‘Foi muito legal ter voltado a uma faculdade para integrar, pela primeira vez, uma banca de examinadores de um TCC- o famigerado Trabalho de Conclusão de Curso. Há um aspecto que me sensibiliza nessas horas. Nada é mais bonito do que o brilho nos olhos, a esperança, o nervosismo santo, a expectativa do futuro dos futuros.
O grupo que analisamos fez um trabalho brilhante e mereceu a nota correspondente. Mas, como a missão da banca não é simplesmente quantificar, nós, os carrascos do bem, falamos também dos erros, convictos de que os repórteres, promissores, guardarão a ressalva na memória. Isso constrói a experiência. Sou daqueles que aprendem mais com as bobagens que se cometem. Se alguém me diz ‘não faça isso de novo’ e me convence, dificilmente repito a asneira. De modo geral, tem que ser assim. A menos que a teimosia e a arrogância preponderem. Aí, esqueça, não perca mais o seu tempo com os outros, ou aplique a frialdade do rigor.
Um dos problemas que observamos na faculdade foi o que se chama de encampação da notícia. Quero dividi-lo aqui com você porque é uma distorção muito comum, cometida pelo mais experimentado dos profissionais. Se há algo que me incomoda, há anos, é ler ou ouvir o repórter embarcando nas idéias do entrevistado, como um bicho altivo a caminho da esparrela. Já aconteceu comigo. Restaram-me, na época, a errata e o desprezo por mim mesmo.
O Manual de Redação e Estilo do Estadão, escrito pelo Eduardo Martins, dedica um tópico à matéria: ‘Todo cuidado é pouco para que o jornal evite passar ao leitor, como suas, opiniões ou conceitos expressos por outras pessoas’. Mais adiante, alguns exemplos do que não se deve fazer: ‘Chanceler não sabia da ação americana’, ‘O jogador que se perdeu na madrugada’, ‘Treinador inglês só quer aprender’.
Há muitos outros. Aí vão alguns, extra-manual, que poderíamos encontrar por aí: ‘O líder do PSDB está ansioso pela aprovação do projeto’, ou ‘Apesar da derrota, Leão ficou satisfeito com o time’, ou ‘O presidente Lula está indiferente às denúncias contra o Ministério do Desenvolvimento Social’.
São situações em que o redator deveria, por prudência e por espírito crítico, atribuir a informação ao entrevistado. Senão pode passar por tolo e induzir ao erro.
Em certas ocasiões, podemos cravar, como nosso, um comentário de uma fonte. Se alguém se diz nervoso, apreensivo com uma determinada ocorrência e o demonstra com atos e palavras, não precisamos ser ortodoxos. A declaração confirma e ilustra o que já sabemos. Mas a certeza é um desfiladeiro.
O bom repórter sabe analisar uma partida de xadrez, sabe ler os movimentos da sua fonte. Quando as conclusões do jornalista batem com as atitudes e com os fatos que circundam a notícia, pode-se assumir a informação. É um recurso que desburocratiza e ‘limpa’ o texto. O dito jornalismo interpretativo lança mão desse expediente, típico das revistas semanais. Encampa e o faz de modo consciente (por vezes, equivocado).
Falo de uma conta aritmética, de hard news, e, numa outra direção, de interpretação da notícia. Alerto, porém: qualquer que seja a forma e o conteúdo, não haverá meio-termo para o resultado: ou será perspicaz e autêntico, ou burro, falso e pretensioso.’
MERCADO DE TRABALHO
‘Corte no Diário de S. Paulo’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 8/12/04
‘A equipe do Diário de S. Paulo experimentou, no último dia 1º de dezembro, o dissabor de um novo corte de pessoal, anunciado pela empresa, por conta de uma reestruturação envolvendo revisão de despesas e processos, redesenho das operações e reordenamento de algumas funções. Três foram as áreas atingidas – circulação, classificados e redação -, resultando num corte total de 31 pessoas. A cota de sacrifício da redação foi de 14 profissionais, de um total de 105, o que representou quase 15% em número de pessoas.
