitas públicas, culminando com a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Infelizmente, o governo federal não tem limites correspondentes para gastos como o Bolsa-Família e os ligados ao salário mínimo, nem para endividamento, os quais precisariam ser criados e aperfeiçoados.


A propósito, não se vê neste ano eleitoral notícia de que os governadores estaduais estejam envolvidos em farras de gastos como a que ocorre no plano federal. E não se pode dizer que por vocação sejam menos gastadores que o presidente. O que acontece é que estão sujeitos a uma legislação proibitiva que segue o velho ditado: cavalo comedor, cabresto curto.


Assim, sem um cabresto fiscal-eleitoral para o governo federal, vamos continuar observando essa orquestração eleitoreira que tem o presidente-candidato como maestro a comprometer as finanças públicas do País, e a viciar o processo eleitoral. Claramente, há uma distribuição de dinheiro público em busca de votos, com alta probabilidade de sucesso junto a eleitores propensos a votar em reconhecimento das dádivas recebidas. Estas de mais um ‘pai dos pobres’ cujo governo também contribui para mantê-los nessa condição.


Roberto Macedo, economista (USP), com doutorado pela Universidade Harvard (EUA), pesquisador da Fipe-USP e professor associado à Faap, foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda’


Clarissa Oliveira


Mercadante tira coordenador que ofereceu dossiê


‘O escândalo envolvendo integrantes do PT em uma estratégia para atingir a candidatura de José Serra (PSDB) ao governo paulista respingou ontem na campanha do petista Aloizio Mercadante. No final da tarde, o próprio senador confirmou o envolvimento do coordenador de Comunicação de sua campanha, Hamilton Lacerda, em negociações com a revista IstoÉ para a divulgação do dossiê contra o tucano.


Negando insistentemente que tivesse conhecimento da iniciativa, Mercadante disse que sua confiança foi traída e que a única medida cabível era o afastamento imediato de Lacerda. ‘A questão básica é a seguinte: qualquer que tenha sido o nível de participação, sem a minha autorização, sem o meu conhecimento, sabendo que eu sou contra, era contra e serei contra, é uma quebra de confiança que eu não posso aceitar.’


Lacerda era homem de confiança de Mercadante. Militante histórico do PT, foi vereador em São Caetano do Sul (SP) e, em 2004, disputou a prefeitura do município. Recentemente, participava da produção de programas de TV e rádio do petista e costumava acompanhá-lo em atividades de campanha.


Mercadante confirmou o afastamento antes mesmo de receber resposta formal do assessor. O senador disse ter recebido a confirmação do envolvimento do ex-auxiliar pela imprensa e pela coordenação da campanha. Alguns minutos após a entrevista, a assessoria de Mercadante distribuiu nota de esclarecimento de Lacerda, em que dizia ter sido procurado pelo ex-chefe da área de Risco e Mídia da campanha de Lula Jorge Lorenzetti, que lhe teria pedido para entrar em contato com um órgão de imprensa para publicar informações contra tucanos. Lacerda disse ter procurou a IstoÉ ‘por livre e espontânea vontade’, sem conhecimento de Mercadante.


‘O candidato, que sempre condenou essa prática, não soube e nunca foi informado desta minha iniciativa’, diz a nota. Ele negou, porém, que a conversa com a IstoÉ tenha envolvido a oferta de dinheiro ou que tenha se encontrado com a família Vedoin.


SERRA


Apesar da notícia de ontem, Mercadante tentou transferir parte da atenção para Serra. O senador rebateu afirmações do tucano sugerindo seu envolvimento no caso do dossiê. ‘Depois de três dias que ele não teve agenda de campanha, recluso em sua casa, ele reaparece – e ao que tudo indica, com uma atitude desequilibrada e irresponsável – e faz acusações que são inaceitáveis.’


Além disso, pediu que tanto o envolvimento de petistas no caso da compra do dossiê, quanto denúncias que supostamente ligam Serra à máfia dos sanguessugas sejam apuradas integralmente. ‘Tudo tem que ser investigado’, disse. Para completar, Mercadante utilizou seu programa eleitoral na televisão para se dizer vítima de um complô da candidatura adversária, por estar ‘chegando ao segundo turno’.


COLABOROU PATRÍCIA VILLALBA’


Ricardo Brandt


Lacerda é ligado ao ex-ministro José Dirceu


‘Ex-coordenador de Comunicação da campanha de Aloizio Mercadante, Hamilton Lacerda é um dos homens de confiança do ex-ministro José Dirceu e foi também braço direito do ex-diretor de Gestão de Risco do Banco do Brasil Expedito Afonso Veloso – também afastado ontem do cargo por envolvimento no episódio do dossiê.


