‘Não me acostumo com jornalistas que defendem o Estado em prejuízo das liberdades individuais. São estranhos pássaros adoradores de gaiolas. O pensamento de alguns sobre o abuso dos direitos humanos na China enseja uma conclusão: fossem colibris ou tico-ticos, rastejariam, orgulhosos das cobras que voam.
A vida é dura e deve ser fantasiada, essa é a escolha do fraco. Nem mesmo a prisão de jornalistas é suficiente para arrancar-se, aos tapas, desse cubículo de miragens.
Falta empatia ao idealista do marfim. Não consegue vestir a pele do outro para saber se é perfumada ou nauseabunda. Neste instante, agora mesmo, quando todos aqui dizemos sim ou não ao que está escrito, milhares de chineses estão apartados da família e, se janela houver, só vislumbram a liberdade dos demais: dos que calam, dos que dizem amém, dos que dizem tudo bem porque têm pão na barriga (se é que têm). Não vou me alongar em números, dê uma lida em ‘O maratonista da China’, texto anterior desta coluna.
O jornalista tem que se precaver contra os ‘ismos’. Concordo com John Lennon: ‘Ev’rybody’s talking about Bagism, Shagism, Dragism, Madism, Ragism, Tagism This-ism, that-ism, is-m, is-m, is-m’. Enquanto o certo seria resumir: ‘All we are saying is give peace a chance’.
Fato é que toda vez que falamos em abusos de regimes totalitários aparecem os relativistas da liberdade alheia para dizer: ‘Ah, mas o povo come bem’, ‘Ó, por que não falamos das nossas próprias misérias?’- como se não nos esbaldássemos, diariamente, em dissecá-las até o vômito consagrador da nossa própria superioridade ‘pequeno-burguesa’ e ‘intelectual’.
Não se iluda, os direitos do cidadão são a obra de arte; os ‘ismos’, a moldura. A mim pouco importa a cor da minha roupa ou a mão com que dou as minhas garfadas, desde que o Estado me respeite e respeite a todos. Se isso não acontece no meu bairro, eu grito, se não acontece em Brasília, eu xingo, se não acontece em Pequim ou Washington, eu esbravejo. O amor à liberdade e à dignidade ignora a geografia, não sabe distinguir um istmo de uma colina. Basta, chega de regionalizar o que podemos e o que não podemos dizer! Chega de provincianismo!
Jornalista não deveria admitir exceções. A quem não se lembra aí vai o artigo 11º da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789. ‘A livre comunicação dos pensamentos e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do Homem; todo cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente, respondendo, todavia, pelos abusos desta liberdade nos termos previstos na Lei’. Aqui também assomam os inocentes úteis que interpretam: ‘Cada regime com as suas leis’. Renderam-se à hipocrisia e moram embaixo de um tapete.
A quem insiste em desprezar a liberdade dos outros, por puxa-saquismo ideológico e rendição à máquina de todo e qualquer Estado (sim, EUA incluídos, moçada, para satisfação geral), a quem acha normal o cala-boca em nome da coletividade tenha em mente uma verdade irrefutável, maior do que todos os seus ‘ismos’ somados e cultivados: jornalistas chineses estão atrás das grades. Eles têm vergonha de você e da sua assombrosa omissão.’
SUÉCIA / PUBLICIDADE
‘O exemplo da democracia sueca’, copyright Agência Carta Maior (www.agenciacartamaior.com.br), 8/09/04
‘O governo da Suécia aprovou uma lei que protege as crianças da publicidade: estão proibidos anúncios na televisão voltados para menores de 12 anos. A justificativa é que eles não têm idade para diferenciar um programa de um comercial.
A publicidade dirigida às crianças é estritamente regulamentada e até mesmo completamente proibida na televisão. O governo busca, com o apoio da opinião pública, proteger os jovens das pressões comerciais. ‘Somente quando as pessoas tenham idade para compreender os objetivos escondidos da publicidade é que é desejável expô-las’, afirma o ministro da Cultura. Deixar que o mercado faça o que deseja é ‘contrário aos valores democráticos’, complementa ele.
Especialistas consideram que ‘as crianças têm o direito a zonas protegidas’, porque elas não nascem com os anticorpos necessários para se defender das pressões comerciais. As autoridades ousam constatar que as crianças não distinguem bem a publicidade dos programas. Até mesmo a entidade que engloba as empresas de publicidade considera que não se deve suscitar nas crianças ‘inconscientes do que é razoável desejar’, ‘desejos que eles não são podem realizar’.
O governo decidiu, baseado nesses argumentos:
– Banir da televisão todas as publicidades voltadas para os menores de 12 anos (brinquedos, roupas, comida);
– Publicidades destinadas aos adultos não podem de forma alguma seguir ou preceder imediatamente os programas para as crianças;
– No conteúdo das mensagens publicitárias, é proibido aparecerem pessoas ou personagens que desempenham papel central nos programas infantis (apresentadores, heróis de histórias) ou colocar em cena crianças atores. O simples recurso a elementos temáticos referidos a crianças (vozes, risos etc.) é igualmente proibido, porque o legislador sabe como essa idade é sensível aos apelos de identificação.