A decisão pegou grande parte das pessoas de surpresa (dentro e fora do jornal) exatamente por se dar num momento de aparente equilíbrio e até de uma certa recuperação do mercado editorial. Mais ainda porque, em tese, o jornal teria de fazer exatamente o contrário: investir na equipe para se contrapor aos avanços registrados, por exemplo, pelo Jornal da Tarde, um de seus concorrentes diretos, que fez exatamente isso, de olho na liderança deste segmento de mercado.
As Organizações Globo – e isso não é segredo para ninguém – pressionam e exigem resultados, ainda que isso implique sacrifícios dessa natureza. Foi assim na Editora Globo e também no Valor Econômico. Prejuízo é termo que a empresa quer cortar de vez de seu dicionário. Junte-se a isso a proximidade de um mês que prevê o pagamento de 13º salário e, no caso de São Paulo, dissídio coletivo, e tem-se aí uma idéia do tamanho da encrenca de quem tem a responsabilidade de comandar a empresa.
O ânimo da equipe pode ser avaliado pelo desabafo de um dos colegas que foram demitidos: ‘O passaralho fez um rasante no jornal. Foi um choque, uma decepção, porque ninguém esperava mais algo desse tipo este ano. A decisão provocou um desânimo muito grande também em quem ficou. A redação, no 3º andar, está cheia de lugares vazios.’
A editoria de São Paulo foi a mais sacrificada, com quatro baixas e uma substituição, seguida de Esporte e do caderno Viver, que perderam duas vagas cada um. Em termos estratégicos, o Diário pretende suprir a ausência desse contingente com a ampliação da sinergia e do intercâmbio que já mantém com os cariocas O Globo e Extra, todos integrantes da família Infoglobo.
Foram quatro cortes e uma substituição na editoria de São Paulo (Local). No lugar de Carlos Loprete, que era redator, entrou Fábio Soares, ex-editor assistente de Cotidiano da Folha de S.Paulo; saíram os editores assistentes Lola Nicolás e Odilon Espíndola e os repórteres Ana Maria Barbour e Dimas Marques. Pelo que apurou este J&Cia, duas dessas quatro vagas serão preenchidas nos próximos dias.
No Caderno Viver saíram a editora Maria Tereza Pagliaro e a repórter Ana Elisa Casmamie, com o editor assistente Marcos Pinho assumindo interinamente a editoria.
No Esportes, saíram Moacir Ciro Martins Jr e Édson Luís (Magrão).
Também deixaram o jornal o secretário gráfico Wayne Fernandes, o editor do Diário de S. Paulo Online Luís De Salvo Neto (Titico) e os diagramadores Nélson Mott, Ari Coutinho, Carlos José Francisco (Cazuza) e Assuero Dias (Revista Já).
Os demitidos, como consolo, vão ter direito a um pacote de benefícios especial e específico para a situação, conforme informou o diretor geral do Diário, Ricardo Gandour, em comunicado que enviou para todos os funcionários.
A decisão do Diário de S. Paulo, se comparada a movimentos visíveis em outras redações do País, é pontual e não pode ser tomada como uma tendência, felizmente. De todo o modo, joga um balde de água fria na fervura e deixa-nos a todos com a pulga atrás da orelha.
Arrisquei perguntar aos colegas do Jornal da Tarde o que uma decisão como essa poderia implicar em termos de perspectivas na luta pelo leitor ou mesmo de absorção da estratégica mão-de-obra que o concorrente despachou para o mercado, mas eles mostraram-se cautelosos sobretudo porque estão ainda no meio do planejamento para 2005. Como alguns dos colegas que anteriormente saíram do Diário acabaram desembarcando exatamente no JT, não será de se estranhar se isso acontecer novamente. Com um detalhe: muitos dos demitidos tem anos de casa e conhecem o Diário como a palma da mão.
