Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jornalismo no cinema
é o destaque do dia

Em mais um dia de jornais magros, vale destacar duas traduções publicadas pelo Estado de S. Paulo sobre jornalismo e cinema. O primeiro texto é assinado por David Carr e saiu no The New York Times. Usando como gancho os filmes em cartaz que têm jornalistas como protagonistas ou coadjuvantes (Boa Noite, Boa Sorte, Capote, King Kong, Munich e O Jardineiro Fiel), o autor levanta uma questão interessante: ‘será que o público foi ensinado, filme a filme, a execrar e desconfiar da imprensa?’ ‘Talvez não’, apressa-se a responder, ‘mas os filmes em que a imprensa é vista cobrando empresas e governo – como a imprensa gosta de se ver – são muito menos numerosos que os filmes em que parece irresponsável.’


O segundo texto traduzido no Estadão é de Patrick Goldstein do Los Angeles Times, e trata mais diretamente do filme Capote, de Philip Seymour Hoffman. Segundo Goldstein, o Truman Capote retratado por Hoffman ‘foi tão ardiloso quanto qualquer paparazzo inescrupuloso na produção da reportagem de A Sangue Frio‘. O texto, no entanto, também abrange outros filmes sobre jornalismo: ‘É aí que entra o cinema’ escreve Goldstein, ‘- quase desde o seu início ele foi um barômetro confiável da atitude da nação perante os jornalistas’.


Cinema à parte, também vale a pena ler na Folha de S. Paulo o artigo do historiador Marco Villa, que critica ferozmente a política do governo Lula para a Cultura.


Leia abaixo os textos desta quarta-feira, 28/12, selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 28 de dezembro de 2005


POLÍTICA CULTURAL
Marco Villa


Parabolicamará sem rumo


‘O governo Lula ficará marcado na história do Brasil pelas denúncias de corrupção. Falou-se muito dos escândalos -e foram tantos! Porém, a indissociação entre a coisa pública e os interesses privados é uma característica de governo. Um bom exemplo é a ação de Gilberto Passos Gil Moreira no Ministério da Cultura: tornou o MinC numa extensão das suas atividades artísticas. Sem programa de trabalho, transformou o ministério em trampolim pessoal: fala, canta, mas, de política cultural, que é bom, até hoje, nada. O ministro discursa como poucos -e, aí, mira-se no exemplo do seu superior.


Desde a posse, o ministro se notabilizou pelos pronunciamentos confusos. No primeiro, falou em ‘do-in antropológico’ e ganhou manchetes. Depois, em cada cerimônia, encantado com a repercussão, não perdeu oportunidade para falar até sobre o invisível, como em Porto Alegre, em setembro deste ano: ‘Gostaria que os representantes da imprensa que aqui estão aproveitassem a rara oportunidade para levar aos seus leitores, ao nosso povo, o significado do pequeno para todos nós. A importância do significado do ínfimo na vida de todos nós. A importância do significado do invisível na vida de todos nós’. Finalizou o discurso citando a si próprio -e não foi a primeira vez. Mas, sobre política cultural, nada.


Em diversas atividades do MinC, especialmente nas musicais, o ministro participou ativamente dos shows, principalmente daqueles realizados no exterior. É impossível distinguir se a participação foi do cantor ou do ministro de Estado. As duas atividades se misturam.


O ministro conseguiu manter na mídia o nome do cantor, aqui e lá fora. Um dia está ao lado de Pelé, na Alemanha; noutro, na França, com os cantores brasileiros no caro Ano do Brasil na França -apelidado de ‘Ano do BraGil na França’; no posterior, no Haiti, onde, segundo sua agenda divulgada no site do ministério, realizou um ‘encontro de confraternização com um sacerdote do vodu haitiano’, em 15 de fevereiro.


Para que tantas viagens? Como são selecionadas as atividades? O que fica de permanente nesses eventos, além de fortalecer a imagem musical de Gil?


O poeta, jornalista e chefe da assessoria de Comunicação Social do MinC (é dessa forma que ele se apresenta), Luís Turiba, transformou o site do ministério em um instrumento de culto da personalidade do ministro. Cita Gil a todo momento e dá aos seus artigos títulos das músicas do cantor.