Conforme uma pesquisa levada a cabo pelo Conselho de Consumo, 88% das pessoas se mostraram favoráveis a essas decisões e 82% declararam ser favoráveis à sua extensão aos outros meios de comunicação. O governo considera que o direito de proteger as crianças está acima da ‘liberdade’ das empresas de tentar vender, da melhor forma para eles, suas mercadorias. Considera que as crianças não podem ser reduzidas a objetos das campanhas de publicidade.
As decisões foram tomadas pelo governo sueco, não caracterizado como ‘totalitário’ ou ‘inimigo do capitalismo’, e podem ser consultadas no jornal Le Monde Diplomatique de setembro de 2004, no artigo ‘De l´enfant roi à l´enfant-proie’, de autoria de François Brune. Mas, devido aos argumentos perfeitamente razoáveis, por que não seguir esses princípios aqui também, no Brasil? Vale pelo menos o debate, sem a desqualificação de que se trataria de ‘autoritarismo’. Emir Sader – Professor da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), é coordenador do Laboratório de Políticas Públicas da Uerj e autor, entre outros, de ‘A vingança da História’’
BBC À VENDA
‘BBC estaria vendendo a sua divisão Worldwide’, copyright O Estado de S. Paulo / The New York Times, 10/09/04
‘A emissora pública de rádio e televisão da Grã-Bretanha, a British Broadcasting Corp., informou que tem mantido contato com as gigantes da mídia americana Time Warner e Wald Disney, e com outras empresas, como a alemã Bertelsman, para discutir opções para a sua subsidiária comercial BBC Worldwide.
Numa declaração, a BBC insistiu em que ‘é errado dizer que essas empresas foram convidadas a participar de uma concorrência pela BBC Worldwide’.
O jornal The Financial Times informou, quarta-feira, que a BBC tinha solicitado às empresas que avaliassem ‘possíveis ofertas’ pela BBC Worldwide. A unidade poderá valer até 2 bilhões de libras, ou cerca de US$ 3,6 bilhões, disse o jornal, citando executivos da BBC.
A declaração da BBC diz que nada foi decidido e que não convidou ninguém para apresentar ofertas. ‘Estamos falando com qualquer pessoa que possa dar uma contribuição ou tenha uma opinião sobre as nossas operações comerciais e estamos muito agradecidos pela assistência delas’, acrescenta a nota.
A porta-voz da BBC Worldwide, Mary Collins, disse que as discussões não estão numa fase em que a unidade ‘está à venda pelo oferta mais alta’. A BBC, acrescentou, ‘vem conversando com muitos empresas’, incluindo bancos, fundos privados de investimentos e outras empresas de mídia como parte de um plano de revisão comercial conduzido por John Smith, o diretor-presidente em exercício da BBC Worldwide.
A reformulação faz parte de um conjunto mais amplo de consultas sobre o futuro da corporação, anunciado em junho pelo presidente do Conselho da BBC, Michael Grade. A reformulação deve estar concluída no final deste ano.
Taxa – A BBC Worldwide é uma fonte significativa de rendimentos para a BBC, em grande parte financiada por uma taxa anual compulsória de licenciamento no valor de aproximadamente US$ 200, cobrada dos proprietários de aparelhos de televisão da Grã-Bretanha. A taxa de licenciamento gera um rendimento anual de mais de US$ 5 bilhões.
Em contraposição, a BBC Worldwide, que obtém seus rendimentos vendendo programas como ‘The Office’ a canais estrangeiros, incluindo a BBC America e a BBC Prime, teve vendas de US$ 657 milhões de libras, ou US$ 1,18 bilhão, no ano passado. Ela também edita uma série de revistas, incluindo a ‘Radio Times’.
A BBC Worldwide informou que no ano passado fez uma contribuição líquida de 141 milhões de libras (US$ 253 milhões) para os cofres da BBC.
No início deste ano, a BBC Worldwide disse que o BBC America, seu canal a cabo nos Estados Unidos, aumentou a receita de publicidade e está disponível em quase 38 milhões de lares.
O futuro da BBC Worldwide tem sido toldado por acusações da parte de rivais que disputam a base publicitária da BBC de que a emissora pública fica com o maior volume das taxas de licenciamento cobradas dos telespectadores, ao mesmo tempo em que recorre a métodos comerciais para aumentar suas receitas.
A BBC está reformulando suas operações num momento delicado. No início deste ano, um inquérito comandado por lorde Hutton criticou a cobertura noticiosa feita pela BBC da guerra do Iraque. Pouco depois disso, o diretor-presidente, Gavyn Davies, e o diretor-geral, Greg Dyke, renunciaram.
Ao mesmo tempo, a BBC está buscando renovar a carta régia que autoriza a sua operação e que vence no final do próximo ano.’