Como nem tudo são pedras, vale uma notícia que ao menos nos alivia: As milhares de demissões anunciadas pela BBC, em Londres, em princípio não devem afetar o Serviço Mundial do qual faz parte a BBC Brasil, que dá emprego há dezenas de jornalistas brasileiros na capital inglesa e em várias partes do mundo. Os cortes serão feitos nas operações domésticas da BBC, especialmente nas áreas administrativas. As mudanças têm como objetivo aumentar a eficiência da empresa, liberar recursos para novos e melhores programas e também para manter a BBC à frente da concorrência mundial em termos tecnológicos. O Serviço Mundial está estudando se precisará adotar alguma medida para se adequar à nova estrutura da empresa, mas eventuais mudanças não devem afetar as áreas de produção de rádio e de Internet.’
PROPRIEDADE INTELECTUAL
‘Pirataria do Brasil incomoda os americanos’, copyright O Estado de S. Paulo, 11/12/04
‘O governo norte-americano divulgou decisão na segunda-feira mantendo o Brasil fora dos benefícios do programa GSP (Generalized System of Preferences), um acordo que facilita a entrada de 4.650 produtos em alfândegas de 144 países. O governo brasileiro tenta reingressar no programa duty-free desde outubro. A decisão de continuar mantendo o Brasil fora do sistema foi divulgada pelo Office of the United States Trade Representative (USTR).
Apesar de reconhecer esforços do governo brasileiro no combate à pirataria, com a criação de um Conselho Nacional de Combate à Pirataria e Crimes contra a Propriedade Intelectual, o governo dos Estados Unidos só vai reavaliar o caso brasileiro em 31 de março de 2005.
Além de uma CPI da Pirataria no Congresso Nacional, o Brasil criou, em 2003, com a presença do ministro Gilberto Gil, o Dia Nacional de Combate à Pirataria. Na cerimônia, foram quebrados cerca de 500 mil fitas e CDs piratas em frente da rampa do Congresso. ‘Ainda assim, os detentores de copyright nos Estados Unidos argumentam que continuam a sofrer substanciais perdas com a pirataria’, diz o comunicado do USTR.
No mesmo dia que foi anunciada a decisão, a Recording Industry Association of America (RIAA), grupo que reúne as grandes gravadoras americanas, soltou nota oficial comentando o fato. Segundo Neil Turkewitz, vice-presidente internacional da RIAA, ‘a situação da pirataria no Brasil está devastando o outrora orgulhoso, vibrante e com visibilidade setor da sociedade brasileira’.
Segundo Turkewitz, a pirataria no setor da música teria causado, nos últimos anos, o fechamento de 55 mil postos de trabalho e de 2 mil lojas no País. ‘Têm havido sinais promissores no Brasil de que há mudança no ar. Mas é tempo de sair da concepção e ir para a implementação’, afirmou o executivo.
De acordo com o USTR, o programa comercial GSP totalizou US$ 2,5 bilhões em produtos brasileiros, cerca de 14% das importações do Brasil (US$ 17,9 bilhões). O Brasil representou 12% do total de importações via GSP em 2003 (US$ 21,3 bilhões no geral). Entre os produtos que lideram essa via de importações dos americanos estão granito e outras pedras e madeira.
A possibilidade de suspender, cancelar ou limitar facilidades de importação para países que não promovam efetiva proteção ao direito intelectual é dada ao presidente americano pelo Trade Act de 1974. A revisão desse acordo com o Brasil iniciou-se em janeiro de 2001, baseada numa petição da International Intellectual Property Alliance (IIPA). De acordo com a IIPA, as perdas com a pirataria em 2003 chegaram a US$ 785 milhões, um aumento de US$ 70 milhões em relação a anos anteriores e o mais alto prejuízo do hemisfério. ‘