Sobre a ida do ministro à ONU, fez uma entusiasmada reportagem. Chamou de ‘Um furacão na ONU’. Gil ‘transformou o austero e sóbrio plenário da ONU, onde as maiores e mais dramáticas decisões da política mundial são tomadas, em uma espécie de praça Castro Alves durante o carnaval baiano’. Continuou, eufórico, o relato: ele cantou 16 músicas em quatro línguas, deu sete recados pacifistas e ‘trocou carícias verbais com Mohamed Ali’.


O ministro-cantor encerrou o ato em homenagem a Sérgio Vieira de Mello, morto em um atentado terrorista no Iraque -disso é importante lembrar, pois o leitor pode imaginar que era uma festa junina-, com um discurso: ‘O que nós temos a dizer ao mundo hoje é que o Brasil está limpo. O Brasil é claro. O Brasil é afiado. O Brasil é inteiro’. E concluiu com uma saudação: ‘E viva Luiz Gonzaga, o rei do baião!’.


Dessa vez, Turiba não exagerou: foi literalmente um furacão. Porém, de política cultural, nada.


Gilberto Gil não é nenhum ingênuo. Manteve-se três anos no ministério em meio a diversas crises. Foram apresentadas sérias denúncias em relação aos projetos culturais desenvolvidos pelo MinC, mas tudo ou caiu no esquecimento ou teve a culpa imputada ao secretário-geral do ministério -recorde-se de que o ministro se ausentou sistematicamente de Brasília: em 2005, o primeiro despacho, segundo sua agenda, foi em 16 de março.


Fingiu que não viu a greve dos funcionários -e foram cem dias de paralisação; em maio, no momento em que o PV rompeu com o governo, fez de conta que não era do partido, mas se lembrou de pedir apoio à bancada petista da Assembléia carioca, e, no mês seguinte, disse que defendia o presidente ‘com unhas e dentes’, no auge da crise do ‘mensalão’. Mas, sobre o roubo de mil imagens raríssimas da Biblioteca Nacional, o país até agora não sabe quais as providências tomadas.


Tanto Paulo Autran como Marco Nanini têm razão nas suas críticas à ação do Ministério da Cultura.


Antonio Grassi, presidente da Funarte, neste espaço, afirmou que o ministro estabeleceu como meta obter para o ministério 1% de recursos do Orçamento: em três anos, esteve longe da meta. Lista programas que devem ser realizados. Fala em obter, por emenda parlamentar, R$ 100 milhões para 2006 -entretanto o recurso dificilmente será liberado, como o de tantas outras emendas. Mesmo assim, escreveu que, ‘pela primeira vez na história do país, o governo tem uma política para o desenvolvimento do setor’.


É outra característica de governo: tudo na gestão Lula é feito pela primeira vez, como se existisse um país pré e outro pós-Lula. Lamentavelmente, o MinC não tem um projeto de política cultural para o país. Tem, sim, um projeto pessoal, que está dando certo, muito certo.


Marco Antonio Villa, 49, é professor de história da Universidade Federal de São Carlos (SP) e autor de, entre outras obras, ‘Vida e Morte no Sertão: História das Secas no Nordeste nos Séculos 19 e 20’ (Ática).’


MEMÓRIA / GILDA DE MELLO E SOUZA
JORGE COLI


A inteligência fina de Dona Gilda


‘Gilda de Mello e Souza foi professora de estética no departamento de filosofia na USP. Seus alunos a chamavam de dona Gilda. D. Gilda, 86, morreu no último domingo. É difícil alinhar algumas lembranças sob a emoção.


Ela, que escrevia tão bem, com uma elegância nada universitária, deixou raros escritos. São admiráveis, do livro sobre a moda a alguns contos, raros, redigidos há muito tempo. São poucos, no entanto, e por isso não oferecem a medida do que ela foi, intelectualmente, nem do que representou para seus alunos.


Em tempos de árduas modas teóricas, abstratas, presunçosas, D. Gilda indicava outros caminhos. Ensinava como pensar em modo ‘sensível’, diante das obras, diante dos acontecimentos. Pelo exemplo, expunha esse instrumento tão poderoso para o conhecimento que é a intuição.


Tinha insights, tinha achados que iluminavam a compreensão de obras mais diferentes. Sempre me surpreendi que ela não tivesse publicado mais, multiplicado o número de ensaios, sua forma reflexiva favorita. D. Gilda era discreta em relação às suas próprias capacidades. Se os textos que dela nos ficaram são escassos, eles são modelos de capacidade analítica, de inteligência fina. São ‘clássicos’, no sentido mais etimológico da palavra: aquilo que deve ser ensinado e estudado.