Coordenador do PT no Grande ABC desde 2001, Lacerda atuou como intermediador de contatos do Banco do Brasil e da Petrobrás com órgãos de imprensa em nome de Expedito, segundo fontes petistas.


Vereador em São Caetano do Sul por três mandatos, entre 1993 e 2004, Lacerda foi candidato a prefeito da cidade em 2004, com apoio do grupo de Dirceu, mas acabou derrotado pelo atual prefeito.


Engenheiro e especialista em administração pública, Lacerda tem uma vasta lista de serviços prestados ao PT. Em 1989, ele coordenou a juventude do partido na campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência e, em 1993, foi eleito membro da Executiva Estadual do PT.


Não é a primeira vez que Lacerda aparece envolvido em problemas políticos relacionados a um dossiê. No ano passado, em São Caetano do Sul, foi acusado pelo vereador Horácio Neto (PSOL), ex-petista, de ter armado uma cilada para que ele fosse expulso do partido.


Neto acusa Lacerda de ter montado a venda de um dossiê com gravações de diálogos da ex-secretária de Administração de Guarulhos Maria Isabel Fonseca – mulher de Lacerda – com um empresário.


Segundo Neto, um emissário de Lacerda teria tentado lhe vender o dossiê, enquanto outro enviado foi posicionado para flagrar o contato e denunciar Neto ao partido. O vereador deixou o PT por conta própria.


COLABOROU EDUARDO REINA’


Dora Kramer


A quem interessa


‘Se o presidente Luiz Inácio da Silva sabia ou deixava de saber que um assessor direto e de sua inteira confiança, o presidente de seu partido e coordenador-geral da campanha eleitoral, o marido de sua secretária particular e responsável por uma parte de seu programa de governo e o encarregado de uma das áreas (‘mídia e risco’) de sua campanha e piloto preferencial da churrasqueira da Granja do Torto estavam envolvidos na montagem e negociação da publicação de um dossiê contra seus principais adversários políticos, admitamos: é difícil de precisar sem que reste sombra de dúvida.


Nessa altura e gravidade dos acontecimentos, a comprovação da ciência prévia do presidente não altera os fatos, a não ser que o próprio Lula repudiasse a desconfiança de que não controla os seus e pudesse rechaçar inquestionavelmente as evidências. Estacionar nesse ponto é, portanto, perda de tempo e foco.


Como de resto é ocioso especular sobre a hipótese de o caso mexer com a vontade do eleitor, pois isso só será possível saber mediante a exposição dessa vontade, seja por meio das próximas pesquisas, seja pelo resultado das urnas daqui a poucos dias.


O que não deixa dúvidas, porém, é o objetivo da trama, cuja contestação pueril vem sendo a principal arma de defesa do governo. Simulando inépcia mental, quando na realidade são muito sagazes, os governistas e o próprio presidente invocam a dianteira nas pesquisas como ‘prova’ de que não interessaria a ninguém na campanha presidencial provocar ocorrências que pudessem render prejuízos, muito menos em função de uma eleição considerada perdida – a do governo de São Paulo.


Nesta argumentação, esquece-se propositadamente do elementar: a urdidura não tinha por finalidade o desastre. A meta era o bom resultado, a criação de um fato eleitoral para lançar suspeição e levar a desmoralização – se não fosse possível a derrota – ao campo inimigo.


Nada foi feito com o intuito de criar problemas para o candidato à reeleição presidencial. O problema veio como conseqüência dos erros de operação, sendo o mais primário deles a abertura de negociações via telefone com os empresários Vedoin, obviamente vigiados pela Polícia Federal por gozarem de liberdade condicionada ao instituto da delação premiada.


A polícia, quando prendeu Luiz Antônio Vedoin, não estava atrás de nenhuma denúncia a respeito de armações eleitorais. Prendeu porque detectou, por intermédio das escutas, que ele estava negociando a venda do crédito adquirido como principal informante na produção de provas em investigação do Ministério Público e que permitiu à CPI dos Sanguessugas pedir abertura de processos de quebra de decoro contra 70 parlamentares.


A partir da entrada em cena de gente ligada ao PT é que a PF deixa de lado a conduta ‘republicana’. Opta por não flagrar o ato da venda do dossiê e prende o tio de Vedoin antes de ele viajar para encontrar em São Paulo os candidatos a compradores. Estes são pegos separadamente, impossibilitando que se produza a prova cabal do crime.


Mesmo com todos esses cuidados, o fio das ligações perigosas com o PT e o Palácio do Planalto foi sendo desenrolado. Aí é que surgiram as dificuldades não previstas naquele que tinha, na visão de seus arquitetos, tudo para ser perfeito: atingiria o adversário, celebraria o trabalho ‘republicano’ da PF e permitiria ao presidente dar uma demonstração de grandeza ao repudiar o denuncismo como prática de combate eleitoral.