D. Gilda tinha uma certa timidez nas aulas. Mas adorava conversar. Com claro prazer, recebia, na sua casa da rua Briaxis, os alunos que se aproximavam dela. Sentava-se numa poltrona e falava sobre Chaplin ou Morandi, sobre um romance de André Mauriac ou de Zola. Evocava bastante seu parente e seu mentor, Mário de Andrade. Analisava um poema de ‘Losango Cáqui’ ou um capítulo de ‘Macunaíma’ de maneira deslumbrante -para empregar aqui uma palavra que ela usava e que sua voz carregava de intensidade.


Dona Gilda era afetuosa. O modo como olhava para uma obra tinha algo da ternura que demonstrava diante de suas netas (‘com esse chapéu de palha que ela pôs, parece que saiu da ‘Carreira do Divino’, não parece?’). Era também com afeto que se interessava pelos seus alunos, auxiliando-os na descoberta e na reflexão sobre a cultura. Apoiava-os, ainda, em momentos de crise pessoal, de problemas os mais diversos, alguns graves, muitos provocados pelas repressões nos tempos da ditadura militar.


Uma vez, eu tinha então uns 20 anos, D. Gilda escreveu uma carta de recomendação que lhe pedira. Generosa sempre, ela terminou referindo-se a mim como ‘alguém que considero meu discípulo’. Sempre fiz, sempre faço, como posso, o esforço para merecer essa designação.


Jorge Coli é historiador da arte.


Professora de estética da USP, ensaísta e crítica de arte, Gilda de Mello e Souza morreu no domingo, aos 86 anos, vítima de embolia pulmonar. Era mulher do crítico literário Antonio Candido, com quem teve três filhas.’


TELEVISÃO
Marcelo Bartolomei


Canal busca celebridades ‘made in’ Brasil


‘Escancarar a vida pessoal, afagar o ego e mostrar o vaivém de namoros e casamentos, além das milionárias carreiras. A fórmula, consolidada na TV americana pelo E! (Entertainment Television), chega ao Brasil, que entra na lista de investimentos do canal para 2006, com produções nacionais.


Neste ano, o E! ensaiou sua entrada definitiva no país, com produções sobre os bastidores de séries de TV e do cinema, além de uma série de programas de moda e o documentário ‘Garotas da Capa’, exibido em novembro.


Luis Urbaneja, diretor de produção do E! Latin America, diz que o Brasil é um mercado prioritário para o canal. ‘É um território que oferece uma perspectiva universal de entretenimento, já vista por meio de suas novelas, seu fabuloso cinema, sua liderança musical e a indústria da moda.’


Segundo Urbaneja, as produções originais devem aumentar a partir de 2006. ‘Pretendemos explorar novos conteúdos’, disse.


Os programas do E! são feitos pela produtora paulista SP Telefilm, que já fazia as traduções, legendagens e vinhetas para o canal em sua versão brasileira desde que ele começou a ser transmitido na TV paga, há cinco anos.


‘Garotas da Capa’ foi o primeiro especial totalmente brasileiro para o E!, em parceria com a Daltrozo Produções. Segundo o produtor André Nunes, 30, os dez programas anteriormente planejados na emissora ganharão dois adicionais, que serão exibidos em janeiro com as modelos Daniella Cicarelli e Letícia Birkheuer (a Érika, de ‘Belíssima’), dois nomes que haviam sido cogitados para a segunda temporada da série, que ainda está prevista para ser gravada, com 16 episódios.


Para 2006, o canal, cuja sede latino-americana é na Venezuela, programa a exibição do ‘Conexão E!’, uma revista eletrônica de notícias e entrevistas com celebridades nacionais. O novo programa será comandado pela modelo Gianne Albertoni.


Mas quem seriam as celebridades nacionais abordadas pelo E!? Para Nunes, elas estão em todas as áreas culturais, não somente na televisão. ‘A maioria das celebridades nacionais é da Globo, mas não pretendemos nos prender somente a isso. Se a pessoa fizer sucesso, vamos mostrar o que faz além da novela, por exemplo.’’