E por que se preocupar com a eleição de São Paulo já que a reeleição estava assegurada? Justamente porque estava garantida.


O primeiro movimento, a renovação do mandato de Lula, completara-se. Era, então, hora de fazer o segundo movimento, este mirando o futuro. Depois da arena nacional, São Paulo é o campo de batalha mais importante para petistas e tucanos.


Em 2004, a vitória de José Serra para a Prefeitura de São Paulo foi péssima para o PT e revigorou as energias políticas do PSDB, exauridas na derrota presidencial dois anos antes.


Da mesma forma que na época os tucanos convocaram seu quadro mais bem posicionado eleitoralmente e contra a vontade dele o convenceram a enfrentar a petista Marta Suplicy, por entendimento de que aquela seria uma luta crucial, não faria lógica o PT aceitar gentil e mansamente a eleição de um adversário tão perigoso e envolto no clima de reconhecimento generalizado de que teria sido um oponente presidencial mais credenciado que Geraldo Alckmin.


Na ótica da disputa política e tendo em vista o campo em que se dava a batalha, fazia todo o sentido tentar atingi-lo. Serra estava bem demais na cena.


Qualquer tentativa para tirar São Paulo das mãos dos inimigos seria válida. O prêmio valia o risco. Mesmo não impondo a derrota a Serra, desmoralizar aquele que, se eleito governador de São Paulo, terá uma força política enorme como opositor, é combatente irascível (diferente de Aécio Neves) e obstinado candidato à Presidência em 2010, convenhamos, é motivo de sobra.’


 


TV DIGITAL
O Estado de S. Paulo


Emissoras discutem TV digital com Costa


‘As emissoras de televisão da cidade de São Paulo deverão começar a transmitir os sinais de TV digital no primeiro semestre de 2007. A previsão é do presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Daniel Slaviero, que esteve reunido ontem com o ministro das Comunicações, Hélio Costa. O Ministério pretende distribuir os novos canais digitais para as geradoras de televisão da capital paulista até o fim do ano. Pela proposta de cronograma de distribuição de canais já apresentada por Costa, as geradoras de São Paulo teriam até o fim de outubro para apresentar seus pedidos.’


MÍDIA & TECNOLOGIA
John Markoff


Chip usa laser para transferir dados


‘Pesquisadores anunciaram esta semana a criação de um chip à base de silício capaz de produzir feixes de laser. O avanço permitirá usar luz laser em vez de fios para enviar dados entre chips, removendo o gargalo mais importante no projeto de computadores.


Com ele, os fabricantes de chips poderão colocar a indústria de comunicações de dados em alta velocidade na mesma curva de maior velocidade de processamento e menores custos – o fenômeno conhecido como Lei de Moore – que tem impulsionado a indústria de computadores nas últimas quatro décadas.


O desenvolvimento é o resultado de uma pesquisa da Intel, a maior fabricante mundial de microprocessadores, e da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara. A comercialização da nova tecnologia poderá não ocorrer antes do fim da década, mas a perspectiva de poder colocar centenas ou milhares de feixes de luz portadores de dados em chips comerciais certamente causará um abalo nos setores de computadores e comunicações.


Os lasers já são usados para transmitir altos volumes de dados de computador a distâncias mais longas – por exemplo, entre escritórios, cidades e através de oceanos – usando-se cabos de fibra ótica. Mas em chips de computador, os dados se movem em grande velocidade pelo interior de fios, depois desaceleram para um passo de lesma quando são enviados de chip para chip dentro do computador.


Com a remoção dessa barreira, os projetistas de computadores poderão repensar os computadores, empacotando chips mais densamente tanto em sistemas domésticos como nos gigantescos centros de processamento de dados. Além disso, os chips à base de laser e silício – compostos por uma teia de aranha de luz laser além dos fios metálicos – pressagiam uma infra-estrutura nacional de computação muito mais potente e menos dispendiosa. Por alguns dólares cada, esses chips poderiam transmitir dados com velocidade 100 vezes maior que os equipamentos de comunicações baseados em laser, chamados transceivers óticos, que custam milhares de dólares.


AVALANCHES DE DADOS


As redes de fibra ótica são usadas atualmente para transmitir dados a vizinhanças individuais em cidades onde os dados em seguida são distribuídos por equipamentos de comunicações convencionais mais lentos. Os chips com laser permitirão enviar e receber avalanches de dados nas próprias casas, a um custo bem menor.


Poderiam também originar uma nova classe de supercomputadores capaz de compartilhar dados internamente com velocidades hoje impossíveis.


A inovação foi alcançada prendendo uma camada de fosfeto de índio emissor de luz na superfície de um chip de silício padrão gravado com canais especiais que agem como guias da onda luminosa. O sanduíche resultante tem o potencial de criar num chip de computador centenas e até milhares de lasers minúsculos, brilhantes, que podem ligar e desligar bilhões de vezes por segundo.


‘Este é um campo que apenas começou a explodir nos últimos 18 meses’, disse Eli Yablonovitch, um físico da Universidade da Califórnia em Los Angeles e destacado pesquisador na área. ‘Vai haver muito mais comunicações óticas em computação do que as pessoas esperavam.’ De fato, os resultados do trabalho de desenvolvimento, que será relatado num número próximo da publicação especializada internacional Optics Express, indicam a existência de uma corrida mundial pesada.


Enquanto os pesquisadores da Intel e de Santa Bárbara estão apostando no fosfeto de índio, cientistas japoneses, num esforço afim, estão perseguindo um material diferente, o elemento químico érbio.


Apesar de os chips comerciais com lasers embutidos estarem a anos de distância, a Luxtera, uma empresa da Califórnia, já está vendendo chips de teste que incorporam mais componentes óticos diretamente no silício, e depois injetam luz laser de uma fonte separada.


O trabalho da Intel-Santa Bárbara prova que é possível fazer dispositivos fotônicos completos usando máquinas de fabricação de chip comuns, embora não inteiramente de silício. ‘Sempre existiu essa dificuldade final’, disse Mario Paniccia, diretor do Laboratório de Tecnologia Fotônica da Intel. ‘Agora chegamos a uma solução que otimiza ambos os lados.’ No passado, era impossível acoplar silício padrão aos materiais exóticos que emitem luz quando eletricamente carregados. Mas a equipe da universidade criou uma técnica de ligação em baixa temperatura que não derrete os circuitos do silício.


A abordagem usa um gás de oxigênio eletricamente carregado para criar uma camada de óxido com apenas 25 átomos de espessura em cada material. Quando aquecidas e pressionadas uma contra a outra, a camada de óxido funde os dois materiais num único chip que conduz informações por fios e também por feixes de luz refletida.


MUDANÇAS


‘A fotônica tem sido um setor de pequena escala’, disse John E. Bowers, diretor do Multidisciplinary Optical Switching Technology Center da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara. ‘Tudo vai mudar e a comunicação por laser estará em toda parte.’


Especialistas do setor de fotônica consultados sobre a técnica disseram que ela quase certamente aplainará o caminho para a comercialização da muito procurada convergência de chips de silício e lasers óticos. ‘Antes havia mais badalação que substância’, disse Alan Huang, um pioneiro nesse campo, ex-pesquisador da Bell Laboratories e que agora é diretor de tecnologia da Terabit Corporation, uma companhia iniciante de fotônica em Menlo Park, Califórnia. ‘Agora acredito que isso conduzirá a futuras aplicações optoeletrônicas.’’


INTELECTUAIS & DEMOCRACIA
Paulo Ghiraldelli Jr.


Intelectuais contra a democracia


‘Noam Chomsky e outros intelectuais criados com o cérebro banhado no esquema simplório do maniqueísmo da guerra fria estão em busca de uma ‘revolução mundial’. Dizem lutar contra o ‘imperialismo’, mas querem combatê-lo sem democracia. Na prática, dão apoio a todo movimento que mova ódio contra a democracia, inclusive os grupos que exalam o odor do fascismo, como o Hamas e o Hezbollah. No Brasil, querem ver no poder central o programa estatizante e arcaico de Heloísa Helena (PSOL). Queriam o PT, no passado, mas agora desistiram. E não desistiram do PT por causa da corrupção, e sim pelo fato de este não satisfazer seus ideais de criar um mundo que eles não sabem o que deve ser, mas que eu sei bem o que é: um mundo onde o último valor a ser considerado é o da liberdade individual.


E os intelectuais daqui, do Brasil, onde estão? Um grupo de intelectuais (e artistas), comandado por ‘Frei’ Betto – que, sem nenhum pudor, disse que vota em Lula porque este ‘não se corrompeu’ -, resolveu recentemente fazer um manifesto de apoio ao PT. Uma boa parte deles deixou o cérebro na gaveta e preferiu agir na condição de funcionário de universidade estatal ou de dependente de órgão de fomento à pesquisa, controlado pelo governo federal. Outros, que estão livres disso, esperam ansiosos e excitados a perda da liberdade: viram as pesquisas eleitorais e se bandearam para as filas dos mensaleiros. Mais parecem querer um emprego no próximo governo. Uma parte deles é – pasmem – de professores de Ética. Sim! Ética! Mas há também, nesse bolo, professores de História. Como pode um professor de História apagar um ano da nossa História, o ano de 2005? Há psicanalistas também? Sim! E isso nem Freud explica!