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O Globo


Quarta-feira, 28 de dezembro de 2005


CRISE POLÍTICA
Tereza Cruvinel


Notas finais


‘Em pesquisas de toda natureza os índices positivos do governo foram ao chão após o advento da crise política. Não foi diferente com a pesquisa que a Macroplan – Cenários e Estratégia faz periodicamente com cem jornalistas e personalidades da mídia. A nota dada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua equipe foi quatro. Já chegou a ser oito. A política econômica e a gestão política foram apontadas como a melhor e a pior área do governo, respectivamente. Apesar da alta desaprovação, 43% acreditam na reeleição de Lula. Para 44%, ele será derrotado.


A oposição entre as áreas econômica e política como melhores e piores, por sinal, resume outro insólito desempenho do PT no poder. Onde se esperava um desastre, surpreendeu positivamente; e na política, em que tinha tudo para acertar, perdeu-se.


Depois da área econômica (aprovada por 91% dos entrevistados), a segunda frente mais bem avaliada foi a política externa (75% de aprovação). Outra avaliação severa foi para a política de meio ambiente (65% de reprovação), em que se esperava que o governo petista abafasse.


Para 59% dos entrevistados, o desempenho pessoal do presidente foi ruim ou muito ruim em 2005. Para 86%, a comunicação do governo com a sociedade é ruim, e o relacionamento com a imprensa, muito ruim.


Na lista de ministros com bom desempenho estão o da Fazenda, Antonio Palocci; o do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan; o da Agricultura, Roberto Rodrigues; a da Casa Civil, Dilma Rousseff; e o de Relações Exteriores, Celso Amorim. Estão em baixa a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva; o hoje titular do Núcleo de Planejamento Estratégico, ex-ministro Luiz Gushiken; o dos Transportes, Alfredo Nascimento; e o da Saúde, Saraiva Felipe.


Dividiram-se os formadores de opinião em relação ao desempenho econômico em 2006: 50% apostam num ano medíocre, em função da eleição, certamente, e 50% em resultados melhores do que os de 2005. Mas 62% acreditam que não haverá mudança de rumo na condução da economia. Visível é o pessimismo quanto ao enfrentamento de problemas como violência, segurança pública e meio ambiente.


Governadores – A pesquisa Macroplan avalia periodicamente também o conceito dos governadores com o mesmo público – jornalistas e formadores de opinião. Aqui, quase nenhuma alteração houve. Aécio Neves e Geraldo Alckmin continuam sendos os que desfrutam de melhor conceito, sendo que Aécio subiu ao primeiro lugar do ranking, passando de 66% para 81% de avaliação positiva, enquanto Alckmin perdeu 16 pontos percentuais, caindo de 93% para 77%. Entre os piores, Rosinha, do Rio, e Roriz, de Brasília. Germano Rigotto, que é pré-candidato do PMDB a presidente, manteve os 56% de aprovação.


O universo da pesquisa é quantitativamente restrito, mas qualitativamente significativo, segundo a Macroplan. Detém informação qualificada e tem uma visão crítica e privilegiada da evolução dos cenários.


Mais vento pró-Serra


Uma pesquisa está deixando os serristas eufóricos, embora não possam divulgá-la por não ter sido previamente registrada. Ela projeta uma vitória de José Serra sobre o presidente Lula num eventual segundo turno por diferença ainda maior que a apontada pela recente pesquisa CNI-Ibope (48% a 35%). Geraldo Alckmin também melhora seu desempenho, mas Serra adquire uma competitividade que tornará difícil o PSDB não fazer dele seu candidato a presidente.


O grande problema do prefeito de São Paulo também foi pesquisado, a reação dos eleitores a uma eventual renúncia ao cargo para disputar a Presidência em 2006. Para 40%, ele deve deixar a prefeitura, mas para 48% não pode faltar à promessa feita, de não se afastar para concorrer a outro posto eletivo.


Não houve variação significativa na avaliação do governo Lula nem no de Geraldo Alckmin. Já em relação à gestão de Serra na prefeitura, a soma de ótimo e bom teve um crescimento significativo. Nessa mesma pesquisa, a alta de Serra é explicada não apenas pelo recall de sua candidatura em 2002, mas também pela boa avaliação retrospectiva de sua atuação como ministro da Saúde: a soma de ótimo e bom deu 68%.