Parece que só agora estou conseguindo entender a razão por que esses intelectuais, que se apresentavam como amantes da democracia, entraram em crise pessoal no final dos anos 1980 e início dos anos 1990, quando do desmantelamento do império comunista e do fim da União Soviética (URSS). Esse pessoal, no fundo, tinha lá uma simpatia pelo totalitarismo. É fácil ver isso se olharmos para o que ocorreu e ocorre nas universidades estatais brasileiras.


Zélia Cardoso de Mello, quando quis voltar para sua cadeira na universidade, foi barrada por alunos num ato que pouco tinha que ver com uma manifestação democrática. Celso Lafer, quando ficou no governo Fernando Collor para efetuar a transição para o governo Itamar Franco, foi hostilizado por alunos universitários em manifestação que não foi tão diferente da que sofreu Zélia. Essas patrulhas ideológicas – minirréplica das SS de Hitler – agora funcionam a favor dos que ficaram e abaixaram a cabeça para Lula. A idéia desse tipo de movimento de estudantes é a mesma da de Chomsky: vamos lutar contra os que não falaram mal do ‘imperialismo’ e vamos proteger os que se dizem contra tal coisa, mas que se dane a democracia. Aliás, como mostrou este jornal, essa é a regra do próprio Lula em campanha. Ele mesmo tem dito que não podemos imaginar a democracia como uma ‘coisa limpa’. Como é que um presidente da República, em plena campanha eleitoral, pode dizer isso e, assim mesmo, ser idolatrado por intelectuais famosos, que estão na mídia?


Eis aí a universidade estatal brasileira: as pessoas que fazem manifesto de apoio ao governante cujo partido comprou o Congresso Nacional e cometeu um crime contra a democracia possuem guarda pessoal. Criam barreiras estudantis para protegê-las na universidade. A prova disso é que podem voltar para a sala de aula em condição altiva, inclusive impondo suas idéias, mesmo traindo a Nação e todos os ideais de democracia e ética. Como pudemos chegar a tal situação? Como poderemos deixar nossos filhos nas mãos dessa gente, na universidade? Como poderemos formar professores para educar nossos netos, se os futuros professores vão ser formados por esse tipo de gente? Como esperar que nossos filhos e netos tenham amor à democracia, pela qual tanto lutamos, se eles vão ser educados – em sala de aula e em livros – por esses professores universitários que mostram claramente que podem ficar do lado do partido e do presidente que fez o que fez com o Congresso Nacional?


Lula tem anunciado seu incentivo à ampliação da rede de ensino universitário estatal. É claro que nisso há muito de propaganda e maquiagem. Mas há, de fato, essa ampliação – em quantidade, e não em qualidade de ensino. Denunciei isso aqui, no Estadão, em artigo passado, aliás, em apoio aos bons editoriais deste jornal que reclamam da qualidade do ensino. Por outro lado, Lula joga nosso dinheiro na manutenção da universidade particular, por meio de mecanismos de compra de bolsas. Com essas duas atitudes, Lula derruba a velha tese de que o governante que quer dominar a consciência popular não investe na educação. Mentira. Ele pode investir na educação e dominar ainda mais a consciência popular, pois tem o controle de uma parcela não diminuta de professores universitários influentes.


Isso pode mudar? É difícil. No futuro, dado o mecanismo de que a universidade estatal dispõe para repor os seus quadros, que é o concurso em que pares julgam pares, é difícil imaginar uma mudança de mentalidade. E a universidade particular imita a estatal no que ela tem de pior. Lula ou outro político igual a ele poderá ter mais domínio ainda sobre os intelectuais que têm acesso à mídia, se estes são professores. Por isso, avalio, não vai ser fácil se manter na trincheira democrática contra esse aparato de guerra que Lula e esses intelectuais doutrinadores estão montando.


Paulo Ghiraldelli Jr. é filósofo e escritor Sites: www.filosofia.pro.br e www.ghiraldelli.pro.br


TELEVISÃO
Cristina Padiglione


Fono aplaca sotaque


‘Atende por Natália Fiche, professora da escola de Teatro da Unirio, a fonoaudióloga que tem escoltado o elenco português escalado para Paixões Proibidas, novela co-produzida pela Bandeirantes e pela RTP, Radioetelevisão Portuguesa. Convém esclarecer: a idéia não é anular o acento lusitano dos atores portugueses, ou então, ora pois, que sentido faria colocar os lusos em cena?


A idéia é apenas abrir sutilmente alguns fonemas para tornar o português luso mais compreensível aos ouvidos brasileiros. As novelas brasileiras são exibidas em Portugal sem qualquer necessidade de dublagem. Para quem fala a língua matriz, a compreensão de sotaques derivados é sempre mais fácil do que ocorre no caso inverso.