Adeus, ano velho


Não dá para maldizer 2005 como ano perdido. Não o foi, nem mesmo na política, com seu estrépito escandaloso e desencantador. A Humanidade sempre avança, levou mil anos para sair das trevas da Idade Média, até o renascer da cultura e da racionalidade. Mas foi um ano de sentimentos negativos, e entre eles o que se destacou no Brasil, sobretudo no meio em que as idéias e os conceitos circulam, foi a intolerância. A busca de um certo parâmetro fora do qual tudo parece delituoso e intolerável. Esse parâmetro autoritário é adotado pelos que não compreendem que o risco e o fracasso são próprios da política – sejam eles exaltados ou deprimidos. Ainda na política, circulou forte o sentimento da vingança, do acerto de contas, ganhando ares macartistas – sem falar no cinismo e na arrogância. Foi ainda um ano de violências da natureza contra o homem em outras paragens. Aqui, atentamos contra o semelhante e a natureza, às vezes contra ambos ao mesmo tempo, como no assassinato de irmã Dorothy.


Feliz 2006! Que sentimentos melhores estejam conosco. Obrigada aos leitores que por mais um ano freqüentaram este espaço.’


INTERNET
O Globo


Portugal Telecom vende ações do UOL


‘LISBOA. A Portugal Telecom (PT) reduziu sua participação acionária no Universo On Line (UOL) de 45% para 29%. Segundo a agência de notícias EFE, a operadora de telefonia de Portugal arrecadou 165 milhões de euros com essa venda de ações. O UOL é o maior provedor de internet do Brasil, com 1,4 milhão de assinantes e 6,5 milhões de acessos mensais. Em 2004, o UOL registrou um tráfego de 55 bilhões de páginas visitadas.


A venda de ações ocorreu via mercado financeiro, logo depois do UOL ter começado a negociar seus papéis na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). A abertura de capital do UOL, ocorrida no dia 16 de dezembro, foi considerada um sucesso por analistas de mercado, com as ações subindo 33% no seu primeiro dia de negociação.


Ao reduzir sua participação no UOL, o objetivo da Portugal Telecom foi captar recursos. A operadora de telefonia portuguesa tem como maior acionista a espanhola Telefónica. Juntas, as duas companhias controlam no Brasil a empresa de telefonia celular Vivo, a maior do país.


A Portugal Telecom também tem participações, no Brasil, na empresa de pager Mobitel e no portal de comércio eletrônico entre firmas Tradecom.’


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 28 de dezembro de 2005


JORNALISMO NO CINEMA
David Carr, do The New York Times


Má reputação vem de Hollywood?


‘As pessoas, em geral, podem não se interessar muito por consumir os frutos do jornalismo – ratings, circulação e números de pesquisa deixam isso claro – mas coloque-as no escuro de uma sala de cinema e a profissão de repente se torna eletrizante.


Os jornalistas estão presentes numa quantidade notável de filmes que estão fechando o ano e poderão perfeitamente estar por aí na hora do Oscar. Boa Noite, e Boa Sorte e Capote têm jornalistas como tema central, mas a mídia noticiosa também desempenha papéis decisivos em King Kong, Munich e O Jardineiro Fiel. Os jornalistas são historicamente jogados em roteiros como um coro grego tão afinado e cativante quanto um bando de gaivotas crocitando ou como coadjuvantes frívolos que espezinham as pessoas como uma questão de prática geral. Hollywood apresenta muitas profissões de forma caricatural – lamente pelos advogados, se puder – mas parte da razão para a baixa estima da mídia noticiosa é que seus profissionais são escalados para esse papel. O chefe de redação em Batman que está sempre fazendo tudo que pode para vender jornais não é visto como uma caricatura pelo público; é visto como um protótipo.


Será que o público foi ensinado, filme a filme, a execrar e desconfiar da imprensa? Talvez não, mas os filmes em que a imprensa é vista cobrando empresas e governo – como a imprensa gosta de se ver – são muito menos numerosos que os filmes em que parece irresponsável.


Boa Noite é a exceção, um filme heróic em que um grupo de abnegados jornalistas cai em cima de um senador americano, correndo riscos, e tanto eles como a nação saem melhor da experiência. Pena que os realizadores tiveram de recuar 50 anos para arranjar um exemplo.