As gravações começaram sábado na acolhedora Coimbra. Foram feitas cenas na Universidade, claro, e na Sé Velha. Atores levados daqui, Miguel Thiré e Leonardo Carvalho estão em sintonia perfeita com os colegas portugueses, todos muito aplicados. Lá estão Leonor Seixas, Nuno Pardal e Pedro Lamares. De Coimbra, o grupo, sob direção de Ignácio Coqueiro, viajou para Valada.


entre-linhas


Boris Casoy voltou a visitar a sede da Bandeirantes na última segunda-feira, em almoço com o dono da casa, Johnny Saad. No menu, propostas que podem levar o âncora ao canal.


A Globo confirmou ontem o acerto com Fernanda Lima para Pé na Jaca, próxima novela das 7, de Carlos Lombardi.


Após a entrevista com Lima Duarte, exibida na última segunda-feira e que efetivamente foi uma das melhores do ano no Roda Viva, o programa da TV Cultura confirma para a próxima segunda a presença do goleiro-fenômeno Rogério Ceni no centro da roda.


Falando em Cultura, a emissora anuncia que o Repórter Eco foi repaginado. A mudança surgirá na edição deste domingo, às 16h30, quando a apresentadora Flávia Lippi troca os estúdios por cenários externos.


A Record avisa que transmitirá a Copa Petrobrás de Tênis 2006, a partir de 16 de outubro.


Wanessa Camargo trabalhou como florista por um dia. Foi tarefa executada para o Tira Onda, do Multishow, que vai ao ar hoje, às 21h15.


Em nome do novo visual gráfico pintado na tela, a Rede Telecine terá seus cinco canais abertos para toda a base de assinantes da Net, de amanhã até 1.º de outubro.


O SBT informa que não manda SMS nem telefona para pessoas anunciando prêmios. Trata-se de golpe.


Sucesso do baile funk


Regina Casé entrevistou o DJ Malboro, um dos pioneiros dos bailes cariocas e responsável pelo sucesso do funk dentro e fora das comunidades, em seu estúdio. A conversa vai ao ar no programa Central da Periferia, transmitido no próximo sábado, dia 30.’


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Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 21 de setembro de 2006


ELEIÇÕES 2006
Otavio Frias Filho


O chefão


‘O MAIS recente escândalo envolvendo Lula & Cia. tornou evidentes duas coisas. A primeira já era sabida desde pelo menos o escândalo do mensalão, há mais de um ano. Ou seja, a cúpula petista instalou uma máfia sindical-partidária no aparelho do Estado.


A função dessa máfia é garantir condições para que Lula e seu grupo se eternizem no poder. O método é desviar recursos públicos e privados para financiar campanhas eleitorais, comprar adesões no Congresso e montar operações de intimidação contra eventuais adversários.


Embora ocupando postos de pouca visibilidade, o que caracteriza os integrantes da máfia é a lealdade antiga e canina a Lula, o chefão. São operadores acostumados a agir nas sombras da delinqüência municipal. Sua ação é agora ‘legitimada’ por intelectuais como Marilena Chaui e Rose Marie Muraro, para as quais o imoral é moral se for bom para a cúpula do partido.


Todo governo tem nichos de corrupção, muitas vezes incrustados na vizinhança dos amigos do presidente.


Mas são esquemas paralelos, de caráter ‘particular’. Traduzem a sobrevivência do velho patrimonialismo brasileiro.


Onde o PT inovou foi ao estender esses pequenos esquemas ao aparelho governamental inteiro, dando-lhes, além de comando unificado, um caráter partidário e permanente.


De fato a corrupção se tornou ‘sistêmica’, como querem os apologistas do governo. Não no sentido de resultar das mazelas do nosso sistema político, mas por configurar uma máquina impessoal agindo dentro do Estado.


O ‘dossiêgate’, como vem sendo chamado, revelou no entanto algo mais perturbador do que essa notícia velha. Tornou evidente que, sob o beneplácito de Lula, a máfia continua a agir de modo cada vez mais desabrido. A impunidade, como era de se prever, gerou a desfaçatez.


O favoritismo eleitoral de Lula, turbinado pelas políticas de transferência de renda, aumentou ainda mais a sensação de impunidade. E espicaçou o atrevimento, a ponto de a facção mafiosa correr o risco de prejudicar a reeleição do chefe na tentativa de reverter a vantagem dos tucanos na eleição paulista.


O próprio Lula pergunta retoricamente o que teria a ganhar com uma operação criminal desse tipo, estando sua reeleição quase assegurada. É que em geral os asseclas são mais realistas que o rei. É que cedo ou tarde a ‘turma’ passa a agir por conta própria.