King Kong oferece um cenário mais típico. O pobre gorila é engaiolado para a diversão alheia e fotógrafos o fustigam com flashes até ele perder as estribeiras, esmagar Nova York e depois mergulhar para a morte. E, claro, os jornalistas estão lá para subir em cima da carcaça para mais algumas fotos. A percepção do público sobre a profissão não mudou muito desde o King Kong original de 1933. Em Capote, o jornalista logra seu objeto de investigação e em Munich a imprensa eletrônica ávida passa informações para terroristas.


Poucas vezes os jornalistas são suficientemente importantes em filmes para servirem de verdadeiros vilões. E o meio em geral parece estar fazendo o gênero. Escândalos de plágio, os mais notáveis envolvendo o New York Times e Jayson Blair e a mancada da CBS na checagem de um memorando relacionado ao serviço do presidente Bush na Guarda Nacional também conspiram contra uma boa imagem jornalística.


Houve os feitos de Judith Miller, a ex-jornalista do New York Times, e agora até Bob Woodward do Washington Post – cujo trabalho com Carl Bernstein é o motor de Todos os Homens do Presidente, um hino de louvor ao jornalismo – está estrelando um papel bem menos elogiável.


Quando Hollywood está desesperada atrás de um herói, às vezes recorre à mídia. O Dossiê Pelicano, Os Três Dias do Condor e O Informante mostram todos jornalistas como salvadores em última instância. Com mais freqüência, porém, eles são os braços direitos do mal: Danny DeVito como um profissional repugnante chantageando a torto e a direito em Los Angeles – Cidade Proibida, Sally Field, uma escriba inescrupulosa que arrasa a reputação de um personagem interpretado por Paul Newman em Ausência de Malícia, ou os carreiristas obtusos de Nos Bastidores da Notícia e Um Sonho sem Limites. Dustin Hoffman, fazendo um repórter ambicioso em O Quarto Poder colocou a questão de forma bem sucinta: ‘Não quero cruzar a linha, só quero deslocá-la um pouco.’ Quando Hollywood tem um papel que requer oportunismo bajulador, sabe que pode introduzir um sujeito de fala rápida com um bloco de notas e manchas de sopa na gravata.


‘Mesmo o filme seminal sobre jornalistas – A Primeira Página, de 1931 – mostra profissionais do sexo masculino se comportando mal, zombando de uma mulher a ponto de fazê-la saltar de uma janela, manipulando uma reportagem, mentindo, enganando, inventando notícias’, como diz num e-mail Joseph Saltzman, professor e diretor de Imagem do Jornalista na Cultura Popular na Universidade do Sul da Califórnia.


‘A raiva e a falta de confiança dos americanos em relação à mídia derivam, em parte, de exemplos da vida real que eles viram ou ouviram’, afirma. ‘Mas a fama de patife arrogante, egoísta e corrupto vem de filmes e da TV.’ Mesmo Capote, filme sobre Truman Capote, escritor que ampliou o alcance do jornalismo americano, gira em torno de um homem que colocou seus interesses pessoais acima dos de seu objeto.


MEXERIQUEIROS


Jack Shafer, o crítico de mídia noticiosa de Slate, diz que o tema do jornalista como vigarista, esplendidamente traduzido por Janet Malcolm na revista The New Yorker quando disse que aquilo que os jornalistas fazem é moralmente indefensável, poderia ser aplicado a qualquer profissão. ‘Ela poderia dizer o mesmo sobre meu encanador ou meu mecânico. Podemos ser mexeriqueiros, mas há muito disso por aí.’


A mídia noticiosa termina sendo um substituto para venalidade em parte porque esse é um motivo popular para os realizadores de filmes. ‘Para um filme ser feito em Hollywood, é preciso ter alguma coisa que ressoe com Tom Cruise ou Tom Hanks e uma das falas que eles têm em comum é quanto a mídia é desprezível’, diz Edward Jay Epstein, autor de A Grande Comédia. Saltzman concorda: ‘A imagem da mídia que se baseia em molestar pessoas inocentes e celebridades tem efeito muito parecido com uma gota d’água batendo insistentemente na cabeça do público. Forma a impressão de que os jornalistas são, na melhor hipótese, dispensáveis.’


Engraçada essa impressão. ‘Quando alguém se sente vítima chama um jornal ou um advogado, e, contudo, essas duas profissões são aviltadas nos filmes’, diz Edward Wasserman, professor de jornalismo em Washington.