Para ilustrar a constatação, basta lembrar que foi exatamente assim que o chefe de segurança de Getúlio mandou matar Lacerda, a principal voz da oposição em 1954, num crime imbecil que derrubaria o presidente em qualquer democracia. Se houver segundo mandato, haverá muito trabalho para o Ministério Público, para o Judiciário e para o que restar de imprensa independente ‘neste país’. OTAVIO FRIAS FILHO é diretor de Redação da Folha’


Fabiano Maisonnave


Caso de dossiê remete a renúncia do presidente americano Richard Nixon


‘Estados Unidos, anos 1970. O Watergate, escândalo que levou à renúncia do presidente republicano Richard Nixon, em 1974, começa dois anos antes, em 1972, quando cinco homens são presos tentando instalar grampos em escritório democrata, no prédio que emprestou o nome ao caso, em Washington.


Um dos detidos, soube-se depois, era James W. McCord Jr., ex-agente da CIA e funcionário da campanha do partido governista. Na época, republicanos estavam em plena campanha à reeleição, vencida em novembro daquele ano com mais de 60% dos votos. Foi uma das maiores votações da história americana, apesar das crescentes evidências dos vínculos entre a campanha de Nixon e a invasão no Watergate.


A fatura só foi cobrada em 1973, quando dois assessores da Casa Branca renunciaram por causa do escândalo.


Brasil, 2006. Na sexta-feira, o ex-agente da PF Gedimar Pereira Passos, contratado para trabalhar com ‘tratamento de informações’ na campanha de Lula, e o petista Valdebran Padilha são presos com R$ 1,7 milhão para a compra de dossiê ligando tucanos à máfia sanguessuga. Em velocidade impressionante se comparada ao caso de Nixon, se estabelece vínculo com o Planalto: o já ex-assessor especial da Presidência Freud Godoy, acusado de contratar Gedimar, inclusive entregando-lhe o dinheiro.


Apesar da reta final, parece cedo para prever o efeito do escândalo nas urnas em 1º de outubro, quando, segundo as pesquisas, Lula assegurará seu segundo mandato. Mais difícil seria adivinhar como o imbróglio se desdobrará caso o petista seja reeleito.


É igualmente cansativo e necessário lembrar que a história não se repete. E há diferenças óbvias: instituições americanas em 70, sobretudo o Congresso, tinham grau de funcionalidade que provavelmente nunca será alcançado aqui. E lá era mais fácil separar mocinhos de bandidos. No caso brasileiro, está claro que tucanos também terão de explicar os indícios do dossiê.


Vale relembrar dois conselhos do ‘Garganta Profunda’ ao jornalista Bob Woodward, do ‘Washington Post’. Há o famoso ‘follow the money’ (siga o dinheiro). O outro é: ‘Esqueça mitos que a imprensa criou sobre a Casa Branca. Não são pessoas muito brilhantes, e as coisas saíram do controle’.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Todos os homens


‘Frank Rich, colunista do ‘New York Times’, esclareceu um ano atrás que foi o roteirista de ‘Todos os Homens do Presidente’, Wiliam Goldman, quem criou a expressão ‘follow the money’, siga o dinheiro.


Ficção incorporada à realidade, seguir o dinheiro é o que vem fazendo a cobertura da crise do dossiê, enquanto caem todos os homens do presidente Lula -até Ricardo Berzoini, em pleno ‘Jornal Nacional’.


O blog de Fernando Rodrigues já menciona ‘o empresário de não sei onde que vai assumir o fornecimento do dinheiro’, entre outras alternativas. E o site da Reuters Brasil noticia que ‘uma fonte que teve acesso ao inquérito conduzido pela Polícia Federal informou que a maior parte do dinheiro foi sacada de agências dos bancos Bradesco, Safra e BankBoston’.


A mesma Reuters destacou depois que ‘Lula aposta que denúncia não muda voto consolidado, diz fonte’.


CICARELLI, CICARELLI


Na lista dos cinco textos ‘mais lidos’ da Folha Online, ontem às 19h30, quatro eram sobre um só assunto:


– MTV confirma Cicarelli no VMB após o escândalo…


Paparazzo conta como filmou Cicarelli… Vídeo com ‘cenas quentes’ de Cicarelli… Vídeo polêmico de Daniella Cicarelli ganha mídia internacional.


Em quinto lugar, enfim, as últimas de Ricardo Berzoini.


UMA MULHER


Annie Gasnier, correspondente do ‘Le Monde’, perfilou ontem ‘Heloísa Helena, a opção radical frente a reeleição anunciada do presidente Lula’, com tradução no UOL.


Notando que ‘uma mulher se intrometeu’ na disputa de sempre entre PT e PSDB, diz que ‘seu uniforme se resume a jeans, camisa branca e compridos cabelos escuros amarrados em rabo-de-cavalo’:


– Mas ela causou sensação ao trajar, na posse de Lula, um curto vestido em crochê… Atendendo a leitoras da revista ‘Cláudia’, aceitou, pela primeira vez, ser depilada, maquiada e cortar o cabelo para posar em fotos mais sexy…


A MAIOR AMEAÇA


Dia sim, dia não, o PCC é assunto na imprensa pelo mundo. Ontem foi a vez do econômico ‘Financial Times’, em despacho do correspondente de Bruxelas -que entrevistou o vice da Colômbia, para quem ‘a criminalidade violenta é a maior ameaça à democracia na América Latina’. À democracia mas também ao turismo e ao investimento.