‘Há grande ambivalência em relação à imprensa porque a desconfiança foi se formando ao longo do tempo com base em algumas coisas, inclusive filmes.’ Tony Angelotti, assessor de Imprensa que trabalhou em Hollywood por mais de duas décadas, garante é tolice culpar a indústria de entretenimento pelos problemas de imagem da mídia. Robert Thompson, professor de mídia noticiosa e cultura popular da Universidade de Syracuse, acha que os dois mundos – a imprensa descrita nos filmes e a real – estão começando a se confundir. ‘As reportagens sobre jornalismo estão cheias de ação, com dramas de verdade e algumas dessas histórias quase superam os filmes.’’


Patrick Goldstein do Los Angeles Times


Jornalismo à caça de uma história: dilema de estilos


‘Do jeito como é retratado por Philip Seymour Hoffman no filme Capote, Truman Capote, da revista New Yorker, foi tão ardiloso quanto qualquer paparazzo inescrupuloso na produção da reportagem de A Sangue Frio, seu relato hipnótico do assassinato brutal da família Clutter de Holcomb, Kansas.


O homem cujo livro influenciou uma geração de jovens jornalistas foi um mestre da arte secreta de fazer de tudo para conseguir uma história – mentindo e bajulando, ludibriando e dissimulando em quase todo passo do caminho. Quando não conseguiu acesso a Perry Smith e Dick Hickock, os dois assassinos presos, Capote deu uma propina de U$ 10 mil ao guarda da prisão. Ele cercou Smith incansavelmente, levando-lhe Henry David Thoreau para ler na prisão. Ajudou os suspeitos a conseguirem um novo advogado para viver o suficiente para ele completar as entrevistas. Mas se preferir um herói jornalístico escalado como cavaleiro branco em vez de feiticeiro ardiloso, procure em Good Night, and Good Luck.


Dirigido e co-escrito por George Clooney, o filme registra uma batalha climática entre o âncora da CBS, Edward R. Murrow, e o senador demagogo e anticomunista, Joseph McCarthy. Numa época em que a maioria dos jornalistas é retratada na TV e no cinema como pesos leve complacentes – muitos merecidamente – é um choque e tanto ver alguém agir como um verdadeiro herói. Interpretado impecavelmente por David Strathairn, o lacônico Murrow, é firme e incorruptível no trabalho.


Esse par de retratos artísticos de dois jornalistas de primeiro time não poderia vir em melhor hora. Como você deve ter ouvido, o moral nos jornais e divisões de notícias da TV está em baixa com as quedas de circulação, baixos índices de audiência e uma torrente de demissões. À medida que os noticiários por cabo se tornam mais e mais influentes, as redes noticiosas estão suando para se reformular e se garantir junto a uma audiência que está envelhecendo. O sentimento de comoção é visível também no jornalismo impresso. Com a circulação em queda e os custos subindo, os jornais vivem numa onda de busca da própria identidade na tentativa de descobrir como competir com a velocidade de raio e a informalidade jovial das fontes da internet.


É bom contarmos com esses lembretes de Hollywood de que os jornalistas um dia perseguiam a grandeza e não apenas índices de audiência e espaço publicitário. Um de nossos maiores desafios, hoje em dia, é enfrentar a baixa reputação que desfrutamos junto à opinião pública.


É aí que entra o cinema – quase desde o seu início ele foi um barômetro confiável da atitude da nação perante os jornalistas. Nos anos que antecederam a entrada dos EUA na 2ª Guerra Mundial, em filmes como Aconteceu Naquela Noite e Jejum de Amor, jornalistas eram heróis sagazes da classe trabalhadora que estavam no ofício pelo ‘furo’, não pelo dinheiro. Na década de 1950, o retrato era menos romântico, variando do cáustico e cínico A Montanha dos Sete Abutres a A Embriaguez do Sucesso, um retrato crítico do abuso de poder, com Burt Lancaster como um colunista da Broadway que destrói quem se colocar em seu caminho.


Após Watergate, nossa imagem de cruzados reacendeu graças a Todos os Homens do Presidente e Síndrome da China, mas na década de 1980, como em Nos Bastidores da Notícia, as críticas ao carreirismo vazio estavam em voga de novo. Nos anos recentes, boa parte dos filmes se concentrou na inépcia e nos excessos jornalísticos, do retrato do plagiário Stephen Glass em Verdade ou Mentira a uma ampla variedade de bufões de noticiários de TV como o interpretado por Jim Carrey em Todo Poderoso. Há boas razões para Clooney ter encontrado dificuldade para obter financiamento para Good Night, and Good Luck. A retidão de Murrow está fora de sincronia com a atitude cínica de hoje sobre a coleta de notícias.