Diz ele que o problema não está mais na Colômbia, mas em ‘vizinhos como o Brasil’:


– Se os governos não agirem, eles vão acabar perdendo o controle das ruas… Veja o que aconteceu em São Paulo.


É O ETANOL


Em sua segunda coluna no ‘NYT’ com o etanol brasileiro como assunto, Thomas L. Friedman escreveu ontem em tom mais agressivo contra o protecionismo dos EUA.


Sob o título ‘Estúpidos como nós quisermos ser’, ele diz que Washington deveria derrubar a tarifa sobre o etanol importado do Brasil -e chega a defender previamente a produção do biocombustível na Amazônia contra eventuais críticas de ecologistas.


ARARAS


O site do ‘NYT’ adiantou ontem longa reportagem do próximo domingo sobre o ecoturismo no Piauí, ‘no mais novo parque nacional’. É área para observar ‘araras’


RACISTAS, SIM


No principal jornal do mundo, nada de crise do dossiê. Larry Rohter, o célebre correspondente no Rio do ‘New York Times’, em inesperado escorregão para a esquerda, escrevia anteontem contra o livro ‘Não Somos Racistas’, do jornalista Ali Kamel, o mesmo do ‘Jornal Nacional’.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Musa da maconha divulga filme da Globo


‘O diretor-estrela Daniel Filho e as poderosas Globo e Disney se renderam a ‘Tapa na Pantera’, vídeo caseiro feito por três cineastas recém-formados e que se tornou um megassucesso na internet _em um mês, teve mais de 2,5 milhões de acessos no ‘Youtube’, gerou paródias e ganhou versão com legendas em inglês.


No curta, a atriz de teatro Maria Alice Vergueiro, 71, interpreta uma mulher que faz piada dos lapsos de memória atribuídos ao uso de maconha.


Maria Alice e os três jovens cineastas foram agora contratados pela Buena Vista, subsidiária da Disney, para divulgarem o novo filme de Daniel Filho, parceria de Globo e Disney.


Eles gravaram no último sábado vídeos em que fazem propaganda quase subliminar de ‘Muito Gelo e Dois Dedos D’Água’, que estréia dia 6, no qual Laura Cardoso faz uma avó repressora que acaba seqüestrada por duas netas, que fumam maconha na sua presença.


A versão do vídeo escolhida pela Disney, que poderá se chamar ‘Gelo na Pantera’, invadirá a internet hoje, no mesmo ‘Youtube’ que disseminou ‘Tapa na Pantera’. Será uma ação de marketing viral.


‘A Maria Alice relutou muito em fazer o comercial’, diz Rafael Gomes, um dos jovens cineastas. ‘Ela dá um depoimento no mesmo sofá e com a mesma linguagem de ‘Tapa na Pantera’, mas não fala em maconha nem o nome do filme’.


LUTA DE GRADE 1É grande a expectativa nos bastidores da Globo para que a emissora abra espaço para novos programas em sua grade de 2007. Diretores e autores de projetos já testados (como ‘Toma-lá-dá-cá’ e ‘Os Amadores’) ou que passarão por teste no final deste ano esperam a abertura de pelo menos duas vagas.


LUTA DE GRADE 2De toda a programação da Globo, são apontados dois pontos fracos: ‘Sob Nova Direção’ (cujo elenco está dividido e perderá Octávio Miller para a nova novela das oito) e ‘Carga Pesada’, que enfrenta dificuldade na renovação de patrocínio com a Volkswagen.


LUTA DE GRADE 3 A cúpula da Globo só deve definir o que entra e o que sai (se sair) da grade no início de 2007.


A SALVADORASócia da RGB, que produziu ‘Popstars’ e ‘Floribela’, Elisabetta Zenatti negocia com a Band. Ela poderá assumir a direção artística da emissora.


O DIAGNÓSTICOA cúpula da Record chegou à conclusão de que Renata Dominguez não rendeu o que esperavam em ‘Bicho do Mato’. A estrela da novela, detectaram, é André Bankoff, pelo qual ninguém dava muita coisa até pouco tempo atrás.


O BEICINHOFernanda Lima e Globo finalmente chegaram a um acordo. A modelo será uma das protagonistas de ‘Pé na Jaca’, próxima novela das sete, no papel de uma modelo. Seu esforço de interpretação será recompensado com um novo, e ainda secreto, quadro no ‘Fantástico’.’


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