Embora seja uma obra de reportagem essencial, A Sangue Frio é também um teste fascinante de nosso eterno debate sobre se ‘os fins justificam os meios’: julgamos um autor pelo seu trabalho brilhante ou pelos truques que entraram em sua criação? Capote e Good Night, and Good Luck demonstram o pouco que a consagrada noção de objetividade jornalística se aplica ao trabalho de seus personagens centrais. Enfrentando McCarthy, Murrow é claramente uma voz partidária, disposta a colocar em risco sua reputação – e seu emprego – ao assumir a causa de um homem que foi expulso da Força Aérea por supostos vínculos comunistas.


Se Murrow desponta mais admirável que Capote, com sua retidão superando o narcisismo de Truman, é por percebermos que, enquanto o trabalho de Capote cobrou um enorme preço emocional – ele jamais terminou outro livro depois de A Sangue Frio -, a coragem de Murrow estava a serviço de uma causa maior, a liberdade de expressão.


Mesmo assim, foi Truman Capote quem acabou tendo a maior influência no jornalismo atual. A autoridade serena de Murrow está absolutamente fora de moda num mundo de noticiários de televisão que se tornou um carnaval de exibicionistas barulhentos.


Quando perguntei ao diretor de Capote, Bennett Miller, se não o preocupava que o filme fizesse Capote parecer antipático demais, ele respondeu: ‘A verdade é que pessoas boas fazem coisas horríveis e pessoas terríveis podem ser surpreendentemente bondosas. O trágico é que Capote não traiu apenas a Perry Smith, ele traiu a si mesmo.’ O mesmo vale para o jornalismo de hoje. Não são os nossos objetos o que me preocupa, são as nossas almas.’


MEMÓRIA / KERRY PACKER
O Estado de S. Paulo


Morre magnata dos meios de comunicação


‘O australiano Kerry Packer, magnata dos cassinos e dos meios de comunicação, morreu na última segunda-feira, aos 68 anos, em Sydney. A notícia foi dada pela família por meio do canal de televisão Channel Nine, de propriedade do empresário e parte de um império que inclui cadeias de televisão e revistas, empresas de engenharia, de mineração e cassinos. O empresário era a 94ª pessoa mais rica do mundo, segundo a revista Forbes, com uma fortuna avaliada em US$ 5 bilhões.’


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Belíssima não decola na SIC


‘Belíssima estreou em Portugal sem chamadas na TV e com uma dura missão: enfrentar a sem-fim Ninguém como Tu, trama recordista de audiência no ar na TVI. A novela de Silvio de Abreu entrou no ar na rede portuguesa SIC no final de novembro, sem nenhum alarde e com audiência modesta, na casa dos 9% . Pouco, quase nada perto dos 43,9% de audiência alcançada pelo dramalhão português Ninguém como Tu.


Um mês depois da estréia, Belíssima ainda não ganhou força, segue na casa dos 10% de audiência.


Segundo balanço divulgado este mês pelo instituto Marktest, que realiza a medição do ibope em Portugal, a novela de Silvio de Abreu aparece no 13º lugar de audiência na TV local; à frente, no 8º lugar, vem Alma Gêmea – a novela da Globo mais bem posicionada em ibope por lá – e em primeiro lugar está Ninguém como Tu.


Vale ressaltar que a TVI fez uma verdadeira estratégia de guerrilha contra a estréia de Belíssima na SIC. Em dezembro, Ninguém como Tu teve a duração de seus capítulos reduzida de 55 minutos para 30 minutos cada um. Motivo: esticar mais ainda a novela no ar. A mudança gerou protestos dos telespectadores, mas não alterou a audiência da trama.


Senhora do Destino foi uma das última novelas da Globo a impressionar em audiência em Portugal. O folhetim de Aguinaldo Silva deixou o canal lusitano registrando índices de 17% de audiência e vencendo por pouco seu maior concorrente no horário, Ninguém como Tu, da TVI.


Já América fez o horário despencar para 9% de audiência. Um dos problemas identificados como possível causa da rejeição portuguesa ao folhetim de Glória Perez é o espaço dedicado aos rodeios, esporte sem importância na Europa .’


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